Nota: Decidi traduzir os meus fics de Banana Fish porque sim.

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Ao olhar para a fotografia dele na exposição, Sing sabe.

Demoraram muito tempo a chegar aqui. A miúda, Akira, conseguiu de forma tão eficaz e sem esforço trazer tudo de novo, desenfeixou as ligaduras de todas aquelas velhas feridas e fê-las parecer recentes e abertas novamente. Mas afinal revelou que as feridas já estavam a sarar. Eles simplesmente não tinham sido capazes de o ver. A dor fantasma tinha persistido, como se tivesse ficado gravada na pele pelo trauma, um medo tão enraizado de ter de enfrentar mais dor que tinham simplesmente aprendido a viver com ele - a pensar que era a única coisa que existia.

A vida de Ash tocara na deles, de todos, e a sua perda tinha-os deixado com um vazio doloroso e sufocante durante tanto tempo. Eiji, Max, Jessica... Charlie, Ibe-san, Nadia, cada um dos tipos do gangue. Ele próprio. Até Yut-Lung (especialmente Yut-Lung. Com certeza Ash não fora a única razão para o chefe da Máfia Chinesa se mudar juntamente com a sua operação estendida para a China, mas fora certamente uma ajuda). Todos em quem ele tocara tinham sido deixados com um vazio que sugava as memórias, que tentava escondê-las e a dor que elas traziam. Os elos que os ligavam a todos eram demasiado pesados. Segredos, arrependimentos, culpa. Fora por isso que nem Sing nem Eiji tinham alguma vez falado sobre isso. Fora por isso que as palavras suaves de Yut-Lung pareciam agulhas a contorcer-se na pele de Sing, e provavelmente na pele do próprio Yut-Lung. Fora por isso que Eiji escondera todas as fotos.

Michael deveria provavelmente ter sido aquele que os ensinaria, deveria ter-lhes ensinado a todos antes de Akira ter chegado e feito o que fez. Como os olhos do miúdo se iluminavam à menção do nome de Ash, como ele parecia tão afastado da dor esmagadora, aquele único sentimento que todos pareciam ser capazes de sentir. Michael devia ter-lhes ensinado que aquela dor estava apenas marcada, um fantasma que os assustava e os impedia de olhar com mais atenção.

Akira fizera-o por fim. Puxara aquelas amarras, obrigara Eiji e Sing a encará-la.

Agora, podiam olhar sob a superfície e ver que as feridas tinham cicatrizado, para sempre ali, mas já estanques. Recordações e resquícios de uma recuperação, de algo importante, de uma vida que em tempos fora partilhada com a deles.

Ash não lhes deixara um vazio. Deixara-lhes tudo o que pudera, e mais.

Sing sabe agora, ao olhar para a foto de Ash, com uma certeza que finalmente concede palavras a um sentimento. As palavras de Eiji. A vida de Ash fora tão curta, tão poucos anos partilhados com todos eles, mas fora suficiente para lhes dar tanto. Tantas memórias de todas as coisas que ele lhes tinha dado, coisas que o próprio Ash provavelmente nem se apercebeu que estava a dar. O facto de terem testemunhado e recebido aquelas memórias era fonte de alegria e orgulho, não tristeza.

Poderia ter havido mais, num outro mundo onde Ash não tivesse morrido tão cedo. Devia ter havido mais. Mas o que tinham era suficiente. Ash dera-lhes tudo.

Sing sentiu as lágrimas cair pelo rosto. Sentiu a mão de Akira amavelmente na sua, e sorriu.

Temos sausades tuas, Ash.

E obrigado.

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fim

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Obrigado por lerem, se acharem erros por favor digam. O nome do fic vem da letra da música 'Deep' dos Anathema.

disclaimer: don't own Banana Fish