Saint Seiya pertence ao tio Kurumada e tal, mas os personagens originais e a capa são meus. Sem lucro com as fanfics e fanarts, só dor de cabeça, suor e lágrimas (de alegria).

AQUELE ASSUNTO

"Meu amor,

Nós vencemos tudo

As ruas, os pátios ainda estão cheios

E nós estamos aqui, pequenos

Para nos perdermos entre as galáxias e planetas

As promessas, as nuances

E você fica bem em mim

Como um vestido

Como a lua sobre a pele

Como a luz que invade a cidade

Como a felicidade que chove sobre nós"(1)

20 de abril de 2021

Foi mais uma madrugada movimentada na casa do cavaleiro de Libra, como vinha sendo nos últimos dois meses, desde que a família aumentou com a chegada da filha mais nova do casal. Concebida e nascida durante o isolamento social, a pequena Shu Hua veio quando ele e Shunrei já nem pretendiam ter mais filhos.

O sono entrecortado deixava ambos cansados, mesmo assim Shiryu levantou antes da esposa, foi para a cozinha e preparou um belo café da manhã. Quando Shunrei finalmente despertou, a mesinha de apoio do quarto estava arrumada com comidinhas frescas, chá de rosas e um belo vaso com as flores favoritas dela recém colhidas no jardim. Shiryu estava sentado na poltrona ao lado, observando-a e esperando com um sorriso amoroso e um grande embrulho de papel de seda cor-de-rosa no colo.

– Feliz Aniversário, meu amor. – Ele levantou e deu um beijo no topo da cabeça dela antes de entregar o presente.

– Amor da minha vida – Shunrei murmurou preguiçosamente. – Obrigada.

Shunrei sentou-se na cama e abriu o embrulho: uma caixa de madeira de estilo antigo, feita por Shiryu em todas as etapas, desde a escolha da árvore até a delicada pintura de uma peônia na tampa, entre finas camadas de resina, gerando um incrível efeito 3D que saltava aos olhos. Na lateral da frente, os ideogramas que formavam o nome dela, "primavera graciosa", esculpidos em baixo relevo e preenchidos com a mesma resina e pó de madrepérola.

– Pra você guardar seus tesouros – Shiryu disse, satisfeito porque o olhar de encanto dela era a prova de que gostou do presente.

Shunrei sabia que ele se referia a suas lembranças, todas as cartas, bilhetes, flores secas e os saquinhos de tule com mechinhas de cabelos dos filhos. Deslizou os dedos sobre a peça, que era uma verdadeira obra de arte, com a madeira perfeitamente lixada, polida e envernizada, a pintura da peônia, as dobradiças antigas de metal dourado e pensou nas muitas horas que ele certamente levou para fazer esse presente.

– Amor, que horas você fez isso? Deve ter levado bastante tempo.

– Algumas semanas. Fui fazendo um pouco aqui e ali, mantendo bem guardada na marcenaria para você não ver, enquanto fazia outras coisas.

– Eu amei! É perfeita.

Shunrei colocou a caixa delicadamente sobre a cama e então pulou para o colo do marido.

– Eu te amo tanto, tanto.

– Eu também te amo tanto, tanto. Não sou muito de falar, mas você sabe, isso que temos hoje é um sonho pra mim. Sempre achei que a gente não ia conseguir e quando conseguimos, eu fiquei daquele jeito, sem os sentidos… Pensei que ali seria o fim, mas ainda estamos aqui e eu mal posso acreditar.

– Ainda estaremos por muito, muito tempo. Quero comemorar os cem anos ao seu lado.

– Eu não vou viver tanto, Shu…

– Claro que vai. E vai ser um velhinho lindo, finalmente vai deixar o cabelo embranquecer. Você disse que ia deixar depois dos sessenta.

– Vou pensar nesse caso.

Shunrei achava engraçada a relutância de Shiryu mas dessa vez não riu pois estar no colo dele a fez inevitavelmente lembrar-se de algo... Não faziam amor desde que a filha nasceu, respeitando o tempo natural de recuperação do corpo, mas agora, passados quase dois meses, estavam ambos ardendo de desejo.

Ela planejou usar uma lingerie sensual e seu melhor qipao à noite no jantarzinho que teriam com os filhos para depois aproveitar a sós com o marido, mas seus corpos decidiram que seria agora, afinal era mesmo de manhã mesmo a hora preferida dos dois…Deixaram o café para depois e se entregaram ao amor ali mesmo na poltrona. Estavam completamente alheios ao mundo, imersos um no outro, quando ouviram as batidas de Tetsuya na porta. Quase imediatamente depois, veio o choro da bebê no quarto ao lado.

Os dois entreolharam-se e riram da situação. A vontade de Shunrei era dizer pra Shiryu não parar, mas ela conhecia Tetsuya, sabia que ele não ia desistir de chamá-los e, se demorassem a responder, ele acabaria entrando já que, como não tinham planejado isso, a porta não estava trancada.

– Vamos ter que deixar pra mais tarde… – lamentou-se a chinesa rindo e saiu de cima do marido. – Deixa que eu vou. Você está em um estado meio… complicado.

– Pois é… – ele assentiu também rindo e olhando para a própria virilha. – Logo vou lá te ajudar.

Com uma piscadela, Shunrei vestiu um robe e foi atender seus filhos. Pegou Shu Hua para acalmá-la e foi com Tetsuya para a cozinha, onde a mesa já estava posta, bastava sentar para comer. Isso a fez constatar que ele na verdade queria atenção e não comida e ela acabou se perguntando se acaso ele ouviu alguma coisa, por isso foi bater à porta do quarto… Sentou-se à mesa com ele e beliscou um pouco da comida, enquanto amamentava a pequena. Logo Shiryu apareceu na cozinha, já recomposto e vestido, trazendo a bandeja com o café que tinha preparado para ela.

Comeram juntos, planejando as atividades do dia, que seria cheio. Justamente por isso, pouco puderam pensar no assunto que pretendiam terminar depois da comemoração do aniversário.

Shunrei dividiu-se entre os cuidados com a bebê, a preparação do almoço e a vigilância de Tetsuya, que andava muito preguiçoso com as aulas online. Já Shiryu colocou uma máscara e saiu em direção ao lago, pois queria pescar alguns peixes e camarões frescos para servir no jantar de aniversário da esposa. Na volta, já com o cesto cheio, ainda colheu cogumelos que encontrou pelo caminho. Quando chegou em casa, parou na área de serviço externa e limpou os peixes e os camarões, lavou bem os cogumelos e guardou tudo para preparar depois. Depois foi para a horta colher os legumes e temperos que também usariam mais tarde.

Estava absorto no trabalho quando Tetsuya apareceu.

– Papai, o que está fazendo?

– Colhendo uns tomates. E você, o que está fazendo aqui? Não era para estar assistindo aula?

As aulas presenciais já tinham voltado, mas ele achou melhor o filho e as netas continuarem estudando em casa para proteger Shunrei quando estava grávida e decidiram continuar assim mesmo agora que a bebê já havia nascido.

– Tava chato… – justificou o menino esfregando o rosto com as mãos.

– Chato, Tetsuya? Volte agora para a frente do computador.

– Mas pai…

– Nada de "mas". Agora. – Shiryu costumava falar baixo, raramente erguia a voz, mas seu tom era tão firme e com tanta autoridade que Tetsuya não tinha como desobedecer. Voltou para a sala resmungando baixinho e arrastando os pés.

Quando Shiryu finalmente voltou para dentro da casa com a cesta cheia de tomates, cebolas, alho, tudo já lavado, o menino ainda estava lá sentado na frente do computador, com um ar entediado. Shiryu passou a mão nos cabelos dele e deu um beijo.

– Muito bem. Tem que estudar. Você não disse que quer ser engenheiro como seu irmão?

– Acho que não quero mais. O que dá pra fazer sem estudar tanto?

– Dá pra ser empregado do seu irmão – Shiryu respondeu rindo e foi para a cozinha, onde Shunrei terminava de fatiar um lombo assado.

– Trouxe peixe e camarões maravilhosos – ele anunciou e deu um beijo na esposa.

– Hum… vamos preparar umas comidinhas deliciosas hoje!

Ele assentiu e pôs a mesa enquanto ela finalizava o preparo da refeição. Quando terminaram, chamaram Tetsuya para almoçar.

Depois da refeição, aproveitaram que o menino e a bebê pegaram no sono e também foram dormir um pouco. Sequer cogitaram continuar aquele assunto porque realmente qualquer minuto de descanso era precioso a fim de guardar energia para o segundo round.

Quando acordaram do cochilo, os dois voltaram à cozinha e prepararam juntos travessas de bolinhos de peixe, legumes recheados, um refogado de cogumelos e uma grande bandeja com os camarões ao molho de alho.

– Parece que tem comida para umas trinta pessoas – Shiryu riu quando estavam quase terminando os preparos.

– E as meninas ainda vão trazer mais coisas e o bolo.

– Meu Deus, vamos morrer de comer, Shu.

– Não coma demais – Shunrei advertiu com um toque deliciosamente malicioso na voz.

– Vou me controlar pensando no depois – ele prometeu com um beijo.

– Acho bom. Mas agora o sol já está se pondo. Vamos tomar banho.

Shiryu concordou e eles foram tomar banho juntos, rapidamente, sem tempo para resolver aquele assunto pendente, pois logo filhos, noras e netos estariam batendo à porta. Ele terminou primeiro e se adiantou para dar banho na filha também. Deixou a menina no berço, já banhada mas só de fraldinha. Não se arriscou a escolher a roupa pois sabia que Shunrei ia querer arrumá-la. Depois, vestiu um conjunto de seda preta com punhos brancos, penteou-se, perfumou-se e foi terminar de arrumar as coisas na área externa. Forrou a mesa com uma das toalhas de festa, levou a louça e os talheres especiais. Levou também um garrafão do vinho de arroz artesanal que faziam na propriedade e preparou suco de uva para as crianças.

– A mesa ficou linda – Shunrei o surpreendeu pouco depois. Trazia a filha no colo, em um macacãozinho de lã rosa, embrulhada em um casaquinho da mesma cor. Fazia menos frio que o habitual da época, mesmo assim ela protegeu bem a bebê do vento. – Foi uma boa ideia arrumar tudo do lado de fora esse ano.

– Sim, esse céu estrelado está incrível. Não podíamos perder.

– Papai, pode ficar comigo enquanto mamãe se arruma? – Shunrei perguntou imitando uma vozinha infantil.

– Claro. Vem cá, meu docinho.

A menina rechonchuda de fartos cabelos arrepiados deu uma risadinha preguiçosa e banguela quando o pai a pegou.

– Ela nem disfarça que adora o papai – Shunrei riu e ajeitou o casaquinho dela. – Eu entendo, também adoro.

– E nós dois adoramos a mamãe – Shiryu deu um beijinho na esposa e outro na cabecinha cabeluda da filha. – Você gostou mesmo do presente que eu fiz?

– Eu amei.

– Fico feliz por isso.

– Vou me arrumar e já volto. Vocês dois já estão prontos e eu ainda de roupão. Aliás, você está lindo, amor...

Shiryu deu um sorrisinho encabulado e mais um beijinho em Shunrei antes de ela entrar para se trocar. Com a filha mais nova apoiada no ombro, ele começou a caminhar pelo terreno ao redor da casa, checando os novos canteiros onde pretendia plantar melancias.

Enquanto se arrumava, Shunrei pensava em seus quatro filhos, cada um vindo em uma fase diferente da vida. A adoção de Shoryu, totalmente inesperada, quando ela e Shiryu eram jovens e inexperientes demais. Tiveram que aprender a ser pais da noite para o dia, mas conseguiram. Dez anos depois, veio Ryuho, planejado e esperado, na época que consideravam perfeita e realmente foi por alguns meses, até que Shiryu acabou naquele estado semivegetativo quando o menino ainda não tinha nem um ano. Quando Shiryu finalmente se curou, Ryuho já era um adolescente muito maduro para a idade e independente. E então veio Tetsuya, que eles pensavam que seria o último, já em uma época de maturidade para ambos. Vivendo tempos de paz e com os outros dois filhos já criados, estavam se dando ao luxo de curtir de perto cada fase do menino cuja personalidade lembrava muito a do tio Seiya. E agora, quando ambos já beiravam os cinquenta anos, Shu Hua veio como uma adorável surpresa, em um mundo mudado, onde mal podiam sair com ela da propriedade, e quando Shunrei sequer achava que conseguiria engravidar mais uma vez. A gravidez de Tetsuya já havia sido um milagre e a pequena veio contrariando todas as probabilidades, mas ela estava amando experimentar a maternidade em outra fase da vida, quando era também avó.

Estava acostumada a viver numa casa masculina, amava seus três meninos mas não era segredo que sonhava com uma menininha, ainda mais depois que as netas vieram. Ajudava Liwen com as duas, mas mantendo a distância adequada, sem se intrometer demais na criação das meninas, enquanto desejava uma menininha só sua para cuidar.

Ela e Shiryu estavam conversando sobre adotar uma garotinha assim que a pandemia chegasse ao fim quando foram surpreendidos pela gravidez. Preocuparam-se duplamente por causa do vírus e da idade dela, mas tudo correu bem e a menina nasceu saudável, em casa, no raiar do dia dez de março. Recebeu o nome que significava "flor tranquila" e não podiam ter escolhido nome mais adequado, já que desde os primeiros dias ela se mostrou uma bebê muito calma. Dava o trabalho normal de um recém-nascido mas era definitivamente a mais tranquila dos quatro filhos. Acordava umas duas vezes por noite, mas se acalmava rapidamente assim que era colocada no peito.

Pensar nos filhos naturalmente fez Shunrei lembrar do assunto pendente e, depois da interrupção da manhã, ela voltou ao seu plano de vestir uma lingerie sensual. Escolheu um conjunto vermelho muito bonito, cujo sutiã ficou um pouco ofuscado pelo absorvente de seios, mesmo assim ela se olhou no espelho e se achou maravilhosa. Vestiu por cima seu melhor qipao de seda vermelha com bordados florais brancos, na altura dos joelhos e com uma fenda que deixava metade da coxa à mostra quando ela sentava. Shunrei olhou-se no espelho mais uma vez. Ainda restavam alguns quilogramas a mais e uma pequena barriguinha da gravidez muito recente, mas ela gostou do que viu, sentiu-se bonita e muito sensual.

Calçou seus sapatos vermelhos de festa, com saltinhos embutidos e amarrações nos tornozelos, ornou o cabelo curto com uma fivela de prata em formato de lótus e colocou as joias do mesmo metal que foram presente de Shiryu quando completaram vinte e cinco anos juntos. Maquiou os olhos levemente com um pouco de sombra champanhe e máscara preta para realçar os cílios, depois finalizou com um batom vermelho e borrifou um pouco de seu perfume favorito.

Quando saiu do quarto, Shiryu já estava de volta à varanda com a filha que colocou para dormir no carrinho, coberta por uma manta.

– Uau – ele suspirou quando a viu. O olhar desejoso deixou novamente transparecer novamente as intenções para o pós-festa. – Você está linda.

– Obrigada, amor. É que temos aquele assunto mais tarde…

– É… – ele assentiu com um sorriso completamente sem-vergonha. – Um assunto muito importante.

– E a Shu Hua? Ficou quietinha?

– Dei uma volta ao redor da casa e ela dormiu logo. Duvido que acorde mesmo quando os meninos chegarem com a criançada toda. Só vai acordar quando estiver com fome.

Assim que Shiryu terminou de falar, Lin e Jiang vieram correndo dar os parabéns para a avó, cada uma carregando um presente. Atrás delas, Shoryu trazia uma grande travessa de porco agridoce preparado por Liwen, que vinha com outra travessa de arroz temperado.

Ryuho e Yuna vinham logo atrás com Shohei, agora com quase dois anos, caminhando de mãos dadas com o pai, que também trazia o bolo decorado com glacê vermelho e confeitos dourados.

As netas abraçaram a avó aniversariante e lhe entregaram os presentes, depois filhos e noras cumprimentaram-na e presentearam-na também.

Shunrei ia entrar para chamar Tetsuya, mas as meninas se adiantaram e encontraram o garoto cochilando no sofá. Trouxeram-no para fora ainda com cara de sono e esfregando os olhos.

– Bem que eu estranhei você não ter saído quando as meninas chegaram – Shunrei comentou sorrindo para seu pequeno preguiçoso e deu um beijo na bochecha dele.

– Você está muito bonita, mamãe – o garotinho comentou e o irmão mais velho não perdeu a deixa.

– Pois é, mamãe está linda. Hoje tem, né, pai?

– Você não toma jeito mesmo, não é, Shoryu? – Shiryu censurou com aquele olhar disciplinador que tinha desde sempre mas que já não funcionava com o filho mais velho, embora ele estivesse totalmente certo. Hoje terá, pensou. Com fé em Deus e se as crianças deixarem.

– O resultado do ano passado tá aqui – Shoryu retrucou rindo e fez um carinho na cabecinha da irmãzinha adormecida. – Sei bem como é esse período de seca depois que o bebê nasce, mas é melhor tomarem cuidado se não quiserem mais um ano que vem.

Shiryu e Shunrei entreolharam-se encabulados, perguntando-se se era tão óbvio assim e também se fazia algum sentido receberem conselhos de contracepção do filho mais velho.

– Eu acho isso tão bonito – Yuna comentou depois que todos se sentaram à mesa. – Depois de tanto tempo vocês ainda se amam tanto, ainda têm esse fogo. Espero que a gente tenha o mesmo destino, Ryu.

– É o que eu pretendo, amor – Ryuho prometeu docemente e abraçou a esposa.

– E nós também, né, Li? – Shoryu também perguntou.

– É. Se você se comportar.

– Eu? Eu sou um anjo.

– Um anjo muito danadinho. Você fala isso para o seu pai, mas se dependesse só de você já teríamos uns cinco filhos, um atrás do outro.

– É que eu tenho muito amor pra dar!

As crianças quiseram saber do que Liwen estava falando, mas ela desconversou e mandou que fossem brincar, o que, para sorte deles, elas fizeram.

– Não pensem que vão fugir dessa conversa por muito tempo… – Shunrei advertiu rindo. – Já passamos por isso e passaremos de novo muito em breve. – Ela deu uma olhada carinhosa para Tetsuya que brincava ali perto com as sobrinhas e se perguntou de novo se ele tinha ouvido algo de manhã. – Não é tão difícil… É só falar de um jeito simples que eles entendam. É natural e faz parte da vida.

– Eu sei, mãe. Lembro como foi comigo, mas me dá arrepios só de pensar.

– Graças a Deus o meu ainda está bem longe dessa fase – Ryuho acrescentou e a seguir mudou de assunto. Diferentemente de Shoryu, não queria encabular mais o pai. – E esse tanto de comida, hein? Somos só nós?

– Adoraria fazer uma grande festa – Shunrei respondeu – mas ainda não dá, então somos nós e esse monte de comida.

Todos concordavam que ainda era cedo para grandes reuniões e conversaram um pouco sobre a situação caótica em que o mundo ainda estava, mas o assunto ficou pesado demais para um dia feliz, então chamaram as crianças e puxaram os parabéns para a aniversariante.

Enquanto apagava as velinhas, Shunrei agradeceu por tudo, por mais um aniversário, pelo marido amado, pelos quatro filhos perfeitos e saudáveis, pelos três netos adorados e por todos estarem bem apesar da pandemia. Esperava que a essa altura tudo já estivesse melhor, mas ela não perdia a esperança, sabia que as coisas entrariam nos eixos em algum momento. Como Shiryu costumava dizer, ela era o lado otimista do casal.

Aproveitaram uma noite agradável e divertida, relembrando histórias dos últimos anos e fazendo planos para uma grande viagem em família quando a pandemia chegasse ao fim, enquanto saboreavam os deliciosos pratos que prepararam.

Era sempre assim, a comida os unia desde quando ainda eram só Shiryu, Shunrei e o Mestre, as melhores conversas eram sempre ao redor da mesa. Shunrei lembrou-se com carinho do Mestre Ancião, que sempre brincava que ela cozinhava melhor quando Shiryu estava em casa. Sentia uma saudade terna dele, lamentava profundamente ele não ter conhecido os netos e bisnetos, mas ao mesmo tempo sentia que ele ainda estava presente fisicamente, algo que um dia lhe passou pela cabeça quando Shoryu era criança.

O menino não chegou a conhecer o avô, entretanto era muito parecido com ele, a mesma personalidade franca, o mesmo jeito de encarar a vida com leveza, até as mesmas reclamações sobre Shiryu ser sério demais e o modo como adorava provocá-lo. Quando comentou o assunto com o marido, ele acrescentou que até mesmo fisicamente Shoryu até lembrava o jovem Dohko que ele conheceu durante a guerra de Hades. Foi isso que fez Shunrei ter certeza de que Shoryu era o velho Mestre Ancião. Ela tinha certeza de que tudo havia sido orquestrado pelo universo para que o Mestre reencarnasse na forma daquele menino órfão e voltasse para a família que sempre foi dele, dessa vez como filho.

A noite foi avançando e a certa altura Shoryu foi buscar o violão. Aprendeu a tocar quando estava na universidade e agora divertia a família com suas cantorias um tanto desafinadas. Enquanto tocava, não deixou de notar o comportamento do pai. Shiryu estava sempre tocando Shunrei, sempre uma mão levemente encostando na dela, ou um fazendo um discreto carinho. Lembrava que começou a notar muito claramente essa tendência pouco depois que ele recuperou os sentidos, como se depois daquilo Shiryu precisasse desse toque.

– Toma, pai – ele disse depois de algumas músicas e entregou o violão a Shiryu. – Toca uma para a mãe.

Shiryu fez uma careta envergonhada. Nos últimos anos, aprendeu a tocar com o filho, mas não gostava muito de fazê-lo em público, ainda que o público fosse a família.

– Melhor não, Shoryu. Eu sou muito ruim.

– Não é, não. O senhor aprendeu direitinho, toca até melhor que eu. Vai, toca uma canção para a mamãe. Não seja sempre tão envergonhado. Você já vai fazer cinquenta anos, homem! Bota para fora o tigrão! Rawrrrr!

Shunrei olhou de um para o outro rindo. O desafio de Shoryu só contribuía para confirmar o que ela sempre soube.

Encurralado, Shiryu aceitou o desafio. Apoiou melhor o violão na perna e começou a tirar uma melodia que todos reconheceram na hora: A Love Before Time, tema do filme "O Tigre e o Dragão". Shunrei amava a canção e olhava encantada para ele. Sabia que era sempre assim, ele começava tímido, mas quando piscava os olhos estavam os três, ele, Ryuho e Shoryu, cantando a plenos pulmões. Ela só agradeceu por não terem vizinhos muito próximos a quem pudessem incomodar com a cantoria, que continuou com eles se revezando no violão até as crianças ficarem com sono e Shu Hua acordar com fome pela segunda vez.

Não fazia parte dos planos da família deixar a sujeira para a aniversariante limpar, então quando Shunrei entrou para trocar Shu Hua e colocá-la para dormir, os outros filhos, noras e netos sonolentos rapidamente limparam e arrumaram tudo em um belo trabalho em equipe coordenado por Shiryu e seus olhares disciplinadores. Com tudo arrumado, cada família voltou para sua casa.

Shiryu ainda estava guardando os copos no armário quando Shunrei veio até a cozinha e o abraçou por trás, os dedos finos deslizando sobre o peito forte dele por dentro da camisa.

– Shu Hua mamou e dormiu de novo – ela sussurrou daquele jeito que o deixava sem chão. – E Tetsuya também dorme como uma pedra. Temos algum tempo de sossego...

– Estava esperando ouvir isso – Shiryu sussurrou de volta e virou-se para beijá-la. – Quase fiquei sem fôlego quando você apareceu vestida assim – acrescentou enquanto apertava firmemente as coxas dela. – Essa fenda mexeu comigo…

– Eu percebi… E essa era a intenção...

Agora que finalmente podiam levar o assunto adiante, foram para o quarto entre beijos e carícias, tendo cautela para não tropeçarem no caminho e acordarem as crianças. Dentro do quarto, certificaram-se de trancar a porta para evitar qualquer surpresa constrangedora e amaram-se sem pressa, do jeito que gostavam de fazer, tomando precauções como Shoryu sugeriu.

Ambos acreditavam na crença taoísta de que quando a energia sexual estava combinada ao amor incondicional uma poderosa energia se criava, por isso nunca foi só sexo para eles. Era o cosmo, o chi, a energia vital fluindo de um para o outro. Era a conexão que sempre existiu entre os dois se reafirmando e se expandindo para o universo quando seus corpos e mentes se uniam.

Os doze preciosos anos perdidos por causa da doença causada pela mácula de Marte, nos quais não puderam se amar como gostariam, impuseram uma interrupção nesse vínculo. Com o tempo passando e Shiryu ainda naquele estado, eles se perguntavam com tristeza se algum dia voltariam a fazer amor como antes. A resposta veio logo depois que ele repentinamente recuperou os sentidos, quando essa ligação se refez de imediato como se nunca tivesse sido pausada.

Oito anos depois da cura, estavam ali naquela mesma cama, abraçados, ofegantes, aproveitando a paz absoluta que se seguia ao êxtase. A cama feita por Shiryu quando se casaram e que já testemunhara tanta coisa… as horas de amor, a cumplicidade das conversas antes de dormir, os filhos que foram feitos e nasceram nela, incluindo a caçula, bem como o sofrimento do tempo que ele passou privado dos sentidos e todas as horas de desespero e solidão que experimentaram.

Felizmente, toda a parte dolorosa havia ficado para trás. Os únicos desafios que enfrentavam agora eram driblar as crianças e trancar bem a porta do quarto. Tarefas fáceis para quem já havia enfrentado o mundo e vencido.

Fim

(ou não… sabe como é, pode dar vontade de continuar ano que vem… com a viagem em família, quem sabe? XD)


(1) Stai Bene Su di Me, música de Arisa


Hey, peopleeee!

Tá aí a fic de aniversário da Shu, super atrasada, saindo no dia das Mães...

A capa fui eu que fiz e tô muito orgulhosa dela. Um ano atrás pensava que seria impossível desenhar, mas o home office me fez procurar outro hobby que não fosse olhar para uma tela o dia inteiro, então comecei um curso de desenho.Tá corrido, tá maluco, pratico muito menos do que gostaria, e no final ainda olho bastante para tela, já que desenho mais em meio digital, mas tô amando meu progresso. Segue lá no instagram se quiser acompanhar minha trajetória "desenheira".

Mas sobre a fic, queria muito continuar a do ano passado e deu vontade de fazer ShiShu tendo um pequeno fruto da quarentena! XD Fiquei feliz com o resultado. Os kpopeiros reconhecerão o nome da bebê!

E o Shoryu ser uma reencarnação foi uma coisa que me ocorreu relendo o ND. Eu acho que pode ser uma coincidência do traço do Kurumada mesmo, mas ele adulto realmente me lembrou o Dohko então adotei essa teoria.

É isso!

Cuidem-se, fiquem em casa, usem boas máscaras!

Chii