Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Sarah Morgan, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.
Capítulo 2
Ela era maravilhosa.
Natsu observou os cabelos loiros e sedosos caírem em seu rosto perfeito, escondendo-lhe os traços, mas teve tempo de perceber os olhos castanhos. O seu olhar recaiu sobre a pele macia, e desviou-se para a boca rosada. Era um rosto bonito, em harmonia com o corpo...
Os olhos procuraram outras partes do corpo de Lucy. "Tudo à mostra", pensou ele, enquanto observava o vestido bastante curto que revelava longas pernas e seios fartos. Não seria preciso imaginar nada. Ela não se recusava a mostrar exatamente o que oferecia, concluiu quando se deteve nas curvas tentadoras do decote. Afinal, o casamento fora acordado, por um preço muito alto, e ela precisava apresentar-se bem.
E o exame foi minucioso.
Um desejo ardente e poderoso tomou conta dele. Estava acostumado a ter as mais belas mulheres desde a adolescência, mas ultimamente nenhuma atraía a sua atenção.
Mas esta conseguira...
Subitamente o acordo ganhou novas dimensões. Seja lá o que Heartfilia estivesse tramando, casar com a neta dele não seria nenhum sacrifício. Talvez ela tivesse algum problema, mas certamente não era o de ser feia. Ele não teria dificuldade em ir para a cama com ela.
Acostumado a ser o centro de atenção das mulheres e confiando que ela agiria da mesma forma, Natsu relaxou e ficou aguardando que Lucy se descontraísse.
Ela nem notou a presença dele. Ao contrário, ficou olhando para o chão, respirando forte, apertando as mãos.
Estaria assustada ? Zangada ?
Natsu tentou decifrar a linguagem corporal e olhou para Alexandros Heartfilia em busca de respostas. Ele ficou tenso ao perceber o semblante aborrecido dele. Ele era um homem mau e não escondia isso. E, desta vez, a vítima era a neta. Um ímpeto de violência se apossou de Natsu, mas ele se conteve para não agredir Alexandros.
Estaria ele forçando-a a se casar ?
Experiente o bastante para saber que as mulheres são seres complexos, ele preferiu não julgar. Já sabia que ela herdara o gosto exacerbado por dinheiro, como o avô; caso contrário, por que exigia uma mesada alta, se era tão rica ?
Ele nem podia condenar Alexandros neste aspecto, pois a única beneficiária seria ela. Aparentemente, ele não lucraria nada com a fusão das empresas, apenas o tão desejado neto.
Irritado pela situação que o pai criara e fascinado pela engenhosidade do inimigo, tentou conversar.
- A viagem foi boa, srta. Heartfilia ?
Ela não esboçou qualquer resposta. Era como se ele estivesse se dirigindo a outra pessoa.
- Lucy ? - tentou ele, mais informal.
- Pois não - respondeu ela, surpresa pelo chamado.
Finalmente conseguira atrair-lhe a atenção !
- Perguntei se a viagem foi boa - e abriu aquele sorriso sedutor que fazia as mulheres se apaixonarem.
Natsu sentiu-se frustrado. Parecia que ela não conseguia olhá-lo. Era a contradição em pessoa: o vestido a revelava, a linguagem corporal preservava.
- Foi boa, obrigada.
Ela mantinha os olhos baixos e a respiração rápida, demonstrando tensão.
Decidido a reverter aquela situação para tirá-la de perto do avô, Natsu retomou a palavra:
- Que tal caminharmos enquanto os advogados examinam os detalhes ? Precisamos conversar sobre alguns assuntos.
Nesse instante, Alexandros Heartfilia se interpôs entre eles.
- Ela não vai a lugar nenhum ! - Natsu não se intimidou.
- Este casamento será entre duas ou três pessoas ? - o tom era malevolamente suave - O senhor pretende também participar da lua-de-mel ?
Ele percebeu como ela ficou chocada, mas concentrou-se no confronto com Alexandros.
- Se você conhecesse bem a minha reputação, Dragneel, não brigaria comigo - retrucou ele, ameaçador.
- Nunca tive medo de briga - devolveu Natsu, frio, ignorando o olhar de advertência do pai - , e se o senhor conhecesse a minha reputação, saberia que conduzo minhas relações pessoais em particular, não em grupo.
Depois desta indireta sobre sua sórdida reputação, Heartfilia assentiu e esboçou um sorriso.
- Tudo bem. Ela precisa mesmo conhecer sua nova casa.
Ele achou aquelas palavras precipitadas já que o acordo não tinha sido assinado ainda, mas foi surpreendido pela reação de Lucy.
- Minha nova casa ?! - perguntou ela, alarmada com o que via à sua volta - É aqui que eu vou morar ? Você quer que eu viva aqui ?
Desviando o olhar das pernas dela, Natsu revelou impaciência. Sabendo que as mulheres adoravam fazer compras, nunca trazia suas companheiras para a ilha, para evitar esse tipo de cena. Pelo visto, a futura noiva não era diferente. Ele não deveria ficar surpreso, afinal o acordo que o avô dela arranjara envolvia muito dinheiro. Para que tanto dinheiro se ela não teria onde gastar ?
Ele estava intrigado. Seu apurado tino para os negócios dizia que havia algo de errado nesse acordo. Tentava encontrar uma pista em vão. A dúvida principal era: o que a herdeira de Heartfilia ganharia numa união com um Dragneel ? Por que a neta de um homem milionário se casaria por dinheiro ? Ponderando a questão, ele reparou o olhar de sovina de Heartfilia. Provavelmente, ele restringia as despesas, e, por isso, ela precisava encontrar outras fontes de renda. Ele conhecia várias mulheres que eram verdadeiras esposas profissionais. Já que o vovô não dava o dinheiro, então precisava de alguém para pagar as contas. E depois daquela reação, sabendo que ficaria confinada na ilha, sem uma única loja por perto, as contas seriam realmente altas.
Então, ela era ambiciosa. Não podia ser diferente.
- Também tenho casas em Atenas, Paris e Nova York - acrescentou ele, ocultando seu desapontamento - Se você está preocupada em não ter oportunidades de usar meu cartão de crédito, relaxe.
Os olhos dela fixavam o mar e ela nem parecia ouvi-lo.
Natsu estava certo em julgá-la sem personalidade. Apesar de considerar as mulheres umas tagarelas, ele não estava gostando de encontrar o oposto. Por que ela não falava ? Estranhando tanta falta de interesse, decidiu que quanto antes ficasse sozinho com ela, melhor.
- Você não gostou da ilha ?
- Existe mar demais em volta dela - respondeu Lucy, com um olhar suplicante.
Definitivamente, era a última resposta que esperava.
- É geralmente o que acontece quando se mora numa ilha. Todos os quartos têm vista para o mar ou para a piscina - acrescentou ele, com certa ironia.
Nenhuma reação pelo que ele dissera, nova decepção. Ela estava pálida.
Ele franziu a testa. Qual era o problema ?
- Minha neta se sente indisposta por causa da viagem - justificou Heartfilia, causando-lhe irritação.
Será que ele nunca deixava Lucy se manifestar ? Afinal, ela fora educada na Inglaterra, deveria estar acostumada a expressar suas opiniões.
Consciente de que o acordo não estaria concluído até que o assinasse, Natsu concentrou-se nela.
- Vou mostrar a ilha para a srta. Heartfilia enquanto vocês começam a reunião. Logo nos encontraremos - determinou ele, dirigindo-se ao pai e a Alexandros.
Ele olhou para o relógio.
- Preciso estar de volta a Atenas em duas horas - Heartfilia estava aprontando alguma. Por que tanta pressa ?
Ele era bem diferente do que imaginara.
Lucy se sentia paralisada diante dele, seus olhos observando os ombros largos e os olhos frios. As sobrancelhas eram espessas; o nariz forte acentuava a perfeita simetria do belo rosto.
Ela fora criada para detestar esse homem.
Em vão procurou por algum traço de embaraço nele pela situação, mas não encontrou nada. Tinha certeza de que era o tipo de homem que nunca se sentia desconfortável. Ao contrário: ele a estudava, apertando os olhos, a expressão impenetrável, sem nada revelar. Ele transpirava autoridade com a facilidade de quem nascera com talento para os negócios.
Lucy se sentia impotente.
Como essa história terminaria ?
Riquíssimo e lindo, eles não tinham nada em comum. Se o avô não tivesse oferecido vantagens "tentadoras" e a obrigado a usar aquele vestido ridículo, ele nem se daria conta da presença dela.
Ela era um perfeito embuste.
Lucy refreou o impulso de soltar uma risada histérica. O que ele faria se soubesse que ela morava num cubículo ? Que tinha três empregos para pagar as contas ? Que aquele vestido era o único que tinha, e, mesmo assim, emprestado ?
A simples idéia de ficar sozinha com aquele homem a deixava apavorada. Sobre o que conversariam ? O que poderiam ter em comum ?
Nada.
E, para piorar, era evidente que ele amava o mar.
Por um instante, ela contemplou o oceano e aquelas lembranças que ainda assombravam-lhe o sono ressurgiram: a explosão, os gritos desesperados dos feridos, o mergulho repentino nas águas gélidas que a engoliram numa escuridão assustadora. E então, surgia a imagem de um homem forte, de cabelos claros que a puxava, salvando-a.
Subitamente, o preço de salvar a mãe parecia alto demais.
Teria que morar ali, numa ilha, com água por todos os lados, com um homem que abominava.
Desviou seu olhar e tentou reorganizar os pensamentos. Não precisaria nadar, nem chegar perto do mar. Só precisaria lembrar a razão de estar ali. Desempenhar o papel que se preparara para fazer.
Sabia exatamente porque o avô tinha dado um prazo de duas horas para os Dragneel assinarem o acordo. Temia que ela estragasse tudo, desfazendo o casamento.
E ele tinha razão em pensar assim. Ela era completamente diferente das mulheres com quem Natsu Dragneel se relacionava. Não sabia nem andar de salto alto.
- Tenho certeza que não existe nenhuma barreira lingüística entre nós, mas mesmo assim você mal emitiu uma palavra, nem olhou para mim - disse ele suavemente, a expressão curiosa.
Era evidente que ela perturbara o seu ego.
Lucy reprimiu o riso. Esta era toda a preocupação dele ? Não ter ficado extasiada com sua figura e se mostrado interessada como as mulheres frívolas que o cercavam ? Ele era incrivelmente convencido e merecia tudo que o futuro lhe reservava.
- Você precisa me desculpar... esta situação é muito constrangedora para mim - explicou ela.
- Para mim também. Não é todo dia que você concorda em se casar com alguém que acabou de conhecer. Mas tudo ficará ainda mais complicado se você não conseguir nem conversar comigo - instigou ele.
- Posso falar o que realmente penso ?
- Por que você acha que me livrei de seu avô ?
Ela quase sorriu quando se lembrou com que classe ele o dispensara. Esse tal de Natsu era mesmo destemido. Até agora, era o único que não recuara perante o avô. Mesmo assim, sabia que se dissesse uma palavra errada, não haveria acordo.
- Meu avô teme que eu faça algo de errado. Ele está muito ansioso por este acordo.
- E você, srta. Heartfilia ? Também está ansiosa por este acordo ? - perguntou ele, insinuante, pronto para retrucar.
Ela ainda estranhava quando era chamada pelo sobrenome.
Levantou o rosto e respondeu:
- Quero me casar com você, se é isto o que quer saber.
Era verdade. O casamento resolveria tudo. Todos os problemas da mãe.
- Não vai me dizer que você sempre foi apaixonada por mim ? Talvez desde que se conhece por gente ? Que sempre sonhou com este momento ? - instigou ele, mordaz, olhando fundo em seus olhos.
O sonho dela era ter dinheiro para ajudar a mãe.
- Não estou apaixonada por você, sr. Dragneel, do mesmo jeito que você não está por mim - respondeu ela calmamente - E nós dois sabemos que o amor não é a única razão para o casamento.
- Mesmo assim, já que somos duas pessoas que serão forçadas a viver juntas, acho que devemos descobrir se, pelo menos, nos suportaremos, concorda ? - provocou ele, mostrando um caminho estreito que dava no mar - Vamos por aqui.
Ela seguiu seu olhar. Lá estava o mar, como um monstro cruel à sua espreita, zombando dela, querendo tragá-la para as profundezas. Entrou em pânico.
- Por que não ficamos por aqui mesmo ?
- Prefere conversar na pista de aterrissagem do meu helicóptero ? - indagou ele, sarcástico. Ela continuava aterrorizada.
- Claro que não. Mas acho que não precisamos andar até o mar.
Já estavam bem perto. Perto demais.
- Eu me recuso a conversar com seus seguranças nas minhas costas - disse ele, ligeiramente irritado.
"Meus seguranças ?"
Lucy olhou para trás. Não tinha notado a presença daqueles três homens altos, apesar de provavelmente terem vindo com ela no helicóptero. Estava preocupada demais em não olhar para o mar.
- Eles trabalham para o meu avô.
- Não precisa se explicar. Como herdeira de Heartfilia, você precisa mesmo de proteção - concordou ele.
Ela achou graça. Precisava ser protegida de quê ? Que riscos correria uma estudante tola, sem um centavo, que trabalhava arduamente ? É verdade que ele desconhecia toda a situação. Olhando em volta, notou outros dois homens próximos.
- E esses dois, quem são ? - o sorriso dele era irônico.
- Acho que os meus seguranças parecem suspeitos. Vamos dizer que a presença de um Heartfilia nesta ilha cria uma certa tensão.
Ela olhou para aqueles ombros largos e imaginou por que ele precisaria de seguranças. Parecia capaz de dar conta de um exército de inimigos, sozinho. Para alguém sempre ocupado, era extremamente atlético. Talvez fosse por causa do tempo que passava se exercitando na cama com as mulheres, fantasiou ela, prestando atenção no caminho.
- Esta tensão é comum quando meu avô aparece - comentou ela, sem pensar.
- Sei como é, muita gente chega a tremer na presença dele. Faz parte da reputação que ele criou. Heartfilia domina pelo medo.
E por acaso a reputação de Natsu era diferente ? E ela, não estava prestes a se casar com um homem igual ao avô ?
Olhando para os seguranças, tomou uma decisão:
- Muito bem, vamos andar pela praia - decidiu ela, tirando os sapatos.
Lucy percebeu que ele estranhou a atitude. Decerto as namoradas que ele tinha seriam capazes de escalar o Everest de salto alto.
- Gosto de sentir a areia nos meus pés - improvisou ela, rápida.
- Cuidado para não cortar os pés nas pedras - recomendou ele, pegando firme em sua mão. Longos dedos prenderam os dela, e ela quase os afastou - Esses sapatos deixam suas pernas lindas, mas concordo que combinam mais com uma boate do que com uma praia. Não se preocupe, você terá várias oportunidades para exibi-los.
Boates ?
Ele realmente achava que ela vivia se divertindo. E se confessasse que nunca tinha posto os pés numa boate ? Que trabalhava tanto que nunca tinha uma noite de folga ?
Tratou de mudar de assunto.
- Se não confia no meu avô, por que o convidou para a ilha...?
- Este acordo é importante para mim por várias razões - respondeu ele, ainda segurando a mão dela - Você sabe sobre a briga entre nossas famílias, não é ?
- Claro que sei da história - respondeu ela, puxando a mão.
"Meu pai morreu no barco do seu pai; eu e minha mãe ficamos feridas".
A emoção aflorou com tanta força que ela mal conseguia respirar.
Sentia-se sufocar. Ela viu que ele a observava e tentou se controlar.
Ela continuou caminhando, agarrada nos sapatos. Foi sua força de vontade que permitiu que continuasse aquela conversa.
- Antes de mais nada, acho melhor você saber que, ao contrário do meu avô, eu não gosto de subterfúgios. Não consigo fingir o que não sinto - disse ela, fria - Não fico flertando por aí, nem pretendo fingir que este casamento não passa de um negócio entre duas partes. Cada um leva o que quer.
- E o que exatamente você quer, srta. Heartfilia ?
- Dinheiro. Eu quero dinheiro ! - respondeu ela, sucinta, olhando nos olhos dele.
- Direto ao ponto. Você é a única herdeira viva do homem mais rico do planeta e, mesmo assim, quer mais dinheiro - provocou Natsu com um ar especulativo - O que faz de você a moça mais gananciosa dos últimos tempos ! Diga para mim, Lucy, quantos milhões são suficientes para deixar você satisfeita ? - provocou ele.
Nesse momento, eles pararam de caminhar sobre a faixa de areia dourada. Lucy procurava se concentrar nele, ficando de costas para o lindo mar azul que brilhava sob o Sol de verão. Ela sentia pavor daquela serena imensidão.
- A julgar pela fortuna que você tem, posso fazer a mesma pergunta. Você já tem uma empresa que rende milhões e, mesmo assim, quer a empresa do meu avô.
- Isso mesmo, quero ela também - o sorriso era sarcástico - Mas eu não vou tão longe para conseguir meus objetivos. Por dinheiro, você está disposta a se casar com o seu maior inimigo. Um homem que claramente odeia...
Um alarme soou dentro dela. Ela se revelara. Ele não podia desistir do acordo.
- Eu não disse que...
- Nem precisa ! Está visível, no jeito que se esquiva, na pouca disposição para a conversa. Você me odeia - concluiu ele, seco.
Lucy se condenou por tanta estupidez.
O avô avisara que ele era esperto e ela não ligou. Ignorou todas as recomendações, com exceção da que lhe interessava. Mas neste ponto, ele tinha razão: Natsu Dragneel era muito esperto.
Esperto, perigoso e igual ao avô, só que mais jovem.
- Eu não o odeio - mentiu ela.
- Acho melhor avisá-la que prefiro a verdade, mesmo quando ela é desagradável. Você acabou de admitir que está preparada para se casar por dinheiro com um homem que odeia. Afinal, que tipo de pessoa você é ?
Ela ficou pasma com tamanho insulto. Lucy sentiu-se horrorosa ! Se ao menos soubesse por que ela precisava do dinheiro, ele não teria sido tão precipitado.
Ela o encarou.
- Vamos dizer apenas que estou mais do que satisfeita com os arranjos financeiros que farão parte deste contrato.
A afirmação era tão falsa, tão distante dos fatos, que ela quase contou a verdade. Mas qualquer revelação colocaria em perigo o acordo. E a mãe precisava que ela o fizesse. E o que importava o que ele pensava dela ? Qual a importância de considerá-la uma interesseira ? Se ele soubesse que Alexandros Heartfilia não tinha nenhuma preocupação com ela e a mãe, nunca acreditaria que o acordo a beneficiaria. A aparência de vovô bonzinho, preocupado com a neta, cairia por terra, e Dragneel perceberia que Alexandros só queria vingança.
- E você está disposto a casar com a neta do seu maior inimigo só para ficar com a empresa dele. Embora já tenha uma empresa que fatura milhões. Então, que tipo de pessoa você é ?
- Do tipo bastante rico para sustentar você - respondeu ele em tom ríspido, os olhos brilhando - Sua opinião sobre mim é tão negativa quanto a minha sobre você, então estamos empatados. Menos mal, assim não vou precisar ficar preocupado em seduzir uma mulher quando chegar em casa, cansado do trabalho. Pensando bem, acho que casar não vai ser tão ruim assim.
- Você seria incapaz de me seduzir - retrucou ela, furiosa com a arrogância dele - E, só para o seu conhecimento, não estou interessada em suas técnicas amorosas. Este casamento será bem diferente.
- Diferente, é ? - ele sorriu e se aproximou. De repente, o calor pareceu aumentar e ela ficou imaginando como suportaria viver na Grécia. Naquela atmosfera opressiva e pesada que dificultava a respiração. Sua pele formigava e ela se sentia estranha.
- Não passa de um negócio - relembrou ela.
- Não passa de um negócio - repetiu ele, palavra por palavra, os olhos fixos nela para ver sua reação.
- Diga-me, srta. Heartfilia, você sabe como são feitos os bebês ?
O calor em volta dela pareceu atingir o máximo. Lucy sentia as bochechas arderem e os pés afundarem na areia.
- Que pergunta é essa ?
- Uma pergunta muito importante - respondeu ele, calmamente - , já que sua produção é precedida de atividade sexual que pode seguir, ou não, técnicas amorosas. Diga-me, srta. Heartfilia, seu "negócio" inclui atividade sexual ?
Completamente chocada com a intimidade que ele insinuava e com o rumo que a conversa tomava, ela arregalou os olhos e respirou fundo.
- Eu não...
- Não ? Como não ? Mas esta é uma parte importante do negócio. Diga-me, srta. Heartfilia, como exatamente acha que este "negócio" se realizará ? A senhorita pretende trazer a mala de dinheiro para a cama ?
O tom de voz era sério e sua expressão, fechada.
Uma série de situações embaraçosas passou pela cabeça de Lucy.
De alguma maneira ela se convencera de que aquela história era um simples arranjo: ele teria a vida dele, ela teria a sua. Ela nem pensou na questão sexual, mas é claro que fazer sexo com um homem que nunca tinha visto era inconcebível. Completamente fora da realidade.
Mas Natsu Dragneel era bastante real: um homem de 1,80 m bastante atraente.
De repente, a questão sexual deixou de ser tão simples como parecia.
Por um momento, ela esqueceu do mar e do avô e se concentrou na possibilidade de se encontrar entre os lençóis com aquele grego volúvel e de sangue quente.
- A mala, não. Mas é claro que não haverá nenhum envolvimento emocional entre nós. Farei sexo com você por exigência do contrato, mas gostar da experiência não faz parte do acordo - respondeu ela, com ar de sarcasmo, ignorando o mal-estar que sentia - É assim que vai ser - acrescentou ela, percebendo sua expressão de incredulidade. Não queria que ele se preocupasse em agradá-la nesse aspecto.
- Você vai "fazer sexo" comigo ?
Natsu parecia fascinado. Os belos olhos negros esquadrinharam o rosto dela.
Lucy fechou os olhos. Ele estava acostumado com mulheres que esperavam ser seduzidas. Ela não tinha esta pretensão. Não se interessava por sexo. Desde que soubera que não podia ter filhos, enterrou esta parte. Não pensava mais nisso. Os poucos beijos que dera na adolescência comprovaram sua falta de interesse.
Percebendo que a situação estava fugindo do controle, ela deu um suspiro de frustração e tentou um novo discurso:
- Acho que me expressei mal. Não é nada pessoal - desculpou-se ela, tentando elevar o ego de Dragneel - Nosso casamento simplesmente não será como os outros, e vai dar tudo certo. Eu só quis dizer como quero que as coisas sejam.
- É óbvio que você nunca foi feliz na cama - disse ele, sem rodeios.
Ela desviou o olhar para disfarçar seu desespero.
Talvez este fosse o momento de revelar que era virgem, mas jamais faria isso ! Já bastava ter chegado aos vinte e dois anos sem nunca ter ido para a cama com ninguém. Além disso, tinha certeza que disfarçaria a falta de experiência quando fosse necessário.
- Então, você se preparou para se casar comigo e "fazer sexo", e eu ainda pago pelo privilégio ! Conceito interessante e completamente desconhecido para mim. Nunca paguei por isso antes - disse ele, em tom ameno.
- Claro que já pagou - respondeu ela, sem pensar - As mulheres vivem atrás de você na esperança que você gaste milhões com elas. Em troca, bajulam e fingem que você é irresistível. Se isso não é pagar por sexo, então não sei o que é. E, no nosso caso, você está pagando pela empresa, não para fazer sexo.
Ele parecia completamente abismado com essa interpretação nada simpática de sua vida amorosa, e Lucy tentou não se exasperar. O ego dele era imenso ! Ele se achava simplesmente o máximo. Que patético !
- Você é um homem muito rico, Natsu - disse ela, chamando-o pelo nome, como ele fizera - Não vai querer me dizer que sou a primeira mulher interessada no seu dinheiro, não é ?
- Vamos dizer que você é a primeira mulher verdadeiramente rica interessada no meu dinheiro. Eu só queria saber por que você precisa de tanto dinheiro.
Se ele soubesse...
Ela brincou com os sapatos na frente do rosto com ar provocativo.
- Talvez porque eu goste muito de gastar... - sentiu vontade de gargalhar.
O mais correto seria dizer que ela nem saberia como gastar o dinheiro, se o tivesse. Exceto pelo tempo que estava no colégio interno, sempre vivera em dificuldades e economizar tornou-se uma obrigação.
Se ela entrasse algum dia na vida numa loja de grife, provavelmente seria para limpar o chão.
Aquele vestido era a única roupa nova que tinha. E só tinha aquele porque o avô ficara indignado quando viu o jeans desbotado que ela usava. Quando Lucy disse que não tinha dinheiro para comprar um vestido, Alexandros deu meia dúzia de ordens aos empregados e três vestidos apareceram como num passe de mágica. Ela nem pôde escolher o que mais lhe agradou. Foi sujeita à humilhação de ter que desfilar os três para o avô decidir qual era o melhor. E ele, para completar, tinha escolhido o mais curto.
- Você precisa mostrar ao homem o que ele está comprando - grunhira o avô, quando ela protestou - Vista este ou nada feito.
Então, ela se obrigou a vestir aquilo e tentou esquecer que não podia estar usando algo mais inadequado para a ocasião. Na cabeça dela, o vestido era tão indecente e a fazia parecer tão oferecida, que se ela falasse para Natsu Dragneel que era virgem, ele riria.
- Vejo que minha sinceridade lhe parece uma ofensa - disse ela, em tom meigo - Mas talvez eu devesse lembrar que você está entrando nesse negócio por fortes razões financeiras. Por que outro motivo você sacrificaria sua movimentada vida de solteiro para se casar ?
- Quem disse que vou sacrificar minha vida de solteiro ?
Ele pareceu esboçar um sorriso.
- Acho melhor avisar que meu apetite sexual é realmente grande. Já que nossa vida sexual será bastante monótona, serei obrigado a procurar diversão fora de casa. No entanto, eu vou pagar o preço para retomar as Indústrias Heartfilia. A empresa que seu avô roubou da minha família.
Ela estranhou aquelas palavras.
- Não sei do que você está falando. As Indústrias Heartfilia sempre pertenceram ao meu avô.
- Mentira. E se você pensa que vou acreditar que não conhece a história da rivalidade entre nossas famílias, srta. Heartfilia, está subestimando minha inteligência. É sinceridade o que você quer, então é o que vai ter.
Ela respirou fundo. É claro que não o subestimara.
Só estranhara a informação.
- Quer dizer que nossos avós tinham negócios juntos ?
- Você não sabia ?
- Não. Meu avô se recusa a falar de negócios com mulheres.
Pelo menos isso era verdade. Heartfilia desprezava as mulheres, especialmente as inglesas. Por isso renegara ela e a mãe. Não queria saber delas.
- Eu sabia de alguns rumores, claro, mas nada concreto. Quer dizer que ele tomou os negócios do seu avô ?
- Foi por isso que a briga começou - explicou ele. Então olhou para ela com ar especulativo - Ele mentiu e trapaceou, até que meu avô foi forçado a passar a empresa para ele - concluiu Natsu, implacável - Por isso, Lucy, quero me casar com você, para retomar o que é meu por direito. Assim essa disputa acaba.
Lucy olhou para ele, dessa vez calada. Como ele reagiria quando descobrisse a verdade ? Que a briga continuaria ?
Que seu avô estava prestes a dar o golpe de mestre ? E que ela era o instrumento de toda a sua vingança ?
P. S.: Nos vemos no Capítulo 3.
