Desafio 100 temas: Tema 13 – Falar um ou mais palavrões
Beta: Slplima meu carinho, amizade, e lealdade ever and ever! Obrigado por sempre estar disposta a me ajudar, merci!
Notas da Beta: Oi amiga amada!
Mais uma estória linda e, desta vez, emblemática;
Os problemas familiares.
A intolerância.
A dificuldade de compreender que é querido.
Yuri é desse jeito explosivo e desbocado e que tem uma dificuldade enorme de aceitar que sim, também é amado.
Que fala demais sem pensar.
E que isso magoa!
Mas Yuuri e Viktor são fofos e benevolentes; duas almas iluminadas e que perdoam.
Tenso!
Mas de uma graciosidade ímpar.
Emocionei-me muito a cada linha que lia, pois que seu enredo reflete a realidade de muitas pessoas.
As dificuldades que os casais homossexuais enfrentam quando decidem formar um lar.
E que alegria vislumbrar esse final esplendoroso?
Bom, Yuri, agradeça seus pais e seu destino bendito; afinal, tudo contribui para o bem, não é?
Otabek que o diga!
Parabéns, Coelha maravilhosa! Minha amiga talentosa e sensível.
Foi um prazer que, mais uma vez, tenha confiado a mim a missão de ajudá-la na construção de mais essa obra de arte.
Obrigada, sempre, por todo esse amor.
Fique bem.
Bjocas.
Notas da Coelha: Sempre que via esse tema em minha lista, eu apenas conseguia imaginar dois personagens, dois e únicos, os quais eu tenho certeza nunca teriam papas na língua, e muito menos paciência para manterem a compostura por muito tempo. E bem, quem me conhece sabe de quais estou falando: Máscara da Morte de Saint Seiya e Yuri Plisetsky de Yuri! on Ice. Digamos que colocando na balança, acabou que escolhi o loirinho esquentado, e bem, eu espero que gostem do que irão ler.
Dedico a fic de hoje para minha parceira de crime, de muitos planos infalíveis, plots malucos, Almaro! Ainda não é dia 30 de abril, mas como meu sono tende a me derrubar antes da meia noite, cá estou eu, pois como boa aquariana que gosta de ser a diferente, quero ser a primeira a te presentear nessa data especial.
Feliz aniversário, amiga querida! Que você sempre tenha seus caminhos iluminados pelo Cara lá de cima, que tenha sempre muita inspiração, e que seu dia seja maravilhoso em todos os sentidos! Felicidades!
E ah! Espero que goste de seu regalo! Simples, mas de coração! Enjoy!
Beijocas da Coelha
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O clima dentro do apartamento, naquele fim de tarde, não era mais tão ameno como anteriormente. Os ânimos, mais por parte do adolescente de madeixas loiras, estavam bem alterados.
Inacreditavelmente mais!
Evitando cruzar olhares com o nipônico que estava sentado do outro lado da pequena mesa de centro, ocupando o canto esquerdo do sofá de três lugares, Yuri Plisetsky ruminava o que ele achava 'não ser' uma atitude correta tomada pela direção do colégio ao qual frequentava.
Ser áspero, ácido e não gostar de se misturar ou criar laços com seus colegas de classe já fazia parte de sua índole. Para ele nunca estivera em seus mais remotos planos ter amigos e se envolver seja lá como que ou quem fosse, como outros jovens de sua idade faziam regularmente. Ele até preferia ser assim; sozinho! E por mais que o primo e seu esposo, seus tutores legais, não pensassem do mesmo jeito, em sua vã concepção o jovem casal não tinha de se meter em sua vida.
Ora, ora... não mesmo!
Todavia, existia um documento, este guardado em uma das gavetas do escritório do russo mais velho, que dizia o contrário. Bem, mas aquilo não estava muito em questão no momento, e para Yurio, como era chamado carinhosamente pelos mais chegados, a existência daquele papel era irrelevante, irritante e desnecessário. Ou talvez, nem tanto como ele gostaria, pois havia ficado desconcertado apenas ao volver seus olhos na direção do mais velho.
As íris chocolates entristecidos miravam com chateação ao adolescente para lá de problemático. Yuuri nunca havia pensado que iria escutar aquelas fáticas palavras da boca daquele garoto que, inclusive, vira crescer e até havia carregado no colo.
E que coisa! A história desses dois nem sempre fora um mar de rosas. Yuuri sempre fora muito calmo e deixava passar as grosserias do pequeno Yuri. O amava incondicionalmente e se aferrava em seu instinto de que o mais novo era apenas daquele jeito por querer passar certa segurança que talvez não sentisse de todo. Yuri, por outro lado, sempre teve um olhar sério, desconfiado. Houve um tempo que era um pequeno mais feliz, isso quando sua mãe ainda se fazia presente em sua vida, mas após o acidente, e do pequeno ficar sob a guarda de seu avô, muita coisa parece ter mudado e o loirinho se fechara em uma redoma, que poucos conseguiam ultrapassar.
Quiçá ninguém mesmo!
E para desgosto do adolescente e, quem sabe, até mesmo despeito, Viktor e Yuuri sempre conseguiram vencer essas barreiras. Yuri sabia, bem lá no fundo, que ambos o conheciam, e conheciam muitíssimo bem! Até mesmo por isso estava sendo difícil assumir que havia pisado na bola e por mais que ele não tivesse a intenção de assumir seus atos dando o braço a torcer, sentia seu coração se oprimir. Era a primeira vez que agira daquela forma com aquele japonês que o tolerava sem revidar seu mau gênio, ou melhor, não até aquele dia.
Que maldição!
Seria engraçado se não fosse tão surreal e assombroso. E Yurio sabia que se fechasse os olhos conseguiria se lembrar de tudo o que conseguira ouvir pela porta entreaberta, e depois ao que presenciara na sala do diretor do colégio caro que Viktor lhe pagava.
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- Desculpe o meu atraso! – o moreno alto pediu, esbaforido, ao adentrar a sala do diretor e encontrar-se com o homem austero e sisudo. Bem, era isso que poderiam pensar a primeira vista! Este apenas meneou a cabeça a contragosto, indicando, logo em seguida, a cadeira a frente de sua mesa.
Arqueando um pouco as sobrancelhas, o florista sentou lentamente. Havia deixado sua floricultura nas mãos de seu experiente ajudando, e desesperado, guiara feito um imprudente até o colégio. Não havia compreendido no que o loiro havia se metido desta vez, mas seu comparecimento se fazia necessário mais uma vez.
Seu transtorno fora tão grande que nem se dera por conta que o responsável por sua convocação se encontrava sentado ao lado da entrada da sala.
O silêncio parecia ser tão opressor que o nipônico começava a se indagar do porquê toda aquele excitação em dizer-lhe o que estava acontecendo. Tudo seria tão mais rápido e prático se o diretor e sua coordenadora não estivessem fazendo tamanho suspense! Em seu mais profundo ser, Yuuri gostaria que eles fossem logo ao ponto da questão e o liberasse rápido, mas o olhar de superioridade deste em sua direção parecia que não condizia com nada do que ele já tivera de aturar. Em seu tempo escolar ele taxaria aquele homem como 'intolerante', e talvez, não estivesse de todo errado.
- Senhor Katsuki... – começou, ao mirá-lo com algo que o moreno pôde detectar como desdém.
- Nikiforov! – Yuuri fez questão de corrigir ao outro. Talvez, em outra ocasião, até deixasse essa gafe passar, mas não naquele dia! Não mesmo!
- Tendo em vista, senhor Nikiforov, que essa é a terceira vez essa semana que pedimos a presença de um dos responsáveis pelo aluno Plisetsky, e dadas as circunstâncias que tudo aconteceu, teremos de tomar atitude um tanto mais rígida com relação a ele. – fez uma pausa o velho diretor e mirou friamente sua coordenadora.
- O jovem Plisetsky, como bem sabemos, não gosta de se misturar com os demais alunos, e isso é um comportamento deveras inaceitável. Quando não está sozinho de posse de seu celular, está arrumando confusão com outros alunos, o que desta vez foi algo inadmissível! – a voz esganiçada da mulher, parecia ferir os ouvidos do nipônico que ouvia a tudo perplexo.
- Mas o que ele fez para o julgarem assim? – questionou com desconfiança e curiosidade.
Sentiu que seu estômago começava a embrulhar, tamanha ansiedade.
- Hoje ele chegou as vias de fato! Agrediu com socos e palavras de baixo calão um de seus companheiros de sala de aula na disciplina de Educação Física, algo sem um motivo aparente. Assim sendo, será punido com a suspensão de quatro dias para que pense, realmente, no que fez! – a voz fria do diretor Bradley parecia golpear duramente a face do florista.
- Certo! E vocês chegaram a ouvir o que Yuri tem a dizer? – questionou, mais do que consternado. Yuuri já estava se cansando das atitudes tomada pelos responsáveis pela direção do colégio. – Ou, como sempre, só ouviram um lado, como das outras vezes? – indagou ao suspeitar que estava correto no que havia pensado. - Sabe, diretor, posso não ser formado na mesma área que o senhor, mas como o senhor, sou um administrador. E sabemos muito bem que para se chegar a um veredito, temos que conhecer a versão de ambas as partes, o que não parece ter acontecido aqui novamente! Não irei aceitar sua decisão, e creio que meu marido também não. Se Yuri tem que ser punido, que seja, mas que quem causou seu ataque também seja punido com igual rigor! – exigiu, irredutível.
Mesmo com a diferença de doze anos de um para o outro, Katsuki Nikiforov havia acolhido o loiro como se esse fosse seu filho legítimo. O coração, por vezes, precipitado, não vê barreiras para sentir o que, para muitos, é inexplicável. Yuri Plisetsky havia se alojado em seu cerne, querendo o arredio loiro ou não, e Yuuri Katsuki Nikiforov o defenderia com unhas e dentes como se fosse sua cria de verdade.
- Desculpa... – Yuuri mirou o tal diretor e a coordenadora do adolescente com indignação – acaso estão tentando me dizer que Yuri vem sendo deselegante com todos por não ser bem educado no seio familiar? – o florista estava estupefato. Ele havia divagado em seus pensamentos? Sim! Mas ninguém poderia dizer que Yuri tinha aquele temperamento e começara a falar palavrões e a brigar na escola devido à falta de pulso firme de seus tutores. – Meu marido e eu fazemos tudo o que é possível e que esteja ao nosso alcance para darmos uma boa vida e um bem estar adequado para Yuri! Ele é um jovem inteligente, competitivo, e se meu filho chegou a agir assim, talvez vocês devessem olhar ao redor para saber se este não foi provocado para que chegasse as vias do que aconteceu! Meu filho pode ser taxado de ácido, antissocial e, até mesmo, taciturno e malcriado, mas nunca, nunca, iria proferir esse tipo de palavreado baixo, seja lá com quem for! – agora estava exaltado, sim estava, mas ele conhecia aquele garoto desde seus cinco anos, e tinha ciência de como fora sua educação!
- Senhor Nikiforov, compreendemos o seu descontentamento, mas já são várias faltas que Yuri vem cometendo. Suas notas são realmente invejáveis, mas sua educação deve ser revista, e talvez, até mesmo, analisada pelo conselho tutelar. Talvez colocá-lo em um lar estável e correto com um pai e uma mãe... – a orientadora pareceu congelar ao ser mirada por aqueles furiosos olhos chocolates, que de uma hora para a outra passaram a transmitir uma frieza imensurável e assustadora.
- O que vocês acham ou deixam de achar, não reflete em nada em nossa família. – Yuuri, por fim, falou, tentando não perder a pouca calma que lhe restava. – Somos os únicos parentes vivos de Yura e já passamos por muitas coisas devido à falta de fé depositada em um jovem casal de homossexuais! Acaso acham que os valores de uma família mudam alguma coisa por serem dois homens a criar um jovem e promissor adolescente? Eu acredito que não, e vou adverti-los uma única vez, posso muito bem fazer queixa da conduta que apresentaram hoje no conselho administrativo escolar. Discriminação e homofobia são crimes puníveis com sentenças rígidas! E para que saibam, nenhuma assistente social tiraria nossa guarda antes de checar tudo minuciosamente, que é o que vocês não fizeram aqui, mais uma vez! – o florista estava vendo tudo em vermelho e não fazia ideia de que podia ser ouvido, agora com clareza, do lado de fora da sala. Geralmente ele era muito calmo, nunca chegava a perder a paciência, mas aqueles dois professores, que se dizem educadores, afirmando que Viktor e ele não serviam como modelo para o jovem garoto, só mostrava a dura realidade em que viviam! – "Homofóbicos!" – pensou o moreno com desgosto.
Internamente, ele desejava ardentemente que Viktor estivesse ali com ele, mas sabia que nem tudo era como a gente queria e Yuuri já não era nenhum garotinho para ficar aborrecido por isso.
O advogado, responsável por um dos melhores escritórios de advocacia de Vancouver, o Nikiforov & Feltsman Co., estava à frente de um caso muito importante, justamente naquela tarde, o platinado estava no tribunal defendendo uma causa muito nobre e por isso não fora localizado pela direção.
Enquanto ruminava sua raiva e descontentamento, o moreno não percebera quando a sala praticamente fora invadida por mais três pessoas. A única que ele conhecia era o seu protegido.
Dirigindo um olhar sério para o loiro, reconheceu o outro jovem e sua mãe, aquele mulher esnobe e sem noção. Talvez não ter filtros para nada fosse uma característica familiar. Sem contar que os Nikiforov tinham ciência de que o tal Antoan parecia adorar colocar a prova a pouca paciência que Yuri possuía.
- Yuuri...
A voz baixa do loiro parecia surreal aos ouvidos do florista. O russo parecia surpreso, quiçá desapontado. Talvez ele pensasse que o platinado ali estaria, mas teria que se contentar com o que tinha. Com apenas uma mirada de esguelha, Katsuki Nikiforov fez o menor se calar.
- Esse garoto é um delinquente boca suja! – vociferou a mulher sem paciência alguma, que confortava o moreno de olhos azuis, o qual possuía um sorriso cínico.
- A senhora deveria saber o que dizer antes de insultar a meu filho! – rosnou Yuuri de volta. – Talvez todos aqui só vejam o que querem ver! Dois dias atrás estive aqui presente porque Yuri se defendeu dos golpes que o seu filho desferiu nele. Seu lábio machucado é a prova viva de quão sem noção esse projeto de gente que você chama de filho pode ser! – as bochechas afogueadas mal podia esconder a vontade que sentia de perder as últimas forças que ainda tinha para, então, poder partir para cima daqueles dois insolentes.
Esbofeteá-los com gosto!
- Dobre sua língua para falar de meu Antoan! – exigiu, aos berros, a mulher. – Vocês, anormais, pensam que podem tudo apenas por conquistarem alguns direitos, mas não aqui! – boquejou, destilando todo o veneno que podia.
Balançando a cabeça, o nipônico sentiu seu sangue ferver, ou melhor, entrar em ebulição. Duas vezes, no mesmo dia, sofrer por homofobia dos outros era muito. Segurando o braço de Yurio, que parecia ter ganhado vida ao querer se colocar a frente dele, deixou o loiro atrás de seu corpo.
- Pois saiba senhora, que o único anormal que vejo aqui usa roupas de grife e se acha a dona da razão absoluta! – Yuuri rosnou de volta. – E para seu governo, meu filho pode ter todos os defeitos do mundo, mas é amado por mim e por meu marido! Um amor incondicional, que talvez faça uma falta muito grande para a senhora, visto que é tão amarga! – fez uma pausa ao sustentar o olhar de fúria que a ele era direcionado. Mas Katsuki Nikiforov havia aprendido a sua lição, a duras penas, e não seria uma socialite ridícula que iria fazer com que ele sentisse medo, ou mesmo, se acovardasse! Ah... não mesmo. – Talvez a senhora não saiba, mas homofobia no Canadá, é crime! E creio que a empresa de advocacia de meu marido iria adorar assumir um processo que eu posso mover contra a senhora e, até mesmo, contra a escola. – e voltando-se para o diretor, continuou como se nada tivesse acontecido. – Três, quadro dias farão muito bem para meu filho! Ficando longe dessa futilidade toda, quem sabe ele volte a ser o jovem comportado que é! – e sem dar tempo para nada, assinou a documentação necessária, e ao se voltar para o loiro murmurou. – Desmancha esse sorrisinho! Viktor, você e eu teremos muito o que conversar. – e sem mais nada a dizer, saiu pisando duro. Sendo seguido por um Yurio cabisbaixo e calado.
Ao passarem por mãe e filho, Yuuri voltou-se a tempo de conter Yurio que quase partiu para cima do tal canadense provocador.
- Viadinho!
- Ora seu filho da p...
- Yura! – Yuuri chamou a atenção do loiro para, logo em seguida, voltar a encarar o diretor e a coordenadora. – E o meu filho é o encrenqueiro e o que vai ser punido! Uhum... ótimo! Isso não merece ser chamada de instituição escolar! – e sem mais nada dizer, puxou o adolescente consigo, quase o levando a reboque.
Em silêncio, foram até o carro, e assim ficaram até que em um dos cruzamentos, o qual o florista precisou respeitar a sinalização, este foi quebrado.
- Eu sei que está bravo comigo, então se tem vontade me xingar, xinga, briga comigo, pode fazer! – Yurio voltando seus olhos verdes para o moreno, bufou irritadiço. Ele detestava os silêncios de Yuuri, e sabia que aquilo era uma tática do moreno para não perder as estribeiras, e sinceramente, aquilo irritava por demais ao adolescente.
Em resposta, o vácuo silencioso o alcançou, fazendo com que o russo grunhisse revoltado.
Yuuri apenas o observava de canto de olhos. Para ele não havia mistério e muito menos segredo no que se descortinara bem à frente de seus olhos curiosos naquela sala da direção do colégio. Não era novidade que desde que entrara naquela instituição que o menor havia sofrido constantes ataques e bullying por seu modo de ser, e por ter dois pais. E aquilo era inadmissível. Ele não se importava de ser apontado na rua, de ser chamado de gay, mas seu filho seria protegido. Yurio não merecia pagar pelo direito de escolha de seus responsáveis.
- Yuuri...
- Yura, não adianta! Em casa, com Viktor, vamos conversar, como a família que somos! Você pode fazer birra, o que quiser, mas vai ser assim! – o nipônico mirou-o de soslaio, imaginando ter terminado aquela conversa ali.
- Tudo isso por conta daquele filho da puta!
- Ah! Essa boca! – Yuuri ralhou. – Sabe muito bem que não gostamos que use palavreados chulos! Eu vou contar para Viktor, e...
- E o que? – Yurio perguntou enraivecido. – Todo mundo fala palavrão, Yuuri! Caralho, não sei onde vocês dois moram, juro mesmo! – comentou para dar ênfase ao que dizia. – Até mesmo a senhora Moore do primeiro andar tem uma boca tão suja que eu não sei como ela ainda tem coragem de beijar seus netinhos! – riu-se ao dar de ombros.
- Mas você não é todo mundo! – Yuuri brecou a seco na entrada do condomínio onde moravam. A segunda torre mais ao fundo, era onde ficava o apartamento no décimo oitavo andar.
- Porra! Quer nos matar? Ficou maluco? – elevando um pouco a voz devido ao susto, o adolescente mais uma vez praguejou. – Puta merda, da próxima vez eu volto a pé!
- Estou lhe avisando, mocinho, pode parar com esse palavreado! Não lhe ensinamos assim! E fora que isso me magoa muito, onde está o Yura que gostava de ir comigo para a floricultura apenas para poder me ajudar? – perguntou ao colocar o carro em movimento.
- Ele cresceu faz tempo! E aquele local chato de merda perdeu a graça!
- Yura!
- O que foi, Yuuri? Eu não entendo você; sempre tão polido, refinado, o que ganha se leva desaforo até de um fodido igual aquele idiota do Antoan? Tenho vergonha de você! Vergonha! - cuspiu as palavras antes de sair do carro.
- Yura, mais respeito comigo, eu sou seu pai! – pediu Yuuri ao começar a sair do carro.
- Não, você não é! E sabe o que mais... é até ótimo isso, pois assim eu não preciso carregar mais essa vergonha de ter o seu sangue correndo em minhas veias! – sem se dar conta havia cruzado a linha do permitido com uma das pessoas que mais se desdobrara por ele, e que incondicionalmente sempre o amara.
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Balançando a cabeça, Plisetsky mordiscou o lábio inferior. Ele tinha de aprender a se comportar melhor e não se deixar levar por sua impulsividade. Ser grosseiro era uma coisa, mas testarudo e um perfeito boca suja não era algo bom!
"To fodido!" – pensou o loiro ao olhar disfarçadamente para o moreno a sua frente. Às vezes ele preferia que o japonês o colocasse em seu devido lugar, que lhe desse um sermão o qual não iria nem se importar, mas o silêncio era opressor, ser deixado de lado, literalmente ignorado, doía até mais que as barbaridades que tinha de escutar e aguentar de Antoan.
Desde que haviam entrado no apartamento, que o silêncio angustiante parecia ribombar em seus tímpanos. Nem mesmo o peludo da família, Makkachin, parecia disposto a fazer das suas.
O mascote, assim que vira Yurio chegar sozinho, e logo em seguida, um tempo depois – diga-se de passagem -, Yuuri, não sabia qual dos dois festejar mais. Mas talvez seja como dizem, os animais percebem quando seus donos não se encontram bem, e ali estava o velho poodle, deitando ao lado do florista, com sua cabeça repousada nas pernas deste.
Yurio percebera que o mais velho havia derramado algumas lágrimas, mas estava tão confuso e arredio, que não teve a coragem necessária para se aproximar, tentar se desculpar. E ele sabia que se seu papi não quisesse lhe perdoar, não poderia insistir com ele, visto a tudo que havia lhe dito no momento em que se encontrava no calor de sua raiva.
Notando a inquietação do mais velho, os olhos de Yurio ficaram estalados como pratos. Vira-o massagear as têmporas e sentira uma vontade louca de o abraçar, mas estava petrificado de temor. Talvez preferisse que Yuuri lhe desse boas palmadas, mas não o ignorasse como estava fazendo. Ao vê-lo se levantar, ficou preocupado, pois o mesmo dera uma cambaleada.
- Yuu... papi, está bem? – perguntou com curiosidade.
O florista apenas voltou as íris chocolate em sua direção e com a voz baixa e quase como se estivesse desprovida de sentimentos, respondeu:
- Vou me deitar. Quando Viktor chegar ele te prepara alguma coisa. – e sem mais nada dizer, seguiu para o quarto tendo em seus calcanhares o mascote.
O barulho da porta se fechando fora o pior de todos! Fungando sentido, resolveu que o melhor também seria ir se deitar. Sua cabeça estava latejando e não estava a fim de ter de contar logo de primeira para o russo mais velho o que ele havia feito desta vez. Assim sendo, correu para seu quarto no final do corredor e lá ficou, ruminando tudo o que havia lhe passado naquele dia fatídico.
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Aquela tarde, fora uma tarde adversa! Ao passar das quinze horas, Viktor sentia que algo não estava bem, mas como estava muito envolto nas preocupações do caso em que ele estava defendendo na corte, achou que talvez fosse devido a todo o clima que os rodeava. Algo pesado, e ambas as partes envolvidas pareciam não estarem a vontade para, por fim, acharem um melhor acordo.
Era desgastante, e ficar com aquela sensação era pior ainda! Tentava, a todo custo, se concentrar o melhor que podia para não deixar nenhum fio solto naquele processo. Foram dois dias cansativos, mas em que a verdade começava a prevalecer diante dos olhos de toda a corte.
Por fim, mãe e filhos poderiam ficarem juntos, tendo a guarda compartilhada com o pai aos finais de semana. Era tão estranho e, ao mesmo tempo normal os pais brigarem pela custódia dos filhos na justiça. Bem, poderia ser considerado normal para pessoas insensíveis, não para ele e, até mesmo, seu marido, que sentiam na pele a negação em primeira instância da adoção do jovem que, para eles, não era apenas seu tutorado.
Balançando a cabeça, Viktor Nikiforov voltou seus olhos para as janelas laterais daquele espaçoso local. O sol já estava se pondo e todos que o parabenizavam pelo caso bem sucedido pareciam ser apenas borrões ao seus olhos cansados. Deixou que alguns colegas e amigos mais próximos o abraçassem, mas o que ele mais queria era se desvencilhar de todos e correr para casa. Aquela sensação estranha, agoniante, parecia ainda oprimir seu peito.
- Mais um caso bem sucedido para sua já extensa lista, non mon ami? – Christophe Giacometti perguntou ao abraça-lo.
-Sinto-me satisfeito, mas também incomodado com alguma coisa. – confessou o platinado para seu melhor amigo desde os tempos de universidade.
- Você e esse seu sexto sentido! Já pensou em abrir uma tenta de cartomancia? – gracejou, para logo em seguida ganhar um soquinho no braço direito. – É sério, Viktor! Da última vez que ficou assim, Yuuri havia se machucado ao cair na floricultura. – o loiro francês ponderou. – Já checou seu celular? – inquiriu com curiosidade.
-Ainda não tive tempo. – Viktor respondeu ao finalmente ligar seu eletrônico. Mas assim que este acendeu a tela do display, nenhuma mensagem nova havia chegado.
Dando de ombros, o russo terminou de guardar seus papéis e antes que se deixasse enrolar pelo chamado de Christophe, declinou de seu convite para um Happy Hour.
Quando finalmente chegou em seu apartamento, Viktor estranhou encontrar tudo em silêncio e no escuro. Nem mesmo Makkachin viera por ele! Era muito estranho, e se Yuuri e Yura fossem para algum canto, eles mandariam uma mensagem, o que o deixara mais preocupado ainda.
Deixando seu molho de chaves no aparador, seguiu pelo corredor até a porta de seu quarto. Testando a maçaneta, empurrou lentamente assim que esta se abriu. O quarto estava levemente na penumbra, mas ele podia perfeitamente distinguir a silhueta de seu marido com as cobertas a lhe cobrir até a cabeça, e o fiel escudeiro ao seu lado, batendo a cauda felpuda contente ao avistar o platinado.
- Shhh... Makka, sem barulho. – Viktor pediu ao se aproximar com passos decididos, até sentar-se na beirada da cama. Puxando devagar a coberta, pôde, assim, divisar o rosto bonito de seu par. Estranhando um pouco ao notar sua face levemente afogueada, deslizou sua mão para aferir-lhe se estava com febre, mas ele parecia estar bem. A temperatura estava normal e parecia com a dele.
Para o platinado, aquilo lembrava muito quando Yuuri havia chorado por um tempo. Mas o que levaria sua fortaleza e porto seguro a mais uma vez ter chorado? Viktor sabia que Yuuri sempre seria seu refúgio, se completando mutuamente, mas ele sempre fora o mais sensível. Mas fazia um tempo que não o via em estado tão preocupante como agora. E Nikiforov sabia que alguma coisa não havia terminado bem.
- Yuu, lyubov! Desperta, eu cheguei! – Viktor acariciou-lhe as bochechas, esperando que o moreno abrisse seus lindos olhos. – Yuu-ri! Snezhinka, não está se sentindo bem? Precisa de alguma coisa? – perguntou começando a se preocupar.
Ao notar que este começava a despertar, sorriu ao finalmente ver as íris chocolates o mirarem com surpresa.
-Vitya, que hora é? – Yuuri perguntou um tanto desorientado. Ao entrar no quarto, havia deixado a fadiga da tarde e a tristeza darem vazão ao chorar tudo o que não queria na frente de Yura, e não se lembrava de ter passado para um cochilo.
-Passa das dezenove horas, lyubov! – Viktor informou enquanto ajudava ao nipônico a se sentar.
- Desculpa, Vitya, eu acabei cochilando! – o florista comentou ao se ajeitar melhor e procurar por seus óculos que se encontravam onde ele havia deixado, sobre a mesa de cabeceira.
- Você não estava se sentindo bem? – tornou a perguntar, afinal, não havia obtido resposta anteriormente. Talvez tudo o que havia sentido; a agonia e a preocupação fosse o que seu esposo passara pela tarde, e que ele ainda não havia lhe dito nada. Mas Viktor era esperto e bom em deduções.
-Uma dor de cabeça... e eu, bem, eu tenho algo a lhe contar. – Yuuri respondeu ao arquear as sobrancelhas. – Você chegou a ver Yura?
- Não, mas creio que ele esteja em seu quarto, pois havia luz passando pela fresta da porta. – Viktor murmurou pensativo e levemente desconfiado. – O que foi que aconteceu? – perguntou. – Não, não me diga agora! – pediu, para logo em seguida estender-lhe a mão. – Venha, vamos relaxar na banheira, creio que merecemos, e aí você me conta o que está te afligindo. – e sem dar margens para o moreno contestar o puxou, levando-o carregado em seus braços para o banheiro.
- Vitya... – riu com certo nervosismo o nipônico. – Chão! Me coloca no chão! – exigiu, mas sem obter sucesso, pois nessas horas, o russo não iria voltar atrás de uma decisão tomada. Não mesmo! E ele adorava carregar seu marido como estava fazendo agora.
- Acaso acha que eu, aos trinta e um anos, não consigo te carregar? – gracejou ao dar um chute na porta e fazê-la se fechar.
oOoOoOo
Yuuri havia perdido as contas de quantas vezes tivera de acalmar seu marido enquanto estavam tomando banho juntos. O que era para ser relaxante, havia se transformado quase em um campo de batalha, pois se Viktor fosse um alfa, como os das histórias que eles gostavam de assistir juntos, ele teria um em suas mãos, e em descontrole. Ele sabia que a zanga do platinado não era nem com relação ao que o jovem Yuri havia lhe dito, mas sim com os ataques de homofobia sofridos por seus dois mais preciosos tesouros.
- Ele irá ficar de castigo! – ponderou o advogado após ter ajudado o moreno a sair da banheira.
- Acha que irá adiantar? – questionou sério, ao sustentar o olhar perdido do marido. – Conhecemos Yura muito bem, Vitya, ele não se deixa envolver, ele não se deixa abater e não será um castigo que irá corrigir o que ele acha que é agir corretamente. – Yuuri se afastou para pegar seu roupão felpudo e o vestir, levando consigo o do platinado e o ofertando quando este voltou a mirá-lo.
- Ele vai ter de entender de uma vez por todas. Irá contigo para a loja e ficará lá ajudando no que você achar melhor, e veremos se a loja que ajuda a sustentá-lo é o que ele diz ser. E tem mais, a cada recaída ou se descumprir o que dissermos, será novo item que ele perderá o direito de portar. – Viktor profetizou. Estava ultrajado com a atitude do jovem que eles haviam educado até ali. – Esses dias que irá ficar de suspensão, usaremos para encontrar uma instituição melhor para ele, iremos analisar cada uma das opções e, desta vez, não deixarei que Yakov dê algum palpite, dizendo que este ou aquele colégio seja o melhor. – suspirou pesaroso.
- Não sei se é uma boa ideia, mas ele precisa começar a compreender que as coisas não caem do céu. – Yuuri comentou ao começar a vestir algo confortável.
Viktor nunca gostara de deixar Yuuri ou mesmo Yura passarem por tamanha provação. Sabia que seria impossível sempre estar presente, mas queria fazer o possível e o impossível para estar junto deles. Não que seu japonês não soubesse se defender, pois ele já tinha visto ele o fazer e com esmero, mas era inadmissível estarem no século vinte e um e ainda existirem tantas pessoas com mente tacanha.
- Mil perdoes, moya snezhinka! – Viktor se sentia culpado por tudo o que seu homem tivera de passar sozinho naquele colégio. Dizer que estava revoltado seria muito pouco, mas também estava desapontado por demais com o loiro.
- Você não tem que se desculpar. Nós dois sempre soubemos que vez ou outra trombaríamos com pessoas intolerantes, homofóbicas e de mentalidade obsoleta. – Yuuri suspirou ao se sentar na cama para poder ajeitar os cabelos úmidos e observar enquanto aquele homem nu vestia as roupas que havia escolhido. Balançando a cabeça tentou afastar os pensamentos nada castos que, de uma hora a outra, poluíram sua mente. Precisava focar no que eles tinham de tratar. – A escola já foi orientada a ligar somente para mim e você estava impossibilitado de estar presente. Em hipótese alguma você poderia deixar sua cliente sozinha naquele local frio e impessoal. – comentou o florista. Ele não gostava do tribunal e tinha um trauma muito grande de quando tentaram lhes tirar o direito da guarda e acabarem com suas tentativas de adoção do menor.
Haviam sido dias obscuros, mesmo com toda a documentação deixada por Nikolai.
- Espero que você tenha ganhado! – comentou ao acaso, mas ao ver o riso de canto emoldurado nos lábios do platinado, sabia que nem precisava ouvir respostas. Ele havia conseguido, mais uma vez!
- Bem, que tal se prepararmos algo para comermos, e em seguida termos aquela conversa com Yura? – perguntou Viktor, que ainda estava remoendo tudo o que ouvira o marido contar, e a cada vez mais se recriminaria.
Concordando com um maneio de cabeça, o florista, antes porém, de deixar o quarto do casal, abraçou fortemente o platinado, e aproveitou para murmurar bem próximo ao ouvido deste.
- Te amo!
- Também te amo, lyubov! – e o puxando pela mão, seguiram para a cozinha. – O que iremos cozinhar? – perguntou ao começar a colocar em si o avental que o marido costumava usar.
- Que tal gyoza? – perguntou. – Já temos duas fornadas na geladeira, e fica pronto rapidinho. O que me diz?
- Feito! – Nikiforov concordou. – Vou chamar o Yura!
- Deixe o avental antes, sim? – pediu com um pequeno sorriso. Yuuri sabia o que o advogado iria fazer, então por isso mesmo, se aproximando com cautela, o abraçou e pediu. – Não perca sua paciência, vai passar!
- Não prometo nada, mas aquele jovenzinho precisa aprender que não se deve machucar quem fez e faz tudo por ele! – sapecando um delicado beijo nos lábios rosados do florista, antes de o soltar, deu-lhe um tapa nas nádegas fartas que tanto gostava.
- Eiii...
Rindo alto, Nikiforov se afastou deixando sozinho um Yuuri que ainda o mirava indignado.
Ao se ver sozinho, o florista desejou ardentemente que Viktor não voltasse a ter a reação que tivera na banheira quando se inteirara de todos os fatos. Ele sabia que o advogado estava apenas se controlando para não o deixar magoado, mas se preocupava piamente com o loiro.
Suspirando e com o peito pesado, começou a se mover pela cozinha, pegando tudo o que iria precisar.
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Ao se aproximar do final do corredor, o platinado parou a frente da entrada da "toca" do gato arredio. Pensou em entrar sem se anunciar e muito menos sem bater na porta, mas sabia que estaria indo contra tudo que Yuuri e ele já haviam explicado ao loirinho sobre a liberdade e educação. Assim, tocou três vezes a madeira polida e esperou.
O Silêncio foi sua única resposta. Insistente, o advogado tornou a bater mais uma vez, e logo em seguida, após esperar um pouco, entrou se fazendo anunciar.
- Yura, estou entrando! – Viktor deixou que sua voz grossa soasse um pouco mais alto para assim chamar a atenção do loiro, que voltou seus olhos verdes espantados na direção do mais velho. – Eu bati! – gracejou para descontrair um pouco.
- Fala, velho, o que você quer? – Yuri puxou o fone de ouvido para poder escutar melhor ao recém chegado.
- Um pouco de respeito seria muito bom! – Viktor respondeu com acidez e sem deixar que o mais jovem retrucasse, puxou a cadeira giratória da mesa do computador para poder sentar bem à frente do outro, e prosseguiu. – Isso me lembra também que hoje você também faltou com o respeito com Yuuri, não? – perguntou apenas para ver qual seria a reação que este teria.
Arregalando um pouco os olhos, Yuri optou por se portar com indiferença. Tentou recolocar os fones, mas foi impedido por uma mão forte, que segurou seu pulso evitando que conseguisse o que queria.
- O que foi? Eu não preciso ouvir isso! – retrucou o jovem azedamente.
- Sim, você precisa sim! – Nikiforov frisou a frase toda. – Nós não o educamos até agora para que você nos trate dessa forma! E devo te deixar ciente, se continuar agindo assim, o maior prejudicado será somente você! E vai acabar ficando sozinho!
- Ah! Ele já reclamou de mim, não é? – Yuri quis saber.
- Não! Yuuri não reclamou de você, ele apenas me contou tudo o que vem acontecendo e o que ele teve de aguentar por você, que não merece um pingo das lágrimas derramadas por ele. – Viktor, em momento nenhum, havia perdido as estribeiras, mas estava se segurando. Talvez quando ele fosse mais novo, se Yuri tivesse levado uma boas palmadas, não teria tanta coragem de faltar com o respeito e fazer pouco caso das preocupações e do amor que ele e o marido lhes dispensava.
- Eu não pedi para que ele fosse para lá por mim! – ranhetou o loiro ao revirar os olhos.
- Sim, você não pediu, mas querendo você ou não, somos seus tutores legais, e é para nós que irão ligar! Nós é que responderemos por suas estupidezes, e palavras de baixo calão! – replicou o platinado.
- Aquele fodido do Antoan...
- Yura! – advertiu o advogado.
- Ele é, Viktor! Antoan é um fodido e aquela senhora de índole duvidosa que ele tem como progenitora, sapatearam nas fuças de Yuuri, e mesmo aquele bobo revidando, ele recebeu todas as críticas homofóbicas, saindo como se nada houvesse acontecido! Uma vergonha! – repetiu agora para o russo mais velho. – De que adianta relembrar os xucros fodidos que homofobia é crime?
- Olha essa boca, garoto! – grunhiu começando a perder a paciência. – Eu vou te avisar só uma vez: pare de usar palavras de baixo calão! Nós nunca lhe ensinamos a ser tão baixo, a decair tanto! – falou entredentes Viktor ao se estressar mais com o loiro. – Por vezes é preferível calar contra pessoas assim! E o desprezo, o silêncio, é mais doloroso do que jogar ao vento palavras vis que podem muito bem gerar um processo contra você. – o platinado fez uma pausa para poder tomar fôlego e dar uma acalmada em seus ânimos. – A palavra fere? – questionou, e ao ver o mais jovem concordar que sim, prosseguiu. – Ela não só fere como pode ser uma faca de dois gumes; hoje ela fere seu inimigo, mas amanhã ela pode te ferir também.
- Puta merda! – começou o gato arisco, mas ao reparar no olhar enviesado do advogado, deu de ombros, pois já tinha emendado o palavrão. – Eu não queria que Yuuri passasse por tudo o que teve de passar, mas porque cargas d`água ele tinha de ir? – Yuri parecia indignado. Em sua cabecinha ainda de um adolescente problema, ele não conseguia ver os motivos que levaram o moreno a entrar no covil do lobo e, mesmo tendo explodido, ainda assim não faltou com o respeito com ninguém.
- Eu no lugar dele teria pateado o cu de todos ali! – riu-se o adolescente.
Viktor revirou os olhos ao escutar aquilo. Suspirando tentou buscar pela calma que parecia não mais possuir.
- Aí está a diferença entre o modo de agir de Yuuri e o seu! E eu sei que de nada vai adiantar falar, mais uma vez, que seus atos estão e são completamente equivocados! – suspirou desanimado. – Você precisa mudar, Yuratchka! Ou de fato podemos perder sua guarda, não por nós, mas única e exclusivamente por sua culpa, e será para sempre, pois vão julgar que Yuuri e eu não podemos lhe educar corretamente. – Viktor tentou com isso fazer o loiro entender que ele estava em uma corda bamba e poderia ter uma queda muito, mas muito feia. – E Yuuri ou eu não temos escolha, de fato nós nunca quisemos ter muitas escolhas com você porque a escolha é sempre uma: VOCÊ! – ponderou e fez questão de pontuar bem a frase. – Se Yuuri faz das tripas o coração, é porque ele quer o seu bem, e ser um tutor, ser pais é isso: saber calar quando necessário, e também defender! Passar noites em claro sentado ao lado de sua cama, quando se está doente, ficar velando pelo seu sono quando tem crise alérgica! – o advogado fez uma pausa. Ele já havia percebido que Yura começava a titubear e aquilo era muito bom! – Yuuri e eu amamos você como se fosse nosso filho, Yura! O filho que você sabe que nunca vamos poder ter, e você sendo malcriado, fazendo pouco de nossos sentimentos, nos fere muito. Eu realmente não me importo se você nunca demonstrar que gosta de mim, pelo menos um pouco, mas eu não vou admitir que falte com o respeito e o amor que Yuuri merece ter! Ele lutou muito para chegar até aqui e não merece ouvir que o esforço de seu suor é uma porcaria. É com isso que ele ajuda a sustentar a casa, a te dar presentes caros que nós dois nunca sonhamos em ter quando tivemos sua idade! – ponderou seriamente o russo de olhos azuis.
- Eu não sei ser diferente! – Yuri murmurou ao abaixar a cabeça. Estava se sentindo mal, sabia que estava errado, mas não sabia como desfazer o que havia feito.
- Sim, você sabe! – Viktor deixou um pequeno sorriso se abrir ao poder novamente olhar para o jovem a sua frente. – Basta ser você mesmo e não esse projeto de delinquente! – gracejou para tentar suavizar o clima um pouco. – Você sempre foi fechado e sério, mas nunca havia cruzado o limite do respeito com quem mais te ama! – coçando o queixo, prosseguiu. – Sabe, Yuratchka, cada um tem seu modo de demonstrar amor e carinho, e eu te aconselho a repensar tudo que vem fazendo e fez. Às vezes, se desculpar e assumir os erros não é uma tarefa fácil, mas o que irá colher depois... – fez uma pausa mais uma vez, apenas para que o jovem inteligente entendesse o seu recado.
- Viktor, Yuuri está muito bravo comigo? – quis saber o menor.
- Bravo não, mas sim, muito desapontado! Vai passar, com o tempo vai passar, mas não se demore em lhe pedir desculpas! – Viktor se levantou pronto para sair do quarto, mas antes de se afastar, tornou a sustentar as íris jade. – Não deixe que o orgulho ou o medo te façam perder alguém como Yuuri, outro igual, você não irá achar! – caminhando até a porta parou e, sem se virar, avisou. – Venha jantar, hoje teremos gyozas! – e saiu. Ele sabia que o gato do mato iria ruminar um pouco, mas era melhor assim.
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Ao chegar onde o marido estava, o encontrou as voltas com a cocção daquelas deliciosas porções, que estavam cheirando tão bem.
- O cheiro está tão bom! – murmurou ao abraçar o moreno por trás, também aproveitando para mordiscar-lhe a curva do pescoço com o ombro.
- Vitya, estou cozinhando! – Yuuri reclamou. – Não quero queimar essas últimas gyozas! – sorriu timidamente ao sentir o beijo no mesmo lugar das mordiscadas. Sentiu o corpo estremecer, mas tentou se concentrar no que fazia. – Yura não vem? – quis saber.
- Eu conversei com ele e creio que logo ele virá! – Viktor se soltou do florista para terminar de ajeitar a mesa que havia ficado pela metade da arrumação.
Quando tudo estava pronto, o loiro entrou sorrateiramente na cozinha, e seguindo até onde Yuuri se encontrava, parou bem as costas deste.
- Yuu... papi! – murmurou um tanto receoso, mas assim que o mais alto se virou, surpreso, não pensou duas vezes em se atirar nos braços dele e com algumas lágrimas nos olhos iniciar seu pedido de desculpas. – Mil desculpas, eu nunca deveria ter lhe faltado com o respeito, não depois de tudo que precisou ouvir daqueles homofóbicos! Desculpa, eu prometo tentar ser um filho melhor, mas não fica bravo comigo! – pediu ao enterrar o rosto afogueado e marcado pelas lágrimas no peito do nipônico.
Yuuri havia ficado sem ação, a priori, até demorara um pouco em abraçar o adolescente, mas seu coração de ouro não conseguia ficar indiferente aquele gesto de arrependimento. Aquilo caíra como um bálsamo para seu coração dolorido.
Eles sempre foram cientes que o jovem não gostava de demonstrar seus sentimentos, era difícil vê-lo derramar uma única lágrima que fosse, mas assim como todos, uma hora a máscara que oculta nosso verdadeiro eu, pode cair. Yuri era humano e, assim como tal, também pode cometer seus erros... sentir... amar!
Isso faz parte de nossa natureza!
O choro sentido e as palavras ditas de maneira tão desesperada era de cortar o coração.
- Shh... tudo bem, Yura! Se acalme... – pediu o moreno com a voz embargada pelas lágrimas que também lhe escorriam pelo rosto – a magoa vai passar, eu te desculpo, mas também espero que me respeite e respeite ao Viktor como nós te respeitamos! – e sapecando um beijo sobre os fios loiros, com um gesto de mão, discretamente chamou pelo marido, que não tardou em juntar-se a eles no abraço.
- Nós te amamos, Yuratchka, nunca se esqueça disso! – pediu Viktor.
- Eu prometo... – e ao terminar de falar, sua barriga roncou alto. Era a primeira vez que não reclamava de ser feito um sanduiche por aqueles dois, pois também era a primeira vez que sentia que estar ali, entre eles, era o seu verdadeiro lugar.
- Vai, vamos sentar para comer antes que as gyozas se esfriem! – convidou o japonês ao ser acompanhado por seus dois amores.
- Eu adoro isso! – Yuri comentou logo após ter engolido a primeira bocada.
- Sim, é muito bom mesmo! – concordou Viktor ao servir-se de pelo menos três daquelas delícias.
- Acho bom que estejam com fome, pois não quero ver sobrar um gyoza sequer! – Yuuri gracejou. – Yura, Vitya e eu conversamos um pouco, e o que você acha de procurarmos um novo colégio para você? – perguntou com certa curiosidade.
- Eu acho bom, pois não sei se conseguiria ficar no mesmo recinto que aquele tipo de pessoas estão! – respondeu pensativo, temendo por seu temperamento nada amistoso.
- Ótimo! – Viktor bateu palmas. Estava muito contente com o desenrolar de toda aquela confusão. – Vamos nos esforçar para achar uma boa instituição educacional a partir de amanhã! – sorriu, um sorriso decidido, que se perdeu ao escutar o leve pigarrear do marido. – Ah! Sim, e a proposito, Yuratchka, a partir de hoje está de castigo até segunda ordem, e cada reclamação que escutarmos, ou mesmo palavrão, é um item a mais que você perderá, a começar por seu telefone celular, jogos eletrônicos e internet. – e ao estender a mão, aguardou que o jovem depositasse em sua palma o aparelho. – Obrigado! – agradeceu ao enfiar o eletrônico em seu bolso traseiro.
- Certas coisas não mudam! – ranhetou o adolescente ao revirar os olhos e inflar levemente as bochechas.
- Sim, meu bem, não mudam! – sorriu Yuuri. - Mais gyozas? – ofereceu para quebrar aquele clima.
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Umas semanas depois, o sol iluminava a via pública. O carro familiar, uma minivan, seguia o caminho contrário ao que sempre seguia.
Ao parar a frente daquela renomada instituição, Yuuri sorriu ao lembrar-se de seu período escolar.
- Pronto! Entregue! – sorriu. – Tem certeza que pode voltar sozinho? – perguntou com curiosidade.
- Sim, não é muito difícil, só um pouco mais longe, mas eu posso me virar! – Yuri respondeu. – Obrigado pela carona!
- De nada! Nos vemos mais tarde! – Yuuri sorriu ao responder e acenar para o jovem que já começava a se afastar e, por incrível que possa parecer, se socializar.
- Hei, Otabek!
Curioso, Yuuri tentou ver quem era o tal jovem, mas eles se encontravam longe de seu campo permitido de visão. Dando de ombros, seguiu seu caminho. Talvez tudo aquilo que tiveram de passar, até mesmo o castigo de Yuri, haviam valido a pena! O difícil seria aguentar os choramingos de felicidade de Viktor devido a Yuri ter feito um novo amigo.
Bem, mas uma coisa de cada vez! Ainda não era o momento de ter que lidar com um certo advogado manhoso e manipulador!
-Porque no final, não vou conseguir resistir, não é? - confabulou consigo mesmo, sorridente, mal se cabendo de tanta felicidade.
Agora sim... pareciam uma família de verdade.
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Notas FinaisMomento Coelha Aquariana no Divã:
*ouvindo Ghost Love Score do Nightwish enquanto arruma a fanfic para ir ao ar, a pula-pula não percebe que deixou de estar sozinha já bem alguns minutos*
Kardia: Incrível como todos os plots dela são sempre para esses fresquinhos do gelo! Incrível como podemos passar de queridos para esquecidos...
Dégel: Kar, se eu fosse você a deixava em paz! Presta bem atenção em qual página o caderninho dela está aberto, e ela está a um tiquinho de jogar fora o plot que tem ali!
Kardia: Impossível! Inadmissível! Aquilo é um plot pra uma fanfic nossa, gelo!
Dégel: Sim, eu sei, mas se ela se esquentar...
Kardia: Vai nada! *correndo pegar umas bolachinhas preferidas da loira, e deixando ao lado desta*
Hein? Pirou, bichinho peçonhento?
Kardia: Agradinho...
Xiii.. te conheço de outros carnavais. Filhote, isso comigo não cola, e se está aqui para apenas me atrapalhar, vaza! Tenho muito o que fazer até antes da meia noite!
Kardia: Ah! Sim, mas claro! Venha, gelo! Vamos deixar a coelhinha escrever em paz! E fofa! Termina aquela fic ali!
Ah! Mas eu sabia! Vazaaa! *jogando uma almofada na direção do peçonhento.*
Mereço! Mas bem, vamos logo agradecer a todos que aqui chegara antes que Kardia resolva voltar!
Obrigado a você que leu essa fanfic! Espero de coração que tenham gostado, pois é um tema que eu sempre quis abordar, mesmo que esteja unido ao item Palavrão! Se gostou, faça essa pula pula feliz, deixe seu comentário, afinal ficwriter feliz, escreve mais.
Beijos
Theka
