Family | Hurt/Comfort
Família
"Ela fazia aula de piano, tinha um cachorro, um papagaio, mas mais do que isso tinha Claire e Leon ao seu lado. Como uma família."
Setembro, 1998.
"Enquanto a gente ficar junto vai ficar tudo bem!", foi isso o que Leon disse a elas naquela estrada após escaparem de Raccoon e foi com essa frase que Sherry acordou em um sobressalto. Sua cabeça girava um pouco, estava se sentindo tão cansada e sonolenta. Se sentou na cama aconchegante em que dormia, coçou os olhos e tentou reconhecer o local em que estava. Não sabia de quem era o quarto, mas era tão bonito e colorido, tão cheio de vida. Tão diferente do seu próprio quarto em Raccoon.
Em silêncio abriu a porta e saiu em um corredor. O chão de madeira estalava sob seus pés descalços, estava confusa, mas não parecia estar no lugar errado por mais que não soubesse onde estava. Seguiu o corredor e encontrou uma escada, ao começar a descer viu fotografias penduradas na parede e ficou chocada com o que tinha ali. Haviam diversas imagens dela sozinha, dela com Leon, com Claire, dos três juntos e com um cachorrinho. O que estava acontecendo?
Quando chegou ao final da escada pisou em um osso colorido de brinquedo que soltou um som estridente pela casa.
– Sherry? Está acordada? – a voz de Claire chamou de outro cômodo. Antes que pudesse responder uma bolinha de pelos brancos veio correndo em sua direção e um pequeno cachorro lambia seus dedos fazendo cócegas. O rabinho felpudo balançava de um lado para o outro como o pêndulo de um relógio. Uma gargalhada involuntária lhe escapou.
– Olá, amiguinho. Quem é você? – perguntou acariciando os pelos macios.
– Sherry? – Claire apareceu por uma porta. – Está com fome? O café da manhã está pronto, que tal acordarmos o Leon?
Antes mesmo que tivesse a chance de falar alguma coisa a voz de Leon chamou a atenção das duas do topo da escada.
– Já estou descendo – o policial desceu aparentando tanta sonolência quanto ela própria, passou a mão em seus cabelos e beijou a testa de Claire. O que estava acontecendo? – Oi para você também, Sky.
O cachorrinho corria em círculos pelas pernas dele, animado. Sky era um nome bonito, se Sherry tivesse um bichinho seria exatamente este o nome dele. Não entendendo muito bem o que estava acontecendo seguiu os seus salvadores até uma espaçosa cozinha. Quem será que vivia ali?
– Sentem-se, eu já sirvo os dois.
– E então, Sherry, o que achou da sua primeira aula de piano? – Leon perguntou enquanto passava pasta de amendoim em uma torrada e comia. Aula de piano?
– Ahn, boa, eu acho.
– Sherry depois você precisa alimentar o Kiko, não se esqueça. Ou então aquele papagaio vai fazer um escândalo – Claire avisou colocando um prato cheio de panquecas com xarope de bordo em cima. – Por que mesmo deixamos ela ter um papagaio?
– Porque é uma boa garota e prometeu limpar a bagunça que ele fizesse? – Leon respondeu sorrindo.
O que estava acontecendo? Será que seu sonho tinha se tornado realidade? Sherry sentiu vontade de chorar. Ela fazia aula de piano, tinha um cachorro, um papagaio, mas mais do que isso tinha Claire e Leon ao seu lado. Como uma família. Quando percebeu grossas lagrimas pingavam em suas panquecas, um soluço escapou de seus lábios.
– Sherry está tudo bem? – Claire correu para o seu lado, Leon se colocou do outro. – Está sentindo alguma dor?
– Não – soluçou enquanto tentava limpar as lágrimas que não paravam de escorrer. – Estou apenas feliz. Feliz porque tenho vocês.
Os dois então se olharam, não entendia muito bem o porquê, até que Leon saiu e logo voltou com um envelope em mãos.
– Queríamos esperar até mais tarde, mas acho que este é o momento ideal – o policial falou lhe entregando o envelope. Suas mãos um pouco trêmulas abriram o lacre e puxaram os papéis de dentro. Não entendia muito dos termos técnicos, mas seus solhos se fixaram em uma palavra: "adoção". Releu e viu os nomes completos de Claire, Leon e o dela. Eles a estavam adotando.
– Isso é o que eu estou pensando que é?
– Se você está pensando que estamos te adotando então sim, é exatamente isso – sua salvadora falou tocando sua bochecha, uma das únicas pessoas no mundo que não a tinha abandonado. Ela então chorou ainda mais enquanto se agarrava aos dois. Jamais imaginava que teria um final tão feliz quanto aquele.
Aos poucos o dia foi passando, a rotina da casa era leve e divertida. Não fazia muitas perguntas, estava com medo de que tudo aquilo sumisse como fumaça diante de seus olhos. Quando chegou a hora de dormir seus novos pais a acompanharam até a cama.
– Quando eu acordar amanhã cedo vocês ainda estarão aqui?
– Nós sempre estaremos aqui – Claire sorriu beijando sua testa.
– Promete? – pediu quase em desespero.
– Enquanto a gente ficar junto vai ficar tudo bem – Leon repetiu o gesto desligando o abajur ao lado da sua cama.
Ela então dormiu, se deixou afundar no mais profundo que os sonhos poderiam levá-la. Esgotada, porém feliz. No outro dia acordou com a voz de Claire e suas mãos acariciando o seu cabelo, quando abriu os olhos viu que estava deitada no chão duro e cheio de mato. Se sentou ainda confusa.
– Querida precisamos continuar andando, já é de manhã.
Olhou para si própria e viu que ainda vestia o seu uniforme escolar, agora sujo e maltrapilho. Claire e Leon também ainda usavam as mesmas roupas.
"Foi um sonho", pensou desanimada.
Então se lembrou do que o casal no seu sonho lhe dissera. Eles prometeram que estariam ali no dia seguinte e realmente estavam. Era exatamente o que Leon havia dito, enquanto estivessem juntos tudo ficaria bem. Eles agora eram uma família independente do caminho que cada um seguisse.
..
Hey Folks!
Acho que quanto mais eu envelheço mais sentimental fico. Se tem uma coisa que adorei no RE2 Remake foi aquele diálogo da Sherry no final da Claire, até gritei de felicidade, haha. Mas também me deixou bastante reflexiva, acho que não só porque eu tenho bem mais idade do que tinha em 1998, mas também porque fizeram um incrível trabalho em expressar os temores dela pós-desastre. Aquilo foi quase um pedido de ajuda da garota.
Para uma criança de 12 anos Sherry foi muito forte e não tinha como não fazer uma pequena homenagem. Até porque eles podem não ter ficado juntos, mas sabemos que são sim uma família.
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