As coisas não podiam estar piores.
Ela finalmente estava se recuperando do término com o babaca do Prewett e ele resolve procura-la novamente.
Ela não cedeu. Na verdade, foi uma sensação maravilhosa ser ela a falar não para ele, pra variar. Mas não pode negar que se incomodou com a cara de pau dele de achar que poderia voltar a qualquer momento para a vida dela.
Mas como ela não gosta de falar dela mesma, deixa que eu a apresento.
Marlene McKinnon, 25 anos, é a minha melhor amiga. Morena, cabelos longos e ondulados e estonteantes olhos cor de mel. Uma mulher linda, forte e independente. Embora se orgulhasse disso, ás vezes ela parecia se esquecer desse fato. Sua vida amorosa não me deixa mentir.
Ela tinha apenas dois modos. 8 ou 80. On ou Off.
O off imperou durante toda sua adolescência e início da vida adulta. A Marlene que sempre adorou conhecer pessoas, que fazia amizades com facilidade e tinha tanto charme e confiança que atraía qualquer garoto. A Marlene que era capaz de se relacionar sem medo e de sair de qualquer relação ilesa e sem olhar para trás.
Mas algo mudou nos seus vinte e poucos.
Era bem verdade que suas melhores amigas tinham romances de deixar qualquer filme com inveja. Ela diz que eu e James somos os piores. O clichê do garoto popular que se apaixona pela garota que o detesta, mas evolui o bastante e a conquista no final. Ela diz que somos tão fofos que causamos náuseas. Estamos nos últimos preparativos para o nosso casamento no final do mês.
Alice e Frank não ficam muito atrás. Casaram-se assim que terminaram a faculdade e eram um exemplo de casal comprometido e amoroso.
Achar um cara. Namorar. Noivar. Casar.
Essa sempre pareceu ser a rotina que uma garota precisava seguir. Não era só um pedido da sociedade. Marlene era cercada de mulheres que queriam e ansiavam por isso. Durante muito tempo se sentiu um peixe fora d'água, pois aquelas aspirações nunca fizeram muito sentido para ela. Mas ela mesma acabou por acreditar, incentivada por tantos comentários que ouvira em toda sua vida, que aquilo era uma fase e eventualmente ela também acabaria se rendendo e querendo se amarrar a alguém.
E ela se rendeu.
Inesperadamente ela entrou no modo on e começou um verdadeiro show de horrores. Marlene tentou, quase desesperadamente, manter relacionamentos estáveis, e aceitava qualquer um - literalmente qualquer um - que estivesse minimamente disposto - ou até qualificado - ao trabalho.
Mergulhou de cabeça em pessoas rasas, e entregou o ouro para quem não fazia a menor questão. Ninguém soube dizer o porquê uma deusa como ela passou a acreditar que precisava ser resgatada por um príncipe num cavalo branco.
Foram quase cinco anos disso e ela já enfim se fartou. E enquanto ela não descobrisse o que havia de errado nela, decidiu voltar ao modo off. Mesmo sem prática, ia encarnar sua melhor versão adolescente.
Já vinha nessa nova rotina a meses e alguns homens já haviam passado por sua vida. Ela estava novamente independente, confiante e fazia tempos que não se sentia tão bem. Ela se divertia, flertava e se relacionava com muita naturalidade. Embora deixasse clara suas intenções, ela já somava quatro pedidos de namoro. Era impressionante perceber que quanto mais independente e desinteressada ela se mostrasse, mais fascínio ela parecia exercer nos parceiros. Recusou todos os pedidos com delicadeza, pois ela, genuinamente, não estava interessada. Nem havia se apaixonado por nenhum dos pretendentes para tanto.
Então quando entrou no bar naquela sexta-feira para iniciar as comemorações do meu casamento, depois de uma semana péssima no trabalho e de ter dado outro fora no ex-namorado que a procurou pela terceira vez, a última coisa que Marlene McKinnon esperava era encontrar um pretendente.
Mas agora vou deixar ela mesma contar a história.
