-Não, não, não! Você é maluca ou o que? -perguntei olhando bem no fundo dos olhos da tal Lily.
Sabe quando um filme passa pela sua cabeça? Como se você assistisse toda a sua vida acontecendo através de algumas cenas mentais? Pois é...definitivamente não era isso que estava acontecendo comigo no momento.
Muito pelo contrário, na verdade.
Eu me sentia como se alguém tivesse acabado de apagar todas as minhas memórias e eu não soubesse mais quem eu era...
Mas antes de chegar nessa situação, preciso atualizá-los sobre como vim parar no meio dessa bagunça.
Meu nome é Skylar Cameron, tenho 16 anos e hoje estou indo pro meu primeiro dia de aula no segundo ano do ensino médio. Sou loira e de olhos verdes, e tenho um corpo bem definido. Tenho duas irmãs mais novas, nas quais são gêmeas, Emma e Bella Cameron.
As duas são idênticas, mas tem algo no qual as pessoas ao nosso redor conseguem as diferenciar: a cicatriz. Emma nasceu com uma cicatriz no pulso esquerdo em formato de estrela apagada. Como as vi nascer e convivemos desde sempre, essa diferenciação nunca foi problema para mim.
Estudo na mesma escola desde o sexto ano, onde tenho algumas amigas, e apenas um do sexo masculino, meu melhor amigo, Theodore Russo.
Minha amiga mais próxima, que insiste em ser chamada de minha melhor amiga do mundo, se chama Sophia Justice, e ela é o oposto de mim, em praticamente TODOS os aspectos.
Na aparência física já há essa distinção, já que ela tem a pele preta, e eu branca (do tipo: pareço um defunto), ela tem cabelos curtos e eu compridos, além de serem pretos e cacheados e eu, como já disse, loiro e liso.
Na personalidade, também temos muitas coisas opostas, por exemplo: eu sou tímida, e ela extrovertida; eu gosto de música pop e ela de rap; eu tenho uma certa, er, atração por garotos morenos e ela por loiros; ela namora e eu sou encalhada; e principalmente: ela é a melhor amiga do meu inimigo.
Ok, ok. Inimigo é uma palavra muito forte. Ele é só um cara da escola que vive para me encher a paciência.
Meu "inimigo" (com muitas aspas) se chama Nicolas Swan, e é nosso colega de classe.
Ele é aquele clichê ambulante: capitão do time de futebol da escola, tem bastante dinheiro, acha que o mundo gira ao redor daquele umbigo feio, e é (infelizmente) muito bonito.
Ele a Sophia pareciam irmãos, com a pele no mesmo tom, aquele cabelo encaracolado fofo e as bochechas gordinhas.
-Ande logo Skylar, vai se atrasar –chamou minha mãe, pela terceira vez naquela manhã.
Mas fala sério, era de se imaginar que demoraria, afinal, quem não demora pra se arrumar no primeiro dia de aula?
Talvez pessoas que não sejam vaidosas.
E eu com certeza não me encaixo nesta categoria.
Me arrumei, peguei meu material e fui para o carro, onde já estavam meu pai no volante buzinando, Bella estava mexendo no celular, como sempre, e Emma se olhando no espelho, enquanto passava um gloss brilhante nos lábios carnudos.
Entrei e me sentei ao lado de meu pai, no passageiro, enquanto pegava meu livro "Harry Potter e a Ordem da Fênix" e continuava a leitura de onde parei.
Eu amo Harry Potter.
E ler.
-Mas será possível, Sky? Você não pode me fazer o favor de guardar esse livro, pelo menos no caminho até a escola? –meu pai me repreendeu imediatamente.
Ele insistia que era importante ter uma boa comunicação no caminho até a escola, já que era m dos únicos momentos do dia que tínhamos com ele.
Eu o entendia. Meus pais trabalhavam muito para dar a melhor vida para nós três, mas ao mesmo tempo, insistiam em alguns programas em família para que estejamos sempre em contato.
E se tinha algo que meu pai fazia questão nessa vida, era de nos levar para a escola todos os dias, enquanto conversávamos no caminho.
-Papai, esquece, ela nunca vai guardar esse livro. Na verdade, esses livros, não é? Tem sempre uns cinco livros nessa mochila! –implicou Emma, me deixando irritada.
-Ah, eu sei muito bem a hora de parar de ler, viu queridinha? Ao contrário de certas pessoas, que só sabem ficar olhando o próprio reflexo -debati, sem paciência para brigas logo às oito horas da manhã.
-Será que podiam parar de brigar por cinco minutos? -falou Bella, que parecia estressada.
-Ah, e você cala a boca, senhorita estressadinha -gritou Emma, parecendo até ler meus pensamentos.
Quando finalmente chegamos à escola, a discussão já havia sido interrompida por meu pai, e mantínhamos uma boa comunicação matinal, como ele queria.
Entrando na sala de aula, fui pega de surpresa ao ser abraçada com força, sem nem dar tempo de eu notar quem era.
Fiquei imediatamente assustada, mas logo que me soltou percebi que era Sophia:
-Ai amiga, senti tanto sua falta, como foi de férias? Está animada? –como já disse, Sophia e eu somos bem diferentes, principalmente se tratando da leitura.
Eu amava ler, desde sempre, porém, não podia se dizer o mesmo dela, que era do time "leitura é perda de tempo".
Ano passado, por exemplo, ela praticamente me proibiu de ir a biblioteca por alegar que eu passava mais tempo lá do que com a melhor amiga. É claro que eu disse a ela que não pararia de frequentar aquele lugar maravilhoso de forma alguma, por isso ela fez a pior coisa que ela já fez em TODA a vida dela.
E lá vou eu de novo sendo extremamente dramática.
Minha amiga simplesmente falou com Nicolas Swan, afirmando que eu estava a fim de estudar com ele no dia seguinte na biblioteca. Tonto como é, Nicolas acreditou, já que ela ainda deu uma de espertinha e pediu pra ele não comentar nada disso com ninguém, nem mesmo comigo porque era muito "vergonhoso".
Fala sério!
Ele, como já disse, obviamente acreditou, pois sabe muito bem que sou tímida. No dia seguinte, eu estava na biblioteca lendo meu livrinho em paz e ele simplesmente chegou e se sentou comigo, abrindo o livro de química.
Logo após, começou a explicar-me o conteúdo, só que eu estava achando isso estranho demais e não prestei a mínima atenção no que ele dizia. Depois de um tempo ele percebeu que falava com o vento e me disse o que a Soph havia inventado.
Eu fiquei dois dias sem falar com ela e ainda por cima fui expulsa da biblioteca por duas semanas porque fiz barulho demais (a Sophia estava sentada em outro canto e assim que a vi comecei a berrar, disse um monte de palavrões nos quais eu NUNCA havia dito antes).
Eu já contei que sou dramática? E meio descontrolada às vezes?
Enquanto eu voava em meus pensamentos, minha amiga continuou a falar.
-Tem alguns alunos novos, e vários deles são gatinhos também, -sorriu maliciosamente para mim –só que você sabe, Robert não me deixa nem prestar atenção direito sem quase morrer de ciúme, mas você pode, não é amiga? Quem sabe esse ano pare de ser tão certinha e ENCALHADA, e arrume logo um garoto pra você.
Robert é o namorado da Soph. Não tenho muito o que dizer dele, só que é bem agradável, muito ciumento (não no estilo possessivo e nojento da coisa, mas ainda assim é uma característica marcante do relacionamento dos dois, já que ela ama isso e usa ao seu favor sempre que possível).
Eles já namoram há dois anos, e não duvido que dure mais, pelo menos espero. Eles se dão muito bem.
-Não seja boba, eu NUNCA vou arrumar um namorado, você sabe que não me interesso por essas coisas. –revirei os olhos.
Isso era uma mentira enorme.
Eu morria vontade de arrumar um namorado desde que me apaixonei por inúmeros crushes literários que roubaram o meu coração.
Contudo, não tinha pressa.
Viria no tempo certo.
E se o tempo certo só chegar quando eu não tiver mais no Ensino Médio, ótimo. Menos distrações.
-Pois está na hora de se interessar! –ela interrompeu minha linha de pensamento –Ah, qual é Sky, por favor, pelo menos pensa no assunto, por mim.
-Tudo bem. –concordei a contragosto.
O que ela esperava? Que eu espalhasse cartazes por toda a escola com um "procura-se um namorado", estilo os livros da Carina Rissi? Nem a pau.
Esse tipo de coisa só dá certo nas leituras e nos filmes clichês.
Sentamos e cinco minutos depois a professora chegou, iniciando o nosso conteúdo desse novo ano. Aproveitei um pouco do tempo para observar o comportamento do resto da turma...
Uns ficavam passando bilhetinhos, outros riam discretamente, alguns prestavam atenção, faziam anotações...
Se o Nicolas estivesse aqui, com certeza estaria rabiscando alguma coisa em seu caderno. Ele estaria provavelmente sentado uma carteira ao meu lado, então discretamente tentaria ver o seu desenho.
Não era novidade pra ninguém que ele amava desenhar...o sonho dele é cursar arquitetura. Eu me recordo que no oitavo ano, ele trazia um caderno de desenho para a sala de aula (hábito este, que mantém até hoje), e passava todas as aulas desenhando o que vinha na sua cabeça.
Uma vez, eu peguei esse caderninho dele escondido, no meio do intervalo. Eu não tenho o costume de fazer isso, mas é que ele ficava tão entretido naquilo que me deixava curiosa. Afinal, ele queria que eu pegasse, né? Estava bem em cima da mesa dele, sem nada em cima, então eu não consegui me segurar.
Eu não gosto de elogiar as pessoas (é um defeito meu, admito), mas quando se trata de Nicolas Swan, alguém que eu tenho a maior dificuldade de falar qualquer coisa que não seja uma ofensa, eu admirava as incríveis habilidades dele de desenho em silêncio. Eu juro, é de tirar o fôlego, mas ele não pode saber NUNCA que eu penso isso dele.
-Perdeu alguma coisa, linda? –ele perguntaria, me lançando aquele sorriso torto que adorava me dirigir, me fazendo voltar para a realidade e perceber que eu estava muito inclinada na direção dele.
-Que? Não Swan, eu não perdi nada.
-Não foi o que pareceu –ele piscaria para mim.
Ok, isso estava ficando esquisito. E obsessivo.
Por que mesmo eu estava imaginando como seriam as coisas com ele ali? E por que ele havia faltado?
No intervalo, Sophia foi matar as saudades do namorado enquanto eu e Aline ficávamos conversando. Aline Meadows é uma grande amiga minha, na qual estuda comigo desde o sétimo ano, junto ao seu irmão gêmeo, Lorcan.
-Sky, você não sabe o que eu fiz no final de semana...-disse animadamente.
A olhei erguendo a sobrancelha, esperando a continuação.
-Eu fui pra casa do Nick, acredita? –girei os olhos discretamente.
Lin é apaixonadinha pelo Swan faz dois anos. Dois anos inteiros totalmente "apaixonada" e obcecada pelo garoto.
E ele nunca deu a mínima atenção para ela, a não ser quando tinha interesse no paradeiro do irmão dela.
Ridículo ela se expor aquele tipo de situação. Alô, valorização, meninas!
-Bom, ele não me convidou, AINDA –eu a interrompi rapidamente.
Ela invadiu a casa do garoto?
-Como assim você foi pra casa do Swan sem ser convidada, criatura de Deus?
Ela fez um gesto displicente com a mão, demonstrando achar que não era nada demais.
-Ah, meu pai saiu correndo de casa no domingo porque houve uma emergência no hospital –o pai dela é médico –e não queria me deixar sozinha em casa, pois voltaria tarde. Então ele pediu pro Lorcan sair comigo, só que ele estava indo pra casa do meu "amorzinho" –ela não fez aspas nos dedos.
E eu juro que havia mesmo dito "amorzinho".
Eu merecia isso?
-Então papai pediu pra me levar pra casa do Nickinho. –continuou.
Não consegui conter minha careta. Nickinho?!
-Tudo bem que ele não gostou muito dessa história, mas foram ordens né. –piscou para mim.
-Então, como foi na casa do seu, hum, amorzinho? –debochei.
-Ah, nós fomos tomar um sorvete, e eu descobri que o sabor favorito dele é...
-Chiclete –cortei-a sem perceber.
Por que mesmo que eu lembrava desses fatos inúteis?
E droga, ela vai morrer de ciuminho agora e eu vou ter que me explicar.
Skylar, mantenha a boca fechada, mulher.
-Como você sabe? –ela indagou, em tom ríspido.
-A Sophia me obrigou a ir com ela no shopping um dia –falei rapidamente, contendo o impulso de revirar os olhos –Eu realmente NÃO queria ir, só que ela disse que contaria um segredo meu pro Brook se eu não fosse com ela.
Logan Brook é um dos melhores amigos do Swan, e não é nada confiável, pelo menos pra mim, então eu não tinha escolha.
-Aí eu fui, né? E adivinha, quem estava lá? Nicolas Swan e o Rob –apelido de Robert (namorado da Soph) –e nesse dia a gente foi ao cinema e depois tomar sorvete, então eu descobri o sabor predileto dele.
-E você não me disse isso antes? Por quê? –me olhou com desconfiança.
-Ah, não tinha motivos. –dei de ombros –Agora, continue sua história. –a incentivei.
-Ah, sim. –ela balançou a cabeça, parecendo afastar alguns pensamentos antes de voltar a falar com um grande sorriso no rosto –Depois da sorveteria fomos a casa dele, e amiga, ele é muito rico, tipo, muito mesmo! Ele tem piscina, biblioteca –meus olhos brilharam, enquanto eu tentava disfarçar inutilmente.
Meu sonho de princesa é ter todos os livros a minha disposição dessa forma.
-Sala de jogos, academia, sala de cinema, sala de estar, dois andares, seis quartos...a casa é simplesmente, perfeita! –disse com um ar sonhador –Imagina quando eu morar lá?
-O QUÊ? –me engasguei –Como assim, cara pálida?
Ela estava achando que os pais de Swan iriam adotá-la?
-Ué, quando eu e o Nickizinho nos casarmos, nós vamos morar lá! –falou com veemência.
Ok, o nível de loucura aumentou em 500%.
-Em primeiro lugar, ele sabe que vocês vão se casar? E em segundo lugar, onde diabos os pais dele vão ficar? –a olhei inconformada.
Além de casar com ele, queria a casa da família? Ela esperava que os pais de Swan fossem morrer tão jovens assim? E pior, ela desejava isso?
Ela tinha surtado, definitivamente.
-Er...é mesmo –falou pensativa –mas eles podem muito bem comprar um apartamento beeem longe de lá e deixar para nós a casa. Tenho certeza que concordarão!
-É claro. –revirei os olhos, sabendo que era melhor do que discordar e entrar em uma discussão inútil – Enfim, Lin, você sabe onde o "quarteto bagunça" se meteu? Eu não os vi hoje na sala.
O "quarteto bagunça" é um grupo formado por Nicolas Swan, Logan Brook, Theodore Russo e Lorcan Meadows; eles são os garotos mais bagunceiros da turma, digo, da escola, por isso o apelido.
-Não te contei? –neguei –ah, parece que o Logan disse que queria faltar no primeiro
dia de aula, só pra chamar atenção, e chamou o resto do grupo pra faltar também. Eles ficaram jogando bola lá em casa. Ouvi o Lorc falando com o papai hoje cedo e ele aceitou. Ele até disse que eu poderia faltar também, mas eu não quis.
Se a minha mãe me desse a oportunidade de faltar aula no primeiro dia, acho que eu também não concordaria. Eu gosto do primeiro e último dia de aula, só. O resto, eu faltaria até sem motivo.
Não, mentira...já chegou a hora de começar a estudar e me esforçar mais.
Ano que vem já começava a loucura de procura por uma faculdade, o curso e todo o desespero, então eu quero me esforçar mais esse ano, já que eu tenho a mania de estudar apenas na véspera da prova, tirar nota máxima, e esquecer todo o conteúdo no dia seguinte.
Ser desmemoriada é horrível.
Chegando em casa, fui direto fazer tarefa. Depois que terminei meus deveres, fui almoçar, e como sempre, ler um pouco.
Já havia lido umas 50 páginas quando escutei algo estranho, como uma bomba, uma grande explosão.
Talvez um tiro?
Logo em seguida surgiu uma tremedeira.
Levantei-me num pulo, sentindo o chão me balançar.
Apoiei-me na cabeceira da cama, sentindo o coração bater acelerado em meu peito, quase querendo sair para fora.
Quando passou e eu consegui me locomover, notei que nada havia saído do lugar. Nenhum quadro caído, a cama perfeitamente alinhada, os livros direitinho na estante.
Que droga era aquela?
Quando minha respiração se acalmou, desci o mais rápido que pude chamando pela minha família:
-O QUE HOUVE? VOCÊS ESTÃO BEM? –gritei, esbaforida.
-Como assim, sua maluca? Não tem nada de errado -falou Bella, com uma expressão curiosa.
-Como assim? Acabei de ouvir uma bomba! –afirmei com veemência, notando que nos outros cômodos da casa, todos os objetos continuavam intactos.
O que tinha acontecido?
-Você só pode ter enlouquecido mesmo, hein! Você tá doente? –um sorriso sapeca cresceu em seu rosto.
-É claro que não. –a olhei com irritação, enquanto ela pausava o filme para me analisar –Eu ouvi perfeitamente bem. E senti também! Alguma coisa aconteceu por aqui, eu senti o chão tremer.
-MÃÃÃÃEE! A Skylar tá maluca. –gritou minha irmãzinha.
Praga.
-Eu? Você que tá surda e desatenta –bufei.
Sabendo que não chegaria em lugar algum com aquela discussão, voltei para o meu quarto.
Quando entrei, algo em meu closet me chamou a atenção.
Eu não sabia descrever exatamente o que era, mas definitivamente não estava do jeito que eu havia deixado.
Entrei no cômodo, que com certeza estava diferente.
Será que eu fui parar em Nárnia e não notei?
Belisquei meu braço mais uma vez, para ter certeza que não tinha surtado, enquanto piscava inúmeras vezes seguidas.
Não podia ser.
Onde era para estar a minha sapateira, tinha um buraco na parede, no qual estava saindo uma fumaça branca, bem forte.
A princípio pensei em chamar alguém, e quando me virei para dar a volta, duas algas marinhas vieram em minha direção e prenderam meu pulso, me levando para dentro.
Algas marinhas.
Eu estava sendo puxada para o meio do meu guarda roupa, por duas ALGAS MARINHAS.
Eu dormi enquanto estava lendo?
Enquanto fazia minhas lições de casa?
Pior: na sala de aula?!
Droga, a professora iria me expulsar de sala se souber.
"Acorda, Skylar", sussurrei para mim mesma, "acorda antes que ela te veja".
Quando abri os olhos novamente, percebi que eu continuava na mesma situação de antes. Não era possível que isso estava mesmo acontecendo.
Estava com vontade de gritar, mas sabia que não iria adiantar. Então, fechei os olhos novamente, com toda minha força que consegui reunir, e esperei meu destino cruel.
Eu seria assassinada?
Ou acordaria?
"Por favor que eu acorde, por favor", fiz uma prece mental.
As algas me soltaram em pé, provavelmente no chão do lugar e quando eu consegui controlar a minha respiração, abri os olhos lentamente.
Só para então, arregalá-los para o que tinha em minha frente.
Eu realmente havia pirado.
Lá dentro havia várias portas, cada uma mais entranha que a outra. A primeira tinha um arco-íris e um unicórnio branco com rosa, e em cima estava escrito "DUENDES".
A próxima estava cinza com um caixão, e em cima sangue, coisa que me fez realmente sentir uma imediata repulsa, e em cima estava escrito a palavra "VAMPIROS".
Já a terceira porta era muito bonita, com um céu azul lindo e borboletas voando, das cores roxa e rosa, e em cima estava escrito "FADAS".
A quarta estava escrita "GNOMOS", e a porta era inteiramente verde, sem nada especial.
A outra era azul escura, bem da cor da noite, e no centro havia uma montanha, com um lobo lindo, uivando para a lua! Havia então, os dizerem "LOBISOMEM'.
A próxima era linda, com várias flores, especialmente lírios, que são minhas flores favoritas, e estava escrito "BRUXAS".
E a última tinha um mar, muito bonito, com um golfinho roxo brilhante, estava escrito "SEREIAS".
Eu virei a Alice no País das Maravilhas? Precisava comer ou beber alguma coisa para entrar em uma dessas portas?
-Lindo, não é? Realmente encantador –escutei uma voz feminina e fofa atrás de mim, levando um susto.
Dei um gritinho histérico, enquanto meus olhos ficavam cada vez mais abertos. Por Deus, onde eu estava? Quem era ela?
Belisquei meu braço para ter certeza que não estava sonhando, repetindo o gesto no mínimo 10 vezes. Nada de acordar.
O que estava acontecendo?!
-Não precisa se assustar, só vim te ajudar. –olhei para a mulher em minha frente e dei um passo para trás, hesitante.
O que ela queria comigo?
-E a propósito, a porta das fadas é a melhor. Acredite em mim, não digo isso só porque faço parte desse Conselho, na verdade isso também, mas não é só por isso. –tagarelou, sorrindo para mim –Bem-vinda!
Franzi a testa, tentando entender aquelas informações que me eram fornecidas.
-Desculpe, o que disse? Fada? Conselho? Onde estamos? –perguntei, olhando ao redor com receio.
Isso definitivamente tinha que ser um sonho.
Um bem esquisito, por sinal.
-Ah, claro, esqueci que é iniciante. –ela sorriu para mim, enquanto eu a avaliava –Meu nome é Alice, mas me chame de Lily, adoro esse apelido. Também pode me chamar de Ally, mas prefiro Lily. E sim, Conselho: há vários Conselhos por aqui, como pode ver, e faço parte do das fadas. –bateu palmas animadamente, me assustando mais uma vez –Eu sou uma fada, mas nesse momento estou na minha forma humana, não gostaria de te assustar, mas pelo visto não adiantou muito. –soltou uma risadinha baixa –Bom, você está aqui porque também fará parte de um Conselho, só que o das bruxas. Você é uma bruxa, desde que nasceu, só que apenas agora está na hora de te contar, já que tem maturidade suficiente para aceitar e acreditar, espero. –murmurou a última palavra.
-Fada? Bruxa, eu? Conselho? Ah, fala sério né? –revirei os olhos.
Ela pensava mesmo que eu ia cair nesse papo para criança se iludir?
Eu já tinha 16 anos, qual é!
-Estou falando! –afirmou com veemência.
-Não, não, não! Você é maluca ou o que? Acha mesmo que eu vou acreditar em qualquer porcaria que me disser? Eu não sou trouxa nesse nível, não, mocinha –apontei o dedo na cara dela, que tentava conter o riso.
Ótimo, sou motivo de piada!
-Não, não sou maluca! –disse agora com seriedade –E você deveria me ouvir, Escolhida! Pensei que fosse mais madura para 16 anos, Skylar!
-Me chamou de que?
Como ela sabia meu nome? Eu tenho certeza que não falei em momento algum.
Será que Lily estava me seguindo todos esses dias e eu não notei?
-De Escolhida –repetiu confusa.
Como se fosse esse "escolhida" que importasse!
-Como sabe meu nome? –cruzei os braços em frente ao peito.
-Ah, fala sério, todo mundo no mundo mágico sabe seu primeiro nome. –bufou.
Mundo mágico, até parece. A mulher era louca, só pode.
Internação urgentemente!
-Sabem meu nome, é? Que mundo mágico? –dei um sorrisinho de escárnio, mostrando que não acreditava em uma palavra que ela dissera.
-Sim, sabem seu primeiro nome. –por que ela fica ressaltando que é apenas o PRIMEIRO nome? -E esse lugar onde estamos é o mundo mágico.
E quem mais sabe a droga do meu primeiro nome? Por que isso é tão importante?
-Mundo mágico? Então quer dizer que sou bruxa, você é uma fada, e todo mundo aqui nesse tal mundo mágico me conhece? –ergui as sobrancelhas, zombando dela.
Ela que estava dentro do meu sonho maluco, e achava que podia me enganar?
-Claro, você é a ESCOLHIDA!
De novo isso de "escolhida"?
-ESCOLHIDA pra que? –perguntei inconformada.
-Para ter os melhores poderes, e proteger o nosso mundo de bruxos malvados e outros seres das trevas. –falou como se fosse a coisa mais óbvia do universo.
Sério, o que eu tomei hoje cedo?
Seres das trevas? Até parece!
Vai demorar muito para eu acordar? Me belisquei, só para ir mais rápido, mas continuei no mesmo lugar.
-Ora, bruxos das trevas? Ai meu Deus, era só o que me faltava!
Tá, eu bebi suco de laranja no café da manhã, na escola eu comprei um suco de caixinha de uva...será que alguém me envenenou? Quem foi? Ah pode ter sido a Lavínia, ela nunca gostou muito de mim, mas...por que ela faria isso? Tudo bem que eu já derramei o suco dela na própria blusa dela uma vez, que inclusive era branca, e não fazia parte do uniforme, era de uma apresentação de teatro da escola. Pelo que eu soube, essa roupa custou uma fortuna. Mas fala sério, isso não é motivo suficiente para me drogar!
Será que tinham me drogado mesmo?!
-Faltava mesmo, isso sempre fez parte de você. Vai me dizer que nunca percebeu algo estranho? Sabe, tipo algo levitar? Alguém ser ferido, que te fez passar muita raiva para ser mais específica? Ou algo acontecer quando tem medo de alguma coisa.
A olhei com receio, sabendo que algumas coisas estranhas já aconteceram comigo.
Meu Deus, eu era a nova versão de Harry Potter?
Boa, sonho, você arrasou dessa vez!
-Já que falou, já fiquei com muita raiva de uma professora e de repente, ela ficou encharcada.
Nicolas Swan me olhou BEM esquisito naquele dia, no sétimo ano. Não entendi o motivo, mas ok. A professora encharcada foi logo chamar a senhora Valentine (nossa coordenadora) que me olhou estranho também...enfim, o "quarteto bagunça" levou a culpa e ficou de detenção por uma semana.
Eu não podia ser culpada disso.
Podia?!
-Exato!
Respirei fundo, tentando me acalmar.
Ok, ela não vai desistir dessa ideia maluca mesmo.
Melhor saber mais então, né? Qualquer coisa eu escrevo um livro desse sonho.
-Como é que vou controlar esses meus "poderes" então? –tentei sorrir suavemente, mas acho que ela notou que eu ainda não acreditava em nada que ela estava me dizendo.
-Simples, faça uma rima! –falou como se fosse óbvio –Na verdade, a rima serve apenas para feitiços simples. Os complexos estão no livro mágico.
Rima e livro mágico. Claro, faz todo sentido.
Como eu não pensei nisso antes?
Talvez porque ainda é algo completamente fora da casinha!
-Rima? –perguntei para confirmar e ela assentiu.
Ótimo, agora eu preciso testar a teoria. Por mais que não acreditasse em nada que estava sendo dito ali, minha curiosidade não permitiria que eu simplesmente ignorasse a informação.
"Respira e pensa, Sky", pensei comigo mesma, me esforçando para conseguir rimar.
-Não sei como tirar essa mágoa e então quero um copo d'água. –disse enquanto fazia um movimento com as mãos e fechava os olhos.
Eu sempre fui péssima em rimas, NÃO ME JULGUEM. Na real, eu não sei nem se isso rima em primeiro lugar, mas eu tentei.
E repentinamente aconteceu!
Senti algo na minha mão que até então segurava o ar. Abri os olhos lentamente, com receio, e fiquei surpresa ao notar que realmente tinha uma garrafinha de água em minha mão.
Dei um grito de surpresa, soltando a garrafinha no chão, enquanto dava inúmeros passos para trás.
O que estava acontecendo?
Tinha que ser um sonho, não era possível.
-O que é tão engraçado? –perguntei emburrada.
-O seu susto, ora! –ela ainda ria.
-Então, isso é verdade? –perguntei hesitante.
Meu cérebro estava a mil! Bruxa? Será que isso realmente existe? E se existir, eu sou parte desse grupo?
Eu fui enganada a vida toda? Eu poderei fazer feitiços o tempo todo? Não precisarei mais fazer tarefa de casa? Nem ir ao shopping para comprar uma calça nova? Eu não vou precisar estudar? Será que se eu estralar o dedo, eu fico rica?
Mas...e se fosse só um sonho? Convenhamos, era o mais possível.
-Ainda duvida?
Com certeza.
Não.
Sim.
Ok, respire fundo, Skylar Cameron. Isso pode ser um sonho, mas pensa que, já que é um sonho, o melhor é você aproveitá-lo da melhor maneira possível. Não é todo dia que se sonha com uma magia assim!
-Só estou um pouco... –falei, tentando encontrar palavras para descrever o que eu sentia.
-Chocada?
Não era essa a palavra certa. Para estar chocada, precisaria ser real.
-Não. Bem, muito...
-Muito... –ela me incentivou.
-FELIZ! FELIZ ATÉ DEMAIS! –gritei e pulei.
Eu sempre julguei todos os filmes e livros em que a pessoa descobria que tinha magia dentro de si, e entrava em depressão.
Eu iria aproveitar o meu sonho da melhor maneira.
-O quê? –ela me olhou em choque.
Acho que Lily também não esperava essa animação de minha parte.
-EU SOU UMA BRUXA! –cantarolei.
Ela balançou a cabeça, abrindo um largo sorriso em minha direção. Parecia aliviada.
-VOCÊ É UMA BRUXA! –Lily me acompanhou.
-EU TENHO PODERES! –continuei.
-NÓS TEMOS PODERES!
Mas ela não havia dito que só eu era bruxa?
-Nós? Pensei que fosse uma fada. –parei de cantar.
-Sou, só que tenho poderes também. E uma asa, uma varinha, e posso diminuir. –ela contou nos dedos.
Vi mais vantagem nesse negócio de ser fada.
Poxa, cérebro, até no meu sonho, eu estou em desvantagem. Injusto!
-Poxa, não precisa humilhar! –falei rindo.
-Claro que não é pra humilhar, bobinha! Sou sua guardiã, sabia?
Nossa, essa história ficava cada vez mais complexa.
Acho que meus livros me deram mais criatividade do que eu imaginava.
-Guardiã? Por que precisaria de uma guardiã?
-Porque você acabou de se tornar oficialmente uma bruxa, e vai precisar de ajuda, durante dois anos.
Pena que não é real. Seria legal ficar fazendo feitiços com ela durante dois anos, e depois desse tempo, me virar sozinha.
-Ótimo que seja você. –não menti.
Se fosse para ter a companhia de uma "fada", eu gostaria que fosse ela.
-Que bom que gostou. –ela sorriu animadamente –Mas agora venha comigo, preciso que entre nessa porta –disse ela, apontando para a porta das bruxas.
Mais complexo ainda. O que me esperaria do outro lado?
Tem como morrer sonhando?!
-Não vem comigo? –perguntei, hesitante.
-Sinto muito, não posso, mas te esperarei aqui fora. Só consegue passar por essa porta quem for bruxo, a não ser que os conselheiros resolvam destravar o feitiço, –deu de ombros –o que não é o caso. Ande logo, eles não gostam de esperar.
Eles? De quem ela está falando?
Provavelmente seriam os "conselheiros".
Eles me aconselhariam a que?
Será alguém bravo? Um bruxo malvado? Ai meu Deus, o que vou fazer?
Eu ainda não sei controlar esses poderes do sonho, não posso fazer um teste. Teste? Será que é isso mesmo?
Espero que no mínimo, seja só teórico. Ou será que eu vou colocar o chapéu seletor na cabeça? Eu vou pra Hogwarts? EU VOU PRA HOGWARTS!
Não, acalme-se, Sky, sonho com Harry Potter fica para outro dia.
-Olá querida! Que bom que veio...sente-se –disse uma mulher com cara de uns 35 ou 40 anos, e com uma feição severa.
Ela era ruiva e usava um coque. Olhos castanhos esverdeados, bem bonita por sinal. Eu não sei o motivo disso, mas tenho a impressão de que já a vi antes.
Vendo que ela aguardava que eu me movimentasse, sentei-me depressa, e reparei que tinham mais duas pessoas ao lado dela: um homem baixo com olhos cinzas, e um uniforme, que as duas mulheres também usavam, e com cabelo bem bagunçado e castanho. Aparentava ter a mesma idade da ruiva.
A mulher ao lado esquerdo da ruiva, tinha cabelos pretos, e lisos com cachos nas pontas, bem compridos. Olhos azuis bem clarinhos. Ela foi a segunda a dizer:
-Relaxe, não queremos te dar broncas nem nada do tipo...só queremos lhe parabenizar por ser uma bruxa, na verdade, a BRUXA ESCOLHIDA!
De novo isso de "escolhida". Que sonho mais louco!
-Também queremos que fique com isso –disse o homem com um livro nas mãos –esse era o livro de feitiços de sua tataravó, a última bruxa escolhida. Esse é o livro de feitiços mais completo e poderoso do mundo bruxo!
Minha tataravó era bruxa?!
-Temos certeza que se dará muito bem com ele, mas não esqueça, NINGUÉM que não seja do mundo mágico pode saber sobre seus poderes –disse a ruiva –nem mesmo seus pais, então tome bastante cuidado com os feitiços. Vamos, pegue o livro!
-Mas se a minha tataravó era bruxa...como meus pais não sabem de nada? –perguntei.
Peguei o objeto que me era estendido e fiquei observando a capa, muito bonita e velha. Toda dourada e vermelha, com o título "Magix Anne".
Ele começou a se mexer em meus braços querendo voar, provavelmente, mas eu o segurei com força, não querendo pagar mico na frente desse "Conselho".
-É normal -disse o homem –esse livro sempre estranha seus novos donos, mas em uma semana acostuma.
-Trate-o bem! –disse a ruiva –E sobre a sua pergunta, os poderes não são passados facilmente de geração em geração. Algumas vezes temos pais e filhos, avós e netos, bisavós e bisnetos, tataravós e tataranetos, e assim vai. E como temos a regra da proibição, não é possível revelar o segredo nem entre a família. Dessa maneira, seus pais nem sonham com a existência desse novo mundo.
Assenti, entendendo.
Realmente, minha imaginação podia ir longe quando estava a fim!
-Ah, desculpe, que idiotas nós somos, nem nos apresentamos –disse a morena, parecendo envergonhada –meu nome é Clarice, muito prazer.
Ela apertou minha mão de forma educada, e sorriu. Logo que soltou, olhou feio para seus colegas.
-Sinto muito, meu nome é Lucrécia, sou a PRESIDENTE do Conselho Mágico das Bruxas, e eles são...são...meus ajudantes -disse a ruiva com um tom de superioridade que parece que seus "ajudantes" não gostaram.
-Ah, cale a boca –disse o homem irritado –só pelo fato de ser a mais VELHA de nós, não significa que seja melhor que a gente. E a propósito querida,-virou-se para mim –meu nome é Rubens, muito prazer!
Apertei a mão dele, com um certo receio.
Não sei se esse tipo de discussão acontece com frequência e quão controlados eles conseguem ser. Só que não quero que isso acabe em uma guerra de feitiços.
-E também Lucrécia, você é a mais VELHA, e isso quer dizer que vai se aposentar primeiro, deixando o cargo para alguém mais novo. E não se esqueça, NÃO SOMOS SEUS ASSISTENTES! –disse Clarice, começando a se estressar.
Que me protejam de estar no meio dessa confusão!
-Ah, desculpe, não queremos brigar na sua frente Skylar, mas é que as vezes, TEM GENTE NESSA SALA QUE PASSA DOS LIMITES! –completou.
Meu sonho poderia estar no final e eles ainda estavam na mesma página.
Sem pensar muito, com medo de acordar e perder tudo, falei impulsivamente:
-Tudo bem, tudo bem, já entendi que a Lucrécia é velha e que vocês dois não são assistentes dela, posso ir embora logo? A Lily está lá fora me esperando.
Parando para analisar a feição de cada um, percebi que teria sido melhor se eu tivesse ficado quieta.
Essas pessoas são bruxas, que aconselham outros bruxos, e tenho certeza que sabem bem mais de magia que eu (no momento eu sei o total de zero feitiços), e eles podem muito bem acabar comigo só piscando. EU TENHO PROBLEMAS MENTAIS?
Eu não quero morrer sonhando!
-Primeiro, NÃO SOU VELHA, e segundo, continue onde está que precisamos te contar a história dos bruxos. –disse Lucrécia.
Eles se entreolharam, respirando fundo e começaram assim, a me contar toda essa história desde o início, que foi antes de Cristo!
Parecia que esse discurso chato nunca iria acabar, um monte de "blábláblá" pra cima de mim.
Quanto mais eu tentava prestar atenção, mais eu ficava com sono. Consegui conter o bocejo umas três vezes, mas chegaram alguns momentos que ficou impossível de disfarçar.
Recebi uns olhares tortos em respostam, mas nada comentaram a respeito.
E finalmente Rubens terminou:
-Essa história é fascinante, eu sei, é uma pena que tenha acabado, espero que tenha gostado. Será que vai demorar muito para eu ter que contar para outro bruxo?
Ele e Clarice riram baixinho.
-Querida, também temos que lhe dar isso –ele me entregou um vidrinho pequeno com uma corrente preta. O vidrinho tinha um pó dentro, branco brilhante. –Esse é o pó usado para entrar no Conselho novamente, mas não use com muita frequência, por favor, já que não poderemos te dar outro, a não ser que seja realmente necessário –assenti - Mas infelizmente você terá que partir. Lily está te esperando ao lado de fora, e te levará pra casa.
-E não se esqueça, nada de magia na frente de GC! –disse Clarice, com seriedade.
-GC? –perguntei olhando pra Lucrécia, que sorriu pra mim.
-Gente comum-disse simplesmente –Pessoas sem magia. Mas bom, boa sorte, e se fizer algo de errado, vamos descobrir. Estamos sempre vigiando os bruxos menores de idade. Então, por favor, colabore conosco. Foi um prazer te conhecer, Skylar -disse Lucrécia com um sorriso que me tranquilizou, apesar de suas palavras duras.
Saí da sala e me surpreendi ao encontrar Lily de uma forma completamente diferente do que eu havia visto, dessa vez como uma fada.
Tive que piscar algumas vezes, tentando me adaptar a vê-la tão pequenininha.
Minha criatividade conseguiu ultrapassar todos os limites.
Admito, ela realmente é linda, e cabe no meu bolso também. Tem cabelos loiros, olhos azuis esverdeados, e usa um vestido fofinho, todo roxo (que parecia idêntico ao de Tinker Bell, mudando apenas a cor), e suas asas são douradas.
Dava vontade de apertá-la.
Reparei que ela estava usando o mesmo pó mágico que me entregaram agora pouco como colar.
-Você também tem um? –perguntei, mostrando o cordão para ela.
-Todo ser mágico do Conselho precisa de um. –sorriu –Como sou uma fada, também tenho esses –ela colocou as mechas do cabelo para trás, deixando a mostra seus brincos de pós mágicos.
Tive que me aproximar para enxergá-los bem.
-Esse aqui é pra voar, e como fada guardiã, tenho que sempre andar com ele, porque se... –ela pensou um pouco, ainda apontando pra sua orelha esquerda –sei lá, a gente ficar presa em uma ilha e nossos poderes deixam de funcionar, temos esse pó para nos tirar de lá, que só pode ser usado em casos de emergências, assim como os outros –ela riu e eu a acompanhei.
Em seguida apontou para outra orelha:
-Esse aqui é um pó feito pra você.
-Como assim, pra mim? –engasguei com minha própria saliva.
-Esse pó só pode ser usado em quem você guarda, e eu, no caso, guardo você –assenti –esse é o pó curativo. Por exemplo, você está em uma luta de feitiços, e acaba por ser atingida por um beeeem forte –eu ri com seu "beeeem" –então, eu terei que usar esse pó em você, entendeu? Ele foi feito especialmente para atender qualquer necessidade física que você tiver –assenti novamente –Enfim, você estará bem segura enquanto estiver comigo –ela jogou seu cabelo pra trás, em um gesto "patricinha metida" e eu ri –Já está na hora de você ir. –disse olhando para um mini relógio em seu mini pulso –Ah, espere, qual seu sobrenome?
-Cameron, por quê? –falei, confusa.
Que diferença isso faz? E o que isso tem a ver com qualquer coisa?
-Ninguém, a não ser o Conselho das Bruxas, sabe seu sobrenome. Por uma questão de segurança. –falou em tom de voz mais baixo, olhando ao redor para ver se não tinha ninguém.
Fiz o mesmo, notando que continuávamos só as duas ali.
-Como assim?
-As Trevas iriam atrás de você...seres das trevas, na verdade. –sussurrou.
-Quem são esses "seres da trevas" que você tanto fala? –perguntei, cruzando os braços.
Ótimo, agora vou ser assassinada no meu sonho por falsos Bruxos das Trevas.
-Bruxos, fadas, sereias, duendes, lobisomens, vampiros...todos! –arregalei os olhos.
Ok, esse sonho começou a ficar meio sombrio. Toda essa gente queria me ver morta?
-Sky, olhe pra mim –olhei –você é a Bruxa Escolhida, o que quer dizer que é a única que consegue derrotar o mal, sabe? O verdadeiro mal. Então, se eles soubessem seu nome completo, com certeza iriam atrás de você o quanto antes, porque você não saberia quase nada de magia, entende? –anuí, quando as coisas começaram a fazer mais sentido –Se algo ruim acontecer, você é a única que conseguirá reverter, ok? Não se assuste, isso ainda vai demorar muito, porque eles, as trevas, ainda acreditam que você tem 10 anos, ou seja, não podem te atacar.
-Por que não?
Não era mais fácil me matar quando eu ainda não sabia nada do universo mágico?
Não que eu queira morrer nesse sonho, mas seria o mais lógico a ser feito.
-Porque existe uma regra, que diz que se você atacar um ser mágico que tem menos de 15 anos, uma consequência gigantesca vem pra você.
-Qual? –perguntei, curiosa –E eu já tenho 16...por que não vieram atrás de mim antes?
-Como eu te falei anteriormente, depende da maturidade da pessoa em lidar com a situação. Não somos nós quem decidimos, mas a magia que existe dentro de você. O Conselho das Bruxas tem o registro de todas as crianças que nasceram com poderes em um livro mágico, e a Bola de Cristal, e sim, isso existe de verdade, mostra o seu nome quando você estiver pronta. A única coisa é que você tem que ter, é no mínimo 13 anos...e a Maioridade Bruxa vem com 15, que é quando não há graves consequências no assassinato. Claro, o assassino não sairá impune, mas quem resolverá isso, serão os próprios bruxos. Se a pessoa é menor de idade ainda, quem resolverá é a própria magia.
Pisquei, tentando assimilar toda aquela informação.
Será que tudo isso era real? Era tão complexo para ser apenas um sonho...
-E o que a magia faz para resolver a situação?
-É aí que chegamos no Buraco Negro.
Ela sorriu maliciosamente, me fazendo sentir um arrepio nada agradável no corpo.
Por que isso era tão sombrio?
-O que ele faz? –perguntei, sem conseguir me conter.
-Esse buraco te leva pra uma, hum...como eu posso dizer? –parou um pouco para refletir –espécie de "ilha", na qual magia não é permitida. "Ilha" seria um pouco de exagero, na verdade, já que sugere algo agradável, coisa que o Buraco Negro definitivamente não é. É um lugar vazio, escuro, em que não existe dia nem noite, apenas o escuro. Além de ser totalmente sem vida. Você fica por lá sozinho até o resto da eternidade, a não ser que o mago mais poderoso da face da Terra queira te tirar. E também, os pós mágicos e outros objetos, não funcionam. –ela deu de ombros –Enfim, ninguém quer ir pra lá.
-Por que não existe a porta dos magos? –olhei ao redor, tentando entender.
-Porque só existe um mago no mundo. –sorriu misteriosamente.
-Quem?
-Merlin. –arregalei os olhos –sim, Merlin existe, só que está desaparecido faz muitíssimo tempo.
Onde é que eu havia me metido, afinal?
Vendo que a porta para o meu closet estava aberta, resolvi me adiantar e voltar para o meu quarto. Informação demais por hoje.
Preciso acordar o mais rápido possível.
-Ah sim. –adentrei meu quarto –então, acho que a gente se vê.
Até parece. Não é possível que eu vá sonhar com isso novamente!
-É, até a próxima –ela desapareceu no meio da fumaça.
Respirei fundo, tentando acalmar meus batimentos cardíacos acelerados. Quando senti que conseguiria andar sem sair tropeçando em tudo (consequências das pernas bambas), deitei-me com tudo na cama.
Belisquei meu braço com força, tentando acordar.
Esse sonho não ia acabar nunca mais?!
Minha irmã, Emma, entrou no quarto assim que fechei os olhos:
-Onde estava?
Abri os olhos rapidamente, a olhando com a sobrancelha erguida. Quem ela pensava que era?
-Eu? Aqui!
-Não se faça de boba, faz dois minutos que vim aqui e não estava. –cruzou os braços em frente ao peito.
Sua audácia era inacreditável!
-Quem te deu permissão pra entrar no MEU quarto? –sentei-me na cama.
-Não preciso de permissão. –bufei.
-Acho melhor pedir, porque se não vai se arrepender! –ameacei.
Por mais infantil que fosse, o "vou chamar a mamãe", funcionava muito bem aqui em casa.
-Que medinho, -zombou –fala logo onde estava.
Respirei profundamente, tentando controlar minha irritação. Ela não via que aquele não era um bom momento?!
-No closet. Cai fora daqui, Emma.
-Engraçado, entrei lá agora é tinha uma luz branca bem forte saindo de lá! –sorriu maliciosamente.
Engoli em seco, sentindo minhas mãos começarem a suar.
Droga, o que eu diria?
-Nunca ouviu falar em lanterna?
Lanterna, Skylar? Você achava mesmo que ela iria cair nessa?
-Eu ouvi alguém dizer luz branca? –perguntou Bella, entrando em meu quarto.
Virou festa isso aqui?
-Sua querida irmã deu uma saidinha e se recusa a dizer pra onde foi. –desafiou Emma.
-Não é da conta de vocês e eu não confio em vocês o suficiente pra isso.
Nem em ninguém.
Além de ser "proibido" nesse sonho, todo mundo ia achar que eu surtei.
-Pois deveria. Sabemos muito mais sobre o tal lugar do que você. –falou Bella, de forma suspeita.
Agora mais essa...
Melhor me fingir de sonsa.
-Que tal lugar? Do que estão falando? –perguntei com a minha maior cara de paisagem.
-O armário continua aberto, Emma? –perguntou Bella.
-Não sei, vamos dar uma olhadinha. –Emma respondeu.
Elas deram um passo em direção ao closet, e eu, totalmente em pânico e sem pensar muito, me coloquei na frente delas.
-Isso é falta de privacidade –
Boa, Sky! Privacidade!
-Deem o fora do meu quarto, as duas! –coloquei as duas mãos na cintura, as olhando com raiva.
Elas se entreolharam, sorrindo da mesma maneira sombria.
-Primeiro vamos dar uma olhada no closet, Emma?
-Claro, Bella!
E lá foram elas, me driblando, para que, sem mais nem menos, adentrarem no meu armário.
Dei uma espiadinha rápida, sentindo o alívio me preencher.
Ainda bem que o portal se fechou a tempo.
-Fala logo Sky, você faz parte de que Conselho? -perguntou Emma, e entrei em desespero.
Droga, elas não iriam desistir mesmo.
Espera.
Pausa.
Respira.
Como elas sabem dos Conselhos?
-Con...Conselho? Do que estão falan...do? –balbuciei.
Fala direito, Skylar, assim ninguém acredita na sua inocência, mulher!
-Ah, fala sério, conta logo. E a propósito somos Sereias –revelou Bella.
Arregalei os olhos, sentindo a respiração falhar.
Esse sonho estava mais confuso do que eu esperava.
-De que Conselho você participa? –perguntou Emma.
