CAPÍTULO 2 - A descoberta de Alfred

Gotham city, 24 horas antes...

Alfred estava anormalmente preocupado enquanto dirigia pela ponte Metro-Narrows. Ele nem lembrava da última vez que estivera em Metrópolis e enquanto dirigia, buscava encontrar explicações para o estranho chamado que recebera.

Pra sua sorte, seu patrão estava fora da cidade aquele dia, então ele pôde pegar a estrada sem ter que explicar nada, até porque nem saberia como fazê-lo.

Depois de dirigir por quase duas horas, ele finalmente chegou ao prédio velho e cinzento, cujo endereço constava no telegrama que recebera mais cedo aquele dia e que solicitava que ele comparecesse com urgência ao serviço social de Metrópolis.

Mil suspeitas de estar caindo em uma armadilha passavam por ele, mas que diabos! Era um prédio público, não poderia ser um sequestro ou nada do tipo. Com esse pensamento, Alfred adentrou ao prédio.

Ao chegar à recepção, uma mulher de meia idade, de pele macilenta e visível mal humor, lhe indicou a sala doze, onde ele lhe encontraria a pessoa que estava procurando, a pessoa que enviou o telegrama.

"Katherine Lane" ele leu o nome na porta do escritório antes de bater duas vezes. Prontamente, uma bela mulher de cabelos pretos em um coque, vestindo uma camisa branca e saia lápis, sorriu pra ele.

- Sr. Alfred Pennyworth? - ela perguntou estendendo-lhe a mão.

- Sim, senhorita, ou deveria dizer senhora? - o mordomo perguntou ao apertar-lhe a mão.

- Senhorita. – A mulher falou com gentileza. - Sou Katherine, por favor entre e sente-se, - disse apontando-lhe uma cadeira em frente a sua mesa. - Deve estar se perguntando por que lhe chamei até aqui.

- Na verdade, sim. - O mordomo respondeu ao sentar- se.

- Bem, o assunto é delicado, Sr. Pennyworth, por isso queria falar-lhe pessoalmente.

- Do que se trata?

- Temos uma menina em custódia, e ela indicou o senhor como o parente a quem poderíamos procurar.

- Impossível, senhorita. - Alfred disse convicto. - Não tenho parentes nesse país. Tenho apenas uma sobrinha, mas ela está nesse momento em um colégio interno no interior da Inglaterra.

- Posso lhe garantir que se trata do senhor. - A mulher confirmou com igual convicção. - A menina me passou seu nome completo, profissão e endereço.

- Senhora, se eu lhe contasse quantas tentativas malucas de golpe e extorsão eu recebo todos os dias, ficaria surpresa. Creio que dessa vez a situação não seja diferente.

- Então acredita que a criança é uma farsante?

- Provavelmente.

- De qualquer forma, gostaria que a visse e conversasse com ela, precisamos tirar a limpo essa situação. Posso pedir para trazerem a menina até aqui?

- À vontade, senhorita. - Alfred permitiu, pois queria resolver o mais rápido possível aquela situação desagradável.

Katherine fez uma ligação pedindo que trouxessem a menina, e em poucos instantes, uma funcionária da instituição entrou na sala acompanhada da garota.

Era uma menina entre nove e dez anos, vestia um uniforme cinza, tinha cabelos negros, finos, meio desgrenhados e olhos infinitamente azuis.

Alfred teve um sobressalto ao vê-la.

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O mordomo tentou esconder o choque ao olhar para a menina que agora estava sua frente.

- Você é o Alfred? - a menina perguntou encarando-o.

- Sim, garotinha.

- Não sou uma garotinha, já tenho nove anos. – A pequena disse com uma petulância charmosa e familiar.

Alfred sorriu. Estava encantado, apesar do choque.

- Alfred, essa é Helena. – Katherine os interrompeu.

- Helena... Helena, - o mordomo repetiu o nome sem retirar os olhos da menina que o encarava. Estava muito apreensivo, procurando palavras, enfim indagou com gentileza - por que a senhorita pediu a senhorita Katherine que me procurasse?

Helena o olhou com surpreendente firmeza para uma menina tão jovem.

- Minha mãe me disse que eu devia procurar o senhor, caso as coisas dessem errado. Ela disse que o senhor saberia o que fazer.

- Quem é sua mãe? – Alfred perguntou, as peças estavam se juntando na sua cabeça.

- O nome da minha mãe é Selina.

- Selina Kyle? – o mordomo indagou sobressaltado.

- Sim, - a menina respondeu.

- Bem, isso explica muita coisa. – O mordomo falou mais para si mesmo que para a menina. – E onde ela está?

- No hospital, um homem muito mal machucou ela. - A menina disse agora com os olhos cheios de lágrimas - por isso me trouxeram pra cá, por isso chamei o senhor, por que as coisas deram errado, Sr. Pennyworth...

A menina então, entrou em um pranto compulsivo. Instintivamente Alfred a abraçou dizendo que tudo ia ficar bem, como já fizeram tantas vezes antes com o pequeno Bruce.

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- Por que Selina está no hospital? O que houve com ela? É grave? - Alfred perguntou a Katherine, logo que uma funcionária levou uma chorosa Helena para fora da sala.

- É uma situação muito complicada, Sr. Pennyworth. A senhorita Selina Kyle está em coma no hospital beneficente de Metrópolis. Ela e Helena viviam em um apartamento na periferia até dois dias atrás quando Selina foi baleada, a menina foi encontrada chorando ao lado do corpo inconsciente da mãe.

Alfred estremeceu ao ouvir aquele relato. Um flash lhe veio à mente: o pequeno Bruce ao lado dos pais inconscientes em um beco escuro de Gotham.

- Helena estava em choque, não conseguia falar nada. – Katherine continuou. - Até que hoje pela manhã eu expliquei que ela seria encaminhada para um lar adotivo. Então ela falou pela primeira vez, e me pediu para chamar o senhor. Ela sabia todos os seus dados de cabeça.

- Vocês iam mandá-la para adoção? – Alfred indagou ultrajado.

- Sr. Pennyworth, Helena é uma criança em risco social, - Katherine explicou. - Vivia na delinquência ao lado da mãe. O juizado ordenou encaminhá-la a um lar adotivo, mas como ela indicou o senhor como parente, precisávamos esclarecer isso. Mas se o senhor disser que não tem parentesco com a menina, poderemos dar prosseguimento a decisão do juiz de menores.

- Srta. Katherine, obviamente um exame de DNA será imprescindível... - Alfred disse com calma. - Mas se essa menina for quem eu imagino que seja, em circunstância nenhuma ela seria enviada para um lar adotivo.

- E quem ela poderia ser, Sr. Pennyworth? Qual o vínculo de uma menina que vive nas ruas com alguém como o senhor?

- Bem, a senhorita, já ouviu falar da Wayne Enterprises?

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Três horas depois, Alfred saiu do prédio do serviço social de Metrópolis. Na saída, despediu-se dos três advogados que tinham vindo após seu chamado e trazia consigo um documento que o tornava o tutor legal de Helena Kyle. Levava também um documento de confidencialidade assinado pela srta. Katherine Lane e uma apreensiva menina de cabelos negros no banco do passageiro de seu carro.

Helena permaneceu calada ao seu lado desde que lhe fora entregue pela funcionária do orfanato. A menina usava agora as roupas pretas e gastas que provavelmente usava quando fora recolhida pela assistência social. Parecia desconfiada e segurava firmemente um gasto casaco de couro contra o corpo.

Alfred não sabia se estava sendo precipitado em tirar a menina do serviço social, mas para ele era inadmissível deixá-la mais um minuto que fosse em um lugar como aquele.

Quando chegaram em Gotham era tarde da noite e Helena dormia profundamente, ainda agarrada ao casaco sujo. Alfred estacionou o carro na garagem silenciosa da mansão, saiu do carro, e pegou a criança com cuidado nos braços.

Subiu as escadas e colocou a pequena menina em uma cama confortável. Ele olhou a criança que dormia profundamente e sentiu- se extremamente confuso, como não se sentia há anos.

Bruce nunca lhe contara nada, e Selina havia sumido logo após sua partida. Aquilo poderia ser estranho como fosse, mas ele sabia que não estava errado. Ele sabia do papel de Selina Kyle na vida de Bruce, e ele poderia reconhecer as feições de seu patrão em qualquer lugar, e aquela menina...

Ela era uma cópia fiel de Bruce Wayne.

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O helicóptero de atendimento intensivo levando Selina Kyle decolou do heliponto do hospital beneficente de Metrópolis exatamente às cinco horas da manhã.

Às cinco e dez havia um homem muito feroz gritando com a atendente da recepção.

- Como assim ela foi removida daqui?!

- Faz dez minutos, senhor. Ela foi levada por um amigo.

- Ela não tem amigos! – o homem esbravejou. - E certamente aquela mãe falida dela não a levou... - resmungou pra si próprio. - Me diga, agora mesmo quem a levou!

- Senhor, não podemos dar esse tipo de informação, é confidencial.

- Olha aqui, mocinha. – O homem falou encarando a atendente perto demais. – Ou você me diz quem levou a paciente daqui, ou eu vou garantir pessoalmente que você nunca mais consiga emprego nessa cidade ou em lugar nenhum. Você sabe quem sou eu, não sabe? – a atendente o olhou apavorada e meneou a cabeça em sinal afirmativo. – Então se sabe, me diga logo o nome do idiota que levou ela daqui!

- S-sim, senhor. – A atendente estremeceu. Em um minuto imprimiu um relatório de alta e entregou ao homem que a ameaçara.

E quando o homem viu quem levara Selina Kyle dali, ficou extremamente surpreso, e até algo que não era muito comum pra ele, um pouco preocupado.

Porque ele sabia que era mais poderoso que a maioria das pessoas. Mas, Bruce Wayne...

O príncipe de Gotham era uma das poucas pessoas tão poderosas quanto ele, o Rei de Metrópolis.

Lex Luthor.