Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Falsas Apariencias" postada em 2007 no FanFiction por Sisa Lupin.
Capítulo 1 - Uma serpente de olhos rubi.
Só o vento e o crocitar do corvo se escutavam sobre as antigas sepulturas do cemitério. Por onde fosse que a levavam, esse som lhes acompanhava como o som de um mau augúrio pouco depois de ter escutado como alguns desconhecidos arrebentaram a porta de seu quarto. Atrás dela, três indivíduos mascarados e trajados com túnicas negras de Comensais da Morte. Imobilizaram-na com suas varinhas antes que a jovem pudesse pegar a sua para se defender, mas um deles foi mais rápido e a impediu, imobilizando seu corpo dos pés à cabeça por meio de uma maldição.
Depois de ter permanecido inconsciente durante o que parecia uma eternidade, Tonks, aos poucos, voltou a si e imediatamente depois, percebeu que estava sendo arrastada por uma dupla de sequestradores, enquanto o terceiro ia adiante, indicando o caminho a ser seguido. Só via suas costas e podia sentir as pedras da trilha contra as pontas de suas botas, a levavam carregada por debaixo dos ombros, como um cadáver ou uma marionete sem fios.
Com olhos estreitados, deixou cair sua cabeça meio desmaiada, pois algo lhe dizia que não era conveniente que a encontrassem acordada e disposta a lutar. Ainda sem varinha, continuava tendo as mãos soltas, mas antes precisava saber a quem ou ao quê devia dirigir seus punhos.
Enquanto avançavam pelo tortuoso caminho do cemitério, a silhueta de uma imponente e escura mansão se ergueu por cima das lápides mais altas. À primeira vista, parecia ter centenas de anos. A pintura estava se desgastando e o matagal crescia sobre a fachada por todo o lugar com grandes manchas de umidade e numerosas fissuras que se uniam entre si. Sua imagem era a de uma ruína a ponto de desabar.
Ninguém se deteve à frente da sua porta. Por magia, a porta se abriu e a estranha comitiva continuou arrastando a jovem até o interior. A primeira coisa que chamou a sua atenção foi o relógio de pé empoeirado, coberto de teias de aranha, justo na entrada, que por algum estranho motivo não funcionava. Ao lado, erguiam-se escadas sob um mofado e imundo tapete.
Enquanto era levada pelos Comensais, pôde ver que as paredes estavam cheias de quadros, mas diferente dos que conhecia em Hogwarts, não se moviam. Seus ocupantes estavam igualmente quietos dentro de suas molduras, como as pinturas que penduravam-se nas paredes dos museus trouxas.
À medida que subiam, Tonks avistou o final da escadaria e quando chegaram acima, o indivíduo, que supôs ser de maior serventia, abriu a porta de um cômodo principal. Após uma reverência, abriu caminho e os demais entraram em silêncio.
Um segundo depois, a jovem encontrou-se em um enorme cômodo, tão sujo e empoeirado quanto o resto da casa, que tinha uma lareira acesa no extremo, e diante dela um sofá que dava as costas às ardentes brasas. Apesar disso, não conseguia distinguir os traços do ocupante, pois seu rosto estava na penumbra, assim como o de várias pessoas reunidas na sala.
De repente, seus sequestradores a soltaram como um fardo sobre o chão.
— Tinha muita vontade de conhecê-la, Tonks — sussurrou uma voz sibilante desde o sofá — É assim como gosta que te chamem, certo?
— Quem é você? — perguntou assustada. Depois, tentou levantar-se sem êxito — Como sabe meu nome?
— Sei mais do que isso — argumentou a misteriosa voz — É metamorfomaga, auror e, recentemente, parte da Ordem da Fênix, a serviço de Dumbledore. Faz tempo que estamos te observando.
— O que quer?
— Não é óbvio? É uma bruxa muito interessante.
De repente, a absurda suspeita que esteve entremeando a sua mente desde que chegou ali se converteu em uma certeza. Olhou com os olhos arregalados para todos os presentes e tentou reconhecer algum deles através dos furos de suas máscaras prateadas, mas não tinha nenhum rastro de humanidade ali. Todos eram testemunhas silenciosas de seu julgamento e condenação.
A jovem sacudiu a cabeça. Devia estar sonhando, tinha que ser isso, disse a si mesma. Tudo o que estava vivendo era um delirante pesadelo. Agora, só tinha que esperar e acordaria encharcada de suor entre suas cobertas, à espera de um novo dia.
— Não é nenhum pesadelo, não um em que esteja adormecida, pelo menos — disse o bruxo mais terrível de todos os tempos, enquanto lia a mente da assustada mulher — A decisão é sua, Tonks. Fará por bem... ou por mal?
— Nunca me unirei a você — retrucou com toda a coragem que pôde reunir — Pode me torturar quantas vezes quiser, mas nunca servirei.
Voldemort proferiu uma estrondosa gargalhada.
— Eu sei, acredite. Não vou conseguir nada com torturas, é uma boa lufana, justa e leal.
Tonks permanecia imóvel no chão, sem ter a mais remota ideia do que se referia e temendo descobrir.
— Tenho entendido que seus pais vivem em uma pequena casa no campo, longe de Londres. O que pensa de fazermos uma visita?
Aterrorizada, escondeu o rosto em suas mãos. Ao seu lado, os Comensais estavam se impacientando, pois não deixavam de balançar o peso de seu corpo sobre uma de suas pernas. No entanto, seu líder permanecia impassível, só ele podia ler seus pensamentos e aventurar uma resposta propícia.
— Se aceitar, te dou minha palavra de que sua família não sofrerá nenhum dano — sugeriu Voldemort, astuto — E então? Aceita ou não?
Tonks descobriu o rosto. Se odiava pelo que estava a ponto de fazer, nunca voltaria a se olhar no espelho em seu uniforme de auror e veria a mesma pessoa. Com extremo pesar, assentiu.
— Com o tempo, descobrirá que fez o certo.
Lentamente, o Lorde das Trevas levantou-se de seu lugar e com uma mão ossuda, pegou o antebraço esquerdo de sua nova serva.
Tonks não foi capaz de olhar enquanto fazia. Quando terminou, ali onde só havia pele, desenhava-se agora uma caveira e uma serpente de olhos de rubi, que se enroscava sobre si.
