Capítulo 88

Assim que o Prof. Jonas liberou a turma depois da aula de Carpintaria Mágica, Harry acenou adeus aos amigos e, discretamente puxou Ginny por entre as árvores da Floresta Proibida.

— Onde vamos? — Ela sussurrou surpresa e tentando não atrair a atenção do resto da turma ou do professor.

— Não se preocupe, Neville e Terry levarão nossa madeira para a oficina. — Harry disse apressando o passo quando se distanciaram o grupo. — Temos outra aula para fazer hoje.

— Outra aula? — Ginny suspirou confusa. — Não estou com muita disposição, Harry, podemos treinar amanhã? Acho que quero ir para o meu quarto...

— Depois. — Harry disse firme, pois sabia que não poderia deixar que ela se isolasse em seu quarto e sofresse sozinha. — Sei que a semana foi difícil...

— Eu estou bem, apenas cansada com tantas aulas e deveres de casa, só isso. — Ginny se apressou em dizer teimosamente.

— ... porque temos que fingir que está tudo bem. — Continuou o Harry como se ela não tivesse dito nada ou usado a mesma desculpa que ele usou dezenas de vezes com seus amigos. — Mesmo quando sabemos que não está tudo bem e... sabe, uma parte de mim quer ficar sozinho, me lamentar, me culpar, chorar, enquanto outra quer esquecer tudo, fingir que nada aconteceu... — Ele parou de andar e suspirou ao olhar para o seu rosto pálido e angustiado. — Eu fico dizendo que não foi nossa culpa de novo e de novo, mas isso não muda nada, então, eu tento um terceiro caminho.

— Qual? — Ela disse com voz sumida.

— Eu luto, eu treino, eu estudo e me concentro no que eu posso mudar, melhorar, ajudar. — Harry disse. — Não podemos... mudar o que aconteceu, mas podemos aprender maneiras de impedir que outros terminem assim.

Harry se esforçou para não mencionar o nome de Lockhart, pois era muito perigoso serem ouvidos.

— Que aula teremos? — Ela perguntou acenando em acordo e eles retomaram a caminhada.

— Não está muito longe. — Harry respondeu simplesmente e voltou a apressar o passo, não queria correr o risco que escurecer antes da aula prometida por Firenze.

— Você viu como o Jonas estava feliz ao falar do seu casamento com a Bathsheda? — Ela disse com um sorriso suave. — E eles viverão em Hogsmeade, assim ficarão perto da escola, mas terão seu próprio lar.

— Faz sentido, viver em Hogwarts dever ser estranho, ainda mais com um bebê. — Harry respondeu. — Imagino que os outros professores também têm casas fora de Hogwarts. De qualquer forma, estou feliz que a professora Bathsheda não perderá o emprego, pois espero ansiosamente por suas aulas no ano que vem.

— Oh... eu tenho que esperar mais um ano... Ei, você poderia me ensinar o que aprender! — Ginny exclamou. — Você é um grande professor, Harry.

— Hum... vamos ver primeiro se eu sou bom em Runas. Ok? — Harry respondeu meio corado pelo elogio. — É fácil ensinar o que eu sou bom, mas... Veja, é logo ali!

O jardim que Harry tinha plantado para a sua mãe estava todo florido e colorido, a árvore de cerejeira ainda jovem já estava com flores brancas, o que tornava a pequena clareira ao lado do lago ainda mais bonita.

— Uau! Que jardim lindo! — Ginny exclamou encantada.

— Ele ainda não chegou... — Harry procurou por Firenze e tentou ouvir seus cascos, mas não havia sinal. — Bem, tirarei as ervas daninhas enquanto ele não chega.

— Quem? — Ginny observou o Harry se ajoelhar e começar a tirar o mato do meio das flores. — Porque está fazendo isso?

— Eu plantei essas flores e a árvore em homenagem aos meus pais e avós, sabe, como uma espécie de cerimônia fúnebre para lembrá-los e dizer adeus. — Harry disse suavemente. — Eu precisava deixar o luto e a dor para trás e viver, mas queria que eles soubessem que sempre me lembrarei deles e os amarei.

Os olhos da Ginny se encheram de lágrimas e ela se perguntou se alguém tão incrível poderia mesmo existir. Se abaixando, ela o imitou e começou a limpar as ervas daninhas do jardim.

— Porque não faz isso com magia? Nós já aprendemos em Herbologia. — Ela disse gentilmente.

— Tem coisas que precisamos fazer com nossas próprias mãos. — Ele deu de ombros.

— Você acha que poderíamos fazer algo assim... para ele? — Ela sussurrou com voz embargada.

— Podemos fazer o que você quiser. — Harry lhe assegurou.

— Menos contar a verdade. — Ginny disse com certa amargura.

— Você quer contar a verdade? — Harry a encarou com seus olhos verdes brilhantes e ela não pode mentir.

— Não, eu não quero. — Ela suspirou e desviou o olhar. — Já será difícil o suficiente contar sobre o diário.

— Como você fará isso? — Harry perguntou curioso.

— Ainda não sei, apenas acredito que é melhor contar para todos eles de uma vez e sei que os gêmeos me ajudarão. — Ginny disse pensativa. — Pensei em contar só para os meus pais, mas percebi que esse é o tipo de segredo que poderia afastar a minha família.

— Olha... — Harry parou o que fazia e se sentou em seus calcanhares. — Estive pensando sobre o que lhe fiz prometer e percebi que foi meio injusto. Se você confia no seu pai e quer contar para ele, então, tudo bem, Guinevere. — Ela parou surpresa. — Eu te contei os meus motivos para não contar ao Sirius, mas ele não é o meu pai, na verdade, eu o conheci outro dia. O que quero dizer é que, talvez, se os meus pais estivessem vivos, eu contaria a eles e como os seus estão, não é justo te impedir que se apoiar neles. — Harry concluiu e voltou a limpar o jardim.

Ginny ficou em silêncio por um tempo olhando pensativamente para um lindo jacinto azul.

— Você está certo, contar a eles não muda nada, apenas faz com que eles carreguem o peso do que aconteceu. — Ela disse baixinho. — É como se eu lhes dissesse, "ei, aqui, pega esse peso dos meus ombros e carrega ele no meu lugar".

— Alguns pesos não são transferidos, são divididos, jovem guerreira. — A voz de Firenze ecoou bem perto e fez com que Harry e Ginny saltassem de susto.

— Firenze! — Harry exclamou com um grande sorriso e o cumprimentou com um abraço. — Eu não o ouvi se aproximando!

— Você estava ouvindo algo mais importante, meu amigo. — Firenze acenou sutilmente para Ginny que olhava o centauro de olhos arregalados. — Fico feliz que tenha atendido o meu pedido, Harry.

— Sim. — Harry corou levemente diante de sua expressão, que mostrava saber mais do que ele estava confortável para falar abertamente. — Firenze, essa é Guinevere "Ginny" Weasley, minha amiga. Guinevere, este é meu grande amigo, Firenze.

Ginny se apressou em cumprimentá-lo corretamente e Firenze retribuiu, mostrando estar aberto a amizade.

— Uma honra conhecê-lo, Sr. Firenze.

— A honra é minha, jovem parceira e, por favor, me chame apenas de Firenze. — Ele respondeu e depois os encarou com atenção, seus olhos azuis claríssimos pareciam ler suas almas. — Hoje iniciaremos nossa aula com algo diferente, vocês precisam descarregar as más energias e conhecerem os seus arcos. Venham comigo.

Ele se virou e caminhou Floresta adentro com Harry o seguindo de perto. Alguns segundos depois e, muito confusa, Ginny se apressou em alcançá-los.

— Faremos um ritual de limpeza? — Harry perguntou interessado.

— Não, isso exige tempo e um local mais propício, ainda que eu recomende aos dois que o façam. — Firenze disse suavemente. — A culpa e a morte são fardos pesados que os impedirão de crescerem e se tornarem os bruxos guerreiros que nasceram para ser.

— Flitwick está elaborando alguns rituais para mim que meus antepassados recomendaram. — Harry contou sobre os quadros.

— Posso ver algumas mudanças em seus futuros. — Firenze parou e olhou para os dois. — O coração do guerreiro não estará sozinho. Sim, sua parceira deve estar com você nesta jornada.

— Mas... — Harry olhou para Ginny que o encarava confusa. — Seus pais precisarão autorizar e...

— Você precisa da sua parceira, Harry e ela precisa de você. — Firenze respondeu simplesmente e Harry acenou sem questionar mais.

— Do que ele está falando? — Ginny sussurrou perdida.

— Depois eu te explicarei. — Harry respondeu baixinho e Ginny franziu o cenho não gostando de estar no escuro.

— E onde vamos? — Ela perguntou e Harry deu de ombros mostrando que não sabia.

— Vocês entrarão na caverna das armas. — Firenze disse suavemente. — Eu recebi autorização do chefe do meu clã, assim, não teremos problemas desta vez.

— Bom saber. — Harry disse divertido.

— O que é essa caverna das armas? — Ginny perguntou educadamente.

— Os centauros existem desde os druidas e nunca nos desfazemos das armas antigas, assim como muitos bruxos guardam suas varinhas e espadas. — Firenze respondeu. — Quando o centauro chega a idade de 13 luas, é feito um ritual de escolha das armas e, durante o ritual, descobrimos se devemos construir um novo arco ou se teremos a honra de receber o arco de um dos antigos centauros guerreiros.

— Como é esse ritual? E como descarregamos as más energias? — Harry perguntou curioso.

— Vocês verão. — Firenze disse solenemente misterioso.

Isso calou Harry e Ginny que caminharam ao lado de Firenze em silêncio por quase meia hora antes de um pequeno lago aparecer. O lugar parecia estranhamente belo, mas de um jeito sinistro e misterioso por causa da sua nebulosidade estranha. Ginny sentiu um arrepio percorrê-la e, instintivamente, se aproximou mais do Harry.

— O lago é quente? — Harry perguntou ao perceber que a fumaça branca que tornava o ar nebuloso vinha da água.

— Sim. Este lago tem uma conexão direta com o fogo da terra e limpará as impurezas de suas magias e corpos, mas não tirará a culpa ou trará aceitação e paz as suas almas. — Firenze disse. — Por enquanto será suficiente para ajudá-los a aprender a arte do arqueiro, mas não para lhes dar a convicção de um guerreiro arqueiro.

Ginny arregalou os olhos de empolgação ao perceber o que exatamente o Firenze lhes ensinaria.

— Temos que entrar? — Harry deu uns passos para mais perto do pequeno lago.

— Sim, eu vigiarei. — Firenze disse e virou de costas, olhando para a Floresta em busca de perigos. — Vocês devem entrar sem roupas.

Isso fez os dois arregalarem os olhos e ficarem vermelhos como tomates quando se encararam, mas rapidamente se deram as costas constrangidos.

— Hum... podemos ir separadamente? — Ginny perguntou baixinho ao Harry, que acenou negativamente.

— Isso demorará mais e podem perceber a nossa ausência. — Harry respondeu. — O lago é grande para nós dois, vamos ficar de costas e entrarmos em pontos opostos.

— Ok. — Ginny disse se sentido boba.

Os dois se despiram de costas e caminharam de lado para a margem, sem olharem na direção do outro. Harry sentia o calor que exalava da água mesmo sem tocá-la e ficou chocado com a temperatura, quando finalmente entrou no lago.

— Uau! Isso é muito quente! — Ele exclamou e continuou a andar até estar apenas com a cabeça para fora da água antes de olhar para a Ginny, que estava na mesma posição que ele a uns 10 metros de distância. — Tudo bem?

— Sim. O que fazemos agora? — Ela perguntou já sentindo a tensão do corpo se desfazer na água morna e suave.

— Além de virarmos ensopado de bruxos? — Harry deu de ombros.

— Não está tão quente. — Ginny disse movendo os braços suavemente na água morna.

— Está brincando? — Harry franziu o cenho. — A água está muito perto de ser insuportável!

— Hum... acho que está exagerando. — Ela disse e relaxou suavemente para trás sentindo um contentamento infinito.

Harry franziu o cenho confuso e, fechando os olhos, expandiu a sua magia e observou a magia a sua volta. A Floresta era pura magia cintilante como uma aurora boreal gigantesca e poderosa. A água do lago era vermelha escuro e, estranhamente, Harry pensou que era como estar em uma piscina de tinta vermelha, mostrando que a água quente tinha muita magia. Ao olhar para Ginny, ficou chocado ao ver que as fitas de seda de fogo que a cercavam se desprendiam do seu corpo e dançavam ou nadavam pelo lago vermelho como se estivessem felizes de brincarem no calor gostoso. Abrindo os olhos, ele viu o sorriso suave e pacífico em seu rosto e como Guinevere cantarolava de contentamento.

— Você tem uma afinidade com o elemento fogo, por isso a água está só morna para a sua pele. — Harry disse baixinho.

— Hum? — Ela abriu olhos que cintilaram em um tom mais escuro, como um chocolate amargo e Harry se sentiu estranhamente atraído a se aproximar dela, mas resistiu.

— Nada. — Ele disse e se afastou em outra direção, mergulhando para o fundo da água e, imediatamente sua cabeça explodiu de dor.

Sem fôlego, Harry tentou subiu, mas a água parecia pesada e dura, uma armadilha. Confuso, ele abriu os olhos e só viu um mundo vermelho escuro, enquanto fitas de fogo flutuavam para todos os lados. Agitado, Harry tentou se mover e percebeu que conseguia ir para frente, não para cima, mas também notou que não precisava respirar, o que diminuiu o seu pânico. Sua cabeça ainda doía muito e Harry continuou a nadar para frente até alcançar as fitas de seda de fogo e, ao tocá-las, sentiu na mesma hora a dor diminuir e seu corpo relaxar. Suspirando, Harry fechou os olhos por um segundo e sentiu sua mente flutuar para lugar algum, o vazio o alcançou e o mundo se tornou um grande nada vermelho. Quando despertou, ele estava enrolado em fitas de fogo que o abraçavam e acariciavam seu corpo com carinho. Instintivamente, Harry deixou sua magia alcançar as fitas de fogo e um fio prateado e elétrico surgiu e viajou pelas fitas, entrelaçando-as como uma tapeçaria cintilante e bonita. Harry sorriu mentalmente e lentamente sentiu o seu corpo flutuar e submergir até o mundo real.

Ginny não sentiu dor, apenas prazer, contentamento e suavidade. Quando submergiu, ela não teve medo, pois estava em seu elemento e sabia o que tinha que fazer. Assim ela fez e soltou a sua magia que se espalhou, se expandiu e tudo o que havia de sujo, triste e amargo se desfez como se nunca tivesse estado lá. Ginny sabia que a limpeza tinha dado certo, mas não tinha pressa em subir à tona, pois estava muito bom ali e, então...

Algo frio e picante tocou a sua magia. O picante parecia como um pequeno choque que percorria sua magia e parecia se alimentar dela. Abrindo os olhos, Ginny viu o Harry, nu e agitado, preso em um pesadelo e ela foi até ele para ajudar. Sua magia chegou primeiro e o protegeu de algo que lhe causava dor e Ginny deixou que sua magia o embalasse na perfeição do lago de fogo. Ela se aproximou e tocou seu rosto com carinho, a água agitava seus cabeços negros de um lado para o outro e seu rosto parecia em paz agora, sem dor.

Quando ele sorriu para sua caricia, ela se afastou timidamente e não o viu abrir os olhos. No entanto, ela sentiu quando um choque morno percorreu sua magia e chegou ao seu corpo levando prazer por onde tocava. Suspirando e corada, ela se agitou para cima, fugindo dos sentimentos estranhos e confusos.

Quando eles se olharam, fora da água, suas cabeças estavam a uns 10 centímetros de distância e Harry sorria feliz.

— Nunca vamos falar sobre esse lugar com ninguém. — Ele sussurrou.

— Combinado. — Ela respondeu com um sorriso tímido.

Eles deixaram o lago como entraram, se secaram e se vestiram antes de se aproximaram de Firenze, que os esperava tranquilamente.

— Logo o sol irá se pôr, mas temos tempo para o ritual da escolha do arco. — Ele disse e eles caminharam mais para o fundo da Floresta Proibida.

Harry e Firenze falaram sobre Stronghold e Flidais, que estava sendo preparada para iniciar algumas aulas durante o verão.

— As aulas de verão serão básicas, línguas, matemática, história, teoria mágica. — Firenze contou. — Em setembro começarão as aulas específicas, incluindo as minhas aulas, A Arte da Vidência e Arco e Flecha.

— Serafina não lhe pediu para dar as aulas de Criaturas Mágicas também? — Harry perguntou confuso.

— Sim, mas eu recusei. — Firenze disse. — Tenho muito o que aprender, ler, estudar e meditar, não poderia fazer isso com tantas aulas, além disso, o meu conhecimento sobre as criaturas mágicas é limitado. Eu conheço muitas pelo nome, mas não sei como cuidar delas, protegê-las, alimentá-las.

— Isso faz sentido. — Harry acenou. — Talvez um dos lobisomens tenha o conhecimento para dar essa aula. De qualquer forma, sei que Serafina e Remus estão entrevistando os professores para Flidais e Hogwarts. E você, Firenze? O que fará durante o verão?

— Bem, como minhas aulas só começarão em setembro, eu ficarei por aqui até então, e continuarei com os meus estudos. — Ele disse suavemente.

— Porque não viaja durante o verão? — Harry sugeriu empolgado. — Você sempre quis conhecer outros mundos! E pode continuar seus estudos durante a viajem! — Firenze parecia estranhamente desconcertado com a ideia da realização do seu sonho. — Para onde você iria?

— Bem, eu sempre ouvi histórias sobre um grande clã de centauros que vivem além do grande oceano. — Firenze disse esperançosamente pensativo. — Assim como alguns de nós, eles são descendentes do clã norueguês de Odda e as lendas dizem que não havia clã mais poderoso que os guerreiros da Noruega. Eu tenho, entre os meus antepassados, centauros que pertenceram a esse clã e muitos migraram para a grande província gelada, assim, é possível que eu tenha parentes entre os membros do Clã Canadian.

— Mas e o Clã Odda? Você não teria parentes na Noruega? — Ginny perguntou encantada com o jeito de Firenze falar, não havia como não gostar dele.

— Não existem mais centauros na Noruega, eles foram perseguidos cruelmente e expulsos há mais de 4 séculos. — Firenze explicou. — Quando o Estatuto de Sigilo foi estabelecido, criaturas e seres mágicos foram realocados para locais mais inóspitos e contidos magicamente. O gigantes nas montanhas do leste do continente; os centauros para o norte da Escócia, da Rússia e da Província Britânica Canadense. Os sereianos e as ninfas ficaram limitados aos lagos, sem mais viagens por rios ou oceanos; e o elfos da floresta não podem viver em cidades humanas, pois suas aparências os identificam, assim, eles se mantem nas florestas mágicas. Os dragões foram contidos em reservas mágicas e assim por diante.

— Mas porque eles não puderam continuar na Noruega? — Harry ficou confuso. — Pelo que sei, o país tem áreas remotas com poucos trouxas e não recebe muitos turistas.

— O norte norueguês tem poucos recursos, não há caça ou abrigo do frio intenso, a vegetação é escarpada e dura. — Firenze explicou. — No entanto, a questão toda era que o Clã Odda não queria deixar o seu lar e terras, além de ficarem presos em uma reserva, magicamente impedidos de saírem e serem livres. Eles resistiram e foram massacrados, as poucas dezenas que sobreviverem foram realocados aqui, na Floresta Proibida, e no Clã Canadian, além do grande oceano.

— Isso é terrível. — Harry franziu o cenho. — Ainda não estudamos isso na aula de História da Magia, mas não se justifica agirem assim, mesmo que o Estatuto de Sigilo seja uma coisa boa.

— O nosso mundo é governado por bruxos que podem ser tão cruéis quanto Voldemort, pois como ele, esses líderes acreditam estar fazendo o correto. Por isso Voldemort é tão atraente para alguns povos mágicos, Harry, porque ele oferece maior liberdades. — Firenze disse. — Proteger os lobisomens é um grande passo, mas você deve lançar o seu olhar para todos os outros seres mágicos que foram segregados, explorados e injustiçados.

— Eu farei isso, prometo. — Harry suspirou pensativo e tentando não admitir que o peso em seus ombros parecia um pouco mais pesado nos últimos dias. — Bem, onde vivem o Clã Canadian?

— O lugar é chamado de Columbia Britânica ou Província Britânica, fica ao norte do Canadá, nas Montanhas Rochosas do Norte. — Firenze informou.

— Eu tenho uma propriedade no Canadá, um chalé e uma floresta ou parque natural como eles chamam. — Harry franziu o cenho pensativo. — Não sei a localização exata, mas sei que fica na Columbia Britânica. Escreverei para o Falc e pedirei que ele providencie a sua viagem, Firenze, pois ele terá os contatos necessários para as questões práticas.

— Bem, então devo escrever ao Clã Canadian e pedir autorização para estar com eles por algumas semanas neste verão. — Firenze parecia estranhamente excitado e não o seu calmo eu solene de sempre. — Obrigado, Harry, esta é uma grande oportunidade.

— De nada. — Harry lhe abriu um grande sorriso. — É para isso que os amigos servem, você sabe.

— Sim, eu suponho. — Firenze sorriu desconcertado. — Acho que não tenho muitas experiências nesta área, meu amigo.

Harry riu divertidamente e Firenze sorriu de uma maneira que poucos já tinham visto e Ginny observou encantada como os dois tinham uma amizade tão bonita.

Alguns minutos depois, eles chegaram a uma caverna de pedra, que ficava na base de uma montanha alta. Na entrada havia uma porta de madeira antiga e envelhecida, que estava selada por um grande cadeado prateado.

— O Chefe Agouro me deu a chave e a entrada de humanos em nossa caverna de armas é uma grande honra. Acredito que ele percebeu que deve ouvir a magia. — Firenze disse enquanto abria a pesada porta.

— Seu pai deve estar adorando isso. — Harry disse ironicamente.

— Ele não fala comigo desde aquele dia. — Firenze disse dando de ombros enquanto os levava por um corredor mal iluminado pela luz que entrava pela porta e que deu em uma enorme câmara de pedra escura. — Disse que não tem mais filho.

— Hgpff. — Harry resmungou e usou a varinha para acender uma tocha, Firenze usou duas pedras de sílex para acender outra e Ginny começou a ajudá-los. — Ele não merece você, Firenze, mas quem sabe no futuro, seu pai perceba que está errado.

Com as tochas acesas, a grande caverna se iluminou e mostrou as inúmeras armas espalhadas e expostas por todos os lados.

— Você pegou seu arco aqui, Firenze? Ou o fabricou? — Ginny perguntou olhando em volta encantada.

— Eu tive a grande honra de receber o arco de um dos meus ancestrais do Clã Odda. — Firenze disse gentilmente e retirou o arco da aldrava em suas costas. Ele era feito de uma madeira clara, com veias mais escuras e avermelhadas, que Harry identificou como olmo. Em alguns pontos um desenho ou risco fora esculpido na madeira criando uma decoração intrincada e bonita. No fim, de um dos pontos curvados do arco, estava escrito em norueguês: Stein, Steinen. — Quer dizer, Stein, A Rocha, esse era o nome do centauro que construiu esse arco. Dizem que ele tinha esse apelido, A Rocha, não apenas pelo seu nome, mas por ser o mais forte, firme e resistente entre os guerreiros. Stein morreu aqui, nestas terras, mas sempre incentivou os seus homens a não ceder a dor e a tristeza, dizia que eles tinham que manter a dignidade e a esperança de um futuro melhor. — Firenze olhou para o Harry com um olhar solene. — Quando recebi este arco, senti um grande peso sobre os meus ombros, pois para mim, a grande honra tinha que ser retribuída com grandes feitos. Meu pai disse que eu não era um guerreiro e não merecia ter o arco de um dos maiores guerreiros entre os centauros, mas hoje eu entendo que o meu ancestral devotou em mim a sua fé em um mundo mais justo para o nosso povo. Eu não tenho esse arco para guerrear, eu o tenho para ensinar. — Ele voltou a guardar o seu arco. — Não tema as responsabilidades que pesam sobre os seus ombros, Harry, pois eles não existem para curvá-lo e sim para fortalecê-lo guiá-lo em seu destino.

Harry olhou para a câmara e tentou pensar no que dizer, pois ele não temia o seu destino e sim quantos teria que ver morrer até o fim de tudo.

— Como aceitamos que não podemos salvar todos, Firenze? — Harry sussurrou e sentiu Ginny se aproximar dele e apertar a sua mão.

— Aceitando que você não é a Deusa ou o Destino, Harry, e que mesmo se tivesse o poder de 10 bruxos, ainda não teria o poder sobre a vida e a morte. — Firenze disse e seus olhos cintilaram prateados ao olhar para o céu através das pedras da caverna. — O seu destino é unir e guiar, guerrear com bravura, astúcia, inteligência e lealdade. Mas você ainda é apenas um homem e nem mil homens podem deter a morte. — Ele voltou a encará-lo. — O mal, a arrogância e o medo levaram um bruxo a deter a própria morte, mas ele sempre estará amaldiçoado pela Deusa.

— A morte é preferível a isso. — Harry repetiu o que dissera a quase um ano atrás e apertou a mão da Ginny com força. — Eu tenho um peso que não posso compartilhar com ninguém e não sei como enfrentar isso. — Ele confessou e esperou, se Firenze lhe pedisse para contar, então, Harry confiaria em seu amigo e compartilharia a terrível morte de Lockhart.

— Você tem sua parceira, cujos ombros se vergam como o seu com essa verdade. — Firenze disse olhando para Ginny. — Ela é tão forte quanto você, uma guerreira e merece a sua confiança, assim, siga os seus instintos, Harry e lembre-se de que não está sozinho. Mesmo que pareça agora, em meio a solidão dolorosa do conhecimento, que você é fraco, lembre-se que não existe força maior do que o amor.

Harry acenou levemente desapontado, ao mesmo tempo em que Ginny apertava sua mão com mais força. Ele a olhou e sorriu para o brilho de determinação e coragem pura em seus olhos castanhos.

— Eu posso suportar, Harry, não vou te desapontar. — Ela disse ferozmente e Harry a puxou para um abraço forte, sentindo que nesse momento, mais do que em outros, eles selavam o acordo de silêncio.

— Vamos dividir... — Ele sussurrou em seu ouvido. — Apenas nós dois.

— Nós dois. — Ela falou contra o seu pescoço sentindo-se muito mais forte e certa por dentro. Esse era o caminho certo, Ginny sabia, seus instintos lhe diziam e ela tinha o Harry para compartilhar a dor e a culpa. Suspirando, Ginny sentiu que ficaria bem, com ele, ela ficaria bem.

— Agora sobre as armas. — Firenze disse quando eles desfizeram o abraço.

— Você disse que tem um ritual? — Ginny perguntou curiosa.

— Nada complicado e agora que suas magias estão limpas, vocês sentirão que elas estão mais fortes e fáceis de controlar. — Firenze se aproximou de uma mesa de pedra bem alta, Harry e Ginny mal conseguiam enxergar em cima. — Estas vendas os ajudarão a se guiar pela magia e a queima das ervas lhes aguçarão os sentidos.

Harry colocou à venda em Ginny e Firenze amarrou a dele, tornando o ambiente da caverna completamente escuro.

— Como vou enxergar para andar? Não posso ver com a magia como o Harry. — Ginny disse preocupada.

— Confie em sua magia, Ginny e lembre-se de se abrir para o mundo mágico que a cerca. — Disse Firenze ao colocar fogo nas ervas em um pequeno fogareiro sobre a mesa de pedra.

O cheiro de arruda, alecrim, amêndoa, valeriana, pinheiro e inúmeras outras ervas quase impossíveis de identificar penetrou em seus sentidos quando eles os aspiraram profundamente. Harry expandiu sua magia e toda a caverna se encheu de pontos luminosos de intensidades diferentes, ao mesmo tempo, o cheiro e a fumaça deixou sua mente leve e calma.

— Se a sua arma estiver aqui, ela o atrairá, portanto, abram-se ao seu chamado e a todas as possibilidades. — Firenze sussurrou com sua voz etérea.

Ginny usou o seu treinamento em oclumência e as aulas de Carpintaria para conectar a sua magia com a do ambiente. Sentindo-se leve e tranquila com o efeito das ervas, e com a crença absoluta de que tudo era possível, Ginny desejou que sua magia lhe mostrasse, que fosse seus olhos e ela foi adendida. Ginny não ficou surpresa ao ver as luzes cintilantes por todos os lados, porque neste momento nada lhe parecia impossível. E, quando um fio azul perolado flutuou até ela, Ginny não teve medo, apenas uma certeza tranquila que a fez caminhar com segurança adiante.

Harry também caminhava, mesmo sem fios o guiando, pois o que o atraia era o barulho de cascos, como se um cavalo muito grande pisoteasse impaciente a sua espera. Ele caminhou lentamente, tentando seguir o som que ficava mais alto e impaciente a cada passo que ele dava.

— Já estou indo... — Harry sussurrou e os cascos pararam, depois recomeçaram com mais calma, como um convite para um encontro a muito esperado. — Eu sei, mas não seja impaciente... — Os cascos saltitaram em resposta e Harry sorriu. — Venha até mim, então. — Ele disse e ergueu a mão em espera.

Nem dois segundos se passaram antes do arco voar velozmente e pousar em sua mão direita estendida.

— Bom. Contente agora? — Ele perguntou e os cascos responderam com saltos alegres. Além do arco de luz dourada, uma aldrava de cor marrom flutuou mais lentamente e Harry a pegou com a mão esquerda, sentindo o peso das flechas. — Obrigada por me escolher.

Enquanto isso, decidida, Ginny seguia o fio azul prateado que a levou para o fundo da caverna até algo que brilhava e pulsava na mesma cor que o fio flutuante. Ela estendeu a mão sentindo a sua magia pulsar e se conectar com a dela de uma maneira única, sentida apenas quando Ginny encontrou sua varinha semanas atrás. O arco em sua mão parecia pequeno e leve, mas era acompanhado de uma aldrava com flechas que Ginny pendurou nos ombros antes de tirar a venda e retornar para o começo da caverna.

Quando ela chegou, Harry já estava de volta e exibia um arco marrom e dourado enorme, com um curvatura elegante e asas douradas esculpidas em cada extremidade. Não havia desenhos na madeira e sim, metal dourado revestindo o centro do arco, onde se posicionam as flechas.

— É incrível, apesar de um pouco feminino. — Harry dizia a Firenze. — Guinevere! Você também encontrou o seu arco?

— Sim! — Entusiasmada, Ginny exibiu o seu arco de madeira pintada de azul e prata. Ele era a metade do tamanho do arco do Harry e as flechas pareciam finas e pequenas demais para machucar um rato, quanto mais um bruxo adulto. — É um pouco pequeno, mas é muito bonito.

— Tamanho não influência na precisão ou danos causados aos inimigos, Ginny. — Firenze disse e pegou o seu arco. — Madeira de amoreira, a corda é da crina de unicórnio e a tinta utilizada pelo artesão do arco foi feito de calcário, cobre, diatomita e peziza. — Ele cheirou o arco para identificar a tinta e fechou os olhos para sentir a magia. — Uma magia jovem, feita para a caça e pesca, mas que também pode ser usado em batalhas. — Firenze pegou a aldrava e examinou o seu trabalho em couro pintado de azul e branco. — Couro de cobra, costurado perfeitamente com crina de unicórnio. A flechas são de faia, as pontas de ossos de cobra e as penas de corujas brancas. Uma combinação especial, feito para ter poder e ser mortal durante a caça ou defesa. Ela pertenceu a uma centaura, Úrsula, descendente de Stein e minha bisavó.

Ginny arregalou os olhos e recebeu de volta o arco com muito mais respeito, sentindo a sua magia poderosa e acolhimento. O arco de Úrsula queria ser dela, queria protegê-la dos seus inimigos.

— Obrigada. Estou honrada e cuidarei muito bem do arco, eu prometo. — Ginny disse apertando o arco bonito contra o peito, antes de olhar para um sorridente Harry. — De quem é o seu?

— Firenze ainda não me disse. — Harry respondeu e entregou o arco ao amigo centauro.

— Um arco recurvo tradicional, feito por um guerreiro para batalhas ferozes. — Firenze fechou os olhos para sentir a sua magia e composição. — Madeira de carvalho negro, árvore rara e antiga, assim como a magia que construiu esse arco. O centro e as pontas curvas em forma de asas são revestidos de ouro, a corda feita de crina de testrálio. — Ele pegou a aldrava marrom com a flecha compridas. — O pelo da aldrava é de um Abraxan, a madeira da flecha é feita de faia, a ponta da flecha de... — Firenze parou desconcertado. — De ossos de um Pegasus e a pena é da asa do mesmo Pegasus. Essa arma pertenceu a Jun, o Chefe do Clã Odda e grande amigo de Stein, o capitão do Clã. — Ele olhou para o Harry com um olhar solene. — Jun morreu protegendo o seu clã contra os aurores da ICW que tentavam lhes tirar de suas terras. Ele matou centenas antes de ser morto e ganhou tempo para que muitos fugissem para cânions de Hardangervidda, onde eles se esconderam. Por ordem de Jun, Stein liderou os refugiados até os cânions, mas quando as mulheres e crianças centauros estavam seguros, ele voltou a procura de sobreviventes e encontrou todos mortos. — Ele estendeu o arco ao Harry. — Jun estava entre os mortos e Stein levou consigo o seu arco, pois não queria que acabasse sendo saqueado pelos invasores. Esse arco esteve aqui por 400 anos, Harry e agora ele o escolheu para usá-lo com honra.

— E eu o farei, prometo. — Harry disse suavemente ao acariciar a madeira negra. — Como foi que os sobreviventes chegaram aqui, Firenze?

— Quando se espalhou a notícia de como os homens da ICW estavam agindo com os centauros, gigantes, veelas, alguns bruxos intervieram. — Firenze os encaminhou para fora da caverna. — Aric Ulla, um bruxo norueguês respeitado e sábio, convenceu Stein a ceder as ordens de retirada e migração para os clãs da Escócia e da Colúmbia Britânica. O Clã Odda tinha perdido centenas, além de seu chefe, Jun, e estavam presos em uma terra desconhecida e árida. Alguns queriam fugir ou lutar, mas a maioria dos guerreiros foram perdidos, assim, Stein aceitou o acordo, pois temia que resistir significaria a morte de todos eles. Viva hoje, lute amanhã.

— Stein veio para cá? — Ginny perguntou suavemente enquanto caminhavam pela floresta escura.

— Stein, a maioria da mulheres, seus filhos e algumas crianças órfãs foram aceitos pelo meu clã. — Firenze disse. — Eles temiam a viajem para além do grande oceano, assim, os jovens caçadores resistentes, alguns dos mais velhos e outros que queriam a aventura de viver em uma terra tão distante, partiram com os homens da ICW. Stein sempre pensou nesta terra como sua prisão, não o seu lar, assim, imagino que não foi diferente com os outros. — Ele pegou o arco que pertencera a Stein. — Sempre desejei encontrar os descendentes do Clã Odda, saber de seus destinos e se estão seguros na Província Britânica.

— No resto da Europa também não existem clãs de centauros? Todos foram expulsos de suas terras? — Harry perguntou ainda chocado com a história do Clã Odda.

— Existe um clã na Grécia e outro na Rússia. — Firenze disse. — Depois, você encontrará muitos clãs na grande África, mas os clãs espanhóis, nórdicos e húngaros foram desfeitos, a maioria realocados para pontos isolados e magicamente contidos.

— Quer dizer que se vocês quisessem partir, viver em outra floresta mágica... — Harry parou de andar ao perceber. — Vocês não podem sair.

— Não. — Firenze disse. — Somos proibidos de viver em outro lugar e temos que respeitar o Estatuto de Sigilo. A lei da ICW diz que a criatura mágica que for descoberta quebrando o Estatuto, será condenada à morte e o Ministério responsável, que não conteve a ameaça, sofrerá sanções. Os bruxos podem ser condenados à prisão, mas as criaturas não têm essa possibilidade.

— Mas você não é uma criatura! — Harry protestou indignado. — Você é um ser mágico, como Guinevere e eu!

— Para as leis da ICW e do Ministério, não é assim, Harry, — Ginny disse suavemente. — Centauros, lobisomens, sereianos, veelas, ninfas, são classificados como criaturas e não seres mágicos.

— Somos animais para as leis dos bruxos. — Firenze acrescentou. — E como animais, vivemos presos e cercados em nossos pastos, lagos, florestas e montanhas. Por isso, a ideia de viajar é uma grande privilegio, Harry, um presente que nunca poderei retribuir.

Harry acenou pensativamente e pendurou a aldrava nas costas, encaixando o arco na correia.

— Nunca entenderei como o mundo mágico que tanto presa a magia, despreza os seus seres mágicos com tanta habilidade e crueldade. — Ele disse suavemente. — O arco pode ser desaparecido?

— Ele tem essa função e as flechas usadas voltam magicamente para a aldrava. — Firenze ajudou o Harry e a Ginny a ajeitarem as armas em suas costas. — Eles podem ser usados sempre, pois são leves e ficam invisíveis, mas aqueles com a capacidade de ver magia, poderão enxergá-los facilmente. Muito bem, ficou perfeito e agora, vocês precisam aprender a manejá-los com a precisão dos antigos guerreiros. Eu os espero amanhã, às 5 horas, no jardim de sempre.

— Obrigado por tudo, Firenze e até amanhã. — Harry apertou seu braço pelo pulso.

— Obrigada, Firenze, pelo arco e pelas aulas. De verdade. — Ginny se inclinou e colocou o pulso sobre o coração.

— De nada, jovens amigos. — Firenze disse e olhou para o céu estrelado. — Marte está mais brilhante do que nunca e libra pesa na direção da escuridão. No entanto, os arqueiros iluminam o céu com a sua fé, magia e generosidade. Vocês trazem esperança e luz, guerreiros.

Harry acenou e, pegando a mão de Ginny, caminhou pelos últimos metros da Floresta Proibida até o jardim da escola.

— O que ele quis dizer, sobre Marte, arqueiros, luz... tudo? — Ginny sussurrou bem baixinho.

— Quer dizer que a guerra se aproxima e que nós podemos vencê-la. — Harry disse e sentiu o leve peso do arco em suas costas. — Nós somos parte da esperança de um mundo livre da escuridão, mas também somos aqueles que carregarão o peso dessa responsabilidade.

— Não tema o peso, Firenze disse, pois ele não existe para nos curvar e sim para nos mostrar o nosso destino. — Ginny disse apertando a sua mão. — Veremos mais mortes, não é? Mas qual é o nosso destino? Se não podemos impedir que pessoas morram, qual o propósito de tudo?

— Eu não sei se existe um propósito. — Harry parou de andar e deu de ombros, ao mesmo tempo em que pedia a sua capa que os cobrisse. — Tudo o que eu sei é que sem nós e nossos amigos, sem o que nós nos propusemos a fazer, Marte será o único brilho lá no céu. Mesmo que eu morra no fim, não deixarei que Voldemort vença e destrua o nosso mundo. — Ele olhou para a Floresta já embaixo da capa e pensou na vila dos centauros. — Não podemos deixar que ele mate todos eles... Os centauros podem não gostar disso, mas eu irei protegê-los.

— Nós iremos. — Ginny disse determinada.

Eles conseguiram jantar no Covil com os amigos que lhes levaram sanduíches e frutas. Terry ficou encantado com as histórias por trás das armas, muito mais do que com as armas em si e Hermione parecia pronta para ir para a biblioteca pesquisar sobre o massacre do Clã Odda.

— Você não irá encontrar nada, Hermione. — Terry disse examinando a aldrava de pelo de Abraxan. — Você tem certeza que ele disse que o osso e as penas são da asa de um Pegasus, Harry? Eu não acho que eles são vistos há séculos!

— Porque eu não irei encontrar nada sobre esse massacre terrível? — Hermione perguntou indignada. — Hogwarts tem uma das bibliotecas mais completa da Europa!

— Porque foram os bruxos que escreveram os livros de história e eles contaram esse momento de outra maneira. — Terry disse examinando a flecha com espanto admirado. — Acredita que eles escreveriam a verdade? Normalmente, quem vence a guerra conta a sua versão dos fatos, que pode ser bem diferente do que realmente aconteceu. Aposto que os goblins tem a sua própria versão das guerras que travaram com os bruxos ao longo da história e ela deve ser bem diferente do que nos disse o Binns, incansavelmente.

— Mas isso é errado! — Hermione disse zangada. — Eles têm que falar a verdade!

— Isso não me importa tanto quando o fato de que esse pessoal da ICW tratou os centauros como se fossem animais! — Harry disse zangado. — Você coloca dragões em reservas para proteger o Estatuto, os trouxas e os bruxos, além dos próprios dragões que são preservados e cuidados. No entanto, com seres mágicos sencientes, você tem que dialogar! Não invadir, matar, aprisionar e obrigar que eles se mudem para longe de suas terras!

— Foi o que fizeram com os negros por séculos. — Terry disse. — O trouxas brancos os sequestraram de seus lares na África para serem escravos nas colônias e não gosto nem de pensar em quantos foram mortos por resistirem.

— Mas pelo menos os livros contam a verdade sobre a nossa história. — Hermione disse mais suave. — É terrível pensar que além de tudo o que passaram, os centauros são vistos como monstros ou bestas pelos bruxos porque eles não sabem o que aconteceu de verdade. Quanto mais eu penso que nada mais pode me surpreender, mais eu descubro como os bruxos podem descer ainda mais baixo.

— Harry disse algo parecido mais cedo. — Ginny disse pegando o seu arco das mãos de Neville que tinha examinado ele com carinho.

— É realmente especial, Ginny. O arco do Harry tem muito poder, mas dá para sentir que é uma arma que matou muitos, enquanto o seu tem uma suavidade que vem de uma vivencia mais pacífica. — Neville se mostrava quase nostálgico.

— Tem uma coisa que eu não entendi. — Ginny olhou para o Harry. — Porque você me levou com você? Porque não o Neville, ou o Terry e a Hermione? E porque o Firenze ficou me chamando de sua parceira?

Harry a encarou desconcertado por alguns segundos, tentando encontrar uma resposta que fosse verdade, mas não toda a verdade. Apesar de suas palavras a alguns dias, de que ela era tudo para ele, hoje e no futuro, nada fora dito mais claramente e o sentido das suas palavras não foi explicado ou questionado.

— É por causa de vocês dois serem guerreiros. — Disse Hermione olhando para a expressão meio sem saída do Harry. — Firenze sabe que vocês são guerreiros e provavelmente sabe que lutaram juntos e lutarão no futuro.

— Como ele sabe disso? Quer dizer, eu entendo a questão do futuro e ele saber sobre como sobrevivemos, o Harry me disse que pediu a ajuda de Firenze para vencer a basilisco e me salvar. — Ginny disse. — Mas essa história de guerreiros, como ele sabe isso?

— Ele vê em nossas almas, eu penso. — Harry disse aliviado por Hermione ter uma resposta plausível para tudo o que aconteceu. — Depois que eu matei o Quirrell, eu me senti mal porque não lamentava a morte dele, apenas que fui obrigado a matá-lo. Nós estávamos no jardim, na Floresta, e Firenze apareceu para me ajudar a lidar com os meus conflitos. Ele me disse que como o caçador, um guerreiro não mata por prazer e sim por necessidade, que ele lamenta ter que fazer isso, mas não sente culpa pela morte. Ainda, Firenze disse que o guerreiro e o caçador precisam fazer um ritual de purificação da alma e da magia de tempos em tempos, pois a morte carrega escuridão e nos enfraquece. — Ginny ouvia a tudo encantada pensando que ela precisava fazer esse ritual, pois o lago de fogo apenas limpou a sua magia, não a sua alma. — Firenze também me disse que por ser um guerreiro, eu não sentiria culpa pela morte de Quirrell, pois um guerreiro institivamente sabe aceitar e lidar com isso. No entanto, Terry, o Cuidador, Hermione, a Protetora e Neville, o Criador, eles não lidariam tão bem com matar alguém.

Ginny olhou para os três amigos e os viu com níveis diferentes de desconforto. Neville parecia quase culpado com o fato de que o pensamento de matar alguém o apavorava. Hermione parecia querer se mostrar forte, mas estava meio verde com o pensamento e suas mãos, que seguravam um livro, tremiam ligeiramente. Terry olhou para as mãos de cabeça baixa, como se estivesse envergonhado em não poder contestar as palavras de Firenze.

— Isso não desmerece ninguém e matarei quantos forem necessários para que nunca tenham que passar por isso. — Harry disse ao perceber as expressões dos amigos. — Ainda que espero que isso não aconteça para nenhum de nós.

— Então, eu sou uma Guerreira de alma como você, e o Firenze concordou em me treinar porque seremos parceiros de luta. — Ginny disse pensativamente. — E por isso eu lido tão bem com a morte...

— Bem, você não matou ninguém, Ginny, mas tenho certeza que se um dia acontecer, você poderá enfrentar isso. — Harry a interrompeu tenso. — Assim como eu acredito em vocês três...

— Harry, você sabe que isso não é verdade. — Terry o interrompeu. — Eu mal consigo me sentir à vontade em atacar alguém, imagine então ser diretamente responsável pela morte de um ser humano.

— É claro que vocês sofrerão com a culpa e o peso, mas vocês são fortes. — Harry disse convicto. — Matar em legitima defesa não é assassinato e vocês são fortes e inteligentes para entenderem isso e seguirem em frente, mesmo que seja doloroso ou demorado. — Ele olhou para os três com aquele ar de líder e os três o ouviram com atenção. — Isso ainda não aconteceu e pode nunca acontecer, mas se não for assim, eu acredito que se vocês não me culparam ou me condenaram pela morte do Quirrell, não têm o direito de se condenarem diante da mesma situação.

Os três acenaram solenemente sentindo mais segurança em si mesmos e na força interna para enfrentar o que viria. Ginny olhou para o arco e pensou na culpa que se impregnara em seu peito durante toda a longa semana. A morte de Lockhart era apenas um ponto infeliz em tudo isso, algo inevitável, o homem idiota se colocara diante da morte e Riddle era cruelmente mortal. Ginny tinha que admitir que não se sentia culpada por isso, não, a sua culpa era ver a Sra. Lockhart procurar por seu filho e nunca o encontrar. A sua dor era por sua fraqueza e idiotice, que levara indiretamente a terrível tragédia que se abatera sobre aquela pobre mulher. O seu horror era por perceber que a morte de Lockhart não a incomodava tanto quanto deveria. O seu medo era descobrir que no fundo ela era um monstro e por isso, a morte de Lockhart não lhe pesava tanto quanto a dor de sua mãe idosa. No entanto, agora Ginny percebia que não se tratava de ser fria e indiferente, a verdade é que lá no fundo, apesar de lamentar o que aconteceu, ela realmente entendia que a morte era uma inevitabilidade e que Lockhart não era sua responsabilidade. Em sua alma de Guerreira, Ginny entendia o que aconteceu como algo a se lamentar, mas não para se culpar, porque em uma batalha, as pessoas morriam. As vezes de um lado, as vezes do outro, e, algumas vezes, quem morria era alguém que não estava lutando, um inocente, um intrometido. E naquela noite, Ginny estava em batalha pela sua vida, pela sua magia e por sua alma. Ela lutou ferozmente e venceu. O resto não estava em seu poder, a morte de Lockhart não era um ato voluntário seu e sim, a consequência do mal tentando destruí-la.

— Ginny? — Harry chamou baixinho. — Os outros já foram, você quer conversar mais um pouco ou prefere ir descansar para amanhã?

— Eu entendo melhor agora. — Ela respondeu o encarando. — Esse peso que carregamos, não é apenas pelo que aconteceu, não é? Ele é pelo futuro também, do que teremos que fazer quantas vezes forem necessárias para evitar que nossos amigos tenham que matar alguém, para salvar vidas, as nossas vidas. — Harry acenou. — Eu não me culpo, eu apenas lamento, mas o que dói é saber que se chegar o momento, não deixarei de fazer o que um guerreiro tem que fazer.

— É por isso que temos que treinar e nos preparar, para que nossas ações só se tornem mortais quando forem necessárias. — Harry disse e se levantou. — Firenze nos ajudará, assim como Flitwick e os outros adultos. E não devemos deixar que o peso do que ainda não aconteceu nos curve, ele deve apenas nos guiar.

— Porque, apesar de saber disso tudo, eu ainda me sinto má por não me culpar pelo que aconteceu com... — Ginny parou de falar, como sempre antes de mencionar o nome de Lockhart.

— Porque a morte dele contamina a sua alma e você precisa se purificar, pois mesmo que sua magia esteja limpa e que não tenha sido você quem fez aquilo, você ainda sente a morte dele como parte de você. — Harry disse. — Mesmo que Quirrell chegou tão perto de me matar, eu lamentava a escolha que fiz, não me culpava, mas duvidava de mim mesmo. Porque não usei outro feitiço? Porque não deixei que os outros me ajudassem? Porque tomei a decisão de acabar a luta? — Harry suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Eu sou um bruxo guerreiro e segui os meus instintos, mas duvidava de mim e das minhas ações.

— O que mudou? — Ginny perguntou curiosa.

— Durante o ritual de purificação, eu tive uma visão. — Harry a encarou mostrando toda a dor que sentia. — Se eu não tivesse seguido os meus instintos e matado Quirrell, ele teria assassinado o Terry. — Ginny ofegou e empalideceu. — Somos guerreiros, Ginny, e bruxos, e precisamos confiar em nossa magia, em nossos instintos e agir, sem pensar, porque se hesitarmos, em meio a uma luta, podemos morrer ou ver alguém que amamos ser morto. Isso é assim para nós, não para eles e é por isso que não podemos deixar de treinar, pois a cada dia temos que ser mais fortes, mais confiantes e mais instintivos.

— Ok. Vamos descansar então e, amanhã, começaremos a aprender como usar os arcos. — Ginny disse antes de encaixar o seu braço pelo cotovelo do Harry e eles caminharem para fora do Covil. — Eu nem vou mais reclamar do seu arco ser maior, pois vou chutar o seu traseiro amanhã.

Harry riu baixinho e deixou a capa cobri-los.

— Aproveite para sonhar com isso, Guinevere, pois só em sonhos isso acontecerá.

Na manhã seguinte, eles descobriram que ninguém chutaria o traseiro de ninguém. Na manhã fria e nebulosa, com o céu ainda escuro e o sol se escondendo atrás das montanhas, eles se encontraram com Firenze, que os levou para uma caminhada leve até uma clareira. Harry insistiu que eles treinassem um pouco antes de se encontrarem com o centauro, assim, eles estavam despertos, cheios de adrenalina e suados pela corrida na Caverna.

No meio da floresta estava ainda mais escuro e a nebulosidade umedecia o chão, árvores, folhas e galhos. Apesar do casaco que vestiam, eles logo sentiram frio e o Harry usou um feitiço de aquecimento nos dois, pois esfriar depois da corrida tornava o corpo meio duro e desconfortável.

Firenze pacientemente ensinou e explicou como segurar o arco, pegar e posicionar a flecha, como se movimentar e atirar, mas nenhum dos dois conseguiu enviar uma única flecha para mais do que dois metros de distância. Era frustrante e vergonhoso, e Ginny deixou o seu temperamento se soltar e pareceu ficar mais determinada a conseguir, o que a fez mais agitada e errática. Harry se manteve firme nos movimentos, repetindo-os como dissera Firenze, mas sempre com o mesmo resultado.

— Parem por um momento, por favor. — Firenze os interrompeu suavemente. — Os dois querem muito aprender, mas o arqueirismo é uma arte, mais do que um esporte. O esforço físico não é tão importante quanto a concentração mental. Harry, você tem a precisão física, mas precisa sentir, assim, limpe a mente, sinta a magia do seu arco, do ambiente e lembre-se que você não é o único integrante desta arte.

Harry acenou e fechou os olhos, respirou fundo e deixou que sua magia se expandisse, se conectasse com a magia da Floresta que o acolheu com sua força e sabedoria. A magia do arco de Jun era diferente, um pouco escura e pesada, mas parecia ansiosa por se conectar e Harry aceitou a ligação. Não era diferente da sua ligação com sua varinha ou a capa de invisibilidade, apenas menos familiar e... mais dura, como se a magia do arco tivesse uma certa aspereza.

Ao em vez tentar soltar as flechas, Harry continuou a examinar a magia da arma, deixando que ela o conhecesse e a sua própria magia. Sem pressa, Harry a acariciou e enviou sentimentos positivos, sentindo e aceitando o peso da sua história escura e a magia desconhecida do arco foi, aos poucos, se ligando a ele. O arco não deixou de ser uma arma mortal que tirou inúmeras vidas, ele apenas se adaptou ao seu novo mestre, que como o antigo, queria paz e proteção para o seu povo. Harry não encontrou resistência, apenas uma força mágica diferente de tudo o que ele já sentiu.

Enquanto isso, Firenze conversava com a Ginny.

— O fogo em sua magia alimenta o seu temperamento, mas um guerreiro não pode ser movido a sentimentos descontrolados, jovem Ginny. — Ele disse suavemente. — O controle sobre si mesma é tão importante quanto o controle sobre o arco. Lembre-se que não se trata de uma competição de força física e sim, uma arte que envolve magia, precisão e concentração. Limpe a sua mente, controle as suas emoções e deixe que a magia lhe guie.

Ginny acenou e também fechou os olhos. Seu controle e conexão com sua magia não era tão bom quanto o do Harry, mas ela conseguiu se conectar com a magia do arco facilmente. Era uma força mágica suave e amorosa, oferecia cuidado e proteção, além de lealdade. Ginny aceitou e ofereceu sua lealdade e dedicação ao arco que pareceu ficar ainda mais leve e firme em sua mão. De repente, ela se sentia mais à vontade, não era questão de movimentos e técnica, o mais importante era sentir e confiar no arco e em si mesma.

Assim, Ginny posicionou a flecha e, abrindo os olhos, puxou a corda do arco e soltou a flecha que disparou velozmente. Ainda sem direção, é verdade, mas realmente voou até desaparecer por entre as árvores.

— Consegui! — Ginny exclamou animada e ganhou um olhar de aprovação de Firenze. Ela olhou para o Harry, mas ele ainda estava de olhos fechados, sentindo o arco e, antes que ela pudesse lhe dizer que ganhara a pequena aposta que fizeram, Harry esticou a corda negra e respirou fundo, depois, ele soltou a respiração lentamente e, sem abrir os olhos, soltou a flecha, que disparou velozmente e acertou o centro de uma faia gigantesca a 200 metros de distância. — Merda.

— Ok. — Harry sussurrou e abriu os olhos encarando o arco. — Entendi. — Ele olhou para Firenze. — Eu preciso aceitá-lo como ele é, o arco quer um novo mestre, mas precisava que eu o acolhesse com sua escuridão.

— Ele ficou trancado por muitos séculos, esperando por um novo guerreiro que não temesse o peso das mortes que ele carrega. — Firenze disse suavemente. — Você era o guerreiro que ele esperava, Harry.

— Ele tinha um nome, antes, quando pertencia a Jun. — Harry disse acariciando o arco dourado. — Bue Gyllen, era como ele era chamado pelo antigo chefe do Clã Odda.

— Arco Dourado em norueguês. — Firenze disse solenemente. — Pretende manter o mesmo nome?

— Sim, eu o aceito como ele é, e o chamarei de Gyllen. — Harry disse sorrindo.

— Como você acertou a árvore se estava de olhos fechados. — Ginny perguntou se aproximando curiosa.

— Hum? — Harry olhou para a flecha que estava na árvore e, estendendo a mão, ela reapareceu em sua mão e Harry a colocou de volta na aldrava. — O arco é poderoso, nasceu para proteger o seu mestre e seu povo. Quando eu o aceitei, ele prometeu me proteger e atender ao meu comando, assim, quando disparei a flecha, a magia de Gyllen a levou aonde eu lhe pedi.

— E você enxergou a árvore com a sua magia. — Ginny entendeu e sorriu orgulhosa. — Parabéns! — Ela o abraçou e Harry retribuiu o abraço e o sorriso. — Eu também consegui, apenas preciso acertar a mira!

— Para isso, você precisa conectar a sua magia com a magia da floresta, do ambiente, para sentir onde está o que você precisa e quer acertar. — Firenze disse.

— Eu fiz isso, mas não me concentrei no ambiente, em um alvo. — Ginny disse e, voltando a se concentrar, ela disparou outra flecha na mesma árvore que o Harry acertou, mas a sua flecha não alcançou a árvores distante. — Oh?

— Sua flecha é mais jovem e não lutou batalhas, Ginny. — Firenze disse. — Além disso, ela é menor, sua potência de impulsão é para alvos mais próximos, o que significa que você compensará isso com o seu corpo e magia. — Ginny acenou. — Use a sua magia para saltar nas árvores, mire em alvos de 50 a 100 metros e impulsione a magia do arco com a sua magia. — Ele olhou para o Harry. — Você acertará alvos mais distantes e tem um arco de guerra, quer dizer que você nunca errará, pois, a flecha acertará qualquer alvo em sua intenção, mesmo um alvo móvel. Sua prioridade é aprender a disparar se movimento com rapidez e aumentar a distância dos seus alvos, se treinar com afinco, pode alcançar um inimigo a mil metros de distância.

Harry e Ginny acenaram e, respirando fundo, dispararam em uma corrida pela floresta com Firenze os seguindo de perto. Ginny usou sua magia para flutuar para os galhos altos das árvores e tentou mirar em alvos próximos enquanto saltava de uma árvore a outra. Ela logo percebeu que a precisão era o seu maior problema, pois parecia impossível saltar e atirar, assim, Ginny parava, atirava e saltava.

Harry correu por entre as árvores e apontou suas flechas para árvores mais distantes, percebendo que acertar não era o problema com um arco de guerra. A dificuldade era se deslocar com o grande arco e disparar a flecha enquanto corria e se desviava das árvores. Apesar de ser um grande velocista, Harry se viu mais caminhando rápido do que correndo, o que ele raciocinou que não era tão ruim em um primeiro treino. Mas algo o estava distraindo, uma percepção de perigo que o fez olhar em volta em busca da ameaça e, então, Ginny gritou de susto e Harry a viu cair de 15 metros de altura do galho de um carvalho antigo e cheio de musgo úmido pelo orvalho da manhã que nascia.

Sem hesitar e por puro instinto, Harry estendeu a sua magia e a deteve no ar antes que chegasse perto do chão. Ela o encarou pálida de susto e suspirou quando Harry a pousou no chão a quase 20 metros de distância.

— Obrigada. — Ginny disse e Harry acenou.

— Ginny pode se defender, Harry, se distrair em protegê-la é um desserviço em uma batalha. — Firenze não parecia contente.

— Mas... — Harry se mostrou confuso. — Ela estava caindo e...

— E sua magia a segurou, mas Ginny é uma bruxa também e sua própria magia teria lhe salvado. — Firenze disse enquanto Ginny se aproximava timidamente. — Você estava lento porque se manteve atento e distraído com ela, e quando estiverem em batalha, isso pode lhe custar a sua vida. Vamos, vamos voltar para a clareira.

Os três seguiram em silêncio de volta a clareira, Harry pensando em como poderia não se preocupar ou se concentrar na sua segurança de Ginny.

— A questão que o aflige é a confiança, Harry. — Firenze disse suavemente quando chegaram a clareira. — Hoje, faremos mais um exercício antes de encerrarmos a nossa aula. Ginny, o seu arco, assim como todos os arcos mágicos feitos por centauros, se transforma em um escudo quando você assim o desejar.

— Verdade? — Ginny arregalou os olhos surpresa e admirada. — O que eu faço?

— Você está conectada com o arco, apenas lhe peça que se torne um escudo para sua proteção. — Firenze a orientou e se posicionou ao lado do Harry e de frente para Ginny.

— Ok. — Ela se concentrou olhando para o arco azul e branco em sua mão até que ele se transfigurou em um escudo da mesma madeira e as mesmas cores. — Uau! Vou chamá-lo de Blue, já que ele não tem um nome.

— Minha bisavó não era uma guerreira, apenas uma caçadora talentosa e, tradicionalmente, são os centauros guerreiros que nomeiam as suas armas. — Firenze explicou. — Agora, Harry, atire sua flecha em Ginny.

— O que? — Harry o encarou como se ele fosse louco. — Eu não posso fazer isso! Você mesmo disse que o meu arco sempre acerta o alvo!

— Sim, mas um escudo mágico existe justamente para deter flechas mágicas. — Firenze disse. — Um bruxo poderoso talvez não precise de um escudo, mas você não encontrará muitos com tal talento. Assim, a melhor defesa é o escudo e ele deterá a sua flecha.

— Tem certeza? — Harry tinha os olhos arregalados de apreensão. — Porque precisamos fazer isso?

— Sua parceira precisa e merece a sua confiança, Harry. — Firenze disse. — E você deve se concentrar em vencer a batalha, não em proteger uma única pessoa. Este exercício tem esses dois objetivos, assim, por favor, atire a sua flecha.

Apesar do raciocínio, Harry ainda hesitou e olhou para Ginny, que acenou determinada, se afastou uns 20 metros e posicionou o escudo em frente ao seu peito. Suspirando, e não gostando nada desse exercício, Harry pegou uma flecha, armou o arco, puxou a corda e mirou no ombro de Ginny, mas no último segundo, antes de soltar a flecha, ele mudou o alvo e a flecha acertou uma árvore a três metros de distância dela.

— Não consigo. — Ele disse mal-humorado.

— Você não confia em mim? De que sou capaz de me defender? — Ginny perguntou entre decepcionada e furiosa.

— Não se trata disso! Eu não consigo conscientemente fazer algo para te machucar! Para mirar, preciso dizer ao arco que quero que ele atinja o seu ombro, penetre a sua pele! — Harry protestou também irritado. — Dyllen sente que não quero fazer isso de verdade!

— O arco pode saber que você não quer, mas a decisão final é sua e ele o obedecerá, Harry. — Firenze disse e, sacando seu próprio arco em um piscar de olhos, disparou contra a Ginny que só teve tempo de erguer o escudo e impedir que a flecha a atingisse na testa.

— Ei! — Harry protestou chocado. — Você poderia matá-la!

— Eu confio que ela pode se defender. — Firenze cavalgou pela clareira e voltou a disparar contra a Ginny que continuou a mover o escudo detendo cada uma das flechas, não importava em qual parte do seu corpo Firenze estivesse mirando. — Muito bem, Ginny. — Ele disse quando terminou um círculo em volta da clareira.

— Obrigada, acho. — Ginny disse com o braço dolorido pelo impacto das flechas, que desapareceram do seu escudo e voltaram para a aldrava de Firenze. — Vamos lá, Harry.

Com uma careta, Harry posicionou outra flecha e mirou em seu ombro direito. Imediatamente a imagem da flecha penetrando a sua pele e o sangue escorrendo o encheu de tensão e Harry endureceu todo o corpo, pois o pensamento de fazer algo assim para a sua Guinevere era abominável. Fechando os olhos, ele tentou se concentrar, lembrar que era um exercício e que Ginny poderia se defender com o escudo. Ainda assim, soltar a flecha demorou quase um minuto inteiro e quando ele finalmente soltou a respiração e a disparou, Harry manteve os olhos fechados. Ele ouviu o barulho do impacto no escudo e suspirou aliviado, até que Ginny gritou de dor e Harry arregalou os olhos enquanto corria até ela.

— O que foi? Guinevere? Onde está machucada? — Ele se aproximou em segundos, apesar da distância e ficou chocado quando Ginny riu.

— Peguei você! — Ela disse brincalhona. — Estou bem! Só queria te dar um susto.

— Isso não tem graça! — Harry disse indignado e apoiou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego. — Isso não se faz! Não se pode brincar com uma coisa dessa!

— Você merecia uma lição por não confiar em mim! — Ginny deu de ombros com um sorriso divertido.

— Eu me preocupo com você! Não tem nada a ver com confiança! — Harry disse zangado.

— Pois eu não preciso que se preocupe comigo! Ou tente me cercar em uma redoma de proteção! — Ela falou agora muito séria e deu uns passos à frente tentando se impor apesar de ser tão pequena. — Eu já tenho 6 irmãos, muito obrigada! Eles vivem me dizendo o que eu posso ou não fazer! Ou não me deixam jogar porque temem me machucar! Bem, aqui não será assim! Eu sou sua parceira e treinarei ao seu lado como uma igual, não como uma princesinha em perigo e que precisa de proteção! Fui clara!?

— Muito clara! — Harry disse tentando controlar o temperamento e falhando miseravelmente. — Se não quer minha ajuda e proteção, por mim tudo bem! Mas não volte a zombar da minha preocupação com você ou fazer piadas sobre a sua segurança!

— E você não volte a me tratar como uma menininha frágil! Eu sou uma bruxa guerreira e posso me defender! — Ginny gritou de volta bem no seu rosto.

Eles haviam se aproximado e estavam a centímetros um do outro.

— Eu sei disso! Nunca disse o contrário! — Harry devolveu.

— Quando age assim me faz sentir fraca! E eu não sou fraca! — Ela bateu o pé no chão furiosa.

— Você está sendo injusta! Eu nunca a considerei fraca! Minha preocupação com você não tem a intenção de impedi-la ou eu nunca teria lhe trazido para treinar comigo e o Firenze! — Harry apontou para onde estava o centauro e ficou surpreso ao ver que o amigo não estava mais lá. Olhando em volta, Harry encontrou a clareira vazia, com apenas os dois. — Onde ele está?

— Hum? — Ginny despertou da discussão e olhou em volta também. — Ele deve ter ido embora quando começamos a brigar.

— Olha. — Harry suspirou sem jeito. — Desculpa se te fiz sentir que não a considero capaz, eu juro que não penso assim.

— Ok, eu acredito em você. — Ginny arrastou o pé na grama úmida sentindo-se um pouco envergonhada. — Desculpe pela brincadeira boba.

— Ok. — Harry disse e eles começaram a caminhar para o castelo. — Ainda bem que você sabe que não foi legal porque, brincadeira só é brincadeira se todos rirem, sabe.

— Não é assim na minha família, normalmente, estamos sempre zombando e provocando uns aos outros. — Ginny deu de ombros.

— Bem, eu não tenho irmãos, mas de onde eu venho, isso se chama bullying. — Harry disse pensativamente. — Eles realmente não lhe deixavam brincar ou jogar porque tinham medo de te machucar?

— Sim. — Ginny disse e parecia meio zangada, meio magoada. — Minha mãe é o maior problema, sabe. Ela tem essa ideia de que uma menina tem que ser uma princesinha delicada, com vestido rosa e tranças, que gosta de cozinhar biscoitos e brincar com bonecas dentro de casa.

— Assar biscoitos. — Harry corrigiu e recebeu um olhar atravessado. — Continue.

— Bem, eu não era nada disso. Eu queria brincar no jardim, nadar na lagoa, subir em árvores, colher maçãs, voar e jogar quadribol. — Ginny disse e seus olhos brilharam de entusiasmo ao pensar nas aventuras de infância. — Quando voltava para a Toca, eu estava toda suja e arranhada, com minhas roupas rasgadas e minhas tranças desfeitas. — Harry riu ao imaginar uma pequena Ginny com essa descrição e olhos castanhos brilhantes de alegria e determinação. — Quando ficou claro que ela não poderia me prender, pois isso me fazia infeliz ou resultava em minha fuga pela janela do meu quarto, a minha mãe mudou de estratégia. Ela disse aos meus irmãos que como eu estava com eles em suas brincadeiras e aventuras pelo jardim ou pelo pomar, minha segurança era responsabilidades deles.

— Oh... — Harry acenou entendendo. — Aposto que ela ameaçou que se algo lhe acontecesse, eles pagariam o preço. — Ele lembrou as inúmeras vezes em que algo acontecia com Duda e, se Harry estivesse por perto, ele seria castigado por isso.

— Sim. — Ginny suspirou. — De repente, meus irmãos não me queriam mais por perto, um me empurrava para o outro, tentando se livrar do problema. Quando Bill estava em casa durante as férias de verão, ele assumia os meus "cuidados", mas era extremamente protetor, sempre me vigiando, cercando e protegendo como se eu fosse uma boneca de vidro. Isso era muito irritante, mas era melhor do que ser deixada para trás e eu conseguia me divertir um pouco durantes os verões.

— Durante o resto do tempo você ficava sozinha? — Harry perguntou.

— Minha mãe me arrumava dúzias de coisas para aprender. — Ginny fez uma careta. — Costurar, cozinhar, limpar e, pela janela, eu assistia e ouvia os meus irmãos rindo, brincando e voando pelo jardim. Huggrrrr! Como eu odiava! Então, eu comecei a sair sozinha, as vezes fugia para a casa da Luna, que fica a alguns quilômetros de distância. A mãe da Luna adorava viver aventuras no bosque conosco, fingíamos ser fadas e ela era a bruxa má que tentava nos pegar ou então a princesa e nós, os heróis, tínhamos que salvá-la do dragão maldoso. Ela nos ensinou a nadar e seu laboratório parecia incrível, mas não podíamos interrompê-la quando estivesse trabalhando. — Seus olhos ficaram triste ao pensar em Pandora Lovegood. — Eu queria muito voar, mas claro que minha mãe não deixou e mesmo quando implorei que me ensinassem escondido, meus irmãos não quiseram arriscar a sua ira. Bill e Charlie, neste ponto, concordavam com ela de que eu era muito pequena para jogar no meio dos meninos maiores, assim, eu decidi aprender sozinha e me esgueirei para o jardim durante a madrugada para voar em suas vassouras velhas.

— Você e Ayana jogaram com adultos em Stone Waterfall, ela se machucou um pouco quando caiu da vassoura naquela vez, mas não me pareceu impossível jogarmos todos juntos, sabe, como uma brincadeira. — Harry disse pensativo. — Suponha que se fosse um jogo duro, profissional, crianças não poderiam jogar no meio de adultos.

— Meus irmãos jogavam mais duro, mas Ron não era muito maior do que eu, Harry, a questão é que em suas mentes, uma menina é mais frágil que um menino. — Ginny disse com uma careta. — E para minha mãe, existem coisas que só meninos podem fazer e coisas que só meninas devem fazer. Jogar quadribol é coisa de menino, assim como cozinhar e costurar é coisa de menina. Minha mãe até coloca eles para limpar seus quartos, arrumar o jardim, mas sou eu que tenho que aprender os ouros deveres femininos.

Harry fez uma careta entendendo melhor porque ela ficou tão zangada.

— Eu não quero que pense que sou como a sua mãe, Guinevere. — Harry disse parando de andar e a encarando nos olhos. — Prometo que não deixarei que minha preocupação seja exagerada.

— Isso é importante para mim, Harry, mas o principal é a sua segurança. — Ginny disse muito séria. — Se em meio a uma batalha, você se preocupar em me proteger, como irá se defender?

Harry suspirou imaginando como encontrar o equilíbrio para essa situação, pois a verdade é que não conseguia imaginar não querer protegê-la com tudo dele, o tempo todo.

— E como sua mãe reagiu ao saber que você é a apanhadora do time da Gryffindor? — Harry perguntou quando retomaram a caminhada.

— Eu não contei. — Ginny disse para surpresa do Harry. — Apenas os gêmeos sabem, nem mesmo o Ron e o Percy descobriram que eu estou no time.

Harry riu divertido e colocou o braço sobre o seu ombro.

— Será muito divertido ver a cara deles quando descobrirem sobre isso, bem na hora que o jogo começar e pouco antes do meu time arrasar o seu. — Ele provocou e Ginny se engasgou de indignação, mas seus olhos brilharam de diversão.

— Vamos ver quem arrasará quem, Potter. — Ela disse desafiadora.

Naquele fim de tarde, uma reunião do Covil trouxe os novos membros para a equipe. Os parentes dos lobisomens assassinados foram informados sobre tudo e assinaram o contrato de confidencialidade.

— Quando o Tratado estará pronto? — MacMillan perguntou.

— O texto já está pronto, mas houve um atraso porque eles decidiram usar o segundo Tratado trazido do Egito para os membros do Partido dos Justos. Nosso Tratado foi encomendando e deve chegar em breve, acredito que o trarei comigo depois da inauguração da Feiras. — Todos acenaram. — Bem, agora vocês assinaram o contrato de confidencialidade e podem saber porque estamos formando essa Equipe e planejando ajudar os lobisomens e mudar as leis.

— Meu pai me escreveu e disse que está muito orgulhoso que eu estou ajudando, mas que não quer que eu me coloque em perigo. — Dempsey disse com o cenho franzido.

— Nosso pai escreveu uma carta semelhante para nós. — Disse Padma muito séria. — Ele disse que quando a guerra recomeçar, nos enviará com a nossa mãe para a Índia.

— Guerra? — Janeth perguntou confusa.

— Meu pai pensa igual. — Tracy disse zangada. — Porque sou menina, ele não me acha capaz, mas espero ser maior de idade quando a guerra recomeçar porque aí será minha decisão.

— De que guerra estão falando? — Eric perguntou tão perdido quanto os outros novos integrantes do Covil.

— Antes de explicarmos, porque não se apresentam? — Hermione pediu com um livro e pena preparados. — É meio que uma tradição. Assim, por favor, falem seus nomes, status de sangue se quiserem e casa em Hogwarts ou o que mais quiserem.

— Bem... sou Eric Reeth, sexto ano, Gryffindor e nascido trouxa. — Eric disse um pouco hesitante. — Meu irmão mais velho, Elliot era um lobisomem e foi assassinado por um auror há 12 anos.

O clima no Covil se tornou mais sombrio depois das suas palavras.

— Hum... meu nome é Leda Pilnner, sou nascida trouxa e estou na Hufflepuff, quarto ano. — Leda disse timidamente.

— Meu nome é Janeth Carson, sétimo ano, Hufflepuff e meu pai foi assassinado por aurores há 11 anos. Sou mestiça. — Ela disse com orgulho.

— Eu sou Dempsey Murray, puro sangue e quarto ano da Ravenclaw. — Disse Dempsey. — Meu tio, Edward, foi assassinado por aurores.

— Oi, eu sou Julian Yaxley, terceiro ano, Slytherin e... — Julian olhou pela janela enquanto falava, pois não queria ver as expressões de ninguém. — Minha mãe foi assassinada por meu pai, que é um auror.

O silêncio era pesado ao fim das suas palavras e Harry o interrompeu com a verdade.

— Voldemort está vivo...

A reação dos 5 novos integrantes do Covil foi semelhante à de todos os outros. Incredulidade, medo, choque e confusão, assim, Harry contou sobre os planos que tinham para a guerra, os treinamentos, Stronghold e as mudanças de leis.

— Bem, agora vocês sabem e entendem que precisamos nos preparar para a guerra, assim, o Tratado é basicamente uma maneira de nos protegermos de traidores. — Harry encerrou.

— Eu não me importo de assinar. — Leda disse muito séria. — Se é para estarmos protegidos, acho que tudo bem, mas como podemos nos proteger pessoalmente? Quer dizer, eu sou péssima com a varinha e não acho que só treinar com você me impedirá de ser morta.

— Eu não posso morrer. — Disse Eric chocado. — Sou tudo o que restou aos meus pais e se eles imaginarem que teremos outra guerra, com certeza me tirarão do mundo mágico.

— O mundo trouxa não será tão seguro como você pode pensar, Eric. — Trevor disse. — Se não aprender a se defender e houver um ataque em sua rua, você pode morrer e ver seus pais, amigos e vizinhos serem mortos por comensais da morte. Eu estou treinando com o Harry e continuarei a treinar com a Equipe Pegasus, também serei professor assistente na Academia do Sirius. A única maneira de termos uma chance de sobrevivermos ao que virá é nos unindo e treinando ou ficaremos vulneráveis.

— Ok. — Eric disse. — Isso faz sentido.

— Alguns de nós teremos aulas na Academia no verão e tutores de Defesa Contra as Artes das Trevas para recuperar o tempo perdido com esses péssimos professores. — MacMillan disse. — Mesmo para aqueles que os pais pretendem tirar do país, aprender a se defender é importante, pois como disse meu pai, não sabemos quando ou de onde virá o primeiro ataque.

— Mas e quem não pode fazer isso? — Leda perguntou angustiada. — Ir a academias, ter tutores...

— O Harry nos treinará a partir de setembro, Leda, além disso, quem quiser ir treinar na Academia do Sirius, mas tiver dificuldades, deve avisar a Penny. — Ginny disse apontando para a garota Ravenclaw que sorriu gentilmente. — Ela está organizando a logística de cada caso, resolvendo as dificuldades para cada um.

Harry deixou que mais perguntas e respostas fossem feitas e observou como o grupo acolhia os novos membros, resolvia e tranquilizava suas dúvidas. Era bom ver como eles estavam motivados, em harmonia e fortes nos projetos, ideias e sentimentos para o futuro. Ao fim da reunião, Leda pediu para conversar com ele.

— Tudo bem? — Harry perguntou gentil. — Sei que é muito para absorver, mas todos irão ajudá-la.

— Eu sei, quer dizer, eu me senti super acolhida por todos. — Leda disse e parecia meio emocionada. — Lembra que eu conversei com o Flitwick? Sobre os meus problemas de bullying aqui na escola e como eram as coisas lá no orfanato...

— Sim, e eu lhe disse que Flitwick a ajudaria. — Harry disse convicto.

— Então, o bullying melhorou bem, os rapazes quase não se aproximam de mim... — Ela disse e suspirou pensativa. — Flitwick disse que eles estão planejando muitas mudanças para setembro, para deter ainda mais os problemas de bullying na escola.

— Eu fiquei sabendo. — Harry disse. — Hogwarts é um lugar maravilhoso, mas tem problemas e é bom perceber que os adultos estão planejando resolvê-los. Parece... como se eles estivessem cuidando de nós, não é?

— Essa deveria ser a função deles! — Leda disse energicamente. — Flitwick foi me visitar no orfanato nas férias de Páscoa... eu normalmente não deixo a escola, a não ser no verão, mas dessa vez foi obrigatório e... — Seus olhos se tornaram pensativos. — Foi horrível, como sempre, quer dizer, eu já estou acostumada e... então ele veio, como disse que faria e eu quase não acreditei! Eu estava lá havia dois dias e um dos garotos tinha quebrado meu pulso... — Leda tocou o pulso agora curado ao se lembrar da dor. — O diretor do orfanato não quis me levar para o hospital e quando eu tentei fugir, ele me trancou no meu quarto. — Harry apertou o punho com raiva. — Flitwick foi incrível! Ele teve uma discussão feia com o Sr. Travernon, me levou embora e depois voltou com assistentes sociais e policiais até o orfanato!

— Uau! — Harry disse surpreso.

— Ele entrou em contato com as assistentes sociais bruxas do Ministério que mantêm contanto com as assistentes sociais trouxas e, em duas horas, o orfanato foi fechado, Sr. Travernon foi preso e as crianças enviadas para outros lares. — Leda disse. — Eu terei que testemunhar, conversar com uma psicóloga do Tribunal, mas não preciso voltar a viver naquele inferno. — Leda sorria timidamente e Harry se perguntou se Tom não se tornaria Voldemort se tivesse obtido ajuda.

— Então, onde você viverá? — Ele perguntou afastando o pensamento.

— Provisoriamente, eu viverei no Orfanato dos Abortos. — Leda explicou e suspirou. — Eu fiquei quase uma semana lá e o lugar é incrível! A casa é antiga e está velha, precisando de uma reforma, mas é tudo muito limpo e tem um jardim com uma horta, além de um pequeno pomar. A cozinha é incrível, antiga e espaçosa e a Sra. Madeleine me deu algumas tarefas, nada muito estafante, pois todos ajudam, mas ela me perguntou o que eu gostava de fazer e me deixou ajudar na cozinha quando lhe disse que gostava de cozinhar e que estava aprendendo a comer saudável aqui em Hogwarts para emagrecer. — Ela sorriu suavemente. — Sra. Madeleine foi muito compreensível, entendeu que eu preciso cuidar da minha saúde e me deixou preparar os pratos que me deixassem saudável. Eu fiz muitas saladas e os pessoal do Orfanato não gostou muito, mas a Sra. Madeleine fez todos comerem!

— Essa Sra. Madeleine parece ser muito especial. — Harry disse. — Então o Orfanatos dos Abortos é melhor do que o outro, certo?

— Bem, ainda é um orfanato, Harry e mesmo que as vezes pareça uma casa, não é um lar, sabe. — Harry acenou, pois era assim que sempre sentiu sobre a casa dos seus tios. — Tem sempre aquele clima pesado e triste que vem dos órfãos, é a solidão, eu acho. — Seus olhos se encheram de lágrimas e ela suspirou. — Estou sendo boba, desculpa.

— Não precisa se desculpar por ficar triste. — Harry disse suavemente.

— Eu cresci com órfãos e sou uma, mas não me lembro dos meus pais ou sei o que aconteceu com eles. — Leda deu de ombros. — Não precisa muita imaginação para adivinhar o que aconteceu para que eu terminasse naquele orfanato. Minha mãe deveria ser muito jovem, pobre, solteira, pode ter se envolvido com drogas ou com os caras errados e achou melhor para nós duas que eu fosse criada pelo sistema. Imagino que essa é a história de quase todas as crianças com quem eu cresci, mas lá no Orfanato dos Abortos não é assim. — Seus olhos estavam ainda mais tristes. — Eles se lembram de seus pais, seus irmãos, suas casas, sabem porque foram abandonados e sentem falta de suas famílias todos os dias. Não como nós, sabe, que imaginamos como seria ter uma família, ser amado, receber um abraço de sua mãe ou um beijo do seu pai. Eles sabem, Harry e isso foi arrancado deles por seus próprios pais, todos foram desprezados, jogados fora, não porque seus pais pensaram que talvez isso fosse o melhor para eles, mas porque eles foram considerados quebrados, insuficientes, defeituosos, apenas porque não têm magia.

— Merlin... — Harry sussurrou triste, pois sabia muito bem como era se sentir assim, desprezado e insuficiente, não importa o quanto você se esforçasse. No seu caso, ele não tinha ideia de porque era desprezado por seus tios, então, quando descobriu o motivo, Harry não se importou, afinal ele amava ser um bruxo e ser desprezado por isso não o atingia. No entanto, essas crianças eram desprezadas por suas famílias porque não tinham magia e não havia como mudar isso, eles sempre estariam filhos sem magias para seus pais. O problema não eram as crianças, Harry refletiu, e sim o desprezo dos pais que vinha dos pensamentos puristas antigos e tolos.

— É muito triste, Harry. — Leda continuou suavemente. — No orfanato em que cresci, dava para sentir a raiva, a revolta, a solidão, mas no Orfanato dos Abortos, é possível sentir o desespero, a saudade, o medo, a tristeza, o auto ódio. Os mais velhos tentam ajudar os mais novos a se adaptarem e acreditarem que os trouxas não são animais como alguns deles foram ensinados a pensar a vida toda. A Sra. Madeleine é muito gentil e firme, ela está sempre falando sobre como eles devem estudar e se prepararem para viverem no mundo trouxa, e que eles serão felizes um dia, para não perderem a esperança, mas é possível ver como alguns deles estão sofrendo e apavorados.

— Vamos ajudá-los, Leda, tem que haver algo que possamos fazer por eles. — Harry disse pensativo. — Você viverá lá a partir de agora?

— Hum... não sei. Flitwick disse que é provisório, mas eu não me importaria de viver lá até a maioridade. — Leda deu de ombros. — Estar com pessoas que sabem quem eu sou, sobre magia e Hogwarts é legal, sabe. Acho que o verão será menos solitário e as meninas me fizeram um monte de perguntas sobre a escola, foi legal. — Ela sorriu divertida. — Elas estavam curiosos sobre você, Harry, e quase enlouqueceram quando lhes disse que o conhecia e éramos uma espécie de amigos!

— O que? — Harry arregalou os olhos.

— O pessoal do Orfanato acompanha as notícias do mundo mágico pelo Profeta e pela rádio bruxa, assim, nos últimos tempos, eles ouviram muito sobre você e o que tem feito. — Leda explicou. — Os mais velhos estão muito esperançosos de que conseguirão empregos nas Feiras ou nas suas fazendas, sabe, algo que não precise de magia. Eles dizem que seria incrível se pudessem trabalhar no mundo mágico ou, pelo menos manter algum contato com bruxos.

— É isso! — Harry disse sorridente. — Leda, você é brilhante!

— Hum? — Leda se mostrou confusa.

— Se o que eles temem é começarem uma vida profissional no mundo trouxa e estarem sozinhos, longe do nosso mundo, bem, podemos ajudá-los com isso. — Harry disse entusiasmado. — Temos muitos novos negócios em que eles podem trabalhar e poderiam até começar agora! Os mais velhos, quero dizer, eles podem estagiar ou trabalhar meio período ou fins de semana.

— Oh! Acho que os mais velhos gostariam disso, Harry, eu os ouvi falando sobre como é importante conseguirem uma colocação, pois quando fizerem 18 anos, eles têm que deixar o orfanato. — Leda disse suavemente. — Todos os orfanatos são assim, afinal.

Harry acenou pensando que se ele não fosse um bruxo, deixaria a casa dos Dursleys no minuto em que fizesse 18 anos e, para se manter, teria que ter um emprego. Antes de saber quem era de verdade, Harry nunca tinha imaginado esse futuro, pois sua mente ainda pensava, quase infantilmente, que alguém apareceria para salvá-lo, mas ele tinha que admitir que em mais alguns anos, construir um futuro bem longe do número 4 seria o mais importante em sua mente.

— Conversarei com o Sirius hoje e pedirei que entre em contato com o Orfanato. — Harry disse pensativo. — Se você for passar pelo menos o verão por lá, Leda, observe o que mais eles precisam e tentaremos ajudar.

— Ok! Posso fazer isso! — Ela disse animada por ter uma missão.

Julius também esperou, pois queria falar com o Harry sem mais ninguém presente no Covil.

— Ei, Julius, como foram as férias na sua casa? — Harry perguntou.

— Desagradável como sempre, Harry. — Julius deu de ombros. — Meu pai está furioso com as mudanças no Ministério e por ter que seguir todas essas novas regras, pois isso o impede de fazer os seus esquemas e lucrar. No entanto, ele disse que encontrou uma maneira de se desviar dos contratos mágicos impostos pela Bones e isso tem lhe rendido alguma grana.

— Ele disse como? — Harry perguntou preocupado.

— Não disse detalhes, mas tem algo a ver com o Malfoy, com certeza. — Julius disse. — Depois que se embebedou, pai falou várias vezes, "Malfoy é um gênio! " Ou "Malfoy está muito satisfeito! "

— Merda. — Harry disse. — Sei que o Malfoy está sendo investigado e seu pai pode acabar preso também, apenas espero que não demore muito.

— Hum... seria ótimo voltar para casa e encontrar só a minha avó. — Julius suspirou.

— Julius... — Harry hesitou, mas o olhar interessado do garoto o fez continuar. — Você sabe quando eu disse várias vezes que é importante pensarmos antes de agirmos? Que não podemos cometer erros tolos ou alguém pode acabar morto?

— Sim. Eu fiz algo errado? — O garoto perguntou perdido.

— Não, mas talvez você faça e quero lembrá-lo porque é importante manter a cabeça fria e não agir precipitadamente. — Harry disse muito sério.

— Não entendo. — Julius franziu o cenho.

— É algo que acho que você deve investigar, fazer perguntas, discretamente, sem colocar-se em risco. — Harry explicou e o garoto loiro acenou em acordo. — Você disse que sua mãe foi mordida quando você tinha poucas semanas de vida, certo?

— Sim. — Julius acenou enquanto seus olhos ficaram sombrios ao pensar em sua mãe. — Em nossa casa de campo, em Swindon.

— Sim, mas como o lobisomem entrou? — Harry perguntou em tom suave.

— Entrou? Não entendo. — Julius sentiu o estômago se embrulhar.

— Você entendeu sim. — Harry disse mais firme e Julius empalideceu. — Em conversei com Sirius sobre o que me contou e ele não entendeu como um lobisomem entrou em uma casa de campo com alas antigas que estão lá para impedir isso.

— Mas... você acha que é mentira? — Julius sussurrou horrorizado. — Minha avó... Eu não acreditaria em meu pai, mas minha avó confirmou tudo, até que minha mãe está morta.

— Sim, mas existem perguntas sem respostas, Julius. — Harry apertou seu ombro sentindo-se mais velho mesmo com a diferença de mais de um ano entre eles. — Você tinha acabado de nascer, o herdeiro do seu pai, assim, porque te enviar para longe? Porque não o exibir para todos?

— Meu pai disse que um bebê fazia muito barulho e incomodava seus convidados e suas festas. — Julius respondeu.

— Julius! Um feitiço resolveria isso! Sua mãe poderia lançar um feitiço em seu quarto que impedisse que você acordasse com o barulho ou que o seu choro incomodasse as festas! — Harry apontou e Julius arregalou os olhos. — Você nasceu em que mês?

— Hum... dezembro, em 01 de dezembro... — Julius respondeu automaticamente.

— Quer dizer que sua mãe e você foram para a casa de campo no norte da Inglaterra no meio do inverno, janeiro ou fevereiro, certo? — Julius voltou a acenar. — Isso tem coerência? Ir para uma casa de campo no inverno? Porque não esperar a primavera? Julius! Porque seu pai enviou você dois para a casa de campo?

— Eu... — Julius o encarou com um olhar chocado. — Eu não sei...

— A casa de campo é decrépita? Pobre? Com alas fracas? — Harry perguntou.

— Não! Os Yaxleys não têm muito ouro em Gringotes, mas nossa mansão em Londres e a casa de campo em Swindon é o orgulho do meu pai e dos meus avós. — Julius disse. — Antes de morrer, vovô vendeu uma mansão em Paris para poder termos dinheiro para conservar essas duas propriedades. Ele vinculou esse dinheiro a um espólio, que só pode ser usado para preservação, conservação e manutenção da mansão e da casa de campo. Papai fica furioso por não conseguir um knuts para suas festas ou luxos, mas acho que o vovô fez assim para que não acabássemos sem casa, além de pobres.

— Então, as alas devem ser fortes, bem conservadas... — Harry disse pensativo. — Como o lobisomem entrou? E justamente quando vocês dois estariam na casa? Julius, era inverno, certo? Se um lobisomem estivesse procurando alguém para matar, porque ir para um local que deveria estar vazio? — Julius ficou meio esverdeado com o raciocínio inteligente. — Eu pensei... talvez, as alas estevam fracas, talvez... ele se escondeu ainda como humano e se transformou quando já estava dentro da propriedade...

— Não! Não! — Julius segurou a cabeça com as duas mãos. — Ninguém passaria pelas alas sem permissão, humano ou não! E as alas não são fracas, elas são antigas e fortes! Um lobisomem ou bruxo comum precisaria ser autorizado ou convidado por minha mãe ou por... — Julius encarou o Harry horrorizado. — Ele! Harry! Ele fez isso!

— Porque? — Harry disse na mesma hora.

— O que!? Não importa o porquê! O que importa é que aquele monstro fez isso de propósito! — Julius estava cheio de ódio.

— Julius! Pense! É claro que importa o porquê! — Harry segurou o seu ombro e tentou acalmá-lo com chacoalho. — Sua mãe tinha acabado de lhe dar um filho! Um herdeiro! Mesmo que fosse um casamento de conveniência ou que ele a odiasse, porque seu pai iria querê-la morta? Ela era uma bruxa pura, fértil e provavelmente tinha qualidades, mas a questão que fica, não é essa. — Harry raciocinou. — Se estamos certos e o seu pai armou essa armadilha, se ele queria a sua mãe morta porque depois de lhe dar um herdeiro, ela não lhe interessava mais, talvez, quem sabe, ele quisesse se casar com outra mulher. Se este fosse o caso, porque ele enviou você para a morte também? Julius, porque seu pai iria querer matar o seu herdeiro? Um herdeiro masculino e com magia?

Mas Julius acenou, completamente perdido, pois não havia uma resposta.

— Eu... não entendo... — Ele apertou os punhos tentando pensar. — Talvez..., mas se ele me odiasse por algum motivo... — Julius olhou para o Harry. — Acredite, me odiar por qualquer motivo não me surpreenderia, porque com certeza o meu pai não me ama ou se importa comigo. Mas se ele me queria morto, porque não me matou depois? Eu tenho 14 anos! Durante todo esse tempo ou quando ele matou a minha mãe, porque não me matou também?

— Sirius especulou que sua mãe ser transformada em lobisomem atraiu muita atenção e seu desaparecimento logo depois foi comentado. — Harry disse. — Seu pai disse que ela fugiu, certo? — Julius acenou. — Então, ela voltou para te buscar, mas ele a pegou e a matou, escondendo o assassinato por trás da fuga dela. Sirius sugeriu que se você desaparecesse ou morresse, isso poderia chamar a atenção negativamente para ele, afinal Yaxley é um auror.

— Ok. Isso faz algum sentido, ainda que meu pai é tão arrogante que sinceramente não acredito que ele se preocuparia com isso. — Julius disse. — Ele poderia ter dito que eu fui levado por ela, se fazer de vítima, até encontrar um motivo falso para perseguir os lobisomens.

— Mas se ele matasse o seu herdeiro e alegasse que vocês dois estavam em fuga, mas vivos, Yaxley não poderia se casar e ter outro herdeiro. Poderia? — Harry perguntou.

— Casar sim. — Julius andou pelo Covil pensativo. — Ele teria que se divorciar dela, o que é algo muito fácil quando um dos cônjuges é mordido por um lobisomem. No entanto, qualquer filho que tivesse, não poderia ser o herdeiro a não ser que eu fosse declarado morto, mas para isso, ele teria que provar a minha morte. — Julius disse. — Então, ele não me matou porque isso causaria uma bagunça e aposto que foi a minha avó que o convenceu disso, o fez pensar nas consequências, mas isso não responde à questão principal. Porque ele tentou nos matar em primeiro lugar? — Julius o encarou com aquela febre que Harry conhecia bem. Era a necessidade de saber a verdade. — Minha mãe lutou como uma leoa para me defender, minha avó disse que ela matou o lobisomem e ficou muito ferida, quase morreu. Eu não tinha um arranhão, Harry e ela estava quase morta, mas conseguiu matar um lobisomem e, talvez, meu pai não esperava isso. Obviamente, ele acreditava que nós dois estaríamos mortos e pareceria um acidente, um assassinato sem crime e ele sairia apenas como o viúvo e pai em luto.

— Porque? — Harry franziu o cenho. — É possível que os seus avós ou outra pessoa deixaria o lobisomem...? — Mas Julius já acenava.

— Minha avó me adora, meu avô já tinha falecido e ninguém de fora da família poderia autorizar a entrada do lobisomem. Como fui estúpido! Eu acreditei no que eles me disseram! Nunca questionei ou percebi a verdade!

— Quando somos crianças... acho que queremos acreditar no que é menos horrível, porque ver a verdade é... difícil. — Harry disse suavemente. — Eu sei que você quer saber, Julius e entendo muito bem, mas você precisa ter cautela e agir com calma. Investigue sem pressa, com cuidado e, se acreditar que sua vida está em perigo, não hesite em fugir. Antes de lhe deixarmos a escola, vou lhe dar o endereço do lugar para onde você irá e como entrar em contato comigo. Certo?

— Ok, mas... eu nem sei por onde começar a investigar. — Julius parecia aflito ao passar as mãos pelos cabelos e os puxar. Lembrou a Harry dele mesmo, desesperado sobre o que fazer sobre a Sra. Lockhart e seu filho morto, mas pelo menos, ele poderia ajudar o Julius.

— Cartas e fotos. — Harry disse pensativamente ao andar pela sala. — Peça a sua avó, com leve indiferença, mas com certa ansiedade de saber mais sobre a sua mãe, se ela guardou algumas fotos e cartas da sua mãe. Se tivermos essa sorte, você saberá muito sobre ela, seus amigos ou colegas e o que estava acontecendo em sua vida naquela época, além de ter um filho, claro. — Harry pensou mais um pouco. — Qual o sobrenome da sua mãe?

— Lestrange. — Julius disse com uma careta. — Ela é prima em segundo grau dos irmãos Lestrange, que estão em Azkaban.

— Sobrou alguém da família? — Harry perguntou.

— Os pais dos irmãos Lestrange ainda estão vivos e eles tem uma neta, filha de Rabastan, mas minha avó me contou que ela é um aborto. — Julius explicou. — Vovó disse que Rabastan ficou viúvo muito cedo e teve apenas essa menina, Katherine, mas quando a Sra. Lestrange descobriu que a neta era um aborto, ela a contrabandeou para fora da Mansão Lestrange. Papai acrescentou que a menina, que tinha 4 anos na época, teria sido torturada e morta pela tia dela, Bellatrix, e que a velha foi torturada pelo cruciatus quando Bella descobriu.

— Bella Lestrange é esposa de Rodolfo e torturou a própria sogra? — Harry perguntou sentindo a boca amarga.

— Meu pai fala muito sobre essa tal Bellatrix, a admira e diz que não tinha ninguém em quem o Lord das Trevas confiava mais. — Julius disse. — Ela torturou os pais de Neville até a loucura e teria feito o mesmo com a Sra. Lestrange se não tivessem interferido. Vovó a conhece e disse que a Sra. Lestrange afirmou que valeu a pena ser torturada para poder salvar a neta.

— Seu pai bêbado parece uma fonte de informações interessantes, Julius. — Harry disse. — Sua avó pode saber a verdade também, mas não os subestime. Pergunte coisas inofensivas, consigas as cartas, escreva para a Sra. Lestrange e pergunte sobre como era a sua mãe na infância. Isso é algo inofensivo e normal que lhe desperte o interesse. Pergunte sobre os pais de sua mãe, como eles eram, finja ser um purista, diga que tudo o que sabe de sua mãe é depois de ser transformada em uma besta imunda. — Harry o orientou e Julius acenou. — Pense em cada informação, por mais sem sentido que seja, como peças de um quebra-cabeça, Julius, e, quando tivermos várias peças, montaremos um quadro e esse quadro nos levará a verdade ou o mais perto possível dela.

— E depois? — Julius perguntou engolindo em seco.

— Seu pai matou a sua mãe e isso não mudará quando soubermos porque ele tentou matar vocês dois naquela noite. — Harry disse — Talvez a verdade não seja tão importante...

— É importante! — Julius disse fervorosamente.

— Eu sei. — Harry entendia isso muito bem. — A verdade é sempre importante, mas não mudará o fato de que o seu pai tem que pagar pelo que fez. — Julius acenou em acordo. — Escreva para o pai do Terry, o Sr. Falc, e lhe pergunte se você pode testemunhar contra o seu pai quando ele for preso. Assim, além de ser condenado por seus esquemas, ele pagará por tê-la tirado de você. Eu conversarei com o Sirius, talvez ele tenha mais alguma peça para entendermos como e porque exatamente tudo isso aconteceu.

Julius acenou e eles se despediram, deixando o Covil por caminhos diferentes.

A reunião pelo espelho chamada estava marcada para aquela noite, mas além do Harry estar ocupado com a Equipe Covil, Sirius e Flitwick também estavam distraídos por suas missões. Claro, Sirius estava em um momento mágico, concentrado em dar prazer a mulher que amava e chegar a um entendimento de corpos e palavras.

— Você sabe que não a pressionarei e prometo que não a chamar mais de Emy. — Ele sussurrou sonolento ao deitar a cabeça sobre seus seios nus.

— Hum... — Satisfeita, com o coração transbordando de amor e feliz por admitir e sentir tudo isso, Emily acariciou seus cabelos negros encaracolados e respirou o seu perfume gostoso. — Acho que estou pronta para um pouco mais de pressão, você sabe.

— Verdade? — Sirius levantou os olhos para encará-la, mantendo seu queixo apoiado em seu peito. — Ótimo! Vamos correndo adotar uns cinco ou seis garotos!

Era claro o brilho de diversão em seus olhos e que era apenas uma brincadeira, mas Emily não pode deixar de sentir o coração se acelerar com a ideia, mesmo enquanto ria divertidamente. Sirius riu também e isso fez coisas divertidas com seus corpos, assim, por mais um tempo as palavras foram esquecidas enquanto eles mergulhavam um no outro.

Mais tarde, Emily é quem deitava-se com a cabeça sobre o seu peito, do lado esquerdo, e ouvia seu coração desacelerar lentamente. E foi ela quem procurou outra vez as palavras para o entendimento.

— Ela me chamava assim. — Seu sussurro fez o Sirius abrir os olhos, atento e silencioso, esperando que Emily continuasse. — Eu era sua Emy, sua garotinha Emy... Quase nunca saíamos do apartamento, mas as vezes, no verão, quando estava muito quente, ela me levava a um parque que tinha perto de onde morávamos. Minhas melhores lembranças com ela são de lá, quando brincávamos de correr e pegar ou quando ela me jogava para o alto e me agarrava. Havia um balanço em uma árvore e, se ele estivesse livre, ela me balançava com força e bem alto, e me dizia: "você é uma garotinha muito corajosa, minha Emy! " — Uma lágrima escorreu pelo canto do seu olho e pousou no peito do Sirius. — Eu era a sua Emy... Essa foi a última palavra que ela me disse: "Está tudo bem, querida. Volte para o seu quarto, tudo vai ficar bem. Mamãe te ama, Emy". — Sirius fechou os olhos, exasperado consigo mesmo por usar um apelido tão importante de maneira tão leviana.

— Desculpa...

— Não. — Ela o interrompeu com firmeza e apoiou o queixo em seu peito, o encarando nos olhos. — Não se desculpe, por favor. Eu estava sendo irracional, esperando que você entendesse sem saber e me enfurecendo quando, na verdade, em nenhum momento você me chamou de Emy de propósito para me provocar ou me desafiar. — Emily suspirou e o encarou sincera. — É um apelido carinhoso, que mostra o seu carinho por mim, mas...

— Te faz lembrar da sua mãe e o que lhe aconteceu. — Sirius terminou quando ela hesitou, mas Emily acenou negativamente.

— Não, esse não é o problema. Sabe, as vezes é difícil deixar algumas coisas no passado, nós nos apegamos bem forte e não queremos deixar ir. — De seus olhos castanhos whisky transbordaram duas lágrimas. — Eu queria que o apelido fosse algo só meu e dela, assim, eu a manteria comigo e seria sempre a sua garotinha Emy.

— Pode ser assim. — Sirius lhe assegurou.

— Não, não pode. — Ela acenou negativamente. — Ela se foi há muito tempo... quase 30 anos... — Emily pigarreou. — Eu cresci, nunca a esquecerei ou deixarei de amá-la, mas estou iniciando uma nova etapa da minha vida. Uma etapa que exige de mim que eu seja corajosa como nunca fui e onde o meu passado não deve ser uma barreira, uma ancora, uma desculpa para não ser feliz. — Ela o encarou olho no olho. — Eu mereço isso, viver essa nova vida com você e me tornar a sua Emy...

— Emy... — Sirius disse sem fôlego e a beijou com aquela dureza prazerosa e reivindicadora. — Minha Emy... você merece todo o amor do mundo... — Ele a virou de costas na cama e se colocou sobre ela, dentro dela. — Você merece toda a felicidade... você é tão forte, tão corajosa... tão linda... minha... minha... Emy...

Enquanto o mundo de Emily e Sirius se perdia em palavras e prazer, Serafina decidiu levar os filhos para um parque que ficava nas proximidades da mansão. Estar em Londres tinha muitas vantagens e manter Adam longe do bosque onde ele fora sequestrado por Greyback era uma delas, mas a mansão não tinha um jardim para as crianças brincarem, assim, em dias quentes e ensolarados como o daquele domingo, os parques, abundantes em Londres, eram as alternativas.

Sentada em seu cobertor, recostada contra uma árvore e com um livro de poesia em suas mãos, Serafina tentou se concentrar na leitura e ao mesmo tempo olhar para o seu filho, que corria pelo gramado do parque rindo e falando sem parar com Falc, que o perseguindo alegremente. Os dois pareciam felizes, mas Serafina sabia que o quadro não era real. Adam vinha tendo mais e mais pesadelos, estava resistindo a terapia e se recusando a ouvir quando eles diziam que o que acontecera com o filhote não era sua culpa.

Suspirando, Serafina voltou a olhar para o livro, mas as palavras das suas poesias favoritas pareciam sem sentido.

— Porque tivemos que vir ao parque mesmo? — A voz de Ayana soou, a distraindo. A garota estava deitada no cobertor, ouvindo música na rádio bruxa bem baixinho para não ser ouvida pelos trouxas. — Eu preferiria ouvir música mais alto no meu quarto, além disso, eu poderia estar lendo para a minha aula de Inglês de terça-feira.

Serafina olhou para sua filha que estava cada dia mais grande e bonita. Ayana faria 11 anos em setembro, mas era alta para a sua idade, além de muito responsável e madura. Os momentos de birra infantil finalmente ficaram para trás e, sempre boa aluna, Ayana se mostrava cada vez mais interessada nos estudos, levando Serafina a considerar que ela poderia ser uma Ravenclaw também. Depois do que Adam passara, Ayana se tornara muito protetora e carinhosa com o irmão, mostrando uma maturidade que não parecia combinar com a sua idade.

— Pensei que gostaria que um pouco de ar livre, tomar sol e brincar. — Serafina disse suavemente e olhou para o filho. Como poderia explicar para sua filha que ela queria que Adam se sentisse tão amado e tão cansado de brincar que assim ele não teria pesadelos naquela noite? Ou que ela adoraria ver sua filha de 10 anos correndo e brincando pelo parque porque ela não estava preparada para vê-la crescer?

— Por um acaso, isso não tem nada a ver com o fato de que Sirius e Denver estão trancados em seu quarto a horas? — Serafina perguntou com certa malícia.

Serafina lançou um olhar de aviso a sua filha, que vinha convivendo demais com Sirius e seu jeito brincalhão.

— Não, não tem não. — Ela respondeu mesmo que dar privacidade ao casal fora um dos motivos que a fez pensar em vir para o parque hoje. — Estamos no parque para aproveitar a tarde quente e ensolarada, além de passar um tempo em família.

— Porque eu não sou mais criança, sabe, você não precisa me tirar de casa para que eu não saiba que eles estão transando. — Ayana continuou como se não tivesse ouvido a mãe.

— Você não é mais criança? Ora... — Serafina agora usou um tom de aviso claro. — Acreditarei nisso quando não estiver sendo indiscreta, inconveniente e maliciosa sobre o que não é da sua conta. — Ayana mostrou certo constrangimento, mas deu de ombros. — Temos feitiços de silêncio, Ayana, não precisamos sair de casa por qualquer que seja o motivo além do que lhe falei e não quero ouvir você falando sobre a vida sexual de ninguém.

— Você sempre diz que não devo deixar de dizer o que penso e fazer perguntas. — Ayana a desafiou e Serafina suspirou. Porque? Porque sua filha tinha que entrar na adolescência tão cedo!? As birras infantis já estavam fazendo falta.

— Podemos falar sobre sexo, se você está curiosa Ayana, mas não fofocaremos sobre outras pessoas, principalmente apenas por curiosidade e malícia. — Serafina disse mais suavemente. — Você pode dizer o que pensa e fazer perguntas, mas lembre-se o que eu lhe ensinei sobre respeito, direitos, deveres e igualdade, filha.

— Todos temos direitos e deveres iguais, eu tenho o direito de ser respeitada, assim como tenho o dever de respeitar. Meus direitos terminam quando minhas ações estão desrespeitando o próximo e ferindo os seus direitos. — Ayana repetiu e se deitou de costas no coberto, observando o céu azul por entre as folhas verdes da árvore. Aquele era o dia mais quente daquele início de primavera e sair de casa até que não era tão ruim, apesar do som baixo. — "O seu direito termina, onde começa o dos outros".

— Sim. Respeito, moral, bom senso e caráter, além de respeito às leis, isso deve governar suas ações, não lhe calar, mas lhe dar voz e palavras que agreguem, construam e não machuquem ou desvalorizem. — Serafina acariciou os seus cabelos encaracolados como os dela. — A luta do nosso povo está apenas começando e você fará parte dela. Sua vida está apenas começando e você viverá muito, mas não tenha pressa de crescer, filha.

— Ok. — Ayana acenou gostando das palavras de sua mãe e das caricias em seus cabelos. — Mas o que isso tem a ver com o fato de que o Sirius e a Denver fizeram as pazes!?

— Ayana... — Serafina riu meio exasperada.

— Mãe! Eu não farei perguntas sobre sexo para eles. Deus me livre! — Ayana voltou a deitar de bruços e encarou a mãe com um grande sorriso divertido. — Estou falando com você que é tão legal que eles se entenderam! Sirius estava tão triste a semana toda e aposto que a Emily também ficou mal esses dias! Você acha que eles estão conversando? Ou já está tudo bem e agora eles estão apenas... você sabe.

Serafina riu divertida e observou seu marido se sentar ao seu lado e tomar um longo gole de água da garrafa.

— Merlin, que está quente. — Falc disse sem fôlego. — Ou eu estou ficando velho. Do que estão rindo?

— Ayana está curiosa para saber se Sirius e Emily estão conversando ou transando. — Serafina disse lançando um olhar malicioso para a filha que corou de mortificação por esse assunto, S E X O, ser discutido em frente ao seu pai.

— Eles estão trancados no quarto dele há umas duas horas, assim, se forem espertos e acredito que Sirius é muito esperto, os dois devem estar na segunda... não, terceira rodada agora. — Falc disse divertido e acompanhando o olhar da esposa, que parecia estar dando uma lição na filha deles. — Ayana, se você quiser podemos perguntar ao Sirius quando voltarmos e...

— Não! — Ayana se levantou absolutamente constrangida só de pensar que eles fariam isso mesmo, diriam ao Sirius e a Emily que ela queria saber se eles estavam transando. Merlin, ela morreria de vergonha! — Eu só estava brincando e... por falar nisso, vou brincar um pouco com o Adam.

Enquanto Ayana saia correndo, Serafina e Falc riam e se cumprimentavam batendo suas mãos direitas juntas por mais uma vitória dos pais.

Ayana encontrou o irmão a alguns metros de distância chutando uma bola de futebol com um outro menino, um pouco mais velho que ele, mas mais novo que ela. Ela se juntou a eles, se divertindo por um tempo e se esquecendo do momento constrangedor. Quando estava mais perto do escurecer, a mãe do garoto com a bola o chamou para irem embora e se aproximou para se despedir.

— Obrigada por brincarem com o meu Mike! Eu dei um mal jeito nas costas outro dia e não estava bem para jogar com ele. — A mulher de cabelos tingidos de loiro disse sorridente. — Eu não lhe disse, meu fofinho, que teria outras crianças para brincar no parque com você? — Ela apertou a bochecha do filho, que apesar de magro, tinha um rosto redondo e bochechudo.

— Mãe! Não me envergonhe! — O garoto de cabelos castanhos e montes de sardas no rosto, Mike, afastou sua mão e pegou a bola, corando de vergonha. — Até mais, pessoal.

— Tchau! — Ayana acenou e Adam se aproximou para cumprimentá-lo.

— Até outro dia, cara. — Ele disse ao cumprimentá-lo daquele jeito estranho que os meninos fazem, com movimentos ensaiados das mãos.

— Oh! Mas você é tão lindo! — A mãe de Mike disse ao apertar a bochecha de Adam, que tinha bem menos carne para pegar. — Parece um anjinho!

— Mãe! — Mike exclamou ainda mais corado e a puxou para longe.

— O que? Eu não disse nada demais... — Eles começaram a se afastar saindo do parque. — Ele parece um anjo com aqueles cachos...

Ayana sorriu ao ver o garoto envergonhado, sentindo-se melhor sobre si mesma por ter ficado constrangida mais cedo com seus pais. Adam e Ayana voltaram para os pais, que estavam arrumando e guardando as coisas que trouxeram em uma cesta. Adam franzia o rosto, pensativo e, antes de chegarem a Serafina e Falc, ele parou e olhou para a irmã.

— Porque ela disse aquilo? — Adam perguntou confuso.

— O que? — Ayana também parou de andar.

— Que eu pareço um anjo. Eu não sou um anjo, porque ela disse isso? — Adam parecia incomodado, o que confundiu Ayana, que tentou alegrá-lo.

— Porque causa dos seus cachos, bobo! — Ela passou a mão pelos seus cabelos e os bagunçou em um cafuné carinhoso. — Esses cachos lindos fazem você parecer um anjinho!

— Mas eu não sou! — Adam exclamou zangado e se afastou do toque da irmã. — Não quero que me chame assim, porque eu não sou nenhum anjinho!

— Adam... o que... — Mas o irmão já tinha se distanciado e continuou calado durando a caminhada de volta para casa.

Serafina e Falc perceberam o humor sombrio do filho e olharam para Ayana em busca de uma explicação, mas ela deu de ombros confusa, pois não entendera nada.

Ao chegarem a Mansão Boot, Serafina os enviou para tomar banho antes do jantar e foi fazer o mesmo, com Falc.

— Vamos economizar água? — Ele perguntou com a sobrancelha erguida em diversão enquanto se despia no banheiro.

— Claro, além disso, pensar em Sirius e Emily se divertindo em uma terceira rodada me encheu de tesão. — Serafina, também nua, o empurrou pelo peito para debaixo da ducha fria. — E a culpa é sua, assim, cuide disso.

— Com prazer... — Sussurrou Falc antes de beijá-la.

Depois do seu banho, Ayana decidiu ir procurar o Adam e saber porque ele ficou tão mal-humorado mais cedo. Ele não estava no quarto, assim, ela bateu na porta do banheiro.

— O que? — A voz dele saiu impaciente.

— Você ainda não terminou? — Ela perguntou surpresa. — Eu sempre demoro mais no banho por causa do meu cabelo... Escuta, você está decente? Queria saber porque ficou tão irritado...

— Estou ocupado, Ayana. Cai fora! — Ele respondeu bruscamente e Ayana ficou muito surpresa, pois Adam nunca falava assim com ninguém.

— Adam? — Ela abriu a porta lentamente e ficou paralisada de choque pelo que viu.

Adam estava em pé sobre um banco e de frente ao espelho sobre a pia. Concentrado, ele nem percebeu a porta se abrir e continuou a cortar os seus cachos com uma tesoura comprida e afiada. A parte da frente estava completamente tosada e, agora, ele se esforçava para cortar nas laterais e na parte de trás, mas sem habilidade ou uma visão clara, Adam tinha cortado o couro cabeludo com a ponta da tesoura em alguns pontos. Da sua orelha esquerda também escorria um filete de sangue que chegava até o pescoço. Ayana abriu a boca, mas nenhum som saiu enquanto observava um filete de sangue mais abundante escorrer por sua nuca e costas até chegar a toalha branca amarrada em volta da cintura.

— Ai... — O gemido de Adam a despertou e Ayana percebeu que ele tinha se ferido em outro ponto.

— Adam! — Ela sussurrou e o segurou quando ele se assustou e quase caiu do banco. — Pare com isso! Me dá a tesoura!

Ayana tentou manter a voz calma, apesar de sentir o estômago embrulhado e o coração acelerado.

— Não! Vá embora! — Adam se desvencilhou e desceu do banco sem soltar a tesoura.

— Você vai se machucar! Solta essa tesoura! — Ela gritou agora tentando alcançá-lo.

— Não! Você não vai me impedir! VÁ EMBORA! — Adam berrou e, de repente Ayana se viu magicamente empurrada para fora do banheiro e a porta se fechou violentamente.

— NÃO! — Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. — ADAM! — Ela bateu na porta com força e o som reverberou pela mansão. — MAMÃE! PAPAI! — Seus berros e socos na porta de puro pânico não abriram a porta, mas alcançaram os adultos.

Sirius e Emily, vestidos, estavam descendo as escadas em busca de comida, pois estavam famintos.

— O que é isso? — Emily parou no meio das escadas ao som das batidas e berros.

— Ayana e Adam... — Sirius disse e correu na direção do quarto do menino.

Enquanto isso, Serafina e Falc, não vestidos, estavam se arrumando sem pressa. Ela passava um hidrante pelo corpo e Falc a ajudava a secar os cabelos grossos e úmidos como fazia há anos. O gritos e pancadas os assustaram e, trocando olhares confusos, eles começaram a se vestir rapidamente.

Sirius e Emily chegaram primeiro e encontraram uma histérica Ayana socando a porta como se quisesse levá-la abaixo.

— ADAM! ADAM! ABRA A PORTA! MÃEEE!

— Ayana, o que está acontecendo? — Sirius a segurou pelos ombros, mas ela se agitava e batia na porta sem parar.

— Sirius! O Adam está se machucando! ADAM! — Ayana voltou a berrar o irmão enquanto Emily se adiantou rápida como uma gata e abriu a porta com um aceno de varinha.

Adam estava sobre o banco outra vez e tentava tirar todos os cachos e tufos de cabelos negros restantes da cabeça mais rapidamente, pois sabia que seria detido em breve. Sua pressa o fazia menos cuidadoso e os pequenos cortes em sua cabeça tinham se multiplicado, suas costas estavam cheias de filetes de sangue escorrido, alguns mais secos que outros e a toalha branca em volta da sua cintura estava mais avermelhada a cada segundo.

— Adam! — Sirius exclamou chocado, mas Emily ergueu a mão para detê-lo e caminhou até o garoto, se colocou ao seu lado, se abaixou na altura dos olhos e o encarou pelo espelho.

— Você não vai me impedir! — Adam disse determinado e cortou mais um tufo de cabelo que se juntou aos outros tantos no chão do banheiro.

— Essa não é a minha intenção, até porque, você está quase terminando. — Emily disse calmamente. — Mas você vez uma tremenda bagunça, garoto...

Serafina e Falc apareceram neste momento e empalideceram ao ver o filho naquele cenário de horror.

— Adam! — Serafina saltou para frente para alcançá-lo enquanto o menino continuou a cortar o cabelo sem nem piscar com o seu grito de desespero.

Emily ergueu a mão outra vez e lançou um olhar que paralisou Serafina antes que ela alcançasse a porta do banheiro. Sirius ainda abraçava Ayana, que chorava baixinho e Falc se moveu mais lentamente, como se tentasse não assustar o filho.

— Adam... filho, solte a tesoura, por favor. — Ele disse suavemente.

— Não, preciso tirar os cachos. — Adam respondeu automaticamente e seu olhar mostrava um certo estado de choque emocional e, talvez também pela perda de sangue.

— Você já tirou os cachos... — Emily disse casualmente. — Tem alguns aqui atrás, mas posso cortar para você, se quiser.

— Não, você vai me impedir de terminar. — Adam disse zangado.

— Não vou, já lhe disse que isso seria perda de tempo e não gosto de perder o meu tempo. — Emily disse ainda o encarando nos olhos pelo espelho, mas Adam não fez contato visual ou parou de mover a tesoura.

— Ai... — Ele disse quando se machucou outra vez e Ayana soluçou mais alto.

— Para, Adam! — Ela gritou confusa e desesperada.

— Não! Tenho que tirar os cachos! — Ele gritou de volta, mas continuou onde estava, cortando os tufos escuros e parecendo meio em transe, assim, Emily mudou de estratégia.

— Ok. Agora eu fiquei curiosa, porque você quer tanto tirar todos os cachos? — Ela disse mantendo a posição e esperando um sinal de que Adam poderia deixá-la entrar.

— Porque eu pareço um anjo com eles, mas eu não sou um anjo! — Adam respondeu sem parar de mover a tesoura.

— Ok. Isso é justo, mas porque a urgência? Se pedisse a sua mãe, ela o levaria para cortar os cachos e haveria menos bagunça, garoto. — Emily disse ainda casualmente.

— Ela não deixaria, porque mamãe gosta dos meus cachos, todo mundo gosta. — Adam respondeu e mordeu a língua quando cortou mais lentamente um tufo bem curto de cabelo.

— Mas você não gosta... — Emily o incentivou a continuar.

— Eu não quero parecer um anjo, a moça do parque disse que eu pareço um anjinho e o homem mal me chamava assim, "meu anjinho", ele dizia. — Adam falou e Serafina se engasgou com a nova informação. — Eu não sou dele! E não sou um anjinho! Assim, tenho que tirar os cachos!

O silêncio na sala se manteve enquanto Serafina escondia o rosto no peito de Falc e começava a chorar também. Sirius apertou Ayana com mais força, sem palavras e esperou que Emily conseguisse ajudar o menino.

— Você está totalmente certo. — Emily disse em tom de aprovação. — Você não é dele, Adam, e também não é um anjo.

— Eu vou tirar os cachos e eles não vão crescer de novo porque vou cortar bem curto. — Adam disse. — Aí, o homem mau não vai me pegar de novo.

— Você acha que ele te pegou por causa dos cachos, Adam? — Emily perguntou curiosa.

— Sim, ele queria um anjinho e, quando me viu, o homem mal me levou embora porque eu pareço um anjo com os cachos. — Adam disse ainda sem olhar para Emily, ou qualquer um, pois estava concentrado em cortar mais um tufo.

— Seus pais não explicaram que Greyback queria se vingar do Sirius e que, por isso, ele te sequestrou? — Emily se mostrou surpresa. — E, o Harry não lhe contou que Greyback estava morto e que não o machucaria mais?

Adam apenas deu de ombros, pois apesar das explicações, seu medo fazia mais sentido e era mais real.

— O homem mal disse que não me deixaria ir, porque gostou de mim. Ele disse que depois de matar o Sirius, nós dois iriamos para a casa dele e nos divertiríamos muito, que ele nunca me deixaria ir. — Adam disse e dava para ver o medo rastejando por sua voz que arrepiou a todos. — E o Harry pode ter se enganado, o homem mal ainda pode estar vivo, mas se eu não parecer um anjinho, ele não vai querer me levar.

— Você está certo. — Emily disse para espanto dos outros. — Greyback não te levou por causa do Sirius, mas também não foi por causa dos seus cachos, que te faziam parecer um anjo.

— Hum? — Adam mostrou interesse e seus olhos piscaram, por um segundo, Emily achou que ele a encararia nos olhos e sairia do seu estado compulsivo, mas isso não aconteceu.

— Quer saber porque ele te levou? — Emily perguntou rapidamente tentando manter o seu interesse.

— Porque? — Sua voz saiu angustiada, como se isso fosse muito importante de saber.

— Porque ele era um monstro, Adam. — Emily disse sincera. — Ele queria se vingar do Sirius, mas o que fez ele te escolher e te sequestrar foi algo mal que havia dentro dele e não em você.

Adam parou de cortar o cabelo pensativo, mas continuou olhando para as próprias mãos.

— Não entendo. — Ele disse confuso.

— Greyback era mal, por isso você o chama assim, porque você sentiu o monstro que havia dentro dele. E, Adam, homens maus fazem coisas assim, machucam pessoas e isso não é culpa delas. — Emily tentou explicar, mas Adam parecia não captar completamente o conceito do que ela dizia, então... — Um homem mal me levou embora quando eu era criança também... — Finalmente, suas palavras despertaram Adam do seu choque e seus olhos castanhos escuros se encontraram com os de Emily pelo espelho.

— Um homem mal levou você? — Ele perguntou baixinho como se fosse um segredo, mas todos ouviram por causa da acústica do banheiro.

— Sim. — Emily engoliu em seco. — Ele era um monstro como o Greyback e me levou da minha mãe... Ele matou ela e me entregou para outro monstro.

— Porque? — Adam tinha os olhos arregalados de espanto. — O que você fez para ele te levar?

— Nada. — Ela disse com firmeza. — Não foi minha culpa, Adam, eu não fiz nada, apenas, o mostro que me levou queria dinheiro e me vendeu para o outro monstro. Minha mãe lutou para me defender, ela usou todas as suas forças, mas ele era mais forte e a matou. — Adam se virou do espelho e a encarou de frente, seus olhos cheios de tristeza e lágrimas. A tesoura estava para baixo, meio esquecida em sua mão.

— Sinto muito por sua mamãe. — Ele fungou e Emily suspirou com os olhos cheios de lágrimas também.

— Obrigada, eu sinto muita falta dela... Sabe, eu me culpei por um tempo também, achei que se tivesse sido mais esperta, se tivesse lutado ou usado a minha magia, eu poderia tê-la salvo, mas... — Ela acenou negativamente. — Eu era ainda mais jovem que você e o homem mal era muito forte, então... ele me vendeu para outro homem mal, que me machucou e que me prendeu em uma jaula... — Emily hesitou em falar das outras crianças, mas talvez ele precisasse saber. — Esse lugar tinha mais jaulas e mais crianças presas como animais e que tinham sido machucadas também, mas não era culpa delas, Adam. Algumas tinham cachos, outras não. Alguns eram meninos, outras meninas. Alguns era bem pequenos ou loiros e outros eram mais velhos ou morenos. Não eram eles o problema, Adam, a culpa era do...

— Monstro. — Adam acenou entendendo e a tesoura abaixou ainda mais. — Alguém veio te buscar também e te salvou do homem mal?

— Não havia ninguém para nos salvar, quem me ajudou foi a Rox. — Emily disse.

— Rox? — Ele se mostrou surpreso.

— Meu espirito irmã. — Ela contou e sorriu orgulhosa. — Uma leoa da montanha enorme apareceu e me confortou, me deu forças e coragem. Eu estava com tanto medo e solitária, mas com Rox, eu não me senti mais assim.

— Como Galon! — Adam exclamou espantado. — Eu tive medo que o homem mal o machucasse, mas ele não podia vê-lo e o Galon ficou ao meu lado o tempo todo! Ele me manteve quente e disse para que eu não tivesse medo que o lobo me levaria para casa.

— Rox me disse que ninguém viria e que eu deveria abrir a minha jaula e as dos outros filhotes. — Emily suspirou. — Eu não sabia que era uma bruxa, não queria acreditar, mas Rox me disse que eu era filha da magia e que se acreditasse, me salvaria e as outras crianças. Ela me deu fé e esperança, então, eu abri a jaula, soltei as outras crianças e fugimos, mas antes... — Emily o encarou com firmeza. — Antes de partir, algumas crianças e eu matamos o monstro que tinha nos tirado de nossas famílias. Assim como eu matei o Greyback naquela noite em que resgatamos você.

— Você... o matou mesmo? — Adam arregalou os olhos assombrado.

— Sim, bem, na verdade, foi a Rox que o matou. — Emily disse e casualmente acrescentou. — Você quer conhecê-la?

— Posso? — Adam perguntou entusiasmado.

— Sim, mas você deve soltar a tesoura, ela ficará tensa de conhecer um garoto armado, sabe. — Emily disse em tom conspiratório.

— Oh... — Adam olhou para a mão direita, estranhando o peso da tesoura e a soltou na pia repleta de cachos escuros. — Ok.

Emily pode sentir o ambiente ficar mais leve quando Adam soltou a tesoura e que Rox estava ansiosa por conhecer o filhote, assim, ela se agachou e a deixou assumir.

Rox sentiu o cheiro de sangue e medo no pequeno espaço, enquanto Adam arregalou os olhos em encantamento ao ver a linda leoa da montanha. Ela olhou para o filhote que estava sofrendo e ferido, sabendo que sua irmã e ela tinham matado a fera que tinha lhe roubado da sua família. Levantando-se nas patas traseiras, Rox alcançou o seu rosto e o lambeu, depois o seu pescoço sujo de sangue e pelos, que não incomodaram. Maternalmente, Rox limpou e cuidou de Adam, que a abraçou e se deixou acarinhar.

— Oi, Rox... — Ele sussurrou e a leoa ronronou. — Eu sou o Adam. — Ela lhe deu outra lambida longa no rosto em resposta. — Emily disse que você matou o homem mal... — Rox rosnou e se afastou para olhá-lo nos olhos. — Você o matou mesmo? — Andam perguntou ansioso e Rox acenou rosnando e abrindo a boca com seus dentes enormes e assustadores, mas o menino apenas a abraçou com força. — Obrigado, Rox.

A leoa voltou a ronronar e lamber seu rosto antes de voltar a ser Emily, que apertou o Adam com força.

— Emily! — Ele se afastou sorrindo. — Rox é incrível!

— Sim, ela é e você também. — Emily disse sincera. — Adam, você foi muito corajoso e esperto em ouvir o seu irmão espiritual. Galon deve estar orgulhoso de você.

— Ele teve que ir embora, disse que nós nos veremos outra vez quando eu estiver pronto. — Adam pareceu cabisbaixo. — Mas, e se eu nunca estiver pronto?

— Você estará, mas não deve ter pressa. — Emily acariciou sua cabeça cheia de tufos espetados. — Galon e Rox apareceram porque precisávamos deles e partiram quando voltamos a estar seguros. Você está seguro, Adam e não está mais sozinho, sua família está aqui, te protegendo.

Adam acenou e olhou para os pais de soslaio, pois estava com a impressão que levaria uma bronca daquelas por cortar os seus cachos.

— Porque ele me levou, Emily? — Adam perguntou sentindo que havia algo aí, uma resposta que precisava saber.

Emily entendeu, claro e, observando Serafina e Falc, percebeu que eles não tinham contando ao Adam a verdade. Algo razoável de se fazer com uma criança tão pequena, traumatizada e que estava tendo pesadelos.

— Você entendeu quando eu lhe disse que você não fez nada específico, seja em um gesto, uma palavra ou na sua aparência que resultou em seu sequestro? — Adam acenou concordando. — Entendeu quando eu lhe disse que existem todos os tipos de monstros lá fora? — Ele acenou mais hesitante e Emily temeu assustá-lo. — A maior parte das pessoas, sejam bruxos ou não, são boas, Adam, o número de pessoas más são infinitamente menores. Entende? — Adam acenou mais confiante. — Esses monstros que existem, eles são alimentados por todos os tipos de coisas, alguns gostam de roubar ou de matar, alguns de... — Ela parou, pois, o conceito de estupro era impossível de explicar para alguém tão jovem. — De machucar meninos e meninas, alguns gostam de torturar, causar medo e dor. Você entende? — Adam acenou de olhos arregalados.

— O que o homem mal gostava? — Ele perguntou baixinho.

Emily olhou para Serafina e Falc que acenaram, autorizando que ela dissesse a verdade.

— Greyback era um canibal, Adam. — Ela disse suavemente e Ayana ofegou assustada enquanto o irmão franzia o rosto confuso. — Quer dizer que ele gostava de comer seres humanos, crianças principalmente.

— Oh... — Adam abriu a boca para falar, mas depois a fechou e absorveu essa informação, ajustando-a a tudo o que tinha acontecido naquelas longas horas em que ele esteve com o homem mal. — Então... O homem mal queria... — Emily acenou esperando para ver a sua reação. — Ele também comia filhotinhos?

— Sim. — Emily confirmou.

— Então... não foi minha culpa... — Adam sussurrou pensativamente e olhou para a mãe. — Mamãe, não foi minha culpa que ele comeu o filhotinho.

— Não querido, não foi. — Serafina disse com a voz embargada por Adam aceitar algo que eles vinham repetindo a dias.

— O que fez você acreditar que era sua culpa, Adam? — Emily perguntou suavemente e o menino deu de ombros. Ele ainda não tinha conseguido falar sobre isso com seus pais ou com a psicóloga boazinha.

— Eu disse ao homem mal que estava com fome. — Adam disse e fungou quando lágrimas escorreram por seu rosto. — Eu comecei a chorar e o homem mal queria saber porque, então eu disse que queria ir para casa e que estava com fome. — Ele engoliu em seco e manteve os olhos baixos. — Ele disse que eu não podia ir para casa, mas que ele tinha guardado um lanche para nós, então... — Sua voz se embargou. — O homem mal pegou o filhotinho e o comeu... Ele ofereceu para mim também, mas eu disse que não! Porque eu não sou mal!

Adam ergueu a cabeça no fim e enxugou as lágrimas tentando ser corajoso.

— Você fez muito bem e está certo em dizer que não foi sua culpa. — Emily disse firme e sem desviar o olhar. — Nada do que você fez causou isso, Greyback era o monstro e comeria o filhotinho de qualquer maneira. Entende?

Adam acenou e fungou parecendo cansado.

— Entendo agora. — Ele disse. — Estou cansado dos pesadelos, Emily, você pode fazer eles irem embora?

— Não, eu não. — Ela respondeu sincera. — O que você sente nesses pesadelos?

— Medo, muito medo. — Adam disse baixinho. — Então, eu acordo e fico com muita raiva por ser tão covarde!

— Ora, mas quem disse que sentir medo é covardia? — Emily disse surpresa e Adam voltou a dar de ombros. — Eu sinto medo também, principalmente de perder as pessoas que eu amo.

— Como você perdeu a sua mamãe? — Adam disse gentilmente.

— Sim... — Sua voz se perdeu e seus olhos se encheram de lágrimas quando ela olhou para o Sirius. — Mas desde que você não deixe o medo te impedir de ter o que você quer, desde que você lute com coragem e inteligência, você não será um covarde. Você está lutando, Adam?

— Sim, acho que sim. Harry disse que eu tenho que encontrar em mim as respostas e seguir em frente. Eu estou tentando... — Adam disse pensativo. — Mas as vezes me sinto muito zangado! Porque ele me levou? Eu não queria! Ele não tinha o direito de me tirar da minha mamãe! Eu gritei por ela e disse que queria voltar para casa, mas o homem mal não me escutou!

— Sinto muito por isso. — Emily disse suavemente. — Não foi justo o que lhe aconteceu, mas você preferiria que ele tivesse levado a Ayana? — Era algo duro de dizer para alguém tão jovem, mas Emily achava que ele tinha que entender o quadro todo.

— Ayana? — Adam ficou muito pálido e acenou negativamente. — Não, a Ayana não.

— Bem, mas havia duas crianças no Chalé, certo? Greyback estava espiando, ele deve ter visto a Ayana no jardim também e poderia tê-la sequestrado...

— Porque ele não fez? — Ayana perguntou furiosa. — Porque ele não me levou? Seria melhor...

— Não! Não seria! — Adam respondeu zangado. — Ele era um homem muito mal, Ayana, você não deve nunca chegar perto de alguém tão mal.

— Nem você, Adam. — Ayana disse com lágrimas transbordando dos seus olhos castanhos. — Nem você...

— Acho que o monstro em Greyback gostava de crianças mais jovens. — Emily disse. — Existem monstros que escolheriam meninas para machucar, mas Greyback queria outro tipo de "diversão". — Ela tentou explicar de maneira que eles entendiam, mas sem falar de coisas que crianças tão jovens ainda não deveriam saber.

— Como sei que outro monstro não virá me pegar? Ou a Ayana? — Adam disse ansioso.

— Você não sabe. — Emily disse sincera. — Você tem que confiar nos seus pais, estar atento, ser cuidadoso com estranhos, mas não pode deixar de viver porque tem medo de que algo ruim aconteça. — Adam acenou, mas seus ombros pareciam um pouco para baixo, pois nada disso afastaria o medo e sentir medo era muito cansativo. — Tem outra coisa que você pode fazer. — Ele levantou os olhos curioso.

— O que?

— Estar preparado para se defender se algum dia um monstro tentar te machucar. — Emily disse muito séria.

— Preparado? Como? — Adam se mostrou empolgado com a ideia.

— Quando estiver mais velho, você aprenderá magia com a sua varinha, mas desde já, você pode aprender a lutar e se defender fisicamente. — Emily explicou. — Eu sou fisicamente mais fraca que muito homens, mas não deixo nenhum deles tocar em mim e, se tentarem, eu os deixo encolhidos no chão e chorando de dor. Entende?

— Oh! — Adam arregalou os olhos. — Eu gostaria disso! Eu quero aprender a lutar, assim posso bater nos monstros que tentarem me machucar e, se algum monstro tentar machucar a Ayana, eu bato nele também!

— Eu quero aprender a bater nos monstros também! — Ayana disse dando um passo à frente. — Assim posso me defender sozinha e ajudar o Adam se ele precisar.

— Essa é uma boa ideia. — Emily disse aprovadora. — Acho que quando vocês aprenderem a se defender, sentirão menos medo e, talvez, os pesadelos diminuam, Adam. — Ela olhou para o menino que sorriu animado com a ideia. — Mas agora, acho que você deveria deixar a sua mãe lhe dar um banho quente, cuidar desses cortes que você fez com a tesoura, talvez terminar de cortar esses tufos de cabelos para que você não fique parecendo um porco espinho. — Adam levou a mão a cabeça e franziu o cenho ao se lembrar do que fizera. — Depois podemos conversar sobre quando começar o seu treinamento.

— Ok. — Adam disse suspirando e a deixou ajudá-lo a descer do banco.

Emily saiu do banheiro e Serafina tomou o seu lugar, acariciando o rosto e os tufos de cabelos de Adam com carinho, ao mesmo tempo em que tentava controlar a vontade de chorar.

— Desculpa cortar os cachos, mamãe. — Adam disse, acreditando que era por isso que ela parecia triste.

— Está tudo bem, eu não me importo com os cachos. — Ela sussurrou amorosamente. — Você é muito mais importante e se não quer cachos, tudo bem, Adam. Agora, vamos tomar um banho para tirar os cabelos e, então a mamãe... — Serafina fechou a porta gentilmente e todos no quarto ficaram paralisados em silêncio ouvindo apenas os murmúrios da conversa entre os dois e o barulho do chuveiro.

Era como se eles tivessem passado por uma tempestade e as pernas ainda estivessem bambas, o estômago meio embrulhado e os pensamentos confusos. No fim, Falc se moveu primeiro e se aproximou de Emily, colocou uma mão em seu ombro fraternalmente e apertou.

— Obrigado... — Ele disse emocionado. — Por ajudá-lo e... sinto muito, por sua mãe e pelo que passou. Você foi incrivelmente corajosa em se abrir para ajudar o meu garoto.

Emily ficou bem sem graça, mal sabia o que responder, mas não foi preciso, porque Ayana a abraçou pela cintura e a apertou com força.

— Sinto muito, Emily. — Então a menina se afastou e a encarou nos olhos. — Um homem mal matou os pais do Harry também e ele não tinha família quando o conhecemos, sabe. Então, nós o tornamos o nosso irmão, assim ele não ficaria mais sozinho. Se você quiser, também seremos sua família, assim você sempre terá alguém para cuidar de você.

— Ah... — Emily se engasgou emocionada e sem palavras.

— Você quer ser minha irmã? Eu não tenho nenhuma. — Ayana perguntou ansiosa.

— Eu adoraria ser parte da sua família, é uma grande honra, muito obrigada, Ayana. — Emily disse com a voz embargada. — Mas acho que posso ser uma espécie de tia ou algo assim, sou muito velha para ser sua irmã.

— Oh... ok, então. — Ayana concordou mesmo que achasse que ter uma irmã era bem mais legal do que ter outra tia. — Obrigada por ajudar o Adam, eu não sabia o que fazer.

— Você também tem sido muito corajosa, Ayana, em ajudar e apoiar o seu irmão enquanto ele enfrenta tudo isso. Você é uma irmã incrível. — Emily elogiou e beijou a testa de Ayana, que sorriu orgulhosa pelo elogio. — Preciso ir agora. Com licença.

Emily deixou o quarto rapidamente e Sirius se apressou em segui-la, mas só a alcançou na porta de entrada.

— Emy... por favor, não se afaste de mim outra vez. — Ele pediu com o coração acelerado.

— Eu não vou... — Emily se manteve de costas, tentando manter o corpo reto, pois não queria desmoronar, não aqui, não com tantas pessoas em volta. A verdade é que ela esteve sozinha por muito tempo e quando precisava lamber as feridas que se abriram, ainda preferia estar sozinha. — Eu prometo. Eu... só preciso de um tempo. Ok?

Sirius se aproximou por trás e se recostou em seu corpo, bem de leve, sem segurá-la ou prendê-la, mas respirando o seu cheiro em sua nuca, recostando seu peito em suas costas.

— Ok. Lembre-se que eu estou sempre aqui, Emily. Volte logo.

Emily acenou e com mais dificuldade do que esperava, ela saiu da mansão e aparatou em seu apartamento. As feridas abertas e dolorosas, expostas cruamente a fizeram tombar e explodir em um choro convulsivo. Ela desmoronou, gritou a sua dor e raiva, mas em meio a escuridão e solidão do choro, Emily sentiu o cheiro de Sirius em seu corpo. Lembrou-se do seu gosto, do seu toque, da sua voz e de como não se sentia sozinha quando estava com ele.

Então ela se lembrou do Harry, com aqueles olhos verdes brilhantes e sérios, que carregavam tantas tristezas, responsabilidades e bondade. E, ela se lembrou de Adam, tão corajoso e forte, um pequeno guerreiro que mostrava mais perseverança do que deveria ser possível. E Emily não podia se esquecer de Ayana, tão doce e decente, disposta a aceitar em seu coração estranhos feridos e lutar por eles, como se fossem seu próprio sangue. E todos os Boots eram uma família tão verdadeira, não perfeita ou sem problemas, pelo contrário, mas ainda tão forte e real.

Como era possível? Depois de tanto tempo sozinha, ela receber esse presente? Um homem que a amava e uma família? Mas como podia deixar o medo ser mais forte do que a esperança? Do que o amor que eles lhe ofereciam? Ela poderia fazer isso? Mergulhar não apenas em uma relação com o Sirius, mas também ser parte dessa família incrível?

Enquanto os Boots, Sirius e Denver viviam um domingo inesperadamente tempestuoso, Flitwick enfrentava uma tempestade bem real.

O vento cortante e frio dificultava a caminhada pela trilha íngreme e faziam as ondas baterem assustadoramente altas contra as pedras do monte escarpado.

— Cornualha... — Flitwick resmungou. — Um maldito chalé no litoral da Cornualha... Claro que ele viveria no lugar mais inacessível que o inferno... — Uma onda gigantesca bateu nas pedras e alcançou a trilha na beira do penhasco onde Flitwick estava e ele teve que usar um pouco de magia para não ser arrastado para o mar revolto. — Um lugar que só se chega a pé... não é para menos que o taberneiro me olhou como se eu fosse louco... — O professor continuou a resmungar exasperado e ofegante enquanto subia a trilha.

Flitwick, quase arrependido de ir procurar Aaron Mason, o escritor, para conseguir informações sobre os rituais animagus, teve que aparatar em St. Juan, o pequeno vilarejo no Condado da Cornualha e perguntar onde ficava o Chalé Rockcraggy, afinal, como nunca esteve no local, ele não podia simplesmente aparatar. O dono da taberna da minúscula aldeia, o encarou estranhamente e com certa pena, como se Flitwick estivesse pedindo indicações para a sua morte. No entanto, ele desenhou um mapa bem preciso e, depois de uma cerveja quente, o professor decidiu ir enfrentar a tempestade e visitar o seu antigo aluno.

Agora, Flitwick refletia que ele deveria ter agendado um encontro em outro local em sua carta e não apenas avisado de sua visita. Ou deixado esse encontro para outro momento, não quando estava tão cansado da viagem a Romênia, considerou. Mas a verdade é que o assunto era importante e urgente, se não para a guerra futura, pelo menos para os lobisomens da Matilha dos Lobos Guardiões. Além disso, naquela mesma noite, haveria uma reunião por espelho chamada entre a Equipe e Flitwick queria ter algumas informações a compartilhar com todos.

Finalmente, muito molhado, cansado e mal-humorado, Flitwick chegou ao topo da maldita trilha de pedras. No monte chapado, havia um único e solitário chalé de pedras cinzas escuras, como as pedras escarpadas do precipício. A janela acesa do Chalé mostrava um ambiente quente e confortável, algo extremamente convidativo depois de mais de duas horas de caminhada na tempestade fria e ventosa que soprava do Canal da Mancha. Flitwick apressou o passo e, em poucos minutos, alcançou a varanda do Chalé Rockcraggy, ou Pedra Escarpada, o que fazia sentido, pensou o professor. Tremendo, Flitwick lançou um poderoso feitiço para secar as roupas e aquecer o corpo frio antes de bater na porta com força.

A porta não se abriu, mas Flitwick não se surpreendeu ou se sentiu pouco bem-vindo. A luz acesa era sinal de que ele era esperado e isso bastava, assim, ele abriu a porta e entrou no ambiente quente e iluminado por velas, candelabros e um lareira de fogo forte. Deitado em frente a lareira, havia um enorme lobo de pelos cinza avermelhado e olhos azuis claros, que olhou para Flitwick com indiferença estudada.

O professor, apesar de mais quente, se aproximou da lareira e estendeu a mão ansioso por mais calor. Suspirando, Flitwick olhou em volta e percebeu que um ensopado borbulhava em uma panela sobre o fogão antigo, enquanto uma garrafa de whisky de fogo e um único copo repousavam sobre a mesa, como se a espera de alguém para bebê-lo.

— Obrigada, Evan. — Flitwick disse satisfeito ao se servir de dois dedos da bebida que desceram por sua garganta esquentando e desfazendo o mal humor da viagem. — Foi estupidez vir até aqui com esse tempo, eu deveria ter desistido, mas realmente precisava conversar com você. — Ele se sentou em um banco alto, preparado na altura certa para alguém do seu tamanho, e encarou o lobo de olhos azuis. — Fiquei feliz por encontrá-lo na Inglaterra, temia que estivesse em alguma outra parte do mundo.

O lobo mal lhe deu mais do um olhar curioso, mas fungou como se tentando identificar o cheiro e ver se Flitwick era quem dizia ser.

— Eu sei que posso disfarçar o cheiro, mas depois dessa maldita tempestade, dificilmente o encantamento se manteria. — Flitwick olhou para o ensopado. — Se importa se eu me servir enquanto se decide? Estou um pouco faminto depois dessa maldita caminhada. — O lobo pareceu dar de ombros e Flitwick se serviu de um prato do ensopado de coelho fresco. — Imagino que o caçou hoje, antes da tempestade... — O professor considerou entre uma colherada e outra do ensopado saboroso. — Alias, deixe-me dizer isso: que merda de lugar que você decidiu viver! O vento quase me levou para o outro lado do Canal uma dúzia de vezes, pelas barbas de Merlin!

Seu comentário pareceu causar uma reação no lobo que levantou a cabeça e o observou com maior atenção, enquanto um rosnado deixava seus dentes grandes e brancos a mostra.

— O que? — Flitwick parou de comer confuso. — Merlin, eu sou eu! Como chegaria aqui se não fosse? — Não houve resposta, o lobo apenas se levantou e rodeou a mesa, parecendo farejar com mais cuidado em busca de uma enganação.

Flitwick não se mostrou preocupado e, mesmo quando o lobo gigantesco se tornou um homem alto, musculoso e ruivo, o professor nem piscou e continuou a comer.

— Oi, Evan. — Ele disse simplesmente.

— Oi, professor. — Evan disse e segurava uma varinha apontada para Flitwick. — O senhor não tem o hábito de praguejar feito um marujo, assim, minha desconfiança é justa. Você pode ter matado o verdadeiro Flitwick e pegado a minha carta com a informação do meu endereço.

— Bem, acho que deve ser a proximidade com o mar que me faz blasfemar feito um marujo. — Flitwick disse tranquilamente, mas isso não fez Evan abaixar a varinha. —Ok. — Suspirando, Flitwick parou de comer e encarou seu antigo aluno. — O que quer saber? Não temos uma palavra secreta.

— Palavras secretas não são seguras, pois são fáceis de roubar da mente de um bruxo torturado. — Evan disse encarando o professor com aqueles olhos azuis claros e estranhos. — O seu cheiro é o certo, mas tem algo diferente... não sei o que.

— Só pergunte e seguimos em frente. — Flitwick disse e tirou o relógio do bolso. — Meu dia ainda vai longe.

— Como nos conhecemos? — Evan perguntou bruscamente.

— Ah... — Flitwick franziu o cenho, pois essa não era uma boa lembrança. — Eu estava em Cabul com um amigo, descobrimos que um curandeiro afegão estava vendendo partes de animais mágicos, como sangue de vampiro ou olhos de hipogrifos.

— Quem era o seu amigo? — Evan perguntou na hora.

— Mihai Ardelean. — Flitwick respondeu e sorriu. — Eu estive com ele neste fim de semana, Mihai envia suas lembranças e saudades. — Isso pareceu desconcertar Evan, que baixou a varinha ligeiramente. — Bem, Mihai ficou furioso e decidiu ir até o curandeiro para matá-lo, mas eu o persuadi a apenas observarmos a casa do curandeiro, pois assim descobriríamos quem eram os traficantes que estavam fornecendo as criaturas ou partes delas para o tal curandeiro. — Flitwick mantinha uma expressão muito séria, o que não combinava muito com ele. — Deu certo e pudemos seguir os traficantes até o seu acampamento, onde encontramos muitas criaturas e seres mágicos presos em jaulas mágicas. Mihai matou os bruxos criminosos e depois soltamos todas as criaturas, inclusive um lombo cinzento de olhos azuis que estava muito zangado.

— Eu estava faminto. — Evan disse guardando a varinha e indo se servir do ensopado. — Fico mal-humorado quando estou com fome, professor.

— Bem, isso explica porque você me atacou, deveria querer me comer, já que Mihai não era uma opção. — Flitwick disse isso em tom irônico, que levou Evan a rir levemente e o professor o acompanhou.

Evan se sentou em uma cadeira e eles comeram em silêncio afetuoso por alguns minutos.

— Porque está aqui, professor? — Evan disse finalmente e manteve um olhar curioso, mas não muito acessível.

— Direto ao ponto, então. — Flitwick disse levemente. — Não vai nem perguntar como estive passando nos últimos anos?

— Nós trocamos cartas o suficiente para que eu saiba disso, professor, mas não o suficiente para responder a minha pergunta. — Evan disse lentamente.

— Eu só preciso de informações, Evan, não precisa ficar tão desconfiado. — Flitwick disse enquanto se servia de mais um prato com ensopado. — Obrigado pelo jantar, está delicioso.

— Não foi um problema, Wanderer gosta muito de caçar coelhos. — Disse Evan timidamente.

— Mas foi você que cozinhou e, por isso, eu agradeço. — Flitwick soprou um pouco a colherada de sopa e observou seu antigo aluno. — Alguma pista de Aaron e Mason?

A tensão endureceu o corpo grande de Evan, ao mesmo tempo em que carregou o ambiente.

— Não. — Ele disse brusco. — O senhor deve estar certo, eles devem estar mortos.

— É bem possível. — O professor disse sombrio. — Mas admiro sua perseverança em continuar a procurá-los, Evan.

— Consegui salvar muitos animais ao longo desses anos e muitos traficantes conheceram Wanderer de perto. — Ele deu de ombros. — Mas nenhuma pista dos traficantes que venderam meus irmãos ou de quem os comprou.

— Sua família está ajudando? — Flitwick perguntou curioso em saber se Evan voltou a falar com sua matilha.

— Meu povo sabe do perigo e que Aaron e Mason estão perdidos. — Evan respondeu e desconversou sobre o ponto principal.

— Está na Inglaterra há muito tempo? — Flitwick perguntou casualmente.

— Há 3 meses. — Evan se levantou mostrando certa impaciência. — Antes passei 6 meses no Brasil, agora estou escrevendo meu novo livro, toma muito tempo, por causa dos desenhos. Porque o interrogatório, professor?

Flitwick suspirou mostrando sua própria impaciência.

— Não é um interrogatório, Evan! É uma conversa! Quando dois amigos não se veem a muito tempo, eles trocam informações! Um faz perguntas para o outro e as respostas geram uma conversa amigável! — Flitwick bateu a mão sobre a mesa. — Sua desconfiança está passando dos limites! Você me ofende quando me trata como um inimigo, que está tramando para te prejudicar!

O silêncio no chalé era pesado e constrangedor.

— Desculpa. — Evan disse olhando pela janela e observando a tempestade furiosa que descia sobre a costa da Cornualha.

— Quando fui contra a sua empreitada de rastrear os seus irmãos, você ficou furioso comigo, pois acreditou que eu não entendia. — Flitwick disse suavemente. — Eu entendia muito bem o seu desejo por encontrá-los, resgatá-los e tê-los de volta, mas eu sabia que isso teria um preço muito alto. Há anos você está sozinho, viajando pelo mundo como um andarilho (wanderer), solitário e obcecado, mas para um Shapeshifters, estar tanto tempo sozinho não é saudável, Evan. — Flitwick viu Evan dar de ombros, como se não importasse. — Você importa também! Tenho certeza que sua matilha o aceitaria de volta! E você precisa deles, Evan!

— Eu causei isso! — Evan disse veemente e se virou, encarando Flitwick com dor e culpa em seus olhos azuis. — Eu! Aaron e Mason me seguiram, decidiram deixar a matilha e viajar pelo mundo como eu tinha feito antes.

— Você seguiu o seu coração. — Flitwick disse. — Você não abandonou o seu povo, apenas quis conhecer um pouco do mundo, Evan. O seu lobo se chama Wanderer por um motivo e você não podia imaginar que seus irmãos mais novos sairiam imprudentemente em busca de se aventurarem pelo mundo com você.

— Meus pais não pensam assim, eles me culpam e com razão. — Evan se sentou no banco e apoiou os braços na mesa, mantendo os ombros e olhos baixos. — Depois que viajei por muito anos, voltei para casa e deveria ter ficado, mas... o desejo pela estrada falou mais alto. Aaron e Mason pediram para vir comigo e eu os recusei, achei que eles seriam um peso, dois garotos tolos e ansiosos por aventuras que me incomodariam durante a viagem.

— Você não tinha como saber o que eles fariam ou o que lhes aconteceria. — Flitwick sentiu seu coração se apertar por seu amigo. — Quando Mihai e eu o encontramos, você estava procurando por eles imprudentemente e acabou capturado por aqueles traficantes, que o matariam cruelmente, Evan. Se continuar essa jornada, ainda correrá esse perigo e, essa solidão pode lhe tirar a sanidade.

— Eu estou bem. — Evan disse. — Estou sendo mais cuidadoso, você sabe disso. — Ele encarou o Flitwick. — Você me ensinou a me defender, me comprou a minha varinha e foi um grande professor. Nos últimos trinta anos, tenho sido mais um bruxo do que um Shapeshifter, encontrei minha vocação, escrevi os meus livros e, isso tudo, eu devo a você.

— Você foi o meu primeiro aluno, me fez desejar ser um professor e me candidatar a vaga de Professor de Feitiços em Hogwarts. — Flitwick disse com os olhos brilhando. — Mas tenho sido um péssimo amigo, percebi neste fim de semana que não via Mihai há 18 anos e você já faz quanto tempo? 5? Merlin... — Ele suspirou exasperado.

— Professor... — Evan disse acenando negativamente com a cabeça.

— Não, Evan. Você diz que está bem e tem o seu trabalho, que é incrível, por sinal, mas isso não muda o fato de que está solitário. — Flitwick falou com firmeza. — Se sua matilha e seus pais não o aceitam, isso não significa que tem que passar a sua existência sozinho. O meu tempo nesta terra é mais curto do que o seu, mas você também tem a amizade de Mihai e Adriana. E, se me permitir, posso lhe apresentar a um grupo de pessoas incríveis, que podem se tornar a sua matilha.

— Você não muda. — Evan se levantou impaciente e irritado. — Sempre tentando me salvar, quando eu não preciso ser salvo!

— Você quer dizer que não merece ser salvo! — Flitwick respondeu em tom mais alto com sua voz aguda. — Eu não posso impedi-lo de procurar os seus irmãos! Ou de se culpar pelo que aconteceu! Também não posso resolver os seus problemas com sua matilha e seus pais, mas posso ser seu bom amigo e lhe apresentar para pessoas decentes! Evan! — O apelo de Flitwick encontrou um Evan endurecido e cheio de auto aversão.

— Se foi para isso que você veio, desperdiçou o seu tempo. Pode ir. — Evan disse duramente.

— Não, não foi por isso que eu vim. — Disse Flitwick com um suspiro. — Preciso de algumas informações sobre as pesquisas que você fez pelo mundo todo sobre o Ritual Animagus.

Isso despertou o interesse de Evan, que havia dedicado os últimos 30 anos da sua vida a aprender diversos tipos de magias. Depois do seu resgate, Evan viajou por alguns anos com seus salvadores, Flitwick lhe ensinara Teoria Mágica, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas, com Mihai ele aprendeu sobre Runas, Aritmancia e Poções. Depois que deixou seus amigos e professores, Evan continuou a viajar pelo mundo procurando os seus irmãos e estudando outras magias. O Ritual Animagus, que se iniciara com os primeiros bruxos, os Druidas, e que dera origem aos Shapeshifters, há muito fora esquecido na Ilha Britânica. Em outros países o ritual fora modificado ou adaptado, mas ainda conservava alguns dos aspectos originais, assim Evan escolhera escrever em seu primeiro livro sobre a diferença entre o Ritual Animagus e a Transfiguração Animagus. Apesar do seu fascínio por diversas outras artes mágicas, ele não podia negar que esse era o seu assunto preferido.

— Porque? — Ele perguntou ao voltar a se sentar no banco.

— Porque sim. — Flitwick disse no mesmo tom. — Em suas pesquisas, você encontrou algo que diz que um lobisomem ou o bruxo portador da maldição de sangue, a Licantropia, poderia realizar o Ritual Animagus e conseguir a ajuda do seu irmão espiritual para controlar o lobo? E, portanto, não serem mais feras nas luas cheias?

— Não. — Evan disse com o rosto bonito e bronzeado pelas horas ao ar livre franzido em curiosidade. — Eu li em alguns textos mais antigos que a comunhão entre o bruxo e o lobo pode levar a uma harmonia e isso pode tornar as transformações menos dolorosas. No entanto, elas ainda ocorreriam e os lobisomens ainda seriam perigosos, irracionais e territoriais, o que faz com que um ataque seja mais do que possível. — Flitwick ouviu pensativamente e levemente desapontado. — Eu pensei em pesquisar e escrever sobre isso anos atrás, mas com a invenção da Poção Wolfsbane, a ideia de uma comunhão com o lobo pareceu desnecessária.

— Mas a poção não impede que o bruxo sofra com a dolorosa transformação ou que seja mortal caso não consiga o acesso a ela, pois a Wolfsbane é muito cara. — Flitwick apontou. — Se houvesse um ritual que os ajudasse a controlar a transformação, seria quase uma cura, certo?

— O que você descobriu, professor? — Evan perguntou ainda mais interessado.

Flitwick, então, contou a história de Liam Potter e as possibilidades que isso trazia para a comunidade lobisomem.

— Interessante. — Evan continuou parado, refletindo sobre a história ouvida e a conectando com os seus próprios conhecimentos e experiências. — Acredito que seja possível... quer dizer, eu acredito na história deste quadro, claro. O que quero dizer é que, teoricamente, o que aconteceu com ele poderia ser possível de acontecer com outros lobisomens, mas temos que considerar que em se tratando de magia tudo é possível.

— Ou seja? — Flitwick levantou a sobrancelha escura e grossa.

— Liam Potter queria muito isso, controlar as transformações, ter uma vida digna ao lado da sua companheira e lhe dar filhos. É possível, pois estamos falando de magia, que porque desejava tanto, Liam tornou isso possível para ele, portanto, devemos considerar a possibilidade de que isso foi um fenômeno mágico inédito e único. — Evan explicou mais claramente.

— Ok. — Flitwick pensou em tudo o que sabia. — Em se tratando dos Potters, isso não seria surpreendente, fenômenos mágicos parece acompanhar a família, mas neste caso... — Ele hesitou em falar sobre a Grande Matilha.

— Agora quem não confia em quem? — Evan disse levemente ofendido. — O que você sabe, professor?

— Eu confio em você, Evan, não duvide, mas o que está em jogo é a vida de muitos bruxos. Você se importa de assinar um contrato de confidencialidade? — Flitwick tirou uma pasta do bolso e estendeu o contrato.

— Não me importo não. — Evan disse e assinou rapidamente. — Pronto.

Flitwick contou sobre Stronghold e a união das matilhas e como Mandla, o chefe da tribo africana tinha previsto que um dos herdeiros de Liam Potter, reuniria os lobos na "Grande Matilha", se tornaria irmão dos lobos e os ensinaria a serem um com seus espíritos irmãos.

— Por isso, acredito que não seja algo único ou apenas um fenômeno mágico que Liam alcançou por sua perseverança. — Flitwick encerrou.

— Não. Se esse chefe tinha o dom da profecia, o que ele fez foi criar um ritual autorrealizável. — Diante do olhar confuso de Flitwick, Evan explicou. — O que veio primeiro, a visão ou o ritual?

— A visão. — Flitwick respondeu.

— Exato. Mandla viu no futuro que esse jovem Harry reuniria os lobos e os ensinaria o ritual animagus, que os ajudaria a controlar o lobo e vencer a maldição. — Evan sorriu. — Assim, que melhor maneira do garoto descobrir sobre esse ritual e como fazê-lo, do que enviar a informação por seu antepassado? Mandla viu que o Harry receberia essa informação, assim, ele disse ao Liam que ele poderia fazer o ritual, porque Mandla já sabia que Liam conseguiria.

— Autorrealizável... — Flitwick disse espantado. — Claro. Mas o ritual já existia ou Mandla o criou?

— Não, Flitwick, o ritual animagus existe desde os Druidas, claro, como eu disse em meu livro, existem variações por toda a parte. Cada canto do mundo tem o seu ritual animagus inserido em sua cultura e ele funciona para os bruxos, certo? — Flitwick acenou. — A questão era: será que funcionaria para os lobisomens? Nunca ninguém tentou, mas Mandla viu o que o Harry faria e que ele aprenderia sobre essa possibilidade com o Liam, assim, a resposta surgiu antes do ritual ser feito. Mandla apenas o orientou e esperou, ele sabia que Liam voltaria e que o ritual teria o resultado esperado. — Evan se levantou ansioso e começou a lavar a louça e arrumar a cozinha. — Eu precisarei ir para a África imediatamente e fazer algumas pesquisas. As respostas estão lá, é claro e aposto que a tribo Khwe tem pergaminhos antigos e contos que se passam de geração para geração.

— Espere, você não precisa sair correndo. — Flitwick disse. — Liam pode ensinar o ritual... todos os rituais que ele fez, na verdade, antes de fazer o Ritual Animagus. Harry disse que ele deixou tudo anotado em um caderno...

— Sim, mas informações de um quadro não servem para um livro, professor. — Evan começou a arrumar uma mochila de lona antiga e gasta. — As anotações de Liam são preciosas, mas nada se comprado ao que encontrarei nessa tribo, tenho certeza. Essa descoberta é incrível e muda tudo! Imagine! Todos os lobisomens controlando a transformação, não mais feras influenciadas pelos ciclos lunares.

— Esqueça o seu novo livro por um momento, Evan. — Flitwick disse. — Isso é importante, mas não mais do que ajudar os Lobos Guardiões. Além disso, você não acredita que publicar esse livro com provas concretas, com os resultados reais dessa descoberta seria muito mais impactante?

Evan parou de andar e tinha os olhos brilhando com a ideia de participar de algo tão incrível. Essa sempre foi sua maior ambição, conhecer o mundo, descobrir e criar novas magias, ajudar o mundo bruxo a desenvolver mais e mais magias. A verdade é que os bruxos britânicos eram muito limitados! Eles não pesquisavam, não evoluíam ou buscavam desenvolver a magia. Ficaram parados no tempo! E, eles ainda criaram atalhos, esqueceram as magias antigas, os rituais e encantamentos, infelizmente, a magia para os bruxos britânicos hoje era seca, prática e simples. Evan tivera esperança de que os seus livros influenciassem os bruxos, criassem pensadores, pesquisadores e mais conhecimento, mas sua origem o obrigava a esconder sua identidade. Um Shapeshifter seria discriminado, perseguido, caçado e feito prisioneiro, como aconteceu com seus antepassados e com seus irmãos, Aaron e Mason. Não importava que ele fosse um bruxo poderoso ou um intelectual, não importaria mesmo se ele fosse rico, algo que as taxas abusivas nas vendas dos seus livros não permitiam. Evan sabia que não era bem-vindo entre os bruxos.

Mas ele também não era mais bem-vindo em sua matilha, Evan pensou, ao caminhar até a lareira e atiçar o fogo com mais lenha. Seus pais mal conseguiam olhá-lo sem caírem em prantos, pois Evan era muito parecido com seus irmãos. Os membros da matilha, outros Shapeshifters com quem Evan tinha crescido, não o consideravam um bom exemplo para os mais jovens. Eles deixaram claro que Evan poderia voltar, mas para nunca mais sair para o mundo dos bruxos ou dos humanos. Sua decisão fora seguir o seu coração, como fizera a primeira vez em que deixara a matilha em busca de aventuras, magias e companheirismo. Claro, o seu principal objetivo era encontrar os seus irmãos desaparecidos e, para sustentar suas viagens, Evan desenhava e vendia seus trabalhos. No entanto, ele fora imprudente, afoito em sua busca por informações dos traficantes de criaturas mágicas e acabara capturado. Filius e Mihai o salvaram e o acolheram como seu companheiro de viagens, mais importante, o ensinaram magias que os Shapeshifters desconheciam e abriram as portas do conhecimento e da pesquisa para Evan.

E foi assim que ele começou a escrever os livros sob o pseudônimo de Aaron Mason, nome escolhido em homenagem aos seus irmãos. E, mesmo depois de tanto tempo, seu maior desejo era encontrá-los e devolvê-los para os seus pais, mesmo que uma parte dele desejasse que seus irmãozinhos estivessem mortos e não sofrendo horrores nas mãos de seus captores.

— Qual a sua sugestão? — Evan perguntou pensativamente.

— Sua pesquisa não tem que ser apenas teórica, Evan. — Flitwick disse entusiasmado. — Você pode unir a teoria com os resultados práticos ao ajudar com os rituais dos lobisomens da Grande Matilha. Ao publicar para todos saberem que os lobisomens não são mais perigosos, você estará revolucionando o mundo mágico como conhecemos e desfazendo o que essa maldição terrível causou para os dois povos. O passado não pode ser apagado, mas os Shapeshifters e os bruxos não precisarão mais serem atormentados pela Licantropia.

— Meu povo foi obrigado a se esconder por causa das perseguições. — Evan disse sombrio. — Os bruxos nos acusaram de passar a maldição de sangue e tentar transformar todos os bruxos em lobos. Nunca entenderam que alguns de nós, Shapeshifters, não somos lobos, a minha matilha é mista, com espíritos irmãos diversos. As histórias contam como as antigas matilhas tentaram explicar, se defender e combater a perseguição, mas foram massacrados e, por isso, nos isolamos e nos protegemos dos olhos dos bruxos. — Evan voltou a se sentar pensativo. — As magias antigas que nos protegem são tão fortes que não poderia voltar para o meu povo com um estranho, mesmo que fosse um amigo confiável. Também não posso dizer a localização da matilha, mesmo que você me torture até a morte e é assim que nos mantemos vivos e seguros. Mas a ideia de controlar a licantropia... — Evan acenou negativamente. — Seria muita pretensão acreditar em um resultado tão amplo, temos que considerar todos os fatores e possibilidades. Por exemplo, os lobisomens que não foram aceitos em Stronghold, eles são como doenças vivas e contagiosas prontas para se multiplicarem. — Evan passou a mão pelos cabelos ruivos. — Isso sem falar que o Ritual animagus é muito difícil, aposto que muitos falharão, principalmente sem a preparação adequada.

— Preparação em que você pode se envolver e, ao fazer isso, tornaria as chances de sucesso muito maiores, Evan. — Flitwick disse com voz persuasiva. — Você é um estudioso que há muito superou o seu primeiro mestre, conhece os rituais antigos e o respeito exigido na busca por seu espírito irmão.

— Está tentando me manipular, professor? — Evan perguntou ironicamente e seus olhos azuis claros mostraram certa frieza.

— Não, Evan, estou lhe dando a oportunidade de participar de algo tão grandioso que o mundo como conhecemos se alterará para sempre. — Flitwick suspirou. — Não duvide que isso acontecerá com ou sem você, Harry não desistirá, e ele encontrará soluções para cada obstáculo que estiver no seu caminho. Sua ajuda para tornar isso mais rápido e preciso pode salvar vidas, além tornar as vidas desses lobisomens melhores mais rapidamente. Se você busca redenção por seus erros, talvez, essa seja a sua chance.

— Você sempre foi bom com as palavras, Mihai é um bronco perto de Filly. — Evan disse impaciente. — Eu não quero redenção! Eu quero os meus irmãos de volta!

— Eles se foram, Evan! — Flitwick falou energicamente. — Você quer é se punir! Solitário, sem amigos ou uma matilha, apenas obcecado em encontrar o que se perdeu para sempre! — Evan empalideceu com suas palavras duras. — Quando foi que teve alguma pista? Qualquer cheiro, comentários ou dicas de que eles estão vivos? Quando, Evan?

Evan se inclinou sobre a mesa e tentou controlar a raiva que sentia, que o alimentava, o mantinha em sua busca, mesmo quando a esperança agonizava em seu coração.

— Você não entende... — Sem fôlego, ele se levantou e voltou a caminhar até a janela. — Se eles estiverem mortos, será um alívio, professor. O meu medo é que eles estejam vivos por todos esses anos, sendo torturados e usados para Merlin sabe o que. Quando luto contra os traficantes, quando encontro os seus esconderijos e liberto todos aqueles seres e criaturas mágicas, estou mais perto de encontrá-los e libertá-los do inferno em que estão. O inferno onde eu estou... — Ele apertou os punhos e sentiu Wanderer ansioso para aliviar a dor em seu peito. — Ficarei bem, irmão... "Ouça o pequeno bruxo, Evan, ele é sábio e quer o seu bem". — Evan acenou silenciosamente negando o conselho do seu irmão lobo. — "O caminho da Deusa nem sempre é claro, irmão e seu professor não está aqui por nada. Confie nele".

A conversa durou apenas alguns segundos e Flitwick não percebeu, assim, continuou o seu argumento.

— Pense, Evan, se esse ritual ajudar os lobisomens, os resultados e o livro que você publicará alcançarão bruxos e bruxas lobisomens do mundo inteiro. E, se você compartilhar a sua história, se tiver mais amigos, uma matilha, você não estará mais sozinho em sua busca. — Flitwick tentou explicar. — Eu não o condeno por nunca desistir, mas acredito que você não está fazendo isso de maneira inteligente.

— Como posso confiar neste mundo que você me oferece, professor? — Evan se virou o encarando zangado. — O senhor quer que me jogue em um mundo cheio de crueldades, quer que eu confie a minha vida, liberdade e história para estranhos. No entanto, um desses estranhos foi quem capturou os meus irmãos e os vendeu para traficantes afegãos. O senhor quer que eu ajude, que eu confie, mas como posso saber que não serei traído, perseguido ou pior?

— Você não sabe. — Flitwick disse e olhou em volta. — Sua vida nesta cabana ou como um andarilho será longa e infeliz, mas se der uma chance para o mundo lá fora, pode encontrar mais do que sonhou quando deixou a sua matilha pela primeira vez.

— Eu tenho amigos. — Evan disse teimosamente. — Eu visito matilhas, clãs e aldeias pelo mundo todo, conheço todos os tipos de seres mágicos especiais e maravilhosos. Também tenho uma rede de ajuda na busca pelos irmãos, assim não preciso de mais nada.

— Seus "amigos", como você diz, são apenas pessoas que você conheceu, aprendeu, ensinou ou pesquisou, Evan. E essa rede de busca não passa de bruxos que você paga para lhe manter informado sobre a rede de tráfico de seres e criaturas mágicas. — Flitwick olhou para o relógio impaciente. — Isso é muito diferente de ter amigos e um matilha, você e seu lobo precisam disso para não enlouquecerem nesta solidão dos infernos.

Evan não contestou e lamentou ter contado ao Flitwick que Shapeshifters, ao contrário dos lobisomens, não viviam sozinhos por muito tempo sem enlouquecerem.

— Eu viajarei para a África e pesquisarei os pergaminhos e contos antigos da Tribo Khwe. — Evan disse por fim. — Prometo que durante a viajem, eu pensarei com cuidado em tudo o que me disse e que, envolvido diretamente ou não, ajudarei com os rituais.

— Ok. — Flitwick acenou aliviado. Essas palavras eram mais do que ele esperava desta visita. — Acredito que uma visita a tribo é o mais inteligente, talvez você consiga mais dados.

— Quando voltar, precisarei revisar as anotações de Liam Potter. — Evan disse já excitado pelo novo projeto de pesquisa. Era como um quebra-cabeça de dados mágicos que precisavam ser encontrados, testados e desenvolvidos até que um livro se formava em sua mente. Ele se orgulhava de não apenas mostrar o que existia, mas criar novas magias e meios de ver determinados fatos ou realidades.

— Então, neste dia, eu lhe apresentarei a Harry Potter. — Flitwick se levantou. — Preciso ir, tenho uma reunião importante em pouco mais de meia hora. Foi muito bom revê-lo, Evan, espero que quando nos reencontrarmos, possamos brigar menos e tomar uma cerveja relembrando os velhos tempos.

— Não sei sobre a cerveja, mas o resto me parece uma excelente ideia. — Evan disse olhando para Flitwick com aquela expressão impenetrável, mas com um olhar mais caloroso. — Obrigado por se importar comigo, professor.

— Sempre estarei aqui, amigo. — Flitwick curvou levemente a cabeça e não tentou abraçá-lo ou cumprimentá-lo, pois sabia de Evan Brook não gostava de ser tocado. —Estarei à espera do seu contato. Até o seu regresso, Evan.

— Até. — Evan disse curvando a cabeça em despedida respeitosa.

Flitwick saiu para a varanda e aparatou para Londres, no Saguão de entrada do Beco Diagonal, depois usou a lareira para viajar para o seu escritório em Hogwarts.

— Cornualha, Londres e Escócia em pouco minutos. — Satisfeito, Flitwick se decidiu por um banho quente antes da reunião. — Isso é que é uma viagem impressionante.

Mais tarde, Harry, Terry, Hermione e Neville bateram em sua porta e todos se acomodaram em frente ao espelho e chamaram o pessoal de Londres.

Do outro lado, Sirius, Falc, Sr. Boot, Remus e Serafina estavam sentados em frente ao outro espelho. Harry acenou levemente, recebendo acenos igualmente pouco entusiasmados de volta.

— Olá, como foi a semana de vocês? — Harry perguntou antes que eles perguntassem da sua semana.

— Tudo bem... — Murmúrios pouco animados vieram dos adultos. — E vocês?

— Tudo certo... — Foram as respostas meio cansadas das crianças. — O professores estão nos enchendo até o topo de deveres de casa e estamos com três treinamentos por semana com o time. Trevor quer muito vencer o campeonato antes de se formar. — Harry acrescentou tentando mostrar mais animação do que sentia e explicar o cansaço em volta.

— Eu tive uma boa semana, mas a viajem para Romênia e Cornualha me deixou exausto também. — Flitwick disse. — Os deveres são importantes em preparação para os exames, crianças. — Ele defendeu os professores de Hogwarts.

— Nós também tivemos uma semana incrivelmente ocupada. — Sirius disse com uma expressão sombria. — A inauguração da Academia está bem perto e há muito o que preparar antes de 15 de maio, quando teremos a aberturas das Feiras.

— Estivemos completamente envolvidos com a preparação da abertura de Flidais, do início da reconstrução da Vila do Cervo, além da fazenda da ilha. — Serafina disse e seus olhos pareciam estranhos, como se tivesse chorado. — A GER tem cuidado das seleções dos lobisomens de acordo com os trabalhos disponíveis que temos. Também estamos correndo contra o tempo para conseguir os ingredientes para a poção Wolfsbane a tempo para a lua cheia. Ela demora para ficar pronta, assim, este mês não teremos o poção para os Guardiões, mas se conseguirmos iniciar a preparação em tempo, no mês que vem, eles terão uma transformação mais segura.

— A transformação deles sem a poção é uma preocupação? — Harry perguntou.

— Não exatamente. — Remus respondeu e parecia o mais abatido entre os presentes, afinal, eles estavam a 3 dias da lua cheia. — Lobisomens ficam melhor em grupos do que solitários e eles são uma matilha única agora, com todas as promessas e compromissos feitos. No entanto, essa será a primeira transformação com todas as matilhas e grupos juntos, assim, os lobos terão que se ajustar a essa nova realidade. Eles despertarão em um novo local, "casa", lhe dirão seus instintos. Os cheiros de seus companheiros de matilha estarão lá, mas os cheiros de lobos estranhos também permearão o ar e os confundirão por alguns instantes. A estratégia é manter os grupos e matilhas antigas próximas, espalhá-los pela ilha, tentar evitar o início de brigas, pois se elas começam, normalmente o lobisomem quer impor sua autoridade. Os mais velhos ficarão juntos com os alfas e as crianças com seus pais ou com a matilha de origem, os antigos Gárgulas. — Remus suspirou. — Sinceramente, não acredito que nada aconteça de grave, algumas pequenas disputas e escaramuças, talvez, algumas perseguições e aranhões.

— Eu estarei... — Sirius começou a falar quando passos e a porta se abrindo o interrompeu e seu rosto se iluminou.

— Desculpa, estou muito atrasada? — Denver entrou no escritório e caminhou na direção do Sirius.

— Não! — Sirius se levantou e abriu um grande sorriso. — Acabamos de começar! Venha, sente-se aqui comigo.

Denver acenou e se sentou ao seu lado no sofá, acenando para o pessoal do escritório e de Hogwarts. Um coro de "Oi Emily/Denver" ecoou por todos os lados.

— Eu estava dizendo que pretendo passar a lua cheia em Stronghold e observar para ter certeza de tudo correrá bem. — Sirius continuou. — Como Almofadinhas, eu não sofro riscos e se algo sair errado, posso aparatar e buscar ajuda.

— E o que faremos se os lobisomens iniciarem uma guerra entre si? — Flitwick perguntou preocupado.

— É apenas uma precaução, não acredito que isso poderá acontecer. — Sirius disse. — O Remus está certo, passado a estranheza inicial, acho que os lobos gostarão de ter uma matilha tão grande e poderosa.

— Eles se sentirão mais seguros e poderosos com uma Grande Matilha. — Remus acrescentou. — Como eu disse, em uma matilha, uma cultura vai se estabelecendo os poucos. A crianças e os idosos são protegidos, os mais fortes cuidam dos mais fracos e, se alguém tentar sair da linha, recebe uma punição.

— Eu posso acompanhar você a Stronghold. — Emily disse olhando para o Sirius. — Rox irá gostar da aventura.

— Claro... — Sirius a olhou com uma expressão apaixonado e as crianças seguraram a vontade de rir. — Será muito bom ter você comigo e o lobo do Remus está curioso para conhecê-la.

— Bem, isso resolvido. — Harry disse sentindo-se mais leve ao ver o padrinho feliz. — Por onde começamos a nossa reunião?

— Acho que já começamos. — Falc disse. — Harry, os produtos para a Wolfsbane são caríssimos e não facilmente acessíveis. Conseguir tudo neste mês para a próxima lua cheia será difícil, mas conseguir tudo todos os meses, será impossível, isso sem falar que os custos serão astronômicos. Estamos falando de poções para mais de 3 mil lobisomens, Harry, o custo mensal é de mais de cem mil galeões. Isso sem falar que não tem como o mundo mágico não perceber o desaparecimento desses ingredientes todos os meses do mercado, na verdade, comprarmos uma quantidade tão grande uma única vez já atrairá especulações.

— Qual a solução? — Harry perguntou passando a mão pelos cabelos. Estava muito cansado para problemas, queria apenas boas notícias.

— A curto prazo, plantar os ingredientes da poção o mais rapidamente possível e, nesta quantidade, precisaremos de dezenas de estufas, o que a ilha ainda não tem. — Falc disse lendo algumas anotações. — Estive com o Slughorn e sua avaliação é que a ilha precisaria de 47 estufas apenas produzindo os ingredientes e mais nada. Isso quer dizer que a fazenda da ilha seria a única produtora de alimentos para os Guardiões, mas reduziríamos os custos da poção em 70%. Sinceramente, como gasto mensal, ainda é um custo alto, mas mais administrável, no entanto, só teremos as estufas produzindo em 6 meses, 5 se iniciarmos em uma semana.

— O que é impossível sem as estufas prontas. — Harry disse. — Além disso, não tem como colocarmos 47 estufas na ilha.

— Podemos direcionar algumas Fazendas Potters apenas para isso, mas com as Feiras iniciando as vendas, não sabemos se esse movimento não trará uma defasagem de alimentos a longo prazo. — Falc disse suspirando. — Sobre a poção, precisamos buscar uma solução mais definitiva, pensei em nos reunirmos com Dâmocles Belby e pedirmos que ele revise a receita da poção, talvez, ela possa ter o mesmo efeito se os lobisomens tomarem uma quantidade menor ou se for feita com menos ingredientes...

— Acho que isso não daria certo. — Harry disse acenando e pensando em tudo o que já tinha aprendido sobre poções. — Revisões são sempre necessárias e pode ser benéfico, eu mesmo gostaria de ler a receita da Wolfsbane e quem sabe prepará-la para senti-la, mas isso não deve ser feito apressadamente ou com o pensamento de economizar, pois poderíamos estragar a poção e perdermos ingredientes valiosos.

— Você tem uma ideia do que podemos fazer, além do que o Falc já sugeriu? — Sirius perguntou segurando a mão de Emily na sua.

— Primeiro, vamos imediatamente separar 47 estufas nas fazendas... São 18 fazendas, 2 estufas em cada uma seriam 54, esse é um bom número, pois podemos estocar os ingredientes excedentes para emergências ou vender para gerar renda. — Harry disse pensativo. — Quando as estufas da ilha estiverem prontas, nós trocamos com as estufas das fazendas... Quantas estufas cabem em Stronghold?

— Talvez umas 20, se usarmos algum espaço da praia poderíamos chegar a 25, acredito. — Remus disse visualizando a ilha.

— Isso é bom. Iniciamos a produção imediatamente dos ingredientes nas estufas das fazendas e quando as estufas da ilha estiverem prontas, trocamos com essas 25. Isso deixará as fazendas com apenas 29 estufas a menos e como as fazendas tem mais espaços, podemos acrescentar uma estufa em cada uma das fazendas, o que seria um déficit de apenas 11 estufas.

— Bom... Esse é um número razoável e os custos para fazer isso não serão absurdos. — Falc fez suas anotações enquanto falava lentamente. — Consultarei a Faith e o Francisco para ter certeza dos números e depois te enviarei um relatório, Harry.

— Ok. Segundo, parem de comprar os ingredientes para a poção. — Harry disse sentindo uma leve dor de cabeça começar.

— O que? — Serafina se mostrou surpresa. — Harry, prometemos a eles que lhes daríamos a poção, os custos são enormes, mas...

— O problema não são os custos. — Harry disse mostrando certa impaciência. — O Sr. Falc falou do problema principal, não temos como esconder a compra de 100 mil galeões em ingredientes para poções, especificamente, a Poção Wolfsbane. Se fizermos isso, estaremos basicamente declarando no Profeta o que fizemos. Em algumas semanas a ausência dos lobisomens será percebida e, com essa compra, mesmo que seja dos ingredientes de apenas um mês de poção, ainda estaremos explicitando o que fizemos. Posso estar errada, mas não podemos comprar esses ingredientes anonimamente... — Serafina acenou negativamente já reconhecendo a derrota. — A senhora acredita que ninguém virá questionar porquê e o que estamos fazendo? E onde diabos estão os lobisomens?

— Merda. — Sirius disse. — Isso atrairia dezenas de olhares em nossa direção, poderia desfazer muito do que estamos fazendo e, bem, não consigo nem imaginar as consequências.

— O Ministério pode iniciar uma investigação oficial. — Sr. Boot disse pensativo. — Os ingredientes de poções, a maioria deles, são controlados com cuidado e o Departamento de Regulação e Controle de Criaturas não ficará contente quando perceberem que nós fizemos os lobisomens desaparecerem. Amos Diggory ficará muito feliz em protestar formalmente na Suprema Corte.

— Os lobisomens podem ser consultados, mas desconfio que eles preferirão a segurança do anonimato do que a poção. — Harry disse.

— Com certeza. — Remus disse.

— Ok. Então, diremos a eles que a poção só estará disponível em 5 meses. — Serafina disse desanimada.

— Talvez seja bem menos que isso. — Harry trocou um sorriso com Neville. — Neville e eu iniciamos os testes com as Hecatitas gravadas com a música de fênix há algumas semanas e os resultados são impressionantes.

— Nós não temos muitas variáveis, que conseguiremos apenas nos testes mais avançados que faremos no ano que vem, mas acho que temos o suficiente para dizer que se colocarmos os ingredientes sob o efeito da música da fênix, ganharemos uns 2 meses, no mínimo. — Neville disse timidamente. — Se vocês concordarem, podemos acompanhar os resultados para a nossa pesquisa e, bem, mal não fará.

— Uau! 2 meses? — Falc se mostrou surpreso. — Se estiverem certos... Isso pode ser a solução a longo prazo, porque se vendermos os ingredientes excedentes, redirecionamos o lucro para a produção da poção e diminuímos os custos mensais. Talvez, possamos diminuir mais uns 10%!

— Ainda assim, 20 mil galeões por mês parecem algo assustador. — Hermione disse chocada ao pensar nisso.

— A solução a longo prazo não é a poção. — Harry disse sorrindo levemente.

— Como assim? — Terry se mostrou curioso e preocupado com o sorriso do amigo.

— Bem... — Harry contou a história de Liam Potter e ouviu exclamações de espanto e expressões assombradas por todos os lados.

— Harry... isso é real? — Remus parecia meio trêmulo de choque. — Não se transformar compulsivamente na lua cheia... sem a dor ou o descontrole feroz e mortal...

— Eu acredito em meu tataravô. — Harry disse simplesmente. — Não posso afirmar que será fácil ou rápido, muito menos que todos os lobisomens alcançarão a transformação animagus verdadeira, mas acredito que essa é a nossa melhor chance.

— Maldições de sangue não têm cura. — Flitwick disse sombrio. — Talvez, um dia alguém encontre uma cura, mas o mais perto que já chegamos disso foi o que aconteceu com Liam Potter. Eu estive com um amigo, Aaron Mason, o escritor, que é um antigo aluno, muito inteligente, e um verdadeiro pesquisador mágico.

— Os livros dele são incríveis. — Harry disse mais animado. — O que ele disse, professor?

— Ele decidiu partir para a África. — Flitwick sorriu levemente. — Se o conheço bem, já deve estar a caminho. Aaron pesquisará pessoalmente todas as informações que a Tribo Khwe tem sobre os rituais de preparação e o Ritual Animagus. Depois, ele quer conhecer o seu avô, Harry e ler suas anotações, mas Aaron está muito otimista. — Isso causou sorrisos em todos. — Teoricamente, quando se trata de magia, tudo é possível e partindo desse pressuposto, o temor dele era que esse resultado fosse um fenômeno único, maravilhoso, mas único. Algo que a busca e o desejo profundo de Liam causaram, entendem? — Todos acenaram. — Mas Aaron percebeu que a visão de Mandla mostra o oposto, na verdade, mostra que o futuro veio antes do passado. — Diante das expressões confusas, Flitwick explicou sobre a profecia autorrealizável.

— Então... Mandla viu o Harry, herdeiro de Liam, reunir os lobos na "Grande Matilha", se tornar irmão dos Guardiões e lhes ensinar a serem um com seus espíritos irmãos... — Remus olhou para o Harry de olhos arregalados. — Por isso Mandla sabia que Liam conseguiria, ele teve uma visão de que o Harry aprenderia sobre o ritual do próprio Liam!

— E essa espécie de profecia diz que o ritual dará certo! — Terry parecia chocado. — Harry tem razão, a longo prazo, a solução não é a poção e sim, o Ritual Animagus!

— Mas... quando? — Remus parecia querer sair da própria pele de tão ansioso.

— Acho que devemos confiar que Aaron terá muitas respostas quando voltar. — Flitwick disse. — Ele está muito empolgado e quer escrever um livro sobre o assunto, com a teoria e os resultados, o que será incrível, pois com a publicação poderemos provar para a sociedade mágica que os lobisomens não são mais um perigo. Como eu disse, Aaron é brilhante e nos guiará na direção mais correta de como agirmos e quando.

— Mas não é o Harry que ensinará os lobisomens? — Neville perguntou confuso.

— Sim, mas todos esses rituais precisam ser estudados, Neville e o Ritual Animagus é quase uma especialidade do Aaron. — Flitwick explicou. — Ao estudar a teoria, ele descobrirá a melhor maneira de agirmos, quais rituais fazer primeiro e quando fazê-los, por exemplo. Acredito que o Harry estará envolvido mais na parte prática, talvez.

— Isso faz sentido. — Remus disse tentando se acalmar. — Acho melhor não contarmos aos Guardiões por enquanto, se eles sentirem metade da ansiedade que estou sentindo agora, não será bom para ninguém. — Ninguém discordou dele e Remus suspirou ainda olhando para o Harry com certa admiração. — Quando se trata de você, eu não duvido de mais nada, Harry, tenho a impressão que se tivermos paciência, a maneira que você irá ajudar os Guardiões com a transformação irá se revelar.

Harry acenou esperando que Remus estivesse certo, pois sentia que acabar com o sofrimento dos lobisomens seria algo incrível.

— Ok. Esperamos por Aaron Mason para seguir nesta direção e os lobisomens estarão sem a poção por pelo menos mais 3 luas, além deste mês. — Falc disse suspirando. — Esta semana temos a inauguração da nova empresa do Sirius, Harry, Mac e Ian, a Aliance. Contratamos a Moment Parfait para organizar o evento no mundo trouxa e estamos esperando que isso alavanque a empresa, pois teremos muitos convidados famosos e jornalistas.

— Minha irmã e o Chester estão entre as celebridades convidadas, mas teremos muitos outros. — Serafina disse. — Monique, a organizadora e dona da Moment Parfait trabalha no mundo trouxa e mágico da França a muito tempo e, agora, está iniciando aqui na Inglaterra com uma festa de grande qualidade, além da inauguração do Jardim da Lily. Petúnia tem nos ajudado e trabalhado com ela na organização e lista de convidados, afinal, ela conhece as celebridades trouxas melhor do que nós. — Ela olhou uma lista. — Ela também está organizando a inauguração das Feiras, do Emporium e da Academia, além da boate que será aberta só em agosto. O Baile Potter/Black, que daremos em 24 de julho também está sendo organizado por Monique e tem sido um alívio não ter que se preocupar com isso. Seu bom gosto e competência é como um presente dos céus. Por falar nisso, os convites do Baile serão enviados em breve, Harry, você deve se preparar para alguma repercussão.

— Como a repercussão da reunião do Partido dos Justos? — Terry perguntou divertido. — Neste fim de semana, não se falava em outra coisa entre os alunos puros e mestiços, os Descendentes quiseram entender como funcionava a política no mundo mágico e isso gerou muita conversa. Sua entrevista no Profeta e na rádio NSPW causou um alvoroço e tem muitos falando, principalmente as meninas, que o Sirius é quem deveria ser o Ministro da Magia.

Isso gerou risos por todos os lados e Sirius soltou o seu riso rouco que lembrava um latido. O clima na reunião pareceu ficar mais leve e Harry quis saber detalhes da reunião do Partido.

— E foi isso, Harry. — Sirius disse satisfeito. — Acho que foi uma grande vitória, mas estamos apenas começando, claro.

— Parece que muitas pessoas legais que se juntaram ao Partido e isso é muito bom mesmo. — Harry disse aliviado. Pelos menos ele não precisava se preocupar com questões políticas tão cedo, porque os adultos estavam fazendo a sua parte.

— Queremos trazer alguns deles para a Equipe Pegasus. — Sirius disse suavemente. — Meus primos, com certeza, e acredito que Murray, Beamish e McCormack se interessariam.

— Bem, se eles assinaram o Tratado do Partido dos Justos, acredito que não se importariam de assinar o Tratado das Equipes. Por falar nisso, quando o nosso Tratado chegará? — Harry perguntou preocupado. — Depois da descoberta de Rabicho, o clima ficou meio estranho entre a Equipe Covil.

Hermione, Neville e Terry acenaram e o último acrescentou.

— Os amigos confiam nos amigos, mas existe uma desconfiança entre casas que nos atrapalha, sem dúvida.

— Deve chegar em 2 semanas, infelizmente ninguém pode ir buscar urgentemente no momento e a viagem é mais demorada por via coruja. — Falc explicou.

— E o ritual de ligação com os lobisomens? — Harry mudou de assunto. — Está pronto?

— Você tem certeza que quer fazer esse ritual, Harry? — Serafina se mostrou preocupada. — É muito exigente, além disso, eles exigem um sacrifício daqueles que participam do ritual. Eu estive lendo e lendo o ritual incansavelmente e não o entendo completamente.

— Precisamos pedir a ajuda da Fiona. — Sirius disse. — Essa é a especialidade dela e eu confio em lhes contar sobre os Guardiões e o ritual.

— Bathsheda também é confiável e seu trabalho rúnico é de grande qualidade. — Flitwick disse.

— Jonas seria um ótimo acréscimo, pois poderíamos dar aulas de carpintaria mágica aos lobisomens. — Falc acrescentou. — Eles já são parte dos Justos, acredito que convidá-los para nos ajudar com esses projetos seria uma boa ideia.

— Eu confio em todos eles. — Harry aprovou. — Minha preocupação é que Hector e Bathsheda percam seus empregos se algum dia descobrirem o que fazemos.

— Acho que essa será uma preocupação menor se algum dia descobrirem quantas leis nós estamos infringindo, Harry. — Sr. Boot disse divertido e todos riram.

— Precisamos de Fiona e Bathsheda também porque o Harry tem alguns rituais extras que ele precisa fazer durante o verão. — Flitwick apontou e todos se mostraram curiosos, assim o Harry explicou.

— Isso é mesmo necessário? — Serafina perguntou preocupada. — Parece tão extremo e você é tão jovem...

— Eu não sei quanto tempo eu tenho, Sra. Serafina, mas com certeza eu sei que não poderia derrotar Voldemort se ele voltasse em um ou dois anos. — Harry defendeu. — Meus avós não sugeririam algo que me ferisse e essa também é uma preparação para o Ritual Animagus, não sei quando estarei pronto, mas quero estar preparado para o sentimento.

— Nós também teremos que fazer esses rituais? — Hermione perguntou meio chocada.

— Não, esses foram selecionados por meus avós para mim, eles ouviram minha história, conheceram minha personalidade e destino. — Harry bagunçou os cabelos. — Como eu disse, não tenho muito tempo e preciso fazê-los para alcançar mais magia e meu espírito irmão.

— Para vocês, a meditação e alguns rituais de purificação e comunhão com a natureza será suficiente. — Emily disse. — Minha sugestão é que você dois se programem para fazerem o Ritual Animagus aos 16 anos, se estiverem prontos. Foi o que eu fiz e é uma pena que Hogwarts não tenha essa aula, sinceramente, porque Ilvermorny nos ensina e nos guia a encontrar o nosso espirito irmão. — Neville e Hermione acenaram, mesmo que ela não parecessem contente em esperar tanto. — Para o Harry, o Ritual Animagus será apenas uma consequência de todos esses rituais que ele fará, pois, ao atingir o seu nível de magia mais avançado, naturalmente, seu espírito estará mais pronto para encontrar o seu irmão.

— Bem, temos outro problema... — Harry hesitou tentando explicar sem dizer muito. — Firenze conheceu a Ginny em nossa aula de arco e flecha e me disse que ela também precisa fazer alguns rituais. O de purificação para começar, mas também alguns do que eu farei durante o verão.

— O que? — Falc franziu o cenho e a confusão se espalhou por todos. — Porque?

— Hum... resumindo, Firenze disse que Ginny é minha parceira guerreira, que lutaremos juntos e que, por isso, ela precisa me acompanhar neste caminho. — Harry disse e percebeu os olhos de Sirius brilharem de entendimento e diversão, mas felizmente, ele não disse nada. Já Flitwick pareceu entender exatamente o que o Harry não estava dizendo, primeiro porque sabia que Ginny era quem sofrera com a influência do diário e, segundo, porque sabia que os centauros chamavam de parceira as suas almas gêmeas e não os seus companheiros guerreiros ou de caça. Esse entendimento o fez arregalar os olhos e se arfar de espanto, mas ele também não disse nada ao perceber a tensão do Harry.

— Harry, isso não me parece algo possível, pois teríamos que ter a autorização dos pais da Ginny e, enquanto o Arthur se mostrou muito aberto e justo, não acredito que ele e sua esposa aceitariam que a filha passasse por esses rituais com a justificativa de que ela precisará disso para lutar na guerra contra Voldemort. — Serafina disse espantada. — Na verdade, como mãe, eu posso entender isso totalmente.

— Teremos que fazer sem a suas autorizações, então...

— Harry! — Serafina e Falc exclamaram e acenaram negativamente. — Isso é impossível e completamente ilegal, antiético e até imoral. — Acrescentou Falc.

— Escutem! — Harry disse com mais firmeza e pensou nos olhos castanhos angustiados. — Ginny precisa disso! O ritual de purificação é o mais urgente e acredito que seus pais não se oporiam, pelo contrário.

— Porque? — Sr. Boot perguntou e franziu o cenho ao ver as expressões desconfortáveis de todos, seguido de um silêncio estranho.

— Porque Ginny é a aluna que foi controlada pelo diário. — Emily respondeu ao entender a situação.

— O que? — Serafina e Remus ficaram pálidos.

— Mas ela só tem 11 anos! — Remus disse zangado. — Maldito Malfoy!

— Ginny não quer que as pessoas saibam e pediu o nosso segredo, além disso, ela ainda não contou aos seus pais e irmãos, apenas os gêmeos sabem. — Harry disse irritado por não ter como manter o segredo.

— Oh, meu Deus... — Sussurrou Serafina chocada. — Aquela pobre menina...

— Ela é uma guerreira! Não uma pobre qualquer coisa! — Harry a defendeu veementemente. — Ela lutou com força e coragem! Me ajudou a vencer o Riddle! Ginny não é fraca, mas precisa do ritual de purificação para se limpar da escuridão que sua ligação com o diário trouxe a sua alma. Depois disso, temos que convencer os seus pais de que ela tem que fazer os outros rituais, acredito que não todos, precisamos consultar os meus avós. Talvez Fiona possa ajudar...

— Harry, eu entendo tudo isso e você está certo, Ginny é uma bruxa incrivelmente forte por resistir e lutar tão ferozmente contra a horcrux. Eu prometo que conversarei com os Weasleys se é isso que vocês querem e precisam, mas porque Ginny precisa desses rituais quando Terry, Hermione e Neville não os farão? — Serafina foi ao ponto principal. — Você é quem lutará com Voldemort e precisará de mais força mágica para derrotá-lo, não a Ginny.

Harry ficou em silêncio e abaixou os olhos paras as mãos.

— Não quero falar sobre isso. — Ele disse dando de ombros um pouco envergonhado.

— Agora fiquei curiosa. — Emily disse surpresa. — É você quem não gosta de segredos, lembra-se? Nem os seus amigos sabem? — Ela encarou os três, mas eles acenaram negativamente, Neville e Terry curiosos, Hermione indiferente, pois ela tinha uma ligeira desconfiança. — Você sabe. — Emily disse ao ver o olhar divertido do Sirius.

— Sim, mas o Harry quer segredo e eu respeitarei isso, mas já lhes digo que é algo importante e que devemos ouvi-lo. — Sirius respondeu. — Não se preocupe, Harry, conversarei pessoalmente com o Arthur e tentarei convencê-lo a autorizar a participação da Ginny nos rituais.

— Ok. — Harry se moveu constrangido sob todos os olhares curiosos. — Bem, agora que isso está decidido, podemos falar da horcrux encontrada. — Ele acrescentou ansioso para mudar de assunto. — Professor?

— Ah, sim. — Flitwick contou sobre o que aconteceu e todos ouviram encantados. — Como disse o Harry, Voldemort está em uma maré de azar.

— Como Dumbledore não descobriu algo assim? — Sr. Boot suspirou. — Um objeto tão escuro deixa uma marca e se essa escuridão foi direcionada para o cargo de professor de Defesa, a marca era evidente. Nunca lhe ocorreu fazer uma varredura em Hogwarts e descobrir como ou onde Voldemort agiu?

— Ele relutou em nos deixar trazer os quebradores de maldição do Ministério. — Serafina disse cansada. — Quando falamos em reforçar as alas e renovar as magias de proteção para os alunos, Dumbledore ficou muito incomodado, como se estivéssemos invadindo a sua casa. Felizmente, por causa do ataque a Caverna, ele não pode negar que a escola precisava de alarmes de emergência e assim, conseguimos verificar alguns encantamentos... a ponte, por exemplo, precisava de uma magia de proteção no parapeito, pois é um perigo algumas das crianças caírem no penhasco. No entanto, as alas, ele prometeu verificar por si mesmo e disse não confiar em ninguém para reforçá-las. O que é compreensível.

— Acho que podemos dizer com certeza que Hogwarts é a casa de Dumbledore. — Flitwick disse. — Infelizmente, apesar da boa notícia que é encontrar o diadema, Dumbledore anda muito silencioso, de um jeito misterioso e solene que não me agrada.

— Mas ele destruiu o diadema? — Sirius perguntou tenso.

— Sim, absolutamente. — Flitwick disse. — Ele me pediu que solicitasse ao Harry que nos emprestasse a sua adaga com a desculpa de examiná-la em benefício da curiosidade histórica. Então, na minha frente, ele a usou para destruir o diadema, o belo diadema de Rowena Ravenclaw... — Flitwick deu um suspiro triste. — Jamais perdoarei aquele verme pelo que fez a uma peça tão inestimável. Bem, a destruição do diadema não foi tão dramática quanto a do diário, mas também teve uma estranha reação.

— Reação? — Sr. Boot se mostrou curioso, como todos.

— Parecia prever que seria destruído e tentou exercer alguma influência sobre nós, como se quisesse nos convencer que destruir o diadema não era uma boa ideia ou que era um erro. — Flitwick disse. — Não era uma maldição, pois Voldemort parece ter confiado apenas no esconderijo para manter a sua horcrux segura.

— Era a alma dele, lutando. — Harry disse meio chocado. — Assim como o pedaço de alma influenciou a Ginny, esse também tentou influenciar vocês.

— Nós não usamos ou nos apegamos ao diadema, ainda que confesso que se fosse eu que manejasse a adaga... — Flitwick se mostrou envergonhado. — Minha relutância se mostrou maior, devido ao meu apego ao objeto de Rowena, claro.

— O que quer dizer que devemos ser muito cuidadosos quando encontrarmos outra horcrux, pois o pedaço de alma irá se aproveitar de qualquer fraqueza para tentar sobreviver. — Remus disse preocupado. — No entanto, nossa procura parece se mover lentamente, pois estamos muito ocupados, não sabemos quantas dessas horcrux Voldemort fez, o que são ou onde estão.

— Talvez ele só tenha feito duas, o diário, com a intenção de abrir a câmara secreta para um último golpe em Dumbledore e, assim, vencer a guerra. E o diadema, que ele escondeu em um local quase impossível de encontrar e, ao mesmo tempo, ironicamente, bem debaixo do nariz do diretor. — Sirius disse com uma careta. — Seria algo que Voldemort faria com um sorriso divertido naquela cara feia dele.

— Ele estava obcecado com a imortalidade e se era possível fazer duas, porque não três ou quatro. — Harry disse pensativo. — Acho que nossa investigação tem três aspectos diferentes e podemos dividi-los entre nós ou, entre vocês adultos, e nós ajudamos.

— Essa é uma boa maneira de investigar, dividir a equipe nas diferentes direções que a investigação nos leva. — Emily disse em tom de aprovação.

— Bem, quais são essas direções? — Serafina perguntou.

— Primeiro, algo que o Sr. Boot já tem feito, pesquisar sobre Tom Riddle. — Harry disse e o Sr. Boot acenou.

— Pedi a ajuda de Bunmi para encontrar o orfanato trouxa onde Riddle viveu, além de ter pesquisado tudo o que havia sobre ele no Ministério. — Ele disse. — Existe muito pouco ligado ao nome Tom Riddle, infelizmente e temo que acessar suas informações em Hogwarts atraia a atenção de Dumbledore.

— Dumbledore tem feito a sua própria pesquisa sobre Riddle, ele mesmo me disse, mas não deu qualquer informação sobre as suas descobertas. — Flitwick informou. — Qualquer coisa que ele compartilhar, eu os informo.

— E sobre os professores de Riddle? — Hermione perguntou. — Tem algum aqui em Hogwarts que pode ter tido Voldemort como seu aluno?

— Apenas Slughorn. — Serafina disse pensativa. — Na reunião do Partido, eu o ouvi dizer que foi professor da Sra. Clark na década de trinta, ela esteve presente em suas primeiras turmas.

— Sra. Clark nasceu em 1922... — Harry disse pensativamente e respondeu diante dos olhares curiosos. — Minha tia é uma grande fã dela há anos, vivia devorando as suas revistas e acompanhando a sua vida em notícias de fofoca. Acho que ela ficou muito chocada ao perceber que idolatrou uma bruxa por todos esses anos.

— Bem, se estamos corretos com a matemática, Slughorn foi o professor e o chefe de casa de Tom Riddle. — Remus disse com um olhar brilhante. — Ele pode nos dar algumas informações sobre Riddle como estudante e o que ele fez quando se formou.

— Eu posso perguntar a Slughorn o que ele se lembra. — Harry disse se inclinando para frente. — Nós nos tornamos amigos ou quase isso, então não seria estranho eu mostrar curiosidade pelo assassino dos meus pais. Mas se vocês adultos o questionassem pareceria mais oficial, certo?

— É uma boa ideia. — Flitwick disse. — Também não seria estranho que eu acessasse as informações de Riddle aqui da escola, pois Dumbledore compreenderia o meu interesse, afinal eu sei quem é o Riddle.

— Ok. Essas são boas estratégias. Quais as outras duas direções, Harry? — Emily perguntou.

— Como se faz essas horcruxes? — Harry perguntou e o silêncio imperou nas duas salas.

— Minha família goblin não disse como e nem sei dizer se eles sabem, sinceramente. — Flitwick respondeu.

— Isso é importante? Nós já sabemos como destruí-las, isso não é o suficiente? — Sirius opinou.

— Conhecimento é importante, principalmente quando estamos falando de uma magia negra tão perigosa e terrível. — Emily disse e os outros acenaram.

— Seria bom descobrir como eles são feitos, se é possível fazer muitas, quer dizer, Riddle descobriu sobre isso em algum lugar. — Hermione disse. — Slytherin lhe contou sobre a possibilidade de alcançar a imortalidade com uma horcrux, mas não o ensinou a fazer, certo?

— Sim. — Harry acenou, pois Slytherin lhe garantiu que não sabia como fazer uma horcrux. — Riddle me disse que aprendeu a como fazer o diário em livros da área restrita da Biblioteca de Hogwarts e acredito que seria importante saber o que ele leu nestes livros.

— Eu posso verificar a Biblioteca. — Flitwick disse. — Acredito que isso não atrairia a atenção, mas imagino que a essa altura, Dumbledore já terá retirado qualquer livro sobre esse tema de lá.

— Se for verdade, o senhor pode pedir que ele lhe deixe ler o livro. — Hermione disse agitada de ansiedade. — Se Dumbledore permitir, eu não me importaria de pesquisar com o senhor o conteúdo, professor.

— Eu poderia verificar se na biblioteca Black tem livros sobre esse tema e, talvez, procurar no mercado negro. — Sirius sugeriu, mas houve protestos negativo na mesma hora.

— Você é uma figura pública agora, Sirius, se for visto, fotografado ou se o mero boato se espalhar de que está envolvido com o mercado negro, isso pode trazer muitos problemas para os nossos objetivos políticos. — Sr. Boot apontou severo. — E se estiver comprando livros de magia negra, isso causará um escândalo enorme!

— Ok, ok, entendi, péssima ideia. — Sirius disse levantando a mão em rendição. — De qualquer forma, se a Biblioteca de Hogwarts e Black não tiverem nada sobre o assunto, eu comerei o meu chapéu.

— Você não tem um chapéu. — Terry apontou com o cenho franzido e todos riram.

— Eu empresto o meu. — Harry disse rindo ao pensar em ver o padrinho comer o seu chapéu da escola.

— Ah! Almofadinhas come qualquer coisa! — Sirius riu divertido.

— Ok. Qual a terceira linha de investigação, Harry? — Perguntou Emily depois de parar de rir.

— Vocês não acharam curioso em qual objeto Voldemort colocou sua segunda horcrux? — Harry perguntou lentamente.

— O diadema de Ravenclaw? — Hermione respondeu com uma pergunta.

— O diadema perdido de Rowena Ravenclaw. — Harry disse sorrindo.

— Perdido? Como assim, perdido? — Emily se inclinou para frente curiosa e confusa.

— A história do diadema que nós Ravenclaws conhecemos e compartilhamos diz que Rowena criou o diadema com uma magia especial e que, ao usá-lo, o bruxo se torna mais sábio e inteligente. — Flitwick contou. — Quando ela adoeceu ou pouco antes disso, Rowena se isolou em sua torre e só foi vista por seu elfo doméstico pessoal por meses e meses. Ela recebeu apenas uma visita durante esse período, a do pretendente de sua filha, o Barão de Norwich, que recebeu o seu pedido moribundo de encontrar Helena Ravenclaw antes da morte da mãe. Não há relatos de porque elas estavam brigadas ou se fizeram as pazes, mas pouco depois, Rowena morreu e o diadema, que se acreditava estar em seu poder, tinha desaparecido. Ele jamais foi encontrado ou visto por um bruxo vivo, por isso, é chamado de o Diadema Perdido de Ravenclaw.

— Eu conheço essa história desde a minha primeira semana em Hogwarts, Penny nos contou. — Harry disse e Terry acenou pensativo. — Assim, acredito que isso nos diz muita coisa sobre Voldemort.

— Absolutamente. — Emily disse empolgada. — E nos dá uma ideia do que procurar caso tenhamos a convicção de que ele fez mais do que duas horcruxes!

— Espera... — Sirius disse confuso e espelhou a expressão dos outros. — Eu não acompanhei.

— Pensem! Não estamos falando de um objeto qualquer, mas de algo que pertenceu a um dos fundadores de Hogwarts e que esteve perdido por quase mil anos. — Harry disse. — Acreditam que Riddle simplesmente tropeçou no diadema?

— Claro que não! Ele deve ter procurado por ele durante anos! — Emily acrescentou. — O que significa que o objeto onde Riddle colocar o pedaço de sua alma era importante para ele!

— Ele é assim, se acha o maior e mais poderoso bruxo que já existiu e jamais consideraria fazer uma horcrux, o símbolo do seu poder e imortalidade, em uma lata velha qualquer. — Harry explicou. — E, se ele teve tanto trabalho para encontrar o diadema perdido, isso me diz que Riddle queria objetos não apenas valiosos, mas representativos de poder e magia. O que seria mais representativo do que objetos criados ou pertencentes aos fundadores de Hogwarts?

— Nossa! — Hermione disse chocada. — Então, ele poderia ter feito 4 horcrux, além do diário! Uma para cada fundador!

— É uma boa teoria. —Remus disse pensativo. — Precisamos descobrir quais objetos os outros fundadores tinham ou criaram.

— Mas porque fazer o diário? Quer dizer, esse objeto não era particularmente especial. — Falc apontou.

— Mas era importante, pois tinha o conhecimento e objetivo de abrir a câmara secreta e usar a basilisco para matar e, talvez, acabar com a guerra. — Harry falou da sua teoria de que Voldemort planejava usar o diário como um cavalo de Tróia. — Isso tornava o diário especial e, igualmente, a horcrux mais vulnerável, pois poderia ser descoberta e destruída.

— Então, ele decide fazer outra e esconder em Hogwarts, em uma sala secreta que a maioria das pessoas não tem conhecimento e onde aqueles que a encontram acidentalmente e escondem algo ali, não voltam para pegar, porque não sabem como reencontrar a sala. — Flitwick disse. — No entanto, se supormos que ele queria fazer mais de duas, por precaução, afinal, o diadema estava bem perto de Dumbledore, podemos acreditar que sua escolha seria usar outros objetos dos fundadores.

— Ele com certeza gostaria de usar um objeto de Slytherin, seu antepassado, o melhor dos quatro fundadores, isso seria mais do que simbólico, seria um direito dele, afinal, tudo o que pertenceu a Salazar é seu por direito. — Harry disse ironicamente.

— Riddle teve acesso a inúmeros objetos de Slytherin e a câmara secreta deveria ser inexpugnável, acreditam que algumas das armas que o Harry levou para Stone Waterfall poderia ser uma horcrux? — Hermione perguntou de olhos arregalados.

— Claro! — Sirius exclamou e todos se moveram ansiosos. — Como descubro se é uma horcrux ou não?

— Por isso precisamos dos livros sobre o tema, aposto que eles devem ter a informação. — Serafina apontou.

— Podemos diagnosticar a presença de magia negra e depois levar o objeto identificado para Dumbledore, ele saberá com certeza. — Flitwick disse animado. — Posso me encontrar com você amanhã à noite, Sirius!

— Mesmo se não estiver lá, Voldemort poderia ter levado e escondido em outro lugar, assim pergunte a Sal se algo está faltando, Sirius. — Harry orientou. — Sinceramente, não acredito que ele deixaria outra horcrux em Hogwarts, muito menos em um lugar que em teoria acabaria sendo acessado por um aluno possuído pelo diário. Seria como deixar duas horcrux no mesmo barco e um barco meio frágil.

Houve acenos, mas não apagou a animação com a ideia de encontrar outra horcrux.

— Ok. Então temos que pesquisar objetos dos fundadores, Gryffindor, Hufflepuff e Slytherin, caso estejamos errados sobre os objetos que estavam na câmara secreta. — Remus apontou. — Se Hogwarts não poderia abrigar duas horcrux, onde ele esconderia as outras? Acho que isso nos leva a outra linha de investigação. Certo?

— Isso está conectado ao que descobrirmos sobre Riddle, eu suponho. — Emily disse. — Quando investigamos alguém, descobrimos o que é importante para essa pessoa e porque, ou seja, o que aconteceu para que um local ou um objeto fosse importante para ela.

— Voldemort, como um herdeiro de um dos fundadores e com sua arrogância, jamais escolheria objetos de pouco valor para serem suas horcruxes. Assim, porque não algo que simbolize o seu direito sobre Hogwarts? Sua importância e poder? — Harry explicou e todos acenaram, pois fazia sentido. — E porque não guardar uma horcrux no maior símbolo de magia do mundo mágico? Hogwarts? E também, como cresceu em um orfanato, provavelmente a escola foi sua primeira casa.

— Sabe o que acredito que nos ajudaria? — Emily se levantou e conjurou uma lousa branca e uma caneta de tinta azul. — Um cronograma sobre a vida dele, "Tom Riddle/Voldemort". — Ela escreveu em cima do grande quadro. — Sabemos que ele recebeu sua "Carta de Hogwarts aos 11 anos". — No final da lousa ela continuou. — E que, "Atacou os Potters em 31/10/1981".

— Isso é uma boa ideia. — Harry disse com os olhos brilhando pela organização da investigação. — Aos 16 anos, Riddle abriu a câmara secreta, matou Myrtle Warren e incriminou Hagrid. — Ele informou.

— Temos uma data? Quando ele nasceu? — Emily perguntou ao escrever a informação no meio do quadro.

— Tom Marvolo Riddle nasceu em 31 de dezembro de 1926. — Sr. Boot informou. — Eu consegui no Departamento de Educação um relatório simples sobre ele, mestiço, mãe bruxa e pai trouxa. Mãe: Mérope Gaunt, filha de Marvolo Gaunt e Miréia Gaunt, além de um irmão, Morfinus Gaunt que morreu em Azkaban. Pai: Tom Riddle, trouxa. Não existe mais informações sobre ele, acredito que teríamos que ir para o mundo trouxa para descobrir.

Emily escreveu todas as informações no alto do quadro e acenou pensativa.

— Eu posso investigar no mundo trouxa, tenho contatos e conhecimento. — Ela disse tranquilamente.

— Riddle disse que matou o pai e os avós, limpou sua linhagem. — Harry disse. — Deve ter feito isso aos 16 anos, pois foi quando fez a primeira horcrux no diário que era quem tinha essa informação.

— Ok. Então, em 1943, ele matou a família trouxa e abriu a câmara secreta. O que veio primeiro? — Emily especulou, mas ninguém soube dizer. — Qual o mês em que a menina Warren foi morta?

— Junho. Ela tinha 14 anos. — Harry disse sombrio e Emily escreveu.

— Ele tinha acabado de matar pela primeira vez, aposto que procurava a câmara secreta há anos e encontrou naquele ano, brincou com a basilisco e, depois de incriminar o Hagrid, deixou a escola para o verão. — Emily disse. — Faz sentido que então, ele procurou sua família trouxa e os matou. Verão de 1943, três mortos, Riddle. Não dever ser difícil de descobrir algo sobre isso.

— Ele pensou que sua mãe, que morreu no parto era trouxa e seu pai o bruxo, acho que por isso Riddle estava tão obcecado em encontrar as suas origens. — Harry disse e Emily escreveu. — Quando ele descobriu que a sua mãe, que morreu tão facilmente, era quem tinha magia, Riddle se tornou obcecado com a imortalidade.

— E ele teve mais dois anos em Hogwarts para descobrir sobre como se tornar imortal. — Remus apontou.

— Acho que não. — Harry franziu o cenho confuso. — Em junho de 43, Riddle terminava o quinto ano, mas sua lembrança no livro, tinha dezesseis anos. — Ele olhou para Flitwick. — O senhor acha que ele parecia mais velho?

— Não. — Flitwick reconheceu e acrescentou. — Mas ele só faria 17 anos no final de dezembro, então é possível...

— Que ele descobriu como fazer uma horcrux em 4 meses? — Emily terminou a frase pensativa. — 16 ou 17 anos pode não ter muita diferença fisicamente...

— Em meninas, talvez, mas com os garotos, faz muita diferença. — Flitwick disse. — Eles não apenas atingem sua magia adulta, como passam por um último estirão e desenvolvimento muscular. Acredite, eu já vi isso acontecer centenas de vezes.

— Quatro meses parece pouco, mas talvez ele já estivesse pesquisando antes e quando voltou para o sexto ano, Riddle apenas fez a horcrux diário. — Sirius disse.

— Bem, não sei quando ele fez o diário, mas ele já tinha matado os Riddles e a Myrtle, além de incriminar o Hagrid. — Harry disse. — Afinal, eu ouvi essas informações do próprio Riddle ou do pedaço da alma que estava no diário.

— Harry está certo, precisamos saber como ele fez, isso nos dará algumas respostas. — Remus disse e ninguém discordou.

— Ok. Vamos dividir entre nós o que cada um investigará. — Emily disse. — Sirius e o Sr. Boot podem continuar a investigar sobre Riddle e eu farei a parte trouxa da investigação, sem problemas.

— Eu tentarei descobrir sobre as horcrux. — Flitwick disse. — E também pegarei as informações escolares de Riddle.

— Eu posso investigar sobre os objetos mágicos dos fundadores. — Serafina disse.

— Eu gostaria de ajudar com isso. — Remus disse.

— Eu também não me importo de fazer algumas leituras históricas. — Falc disse com uma careta que fez Terry e Serafina rirem.

— Eu também não! — Hermione se prontificou animada. — Terry e eu podemos pesquisar sobre os fundadores na biblioteca de Hogwarts!

— Eu ajudarei. — Neville disse com a mesma expressão do Falc.

— Eu também e conversarei com o Slughorn. — Harry disse e todos acenaram com a divisões justas e inteligentes das tarefas.

— Continuando, tenho que dizer que estou preocupado com o fato de que alguém como Runcorn encontrou o diadema. — Flitwick disse. — Se ele desconfiar de que Dumbledore minimizou ou omitiu fatos, quer dizer, agora que a horcrux foi destruída, o diadema está irrecuperável.

— O que aconteceu quando o diretor destruiu a horcrux? — Hermione perguntou curiosa.

— O diadema pareceu vibrar como se soltasse um grito de dor, então um líquido espeço, negro e ocre foi expelido do "ferimento". — Flitwick contou e todos fizeram caretas. — Runcorn e seu Departamento estão esperando pelo diadema intacto, com as maldições que tornaram possível que Runcorn o detectasse na Sala Precisa e que mantinha o cargo de professor de Defesa amaldiçoado.

— Dumbledore encontrará uma desculpa. — Sr. Boot disse tranquilo. — Dirá que ao tentar compreender as maldições, um gatilho foi acionado que fez o diadema explodir ou algo assim. Mas você está certo em se preocupar que isso levante perguntas desse rapaz.

— Runcorn não me pareceu suficientemente inteligente para imaginar ou acreditar que Dumbledore está envolvido em alguma trama perigosa ou importante. — Sirius disse. — E um objeto escuro explodir ao ser examinado não é tão incomum, o diretor pode até dizer que felizmente era ele quem manuseava o diadema ou alguém poderia ter sido ferido gravemente.

— Não gosto disso. — Harry disse mais preocupado do que os outros. — Não sabemos quantas, o que ou aonde estão as horcruxes e se Voldemort cheirar que sabemos sobre elas e estamos destruindo-as...

— Se isso acontecer, a única maneira de terminar com a guerra é destruindo o seu corpo outra vez ou o aprisionando para sempre. — Emily disse sombria. — Você está certo, Harry, talvez matá-lo seja a melhor opção, mas poderá não ser uma opção.

— Precisamos dar mais atenção a isso. — Sr. Boot disse com firmeza. — Estivemos ocupados e arrumando mais motivos para estarmos ocupados, prometendo nos dedicar as buscas das horcruxes, mas devemos fazer isso com maior intensidade.

— Como uma missão. — Emily acenou em acordo. — Nós temos que encarar isso como uma missão, precisamos de metas, comprometimento e resultados. No reuniremos e compartilharemos nossas descobertas, sem mais enrolação.

Todos acenaram concordando.

— Mais alguma coisa? — Serafina perguntou, pois estava ansiosa para ir ver se Adam estava dormindo bem.

— Sim. — Harry disse e rapidamente pediu ao Sr. Falc que providenciasse a viajem de Firenze para o Clã Canadian.

— Claro. — Falc disse e fez anotações. — Deve haver algumas burocracias e custos, claro, mas nada absurdo. Providenciarei tudo para o início do verão. Como estão indo as aulas de arco e flecha?

— Muito boas. — Harry disse sorrindo com sinceridade pela primeira vez. Ele tirou o arco invisível das costas e mostrou a todos, que exclamaram de espanto.

— Que grande!

— E lindo!

— Gyllen é o seu nome e pertenceu ao chefe do Clã Odda, Jun... — Harry contou a história do clã massacrado e todos pareciam espantados e chocados com a verdade.

— Terry tem razão, a ICW conta essa história de maneira diferente. — Emily informou.

— Mas deve haver uma maneira de pesquisar e provar a verdade! — Hermione protestou. — Não podemos contar a história mais conveniente, temos que saber sobre os erros cometidos e assim aprender, para não os cometer outra vez.

Ninguém discordou e Flitwick falou sobre o trabalho de pesquisa realizado por Aaron, que consistia em descobrir informações e magias antigas, além de criar novas magias para os seus livros. Hermione e Terry pareciam fascinados e Sirius foi quem se encarregou de mudar de assunto.

— Harry, como o pessoal está reagindo as novas roupas? Principalmente as camisetas? — Sirius perguntou sorrindo ansioso.

— O que? — Harry devolveu perdido, o que levou todos no escritório de Flitwick a lhe encararem surpresos.

— As camisetas... — Sirius franziu o cenho. — Lembra-se, nós lançamos as roupas para a primavera e o verão, as meninas da Equipe Covil estão usando algumas peças especiais, como as camisetas das casas de Hogwarts. Para promovê-las! Você quem deu a ideia!

— Oh... — Harry bagunçou os cabelos tentando disfarçar o constrangimento. — Claro, eu me lembro, mas não vi nada fora do comum, acho que todos gostaram...

— Está brincando? — Neville o olhou espantado. — As meninas não falaram de outra coisa a semana toda! Sprout até tirou pontos de Hannah e Susan, porque elas não paravam de falar na aula de Herbologia!

— Ei! Os meninos também ficaram animados com as camisetas! — Hermione protestou. — Sirius, as roupas estão senso o maior sucesso, as meninas estão loucas pelas jaquetas de couro curtinhas e as camisetas das casas. E os meninos estão encomendando camisetas aos montes e adoraram aqueles shorts jeans compridos com bolsos gigantes, além dos jeans rasgados e desgastados.

— E os tênis! — Terry disse. — Juro que só Lockhart foi mais falado do que os tênis rosa e verde neon!

— Nossa parceria com a World Shoes foi certeira! Eu sabia! — Sirius disse e Harry tentou fingir que se lembrava de ver alguém em Hogwarts com tênis rosa neon.

— Lockhart? — Emily perguntou confusa.

— O professor de Defesa que fugiu? — Falc franziu o cenho.

— O que? — Emily estava chocada. — O professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, fugiu? Porque?

— Pensei que o Conselho de Governadores tivesse sido informado por Dumbledore. — Terry disse. — Lockhart não fugiu, nós pensamos isso porque ele era um covarde...

— Terry! — Hermione o repreendeu.

— Desculpa, é estranho não poder mais falar a verdade sobre Lockhart só porque ele pode estar morto. — Terry se defendeu.

— Morto? — Serafina se mostrou chocada.

— Então, na segunda-feira de manhã, antes da primeira aula... — Terry contou sobre a Sra. Lockhart e o desaparecimento de seu filho.

— Ele fez as malas, saiu e nunca mais foi visto? — Emily parecia interessada. — Vocês souberam quais as linhas de investigação? — Apesar de falar com todos, ela encarava o Harry, que a ignorou e, felizmente não precisou responder, pois uma empolgada Hermione logo se lançou em uma miríade de possibilidades do que poderia ter acontecido com Lockhart.

Harry tentou ignorar o estômago embrulhado com a conversa e tentou ouvir o que eles diziam, pois não poderia fugir para dentro da sua mente como fez durante a semana.

— Tem um ninho de acromântulas em Hogwarts? — Emily parecia assombrada. — E eu achei que já tinha escutado de tudo.

— Eu nunca mais olharei para aquela floresta ou para uma árvore sem me lembrar daquelas aranhas gigantescas. — Flitwick disse tristonho.

— Se a maldição que Voldemort colocou no cargo agiu sobre Lockhart, é possível que ele esteja morto e acromântulas não deixariam um corpo para trás. — Remus disse. — Seu veneno derreteria os ossos, pois para elas todo o corpo humano é nutritivo.

— Huhghhh... — A maioria gemeu de nojo e Harry tentou pensar em algo para dizer, pois não queria que seu silêncio chamasse a atenção.

— Leda Pilnner, nossa companheira do Covil me disse que está vivendo no Orfanato dos Abortos agora e que lá é melhor do que o orfanato trouxa onde cresceu. — Harry disse bruscamente e sua mudança de assunto abrupta atraiu olhares confusos. Os adultos pareceram perceber que o Harry parecia mais magro, estranhamente pálido, com a pele macilenta e suada. — Ela está contente, professor e acho que gostaria de viver por lá até a maioridade.

— Bem... — Flitwick hesitou desconcertado. — Não sei se é legalmente possível que crianças bruxas fiquem no orfanato fundado para acolher crianças sem magia. Eu pensei nisso como uma solução temporária durante o verão, mas eu pretendia encontrar um lar para Leda.

— Bem, podemos ver se é legal ou como tornar isso legal. — Harry disse. — Leda disse que é bom estar com pessoas que sabem que ela é uma bruxa e, assim, ela não precisa fingir ou mentir. Bem, Leda também me disse que os bruxos sem magia que vivem lá no orfanato encontram dificuldades para se adaptarem ao mundo trouxa e conseguirem trabalhos, bons trabalhos ou estudar. Então, pensei que a GER e nós, poderíamos contratar alguns deles para trabalhos sem magia, como estamos fazendo com a contratação de trouxas de famílias bruxas. E, podemos lhes oferecer bolsas de estudos, assim, eles podem ter uma vida boa, apesar de não terem magia ou contato com suas famílias.

Todos acenaram concordando com suas ideias.

— São ótimas ideias, Harry... — Serafina disse, mas se interrompeu. — Você está bem? Parece um pouco pálido...

— Estou bem. — Harry disse apressadamente e a mentira estava clara. — Apenas cansado, foi uma longa semana e não descansei tanto nas férias de páscoa.

— Ok... — Serafina olhou para os outros na sala e não viu expressões preocupadas, pois mesmo que a desculpa de estar cansado já não tranquilizasse Terry, Hermione e Neville, eles não iriam entregar o amigo. — Então acho que podemos encerrar a reunião e descansar, porque a próximas semanas não serão mais fáceis.

Enquanto todos se despediam, Falc pediu para falar com o Terry e Harry lhe emprestou espelho antes de ir para o seu quarto. Assim que entrou, Ffrind pulou nas suas pernas e Harry se agachou rindo e acariciando o seu pelo avermelhado.

— Olá, garoto, teve um bom dia hoje? — Harry aceitou seus beijos e lambidas, mostrando o seu amor e alegria pelo filhote. — Ainda bem que tenho você, torna os meus dias mais fáceis e afasta os pesadelos. Obrigado, Ffrind.

A semana teria sido muito pior se Harry não voltasse para o seu quarto e encontrasse o seu companheiro a sua espera. Às vezes, Edwiges também estava em seu quarto, pois Harry deixava a janela aberta e ter a companhia dos dois amigos o ajudava a dormir melhor. Ffrind estava se adaptando muito bem a Hogwarts, os Ravenclaws o adoraram e não se cansavam de lhe dar atenção quando ele descia para a sala comunal. Flitwick fizera uma portinhola na porta do seu quarto, assim, Ffrind poderia se movimentar pelo resto da torre sem problemas, ainda que Harry lhe dissera para não entrar no quarto de ninguém e a porta mágica o impedia de sair para o resto do castelo.

Pela manhã, Harry levava Ffrind para treinar com ele na Caverna ou o deixava correr pelo jardim, mas durante o tempo de suas aulas, ele ficava na torre onde era mais seguro. Ginny sugeriu levá-lo para os treinos de quadribol a noite e Harry pretendia fazer isso nesta semana.

Depois de se arrumar para dormir, Harry fez sua meditação e tentou acreditar que aquela semana seria melhor e que ele poderia deixar Lockhart para trás, mas um novo pesadelo o fez perceber que a culpa não poderia ser descartada ou escondida nos recantos da sua mente para sempre.

Na manhã seguinte, Harry finalmente percebeu que algumas pessoas estavam usando tênis rosa e verde neon. E que algumas camisetas das casas pipocavam pelo Grande Salão, mas McGonagall enviou todos os que encontrou por seu caminho para colocarem o uniforme correto para as aulas.

Terry lhes contou sobre o que aconteceu com o Adam e todos se mostraram preocupados e se dispuseram a escrever cartas de apoio a doce garoto. Fred e George decidiram enviar alguns fogos de artifícios e bombas de bosta para que ele pregasse algumas peças na sua escola trouxa. Hermione acho que era uma péssima ideia, mas Terry apenas deu de ombros, dizendo que dificilmente o Adam faria algo assim, talvez a Ayana roubasse as bombas de bosta e as usasse, mas sua irmã nunca seria pega.

Na quinta-feira, as notícias chegaram por Sirius, que por espelho chamada contou que a primeira transformação dos lobisomens em Stronghold correra bem. Houve algumas escaramuças, muita correria, perseguições, algumas mordidas e arranhões, mas de modo geral, os lobisomens se comportaram como Remus previu. Eles se sentiam seguros na nova casa e poderosos com uma matilha tão grande, cheio de companheiros fortes e hábeis.

Os humanos tinham sido retirados da ilha, mesmo que alguns sugerissem que eles poderiam ficar trancados no castelo. Essa ideia foi descartada, pois alguns lembraram que não era um ou dois lobisomens soltos do lado de fora, era mais de 3 mil.

Sirius também contou que os humanos adultos, como Caspiana, pediram ajuda do Sirius para se tornarem animagus, pois assim eles poderiam ficar com suas famílias. Harry ouviu de Sirius que ele pretendia fazer o ritual animagus verdadeiro e, então, estar pronto para ajuda-los e aos lobisomens. O correu ao Harry, que talvez não fosse ele que ajudaria a "Grande Matilha", mas decidiu não dizer nada, afinal, não havia como saber o que aconteceria depois do ritual de ligação.

Na sexta-feira, os convites para o Baile Potter/Black chegou aos convidados de Harry que estavam em Hogwarts. Incluindo entre eles estavam os professores, o diretor, Madame Pomfrey e alguns entre os alunos que eram amigos ou colegas, cujas famílias Harry não conhecia, mas incluía no convite. Sirius, por sua vez, convidaria as famílias da alta sociedade mágica, além de membros do Partido dos Justos, do Ministério e da Suprema Corte, além de seus amigos e colegas. O assunto do fim de semana entre os alunos se concentrou no Baile e Harry ficou particularmente feliz com a distração de todos.

Nas semanas seguintes o assunto de Lockhart ficou para trás, a nova coleção de roupas ganhou muito destaque entre os alunos, pois até mesmo os puros gostavam muito de algumas peças estilizadas. A abertura da Academia Body & Magic ganhou uma capa especial no Profeta e também causou um alvoroço em Hogwarts, assim como as primeiras ações do Partido dos Justos, que entrou com uma solicitação de prestação de contas que justificasse os aumentos de impostos abusivos do Ministro Fudge.

Enquanto isso, os dias passaram voando em Hogwarts com todas as aulas e deveres de casa exigentes que eram à maneira dos professores forçá-los a perceber que os exames estavam ao virar da esquina e ninguém poderia mais adiar os estudos extras e revisões do conteúdo ensinado ao longo do ano. Harry ficou particularmente sobrecarregado, mas não se importou nem um pouco. Ele gostava do seu treinamento com Flitwick e das aulas de Defesa Avançada com Hermione, Terry, Neville, Trevor e Ginny. As outras aulas extras e revisões se encaixaram naturalmente em suas tardes e eles passaram muito tempo na sala de estudo anexa à Biblioteca. O treinamento físico continuou pelas manhãs, mas 3 vezes por semana, Ginny e Harry se encontravam com Firenze na Floresta às 5 horas da manhã para o treinamento de arco e flecha. Esses se tornaram seus momentos favoritos da semana, pois ele e Ginny se tornavam cada vez melhores arqueiros e estavam começando a se integrarem em simulações de ataque e defesa. Com muita dificuldade, Harry se esforçava para não a proteger excessivamente e vê-la como sua parceira de luta, afinal, ele melhor do que ninguém sabia que Ginny era uma guerreira feroz e corajosa.

Hermione mergulhou completamente nos estudos, decidida a recuperar o tempo perdido em que ficou petrificada e terminar os exames como a melhor da turma mais uma vez. Com exceção dos treinos na academia e as aulas de Defesa Avançada com o Harry, ninguém veria Hermione longe de seus livros, revisando incansavelmente e relendo cada parágrafo até memorizá-los.

Terry, como um bom Ravenclaw não agiu muito diferente, mas sem a obsessão de ser o melhor do ano, o que o tornava uma companhia mais agradável. Ele ainda passava tempo com os amigos, se divertia ou assistia aos treinos de quadribol do Harry e do time da Ravenclaw com Ffrind sentado ao seu lado. Ele também se dedicou, junto com os gêmeos, a ensinar aos membros do Covil os feitiços certos para se protegerem de espiões e, como sempre, ele se mostrou um bom professor. O pessoal preferia aprender ou tirar dúvidas com ele ou com o Harry, pois Hermione era particularmente impaciente nestes períodos estressantes.

Neville e Harry passaram algumas horas, aos fins de semana, na estufa, terminando o projeto de adubação com música e eles tiveram uma visita especial que os ajudou a gravar as Hecatitas Especiais que seriam enviadas paras as estufas de Stronghold.

— Incrível quantos tipos diferentes de músicas você tem, Fawkes. — Neville disse acariciando suas penas vermelhas brilhantes. — Obrigado por isso, acho que provaremos em definitivo o poder da música para o crescimento mais rápido dos alimentos, das ervas e plantas, e sem perder seus nutrientes ou elementos naturais.

Fawkes trilhou suavemente e continuou a comer as nozes que eles lhe trouxeram da cozinha.

— Ainda precisamos terminar os relatórios da nossa pesquisa e observações iniciais. — Harry disse ao fotografar os pés de legumes e verduras e anotar as medidas em seu caderno. — Nós temos em média um crescimento 15% maior e foram apenas 35 dias desde o plantio. Aposto que colheremos os alimentos que estão ouvindo as músicas de Fawkes constantemente pelas Hecatitas, com semanas de antecedência. Uau! Obrigado, Fawkes!

Ela voltou a trilhar e o encarou com carinho.

— Bem, teremos apenas esses testes iniciais neste relatório, mas no ano que vem poderemos ampliar os testes. — Neville disse enquanto fazia suas próprias observações. — Poderemos testar o crescimento dos alimentos com outras músicas e não só a música da fênix e vamos precisar fazer testes de sabor e nutrição.

— Bem, acho que estamos no prazo. — Harry disse pensativamente. — No primeiro ano do projeto nos concentramos mais na pesquisa teórica e no segundo, iremos para a parte prática. O bom é que estamos adiantados e entregaremos o relatório para o Flitwick dentro do prazo e bem antes dos exames.

— E antes do jogo. — Neville falou com um sorriso. — Agora você tem mais tempo para treinar para a final.

— Isso também. — Harry disse, mas seus pensamentos se voltaram para o treinamento de arco e flecha com Firenze e Guinevere.

Neville, entre os quatro amigos era o mais tranquilo e bem-humorado. Ele não estava preocupado com ser o melhor da turma ou ter as melhores notas, apenas ser o melhor de si mesmo e Neville não tinha dúvidas de que suas notas desse ano seriam melhores do que a do ano passado.

Ginny, por outro lado, dava pouco importância as notas, seu foco era em treinar Defesa Avançada com afinco, melhorar como arqueira e como buscadora. Seus objetivos nos exames eram ter boas notas e seguir para o segundo ano, assim, ela separou algumas horas do seu dia para revisões, mas com certeza não perderia um segundo a mais do que o necessário com isso.

O pessoal do Covil estava particularmente empenhado em aprender os feitiços antiespionagem e treinarem da Caverna. A última conversa dura com o Harry e a satisfação de saberem que os lobisomens estavam em Stronghold e em segurança, lhes deram a determinação e motivação extras para se empenharem ainda mais. Mesmo Dean, Seamus e Ron, pareciam menos distraídos, ainda que o último reclamasse sem parar dos deveres de casa sem fim dos professores e como sua mão doía de tanto escrever.

Os gêmeos, além das atribuições do Covil e a preparação para os exames do quarto ano, estavam mergulhados em seus trabalhos no laboratório. O comunicador da MagiTec, enquanto muito importante, foi deixado de lado (pelo menos até o verão), para que eles se dedicassem em construir o Relógio Maroto, onde o mapa dos marotos seria introduzido.

Terry, Hermione e Harry ajudavam sempre que possível, mas infelizmente isso não acontecia com frequência. No entanto, logo depois da reunião do Covil onde a colaboração de todos foi solicitada, alguns dos mais interessados ou estudiosos apareceram para ajudar. O primeiro deles foi uma grande surpresa para os irmãos ruivos.

"A batida na porta irritou Fred que estava bem no meio de uma experimentação. George estava nos caldeirões e não poderia parar de mexer as poções ou ajustar as temperaturas dos metais derretidos.

Bosta de dragão! — Ele murmurou antes de deixar seu trabalho e ir até a porta. — Senha?

Madona. — A voz respondeu do outro lado e Fred abriu a porta se perguntando quem era.

O que você faz aqui? — Ele perguntou chocado.

O que você acha, Weasley? — Daphne Greengrass respondeu com fria ironia. — Vim bater papo sobre a início do Campeonato de Quadribol na semana que vem.

Ela entrou sem esperar convite e colocou uma bolsa cheia de livros sobre a primeira mesa de trabalho que encontrou.

Ei! Cuidado! Temos muitos trabalhos e experimentos importantes por todos os lados! — Fred se apressou em tirar a bolsa da mesa. — Essa mesa é de experimentos, para livros e anotações, cada um tem sua escrivaninha, pois o Harry não quer acidentes!

Bom. — Ela disse e caminhou até uma mesa cheia de pergaminhos. — Eu ficarei com essa. Traga os meus livros aqui.

Essa é a minha mesa e eu não sou seu servo, princesa, assim pegue você mesma. — Ele disse lhe estendendo a bolsa, mas Daphne apenas levantou a sobrancelha e lançou um olhar gelado em retorno. Fred não cedeu e soltou a bolsa no chão, que caiu com um estrondo e atraiu a atenção do George, na outra sala.

O que acon... — Ele viu Daphne. — O que você faz aqui?

Estou vendo porque todos os Weasley são classificados na Gryffindor. — Daphne disse impaciente enquanto flutuava a sua bolsa para a mesa do Fred. — Obviamente, estou aqui para ajudá-los com o projeto do relógio com o mapa mágico. Quero saber tudo o que fizeram até agora, o que tentaram, qual o raciocínio por trás das tentativas e o que planejam testar a seguir.

Fred se engasgou por sua arrogância e se preparava para expulsá-la, quando George falou mais calmamente.

Olha, nós temos um sistema, procedimentos de segurança e experimentos que não podem ser perdidos enquanto lhe explicamos o que estamos fazendo. — George disse. — Aqui tem um livro com um registro detalhado do que já fizemos, pois, o Harry quer publicar no futuro. — Ele pegou um livro de capa vermelha. — Esses são os experimentos do Relógio Maroto, tudo em detalhes, pois fazemos relatórios todos os dias. — George mostrou os livros de capa dura azul e outro laranja. — Esses são os livros da MagiTec e do meu irmão e meu, para pesquisas pessoais, assim, nada de tentar ler, pois são confidenciais.

O que é MagiTec? — Ele perguntou curiosa.

Uma empresa que o Harry fundou para pesquisas mágicas com itens trouxas. — Fred respondeu. — Nós somos sócios e paramos a maior parte das experiências para nos concentrarmos no Relógio Maroto, mas algumas coisas ainda precisamos fazer ou perdemos materiais caros. Aqui, neste livro você pode ler o registro do nosso trabalho, olhar e perguntar, mas não toque em nada sem saber o que é, pois somos muito rígidos com a segurança.

Não queremos olhos sobre o que estamos fazendo, por isso não podemos ter acidentes ou explosões. — George disse e voltou para os caldeirões.

Daphne o seguiu e encontrou uma sala com dez caldeirões de tamanhos diferentes em cima de fogareiros. Cada um tinha uma substância diferente e Daphne não reconheceu a maioria pela cor ou pelo cheiro. Em um dos cantos da sala, perto de uma janela, havia uma cama improvida e ela percebeu que alguém dormia por ali todas as noites para vigiar os caldeirões borbulhantes.

Incrível. — Ela disse bem baixinho, apesar de sua expressão ainda mostrar indiferença. — Lerei os registros, então.

No entanto, Daphne não leu em silêncio. Suas perguntas de sucederam uma após outra e Fred, que estava na sala de pesquisa foi obrigado a responder todas elas. Algumas eram básicas, mas a maioria, ele tinha que reconhecer, eram perguntas bem inteligentes e precisas. Ainda mais surpreendente eram algumas das suas ideias relacionados a Runas Antigas e Feitiços. Cansado de tanto ouvi-la e responder perguntas sem fim, além de não conseguir trabalhar com a distração, Fred acabou lhe entregando um caderno e um caneta.

Anote suas perguntas e ideias, pelas calças de Merlin, depois darei uma olhada. — Ele disse exasperado. — Agora cale a boa e me deixe trabalhar, por favor.

Apesar das palavras, Fred foi educado e gentil em seu pedido, mostrando um certo respeito por sua inteligência.

Bem, já que você disse por favor. — Daphne disse e levou a caneta azul e transparente até o caderno. — Mas o que é isso? Onde está a pena?

Isso é uma caneta trouxa, princesa. — Fred disse em tom superior. — A tinta já vem embutida, assim é só escrever normalmente.

Daphne lhe lançou um olhar frio pelo tom e repetição do apelido, mas levou a caneta ao papel branco com linhas azuis clara do pequeno bloco com aros de metal nas laterais. A tal caneta era estranhamente macia e precisa, além de não borrar tinta ou furar o papel.

Impressionante... — Ela disse bem baixinho.

O que? — Fred pergunto.

Nada, apenas falando sozinha.

Fale em pensamentos, então, princesa, pois preciso me concentrar aqui, por favor. — Ele disse distraidamente.

Já que disse por favor. — Daphne disse e começou suas anotações.

Em poucos minutos, ela espalhou seus livros de Runas e Feitiços sobre a mesa do Fred e usou o livro de registros dos testes já feitos para criar novas possibilidades. Os dois trabalharam em silêncio por quase meia hora antes de Fred ver um movimento e, ao olhar para cima, observou quando Daphne ergueu o cabelo negro e comprido em um coque alto, com mexas caindo por seu rosto bonito. Uma sensação de Déja Vu o percorreu e lhe arrepiou o corpo todo e Fred observou hipnotizado as mechas acariciarem a pele de porcelana perfeita das bochechas pálidas do seu rosto. Ele piscou lentamente e uma visão diferente lhe preencheu a mente, lhe arrancando o fôlego.

'Uma garota de vestes vermelha, um broche de safiras azuis e cabelos presos para o alto. Seus olhos azuis estavam maquiados e se destacavam no rosto perfeito, assim como a boca pintada de vermelho sangue. Ela olhava em volta para os casais se beijando, meio divertida, meio constrangida e Fred sentiu aquele impulso incontrolável, uma curiosidade misturada com desejo, de conhecê-la, ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro, tocar a pele que parecia tão macia. Não era um desejo por sexo, mas uma vontade profunda de estar perto daquela garota incrivelmente linda. Fred iniciou uma caminhada hipnótica em sua direção e seus olhos se encontraram por um segundo antes que algo o arrastasse para trás e a multidão se moveu a sua frente e a fez desaparecer da sua visão. '

Bosta de dragão... — Sussurrou Fred ao voltar ao presente e encarar a garota Slytherin de olhos arregalados. — É ela. "

Daphne se tornou uma presença constante no laboratório e, enquanto outros iam e vinham de vez em quando, ela aparecia quase todos os dias. George e ela se deram razoavelmente bem, pois ele era paciente e indiferente as suas ironias frias. Fred, por outro lado, devolvia na mesma moeda, mas sem nunca ser grosseiro ou maldoso, na verdade, seu jeito brincalhão, irônico, provocador e direto agradava a Daphne que parecia ter encontrado alguém a altura das suas patadas. Ainda que ele a desconcertasse com sua educação, pois em suas casas, a Mansão Greengrass e a Slytherin, termos como "com licença, por favor e obrigado", não eram comuns quando se tratava de um homem ou garoto falando com uma mulher ou garota.

Assim, entre muitos novos visitantes, Daphne se tornou parte do laboratório com sua personalidade fria e ideias inteligentes. Ao mesmo tempo, as suas "discussões" com Fred se tornaram cada vez mais elétricas e intrincadas, com provocações hábeis e comentários sarcásticos. George encontrou seu irmão estranhamente ansioso quando Daphne se demorava ou curiosamente mais alegre quando ela finalmente chegava, mesmo que um segundo depois, um estivesse provocando o outro.

Enquanto isso, Fred decidiu manter em segredo a sua descoberta porquê... bem, porque ele não tinha ideia do que fazer sobre isso.

Dean também enfrentou uma situação incomum, quando sua avó veio a Hogwarts para conhecê-lo. Ele tinha certeza que ela não gostaria dele ou diria não ter interesse em ser sua avó ou fazer parte da sua vida. Falc tinha escrito uma carta com palavras positivas, o encontro foi marcado e Dean se viu arrumando as roupas naquele domingo de manhã, para ter certeza que não estavam amassadas.

"O encontro foi no escritório da McGonagall, que os deixou sozinhos quando a Sra. Wright atravessou o flu.

Eu deixei um chá preparado, assim, sirvam-se à vontade. — A professora de Transfiguração disse formalmente antes de sair da sala.

Dean estava de pé, por educação e puro nervosismo. Ele tentou não a encarar, mas não pode deixar de perceber que os dois tinham olhos castanhos claros e testas largas, além de serem altos. A Sra. Wright era negra, com a pele perfeita, sem uma única ruga, lábios grossos e postura régia. Dean se forçou a se adiantar e estender a mão em cumprimento.

Olá, Sra. Wright, eu sou Dean... Dean Thomas. — Ele disse com voz meio trêmula.

Mas ela não o cumprimentou de volta, parecendo meio paralisada, talvez por emoção ou desapontamento, pensou Dean, ao recolher a mão e pigarrear constrangido. Ela continuou a encará-lo com espanto e Dean corou levemente, abaixando os olhos sem saber o que dizer.

Posso te abraçar...? — Sua voz saiu tão baixa que Dean quase não entendeu, mas foi o suficiente para que ele arregalasse os olhos e um nó se formasse em sua garganta, o que o fez acenar, pois não encontrou voz.

Um segundo depois, ela se aproximou e, muito lentamente, o puxou para um abraço meio desajeitado no início, mas aos poucos, Dean sentiu a quentura do seu corpo e retribuiu o abraço, que se tornou mais forte e mais forte, até que parecia que ele duraria para sempre. Emocionado, ele ouviu um soluço e se afastou, espantando ao vê-la aos prantos.

Não chore. — Ele sussurrou preocupado.

Meu neto... — Ela o abraçou outra vez e agora parecia mais certo e mais fácil. — Meu neto! Estou tão feliz! Tão feliz!

Então, foi a vez de Dean afundar o rosto em seu ombro e chorar de emoção por suas palavras, pois o alívio e carinho que sentiu eram imensos. Depois de muito tempo e muitas lágrimas, eles se afastaram e se sentaram, silenciosamente se olhando, se analisando e trocando sorrisos tímidos enquanto a Sra. Wright servia o chá para os dois.

Fale-me de você, Dean. — Ela sussurrou por fim e suas mãos tremiam de ansiedade. — Por favor.

Bem, eu vivo em East End, em Londres. — Ele disse suavemente. — Minha mãe se chama Elizabeth Lynden Thomas e é enfermeira. Meu pai... padrasto, se chama Quinn Thomas, ele é australiano e treinador assistente de um time de futebol..., quer dizer, de um time esportivo. Eu tenho dois meios-irmãos, Max e Grace, que são bem jovens e sem magia.

Avidamente, Doreen ouviu sobre a vida de Dean, sua família, prazeres, motivações, sonhos, aulas preferidas e a vontade de saber sobre o seu pai.

Eu adoro ser um bruxo, mas isso apenas me deixou mais diferente do resto da minha família. — Ele disse lentamente. — Eles são os mais incríveis, mas eu nem sempre me identifico com eles, sabe e... quando era mais novo, eu pensava que era por eu ser negro e eles todos brancos. As pessoas ficavam olhando, sabe, no supermercado, nas lojas, até na escola trouxa, existiam olhares ou perguntas de porque eu não era branco como os meus irmãos. Um dia, pouco antes de receber a minha carta de Hogwarts, eu estava em um parque com a minha irmã e, nós brincamos e nos divertimos, mas quando estávamos saindo, um casal nos deteve, porque pensou que eu estava roubando ela dos seus pais. Eu expliquei que era o seu irmão, Gracie ficou muito assustada e se agarrou em mim, ainda assim, eles insistiram em chamar um guarda para que ele verificasse a minha história. O guarda nos acompanhou até em casa e minha mãe ficou furiosa, pois disse que aquela atitude era racismo e foi aí que eu descobri porque as pessoas olhavam diferente para mim. — Dean encarou a avó, finalmente reconhecendo a si mesmo em outro ser humano. — Eu queria muito saber como ele era, se me pareço com meu pai, mas olhando para a senhora, eu acho que tenho a resposta.

Você se parece muito com ele, tão alto quanto o meu Joshua era aos 13 anos, seus olhos são idênticos aos dele e aos meus, mas esse sorriso... — Dean não pode evitar de sorrir e Doreen riu divertida. — Esse mesmo! Esse sorriso é todo do seu pai! A testa larga, a boca grossa, você herdou de mim, acho que o nariz fino você recebeu da sua mãe, mas no resto, você é igualzinho ao seu pai. Seu tom de pele é um pouco mais claro, já que sua mãe é branca, mas isso não o faz menos negro e você não deve nunca se envergonhar de suas origens, Dean.

Nunca. — Dean disse endireitando os ombros. — Eu sou negro e mestiço com orgulho.

Muito bem! — Ela sorriu e tocou em seu rosto com orgulho e carinho.

A senhora poderia me falar sobre o meu pai? Como ele era? Antes de ser mordido? — Dean perguntou ansiosamente.

Claro! Joshua era um Gryffindor também. — Dean arregalou os olhos emocionado com essa informação. — Um bom aluno, mas favorecia mais Herbologia e Feitiços, além de amar quadribol e cantar no coral!

Ele cantava? E jogou no time? — Dean perguntou espantado.

Sim e não. — Ela disse sorrindo com a lembrança. — Josh fez o teste para guardião, mas não conseguiu a vaga no time, mas cantou no coral por 3 anos antes do seu pai descobrir e proibi-lo. Então, ele se sentava na arquibancada e desenhava os jogos, os treinos, os jogadores e vendia os retratos que tirava para os interessados.

Papai era bom desenhista? — Dean perguntou. — Ele desenhou a minha mãe ou outras coisas, mas ela jogou fora quando papai não voltou.

Oh... — Doreen suspirou emocionada o vê-lo chamar o seu filho de papai e lamentou que Joshua não estivesse aqui para viver isso. — Sim, Dean, seu pai desenhava muito bem... Agora, deixe-me lhe dizer...

O domingo passou rápido e pareceu curto enquanto eles conversavam sobre o passado, os amados que partiram ou que ainda viviam e sobre um futuro juntos.

Sua tia está ansiosa para conhecê-lo e quero muito que venha me visitar no verão. Por favor. — Doreen disse ansiosa.

Claro! — Dean exclamou animado. — Minha mãe quer conhecê-la, vovó, mas sei que ela permitirá sem problemas. — Doreen abriu um sorriso luminoso como em todas as vezes em que ouviu aquelas palavras lindas, "vovó".

Nas despedidas, eles se abraçaram longamente, sem estranhezas, como se tivessem se conhecido a vida toda e passado por dezenas ou centenas de outros abraços carinhosos de despedidas.

Escreva para mim, Dean. Quero saber sobre essas últimas semanas de aula e não hesite em me pedir qualquer coisa que precisar. — Doreen disse carinhosamente.

Você também, vovó, se precisar de mim, sempre estarei aqui. — Dean disse lhe dando um beijo na bochecha antes que ela usasse o flu para partir. "

Dean teve muito o que escrever em suas cartas para a avó, pois Hogwarts estava vivendo algumas das muitas mudanças esperadas. A AP solicitou uma contagem de salas de aulas, assim, todas as salas e corredores foram abertos, limpos e preparados para mais aulas que começariam em setembro. O barulho de construção que vinham do subsolo enchiam os alunos de entusiasmo com o pensamento de que no ano seguinte, eles teriam uma pista de patinação e uma sala comum entre as casas. Uma equipe de elfos domésticos contratados pelo Harry visitaram Hogwarts e, discretamente, esvaziaram a Sala Precisa dos objetos escondidos. Dumbledore autorizou que o Harry implementasse a sua ideia de reciclar os objetos ou expô-los no museu, assim, os elfos passariam os próximos meses trabalhando incansavelmente nessa classificação. Eles estariam sob a orientação dos Grangers, Petúnia, Sra. Clark e Serafina, que concordaram em se revezarem em visitar o galpão alugado para guardar os objetos.

Dumbledore também lhe devolveu a sua adaga depois de destruir o diadema horcrux. Ele fez isso pessoalmente, na saída do Grande Salão, e o parabenizou por ter uma peça tão linda, ao mesmo tempo que agradecia por lhe permitir examinar algo tão antigo.

— Quando Flitwick me contou que você matou a basilisco com ela, não pude deixar de ficar curioso. Imagine, uma adaga feita por Altos Elfos. — Ele disse em tom baixo, mas mostrando admiração e atraindo olhares. Essa era a desculpa de Dumbledore para pegar sua adaga emprestada e ele acreditava que o Harry não sabia a verdade.

— Claro, senhor, sem problemas. — Harry disse e a guardou rapidamente em seu tornozelo. — Diretor? Quando começaremos nossas aulas? — Ele aproveitou para perguntar.

— Não antes do fim dos seus exames. — Dumbledore respondeu com um sorriso tranquilo. — Enviarei uma mensagem antes do fim das aulas, agora eu tenho uma secretária e não preciso mais pedir a Minerva.

— Bom, assim ela não precisa pedir ao primeiro aluno que ver a sua frente. — Harry disse ironicamente antes de se despedir.

A nova secretária era a maior novidade. Seu nome era Denise "Dee" Burroughs, uma bruxa de 45 anos, alta, magra feito um palito de fósforo e com os cabelos vermelhos presos em um coque estiloso. Ela era uma bruxa Descendente, já tinha sido professora, secretária e arquivista, assim, era perfeita para o cargo. Seu jeito sério e roupas escuras assustaram os alunos mais novos, que disseram que ela parecia uma versão mais jovem de McGonagall ou uma mais velha de Madame Pince. Os alunos Descendentes disseram que ela parecia mais com uma mistura de Olívia Palito, do Popeye, e Mortícia, da Família Adams, apenas, a Sra. Burroughs era ruiva e não morena. Então, durante a sua apresentação aos alunos no Grande Salão, ela sorriu, pediu para ser chamada de Sra. Dee e se colocou à disposição para ajudar no que precisassem. Isso quebrou o gelo e ninguém se surpreendeu ao vê-la conversando e rindo alto com o Prof. Flitwick durante o jantar, para a desaprovação da realmente severa McGonagall.

Os alunos não sentiram imediatamente os efeitos de ter uma secretária em Hogwarts, mas os professores com certeza a perceberam logo nos primeiros dias. Recados, relatórios, datas, reuniões, arquivamento, agendas, calendários e inúmeros outros pequenos detalhes do dia a dia de uma escola, foram retirados das costas dos professores. Agora, eles poderiam entregar para a Sra. Dee todo esse trabalho e não precisavam correr atrás de McGonagall ou Dumbledore para resolverem problemas ou tirar dúvidas. A Sra. Dee recebia e repassava recados, agendava reuniões, pegava assinaturas, arquivava documentos e sempre sabia as datas de tudo, pois era muito organizada. Assim, se você precisasse saber quantos dias de detenção faltava a um aluno infrator e qual a sua infração, ela tinha na ponta da língua. E, enquanto a detenção era dada pelos professores ou chefes de casa, a Sra. Dee organizava os horários para não coincidir ou sobrecarregar as agendas.

Para o desespero de McGonagall, a Sra. Dee, solicitou que o recurso do alarme fosse introduzido em Hogwarts, pois ela acreditava que alunos e professores perdiam minutos preciosos com conversas nos corredores ou a mesa do café da manhã e do almoço, e com isso, tempo de aula estava sendo perdido. Dumbledore, divertidamente concordou e McGonagall engoliu a vontade de mandar o maldito alarme para o rabo do dragão.

Assim, 10 minutos antes do horário das aulas, um alarme soava por toda a escola e alertava a todos para irem se organizando e partirem para as suas respectivas salas. A Sra. Dee explicou que como o castelo era tão grande, eles acreditavam que não era justo um único alarme e sim dois, para que alunos e professores conseguissem chegar sem afobação. Depois do primeiro alarme, os alunos caminhariam até a sala, se sentariam, pegariam os seus livros e esperava-se que os professores também se organizassem e estivessem em frente a turma, pois assim que o segundo alarme tocasse, a aula deveria começar. Isso era uma maneira de utilizar o tempo de aula com aulas, o que significava que alunos e professores deveriam estar na sala de aula, não em corredores, em escritórios particulares ou sentados à mesa se alimentando.

O sistema pegou muitos atrasados e mostrou como os próprios professores eram pobres quanto a pontualidade do início das aulas. Slughorn quase sempre estava conversando com alguém no Grande Salão ou nos corredores, ou comendo uma porção extra. Flitwick se distraia com perguntas dos alunos ou em preparar algo para a aula. McGonagall, se perdia nas funções de vice-diretora e, muitas vezes, chegava a sala depois que todos os alunos estavam sentados a alguns minutos. E, assim por diante, muitos tiveram que mudar os seus hábitos, mas eles tinham mais tempo de aulas, "o que não era ruim as vésperas dos exames", disse Hermione na mesa Gryffindor, o que levou ao Ron a lhe lançar uma careta de exasperação.

Os novos ajudantes de Madame Pomfrey foram selecionados especificamente por suas qualificações. Vanessa Spencer era uma enfermeira trouxa ou uma medibruxa com especialidade em recuperação física, fisioterápica e nutricional. Ela trabalhou por muitos anos como chefe de enfermagem do setor de Fisioterapia de um grande Hospital em Manchester. No St. Mungus, ela conseguiu apenas uma vaga de recepcionista e todas as vezes em que tentou um cargo de medibruxa, Vanessa foi recusada, até que ela desistiu e foi trabalhar no mundo trouxa. Ela tinha 37 anos, era casada e sem filhos, não viveria em Hogwarts e trabalharia apenas algumas horas por semana, ajudando Madame Pomfrey e os professores Price a melhorar a saúde física e nutricional dos alunos. Leda estava em tratamento depois da intervenção do Prof. Flitwick e a ajuda compreensiva de Vanessa, o apoio da Prof. ª Charlie e o trabalho incansável de Pomfrey, estavam levando a Leda a emagrecer saudavelmente e se sentir muito mais capaz e forte.

Para Pomfrey, o caso de Leda a fez perceber como negligente era o seu trabalho, além de incompleto, pois no mundo bruxo, o conhecimento sobre corpo saudável, preparação física e nutrição adequado era zero. Mas assim como com o Harry, Madame Pomfrey estava determinada a ajudar a Leda a ficar saudável e entender que ela poderia superar a doença da obesidade.

O outro curandeiro contratado só iniciaria o seu trabalho em setembro, quando começariam as aulas de Saúde. O escolhido foi um curandeiro mestiço que trabalhava no St. Mungus no setor de Danos Mágicos e, no mundo trouxa, também era formado em Psicologia e trabalhava como psicólogo e curandeiro na Clínica Relive. Em Hogwarts, trabalhando em tempo integral, Paul Keith seria o professor de Saúde, assistente da Madame Pomfrey e psicólogo da escola. Seu trabalho como psicólogo em Hogwarts não seria clínico e sim focado no âmbito da Psicologia Escolar, ou seja, voltado para melhorar a vida escolar dos alunos e professores, inclusive combatendo o bullying. Esse movimento era extremamente controverso, porque a saúde mental não era algo sequer mencionado no mundo mágico e o St. Mungus vetou qualquer tentativa do Curandeiro Keith de implementar uma ala no hospital voltado apenas para o tratamento psiquiátrico, psicológico ou mesmo, neurológico.

Paul Keith então, junto com outros três colegas descendentes, fundaram a Clínica Relive, que era uma clínica clandestina que atendia bruxos descendentes e mestiços, além de trouxas, com tratamentos que combinava o conhecimento medicinal mágico e trouxa. Ele se formou em psicologia no mundo trouxa, mas no mundo mágico, Keith conseguiu, com grandes dificuldades, fazer o curso de Curandeiro. O trabalho em Hogwarts era uma oportunidade incrível de introduzir a importância da saúde física e mental na sociedade mágica a partir das crianças, que efetivamente eram aqueles que mandariam no mundo mágico no futuro. Assim, o Curandeiro Keith aceitou o trabalho e pretendia se desligar do St. Mungus e manter apenas o seu trabalho na Clínica Relive, afinal, ele era um dos donos do lugar.

Madame Pomfrey, sem dúvida, era a mais empolgada com as mudanças que se iniciariam em setembro e esperava poder ajudar os alunos a serem melhores e mais felizes. Já Dumbledore observava tudo com uma serenidade exasperada, pois tinha a nítida sensação de que ele era o capitão de um navio que não estava mais sob o seu controle.

Em Londres, em 01 de maio, além do início do Campeonato da Liga de Quadribol, houve o lançamento oficial das campanhas de Fudge e Finley para as eleições do ano seguinte.

Naquela manhã, o Profeta publicou o resultado do julgamento de Peter Pettigrew que ocorrera na noite anterior e, Fudge, orientado por Waffling, usou o primeiro jogo de quadribol da temporada e todos os jornalistas reunidos, para oficializar a sua campanha de reeleição e usar a condenação de Pettigrew como base da sua campanha. Em um dos camarotes do Estádio dos Falmouth Falcons, o último campeão e que iniciaria o campeonato jogando com o último colocado do ano anterior, Chudley Cannons, Fudge fez suas declarações, tirou fotos e não respondeu as quaisquer perguntas dos jornalistas.

— Apenas tenho que lhes dizer e a população do mundo mágico que o meu ministério é completamente voltado para a realização do que é melhor para o nosso mundo. As administrações anteriores não sabiam nada sobre os crimes de Pettigrew, mas nós descobrimos a vil trama que colocou um inocente em Azkaban por 10 anos! Nós! E nós encontramos o verdadeiro criminoso! E, ontem, nós o condenamos a prisão perpétua! Por isso, meus caros, peço-lhes que confiem em mim e no meu Partido para continuar a cuidar do nosso mundo! Descansem suas mentes, se divirtam com um jogo de quadribol e deixem que nós os protegemos! — Fudge acenou e sorriu enquanto fotos eram tiradas e ele repetia o slogan da campanha. — Nós cuidamos de você! Escrevam isso! Nós cuidamos de você!

Naquela mesma noite, Finley recepcionou um coquetel de lançamento da sua campanha e respondeu aos jornalistas com um sorriso bem-humorado.

— Ao contrário do atual Ministro e meu adversário, eu não tenho porque temer suas perguntas, senhores. Assim, sintam-se à vontade! — Ele disse sorridente.

Finley ganhou muitos pontos com isso, pois no dia seguinte, o Profeta exibia sua entrevista e, ao lado, mostrava um Fudge apagado e frágil, parecendo sem interesse ou excessivamente confiante em sua vitória. Vance, que cobriu a festa de Finley, o questionou sobre os lobisomens, impostos, economia, empregos, reformas administrativas e tributárias, o que tornou o jornal daquela manhã de domingo extremamente interessante e informativa para os leitores do jornal. Enquanto isso, Skeeter cobriu o lançamento da campanha de Fudge e escreveu sobre os convidados, o que eles vestiam, bebiam, comiam ou se alguém estava flertando com quem não devia.

Um dos pontos principais da entrevista e que gerou um burburinho entre a população mágica, foi sobre a opinião de Finley em relação a uma mudança no sistema eleitoral do mundo mágico.

— Essa é uma pergunta auspiciosa, Srta. Vance. Parabéns. — Ele disse elegantemente. — O Partido Progressista sempre incentivou progressos positivos para o nosso mundo. O jovem Sirius Black, que até outro dia estava preso injustamente em Azkaban, fundou o seu próprio partido sob uma bandeira radicalista que não me agrada muito. Vocês mesmo publicaram em seu jornal sobre seus ambiciosos projetos de mudanças de leis que estruturam e protegem o nosso mundo. — Depois da cutucada em Sirius, ele sorriu magnânimo e continuou. — Assim, respondendo a sua pergunta, acredito que nós, os membros da Corte, experientes como somos, devemos discutir e refletir sobre essa questão com calma, Srta. Vance, pois não podemos nos precipitar em atitudes irresponsáveis e ao sabor dos ventos do radicalismo.

— Mas o senhor não acredita que todos os bruxos adultos deveriam ter o direito de escolher o seu próximo Ministro? — Ela insistiu, ignorando as críticas ao Sirius.

— Por séculos, desde a fundação do Ministério, essa escolha coube aos mais sábios e experientes do nosso mundo, assim, mudar é realmente algo benéfico ou apenas um modismo irresponsável?

Outro ponto que gerou discussão foram os impostos e as declarações de Fudge daquela tarde.

— Ao contrário do meu adversário, eu não mentirei para vocês dizendo que meu Partido e eu descobrimos a verdade sobre Pettigrew, quando todos sabemos que essa investigação é mérito da ICW. Também não lhes direi que eu condenei Pettigrew, pois vocês sabem, como relatado neste brilhante jornal, que o criminoso Peter Pettigrew foi julgado por toda a Suprema Corte que, por unanimidade, o condenou à prisão perpétua. — Finley parecia seriamente pesaroso. — Ao em vez de inventar falsas declarações para enganar o povo, Fudge e seu Partido deveriam realmente se preocupar em cuidar da população, e ele poderiam fazer isso baixando os impostos, por exemplo.

— O senhor tem planos nesta área? — Vance disse. — Como arrecadar sem empobrecer a população?

— Impostos divididos de maneira mais justas entre a população e os produtos me parecem um bom começo. No entanto, acredito que o que nos deixaria com uma arrecadação saudável sem ferir o povo mágico, seria taxar produtos trouxas vendidos pela GER. — Finley disse tentando passar sabedoria. — Esses produtos não são fabricados no mundo bruxo, não geram emprego para bruxos ou contribuições para o governo, assim me parece justo que para ter autorização de vendê-los em nosso Beco Diagonal, a GER pague por um imposto mais justo e factível. Assim, prometo que se me tornar o Ministro, farei um decreto de taxação dos produtos trouxas imediatamente, pois devemos consumir e prestigiar os nossos produtos, feitos por bruxos.

E, assim, foi praticamente o tom da entrevista. Ataques diretos a Fudge e indiretos a Sirius. Na verdade, os colegas, amigos e familiares de Finley, testemunharam sua explosão de raiva quando ele soube do Partido dos Justos e como dois de seus companheiros e membros da Corte, viraram a casaca.

Sirius teve a oportunidade de resposta as declarações dos dois candidatos e não poupou as palavras duras.

— Fudge vive em um mundo imaginário, onde ele acredita que é perfeito e que o povo é cego para não ver a sua péssima administração. O caos em que ele transformou o nosso governo me parece muito mais do que incompetência e espero que aqueles responsáveis por decidir sobre o novo Ministro não se acovardem, pois, a população mágica precisa de ajuda. — Sirius disse e respondeu à pergunta sobre a reforma eleitoral. — Claro que ela é necessária! Imagine você, que está lendo o seu jornal neste momento, como se sente ao compreender que mesmo se quiser que Finley seja o novo Ministro, você não pode ir e votar nele, pois primeiro ele precisa se tornar elegível pelos membros da Suprema Corte!? Agora, injustiça das injustiças, imagine você, bruxas do mundo mágico, que discordam da escolha dos seus maridos ou filhos ou pais, você não tem permissão para votar! Pois apenas um voto é computado por família! E apenas o voto do chefe da família é aceito! Assim, o que esse sistema eleitoral diz a vocês, bruxas, e aos jovens também, é que o que vocês pensam não importam! Que para os políticos do nosso mundo, vocês não existem! Mas vocês existem quando precisam pagar impostos, certo? Finley ainda tem a coragem de dizer que eles, "os mais sábios" sabem o que é melhor para nós mais do que nós mesmos! — Então, Sirius foi perguntado sobre a promessa de Finley de taxar os produtos trouxas vendidos pela GER. — Finley é muito engraçado. Ele usa a palavra progressista como uma bandeira, mas promete atitudes puristas antigas e perigosas, principalmente neste momento da nossa história em que devemos lutar cada vez mais contra os preconceitos e discriminações aos trouxas e aos nascidos trouxas. Finley não disse, mas os produtos trouxas, assim como todos os produtos vendidos pela GER, já estão taxados com impostos exorbitantes, portanto, sua intenção não é criar taxas e sim aumentar as que já existem e, ao fazer isso, tornará a venda desses produtos impraticáveis. Mas não é apenas a GER que vende produtos trouxas, afinal, estamos falando de um mundo maior que o nosso, com mais variedade e preços competitivos. O que acontecerá com aqueles que vivem da venda desses produtos? A GER é uma empresa rica, é verdade, mas esse movimento ainda causará prejuízos e isso levará a demissões. Então, eu pergunto ao Finley, o que ele dirá para os desempregados ou para aqueles que perderem os seus negócios por causa de sua atitude? — Vance perguntou o que fazer para abaixar os impostos. — Uma reforma administrativa e tributária deve acontecer urgentemente, Srta. Vance, precisamos saber para onde está indo o dinheiro arrecadado, como economizar sem demitir e como investir esse dinheiro de maneira que nossa economia se acelere! Pois se você aumentar os impostos, aumentará os preços dos produtos, isso levará a uma queda das vendas, a diminuição da produção, ao desemprego e a menos arrecadações! A conta é simples! Mas parece que nossos dois candidatos não se mostram competentes para perceber como administrar o nosso governo sem fantasia e mesquinharias.

A repercussão do novo partido e das fortes declarações do Sirius agitaram o mundo mágico em dois aspectos. A população em geral achou positivo que houvessem mais pessoas com interesse em lutar por uma administração política mais competente e justa. Muitos acreditavam que Sirius era sincero em suas palavras, publicadas no Profeta e admiravam a sua coragem em lutar por justiça, principalmente depois do seu sofrimento em Azkaban. Outros, a maioria mulheres, apenas o achavam muito mais bonito, inteligente e interessante que os outros candidatos e votariam nele se pudessem. No entanto, a ala conservadora e purista da sociedade mágica britânica não gostou nada do terceiro elemento não bem-vindo no jogo político do país.

Lucius voltou da França mais cedo, assim que leu as notícias e encontrou uma Narcisa pálida, mas de olhos brilhantes. Distraidamente, ele aceitou suas explicações sobre estar sofrendo de "problemas femininos". Em uma longa reunião com Fudge e Waffling, Lucius mostrou suas preocupações e exigiu que Black fosse detido de alguma maneira antes que começasse a defender que o próximo Ministro da Magia fosse um lobisomem. O líder do Partido Conservador garantiu que tinha os seus bruxos e bruxas da Corte bem controlados e que não permitiria que Black tivesse qualquer pretensão de poder ou vitórias políticas.

Lucius chegou a considerar não se mudar para a França, mas Narcisa o persuadiu a não desistir quando lhe falou do dinheiro das vendas de parte dos objetos da Mansão Black. Ele concordou com sua proposta de sociedade e aceitou que as chances de lucros na França eram maiores do que na Inglaterra com tanta concorrência. Lucius já tinha decidido, durante seu tempo de pesquisa na França, investir em vinhos, licores e seda, que eram artigos de luxo e de alta demanda em toda a Europa. Ele ainda mantinha alguns dos seus negócios de tráfico de criaturas e seres mágicos, assim, Lucius acreditava que a França lhe abriria muitas possibilidades, pois os clãs de veelas eram abundantes naquele país.

O grupo de puristas e comensais da morte, que tinham se afastado de Lucius, também não gostaram dos rumos que as coisas estavam tomando, mas cautelosos, decidiram esperar mais um pouco para qualquer tipo de ação efetiva. Ainda, Rosier e Avery, decidiram usar todos os seus contatos no Ministério para estarem informados de tudo o que acontecia ou aconteceria, pois não queriam ser pegos de surpresa, como aconteceu com o lançamento do novo Partido de Black.

Enquanto inimigos e adversário se movimentavam, Sirius, Ian e Mac, recepcionaram uma festa de gala para o lançamento da nova empresa de construção civil, a Aliance Arquitetura e Construção que tinha a sua sede em Londres. A festa no salão azul do Hilton, em Londres, teve convidados trouxas e bruxos, imprensa dos dois mundos e reuniu futuros clientes e investidores, além de celebridades, amigos, famílias e curiosos. Uma maquete da reconstrução da área de galpões abandonados das antigas fábricas na Ilha do Cão, estava exposta na entrada do grande salão de festa. O incrível projeto de Mac atraiu muitos elogios, pois mostrava uma reurbanização inteligente e sustentável da área pobre e abandonada, que teria espaço para mais de 460 apartamentos familiares de custos acessíveis.

A maquete da reforma do imenso casarão em Kensington, que Sirius herdou de seu tio Alphard e que seria transformada nos escritórios sede da Aliance, também estava exposto e recebeu muitos comentários positivos. Os convidados consideram de muito bom gosto a escolha da sede da Aliance, que não ficaria no quinquagésimo andar de um imenso prédio de vidro e concreto, e parabenizaram a decisão de respeitar as características históricas da mansão do século 17 ao adaptarem os novos escritórios.

O imenso projeto que era a Aliance tinha centenas de pessoas envolvidas em diversos setores ou divisões e a festa de promoção da empresa trouxe uma grande visibilidade. Ian fez o discurso da noite, falou sobre construção sustentável, respeito ao meio ambiente, urbanização inteligente, projetos sociais, geração de empregos e reurbanização de bairros pobres. Sua fala foi clara, moderna, convicta e levou os jornais do mundo mágico (Profeta) e do mundo trouxa a elogiarem a Aliance, uma jovem empresa com ideais e objetivos humanos e inteligentes. O sucesso da noite foi estrondoso e Monique, com sua Moment Parfait, entraram nos negócios de organização de festas na Londres trouxa, com o pé direito.

No dia seguinte a festa, eles iniciarem oficialmente a primeira obra da Aliance, a reconstrução da Vila do Cervo em Stronghold, com Lobos Guardiões como parte da equipe. Dois dias depois, nos galpões das fábricas abandonados na Ilha do Cão, comprados por Sirius, uma outra equipe de lobisomens formados pelos T-London iniciou as reformas sob a orientação dos construtores mais experientes. Enquanto isso, mais equipes formadas com lobisomens de Stronghold começaram a reforma de Grimmauld Place e do casarão em Kensington. Na fábrica de cosméticos, a equipe recebeu mais mão de obra e o prazo de termino da construção diminuiu.

E, nos antigos escritórios de Ian e Mac em Londres trouxa (sede provisória da Aliance), o telefone tocou incansavelmente nos dias seguintes a festa e compromissos com potenciais clientes foram agendados aos montes para as semanas seguintes. Felizmente, a equipe de escritório tinha sido reforçada e mais 3 arquitetos contratados entre os familiares trouxas de bruxos Descendentes, assim, apesar de sobrecarregados e apertados no espaço menor que era a antiga sede da M&T Construções, todos estavam trabalhando com muita dedicação e a Aliance se tornava um grande sucesso.

Com um trabalho de mutirão incansável, a equipe da Rebeca, da Divisão RHIE, conseguiu selecionar os lobisomens para as funções de seus interesses e habilidades e isso tornou mais real para os Guardiões o quanto suas vidas mudaram. Os trabalhos foram divididos e Stronghold começavam a se torna um verdadeiro lar.

Em 1 de maio, Sirius inaugurou a sua Academia na Travessa do Tranco, e com a presença ilustre de Gwenog Jones e seus namorados. Gwen só jogaria no dia seguinte, domingo, por isso, compareceu à festa de inauguração, promoveu a Academia Body & Magic, tirou dezenas de fotos e incentivou os bruxos a treinarem fisicamente. Na semana seguinte, a lista de espera para quase todas aulas era gigantesca e Sirius não hesitou em contratar mais professores especializados e manter a academia funcionando 24 horas por dia.

Apesar de muito ocupado, Sirius passou o máximo do seu tempo com Denver, sentindo aquela necessidade estranha de viver a realidade do momento da relação deles. Ela não reclamou que ele estava muito pegajoso e usou esse tempo para pesquisarem mais sobre Tom Riddle no mundo trouxa e onde Voldemort poderia ter escondido as suas horcruxes. Na verdade, todos estavam dedicando mais dos seus tempos a esse objetivo e o Sr. Boot, utilizando o seu livro como desculpa, conseguiu acessar muitos livros e pergaminhos antigos no Ministério. Ele esperava encontrar mais informações sobre Voldemort e onde ele esteve durante o período em que deixou Hogwarts, até o início da guerra. E também sobre quaisquer objetos mágicos antigos, feitos ou pertencentes aos Fundadores de Hogwarts.

Em um movimento cauteloso, Falc se aproximou discretamente de Croacker e solicitou uma visita do Harry a Sala de Profecias. O pedido foi recusado até que Croacker pudesse encontrar-se com Harry Potter e saber pessoalmente de sua disposição e desejo a essa visita. Então, Falc marcou um encontro para os primeiros dias de das férias de verão e solicitou sigilo, algo que Croacker concordou ser o movimento mais inteligente e também parte do seu trabalho.

Enquanto o dia da inauguração das feiras Potters se aproximavam, o ritual de ligação entre o Harry e os lobisomens era preparado. Fiona e Bathsheda e o Prof. Jonas foram trazidas ao grupo seletos de pessoas que tinham conhecimento sobre Stronghold. Flitwick e Serafina também lhes contaram sobre o ritual de ligação com os Lobos Guardiões e os rituais que o Harry precisava fazer nos próximos meses, se possível durante o verão, e solicitaram a Fiona e Bathsheda que os ajudassem na preparação desses complexos rituais.

Jonas e Bathsheda se mostraram abertos a ajudarem e encantados com o que o Harry fez para a comunidade lobisomem. Jonas concordou em dar aulas de carpintaria em Flidais, mesmo que seu trabalho em Hogwarts e na produção de móveis para a sua loja no Beco Diagonal já fosse muito absorvente do seu tempo. Ele disse que ensinar os Guardiões seria uma honra e um dever que um bruxo nunca poderia deixar de cumprir. Bathsheda também se colocou à disposição, mas as aulas em setembro começariam quando ela estava bem perto de ter sua bebê, assim, Remus pediu que ela ajudasse Xandra Callander a montar algumas aulas. A jovem bruxa grega tinha concordado em deixar o Ministério e assumir o cargo de professora de Runas Antigas e Feitiços de Flidais.

Fiona se mostrou um pouco chocada com tudo e prometeu ajudar com os rituais apenas se tivesse tempo para examinar cada um deles com atenção antes de suas realizações. E, se eles concordassem com quaisquer conselhos ou alterações que Fiona julgassem necessárias. Harry foi consultado e concordou, mas insistiu que pretendia fazer o ritual de ligação com os antepassados e não mudaria de ideia.

O Emporium Hogsmeade também seria inaugurado no dia 15 de maio, junto com as Feiras Potter e a cidade estava se preparando para o evento, pois esse sábado também seria o dia da última visita dos alunos de Hogwarts a cidade. O Comitê dos Alunos solicitou que todos os anos pudessem comparecer desta vez e o diretor autorizou, depois que os professores e zeladores se comprometeram em monitorar os alunos durante o passeio e que a visita fosse mais curta. Assim, quando o fim de semana se aproximou, a excitação se espalhou pela escola, pois os primeiros e segundos anos visitariam Hogsmeade pela primeira vez.

No sábado de manhã de 15 de maio, Harry acordou cedo para o seu treino e depois de se arrumar no vestiário, se despediu dos amigos e foi direto para o Covil.

— Está pronta? — Ele perguntou a Daphne, que vestia uma capa verde sobre as vestes.

— Sim. — Ela respondeu determinada. — Tracy e Lidya me ajudarão a disfarçar a minha ausência, pensei em seguir o seu conselho e conversar com o Slughorn, mas não quis arriscar.

— Ok, sem problemas. — Harry olhou o relógio e depois pegou o mapa em sua bolsa. — Eu sairei pelo escritório do diretor, usarei o flu até a casa dos Boots, mas Dobby, a pegará na saída da passagem secreta.

— Já repassamos isso, Harry, vamos logo. — Daphne disse impaciente e Harry concordou.

Com o caminho livre e cobertos pela capa de invisibilidade (Daphne prometeu manter segredo), Harry a acompanhou até a entrada da passagem que levava a loja Dedos de Mel.

— Lembre-se, não precisa entrar no porão...

— ...Da loja, o elfo me pegará ainda no fim da passagem, pois ela já está fora de Hogwarts. — Daphne aquiesceu. — Eu já sei, nos vemos daqui a pouco.

Enquanto ela apressava o passo pela passagem secreta, Harry subiu para o corredor do escritório do diretor onde Terry o esperava.

— Estou atrasado? — Harry perguntou preocupado.

— Não, estamos na hora certa. Sua mochila. — Terry lhe estendeu a bolsa que Harry arrumara para passar o fim de semana em Londres. — O pacote saiu?

— Sim, mas não a deixe ouvi-la chamá-la assim ou você é um homem morto. — Harry disse ironicamente.

Terry deu de ombros e eles se aproximaram da gárgula do escritório de Dumbledore.

— Ratos de açúcar. — Disse Harry e a gárgula deu um passo para o lado.

Os dois pisaram no degrau e a escada se moveu até a porta do escritório. Harry não precisou bater na porta para ouvir a voz do diretor.

— Entre, Harry.

Harry fez isso com Terry ao seu lado e seu olhar procurou por Fawkes, que não estava em seu poleiro naquela manhã.

— Bom dia, Diretor.

— Bom dia, senhor. — Terry acrescentou.

— E um bom dia para vocês dois, senhores. — Dumbledore disse com um sorriso sereno. — Harry, o seu pedido para comparecer a inauguração das Feiras foi autorizado pelo Conselho de Governadores e por mim, mas não me lembro de algum dos seus colegas estar incluído.

—Ah! Terry queria lhe pedir para ir ver o irmão, senhor. — Harry disse olhando para o amigo.

— Meu irmão, Adam, tem passado por momentos difíceis, senhor. — Terry disse muito sério. — Nossa avó faleceu em janeiro e ele foi sequestrado há dois meses, por Greyback.

— O que? — Dumbledore ficou pálido e perdeu o brilho nos olhos azuis. — Eu não soube disso... Como aconteceu? Ele foi ferido?

— Foi tudo muito rápido. — Terry disse e olhou para Harry, pedindo que ele continuasse a explicação.

— O senhor sabe que Sirius enfrentou Greyback naquela noite, na Travessa do Tranco? — Harry questionou e o diretor acenou seriamente. — Greyback rastreou o Sirius até a Abadia dos Boots, pois queria se vingar, e quando viu o Adam, ele decidiu usá-lo para isso e também porque não conseguiu resistir aos seus instintos. Os Boots temeram que chamar os aurores seria mais arriscado para a vida do Adam, assim, eles atenderam as exigências de Greyback e Sirius se entregou a ele. O acordo era que Sirius trocaria a sua vida pela de Adam, mas sabíamos que Greyback mentia. Assim, formulamos um plano e, enquanto Sirius distraia Greyback, dolorosamente, Adam foi resgatado por Remus e Denver.

— Meu irmão ficou umas 12 horas com aquele maldito, senhor, e não foi ferido fisicamente, mas psicologicamente, Adam está sofrendo. — Terry disse triste. — Ele passou mais de um mês depois do resgate sem falar e, nas férias de Páscoa, Adam contou que Greyback matou o filhotinho de cachorro usado para atraí-lo para fora das alas. Meu irmão o viu matá-lo e comê-lo, diretor e não está sendo fácil para ele superar tudo o que aconteceu e o medo que sente de ser levado outra vez.

— Entendo. — Dumbledore parecia estranhamente abalado. — Existe alguma reação a esse trauma a sua magia?

— Não, felizmente, mas Adam está tendo muitos pesadelos e, mesmo conseguindo falar, parece ter dificuldades em expressar seus medos. — Terry suspirou. — Na última carta da minha mãe, ela me contou que Adam cortou sozinho todos os cabelos com uma tesoura. Minha irmã o encontrou e ele até feriu o couro cabeludo tentando se livrar dos cachos.

— Adam disse que os cachos o faziam parecer um anjo e que é assim que Greyback o chamava, "meu anjinho", que foi por isso que ele o sequestrou. — Harry disse sombrio.

— Minha mãe não sabe que estou pedindo para ir e se o senhor disser não, tudo bem, mas se me permitir, prometo que não irei na inauguração ou qualquer coisa, apenas queria passar o fim de semana com o meu irmão. — Terry disse em tom educado.

— Claro. — Dumbledore acenou e suspirou. — Imagino que Greyback foi cuidado por Sirius e não pelos lobisomens como disseram ao Profeta.

— Na verdade, Denver o matou, mas como Sirius queria que a recompensa fosse para os lobisomens, eles inventaram uma história. — Harry deu de ombros.

— Ok. Eu autorizarei a sua ida, Terry, mas assim que chegar em casa, peça a sua mãe que confirme que vocês dois chegaram bem, por favor. — Dumbledore acionou a lareira. — Tenham um bom fim de semana, rapazes e, por favor, Terry, diga ao Adam que lhe envio minhas lembranças.

— Obrigado, senhor! — Terry exclamou animado e, com a mochila no ombro (arrumada com antecedência por precaução), ele entrou na lareira e partiu para a Mansão Boot em Londres.

— Obrigado por isso, diretor. — Harry disse. — Hermione queria que ele ficasse estudando para os exames, mas tenho a impressão que sem ver o irmão, Terry não conseguiria se concentrar.

— Provavelmente você está certo. — Dumbledore disse suavemente. — Irmãos mais novos as vezes são o nosso calcanhar de Aquiles, não é? — Harry mostrou curiosidade em sua expressão, mas antes de poder fazer perguntas, o diretor o dispensou. — Boa sorte, Harry.

Acenando, Harry entrou na lareira e fez a incômoda e nauseante viagem de flu para Londres. Apesar de sua habilidade em uma vassoura, ele parecia nunca conseguir o mesmo equilíbrio em terra, por isso não se surpreendeu ao tropeçar e ser impedido de cair por braços morenos.

— Peguei você! — Serafina disse rindo levemente e Harry sorriu meio corado.

— Eu achei que tinha pegado o jeito. — Ele disse timidamente.

— Em uma viagem tão longa, eu imaginei que você poderia tropeçar. — Ela respondeu. — Suba, sua roupa já está separada, eu voltarei logo. Apenas avisarei o Dumbledore que vocês estão seguros e levarei o Terry, que me deu o maior susto ao sair da lareira, até Oxford. — O olhar de Serafina era carregado. — Seus irmãos vão passar o fim de semana com seus avós, pois estaremos muito ocupados com as Feiras e o ritual.

— Por mim tudo bem, apenas quero ficar um pouco com o Adam. — Terry disse levemente envergonhado e ao mesmo tempo desafiador.

— Ok. Não direi nada agora, conversaremos depois... — Um estalo alto a interrompeu e Dobby apareceu com Daphne. — Obrigada, Dobby. — Dobby acenou e cumprimentou o Harry com um abraço enquanto Serafina se concentrava em Daphne. — Olá, Daphne, sou Serafina Boot. Prazer em conhecê-la.

— Senhora. — Daphne a cumprimentou como uma dama. — Prazer em conhecê-la também e obrigada por me receber em sua casa.

— De nada. Por favor, aguarde um instante, eu voltarei em breve. — Serafina disse, antes de olhar para o Harry. — O que está esperando? Vá se trocar!

— Ok! — Harry se moveu escada acima rapidamente e encontrou uma camisa vermelha de mangas compridas e uma calça social cinza o esperando. Ele fez uma careta para a escolha e procurou algo mais interessante, sabendo que o dia seria quente, decidiu colocar uma calça jeans, botas de couro bem macia e uma camisa verde de mangas curtas. O resultado foi menos formal, ao mesmo tempo pareceu se encaixar mais para uma visita as Feiras ao ar livre.

Enquanto isso, na sala de estar, Sirius encontrou Daphne sentada e esperando calmamente.

— Sr. Black, prazer em conhecê-lo, senhor. — Ela se levantou e voltou a se inclinar formalmente, Sirius devolveu o cumprimento formal divertidamente.

— Prazer, Srta. Greengrass. Eu a levarei até a ilha, mas queria ver o Harry primeiro. Onde...

— Estou aqui! — Harry gritou descendo as escadas. — Sirius!

— Harry! — Os dois se abraçaram com grandes sorrisos. — Você está ótimo!

— Você também! — Sirius usava um jeans rasgado, camiseta Gryffindor e jaqueta de couro preta. Seus cabelos estavam em um coque no alto da cabeça, ele usava brincos nas orelhas e delineador nos olhos. — Eu queria...

Neste momento Serafina voltou a entrar na sala, voltando de Oxford.

— Eu deixei o Terry com os meus pais, agora... — Ela olhou para o Harry e franziu o rosto. — Harry, você não vestiu as roupas que eu separei.

— Desculpe, Sra. Serafina, mas eu achei meio sem graça. — Harry disse sorrindo. — Na verdade, eu acho que gostaria de vestir uma camisa Ravenclaw e jaqueta como o Sirius. É muito mais divertido!

— Sim, mas você é o dono das Feiras e deve se trajar com certa formalidade. — Serafina apontou.

— Desencana, Serafina, o evento é ao ar livre e não haverá discurso ou solenidades, acho que o Harry pode se vestir mais informalmente para ir as feiras em fazendas. — Sirius disse com uma piscadela para o afilhado.

— Ok. Suponho que sim. — Serafina não parecia contente, mas não protestou quando o Harry voltou alguns segundos depois com uma camiseta azul com a estampa da Casa Ravenclaw e uma jaqueta de couro preta. — Até que você ficou bem, mas devemos ir, pois você comparecerá a todas as feiras e isso tomará o dia todo.

— Vocês fizeram o que eu pedi? — Harry perguntou sorrindo mais animado do que esteve em semanas.

— Sim, tudo foi organizado... na verdade, é por isso que o Falc não está aqui, ele está cuidando do seu pedido. — Sirius disse e depois encarou a Serafina. — Você disse que deixou o Terry? Não sabia que ele viria.

— Eu também não. — Serafina disse preocupada. — Ele pediu ao Dumbledore para vir ficar com o Adam, disse que está preocupado com o irmão.

— Eu também estou. — Harry disse sombrio. — Espero poder vê-lo antes de partir.

— Amanhã a tarde, antes de voltarem para Hogwarts, eu buscarei ele e a Ayana. Ok? — Serafina respondeu suavemente.

Harry acenou e os quatro saíram para o ponto de aparatação.

— Boa sorte, Daphne. — Harry disse para a colega de expressão tensa.

— Obrigada. — Daphne disse rigidamente e colocou a mão no braço de Sirius, um segundo depois, eles tinham partido.

— Agora é nossa vez. Pronto? — Serafina estendeu o braço, Harry o apertou com força e acenou.

— Sim, estou pronto.

Um segundo depois, eles aparataram para a primeira Feira de Alimentos Potter.