Ímpares
Capítulo 1
Ginevra sabia que tinha torcido o pulso esquerdo assim que a mão tocou no chão. Xingou baixo, justo a mão que usava para tudo na vida, como se o fato de seu punho estar pulsando fosse mais importante do que todo o resto que acontecia ao seu redor.
Naquele momento era. No momento em que se encontrava, examinar o pulso que inchava era muito mais importante do que reconhecer as centenas de peças de madeira espalhadas por aquela sala. Pensar em como precisava ir até a enfermaria era muito mais calmante do que lembrar do quão perto estivera de nunca mais ir para lugar algum - pela segunda vez em sua curta vida. Abrir e fechar a mão, ponderando sobre sua atual maré de azar, era melhor do que levantar-se e encarar a porta que estourava aberta.
A grifinória era uma das poucas alunas que não tremia ao ver Severo Snape irritado, mas disse para si mesma que poderia deixar-se tremer naquela noite. Ela precisava tremer, ela necessitava tremer, e gritar, e a voz que queria sair e não conseguia a estava quase sufocando.
Mas ao abrir a boca, seus olhos achando o bruxo que há segundos atrás quase perfurava seu pescoço com uma varinha, a única coisa que escapou foi um meio soluço. Queria esvaziar seu coração de qualquer sentimento bom e apenas odiá-lo e odiá-lo, maldito moleque mimado, sangue-puro de merda, comensal nojento que quase, quase-
Por que a pontada que sentia dentro do peito não era de ódio? Por que ao olhar para Malfoy, realmente olhar para Malfoy, a única coisa que conseguia sentir era aquele aperto? Odiou não conseguir detestar o rapaz, de joelhos em frente ao que uma vez era um armário, agora nada além de centenas de peças, com certeza quebradas demais para serem outra vez postas juntas. Ele mesmo, por um breve momento, pareceu quebrado demais.
Tinha apenas quinze anos, mas sabia desde os onze o que era sentir-se fragmentada a ponto de nada poder lhe fazer inteira outra vez. O olhar perdido lhe era mais familiar do que gostaria. Sempre lhe foi difícil odiar o familiar.
"Weasley, o que você está fazendo aqui?" A mão a chacoalhando de maneira brusca pelo ombro era responsável por trazê-la de volta a situação, o ex-professor de Poções examinando seu pescoço ainda vermelho antes de puxa-la para cima.
Arrancou seu braço das mãos de Snape, notando Malfoy totalmente recomposto, como se o que estivesse acontecendo não passasse do habitual. Fechou a mão ao redor de sua varinha, pensando em todas as azarações que poderia usar antes de seu menos favorito professor conseguir para-la.
"Você sabia disso?" A mão dolorida tremia de ódio, Ginevra tentando focar em algo que não fosse assassinar ambos sonserinos. Severo Snape também não parecia estar em seu melhor humor - mas então, quando que ele estava?
"Eu não devo explicação alguma a você, pirralha." A resposta veio com a raiva que era reservada para grifinórios, o bruxo limpando qualquer vestígio de madeira do chão com um toque de sua varinha antes de voltar-se para quem Ginevra tinha certeza ser seu aluno favorito. "Deveria obliviar vocês dois."
"Mas?"
"Cinquenta pontos." Aquele novo recorde fez a cabeça de Ginevra começar a pulsar. "A varinha dos dois." Estava prestes a objetar quando o sonserino entregou a dele sem hesitar.
Observando em silêncio a neutralidade que havia naquele rosto fino, Ginevra copiou o gesto, hipnotizada com o autocontrole que o bruxo sangue-puro esfregava em sua cara. Ainda sentia suas mãos tremerem, ainda mais agora sem ter em uma delas seu maior meio de defesa.
Ainda podia sentir as mãos dele, os dedos longos e finos que mesmo sem ver, sabia que haviam deixado marcas.
"Atrás de mim, os dois."
Movimentar um pé na frente do outro mostrava-se uma tarefa muito mais complicada que o normal. Ginevra tentava se manter sã reafirmando em pensamento outra e outra vez que Severo Snape era integrante da Ordem. Por Merlin, ele dividia a mesa com sua família! As chances dela ter escapado da morte minutos atrás para agora novamente encarar seu fim era pouquíssimo provável.
Escapado da morte, mais uma vez.
"Acorde Albus." As palavras de Severo para um retrato antigo fizeram com que seu coração finalmente batesse mais devagar: sim, sobreviveria até o fim da noite.
Quando chegaram em frente a sala do diretor, a entrada se abriu sem qualquer senha. Ginevra nem mesmo pensou antes de seguir para dentro, e foi apenas quando a porta pesada de madeira se fechou atrás dela que notou ser a única dos três a ter se movido.
Melhor sozinha com o diretor do que com aqueles dois, confortou-se.
"Boa noite, Ginevra. Gotas de limão?" Dumbledore ofereceu, vestindo um pijama com as cores da Corvinal. "É o melhor que tenho para oferecer, visto a hora." Ele se desculpou após pegar uma das balas, arrumando os óculos antes de ir para trás de sua mesa.
Ginevra resistiu a um doce pela talvez primeira vez na vida. Por mais que as mãos tivessem voltado ao normal, sabia que qualquer coisa que caísse em seu estômago queimaria como fogo. Escutou algo bater contra a parede e, não estivesse frente a um dos bruxos mais poderosos que conhecia, teria deixado toda a tensão de antes voltar.
"Quer me contar o motivo de Severo me acordar a essa hora?" Albus perguntou, ignorando por completo o barulho que era abafados pelas paredes. Nunca ouvira Severo Snape gritar daquele jeito: o professor era tão bom em ameaças que as fazia com a mais baixa das vozes. Por mais que não conseguisse compreender o que era falado, imaginava que Malfoy estivesse ganhando o sermão de sua vida.
Não que tal diminuísse sua vontade de marcar o pescoço do sétimo-anista, tal como ele fizera com o dela. A raiva outra vez emergia quando a porta se abriu, os dois bruxos entrando, Malfoy ocupando a cadeira ao seu lado em total silêncio.
Apenas deixou seus olhos irem para o sonserino pela surpresa vista nos cansados do diretor da escola - e outra vez, qualquer traço de ódio evaporava. Por Merlin, era Malfoy! Era Malfoy, Malfoy que debochava de sua família, que tinha estado tão, tão perto de matá-la. Por que ao olha-lo, ela só conseguia sentir um maldito aperto no peito?
Severo claramente não ficara apenas nos gritos, e era estranho ver justo aquele aluno machucado e de boca fechada. Outra vez identificou-se na expressão do rosto pontudo, os lábios retos e manchados de sangue, os olhos vazios, os punhos cerrados.
Tinha certeza que as unhas feriam as palmas, por mais curtas que estivessem. Não conseguiu evitar checar as próprias, identificando as diversas marcas em formato de meia lua que anos e anos de nervosismo geraram.
"Então é verdade." A voz do diretor era a única coisa calma daquele recinto. Deixou os olhos vagarem pelas feições do sonserino, percebendo como parecia estar sendo difícil para ele manter a neutralidade na expressão.
Ela também tinha problemas em esconder o que sentia nos momentos em que todos a observavam.
"Fale." Escutou os dedos estralarem alto assim que Severo empurrou a cadeira que Malfoy ocupava - nunca vira o professor mais mal-humorado.
"Eu sou o culpado pelo colar." Ginevra gelou no mesmo segundo: o colar que Katie havia- "Pelo firewhisky. Rosmerta está sob meu controle desde o começo do ano letivo - imperius."
Sentiu a boca ficar seca, copiando inconscientemente o sonserino. De punhos cerrados, as unhas compridas cravavam na pele o suficiente para machucar. A dor física sempre era melhor do que qualquer outra.
Ele poderia tê-la matado. Ele poderia ter lançado uma maldição imperdoável, poderia tê-la-
"Fale sobre o armário."
Mas ela não estava sobre o efeito de feitiço algum. Tinha total controle sobre seu corpo, e poderia levantar-se quando quisesse, a qualquer momento. Apertou mais os punhos, só suavizando ao sentir a pele da mão direita rasgar: estava viva, e o controle era somente dela. Não havia ninguém controlando sua cabeça, e lembraria de cada palavra ao despertar amanhã.
"Eu destruí o armário." Mais um empurrão, e viu Malfoy muito próximo de voar da cadeira com a força da mão de Severo em seu ombro. Não houve traço de dor nas feições que seus olhos não conseguiam abandonar. "Ele quer colocar comensais dentro de Hogwarts até o final do ano letivo."
"O que mais?"
"E eu-" Os olhos claros enfim pareceram focar em Dumbledore, como se o vendo pela primeira vez.
Ginevra odiou reconhecer-se no desespero que encontrou ali.
Mas Malfoy era bom: no segundo seguinte, os olhos eram livres de qualquer foco. Ele compartimentalizava com maestria, as emoções trancadas longe da superfície. Só assim para as próximas palavras saírem tão calmas.
"Preciso te matar."
Tinha perdido a conta das vezes que escutara sua antiga paixonite resmungar sobre o quanto aquele sonserino andava estranho desde o começo do ano letivo. Era irritante como, mais uma vez, Harry estava certo em toda sua desconfiança.
"E você chegou tão longe. Por que destruiu o armário? Pelos meus cálculos, teria terminado de conserta-lo hoje, estou certo?" Dumbledore perguntou ao colocar mais uma gota de limão na boca, tratando aquilo como se fosse mais uma conversa corriqueira. "E você não precisa de sua varinha para me matar: pode fazer isso agora, se realmente quiser."
Gelou ao ver Malfoy fazer que sim com a cabeça, aquilo lhe confirmando que só estava viva porque o bruxo não quis matá-la.
"Mas você não vai fazê-lo."
E por um segundo viu novamente a máscara cair, um lampejo de desespero nos olhos cinzas. No segundo, o bruxo estava outra vez contido, confirmando as suspeitas do diretor pela segunda vez.
"Tirar a vida de alguém muda a sua para sempre. É um monstro que te atormenta todas as noites." O bruxo mais velho parecia falar por experiência - mas então, eram poucos os que não haviam tirado vidas após a primeira guerra.
"Peça, Malfoy." Daquela vez a voz áspera veio sem qualquer tapa. De canto de olho, viu Snape dar dois passos para trás, como se precisasse de distância física para manter as mãos longe do bruxo. "Peça antes que eu faça você se arrepender de verdade."
Saltou com a reação brusca de Malfoy, a cadeira sendo derrubada pela velocidade em que o sonserino virou-se para o diretor de sua casa.
"Você não pode fazer eu me arrepender mais-"
"Acha que eu me importo se vou ou não morrer? Agradeça poder estar discutindo suas opções, moleque estúpido!" O professor realmente parecia querer matar o bruxo mais novo, e por mais que aquilo a estivesse entretendo e tirando sua mente de sua quase morte, desejou saber se alguém notaria se ela se levantasse e voltasse para seu dormitório. Não era exatamente aquela conversa que tinha em mente ao andar até ali.
"Eu não tenho opções!" Malfoy pronunciou cada sílaba numa voz tão afiada quanto a de Snape. Não, ver Malfoy com sangue na boca e um roxo no queixo enquanto os dois homens discutiam que merda o mais novo tinha que fazer estava longe de seu seu plano. "Você sabe que eu tenho uma opção-"
"Engula seu orgulho-"
"Não é orgulho!" E outra vez, o bruxo tentava estralar os dedos - como ele conseguia tantas vezes seguidas era um mistério que seu cérebro focava em desvendar. "Se eu não cumprir minha tarefa, Ele vai me m-" Mas Malfoy não conseguiu completar a frase, a voz sumindo numa palavra que Ginevra entendeu antes desta ser dita.
Como odiava não conseguir odiar o menino prepotente e mimado. O bruxo que tanto debochava de sua família, que usava a palavra sangue-sujo sem o menor pudor, justo esse bruxo ganhava uma quase simpatia de seu coração.
Draco Malfoy poderia compartimentalizar o quanto quisesse, mas Ginevra sabia: ele estava apavorado até o último fio de cabelo platinado. Ela conseguia ver nos dedos que ele contava, agora que estralar parecia impossível. Nos olhos que o deduravam mais uma vez, por mais que todo o resto do rosto estivesse duro como mármore.
"Ele vai matar toda a minha família." Respirou fundo junto com ele quando enfim as palavras foram ditas. "Ele vai mata-la."
E Malfoy ergueu a cadeira que havia derrubado, voltando a sentar-se como se estivessem discutindo trivialidades. Não fora a única a olha-lo incrédula, o professor de Poções mais uma vez se aproximando, uma carranca nada contente e mão pronta para erguer o aluno pela camisa.
Mas Dumbledore interveio a tempo, a mão dele oferecendo um pacote ao invés de violência.
"Chocolate?" O diretor pegou um pedaço, como se querendo mostrar que era seguro ingerir o doce. "Sábios dizem que é a cura para tudo."
O sonserino nem mesmo o olhou, e de canto de olho, Ginevra outra vez viu Severo Snape muito próximo de agredir quem ela achava ser seu aluno favorito até entrar naquela sala.
"Malfoy-"
Dumbledore outra vez interviu.
"Severo, um minuto."
Tão focada em tentar achar outra vez qualquer coisa que não neutralidade no rosto pontudo, a grifinória apenas notou ter sido deixada sozinha com seu quase assassino quando ouviu a porta sendo fechada. E outra vez odiou não conseguir odiá-lo - ela deveria ter algum problema, com certeza. Detestou sua incapacidade ainda mais quando seu estômago revirou ao lembrar-se mais uma vez dos acontecimentos de minutos atrás, a mão esquerda pulsando ao apoiar-se nela para levantar.
"Come." Poderia não odiá-lo, mas sua voz conseguia demonstrar o contrário. "Você acha que eu quero passar o resto da minha noite esperando um bruxo mimado decidir se quer ou não quer matar todo mundo?" Surpreendeu ambos ao levantar-se e agarrar o chocolate abandonado sobre a mesa, arremessando um pedaço no peito do bruxo. "Eu só queria ficar sozinha, eu nem mesmo estava te seguindo! Uma noite sozinha, isso é pedir demais? Come, ou eu vou te azarar que nem ano passado!"
"Você nem mesmo tem sua varinha-" Segurou-o pelos cabelos com uma mão e enfiou um quadrado na boca que estava prestes a, sem dúvida, xingá-la. Sentiu-se quase sortuda por ele não morder seu dedo fora, o bruxo preferindo cuspir o chocolate no chão e afasta-la, colocando uma cadeira entre ambos. "Você é louca, Weasley?"
Mas uma cadeira não seria o suficiente para mantê-la longe.
"Você tá sempre estufando a cara de chocolate, não é como se eu estivesse te forçando!" Por mais que forçar tivesse sido exatamente o que fizera. "Não sei como continua magro desse jeito só comendo açúcar, fora do time de Quadribol-"
"Reparando em mim, pobretona?"
E ele deu um meio sorriso irônico, prestes a continuar a falar quando Ginevra decidiu em um segundo que o faria comer a merda da barra inteira.
Repetiu o gesto de antes, o forçando a fechar a boca com o doce dentro por mais que ele lutasse para se livrar de seu toque. Por mais que não engolisse, o chocolate derreteria antes dela soltar a mandíbula do bruxo - quase rasgava a pele impecável com suas unhas, pressionando muito mais forte do que precisava. Inconscientemente, queria que ele carregasse uma marca física feita por ela, como as que sabia que exibia seu pescoço.
"Cala a boca e engole essa merda!" Falou com lágrimas nos olhos, somente agora notando que ele não resistia. "Você me deve!" Suavizou o aperto, uma pontada de culpa ao ver que realmente havia deixado marcas no rosto pálido. Tão pálido, com olheiras tão grandes, ele com certeza não conseguia dormir, não conseguia comer. E ela sabia o que era viver assim, ser assim. "Babaca."
A última pessoa em quem imaginava reconhecer-se.
O chocolate foi arrancado de sua mão, o bruxo a surpreendendo ao mastigar mais um pedaço. Até o jeito de comer desse idiota era pomposo, não pôde deixar de reparar.
"Eu tentei te matar, sua idiota."
"E nem isso você conseguiu fazer direito!"
Por mais que tivesse desejado a morte do bruxo quando este arremessou o pacote vazio certeiro no meio de sua cara, não conseguiu evitar a preocupação ao vê-lo ir para o chão do mesmo jeito que a embalagem fora.
"Chocolate é sempre útil para esconder o amargor de poções para insônia." O diretor voltou para sala bem no instante em que Ginevra checava se o bruxo ainda respirava. "Sua persuasão deve ser tão incrível quanto a de sua mãe para fazê-lo comer algo que ele sabia que o faria apagar." Ela olhou o diretor confusa. "Draco sabia o que tinha no chocolate assim que tocou minha mão - ele é melhor do que eu imaginava em invadir mentes."
"Se isso é verdade, Malfoy provavelmente chegou num ponto que não dá mais a mínima." respondeu num tom de descaso, tentando não sentir-se culpada ao ver as marcas de unha que gritavam na pele imaculada.
"Preciso pedir para o ocorrido desta noite não ser comentado?"
Ginevra deu os ombros, desejando mais do que tudo ser liberada dali para poder enfim se jogar na cama e apagar. Ela deveria estar gritando com o diretor, não deveria? Pedindo a expulsão daquele bruxo filho da mãe. Falando que o ocorrido seria capa do Profeta Diário.
Por que algo em seu peito se importava com o que aconteceria com o sonserino agora?
"Eu deveria odiá-lo." Deixou-se verbalizar, sentando-se de volta na cadeira. "Eu deveria odiá-lo, ele tentou me matar. Por que eu não o odeio?"
"Você sabe porque." Bufou, olhando para o teto e cruzando os braços. Sim, ela sabia, e o jeito como pareceu óbvio para o diretor a incomodou mais do que deveria. "Vocês dois partilham do mesmo medo."
"Eu não tenho mais medo." Recebeu silêncio como resposta, e voltou a afirmar para si: não tinha mais medo. Ela não tinha mais medo. "O que vai acontecer com ele?"
Quando seu coração apertou pela terceira vez ao vê-lo com uma expressão rígida até mesmo desacordado, sabia que tinha se reconhecido demais nele para conseguir parar de se importar. Sim, Dumbledore estava certo: a mesma pessoa os fazia temer, o mesmo bruxo os devorava por dentro, dia após dia, a cada segundo.
"Depende dele. É difícil escolher o bem quando tudo ao seu redor te coloca no caminho oposto."
Albus se ajoelhou do lado do garoto, um movimento lento de sua varinha acabando com o inchaço que se formava no lábio inferior. Uma única meia lua continuou aparente no contorno da mandíbula.
"Draco não tem amigos - conheço de longe um olhar solitário. Mais uma vez eu demorei muito para prestar atenção nos detalhes, você vê." E com calma, o bruxo mais velho levantou a cadeira antes ocupada por Malfoy, sentando-se de frente para a mais jovem Weasley. "Há anos atrás, eu poderia ter ajudado um jovem a seguir o caminho do bem. Poderia ter me esforçado mais, o mantido ao meu lado e o feito aprender as coisas certas ao invés de observa-lo de longe. Talvez não estaríamos tendo essa conversa se o tivesse feito. Nenhum de vocês carregaria qualquer marca."
Apertou outra vez os punhos, tentando manter o rosto neutro. Não carregava marcas, mentiu para si mesma como fazia todos os dias. Não carregava marca alguma, por mais que a cicatriz em sua coxa direita dedurasse sua mentira.
"Ginevra, ouvi que gostaria de entrar para a Ordem." Escutou depois do que pareceu uma eternidade perdida em seus pensamentos. Levantou uma sobrancelha: nada vinha de graça, já tinha aprendido tal. "Muitas vezes, o menor dos trabalhos é o mais importante." O diretor não precisava contar a qual trabalho se referia.
Mas ser amiga de Malfoy definitivamente não era o menor dos trabalhos.
"Eu não quero ser próxima de um babaca que odeia toda a minha família."
"Prefere que os dois tenham a noite apagada?" Sentiu o corpo gelar, quase não conseguindo conter o não que queria sair num grito. Tudo menos ter qualquer memória sua apagada, tudo menos aquilo! "Você não lembraria de nada-"
Preferia ser amiga de todos os integrantes que levassem o sobrenome maldito.
"Ele não vai aceitar."
"Malfoy vai aceitar." E pela segunda vez, saltou de onde sentava, seu cérebro a distraindo de tudo outra vez ao pensar que, um dia, gostaria de ser tão silenciosa quanto o professor de Poções. "Ele não tem escolha, Weasley. Nós nunca temos."
Há uma hora atrás, quase teve o pescoço perfurado. Agora, combinava com Albus Dumbledore dias e horários para ter aulas de oclumência com Draco Malfoy.
Sua cabeça estava prestes a estourar no fim da pior noite de seu ano - pior noite até então, seria um longo ano. A mulher gorda a deixou entrar sem qualquer reclamação após a senha, por mais que o relógio acusasse uma da manhã. Entrou no salão grifinório fazendo o mínimo de barulho possível, o corpo exausto, a mente sem um pingo de sono.
Havia escolhido permanecer com mais uma memória que a assombraria em troca de usar seu tempo para fazer algo que nunca esteve nos seus planos. Sentou-se na frente da lareira, decidindo que permanecer ali sozinha era muito melhor do que acordar qualquer de suas colegas de quarto, e deixou finalmente as lágrimas que segurava caírem enquanto segurava o pulso esquerdo, que no momento, era a menor de suas dores.
Nota da autora: Gente, demorei mas to postando! Escarlate ja está com outro capítulo, e vou soltar um por mês tanto pra essa quanto pra Escarlate! Comentem o que estão achando, vou adorar um feedback!
Ótima semana e grande beijo da autora que ressurgiu,
Ania.
