O PRIMEIRO E INESQUECÍVEL AMOR
Como luzes do parque de diversão dançavam de forma irônica em seu rosto; foram Patrick vivenciando uma tempestade de emoções: raiva, arrependimento, frustração, dúvida, insegurança, tristeza. Ele observa seu pai sair do parque para encontrar seus amigos de jogatina – com certeza, todo o dinheiro que arrancou de maneira tão cruel da senhora desesperada e de sua neta, seria perdido e seu pai estaria de péssimo humor no dia seguinte e eles visem presos àquela vida errante de levar seu trailer de parque no parque. A prometida compra de um trailer novo, roupas novas, seria esquecida até seu pai encontrar outro alvo, tirar mais dinheiro usando as habilidades de Patrick e perdeu novamente em outra noite de jogo e bebidas.
Patrick perguntava-se quando isso iria acabar. Quando eles se fixariam em uma cidade, teriam uma casa de verdade, roupas decentes e quem sabe que poderia retomar seus estudos. Desde modo, não foi preciso que ele afanasse livros das bibliotecas nas cidades por que passavam para incrementar seu conhecimento. A leitura dava-lhe a sensação de estar em outro mundo, vivendo outra vida pelo olhar dos personagens. Isso era muito bom e por alguns poucos momentos, sentia-se feliz. A vida circense, os alvos, os truques, a dominação por seu pai causavam a Patrick uma sensação de incapacidade, desesperança.
Ele queria usar suas habilidades para ganhar dinheiro sim, era a única coisa que sabia fazer, mas preferia escolher pessoas que não estavam à beira do desespero, que se agarrassem a qualquer última esperança, a ponto de dar todo o seu dinheiro a enganados como ele. Mas será que ele teria coragem de abandonar seu pai? Ele não tinha ideia nem por onde começou, para onde ir e quem se busca para seu próprio negócio. Isso deixa-o profundamente irritado; a perspectiva de ficar sob o jugo do seu pai para sempre era, no mínimo, desalmam.
Suspirando profundamente, ele levantou-se, espreguiçou-se, deu um grande bocejo de indiferença em frente a sua condição infeliz e pensou em visitar seus amigos Pete e Sam, e quem sabe, ter um jantar decente para variar. Como de fantasia, seu pai, animado com o golpe, esqueceu de comprar mantimentos e, portanto, ele não tinha nem como cozinhar seu jantar.
Ele caminhou pelo parque, ignorando os olhares lascivos das jovens garotas que passeavam por ali e até mesmo, percebeu flertes disfarçados de alguns rapazes. estava patrick acostumado em ser objeto de desejo, e claro, tirava vantagem disto, tendo ficado com várias garotas para sessões de amassos atrás de um trailer e outro; ultimamente, com pelo menos cinco meninas, ele evoluiu para jogos sexuais muito interessantes. Por isso, ele andava sempre com um pacote de camisinhas no bolso, só para o caso do encontro evoluir para algo mais sensual, mas hoje, depois da execução do último malfadado truque, ele queria apenas descanso, risos e comida boa. Sua concentração para focar em uma garota para passar a noite era mínima.
Ao passar pela roda gigante, percebeu uma movimentação diferente: um grupo de pessoas estava olhando e apontando para as engrenagens da velha roda gigante. Um delas ele reconheceu como o dono do parque de diversões, o Sr. Smith; outro homem, corpulento, com braços fortes, cabelo loiro curto, ele nunca vira antes. Sem dar muita importância ao caso, ele continuou seu caminho até o trailer de Pete e Sam. Bateu na porta e foi recebido com um abraço de urso de Pete:
- ''Pat! Que bom te ver! Onde está o Alex''?
- ''Saiu para jogar'' – respondeu Patrick dando de ombros. ''Pensei em passar por aqui e filar um pouco do jantar, tudo bem para vocês?'', ele completou com grande sorriso, mas seus olhos permaneciam tristes.
- "Aconteceu alguma coisa Pat?"
- ''Não, nada. Só estou cansado hoje. Sabe como é, muitos clientes, show lotado...'' – ele disfarçou. Pete o conhecia há muito tempo para saber como Patrick era fechado quanto aos sentimentos que os fizeram sofrer. Ser criado por um pai autoritário e abusivo poderia ser a causa desta reserva por parte de Patrick. O melhor era acreditava que fingiu e deixar que Patrick contasse quando a vontade possível.
Pete deu um passo de lado para receber Patrick; eles encontraram Sam na pequena cozinha, e o que ela estava cozinhando cheirava muito bem. Ensopado de carne talvez? Patrick inalou aquele cheiro com gosto, deixando-o tomar conta de todos os seus sentidos e percebeu, contente, que o aroma de uma boa comida caseira levanta o ânimo de qualquer um.
Sam notou a reação dele, e apontando para algumas legumes na pia, disse:
- "Não seja tímido; pode pegar uma faca e eu ajudar com as leguminosas se comer.''
Satisfeito em fazer algo que não envolve enganar e iludir as pessoas, Patrick arregaçou as mangas da camisa com alegria e sorrindo lavou as mãos, pegou a faca e começou o picar os legumes enquanto para observar atento como Sam refogava a carne, adicionando vários temperos, como alho, sal, pimenta e cebola. Cozinhar para ele era uma magia fascinante.
- ''Se continuar tão interessado assim em afazeres domésticos, será um marido ótimo um dia Patrick!'' – Sam disse com um sorriso quando notou a atenção dele para o que ela estava fazendo.
- ''Só quero aprender para cozinhar algo diferente de massas prontas e comidas congeladas de vez em quando.'' Ele respondeu resignado. "Além do mais, não tenho esperança em encontrar uma garota que queira casar com uma vidente como eu. Sabe como é, o encanto do desconhecido perde a graça quando elas ficam perguntando demais sobre o futuro, como se eu fosse realmente capaz de adivinhar essas coisas''.
- ''Pat, você é uma falsa vidente.'' Sam respondeu com um sorriso maroto. ''Tenho certeza de quando se apaixonar de verdade, a garota vai enrolar você no dedo mindinho e você fazer tudo o que ela quer e muito mais.'' Ela finalizou piscando para ele.
- "Duvido que eu vá me apaixonar um dia.'' - ele rebateu com uma careta, enquanto desaba uma batata. Meu pai ficaria louco se um dia eu resolvesse casar e sair desta vida de parques. Afinal, como ele conseguir o dinheiro para gastar com jogos, mulheres e bebidas.'' Ele finalizou com um toque de amargura na voz.
Então Sam e Pete trocaram olhares e descobriram o porquê de Patrick estar tão deprimido: provavelmente seu pai o já teve envolvido em algum dos seus truques, obrigando-o a fazer previsões ou ações dos que ele não concordava. Eles acompanham a Jane desde muito cedo, logo depois que a mãe de Patrick morreu e ficou apenas ele e seu pai Alex.
Alex era aquele tipo de pessoa que não conseguia emplacar em nenhuma função dentro do circo, então, recorria a pequenos golpes e truques para sustentar o si e seu filho, Patrick. O garoto tinha saído à mãe, com lindos cabelos loiros cacheados, olhos azuis muito atentos e observadores, que desvendavam a alma das pessoas só de olhar. Não demorou muito para Alex descobrir que poderia fazer um bom dinheiro com as incríveis habilidades de percepção de Patrick. O garoto conseguia ler as pessoas como ninguém e na maioria das vezes, acertava em cheio, causando e admiração de todos. Alex viu que com treino e incentivo, poderia emplacar o negócio de vidente no Parque, e desde modo, auferir uma renda muito boa. Pena que Alex era um jogador inveterado e acabava grande parte dos lucros no pôquer.
Com a intenção deliberada de tirar os pensamentos de Patrick do seu pai, Pete mudou de assunto:
''-Vocês viram que Smith finalmente encontrou alguém para consertar a velha roda gigante? Ele localizou os Ruskins no centro-oeste e o Martin Ruskin veio para dar uma nova vida à roda.''
''- É mesmo?!'' – Sam franziu a testa. ''Como ele vai pagar pelo serviço?"
''- Bom, isso eu não sei''.
''- Ouvi dizer que os Ruskins são verdadeiros mestres no que diz respeito às máquinas. E costumam cobrar caro por seus serviços.''
Patrick entreouvia a conversa de Pete e Sam sem dar muita atenção. Ele sinceramente não se preocupa com carrosséis, rodas gigantes e outros brinquedos do parque. Morando em parques de diversão desde menino, a magia destes brinquedos acabou muito cedo para ele.
''- E Martin trouxe a família?'' – Sam perguntou interessado.
''-Parece que sim; mais cedo vi o trailer dele com a mulher e os filhos: um casal de jovens mais ou menos na mesma idade do nosso Pat aqui.'' Pete respondeu alegre, apontando para Patrick, que continua entretido picando agora uma cenoura.
O assunto acabou terminando neste ponto; Patrick terminou de picar os leguminosas e entusiasmado, ajudou Sam a terminar o ensopado. Jantaram com grande algazarra e risos, trazendo um pouco de alegria a Patrick. Encerrar a noite com o delicioso chá servido por Sam e biscoitos que ela tinha comprado mais cedo.
Sentindo-se muito melhor, Patrick despediu-se de seus amigos e retornou para o seu trailer. A essa hora, o parque tinha fechado e estava vazio. Os brinquedos e barracas pareciam fantasmagóricas à luz da lua, sem os donos e os clientes rondando por ali. A noite estava estrelada e um pouco fria; ele estremeceu com a sensação do vento gelado passando em seus braços e pernas desnudos. Ele desejou neste momento ter se lembrado de passar antes em seu trailer e vestir por menos uma calça.
Antes de chegar ao seu trailer, ele passou pelo novo veículo estacionado no pátio do Parque:
''Dever ser o trailer do Ruskin. Nossa, ele tem dinheiro mesmo, que trailer magnífico.''.
O veículo era um trailer do último modelo, grande, muitas com janelas e um motor de ar condicionado fixado no teto. Geralmente, como pessoas de parques tinham trailer simples, com no máximo água quente, mas este modelo sem dúvidas proporcionava a seus donos conforto e tranquilidade a seus donos. Desejando um dia ter um trailer como aquele, Patrick chegou ao seu e com uma ponta de melancolia, abriu a porta e entrou, planejando ter umas horas de sono antes do seu pai bêbado chegar em casa.
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