Parte 2: Isolação
Em algum lugar do oposto extremo da galáxia Empírica, vaga algo semelhante a um grande asteroide, mantido sob a gravidade gerada entre o sol e o sexto planeta a partir deste, mas que oculta algo mais do só uma camada de rocha flutuante.
Atrás de fachada do asteroide está a 87-MPR, uma antiga instalação bélica outrora usada pelos decepticons durante a grande guerra, considerada uma obra-prima de engenharia da ciência decepticon por seu armamento e sistemas de defesa quase impenetráveis. Entretanto, com o fim do conflito, foi abandonada e esquecida por séculos...até 2 anos atrás.
Seu interior agora era ocupado por esquadrões fortemente armados de vehicons, antigamente utilizados como soldados rasos do exército decepticon, criados apenas para combates, sem qualquer outro objetivo. Com o término da guerra, foram caindo em desuso geral. Precisando de um novo objetivo, viraram mercenários à serviço das melhores ofertas em energia e combustível e em último caso, novos armamentos.
Há exatamente 2 anos, os vehicons foram contratados por um empregador anônimo que necessitava de proteção constante e interrupta, devido a um incidente fora dos padrões do tratado de paz. Sendo que precisavam de uma nova meta e considerando o pagamento, aceitaram de imediato.
Os vehicons não tinham muito do que reclamar do pagamento em combustível, que para eles, era um dos mais deliciosos que tinham provado em todos os seus anos desde sua fabricação. De fato, o trabalho não era cansativo ou arriscado, constituindo-se de vigília total naquele setor do espaço, porém às vezes era bem entediante, resumindo-se ao máximo abater meteoros e outros corpos que se aproximavam demais da base à mando do empregador.
"Pois é, mais um dia sem grandes mudanças. Certo, Vehicon Número 1?"
"Bem dito, V-Número 13. Todos os dias, mantendo o alerta em tudo que se mexe na nossa direção."
"Não me importo muito com o tédio, uma vez que somos pagos com a melhor safra de energia desta galáxia, mas não ligaria por um pouco de ação."
"E falando em ação, 13, se meu relógio estiver apontando a hora certa, e sei que está, devemos estar chegando no momento de..."
"Saudações, vehicons." Um enorme rosto robótico surgiu da grande tela presente no salão principal da base. "Aqui é seu comandante na linha. Cumprimentos, quero ouvir todos."
"SAUDAÇÕES, GRANDIOSO." Exclamaram todos os robôs presentes tanto no salão quanto em cada parte da base.
"Muito bem. Vejo que estão alertas à tudo. V-N 1, informe atual situação."
"Tudo na mais perfeita harmonia e paz, comandante. Sistemas em vigilância total."
"Alguma movimentação externa? Meteoros, naves, qualquer coisa nos arredores?"
"Nada em lugar algum, mas se permite, comandante, não acha estar meio que exagerando na vigilância? Quero dizer, sem desejar questioná-lo, mas nestes últimos 2 anos..."
"V-N 13. Você é pago para trabalhar e não questionar. Fique feliz por eu estar de bom humor hoje, pois do contrário..." Nesse instante, um alarme soou e foi ouvido por todo lado.
"Algo se aproxima. V-N 1, descubra o que é."
Verificando os monitores menores, V-N 1 viu se tratar de um asteroide menor entrando no campo gravitacional da 87-MPR. Pensou não ser nada demais, mas conhecendo seu empregador como ninguém, chamou por um dos postos.
"Atenção, posto sudoeste. Há uma rocha no campo de visão da base. Atire e destrua-a."
"Entendido, chefe. Alvo avistado." O atirador do posto posicionou sua arma de raios solares para fora do recinto. Uma vez com o alvo em mira, atirou contra ele, evaporando-o completamente, nada restando além de pequenos fragmentos.
"Missão cumprida. Alvo neutralizado."
"Parabéns, 22. Comandante, missão cumprida. O alvo foi aniquilado." V-N 1 bateu uma continência.
"Excelente, V-N 1. Mantenham os olhos atentos à tudo e informe sobre cada movimento detectado. Tenham um bom dia, soldados." Tela se apagando.
"Ora, por fim alguma coisa se deu. Foi nosso melhor dia nestes últimos 4 meses."
"Sim, 13. Já ajudou a afastar o tédio por hora."
"Olhe, não querendo me meter a xereta, 1, mas reparou que o comandante nunca deixa os aposentos deles por nada, não interessam as circunstâncias, desde que nos contratou há 2 anos?"
"Eu prefiro não pensar nisso, 13, apesar de que isso me coça o cérebro eletrônico de vez por outra."
"Sabe. Andei ouvindo uns rumores e cá entre nós, não sou de crer em boatos, mas dizem pelos cantos que essa paranoia dele se deu por causa de..."
"SILÊNCIO." Gritou um outro vehicon recém-chegado, tapando a boca do 13. "Não falamos sobre isso."
"Ei, 89. Qual é a ideia?" Questionou 1.
"A ideia, 1 e 13, que para a segurança total de todos nesta estação, nunca se deve tocar neste assunto e isso é sério."
"É tão pavorosa quanto mostra sua careta agora?"
"Se é, 13? Veja isto." 89 mostrou uma chave de rosca. "Lembram do 101?"
"Sim, ele era da manutenção de comunicação. Aliás, não tenho tido notícias dele faz tempos. Isso era dele?"
"Na realidade, isto era ele." 1 e 13 tremeram nas bases ao escutar o relato. "Ele tinha uma mania irritante de buscar a verdade que decidiu saber a razão que movia o comandante. Infelizmente, deu pra ouvir tanto que o comandante descobriu e...digamos que foi sorte ter restado o suficiente pra esta ferramenta."
"Urghh. Quer saber? Ainda tenho que continuar o conserto dos monitores secundários do setor, pois andam meio enguiçados, e já estou atrasado. Com licença." 13 mudou para o modo carro e saiu do salão.
"Sim, sim, vá em frente. Tenho que supervisionar outros setores. 89, assuma o posto até minha volta."
"Entendido, 1." Deixado à sós, 89 olhou com pesar a chave. "Sinto por você, 101, mas não devia ter tentado absorver mais energia do que seu tanque comportava."
Mais acima, no último andar da estação, seguindo por um longo corredor escuro e silencioso com diversas estátuas de animais robóticos, levando até a uma porta dupla fortemente pesada, estão as acomodações do comandante dos vehicons.
Um aposento bem decorado e arrojado, era uma parte da fortaleza espacial onde ninguém tinha permissão de adentrar sem ordem expressa do líder, que se encontrava sentando num largo trono giratório. Nas suas costas, inúmeros monitores com detalhes preciso de cada parte da base do hangar até o arsenal, passando pelos dormitórios, refeitório, depósitos e cada parte visível o suficiente para poder monitorar e vigiar sem parar.
Sua vida não era tão fácil e cômoda como muitos lá imaginavam, pelo menos os que buscavam usar seu sistema de pensamentos para algo além de guardar o local, lutar e abastecimento. Ninguém de fato sabia do real motivo para se tornar um completo recluso nos 2 anos que tomou a estação abandonada e a preencheu com tropas mercenárias de vehicons ávidos por energia, sendo o único modo de tê-los sob sua obediência, mas há alguns que tendem a saber mais do que o devido e até comentá-lo e o resultado? Os pouquíssimos que ousaram satisfazer a curiosidade agora são úteis como armas ou ferramentas.
Ele parecia totalmente isolado do resto da existência fora da sala, tirando as monitorações diárias na estação sobre qualquer atividade externa, por mínima que pudesse ser, mas até alguns anos, mantinha contato com alguns indivíduos em especial fora da base, mas conforme o tempo passou e foi perdendo contato com os companheiros, ano após ano, era um sinal bem claro do que viria a acontecer, motivo pelo qual há dois anos se isolou na 78-MPR, cercado por nada além de vehicons e mesmo destes, mantinha o máximo de restrição necessária entre eles e sua pessoa.
Girando sua cadeira até a mesa principal, ativou um projetor de imagens, onde via sua foto em 3D com outros transformers, parecendo suspirar. Desligando o projetor, foi até a parede leste e abriu um cofre, retirando dele uma caixa metálica com tranca. Abrindo-a, olhou atento para seu conteúdo. Outrora, era algo que o faria rir devido as circunstâncias aonde o conseguiu, mas nos 6 anos seguidos, sabendo do que tinha se dado com o resto do grupo, não o via mais como motivo de humor.
"Foram anos tortuosos estes e tudo por quê? Por um ato insensato e estúpido que achávamos ser uma excelente ideia, mas no fim, tornou-se um pesadelo vivo. Não pensei que acabaria deste jeito, indo de Movor até Ro-Tor e é até engraçado que Mega-Octane não tenha sido o último a ser pego. Estranho ele ter sido o segundo a tombar em lugar de Rollbar ou Armorhide, os quais considerada como os mais moloides. De toda forma, não vão me pegar com toda essa folga. Os outros podem ter caído, mas sem dúvida..."
Nesse minuto, o o alarme de movimento externo se acionou, afastando a mente das lembranças. Recolocando a caixa de volta no cofre, voltou-se aos monitores e ativou o comunicador.
"Atenção. Há algo se aproximando da estação. Coloquem no monitor."
Obedecendo aos comandos do comandante, a tela principal acendeu, revelando o espaço sideral aparentemente sem nada para ser visto, mas de uma explosão de luzes, como que parecendo um túnel energético se formando, emergiu uma espaçonave que parecia ser antiga, contudo vinha numa velocidade surpreendente.
"N-V 1. Faça uma identificação. Quero ver que nave é essa."
"Agora mesmo, senhor." Uma puxada no zoom da tela identificou a nave que vinha em direção da base. "Parece ser uma nave de pesquisa série KM-14, embora mostre-se mais veloz do que normalmente deveria ser. O portal que a trouxe pareceu um sistema de transdobra dimensional. Naves desse tipo não são equipadas com tal aparato e na real, já foram postas fora de serviço."
"Possui alguma identificação ou marca peculiar?"
"Verificando com mais precisão...Sim, encontrei. Vejo na lateral está escrito...Kay-Em."
"Disse Kay...Em?" Nessa hora, o comandante teve a impressão de estar sendo tomado por um forte ar congelado que paralisou seus circuitos por instantes. Tão logo recobrou a noção da realidade, só uma palavra lhe veio à cabeça.
"ALARMEEEEEEE."
Continua...
Vehicons em si não são considerados transformers espertos ou organizados conforme descrevi, mas admito gostar deles e busco-os para minha coleção.
87-MPR na verdade é RPM-78 às avessas, conhecido como 'LP de 78 Rotações'. Queria um nome legal para a base e me veio este.
Pensar como uma pessoa isolada pelo medo e paranoia é bem mais complicado do que imagina. Eu pessoalmente não sou alguém que se isola por completo, então creio ter sido bem desafiante descrever como alguém assim se enxergaria.
Acham cruel os curiosos serem reduzidos a meras peças ou ferramentas? Isso porque logo saberão quem está no comando.
