Damian e Ravena subiram a montanha, quando chegaram eles sentaram em uma grande pedra que tinha. A vista era perfeita, dava pra ver toda a cidade e as pessoas que andavam, mais tarde começaria a festa dos fogos. Esse era um ótimo lugar para ver o show.

-Bela vista. –Damian sussurrou.

Ravena ficou em silencio, ela resolveu esperar.

-Meu nome é Damian Al-Ghul Wayne. Esse nome diz algo pra você? Al-Ghul?

-Não. –Ravena sussurrou.

-Al-Ghul é uma família mafiosa de Gothan, minha mãe é filha do lider deles. Eu nunca me envolvi nesses assuntos. Nunca fizeram questão de me envolver, ainda bem. Minha mãe nunca foi muito fácil...

... Damian estava sentado no corredor que dava para as escadas, ninguém conseguia vê-lo de onde estava já ele podia ver sua mãe conversando no andar de baixo, era o seu advogado.

-Se ele não aceitar pagar o valor da pensão não poderá ver o filho. –Talia sorria.

-Bruce já aceitou senhorita.

Seu pai aceitou o aumento da pensão, ele ainda queria ver Damian, mas até quando o pai aceitaria isso?

Damian tinha medo que seu pai se cansasse das exigências da Talia, mas Bruce sempre falou que nunca iria abandonar Damian. O pai nunca mentia. Bruce sempre esteve presente na vida de Damian, o tanto que Talia permitiu.

Quando a briga de custodia começou Damian tinha confiança que seu pai iria tira-lo da sua mãe, claro que não foi assim afinal é Gothan. Por mais influência que Bruce Wayne possuía, ele nunca molhava a mão do juiz como a família Al-Ghul fazia. Seu pai era um homem bom ele acredita na justiça e Damian também.

Na terceira derrota do pai a pensão aumentou, ele sempre pagava para que pudesse ver seu filho. Damian estava tomando café da manhã quando sua mãe entrou.

-Você é a minha moeda mais preciosa sabia? –Talia sorria pra ele.

Damian viu quando sua mãe saiu, por algum motivo ele perdeu o apetite.

Ele jogava basquete, e cara era bom.

-Devia parar de jogar basquete. –Talia olhou para Damian – Você é inútil nunca vai conseguir ser alguém. Nem devia tentar.

Damian nunca retrucava o que a mãe falava, preferia guardar tudo para si. Ele se trancou no quarto, passou o resto do dia sentado no chão. Pra que deveria sair?

As palavras machucam mais. Damian sabia disso, quando estava com seu pai e irmão ele sorria, se sentia feliz. Sua mãe o torturava, mas o que Damian podia fazer?

Em uma tarde a mãe entrou no quarto, ele passava todo o tempo ali, Damian largou seu caderno, Talia estava furiosa.

-SEU INUTIL! DEVERIA TE MATAR! –Talia foi até a mesa de estudos dele e jogou tudo no chão. –Eu te odeio Damian. Nem o amor da sua mãe você consegue ter.

-O que...? –Damian não conseguia respirar.

-Bastardo imundo! –Talia deu um tapa no rosto dele –Sua existência me enoja!

-Porque permitiu que eu nascesse então?! –Damian levantou da cama, sua respiração ofegante, ele queria chorar, mas nunca faria isso na frente da mãe. –Seria muito melhor se tivesse me matado!

-Criança. –Talia se aproximou seu sorriso estava sinistro –Porque eu quero o Bruce.

Damian não conseguia falar. Ele não conseguia pensar. Não conseguia respirar.

-Eu nunca poderia amar algo como você. –Talia saiu do quarto.

O quarto estava bem bagunçado. Damian estava pior, seu rosto ardia por causa do tapa, suas mãos estavam fechadas em punhos ele sentia a unha perfurar a pele. Damian se permitiu chorar, ele caiu no chão de joelhos.

Ele não sabe por quanto tempo ficou assim, Damian nem percebeu quando levantou e foi para o banheiro. O reflexo no espelho não parecia ser ele, seus olhos inchados, seu rosto vermelho, um corte na bochecha aonde tinha ganhado o tapa.

Damian passou a mão pelo corte, era pequeno bem fino causado pelo anel que Talia usava. Ele percebeu que o tapa era o que menos doía.

Damian foi para o quarto e pegou uma tesoura, ele voltou pro banheiro e sentou na borda da banheira. Suas mãos estavam firmes, Damian cravou a tesoura na coxa, ele esperou pela dor. Era tão bom. Damian puxou a tesoura e assistiu fascinado o sangue escorrer, ele encheu a banheira de água tirou a roupa e entrou. Logo a água ficou vermelha, Damian fechou os olhos e se permitiu esquecer de tudo.

Isso virou rotina, quando sua mãe gritava com ele ou o agredia, Damian ia para o banheiro trancava a porta e fazia cortes na pernas. Ele assistia o sangue escorrer. Damian passou a usar só calças, quando suas pernas estavam muito machucadas ele passou pros braços, ele passou a usar só mangas compridas.

Damian percebeu que não precisava ter um motivo real para se cortar, bastava chegar da escola e se cortar. Não precisava nem comer mais, não sentia fome. Ele percebia que estava abaixo do peso, mas quem se importa?

Um dia ele esqueceu de trancar a porta e sua mãe o viu sangrando na banheira, sua perna estava com um corte bem grande e seus braços alguns pequenos. Talia viu Damian segurando a tesoura. Ela fez o que Damian esperava. Talia gargalhou.

Ela ria alto, como se tivesse ouvido a piada do século. Damian olhava pro sangue flutuando na água.

-Garoto. –Talia sentou na beirada da banheira, Damian se encolheu. –É só se matar e tudo acaba.

Damian olhou para ela assustado, Talia ria mais alto ainda.

-Aposto que ninguém vai chorar no seu enterro! Hahahahahahahahahahahaha!

Talia pegou a tesoura que estava caída no chão ao lado da banheira, ela puxou um dos braços do Damian.

-É só fazer assim. –Ela cortou levemente acima do pulso dele –E tudo acaba.

Damian não conseguia falar nada, Talia largou a tesoura no chão. Enquanto sai do banheiro Damian ainda ouvia as gargalhadas da mãe.

Ele aproveitou que todos estavam na aula de Educação Física, ninguém iria notar sua falta. Já havia pensado muito e tomou sua decisão.

Damian entrou em um banheiro, ele sentou no chão suas costas ficaram contra a parede, ele estava de lado pra porta. Seu pai... Dick... Alfred... Damian sentia que estava desapontando eles, mas não podia mais... Eles chorariam por ele.

Damian tirou o estilete do bolço. Fez um corte profundo no pulso como sua mãe ensinou. Sua mão tremia. Ele conseguiu cortar o outro pulso. O estilete caiu no chão ao seu lado. Damian sentiu que ficava cada vez mais fraco, não precisava se preocupar em fazer curativos, pois não haveria uma próxima vez. Isso era bom e assustador. Ele sentiu seus olhos ficarem úmidos.

Damian encostou a cabeça na parede, estava fraco, não conseguia falar, a porta do banheiro estava entreaberta. Damian pensou ter ouvido alguém entrar no banheiro quando finalmente sucumbiu ao sono.

-... Quando acordei meu irmão estava lá. Depois meu pai chegou e... –Damian sentia que ia começar a chorar. –Eu não queria deixar eles. –Ele sussurrou.

Ravena estava chorando.

-Aceitei os tratamentos por eles, mas foi só quando você apareceu que eu realmente quis me curar. Desculpa jogar tudo isso em cima de você. –Damian limpava os olhos.

Ravena limpou as lágrimas, ela tinha que ser forte. Damian não olhava pra ela, Ravena colocou a mão no rosto dele e o forçou a encara-la.

-Como se sente depois de botar tudo isso pra fora? –Ela perguntou gentilmente.

-Bem. –Damian começou a chorar. –Droga me desculpa... Eu... Não queria que me visse chorar... –Ele não conseguia controlar as lágrimas.

-Pode chorar, não precisa se esconder. Eu sempre vou estar aqui com você não importa o que aconteça. Então chore. Deixa tudo isso sair.

Ravena não sabia se era isso que Damian estava esperando ouvir todo esse tempo, mas ele finalmente chorou. Chorou como uma criança, fungava, soluçava... Damian se permitiu chorar e pela primeira vez não escondeu as lágrimas de Ravena.

Ravena enxugou as lágrimas do rosto do Damian, elas não paravam. Ravena encostou sua testa na dele, ela ainda segurava seu rosto era uma garantia silenciosa de que Ravena sempre estaria ao lado dele.

Havia se passado muito tempo, Ravena não sabia ao certo. Damian parou de chorar, ele respirava fundo ainda estavam com a testa um na outra. Damian segurou os pulsos da Ravena, ela não soltou seu rosto.

-Estou bem melhor agora. Obrigado Ravena.

-Damian contou pra alguém sobre tudo isso?

-Não, você foi a primeira.

-Devia contar para seu pai. –Ela viu Damian negando com a cabeça.

Ravena não incestiu, ele ainda se sentia culpado pelo o que fez, mas pelo menos Damian se abriu com ela.

-Quando vi que tomava aqueles remédios... –A voz dela tremia –Lembrei da minha mãe. Ela se matou depois de ingerir uma dose de antidepressivos. Quando meu pai foi embora ela se entregou. Ela morreu no hospital, depois disso fui morar com a Kori.

-Sinto muito.

-Eu tinha medo de acontecer o mesmo com você –Ravena sentiu sua voz embargar –Não quero perder você Damian. Não posso.

Damian deu um beijo rápido no quanto da boca dela.

-Não vai perder. Te prometo.

Ravena olhou pra ele. Ouve um clarão no céu e um estouro. Os fogos começaram, eles olharam para o show de luzes que surgiam no céu. Ravena encostou a cabeça no peito dele, enquanto Damian a abraçava. A coisa mais linda da noite não era os fogos, mas a sensação de leveza que eles sentiam.

Chorei escrevendo esse cap. T_T Queria fazer ele mais triste, mas não consegui. Espero que tenho gostado bjs.