Os pés moviam-se rápidos, de um lado ao outro, em uma dança frenética e maluca. A espada balançava em suas mãos, cortando, dilacerando os corpos um a um, empilhando-os sob a chuva do céu e de sangue.

Seus passos eram selvagens, o olhar de um animal sanguinolento, insaciável pela sede de lutas, de vitórias. A lâmina de sua espada tinha o brilho da morte, abrindo o caminho sem volta para seus inimigos caídos, estagnados sobre a poça de seu próprio sangue.

Os dois sentiram o fervor da batalha diminuir, assim como o caminho se tornava repleto de cadáveres. Jin olhou por sobre o ombro, a respiração agitada mostrava o quanto estava envolvido no conflito, quase esquecendo que Mugen ainda estava ali, dando-lhe cobertura.

Já o moreno soltou uma risada, apontando a espada para o seu aliado, ou melhor, seu novo inimigo. Queria terminar essa rivalidade que havia entre os dois e só então, aquele que caminharia sobre o corpo do outro, voltaria para Fuu e daria as boas novas. Jin havia entendido o recado, estava tão determinado a acabar com a vida do moreno, que logo se posicionou, deixando a ponta da espada pender para frente, estava pronto. Iria retaliar.

As nuvens se dissiparam e a chuva parou, dando início ao novo combate. Ambos deram um grito com o avanço, o grito de guerra, o impulso inicial de uma luta até a morte. As espadas se chocavam, direita, esquerda, em uma coreografia mortal.

Jin sentia seus pés afundarem no lamaçal que a estrada de terra se tornava, mas isto não o impedia de seguir. Mugen sentia maior dificuldade, seus movimentos aleatórios e imprevisíveis estavam ficando limitados nestas condições, mediante a dificuldade, abandonou os chinelos de madeira e saltou, dando um golpe na vertical. O samurai defendeu, deixando a lâmina deslizar, contra-atacando o andarilho.

Seu golpe fora majestoso, girando o punho, fez a ponta cravar no ombro de Mugen e a girou para o lado reverso, abrindo-lhe uma ferida imensa. O sangue escorria, manchando a roupa já salpicada de carmim. O andarilho grunhiu, lançando uma enxurrada de palavrões e com o cabo da espada golpeou o rosto de Jin, derrubando seus óculos.

Ficaram um instante afastados, o corpo sentindo a fadiga das lutas consecutivas. Focaram-se um no outro, a mão apertando com força a espada e certamente aquela seria a última vez que as cruzavam, que avançavam um contra o outro. A última dança, o último olhar, o adeus de uma amizade tênue, entre o companheirismo e o ódio.

Mugen deu o primeiro passo, indo diretamente contra Jin. Inclinou levemente o corpo para frente, cortaria seu rival ao meio.

Jin partiu para cima, confrontando diretamente Mugen. Segurando a espada com as duas mãos, iniciou o ataque, mirou o pescoço do ex-companheiro de viagem.

O andarilho trocou a espada de mão, rapidamente, deixando que o impulso dos dois corpos fizesse o que seu braço machucado era incapaz. O fio deslizou e cortou a pele do pescoço, permitindo que o sangue escorresse e então o olhar do samurai desfocou-se. Caiu no chão, em um baque surdo e a espada rolou, escapando de sua mão.

- Maldito. – sussurrou Jin. – Vai fazer a Fuu chorar.

Mugen o olhou, a mão não conseguindo conter o sangue que fluía entre os dedos.

- Ela sempre chora, não tem jeito. - ele riu, vendo o outro sorrir com dificuldade.

Logo não havia mais graça, pois Jin morreu pelo golpe de sua espada.

- Agora você pode pedir perdão ao seu mestre. Quatro-olhos idiota! - pressionava a ferida do ombro e andava, passo após passo, deixando para trás os corpos.

Seus pés faziam o caminho de uma nova estrada, riu novamente, agora completamente sozinho. Decidiu que não iria voltar para a cidade, era hora do trio se separar.

Pois… Alguns morriam e alguns viviam no caminho do samurai.