N/A: Nada disso me pertence, sou apenas uma fã desbravando um mundo de possibilidades.

Lembram-se do Arnold, o mini pufe da Ginny, introduzido no HP e o Príncipe Mestiço? Ele faz uma aparição nessa história que se dá numa (óbvia) realidade alternativa ao sexto livro.

Enjoy!


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Ginny estava ficando desesperada.

Arnold, seu mini pufe roxo, estava perdido pelo Castelo. De novo.

Ela o adotou após um passeio às Gemialidades Weasley. Ele era um experimento dos seus irmãos.

Seu novo e pequeno companheiro de estimação gostava de casa. A Toca era aconchegante. Sempre tinha o cheiro dos quitutes da sua mãe perfumando os cômodos e as lareiras e os fogões estavam sempre acesos. Classificava seu lar como caloroso. Em amplos sentidos.

Logo que acabaram as férias, Ginny tomou a decisão de trazer Arnold para Hogwarts também.

Eles ficaram bem apegados durante as férias e ele era pequeno. Se quisesse andar com ele dentro do bolso, ninguém perceberia. Não que ela fosse guardar seu mini pufe no bolso, claro.

Você pensaria que com todos os seus pelos roxos, ele iria preferir o refresco das paredes de pedra do Castelo. Doce engano.

Arnold gostava de calor.

Quando ela ia para as aulas ou precisava deixá-lo sozinho, acomodava Arnold em sua cama enrolado entre suas cobertas e o aquecia com um sutil feitiço. Na maioria do seu tempo livre, carregava Arnold consigo. Ele gostava de se enroscar no seu cachecol ou ficar em seu pescoço mordiscando sua gola. Quando ela ia à biblioteca ou ao Salão Principal, ela o acomodava em seu colo. Arnold gostava de ficar com ela.

Sua técnica funcionou nos três primeiros meses de aulas.

Até que o perdeu pela primeira vez.

Facilmente o encontrou no Salão Comunal da Grifinória brincando próximo da lareira.

Isso aconteceu mais três vezes, o que a fez reforçar o feitiço de aquecimento em sua cama. Ela reparou que a estação estava mudando e o inverno chegou rigorosamente forte naquele mês de dezembro. Arnold não gostava mesmo de frio.

Da última vez que o perdeu, ela o encontrou na cozinha importunando os elfos domésticos. Ele pareceu relutante em sair de lá e, percebeu, estava calor no cômodo. Provavelmente era o local mais aconchegante para a temperatura que Arnold almejava.

Mas os elfos reclamaram com a vice diretora da aparição do mini pufe na cozinha e, consequentemente, ela tomou uma bronca também. A escola autorizava ratos, gatos, corujas e até sapos como animais de estimação. Mini pufes não estavam expressamente autorizados.

Como são inofensivos, a Professora disse que não via mal em mantê-lo na escola, desde que não importunasse os elfos na cozinha.

E tinha a questão primordial da higiene sanitária também.

Por isso que após constatar que ele não estava em seu dormitório ou próximo da lareira do Salão Comunal, correu até a cozinha para evitar outra advertência da professora. Ou punição pior.

Quando chegou ao seu destino parou abruptamente quando reconheceu a familiar e nada bem vinda cabeça platinada de Draco Malfoy na passagem de acesso.

Desesperou-se mais ainda. A última coisa que precisava era de Malfoy a dedurando por causa da aventura de Arnold no ambiente proibido.

Diminuiu o passo e tentou não agir de forma suspeita enquanto caminhava lentamente até a cozinha.

Seu esforço foi por água abaixo quando se aproximou o suficiente para ver Arnold na mão esquerda do sonserino. Malfoy parecia irritado, muito irritado, enquanto encarava o seu mini pufe como se ele tivesse arruinado seu dia.

Malfoy reparou a sua presença e seu semblante inexpressivo a avaliou por alguns segundos antes de espiar o mini pufe mais uma vez e, finalmente, soltar um sorriso de escárnio especialmente para ela. Ótimo.

"Presumo que seja você o Weasley responsável por isso." Ele declarou com a voz arrastada. "Fui parado por um elfo por causa do tumulto que o seu 'piolho de Weasley' causou."

"Piolho de Weasley?" Ela sentiu o sangue esquentar.

"Ah, seria um prazer levar o crédito pela expressão, Weasley." Malfoy declarou. Ainda irritado, estendeu o pufe para ela. "Mas de acordo com eles, foi mérito todo seu."

Ginny pegou Arnold rapidamente nas mãos enquanto se preparava para respondê-lo quando reparou no crachá em seu peito reluzir na altura dos seus olhos. Malfoy era monitor, ele poderia dedura-la ao Diretor. Calou-se imediatamente.

"O que foi, cadê as suas retóricas de baixo calão? O gato comeu a sua língua?" Malfoy provocou enquanto deixava o olhar vagar no mini pufe de novo, o sorriso de escárnio fazendo outra aparição. "Ou, no caso, o piolho comeu sua língua?"

"Ele não é um piolho! Arnold é um mini pufe!" Ela revirou os olhos.

Malfoy pestanejou.

"Arnold." Ele repetiu. Arnold se remexeu em suas mãos. "Você batizou seu rato de Arnold."

Antes que ela pudesse firmar suas mãos, Arnold saltou em direção de Malfoy. Ele pareceu surpreso, mas o pegou com reflexos rápidos com a mão esquerda. Ele perdeu a paciência.

"Como você entrou para o time da sua Casa com essas mãos de manteiga, será sempre um mistério, Weasley." Ele continuou com os comentários rudes enquanto estendia o pufe para ela.

Ela o pegou novamente, mas Arnold escapou e voltou para a ainda estendida mão de Malfoy.

"Por Salazar, Weasley! Coloca uma coleira no seu monstro." Malfoy o entregou mais uma vez e Ginny segurou com mais firmeza seu companheiro. "E o mantenha longe daqui!"

Malfoy deu as costas e partiu irritado.

"Não vou te colocar na coleira." Ginny sussurrou com um sorriso para Arnold e fez o caminho contrário, aliviada por achá-lo.

xxx

No dia seguinte, quando Ginny voltou da última aula, foi conferir se Arnold estava bem em sua cama. Foi com um suspiro que constatou que ele não estava.

Nem se deu ao trabalho de parar na lareira do Salão Comunal e foi direto para a cozinha.

Quando chegou ao corredor, a sensação de deja vù percorreu seu corpo ao se deparar com Malfoy em frente à passagem de acesso. Tinha Arnold na palma da mão esquerda e a expressão de desprezo na feição.

"Não achou a coleira?" Ela a avistou e seu humor não melhorou desde o dia anterior. "Sua sarna veio apavorar os elfos de novo, Weasley!"

Ginny revirou os olhos e o pegou com firmeza. Amarrou Arnold em seu cachecol e o acomodou com carinho.

Mordeu a língua para não devolver sua provocação, porque Malfoy obviamente não contou a ninguém que Arnold se aventurou na cozinha ontem e se ela não revidasse, provavelmente não contaria sobre o episódio de hoje também.

"Obrigada." Murmurou antes de dar as costas para ele e partir com Arnold enroscado em seu pescoço.

xxx

No terceiro dia que a cena se repetiu, Malfoy não mordeu a língua para evitar os inúmeros comentários desagradáveis, mas ela mordeu, porque, mais uma vez, ele não a entregou para a Professora McGonagal.

Por isso que naquele dia, Ginny checou Arnold no intervalo do almoço e verificou que ele dormia tranquilamente na sua cama, do mesmo jeito que o deixou antes de descer para o café da manhã. Apesar de parecer satisfeito, em algum momento da tarde, o calor das cobertas não seria mais suficiente e ele se aventuraria para a calorosa cozinha de novo.

Para evitar outro confronto com Malfoy, ela decidiu enfiar Arnold no seu cachecol e o manteve bem próximo do seu peito. Ela o levaria para o restante das aulas consigo e pensaria no que faria com seu pequeno problema.

Durante as aulas tirou seu cachecol e o enrolou no colo ao redor de Arnold. Ele pareceu contente com a mudança de cenário e seu calor corporal pareceu suficiente. O Professor de Feitiços não reparou no mini pufe, mas o Professor Slughorn reparou e, com um sorriso simpático deu a entender que estava tudo bem.

Só que ela não teria a mesma sorte com a Professora McGonagal no dia seguinte e, definitivamente, não teria sorte com o Professor Snape.

Que dilema.

Terminou o jantar tranquilamente, despediu-se de Neville, seu frequente companheiro de refeição, acomodou Arnold em seu ombro e partiu para a biblioteca.

Arnold estava desperto e parecia prestar atenção no caminho. Ele sabia que era uma mudança na rotina da dupla. Suspirou. Precisava ver com Ron se a sua grade era maleável para ficar com Arnold no dia seguinte. Ponderou um momento. Mesmo que fosse, Ron odiava Arnold.

Quando chegou à biblioteca, tomou uma das mesas mais distantes e organizou seu material. Colin ainda não havia descido e eles combinaram de estudar juntos naquela noite.

Eles eram amigos, mas às vezes tinha a impressão que ele enxergava esses estudos como a possibilidade de se tornar algo mais.

"Fique bem quietinho, Arnold." Sussurrou ao mini pufe enquanto o acomodava em seu colo. "Madame Pince não seria tão tolerável quanto Malfoy se você perambulasse por aqui." Ele a olhou com os olhos arregalados e atencioso. Curvou um pouco sua boca, um gesto que ela achou curioso.

Começou a estudar sozinha e Colin não apareceu, mas outros alunos foram preenchendo as mesas da biblioteca e era possível ouvir mais cochichos e movimentação ao redor.

Ela lia as anotações da aula de Defesa Contra a Arte das Trevas enquanto acariciava os chamativos pelos de Arnold. Ele parecia apreciar o seu toque.

Ela começou a bocejar e estava ficando cansada. Colin oficialmente não apareceu e se perguntou o que poderia ter acontecido. Colin era pontual e geralmente chegava ansioso. Era ele quem combinava-

"Arnold!" Assustou-se quando o pufe pulou do seu colo e saltitou pela biblioteca. Seus saltos eram baixos e não passavam de meio metro, Madame Pince não o veria de sua bancada, mas os alunos presentes certamente o veriam.

Agachou-se e engatinhou atrás do mini pufe. Começou a considerar a ideia de Malfoy e se questionar se deveria mesmo mantê-lo numa coleira para evitar essas fugas. Rapidamente afastou a ideia, ele era um mini pufe, afinal, e seria cruel.

Ele era chamativo, mas mesmo assim o perdeu de vista quando se misturou entre as mesas e pernas.

Arnold tomaria uma bela bronca quando o localizasse.

"Procurando o seu chaveiro?" Um par de pernas surgiu em sua frente e travou seu caminho. Ela levantou o olhar e se deparou com o olhar crítico de Malfoy e com o pufe guardado em sua mão esquerda.

"Malfoy!" Praticamente lamentou quando o viu.

"Cantei vitória antes da hora quando terminei a minha ronda hoje e não topei com isso-" Ele balançou a mão com leveza, enquanto se levantava. "-importunando os elfos na cozinha."

"Arnold!" Ralhou com o pufe enquanto o recebia da mão de Malfoy. "Obrigada, Malfoy."

Ele a encarou inexpressivo por cinco segundos antes de dar as costas e voltar para sua mesa.

Ginny tomou Arnold entre as mãos com firmeza e voltou para a própria mesa com passos rápidos. Ignorava também os olhares que atraiu na pequena caça ao pufe.

Sentou-se novamente e encarou o pequeno com seriedade maternal.

"Você não pode perambular para onde bem entender, Arnold!" Murmurou exasperada. "Você vai nos causar problemas desse jeito!" Respirou alto enquanto olhava para os lados. "Malfoy vai te esmagar com o pé qualquer dia desses."

Arnold curvou a boca com as suas palavras e isso a fez franzir o cenho. Mini pufes não eram animais expressivos. Então, mais uma vez, ele pulou do seu colo e fugiu.

"Arnold!" Quando o assistiu, ele saltitou com um destino pré-determinado. Sentiu a garganta fechar quando Arnold pulou impiedosamente no colo de Malfoy.

O sonserino não pareceu surpreso com a abordagem. Ele estreitou o olhar para o mini pufe que se ajeitava em suas pernas e revirou os olhos quando finalmente se assentou. Impaciente, Malfoy tomou Arnold com a mão esquerda, levantou a cabeça e direcionou o olhar para ela. Ele não parecia bravo.

Malfoy parecia aborrecido.

Ele se levantou num movimento rápido e avançou em sua direção.

"Guarde seu rato direito, Weasley!" Ele derrubou Arnold em sua mão e simplesmente deu as costas.

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Ela não sabia mais o que fazer com Arnold.

Pela primeira vez, Arnold fugiu na parte da manhã. Ela tinha acabado de descer para o café da manhã e ele veio saltitando logo atrás dela.

Estava ficando sem alternativas. Ron não gostava de Arnold para dividir a responsabilidade e ela não poderia carregá-lo o tempo todo, muito menos nas aulas.

Talvez tenha sido uma péssima ideia trazê-lo para Hogwarts.

O recesso de Natal estava chegando, se Arnold se comportasse até lá, poderia deixá-lo com a sua mãe no retorno para casa.

Mas o recesso seria em vinte dias. Arnold andava tão travesso que talvez tivesse que pedir para sua mãe buscá-lo antes.

Ginny pegou uma bolsa de Hermione emprestada e colocou dois cachecóis dentro para improvisar um acolchoado para Arnold. Iria carregá-lo dentro da bolsa e por ora essa era a sua única opção.

Suspirou. Parecia uma madame carregando esse mini pufe roxo na bolsa. Terminou o café da manhã ignorando as piadas que Harry e Neville faziam dela por causa disso.

Quando tomou seu rumo em direção das masmorras para a aula de Defesa Contra a Arte das Trevas com Snape, viu Malfoy pelo caminho.

Ninguém havia notado a sua bolsa suspeita e claro que ele seria a exceção.

O sonserino estreitou um olhar para a bolsa e depois para ela. Antes que pudessem cruzar o caminho, Malfoy parou abruptamente e sorriu com escárnio.

"Você não está fazendo o que eu acho que está fazendo, Weasley."

"O que você acha que eu estou fazendo?" Retrucou enquanto ajustava a bolsa em seu ombro. Arnold se mexeu um pouco e não queria que ele saltasse para fora justo agora. "Porque me parece que eu tenho uma aula com Snape e estou indo para sua sala."

Malfoy balançou a cabeça com julgamento.

"Você não pensa muito, não é mesmo?" Ele debochou. "A sua tranqueira vai pular no colo de Snape assim que você entrar na sala e eu até pagaria para ver a sua cara quando Snape o explodisse com meia sacudida de varinha." Apontou para sua bolsa com o dedo esquerdo.

Para surpresa de ambos, Arnold escolheu aquele momento para pular da bolsa e saltar na mão de Malfoy.

O loiro elevou o mini pufe até a altura dos olhos e o avaliou inexpressivo. Então balançou a cabeça antes de estendê-lo de volta a ela.

"Ele está rebelde desde a primeira vez que você o encontrou na cozinha." Confessou enquanto o ajeitava novamente na bolsa. Malfoy não fez nenhum comentário sobre isso. "Não tenho muitas alternativas."

Arnold espiou novamente pela bolsa, mas ela o segurou novamente antes que ele pudesse escapar de novo.

Malfoy apenas revirou os olhos e seguiu seu caminho sem mais palavras.

Ela aproveitou para fazer o mesmo. Cinco minutos após o início da aula, percebeu que Malfoy estava certo. Arnold ficou inquieto assim que entrou na sala porque a temperatura das masmorras era mais baixa que a do restante do Castelo e Ginny enfrentou a aula mais tensa de sua vida enquanto torcia para o mini pufe não saltar na cara de Snape.

"O que eu vou fazer com você, Arnold?" Passou a mão em seus pelos enquanto pensava sozinha.

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Naquela noite, Ginny chantageou alguns novatos da sua Casa a cuidar de Arnold enquanto ia ao treino de quadribol. Em retorno, ela levaria cada um dos três alunos para dar uma volta de vassoura pelo campo depois do recesso.

Enquanto vestia seu equipamento no vestiário, pensava no que faria com Arnold. Ela adorava seu companheiro de estimação. Ele dormia todas as noites com ela e a fazia companhia quando estava sozinha. Infelizmente não poderia carregá-lo para todas as aulas como fez hoje. Era muito estressante escondê-lo dos professores e colegas.

Lembrou-se de Dean e no comentário crítico que ele fez no embarque ao trem do início do ano letivo. Era muita responsabilidade trazer um animal de estimação que não estava arrolado na lista de sugestões e apontou para Neville, como exemplo, que vivia caçando o fugitivo sapo Trevor.

Não poderia passar o resto da sua vida acadêmica caçando um mini pufe pelo Castelo, mas não queria admitir que Dean estava certo. Eles terminaram um mês após o início das aulas e já estava namorando sua colega Romilda. Não devia ficar ressentida com isso, porque não gostava mais dele, mas quando o novo casal começou a namorar ela ainda gostava um pouco dele e foi Arnold quem fez-lhe companhia e a ajudou a superar o ex-namorado.

Não queria devolver Arnold para a Toca também. Ele era seu companheiro. Precisava apenas achar uma alternativa melhor do que a atual. E a atual era andar com ele dentro da bolsa o dia todo.

Terminou de vestir seu equipamento, saiu rapidamente do vestiário e foi para direção do depósito de vassouras. Todos já estavam em campo e Harry não ficaria contente com o seu atraso.

Quando abriu a porta do depósito, flagrou um casal ousado que se beijava com fervor. A menina se afastou num pulo e pareceu constrangida com a interrupção.

Ótimo. Eram Malfoy e Parkinson.

Estreitou o olhar para o casal que se beijava justamente contra a sua vassoura.

"Pois não?" Malfoy parecia ofegante quando se manifestou com arrogância.

"Vocês se importam?" Ela apontou para sua vassoura atrás de Parkinson. A sonserina arregalou os olhos para Malfoy e, com uma mão nervosa ajeitou os cabelos, saiu do depósito. Ela marchou em direção da saída e desapareceu pelo caminho, sem muitas palavras.

"Obrigado, Weasley." Malfoy resmungou visivelmente irritado. Mesmo assim, ele alcançou sua vassoura e entregou a ela.

Ela apenas revirou os olhos antes de dar as costas e partir para a saída.

"Espera, Weasley." Ele a seguiu. Ginny pausou. Ele a mediu brevemente e pareceu notar um detalhe relevante. "Cadê o seu adereço?"

Ela o encarou.

"Eu tenho treino agora, não posso pendurá-lo no cabo da vassoura enquanto fujo dos balaços." Retrucou impaciente. A única reação que teve com a sua resposta foi a ponta dos lábios de Malfoy tremendo levemente para cima. "Por falar em treino, com licença, estou atrasada."

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O dia seguinte foi igualmente estressante, porque mais uma vez Arnold não quis ficar em sua cama e ela teve que carregá-lo escondido nas aulas.

Quando chegou à biblioteca para estudar naquela noite, Colin já estava lá.

Conversaram brevemente sobre alguns pontuais acontecimentos do dia e Colin brincou um pouco com o mini pufe.

Percebeu quando um famoso casal de sonserinos passou pela sua mesa e se acomodou num dos locais mais distantes. Ginny arregalou os olhos. Por um momento se esqueceu que Parkinson estava namorando Nott desde o início do ano. Quando seu olhar cruzou com o da morena, ela pareceu constrangida e desviou rapidamente. Ginny se esqueceu que Parkinson estava namorando o moreno e o flagrante que pegou na noite anterior não foi de um mero casal que teve a privacidade interrompida.

Malfoy e Parkinson eram um casal conhecido de outras temporadas, mas eles terminaram no último ano.

Quando Ginny olhou ao redor, reparou na familiar cabeça platinada concentrada nos próprios livros.

Talvez fosse por isso que ele a seguiu depois do pequeno flagrante. Talvez tenha ficado com receio de que ela pudesse contar a alguém.

Colin chamava sua atenção e a tirou de seus pensamentos.

"Ginny! Arnold escapou!" Claro.

Ela não precisou ser um gênio para procurar o mini pufe. Parou na mesa de Malfoy em poucos segundos. Ele não levantou a cabeça do próprio livro quando estendeu a mão esquerda que segurava Arnold.

Voltou para a própria mesa e repreendeu o pufe com rispidez. Arnold não pode perambular na biblioteca e ele sabe disso.

"Você pode ficar com ele enquanto eu busco um livro?" Sussurrou para o Colin após alguns minutos de estudo silencioso.

"Claro." Ela o entregou discretamente e foi aos dos corredores de livros em busca de um específico de Feitiços.

Folheou dois livros desinteressada. Quando alcançou o terceiro sentiu a presença de alguém. Virou-se e encontrou a expressão angustiada de Colin.

"Arnold fugiu para a direção do Malfoy de novo!" Sussurrou desesperado.

Ginny gemeu baixinho. Apressou-se para a mesa do solitário sonserino e não viu o pufe estendido em sua mão impaciente. Quando se deu por si, viu o pequeno pufe sobre as enormes pernas de Malfoy.

Supriu uma risada quando se deu conta que Malfoy estava tão concentrado no próprio estudo que ele não notou o chamativo mini pufe roxo em seu colo.

Percebeu que Arnold estava tão acomodado que decidiu deixá-lo até Malfoy surtar e devolvê-lo. Aproveitou para voltar às prateleiras para buscar o livro que precisava.

Após quarenta minutos de estudos e algumas rápidas trocas de palavras com Colin, terminou o trabalho de Feitiços para o dia seguinte. Foi quando ouviu o barulho de uma cadeira sendo arrastada contra o chão com mais força que o necessário. Seu olhar cruzou imediatamente com o de Malfoy. Finalmente notou que Arnold estava em seu colo. E Malfoy não estava contente.

A risada que escapou de seus lábios pareceu irritar ainda mais o sonserino. Tinha certeza que agora ele estava xingando Arnold.

Levantou-se imediatamente para busca-lo e viu que Malfoy estava com o mini pufe na altura dos olhos e não parecia apenas irritado. Parecia indignado.

Quando ela se aproximou o suficiente, Malfoy praticamente jogou o pet em seus braços com aborrecimento e, sem dispensar mais atenção, pegou sua mochila e foi embora da biblioteca com passos largos.

Ginny olhou para Arnold com a discreta bronca preparada para escapar de seus lábios quando viu a sutil expressão em seu rosto. Ele assistiu a partida de Malfoy. Sua pequena boca estava novamente torta e seus enormes olhos escuros brilhavam.

Arnold gostava de Malfoy.

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Na manhã seguinte, quando Ginny repetiu a rotina de carregar o mini pufe dentro da bolsa, já sabia que o dia não seria fácil.

Logo no desjejum, Arnold pulou de sua bolsa e saltitou sobre as mesas das Casas até pousar na Sonserina. Para ser mais preciso, pousou no ombro direito de Draco Malfoy.

Malfoy fechou os olhos pesadamente antes de procurar por ela na mesa da Grifinória e oferecer sua expressão mais aborrecida.

Ginny não teve tempo de se preocupar com a reação de Malfoy, porque os saltos de Arnold atraiu a atenção dos alunos sonolentos e ela apenas se preocupou com o que McGonagal faria se visse a cena também. Para sua sorte, ela não estava no Salão.

Quando Malfoy se levantou impaciente e ajustou a mochila nas costas, ela fez o mesmo para alcançá-lo na metade do caminho. Ele nem se deu ao trabalho de tirar Arnold do ombro e riu com deboche quando algumas alunas mais novas apontaram para o mini pufe.

Ginny mordeu a língua para não rir da cena, porque agora Arnold esticava a língua para tentar lamber seu pescoço e Malfoy tentava desesperadamente se esquivar. O coitado gostava mesmo de Malfoy.

Topou com Malfoy na entrada do Salão Principal. Ele não estava satisfeito e quando ela esticou a mão para pegar Arnold, ele não fez nem a gentileza de se inclinar para facilitar seu trabalho. E ele era alto.

Quando estava para afastar a mão com o relutante mini pufe devidamente preso em seus dedos, Malfoy a segurou pelo pulso com firmeza e a olhou fixamente nos olhos.

"Mantenha seu brinquedo longe de mim, Weasley." Ele reclamou entre dentes com frieza. Qualquer pessoa teria se intimidado com a sua ameaça, menos ela. Antes que pudesse protestar e até mesmo defender Arnold, outro fato a surpreendeu.

Ela olhou diretamente para mão enorme de Malfoy fechada em seu pulso.

"Você é quentinho." O comentário escapou de seus lábios traiçoeiros.

"O quê?" Malfoy pareceu confuso e depois surpreso.

"Você é quente, Malfoy." Pigarreou e repetiu enquanto tentava recuperar a dignidade com o comentário infeliz que fez. Ela podia sentir seu rosto corando. Ele retraiu a mão quente do seu pulso instantaneamente. "Arnold gosta de você." Comentou. "E agora eu sei que é por causa do seu calor."

Malfoy pestanejou.

Pareceu avaliar suas palavras brevemente. Então ele decidiu simplesmente revirar os olhos e ir embora.

Ginny encarou o mini pufe em sua mão com criticismo.

"Você vai nos causar problemas se continuar perseguindo o Malfoy." Arnold a encarou com a boca torta à menção do loiro. Ela suspirou inconformada pelo óbvio gesto de carinho. "Por que você não poderia gostar de alguém mais legal?" Questionou. Lançou um breve olhar ao trio maravilha que passava por ela e estava absorto nas próprias conversas. "Alguém como Harry?"

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Arnold continuou criando problemas para ela, porque agora percebeu que ele não procurava apenas por qualquer fonte de calor. Ele preferia o calor de Malfoy. Concluiu que a segunda vez que Malfoy topou com o pufe na cozinha foi por causa do contato que tiveram no dia anterior. Arnold procurava por Malfoy.

No horário do almoço Arnold tentou avançar novamente em Malfoy, mas ele, percebendo a tentativa, levantou-se com agilidade da mesa e saiu do Salão.

Goyle quase estrangulou seu mini pufe quando o capturou e o devolveu.

Quando desceu para as masmorras e viu Malfoy saindo da sala de Snape, ela agarrou o mini pufe com firmeza. Arnold parecia sentir a presença de Malfoy, porque toda vez que ele aparecia, ficava agitado e ansioso para se aproximar dele.

Quando se cruzaram pelo caminho, Malfoy não lhe poupou um repreensível olhar gélido. Ginny sentiu um arrepio percorrer a espinha com o gesto e se perguntou como alguém de personalidade tão fria poderia ter uma carcaça antagonicamente quente. Seu toque era quente.

No fim do dia, Hermione prometeu que ficaria com Arnold por algumas horas enquanto ela ia ao treino. Prometeu também que ficaria com ele dentro do Salão Comunal para evitar mais uma importunação e, consequentemente, mais um confronto com Malfoy. Arnold pareceu gostar de ficar em seu colo próximo à lareira.

Ela amava seu pet, mas era bom passar algumas horas sem se preocupar com ele. Ginny aproveitou cada minuto do último treino do ano. O inverno estava ficando tão rigoroso e era impraticável voar nessas condições. O recesso se aproximaria em breve e o próximo jogo estava previsto apenas para o começo de março.

Apesar das reclamações dos colegas de time, ela não se importou com o tempo feio.

Quando foi ao vestiário, aproveitou o máximo do tempo livre para tomar um longo banho quente e fazer sua rotina com calma.

Foi a última a sair pela demora que se permitiu naquela noite.

Fez o caminho de volta com tranquilidade e ao consultar o relógio de pulso, notou que ficou quase quatro horas no treino. Hermione devia estar desesperada para devolver Arnold.

Ao chegar no andar da sua Torre, deparou-se com uma incomum cabeça platinada se aventurando no corredor dos leões. Era difícil ver alunos de outras Casas próximos da toca do inimigo. Malfoy estava sentado no batente da janela com Arnold aninhado em sua mão esquerda e na altura dos seus olhos.

"Como você sempre me encontra?" Malfoy resmungou para o mini pufe. Arnold apenas piscou para ele. "Qualquer dia alguém vai pisar em você." Arnold entortou os lábios em reação. Malfoy revirou os olhos com impaciência. "Bom, se você não quer morrer pisoteado, pare de explorar o castelo sozinho e-" Ele quase sorriu quando pausou para refletir melhor. Seu quase sorriso era sádico. "Não se aproxime de Crabbe."

Arnold piscou novamente antes de fechar os olhos e se fechar em sua mão. Malfoy revirou os olhos com o gesto, mas, para surpresa da ruiva, não pareceu se incomodar.

Ginny pigarreou quando se aproximou.

"Estou incomodando?" Não evitou a risada que seguiu com a pergunta. Malfoy pareceu surpreso com a sua aparição mesmo sendo óbvio que ele estava a sua espera. Ele estreitou o olhar para ela ainda com o mini pufe adormecido em sua mão.

"Weasley." Ele sussurrou exasperado. "Você não pode deixar o seu mini pufe passeando pelo Castelo."

Ginny pestanejou.

"Por que estamos sussurrando?" Ela se aproximou com curiosidade e quase sorriu quando Malfoy indicou para o pequeno Arnold adormecido em sua mão. Pausou por um momento e o analisou com uma nova percepção. Malfoy reconheceu que Arnold era um mini pufe pela primeira vez. Não o chamou de piolho ou chaveiro ou qualquer outra referência pejorativa que sempre fazia e, por isso, decidiu ser menos agressiva com o colega e apenas se sentou ao seu lado. "Desde quando Arnold está te aborrecendo?"

Malfoy ponderou enquanto consultava o relógio de bolso.

"Há três horas."

"Três horas?" Chocou-se. Malfoy estava com o seu pufe há muito tempo. "Eu o deixei com a Hermione para ir ao treino." Explicou com sinceridade. "Achei que ela estava com tudo sob controle."

"Obviamente você estava errada." Malfoy retrucou. "Granger nem se deu ao trabalho de procurar por ele." Não escondeu a acidez na voz. "E eu o peguei explorando sozinho as masmorras."

Ginny arregalou os olhos. Arnold estava ficando ousado para ir tão longe sozinho. Como ele saiu do Salão e passou despercebido por Hermione e pelos demais alunos era um mistério.

"Ele não estava explorando." Respondeu. "Acho que ele estava te procurando." Malfoy não pareceu surpreso com a sua explicação. Ela respirou alto. "Arnold gosta de você." Repetiu algo que ele claramente já sabia. "O que faremos agora?"

"Como assim o que faremos agora?" Malfoy pareceu ultrajado. "Seu pufe não é meu problema, Weasley!"

"Me parece que é." Respondeu com displicência. "Ele tem escapado pelo Castelo e causado problemas por sua culpa."

Malfoy não apreciou sua resposta.

"Você está dizendo que o culpado do seu mal treinado e selvagem pufe me atacar todos os dias." Ela se surpreendeu com os termos usados para se referir ao inofensivo e fofo mini pufe roxo em sua mão. Surpreendeu-se mais ainda quando o viu colocar a outra mão sobre a cabeça de Arnold como se estivesse tampando seu ouvidos. "Sou eu?"

"Atacar?" Ela riu com a dramatização dele. "Malfoy, só Merlin sabe porque Arnold decidiu gostar de você, eu não tenho culpa se ele tem um lado autodestrutivo?"

"Autodestrutivo?" Malfoy pareceu ofendido e se levantou abruptamente. "Fique sabendo, Weasley, que Arnold não é o único que gosta do calor que esse corpo pode oferecer." Ginny supriu uma risada pela reação. Era cômico. Ele empurrou Arnold em sua direção e o derrubou em seu colo. O movimento o acordou. "Não vou repetir, guarde-o direito e o mantenha longe de mim."

Malfoy deu meia volta e foi embora com passos largos e certeiros.

Ginny suspirou e encarou o companheiro completamente acordado em sua mão.

"O que conversamos sobre Malfoy?" Seu tom de voz o fez se contrair.

"Ginny!" Hermione surgiu desesperada pelo retrato da mulher gorda. "Arnold! Ele..." Ela respirou aliviada quando o viu em seu colo. "Eu cochilei sem querer." Explicou embaraçada.

Certo.

xxx

Na manhã seguinte, Romilda a acordou sem gentileza com a voz alta.

"Ginny!" Ela a sacudiu pelos ombros. "Malfoy está te chamando na passagem do Salão!" Contou apressada. "Ele está com o Arnold!"

A última informação a fez se sentar rapidamente. Olhou em sua cama e viu que o seu companheiro não estava com ela. O safado escapou em algum momento enquanto ela dormia!

A ruiva se arrumou rapidamente. Jogou cegamente vários livros na mochila e simultaneamente prendia os cabelos. Vestia o uniforme com a escova de dentes pendurada na boca. Calçava um sapato enquanto procurava um cachecol.

Quando checou seu próprio reflexo ainda parecia atropelada.

"Ginny, Malfoy está brigando com o seu irmão no corredor!" Romilda retornou alarmada.

Desceria com cara de atropelada mesmo. Correu escada abaixo e localizou facilmente o pequeno tumulto.

"Acredite, Weasley. Se um dia eu decidisse entrar para no ramo do sequestro, tenha certeza que eu investiria meu tempo com algo valioso e de alguém que tenha recursos para pagar pelo resgate!" Malfoy rebateu ao seu irmão.

"Ora, seu idiota!" Ron foi segurado por Harry e Dean.

Ginny revirou os olhos.

"Basta, Ron!" Decidiu intervir. "Você sabe que Arnold tem essa obsessão bizarra por Malfoy." Ginny notou que enquanto a discussão se desdobrava, Malfoy estava de braços cruzados e tinha o mini pufe curiosamente instalado em seu ombro direito. Como se Arnold fosse dele. Estreitou o olhar para a dupla e, num ato impulsivo de ciúme pela óbvia preferência do seu pet de estimação, avançou e resgatou seu mini pufe. "Obrigada, Malfoy, mas agora eu assumo daqui."

Ele o encarou inexpressivo.

"Você e eu precisamos ter uma conversa sobre a educação desse ser inconveniente." Malfoy declarou com a voz arrastada.

Ginny olhou por cima do ombro enquanto Ron era arrastado para dentro do Salão Comunal por Harry e Dean. Hermione lançou um olhar piedoso para ela antes de seguir o namorado.

Voltou a atenção para Malfoy.

"Como metade da população desse Castelo, Arnie obviamente não consegue viver sem mim." Arnie? "Ele tem causado confusão toda vez que entra no Salão Comunal da Sonserina e eu não posso atrair esse tipo de problema com Snape."

"O que você está dizendo?" Questionou surpresa. "Você vai me ajudar a cuidar dele?"

Malfoy começou a andar pelo corredor e ela o seguiu.

"Eu posso ficar com ele no horário do almoço e da janta." Disse sistemático. "Mas não espere que eu o carregue durante as aulas dentro dessa bolsa."

Arnold pulou no ombro de Malfoy novamente, aparentemente contente com a sua sugestão. Perguntou-se mentalmente se ele sabia o quão ridículo ele parecia desfilando com esse mini pufe roxo pendurado no ombro, mas afastou o pensamento e refletiu sobre a sua ideia. Seria bom não se preocupar vinte e quatro horas por dia com Arnold, ainda mais quando ele sempre tentava escapar o tempo todo para buscar a companhia dele. E ele gostava de Malfoy.

"Certo." Respirou aliviada. Não era exatamente um dilema para ela. "Mas," Ela interrompeu a caminhada abruptamente com uma mão em seu braço e isso fez com que Arnold se desequilibrasse e caísse do ombro dele. Malfoy o pegou habilidosamente com a mão esquerda e a encarou aborrecido. "Trate-o bem." Sussurrou.

O sonserino arqueou uma sobrancelha pontual.

"Acho que o mesmo vale para você." Ele resmungou enquanto acomodava Arnold no próprio ombro mais uma vez.

Ginny revirou os olhos e o soltou. Voltaram a caminhar lado a lado. Estavam se dirigindo instintivamente ao Salão Principal.

"É só até o recesso de Natal." Contou a ele enquanto o espiava de canto de olho. Reparou de novo como Malfoy era alto. "Eu vou deixá-lo em casa com os meus pais."

Ele apenas assentiu.

Quando pararam na entrado do Salão, Malfoy pegou o mini pufe do seu ombro e, para sua surpresa, trouxe para a altura do próprio rosto e o encarou com rigidez.

"Comporte-se hoje." Declarou com firmeza e autoridade na voz. "Nós nos veremos em algumas horas, certo?" Arnold apenas piscou para ele com a boca curiosamente torta. Malfoy sutilmente assentiu com o entendimento estabelecido entre os dois e, surpreendendo-a mais uma vez, quando esticou a mão em direção da ruiva. Ele afastou uma mecha de cabelo do seu ombro e o descansou lá. "Até breve, Arnie." Despediu-se do mini pufe e, sem mais palavras ou até mesmo um último olhar para a Ginny, partiu para a mesa da Sonserina.

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A semana que passou foi... interessante.

Malfoy a esperou todos os dias na entrada do Salão Principal no horário do almoço e pegou o mini pufe para passar um tempo com ele durante a refeição.

Ginny os assistiu da sua mesa todos os dias. Arnold às vezes ficava em seu ombro, às vezes em seu colo. Malfoy não parecia aborrecido com a sua companhia e no primeiro dia até rebateu com frieza um colega de Casa que ousou provocá-lo com um comentário desagradável sobre o pequeno ser.

Quando o almoço acabava, eles se encontravam na entrada novamente e Malfoy sempre o devolvia com pontualidade. Ele sempre repetia o gesto do primeiro dia e afastava seu cabelo antes de colocá-lo em seu ombro. Não trocavam muitas palavras e, para seu alívio, nem insultos.

No fim do dia, Malfoy o buscava novamente antes do jantar e o devolvia ao final da refeição.

Há alguns dias, após a janta, Ginny ia com o Arnold à biblioteca para estudar. Numa das vezes, Arnold sentiu a presença de Malfoy no local. Ele escapou do seu colo com sabedoria e pousou no colo dele. Malfoy apenas assentiu dando a entender que estava tudo bem. Ele ficou com Arnold até à biblioteca fechar.

Depois daquela noite, quando Malfoy chegou à biblioteca após a janta, ele e a surpreendeu se sentando em sua mesa.

Foi a primeira vez que compartilharam um sorriso que foi causado pela forma que Arnold pulou do ombro dela para o dele, depois do ombro dele para o dela, repetidamente, até se cansar e pousar definitivamente no ombro dele. Ficou com Malfoy até o fim dos estudos.

Desde então quando terminavam a janta, Malfoy caminhava com ela até à biblioteca e se sentavam juntos para estudar. Arnold ficou contente com o novo arranjo.

Agora Malfoy se tornou seu novo companheiro noturno de estudos e Colin preferia distância do sonserino. Para sua surpresa, as sessões de estudos se tornaram num evento comunicativo. Passavam mais tempo juntos e o silêncio inicial agora se tornou em algumas conversas pontuais, majoritariamente sobre Arnold ou algo que era do interesse do pufe. Mas às vezes Malfoy o ajudava com a tarefa de casa também e isso era algo que ela apreciava. Ele era arduamente perfeccionista e, apesar disso, seu auxílio começou a refletir em notas mais altas. Era uma das vantagens do arranjo.

"O nome dele é Arnold, não Arnie." Ela o corrigiu pela milésima vez enquanto Malfoy comentava sobre algo que ele comeu na janta. Já estavam na biblioteca de novo.

"Você prefere ser chamada de Ginevra à Ginny?" Ele arqueou uma sobrancelha para ela. "Foi o que eu pensei." Concluiu quando ela não respondeu.

Arnold mordiscava o cachecol de Malfoy com veracidade para seu pouco tamanho, mas o sonserino parecia não se importar.

De todas as vantagens do arranjo, a melhor parte era que Arnold começou a se comportar. Ele realmente se comportava porque parecia gostar da rotina criada.

A desvantagem era que ele parecia obedecer apenas ao Malfoy.

Na noite anterior ela reclamou para Malfoy da dificuldade que tinha de se concentrar na aula de Snape com o mini pufe escondido dentro da bolsa. Então após o almoço daquele dia, Malfoy a acompanhou até a Torre da Grifinória, tomou Arnold na mão e o trouxe à altura do rosto. Usou a costumeira voz rígida e autoritária para ordenar que ele a obedecesse e ficasse comportado na cama dela até o horário da janta.

Para sua surpresa, no fim do dia encontrou Arnold acomodado em sua cama do mesmo jeito que o deixou.

Quando comentou isso com Malfoy, ele disse apenas que ela não era firme por isso que Arnold vivia descontrolado.

Custava admitir em voz alta, mas Malfoy era tolerável e parecia gostar de Arnold também.

"De qualquer jeito." Ele continuou. "Ele prefere Arnie."

"Não prefere!" Protestou indignada.

"Você gostaria de pagar para ver?" Ele arqueou uma sobrancelha para ela.

"Não, obrigada." Ela tinha certeza que Arnold preferia ser chamado de Arnie.

Ele revirou os olhos e voltou a se concentrar nos próprios estudos. Quando Malfoy inclinou a cabeça levemente para baixo por causa do trabalho que escrevia furiosamente com a pena, Arnold pareceu desconfortável com a posição curvada de seu ombro e deu um pulo na mesa e mais um para chegar ao ombro dela. Não prestou atenção quando ele se acomodou em seu cachecol, pois ainda assistia ao Malfoy.

Ele estava concentrado de verdade no trabalho e era uma expressão que se acostumou a ver em seu rosto nos últimos dias.

Malfoy não descansava a pena nem para reconsiderar o próprio raciocínio, parecia muito certo do que escrevia em sua tarefa. Ela sempre hesitava em sua tarefa e consultava mil vezes os livros para ter certeza do que transcreveria. Ele tinha uma pequena ruga entre os olhos e os lábios se pressionavam com firmeza e entregavam a concentração dedicada.

Quase pulou de susto quando ele levantou o olhar para ela, obviamente sentindo que estava sendo observado. Desviou rapidamente e ele retornou a atenção para a tarefa.

Ela decidiu fazer o mesmo.

Finalmente se concentrou e conseguiu formular uma tese decente para dissertar na sua tarefa de Transfigurações quando sentiu a perna de Malfoy encostar na sua por baixo da mesa, sem querer. Ela enrijeceu na cadeira, mas tentou não demonstrar a reação, por isso não o olhou. Ele retraiu rapidamente, mas ela pôde sentir o olhar dele se levantar do pergaminho por alguns segundos antes de voltar ao próprio trabalho.

Ela quase soltou a respiração alto quando ele finalmente parou de olhá-la. Tentou focar novamente no trabalho e quando conseguiu reunir as próprias ideias, sentiu a perna dele encostar na sua mais uma vez. Dessa vez ele não a afastou, nem a olhou.

Ginny segurou sua vontade de olhá-lo e tentou se manter calma. Não era nada demais. Isso já aconteceu outras vezes quando estudou em situação parecida com Colin, Luna e Hermione. Não era nada demais, repetiu.

Tentou manter a mesma postura indiferente que ele parecia sustentar e focou o olhar no próprio pergaminho com a certeza de que suas ideias se dissiparam completamente.

Conseguia pensar numa única coisa naquele momento. Malfoy era quente, muito quente. Podia sentir seu calor emanando e a contagiando impiedosamente. Lutou com todas as suas forças contra a vontade de afastar a perna ou de remover o cachecol para se refrescar.

Entendeu por que Arnie - Arnie?- queria o calor de Malfoy.

Era intenso.

Foram quase vinte minutos nessa mesma posição torturante.

Quase respirou aliviada quando Arnold pulou do seu ombro para o meio da mesa e fez com que Malfoy o olhasse. Ele mudou de posição e isso o fez afastar sua perna. Ela aproveitou para recolher o material e se levantar.

Ele pareceu surpreso com o movimento e consultou o relógio, ciente de que ainda estava um pouco distante do horário do toque de recolher.

"Vamos, Arnold." Ela ordenou, mas sua voz saiu trêmula. O mini pufe se moveu da mesa e, para contraria-la, pulou no colo de Malfoy. "Eu prometi a Hermione que a encontraria para conversar antes de dormir." Disse ao loiro propositalmente evitando seu olhar. "Arnold."

"Eu fico com ele hoje." Malfoy respondeu e isso a forçou a olhá-lo. Ele parecia analisá-la também. "Eu o entrego amanhã no almoço."

"Amanhã é sábado."

"E?"

Ela não sabia o que seguia depois. Não tinham definido especificadamente como seria a dinâmica com Arnold aos finais de semana.

"Está bem." Concordou contrariada sem saber exatamente por que estava se sentindo contrariada. Não queria pensar na proximidade dele tão cedo. "Boa noite." Despediu-se rapidamente enquanto jogava a mochila no ombro direito e saia da biblioteca.

Qual era o seu problema?

Era só uma perna!

Malfoy já encostou em seu pulso, já tocou seu cabelo e seu ombro algumas vezes quando acomodou o pufe sobre ele e já roçou sua mão na sua diversas vezes quando tiverem que passar e repassa-lo também. Sabia que ele era quente, porque todas as vezes que ele se aproximava seu calor sempre a alcançava antes.

Mas dessa vez foi apenas uma perna!

Qual era o seu problema?

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Foi a primeira vez que dormiu sem Arnold desde que chegou à Hogwarts.

Era a primeira vez que dormia sem Arnold há meses. Não ficou feliz.

Desceu ansiosa para o café da manhã, mesmo sabendo que era sábado e não precisava ter pressa porque não tinha compromisso para o dia, mas precisava achar Malfoy e ter certeza que Arnold passou uma noite tranquila longe dela.

O Salão estava vazio, claro, porque apenas idiotas acordavam cedo num sábado frio como aquele.

Suspirou e se sentou ao lado de Neville. Fizeram juntos a refeição e conversaram um pouco sobre a semana.

Ela contou um pouco como foi a dinâmica com Arnold e Malfoy.

"Apesar de ser Malfoy," Neville torceu o nariz. "é bom saber que Arnold não está mais escapando. Queria dizer o mesmo de Trevor." Lamentou. Honestamente ela não sabia porque Neville ainda insistia no sapo. Trevor obviamente não gostava dele.

Hermione chegou naquele momento e sorriu para a dupla.

"Por que você não divide a responsabilidade de Trevor com a Luna?" A morena sugeriu. "Ginny e Malfoy poderiam te dar umas dicas de guarda compartilhada, parece que está funcionando para eles."

Ginny engasgou na torrada com implicância das suas palavras enquanto Hermione e Neville gargalhavam da sua expressão.

Terminaram o café e Malfoy não deu as caras no Salão assim como a maioria dos alunos.

Devia ir até as masmorras? Ou talvez enviar uma coruja perguntando se está tudo bem? Estava congelando naquele sábado e Arnold era friorento.

Tentou afastar a ideia para não dar razão a Hermione e não parecer uma mãe preocupada. Malfoy disse que o entregava no almoço. Precisava esperar apenas algumas horas.

Passou parte da manhã jogando xadrez bruxo com Ron e Harry e outra parte adiantando a pequena mala para o recesso natalino que seria apenas no próximo final de semana.

Quando o horário do almoço se aproximou, ela desceu com a mesma pressa do café da manhã.

Malfoy já estava almoçando na mesa da sua Casa, sentado entre Goyle e um colega de ano dela. Arnold estava com ele, mas pulava de um ombro para o outro incessantemente. Ela achou incomum.

Quando se sentou na mesa da sua própria Casa, serviu-se cegamente com o que tinha ao seu alcance enquanto assistia ao mini pufe saltitar sem parar.

Malfoy parecia aborrecido com isso. Reparou que ele não estava de uniforme, assim como os demais alunos, mas vestia roupas casuais e ele estava bem agasalhado.

Quando seu olhar cruzou com o dela, ele pareceu surpreso. Curiosamente Arnold escolheu aquele momento para saltar do ombro de Malfoy e pular entre as mesas até chegar nela. Ele pousou em seu colo e se aninhou em sua mão.

Ergueu as sobrancelhas e sentiu uma onda de calor quando percebeu que Arnold sentiu saudade dela naquela noite afastada.

Voltou a olhar para Malfoy e constatou que ele não estava mais a assistindo, apenas conversava com Goyle.

Acariciou Arnold com carinho durante a refeição e sorriu quando ele a encarou com a mesma boca torta que as vezes cedia ao Malfoy.

Terminou a refeição, levantou-se e o colocou em seu ombro para se dirigir à saída.

Malfoy a aguardava na porta com braços cruzados e ao vê-la os descruzou.

"Weasley." Ela pausou e foi o suficiente para Arnold saltar do seu ombro para o dele.

"O que foi? Ele escapou de noite?"

"Não." Malfoy respondeu sério. "Mas ele não sossegou a manhã toda." Hesitou e pegou o mini pufe em sua mão esquerda e o elevou à altura do rosto. "Até agora."

Abaixou a mão e voltou a encara-la. Ginny não sabia definir, mas sua feição parecia quase preocupada.

"Arnold costumava ficar assim quando queria te ver." Ela olhou para Arnold. Ele parecia calmo.

"Talvez uma noite toda longe de você tenha sido muito tempo." Malfoy deduziu o analisando também. "Você ainda quer que eu fique com ele na janta?"

Foi Arnold quem o respondeu ao saltar da sua mão e se aninhar na curva do seu ombro, bem próximo do pescoço.

"Bom, você não muita tem escolha." Respondeu exaurida. A saudade que Arnold sentiu dela aparentemente já passou.

Malfoy deixou seus lábios tremerem levemente com a resposta. Ele pegou o pufe com a mão e o elevou na altura do rosto de novo.

"Comporte-se, Arnie." O mini pufe apenas piscou para sua voz ríspida.

Então Malfoy deu um passou até ela e costumeiramente afastou seu cabelo e colocou o pufe no seu ombro antes de dar as costas e desaparecer de vista.

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Entendeu perfeitamente o que Malfoy quis dizer quando contou que Arnold não sossegou.

Ele passou a tarde inquieto.

Pulou incessantemente em seus ombros. Às vezes parecia surtar e pulava aleatoriamente no colo dos alunos que estavam espalhados pelo Salão Comunal. Não parou mais de dois segundos no colo de ninguém. Ela estava ficando desesperada.

Ron chegou até a sugerir uma poção calmante para ele.

Ela ficou ultrajada e saiu do salão com Arnold bem seguro em seu colo.

Ela não doparia um mini pufe. Muito menos o seu mini pufe. Malfoy provavelmente surtaria com seu irmão se ouvisse a sua sugestão.

Caminhou um pouco desorientada percebendo que estava frio nos corredores e optou por enrola-lo com firmeza no cachecol e ir até a cozinha. Torceu para que o calor o acalmasse.

O primeiro contato foi suficiente para tranquiliza-lo e ela apreciou a atmosfera quente também.

Sentou-se numa das banquetas e beliscou alguns biscoitos deixados à disposição dos alunos. Deixou Arnold beliscar alguns também.

Ficou exatamente meia hora sem atrair a atenção dos elfos, mas quando Arnold começou a se mover ansiosamente decidiu que era hora de partir.

Começou a vagar novamente pelos corredores e começou a se desesperar quando Arnold sinalizou que queria pular de um ombro para o outro.

Para o seu azar, ou sorte, Malfoy estava no fim do corredor conversando com Pansy Parkinson.

Ambos estavam com o crachá presos na altura do peito que indicava que estavam fazendo ronda. Ron e Hermione usavam os seus crachás apenas quando estavam trabalhando também.

Antes que pudesse segurar Arnold, ele escapou e pulou até alcançar Malfoy. Ele subiu em seu ombro e Ginny podia ver daquela distância que o bendito estava com a boquinha torta e feliz por ver o sonserino. Ingrato.

Malfoy olhou ao redor e a avistou. Pareceu aliviado, pois provavelmente pensou que Arnold estava se aventurando sozinho de novo.

Ginny andou calmamente até a dupla e por um momento se esqueceu que os flagrou muito recentemente no depósito de vassouras. Ela desviou o olhar e decidiu manter a distância mesmo.

Parecia estúpida parada no meio do corredor.

"Ai!" O grito de Pansy chamou sua atenção e ela estava balançando a mão com afobação. "Esse idiota me mordeu!" Ela acusou irritada.

Ginny esqueceu qualquer hesitação e marchou até a dupla. Malfoy parecia achar a cena engraçada.

"Não o chame de idiota!" A ruiva rosnou para a Sonserina. Ela provavelmente tentou tocar no pufe e ele não gostou. Esticou a mão e pegou Arnold novamente.

Parkinson mordeu a língua e não retrucou. Ela lançou um olhar irritado para Ginny antes de dar as costas e ir embora. Ainda sacudia a mão pelo caminho.

Ginny revirou os olhos e olhou para o mini pufe. Sua boca torta indicava que estava bem. Ela o trouxe para perto do rosto.

"Você nos causará problemas se começar a atacar os alunos." Sussurrou contra o seu pelo roxo.

Malfoy pigarreou alto e por um segundo se esqueceu que ele estava lá também. Ele a assistia inexpressivo.

"Ele ficou inquieto a tarde toda." Contou ao sonserino e praticamente retomou a conversa que tiveram mais cedo. Afastou o pufe de seu rosto e o analisou. Arnold tinha a expressão mais ingênua que já viu e não parecia o mesmo pufe do qual relatava, muito menos o mesmo pufe que mordeu uma aluna. "Mesmo que não pareça." Murmurou duvidosa.

"Ele sossegou quando te viu mais cedo." Malfoy ponderou.

"E ele sossegou agora que te viu agora também." Ela completou. Arnold decidiu saltar para o ombro de Malfoy novamente. "Volta aqui." Ela tentou pega-lo, mas ele pulou para o outro ombro. Ficou impaciente com a brincadeira que ele acabou de fazer. "Malfoy está trabalhando, Arnold."

O mini pufe parou de pular e a encarou com atenção.

"Malfoy está trabalhando." Repetiu com firmeza. Ela esticou uma mão e Arnold pareceu vencido, porque pulou voluntariamente para a sua mão e permaneceu lá.

Quando voltou a olhar Malfoy, reparou que sua expressão deixou escapar um sorriso de aprovação. Ele a saudou brevemente com a cabeça pela forma que lidou com a malcriação de Arnold.

Malfoy se inclinou para a Arnold acuado na mão dela.

"Nós nos veremos na janta, certo?"

Arnold apenas piscou antes de pular no pescoço dela e se enrolar em seu cachecol. Ginny trocou um olhar grato com Malfoy o deixou em paz.

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No jantar, Arnold voltou a ficar impaciente porque queria se encontrar logo com Malfoy. Ela tentou ignorar o ciúme.

Malfoy a aguardava na porta do salão e Arnold não hesitou em pular em seu colo. Malfoy apenas assentiu para ela antes de ir até sua mesa com Arnold em mãos.

Ela aproveitou e fez o seu caminho até Neville.

O jantar foi pacífico e ela ficou aliviada porque Arnold ficou muito impaciente naquela tarde. Quando espiou a mesa da Sonserina, ele parecia tranquilo no ombro direito de Malfoy.

E Malfoy a olhava da mesa da Sonserina também.

Ela desviou o olhar rapidamente e voltou a prestar atenção no que Neville contava.

No fim da refeição foi até a saída esperar por Malfoy. Ele conversava com Parkinson e Nott e a morena ainda parecia ressentida com Arnold pela mordida que ganhou. Ginny não segurou a risada ao lembrar da cena mais cedo.

Quando Malfoy finalmente se levantou e foi até ela, Arnold pulou de seu ombro antes mesmo que ele pudesse parar. Ginny o pegou com habilidade, mesmo surpresa pelo movimento.

Antes que pudesse acomoda-lo, ele escapou e voltou para o ombro de Malfoy.

Então Arnold começou uma incomum e contínua passagem de salto entre os dois, como se fosse uma dinâmica interessante.

"Arnold." Malfoy quem o repreendeu com autoridade. Ele parou provavelmente porque Malfoy não o chamava pelo nome. Ou talvez pela entonação da voz.

Ginny esticou a mão para pega-lo do ombro dele e notou quando Malfoy se inclinou um pouco para facilitar o trabalho.

"Eu não quero ser estraga prazeres, muito menos num sábado à noite, Malfoy." Ela comentou enquanto olhava fixamente para Arnold. "Mas eu acho que Arnold tinha a impressão que passaríamos mais uma noite estudando na biblioteca." Recordou da rotina que tiveram nos últimos dias e viu os lábios do mini pufe entortarem automaticamente. Então Ginny se lembrou da noite anterior e do calor da sua perna roçando na dela. Sentiu o rosto esquentar com a memória. Ela não devia ter feito esse comentário, muito menos num sábado à noite. Malfoy interpretaria suas palavras de forma errada. "Diga boa noite ao Malfoy, Arnold." Decidiu contornar a situação rapidamente. Ela olhou brevemente para Malfoy antes de dar as costas e partir para a Torre da Grifinória. Ele parecia surpreso.

Quando chegou em seu dormitório, ela se jogou na cama e colocou o companheiro em sua barriga.

"Você está me causando mais problemas do que imagina, Arnie." Murmurou antes de cair no sono.

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Na manhã seguinte, acordou com Arnold aninhado em seu travesseiro. Ela olhou ao redor e reparou que todas as suas colegas ainda dormiam. Consultou o relógio e verificou que estava cedo, mas lembrou-se que adormeceu praticamente depois da janta.

Aproveitou para começar sua rotina matinal.

Apesar de ter se levantado mais cedo que pretendia, ao menos não participaria da disputa que era o banheiro feminino todas as manhãs.

E teve tanto tempo para se arrumar que decidiu trançar seu cabelo. Vestiu-se com roupas casuais confortáveis e quentes quando notou que Arnold já estava acordado e se remexia em suas cobertas.

"Vamos tomar o desjejum!" Sussurrou para ele.

Arnold pulou em seu ombro e a acompanhou para fora do dormitório. Ela foi a primeira a acordar pelo silêncio do salão.

Saíram para o corredor e o ar gélido logo a assustou. Estava muito frio!

Arnold se aninhou dentro da sua blusa e se prendeu em seu peito, enquanto ficava apenas com o rostinho para fora. Ela achou fofo.

Desceram até o salão principal e ela foi uma das primeiras a chegar. Haviam alguns alunos já, não mais que cinco, espalhados pelas mesas.

Aos poucos alguns alunos foram surgindo e, para sua surpresa, Malfoy foi um dos que despertaram cedo naquela manhã fria de domingo. Sua surpresa foi maior porque no dia anterior ele sequer apareceu para a mesma refeição.

Quando a notou da mesa da sua Grifinória, ele arqueou uma sobrancelha. Depois reparou no mini pufe preso em sua blusa e seus lábios tremeram para cima. Ela se viu retribuindo o seu quase sorriso com um sorriso inteiro, porque sabia que ele tinha achado tão engraçado quanto ela achou mais cedo.

Após alguns minutos, Arnold começou a se remexer inquieto e ela o soltou do zíper da sua blusa. Antes que pudesse repreendê-lo, ele partiu em direção do Malfoy.

Suspirou. Claro.

Malfoy o recepcionou com a mão esquerda aberta e o depositou em seu colo para não atrair atenção, já que estava vazio o salão.

Ginny fez sua refeição pacientemente. Até exagerou um pouco, mas acordou cedo e estava ociosa. Ainda mais ociosa, porque Arnold já a abandonou.

Quando Malfoy se levantou com o mini pufe em mãos, ela aproveitou para se levantar também.

Ele a esperou na entrada do Salão e parecia conversar com Arnold.

Malfoy colocou Arnold em seu ombro e o bendito estava com a boca toda torta. Ele claramente estava a traindo e já decidiu com quem preferia passar o dia.

"Vou ficar com ele hoje." Malfoy declarou com a voz arrastada. Ela cruzou os braços e o encarou.

"Você sabe que ele é meu companheiro de estimação, não sabe?"

Malfoy apenas ergueu as sobrancelhas.

"Para o seu azar, ele parece gostar mais de mim." Ela levou a mão na cintura e tinha certeza que seu rosto expressava o descontentamento com o seu comentário. E a pior parte era que ela nem poderia protestar que era mentira. O traidor gostava mais de Malfoy. "Mas, se você quiser, poderá passar o dia com a gente também." Oh. Ela não esperava por isso. "Era o que Arnie queria ontem, não era?"

Era. Ela mordeu o lábio e ponderou sua proposta.

Eles não passariam o dia juntos estudando, claro, era domingo e estava cedo. Nem Hermione passava o domingo de manhã estudando sem provas marcadas.

Arnold pulou em seu ombro naquele momento e mordeu a gola da sua blusa em incentivo.

"O que faremos?" Cedeu enquanto Malfoy esticava a mão perigosamente perto do seu pescoço e recolhia o pufe para si. Mesmo sem encostá-la, podia sentir o calor da sua mão pela proximidade.

Merlin me ajude.

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Ginny supriu uma risada, pois estavam na biblioteca e Madame Pince estava fazendo vista grossa.

A biblioteca não estava cheia naquela noite de segunda-feira porque era a última semana de aula antes do recesso natalino e a maioria dos alunos não se importava mais com os prazos das tarefas, já que estavam previstos apenas para o ano seguinte.

Mas Ginny e Malfoy mantiveram a rotina mesmo assim, porque depois do dia anterior, Arnold visivelmente ficava mais tranquilo quando os dois estavam em bons termos e juntos.

O domingo com Malfoy foi divertido.

Eles passaram parte da manhã jogando xadrez bruxo numa das salas de aulas desocupadas e quando ela o derrotou duas vezes, ele ficou aborrecido e reclamou que xadrez não era seu forte. Não era mesmo. Ele disse que preferia um carteado e quando ela confessou que não sabia muitos jogos com cartas, Malfoy dedicou maior parte do dia a ensinando alguns jogos que ele qualificou como conhecidos. Quando ela finalmente ganhou uma partida, Malfoy pareceu contrariado e disse que sua missão estava cumprida.

Arnold, nesse meio tempo, se acomodou entre eles e se alternava confortavelmente no colo dos dois. Ele não ficou agitado como teria ficado na noite anterior.

Quando perceberam que perderam o horário do almoço, foram até a cozinha beliscar algo.

Malfoy escondeu Arnold no seu grosso cachecol e o deixou fora da vista dos elfos. Enquanto beliscavam alguma besteira, às vezes deixava Arnold beliscar também. Ele ignorou todos os olhares de repreensão que ela lançou para ele.

Depois foram para a Torre de Astronomia e exploraram com curiosidade os artefatos da professora de adivinhação. Nenhum dos dois se matriculou na aula de adivinhação e concordaram entre risos que era uma matéria inútil.

Arnold adorou explorar os artefatos também.

No fim do dia, Arnold mal saiu do lado de Malfoy porque esfriava cada vez mais e ele se aproveitou do seu calor até o último minuto.

Na hora do jantar, retornaram ao Salão Principal para não perderem mais uma refeição e Arnold ficou com ele também.

Ginny aproveitou a jantar e soltou a trança apertada que prendia seus fios ruivos enquanto conversava animada com Neville sobre o seu dia.

Ao se encontrar com Malfoy na entrada do Salão Principal, ele olhou fixamente para os seus cabelos que caiam sobre ombro - no mesmo ombro que ele sempre tocava e afastava seus fios antes de colocar o Arnie. Seus lábios tremeram levemente para cima quando se aproximou e deu continuidade ao costumeiro hábito. Afastou seu cabelo e acomodou o pufe em seu ombro.

Ela sentiu o rosto esquentar quando se deu conta de que Malfoy provavelmente pensava que ela soltou o cabelo justamente por causa dessa pequena rotina deles.

Deu as costas rapidamente para ele e partiu com Arnold. Estava muito constrangida, porque essa não foi a sua intenção. Nem de perto.

Tirando esse pequeno momento ocorrido por um mal entendido, Malfoy não encostou nela o dia todo e ela decidiu deixar para trás as paranoias que criou por causa do ridículo toque de suas pernas algumas noites atrás. Malfoy claramente não ficou incomodado e ela não deveria também.

E não foi nada demais.

Por isso, naquela nova semana, decidiu se abrir mais para a possibilidade de que Malfoy era um cara decente. Mas de qualquer forma fez uma nova trança no cabelo e não o soltou até agora. E não o soltaria também.

"Arnie não precisa de um adestrador!" Rebateu à sugestão de Malfoy de que eles deveriam considerar um adestrador para o mini pufe.

"Ele tem hábitos selvagens, Weasley." Malfoy olhou para Arnie que mordiscava a ponta de sua pena sem pudor sobre a mesa. Apesar de terem espalhado o material sobre a superfície, eles não abriram nenhum livro para estudar.

"Quantos mini pufes você conhece que tem um adestrador, Malfoy?" Ela supriu outra risada com a mera ideia de ter um adestrador para Arnold. "E por acaso eu tenho cara de madame para ter um adestrador para o meu mini pufe?" Dessa vez deixou a risada escapar. Malfoy não parecia achar a ideia tão bizarra quanto ela. "E sinceramente?" Ela se inclinou sobre a mesa com tom de fofoca. Malfoy se inclinou pela curiosidade também. "Você praticamente é o adestrador do Arnold."

Malfoy se afastou ultrajado.

"Eu não sou um adestrador!" Protestou indignado e isso a fez rir ainda mais. Ele ficou de cara amarrada e não cedeu à sua graça.

Ginny parou de rir apenas quando alguém se aproximou da mesa e os interrompeu. Sua risada morreu completamente quando reparou que a pessoa era Parkinson.

"Podemos conversar, Draco?"

Ginny viu Malfoy a encarar inexpressivo por alguns momentos antes de responder.

"Não." Malfoy voltou a atenção para o pequeno Arnold sob a mesa e Pansy não teve outra alternativa senão partir.

Eles ficaram alguns segundos num silêncio incômodo e ela não sabia o que dizer.

"Vocês estão juntos?" A pergunta simplesmente escapou de seus lábios.

Malfoy a olhou com ceticismo.

"Não." Respondeu sem mais explicações.

Mais silêncio.

"Mas eu vi vocês naquele dia." Sussurrou. Ele sabia a qual dia ela se referia. Quando os flagrou no depósito de vassouras.

"E isso não é da sua conta, Weasley." Ele respondeu com frieza. Malfoy juntou o seu material e sinalizou que estava partindo. "Espero que você não tenha aberto a boca sobre isso a ninguém."

"Eu não contei para ninguém!" Protestou rapidamente, mas Malfoy pareceu não se importar.

Ele terminou de juntar seu material, enfiou tudo na mochila e se levantou.

"Até amanhã, Ginny."

Ginny.

Malfoy partiu sem olhar para trás e sem se despedir de Arnie.

Quando espiou o mini pufe, ele pareceu chateado pela desatenção recebida.

xxx

Na terça, o humor de Malfoy melhorou novamente e Ginny concluiu que Parkinson era um assunto sensível para ele.

Decidiu não cutuca-lo mais porque ele estava certo e não era da sua conta. Eles não tinham essa intimidade e, em alguns dias, quando voltassem para suas casas para o recesso de Natal, essa atípica parceria formada acabaria, pois ela já havia deixado claro que Arnie não voltaria com ela. Arnold.

Mesmo assim, Malfoy sugeriu novamente o adestrador e, com isso, já repetiu também que não era o adestrador.

Percebeu que ele estava retomando a conversa da noite anterior antes de ser interrompido por Parkinson.

Se a biblioteca já não estava cheia ontem, haviam menos alunos hoje. Novamente seus livros estavam espalhados sobre a mesa, mas não estavam estudando. Malfoy estava brincando com Arnie em suas mãos sobre a mesa. Arnold. E Arnold não estava ressentido pela noite anterior.

"Se você educa-lo corretamente, ele poderá voltar do recesso também." Ele explicou como se fizesse sentido. E provavelmente fazia, mas apenas na mente rica e mimada que ficava abaixo daquela cabeça platinada.

Imaginou-se contando aos seus pais que precisava de um educador para o mini pufe e quase riu, mas quando se imaginou contando para o Ron, verbalizou para Malfoy e ambos riram juntos da imagem.

Novamente, continuaram conversando assuntos leves e brincaram um pouco com Arnold sobre a mesa. Madame Pince não se importava mais com o barulho a apenas alguns dias do recesso.

Quando Malfoy declarou que queria ficar com Arnold naquela noite, ele encostou sua perna na dela. A parte externa da sua coxa direita estava diretamente encostada na dele e ele não desencostou como qualquer outra pessoa teria feito. Na verdade ele até pressionou um pouco mais. Podia sentir sua pele coberta pelo grosso uniforme pegar fogo com o calor dele.

"Pode ser." Ela concordou por falta de discernimento pessoal para conseguir formular uma fundamentação coerente que pudesse negar seu pedido.

Malfoy ficou satisfeito e voltou a brincar com Arnold. Ele não pareceu nem um pouco incomodado com a própria perna encostando na dela. Tanto que ele continuou conversando, mas mantendo a perna encostada à sua sem demonstrar qualquer reação.

Quando ele consultou o relógio de bolso, checou que estava quase na hora do toque de recolher. Ambos se despediram na porta da biblioteca e tomaram direções opostas para os seus respectivos dormitórios. Dessa vez quem não se despediu de Arnie foi ela, mas pouco se importou, porque com a rápida distância, ela finalmente conseguiu respirar corretamente sem a presença de Malfoy.

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No dia seguinte, Malfoy não apareceu com o seu pufe na hora do almoço para sinalizar que estava tudo bem e ela tentou não se preocupar. Malfoy já provou que era responsável e zeloso com ele.

Ela terminou as aulas da tarde tranquilamente e o fim da última aula com Snape antes do recesso foi um alívio.

Saiu da sua sala pronta para se dirigir ao Salão Principal quando se deparou com Malfoy também nas masmorras conversando com três alunas mais novas da sua Casa. Elas riam alto e apontavam para o mini pufe encolhido em seu ombro. Ela não gostou.

Malfoy estava usando seu Arnold para atrair meninas?

Sentiu o sangue esquentar imediatamente.

Ginny pensou em parar perto do grupo e cruzar os braços, mas Arnold sentiu sua presença e saltou do ombro de Malfoy e foi até ela.

Ela colocou uma mão no pequeno protetoramente e encarou Malfoy. Esperou que ele dispensasse as meninas e viesse conversar com ela, mas ele demorou. Então decidiu continuar seu caminho.

Ginny não devia se sentir assim, mas não conseguia evitar. Ela não deixou Arnold com Malfoy para que o usasse para atrair meninas.

Quando finalmente saiu das gélidas masmorras, um assobio chamou sua atenção e Arnold pulou do seu ombro.

Assustou-se quando se virou e o viu saltitando até Malfoy.

Ela finalmente cruzou os braços como tanto queria.

Malfoy se aproximou com um sorriso tremendo no canto da boca e presunção na expressão.

"Gostou do nosso truque?"

Ela pestanejou.

Deixou a momentânea impaciência de lado e inspecionou a dupla.

"Você treinou Arnold para atender seu chamado!" Surpreendeu-se. Um riso alto escapou dos próprios lábios. "Você sabe que ele não é uma coruja, Malfoy?"

Malfoy sorriu enquanto parava em sua frente.

"Tenta você." Ginny assobiou e... nada. Arnold apenas entortou a cabeça e a encarou. "Até o seu assobio precisa de firmeza, Weasley." Ele praticamente resmungou.

Antes que ela pudesse replicar, Malfoy se aproximou mais um passo e afastou seu cabelo. Ela sentiu o calor emanar da sua mão bem perto do seu pescoço e manteve toda a sua calma para não demonstrar como sua aproximação afetava. Ele tomou Arnie nas mãos e o colocou em seu ombro.

"Vocês se divertiram?" Ela virou o pescoço para perguntar ao pufe, mas quem respondeu foi Malfoy.

"Um pouco." Sua admissão a surpreendeu.

"Malfoy." Ela mordeu o próprio lábio. "Eu não quero que você use Arnold como instrumento para seduzir as suas colegas."

Quem se surpreendeu agora foi ele. Suas sobrancelhas se ergueram na testa e foi um gesto atípico para ele que tentava sempre se manter distante e inacessível nas expressões.

"Eu não preciso de instrumentos para conquistar ninguém, Weasley." Ele debochou do seu termo, estava quase ofendido. "Muito menos de um mini pufe."

"Sei." Ela resmungou e decidiu deixar o assunto morrer. Virou-se para continuar seu caminho, mas Malfoy a acompanhou.

"Eu tive uma alteração na escala das rondas porque um dos monitores está doente e terei que substitui-lo." Disse ao seu lado. "Não poderei ficar com vocês mais tarde." Explicou.

Vocês.

Ginny engoliu a seco e tentou fechar o semblante.

"Tudo bem." Respondeu. "Você já passou o dia todo com ele." Sentiu o olhar de Malfoy espia-la ao seu lado com curiosidade.

Ao chegarem ao Salão Principal para a janta, não trocaram mais palavras e cada um foi para sua respectiva mesa.

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Na quinta, Malfoy cruzou com ela duas vezes pelos corredores entre os intervalos das aulas da manhã e assobiou nas duas vezes.

Ele se divertiu com o mini pufe escapando de sua bolsa e o procurando ansiosamente.

No período da tarde, ele não tentou a mesma brincadeira, porque sabia que ela deixava Arnold no dormitório, mas curiosamente cruzou por ela no seu caminho mais duas vezes.

Ao chegarem à biblioteca depois da janta, mais uma vez estavam praticamente sozinhos, com exceção de Crabbe. Nenhum dos dois entendia porque ele escolheu o local para tirar um cochilo ao invés da própria cama.

Dessa vez, eles nem se deram ao trabalho de tirar o material da mochila, apenas se sentaram na usual mesa e conversaram com o mini pufe saltitando entre eles.

"Você sentirá falta de Arnold quando ele for embora?" Malfoy não a olhou, continuava acariciando os sedosos pelos roxos do seu pequeno pet, mas ela sabia que ele a ouviu muito bem. No sábado seria o início do recesso e o acordo deles acabaria em breve.

"Não sentirei falta dele pulando no meu dormitório no meio da madrugada." Ginny sentiu uma onda de calor com a sua resposta, porque ele sempre se esquivava de respostas diretas, mas sempre entregava respostas sinceras. Ele sentiria falta de Arnold. "Até hoje não sei como ele entra em cômodos lacrados por senhas."

Era um mistério para ela também.

Quando Arnold pulou no ombro dela e começou a morder seu cachecol, Malfoy se inclinou sobre a mesa e esticou uma mão em sua direção. Ele não recolheu Arnold como pensou que faria, apenas afastou uma mecha do seu cabelo que estava debaixo do mini pufe.

"As unhas podem enroscar." Explicou num murmúrio, mas ela não prestou muita atenção, porque, mais uma vez, sentiu um familiar toque debaixo da mesa nesse pequeno movimento e ele não se desencostou quando afastou a mão. Dessa vez, os dois joelhos dele tocavam os seus. E calor que sentiu vinha de todos os lados agora.

Malfoy a olhou fixamente por alguns segundos antes de voltar a atenção para Arnold que ainda roía seu acessório.

"Você gosta do seu cachecol?" Questionou exasperado, mas não aguardou sua resposta. "Espero que sim, você está prestes a ter dois dele."

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Na sexta-feira e último dia de aula antes do recesso, Malfoy a surpreendeu ao esperá-la na entrada do Salão Principal logo no café da manhã. Ele se voluntariou para ficar o dia todo com Arnold e ela tinha a impressão que era a sua forma de se despedir do mini pufe, já que amanhã voltariam para suas casas.

Ginny não se importou, pois seria bom ter um dia para ela e Malfoy era cuidadoso.

Percebeu que ele era a única pessoa a quem confiava o mini pufe sem receios.

No período da tarde, a Professor de Herbologia liberou os alunos das aulas e ela ganhou um tempo livre com isso. Ficou até aliviada, pois estava tão frio que seria um pequeno prazer não atravessar o jardim aberto de Hogwarts para chegar às estufas. Passou esse período conversando e rindo com seus colegas de classe no caloroso Salão Comunal da Grifinória.

Todos já estavam em clima de festa e estava sendo impossível se concentrar nas aulas da manhã, quem dirá se preocupar com os deveres de casa que deveriam ser entregues apenas no retorno do recesso.

Isso a fez ponderar se Malfoy iria sugerir que eles abortassem o rotineiro encontro noturno na biblioteca. Ela sentiu o rosto esquentar quando repensou na palavra encontro. E era óbvio que ele iria sugerir, já que a própria Madame Pince parou de trabalhar e entregou à biblioteca nas mãos de Merlin.

"Ginny." Seu irmão a tirou dos próprios pensamentos enquanto mastigava alto um dos doces contrabandeados da Dedos de Mel. "Não se esqueça de empacotar sua vassoura." Ela apenas assentiu. Havia se esquecido da coruja que Charlie enviou os lembrando da orientação. Ele passaria o período todo de festas na Toca e estava desesperado para voar em vassouras ao invés de dragões. E seria legal jogar quadribol com todos os seus irmãos nos próximos dias. Mesmo que fosse nesse frio.

Apertou o cachecol no pescoço e saiu do Salão em direção ao campo de quadribol onde os alunos guardavam seus equipamentos.

Estava muito frio e isso a fez se lembrar novamente de Arnold. Ele era tão friorento. Torceu para que Malfoy estivesse mantendo seu mini pufe bem aquecido.

O campo estava deserto, assim como vestiário. Poucos se arriscavam naquele frio e ela devia ser a única que não se importaria de dar um último voo naquele tempo, considerou.

Ao chegar ao depósito, para o seu espanto, a porta estava escancarada e flagrou Malfoy e Parkinson dentro. Indignou-se ao ver Arnold entre o casal, preso nas mãos de Malfoy e se rebatendo impaciente.

Ela devia ter dado privacidade ao casal e dado meia volta, mas Arnold estava infeliz. Por isso que num impulsivo movimento, Ginny levou a mão à boca e assobiou alto. O casal se surpreendeu com o barulho e se afastou de susto quando o mini pufe escapou de Malfoy e saltitou apressado em sua direção. Acolheu Arnold em suas mãos protetoramente.

Parkinson a encarou irritada. Ela saiu do depósito e marchou para direção da saída.

Ginny ficou um pouco embaraçada por ter atrapalhado a intimidade dos dois, mas lembrou-se rapidamente da infelicidade do seu companheiro de estimação e decidiu que ela não estava errada. Eles não estavam se pegando como da última vez que os viu e, claro, a porta estava aberta, concluiu.

Malfoy a assistiu surpreso enquanto ela entrava no depósito em silêncio e procurava por sua vassoura. Aparentemente alguns alunos vieram recolher as suas também e fizeram a maior bagunça.

"Pansy e eu estávamos apenas conversando." Ele contou com a voz arrastada como se devesse a explicação para ela. Ginny colocou Arnold em seu ombro e ficou de costas para Malfoy enquanto continuava procurando por sua vassoura.

"Isso não é da minha conta, lembra?" Rebateu com as suas próprias palavras. Arfou irritada quando percebeu que a sua vassoura foi colocada na prateleira mais alta.

Provavelmente percebendo a sua frustração, Malfoy se aproximou por trás e ela paralisou. Podia sentir seu calor emanando completamente nas suas costas mesmo sem tocá-la. Ele era quente. Viu sua mão atravessar por cima de sua cabeça e alcançar sua vassoura com facilidade. Ele a desceu e a apoiou no chão.

Malfoy não se afastou.

Ela sentiu sua própria respiração acelerar com a sua proximidade e todo o calor que ele emanava descontroladamente. Era inverno, mas ela tinha certeza que podia sentir uma gota se suor se formando em sua nuca.

"Weasley." Ele a chamou num murmúrio e sentiu seu hálito quente bater contra os seus cabelos. Isso a fez fechar os olhos pesadamente. Precisava respirar direito. No entanto, até respirar pareceu difícil naquele momento. Sentiu a mão quente de Malfoy se aproximar e tocá-la no ombro desocupado. Definitivamente, não conseguia respirar. Ele afastou com gentileza seu cabelo num gesto já conhecido pelos dois. Então as pontas dos seus dedos trilharam com desconhecida intimidade a pouca pele exposta do seu pescoço. Ele era tão quente que a sua pele parecia queimar.

Ofegou alto e virou o pescoço para olhá-lo. Malfoy a assistia com a cabeça inclinada também. Nesse breve gesto dela, pausou os dedos, mas não os afastou.

A situação era surreal. O clima ainda mais.

Por alguns segundos apenas se olharam. Reparou que era a primeira vez que o via tão de perto. Seus traços afiados pareciam impressionantes da pouca distância que se encontravam. De repente, o depósito pareceu menor do que realmente era.

Ele desviou o olhar primeiro quando sua atenção escorregou para direção da sua boca e seus dedos voltaram a se mover. Parecia que ele estava prestes a beija-la.

E teve certeza que era isso que estava acontecendo, quando ele se moveu lentamente em sua direção.

Ele ia beija-la.

No último segundo, ela mordeu o lábio inferior e desviou o rosto.

"Não faz nem dez minutos que você estava aqui com Pansy Parkinson, Malfoy." Justificou com a voz rouca e se afastou dele. Segurou Arnold com firmeza no ombro antes de se afastar completamente do seu calor e sair do apertado depósito. Não dispensou um último olhar para o Malfoy quando desapareceu em direção da saída.

Respirou alto quando chegou ao campo e andava apressada para direção do Castelo.

O caminho de volta pareceu mais congelante que o da ida.

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Ginny sabia que Arnold estava inquieto porque queria ver Malfoy. Estava frio e ele gostava de se aquecer no calor do sonserino.

Mas ela estava um pouco constrangida ainda da situação que se meteu na tarde anterior com Malfoy.

Ele ia beija-la no mesmo depósito de vassoura que ela o flagrou com Pansy duas vezes. Ele ia beija-la poucos minutos depois de Pansy sair do mesmo depósito que estava trancafiada com ele. Não sabia ao certo o que Malfoy tinha com a sonserina, porque Ginny vivia vendo os dois juntos pelo Castelo, mas sabia também que ela namorava publicamente o colega em comum, o que a fazia chegar a conclusão que eles estavam numa situação bem complicada.

Ela não queria se envolver nessa confusão também. Tinha muito amor próprio para não ceder ao calor de Malfoy por mais tentador que fosse.

E foi muito tentador.

Por isso, quando retornou ao Salão Comunal, não desceu para o jantar quando supostamente se encontravam para entregar ou devolver Arnold.

Naquela manhã, ela pulou o café da manhã e foi a primeira a descer para as carruagens que a levaria para a plataforma de embarque do trem.

A vantagem de ser a primeira a chegar era que poderia escolher qual vagão gostaria de ficar. Era sempre tão concorrido.

Acomodou Arnold carinhosamente em seu colo e folheou uma edição do Pasquim que Luna a entregou numa das aulas da semana. As matérias eram ridículas.

Tentou ignorar a expressão de mágoa que Arnold carregava. Ele começou a pular incessantemente após alguns minutos por causa da sua falta de atenção.

Quando Neville abriu a porta do compartimento para se acomodar com ela, percebeu que o trem começou a ficar mais movimentado. Antes que ele pudesse fechar a porta, Arnold saltou para fora e foi se aventurar pelo corredor.

Ginny gemeu alto quando se levantou e correu atrás do seu mini pufe. Foi difícil desviar do mar de alunos que já se apertavam pelo corredor estreito, mas sua sorte era que a cor roxa dos seus pelos tornava Arnold fácil de visualizar.

Quando se enfiou num dos compartimentos com a porta entreaberta, percebeu que não devia estar surpresa a essa altura. Era óbvio que o traiçoeiro estava em busca de Malfoy.

Ela parou desconfortável na passagem enquanto via seu mini pufe se aninhar no colo dele sem cerimônias.

Malfoy a olhou surpreso e um constrangedor silêncio se estabeleceu entre os dois.

"Weasley." Ele quebrou o silêncio quando pegou Arnold nas mãos e se levantou.

Ela mordeu o lábio inferior apreensiva. Estava nervosa.

"Pode ficar com Arnie durante a viagem, Malfoy." Decidiu-se. "Eu venho busca-lo antes de chegarmos em Londres."

A feição inexpressiva em seu rosto foi a sua única resposta que teve antes de dar as costas e voltar para o vagão que dividia com Neville.

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No horário do almoço, quando Neville saiu do compartimento para ir até o vagão de Luna, ele esqueceu a porta entreaberta. Foi como Arnold conseguiu entrar saltitando e a encontrou. Ele pulou inquieto em seu ombro direito, depois para o esquerdo, depois para o assento onde Neville esqueceu seu cachecol. Aninhou-se no meio do pano com curiosidade.

Ela sabia o que aconteceria em seguida e prendeu a respiração.

Malfoy apareceu pela porta e verificou com evidente alívio que Arnold estava atrás dela.

Ele entrou no compartimento sem cerimônia, fechou a porta, passou a chave e ainda puxou a persiana.

Virou-se para encará-la com criticismo.

"Pansy e eu estávamos conversando ontem." Ele declarou com a mão apoiada na maçaneta. "Sobre você." Ginny o encarou com atenção. "Você sabe quem ela está namorando e você sabe com quem ela ficava escondido." Sim, Nott e ele, respectivamente. "Ela quer reatar comigo desde que nos viu conversando na biblioteca."

"E você? Vai reatar com ela?" A pergunta repleta de curiosidade escapou de seus lábios.

"Não." Respondeu direto. Eles ficaram em silêncio mais um tempo e ela refletiu sobre as suas palavras.

Malfoy se moveu no vagão e se sentou no lugar em sua frente, antes ocupado por Neville. Arnold se pulou em seu colo imediatamente.

"Você perguntou se eu sentiria falta de Arnie no outro dia." Ele comentou enquanto o analisava. "Eu vou." Confessou antes de levantar o olhar para ela. Ela não sabia o que dizer, apenas assentiu. Malfoy se levantou de novo e colocou o mini pufe em seu ombro. "Eu trouxe a sua vassoura, você esqueceu ontem depois..." Sua voz morreu enquanto se dirigia para a porta e a destrancava. "Se você quiser, posso busca-la."

Ele saiu, mas ela não esperou que ele a trouxesse, apenas se levantou e o acompanhou também.

Quando entraram em seu vagão, Malfoy deixou o mini pufe num assento enquanto se esticava para pegar a vassoura na prateleira suspensa do compartimento. Ela viu Arnold se acomodar sob o casaco de Malfoy quando pegou a vassoura que ele a entregou.

"Obrigada." Ela olhou para a vassoura brevemente antes de decidir fechar a passagem do seu compartimento e encosta-la contra a porta.

Sentou-se próximo ao mini pufe e o movimento pareceu surpreender Malfoy. Ele a olhou brevemente com curiosidade antes de tomar o lugar em sua frente.

Quando Draco se sentou, Arnie pulou imediatamente em seu colo.

Ela revirou os olhos e isso arrancou um sorriso de Malfoy. Ambos sabiam quem o mini pufe preferia.

"Arnie vai sentir sua falta também, Malfoy." Disse. "Ele gosta do seu calor." Malfoy a olhou quando Arnie pulou para o colo dela. Ginny analisou o rosto de Arnie e ele estava com a boca toda torta. Ele estava feliz. Ginny se levantou com Arnie em mãos e foi até Malfoy e se sentou ao seu lado. Sentou perto dele, mas tão perto que toda a sua perna estava encostada na dele. Malfoy apenas a olhou. Ela colocou Arnie nas mãos dele de novo e prolongou o toque na sua pele quente. "Você é quentinho."

Malfoy deixou os lábios tremerem num sorriso.

Arnie saltou do colo de Malfoy e, para surpresa dos dois, voltou para o casaco enrolado de Malfoy. Ele se acomodou de costas virada para a dupla e o rosto enterrado na blusa.

Ela achou o gesto curioso e quando se virou para comentar, Malfoy já a olhava com uma expressão estranha. Ele levou sua mão para o seu rosto sem hesitar. Percebeu novamente o calor. Calor. O calor de Malfoy. Sua perna estava quente onde tocava a dele e seu rosto queimava onde sua palma a segurava.

"Quentinho." Murmurou antes de se inclinar em sua direção e beija-lo.

Seus lábios eram tão quentes quanto a sua mão e não sabia porque isso a impressionou. Malfoy era quente. Malfoy era todo quente, obviamente seus lábios seriam também.

Eles se beijaram por alguns minutos. Sua mão do rosto escorregou para a pele do pescoço e a outra a puxou pela cintura para perto. O compartimento ficou menor do que era e, quando tentou se afastar, Malfoy tentou impedi-la com mais um beijo. Ele não removeu suas mãos quando ela finalmente tomou distância.

Eles se entreolharam por alguns segundos antes de Malfoy apontar com o queixo em direção do mini pufe.

"Você gostou?" Questionou com a voz rouca. "Do nosso novo truque?"

Ginny desviou o rosto e espiou Arnie. Ele ainda estava de costas para os dois e tinha o rosto enterrado na blusa. Truque? Voltou a olhar Malfoy que estava com uma sobrancelha arqueada com presunção. Malfoy o ensinou a fazer isso?

Então um sorriso escapou dos seus lábios quando se deu conta do que exatamente ele o ensinou e por quê.

"Você estava certa." Malfoy murmurou. "Acho que eu sou o adestrador."

Ginny riu alto e Arnie levantou a cabeça para espia-los.

"Arnie," Malfoy o repreendeu com autoridade, mas um sorriso ainda tremia nos seus lábios quentes. "A gente precisa de mais um minuto de privacidade."

O mini pufe enterrou a cabeça no tecido da blusa de novo e Malfoy voltou a beija-la.

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No dia do Natal, Ginny acordou com uma coruja arrogante bicando no vidro da sua janela logo cedo.

Levantou-se com pressa e pegou com ansiedade a carta de Malfoy. Ele a escrevia todos os dias desde que se despediram na plataforma de desembarque do trem. Sorriu quando leu sua letra bonita desejando antes de tudo um Feliz Natal.

Depois leu seu pequeno relato de como foi o dia anterior com Arnie.

Antes de cada um voltar para sua casa, Ginny perguntou se ele queria ficar com o mini pufe durante o recesso. Malfoy sorriu com a sugestão e aceitou sem pensar duas vezes. Desde então ele a escrevia todos os dias para contar como Arnie estava.

Sorriu ao se lembrar que ao final do recesso, Arnie não ficaria na sua casa, nem na casa dele.

Arnie voltaria ao Castelo com Malfoy e a rotina de guarda compartilhada deles também.


N/A: Leve, doce e engraçadinho. Espero que alegre e aqueça o coração de vocês.