Capítulo 2

- Mairon, ele destruiu tudo!

- Pois destruiu. Ninguém mandou fazerem o que fizeram com ele!

- Você o defende! Mairon, está maluco?

Curumo simplesmente não sabia onde aquilo ia parar. Afinal de contas, o próprio Mairon auxiliara na criação dos luzeiros. E então apoiava que Melkor simplesmente destruísse tudo a seu bel prazer!

- Ele estava com raiva. E com razão! Afinal de contas, todos parecem se acertar. Menos ele! Acha que ele não tem raiva de não ter se casado?

- Você mesmo disse que Melkor não quer mais se envolver seriamente com ninguém?

- Oras! Isso só aconteceu por causa das decepções que ele sofreu! Eu não sei se você sabe mas Varda e Arien o negaram ...

- Também, pra aguentar um brutamontes daqueles...

- Que disse?!

- É a verdade, ué. Todo mundo teme a terrível pujança dele.

- Todo mundo menos eu - declarava Mairon a suspirar, o coração cheio de amor pelo vala renegado - Eu adoro essa pujança dele! Acredita que no meio da bagunça toda ele me tomou, me levou até o leito o qual estava preparado para Tulkas e Nessa e... Me possuiu?!

Curumo abriu a boca em espanto.

- Mairon, você se deitou com ele no leito alheio! E se souberem? E se desconfiarem? Que loucura! Com certeza te expulsam daqui!

O loiro riu a riso solto, parecendo mal se importar com aquilo tudo.

- Eu me senti tão... Selvagem! Ah Curumo, Melkor dá energia aos meus dias! A maior parte das coisas aqui em Almaren é tão... Sem graça! Já ele não, ele me dá emoção! Me dá vontade de viver!

Enquanto o outro se encantava com todas aquelas constatações, Curumo pensava e pensava. Até onde aquilo iria? Até onde Mairon seria capaz de ir para defender a Melkor? Sim, pois fora graças à espionagem de Mairon que o vala soubera dos luzeiros e da festa de casamento.

- E se alguém um dia contar sobre a sua aliança clandestina com ele?

Os olhos de fogo de Mairon se acenderam na mesma hora, emitindo uma chispa intensa e perigosa. Em seguida, disse ao outro maia, quase em tom de ameaça:

- Se ninguém contar, ninguém vai saber.

- E se eu contasse?

- Não se atreva! - bradou ele em tom imperativo, se colocando na frente do companheiro de forjas de modo intimidador - Eu sou muito mais influente perante Aule do que você. Se tentar fazer isso, faço a coisa de modo a parecer que na verdade você é o verdadeiro cúmplice de Melkor! E aí, quem vai perder o posto é você! Eu sou o principal e mais eficiente ferreiro de Aule! Ninguém colocará mais peso em sua palavra do que na minha!

O maia se assustou. De fato Mairon estava mudado! Ou será que sempre fora daquela forma e somente então demonstrava?

- Seria mesmo capaz de fazer isso comigo?

- Eu não farei - se você não o fizer comigo. Afinal de contas... uma mão lava a outra. Se me ajudar, eu também o ajudarei.

Curumo ficou em silêncio. Porém, pensou que tudo aquilo podia ficar muito perigoso caso saísse de controle. Mairon não sentira um pingo de remorso em destruir a festa de Tulkas e Nessa! Estava a ficar perverso em nome daquele amor doentio! Pensou, mas nada disse. Podia ser ainda mais perigoso fazê-lo.

- Mas afinal, Mairon, o que te atraiu tanto assim nele? Afinal, você ama a ordem, não gosta de bagunça... e Melkor adora quebrar tudo!

- Eu sei. Mas eu não o vejo como uma bagunça, e sim como uma fonte infinita de poder. E de mais a mais, o que eu "arrumaria" e "ordenaria" se tudo já estivesse ordenado? É muito bom para alguém como eu ter um manancial tão grande de energia para controlar.

- E você acha mesmo que pode controlar a Melkor dessa maneira?! Mairon, isso é muito temerário!

O loiro deu um daqueles sorrisos enviesados que ultimamente andavam muito frequentes em si.

- Não subestime o meu poder, Curumo! Eu saberei lidar com ele.

Alguns dias se passaram e os Ainur, pesarosos, tiveram de deixar Almaren e passar a construir um novo lar a si próprios. Mairon fingia que ainda estava tudo bem. Na frente de Aule e de seus aliados ele fingia boa vontade, mas pelas costas ia contar todos os detalhes a Melkor.

Um dia, enquanto estavam a descansar entre um turno de trabalho e outro, Mairon começou a contar as coisas a Curumo, como que para desopilar aquela opressão em seu peito.

- Melkor disse para mim que não beijava a seus anteriores amantes. Não gostava. Achava que era intimidade demais beijar. Mas veja só! Ele me beija sempre! Diz que adorou o meu beijo! Curumo, será que isso quer dizer que nós dois somos íntimos? Hein, será que ele me vê de alguma forma como alguém singular? Curumo, eu vou adorar se ele me ver como alguém especial!

- Mairon, por favor. É um favor que eu te peço. Quer fazer essas... essas coisas todas aí com Melkor, pode fazer. A vida é sua. Mas não me inclua nisso, tá bom? Por favor, não me conte mais nada. Enquanto você só saía escondido com ele, era até divertido pensar nessa aventura. Mas não, Mairon. Vocês foram longe demais. Destruíram Almaren e agora você mesmo até acha graça. Não, Mairon. Eu não quero participar nisto. E sobre os beijos, guarde a sua opinião para Melkor mesmo ou qualquer outro. Eu não quero mais tomar parte nisto.

O loiro ficou com o semblante ofendido, como se houvesse sido seriamente acusado por Curumo. E de certa forma o estava sendo de fato!

- Tolo! Medroso! Se me favorecesse, eu poderia te levar à aliança com Melkor e você cresceria muito mais em poder que aqui!

- E você reclama tanto, mas continua a servir a Aule! Será impossível, Mairon! Será impossível fingir servir a dois senhores, cujos modos de vida são tão diversos!

- Não vai demorar muito, eu tenho certeza! Em breve eu vou embora daqui - para sempre!

E com os olhos de fogo ainda a rebrilhar de despeito, Mairon se retirou da presença de Curumo - e com efeito a partir daquele dia nada mais disse para o maia sobre sua relação com Melkor. O silêncio, porém, exasperava a Curumo, pois se antes tinha alguma ideia dos próximos passos que o vala renegado tomaria em relação aos demais Ainur, a partir de então tudo ficou oculto de si - o silêncio parecia ainda mais aterrorizante do que saber do que poderia vir pela frente.

To be continued

OoOoOoOoOoOoO

Ih gente, a Catitah está começando a brigar com os amigos por causa do Catitoh! É claro que nesse começo o Saruman se faz de bonzinho, mas depois não vai aguentar e entrar pras tretas - mesmo depois de ter supostamente ido até a Terra-média para combater as desditas da Saurita, rsssss!

Mas nesse comecinho ninguém sequer sonhava com tudo isso e o Curumo ainda teme trair aos Ainur fiéis.

No próximo capítulo creio que o Mairon já vai debandar de vez para Angband! O que o amor não faz?

Beijos a todos e todas!