Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Sarah Morgan, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 3

Pálida e desamparada, usando um lindo vestido de noiva, Lucy tremia.

Apesar da aliança de ouro que via no dedo, não conseguia acreditar que se casara.

Alheia a toda a celebração ao seu redor, ela observava o prato à sua frente tentando organizar as idéias. Estava casada com Natsu Dragneel ! Era difícil acreditar que tinham se encontrado só há duas semanas na ilha. Depois daquele dia, tudo à sua volta tornou-se um frenesi. Advogados trabalharam horas a fio, papéis foram assinados e cerimonialistas quase enlouqueceram para realizar o casamento da década.

Para ela, tudo não passara de um pesadelo. Por que não previra que o evento chamaria tanta atenção ? Para a imprensa, sempre ávida por fatos novos, e fascinada por Natsu Dragneel, a decisão de se casar com a neta de seu maior inimigo criou uma onda de excitação e curiosidade. Sabendo que os detalhes pessoais da vida do bilionário grego renderiam milhões, fotógrafos estavam em toda parte com seus flashes incômodos, pedindo que ela sorrisse.

A inusitada presença do avô na cerimônia serviu para aguçar ainda mais a curiosidade de todos, que queriam testemunhar o encontro público das famílias Dragneel e Heartfilia.

Natsu lidou com aquela especulação com estudado ar de desdém, ignorando os jornalistas, cumprimentando atenciosamente os convidados, tão confiante como no dia do primeiro encontro.

Lucy, em contraste, sentia horror daqueles fotógrafos intrometidos e mantinha os olhos fixos no chão, na tentativa de impedir tanto assédio.

Não queria que ninguém se interessasse por ela.

Sabia que jornalistas estavam sempre atrás de novos segredos.

E se decidissem fuçar a vida dela ?

E se algum imprevisto impedisse o casamento ? Impedisse a operação da mãe ?

Aterrorizada com a idéia de algo interromper a cerimônia, ela ficou imóvel no altar, com medo até de respirar.

Ela pôs o longo vestido de seda que o avô lhe presenteara, puxou o véu sobre o rosto e torceu para que nenhum convidado percebesse sua face lívida e sua tensão. O papel de herdeira rica era completamente novo para ela.

Quando a cerimônia acabou, quase desmaiou de alívio.

O dia de seu casamento deveria ser um dia feliz, mas como nunca pensara nisso, não tinha expectativa nenhuma para ser frustrada.

- Você poderia tentar parecer uma noiva feliz em vez de uma condenada à morte - sugeriu Natsu, mansamente, trazendo taças de champanhe para um brinde - Afinal, foi você que escolheu estar aqui. Você alugou um bilionário. Sorria.

Lucy bebeu num só gole, o ódio por Natsu Dragneel cada vez maior. Ele era frio, insensível, horrendo. Parecia nem se importar com o fato de não se gostarem.

Ela se casara por dinheiro, por desespero. Diferente dele, que já era bilionário e já tinha uma empresa. Por que precisava de mais uma ?

Ela tremeu ao contemplar o marido. Era igual ao avô: rico, bem-sucedido, inquieto e sempre insatisfeito.

Talvez o champanhe ajudasse a enfraquecer seus sentidos e a esquecer que todos a observavam. Que família grande... quantos amigos...

- Quanta gente...

- Em geral, casamentos têm muita gente - explicou ele, distribuindo cumprimentos - , e foi isso que você ganhou de brinde quando aceitou o acordo. Divirta-se. A festa custou rios de dinheiro.

Dinheiro.

Lucy tentou se concentrar. O dinheiro era a única razão para estar ali. Não importava que todos especulassem o motivo pelo qual Natsu Dragneel se casara com ela. Que se sentia mais sozinha do que nunca. O importante era que a mãe faria a operação que precisava.

Ela desviou o olhar para o homem ao lado dela: seu marido. Ele se sentia completamente à vontade, como se casar com uma estranha fosse normal. Era o sonho de qualquer mulher: sofisticado, caprichoso e riquíssimo. Nunca soube o que era a pobreza, nem sentiu a necessidade de fazer qualquer coisa para ter dinheiro.

O terno escuro acentuava cada centímetro de sua masculinidade perfeita. Os ombros largos, o corpo forte e atlético completavam a figura de um homem nascido em berço de ouro.

Como ele poderia compreender o que a levara a este momento ? "E se ele voltasse atrás ?", pensou ela em pânico. Lucy fora ingênua em confiar nele. Deveria ter ligado para o banco...

Virou-se para ele, o coração batendo forte no peito, imaginando mil situações desastrosas.

- O dinheiro foi transferido para a minha conta ? - a pergunta escapuliu sem sentir e ela calou-se, notando a expressão de desdém dele.

- Está sendo depositado neste exato momento. Aliás, estou até surpreso por você não querer escapar da festa para ir correndo gastá-lo - respondeu ele, contrariado.

Ela sentiu-se aliviada e procurou não se importar com o comentário. O importante era o bem da mãe. Como ousava criticá-la com aquele relógio de ouro no pulso ? Se apenas aquela jóia deveria custar o salário anual dela !

- E a empresa de meu avô ?

- Pertence a mim, agora. Juntamente com suas enormes dívidas e inúmeros processos trabalhistas que certamente me ocuparão por um bom tempo. Acho que teremos que adiar nossa lua-de-mel, pethi mou.

Lua-de-mel ?

Não havia pensado em nada além do dia do casamento. Jamais imaginara que ele tinha planejado uma lua-de-mel. Entrou em pânico.

- Eu... eu não achei que íamos ter uma lua-de-mel...

- Luas-de-mel são para apaixonados, o que deveria ser o nosso caso - despejou ele - Mas atualmente, não tenho tempo para esposas. Por isso, nada de lua-de-mel.

Lucy fechou os olhos e respirou aliviada. Ela não suportaria uma lua-de-mel. Desse modo, ele não teria tempo para ela. Poderiam viver suas vidas, cada um para seu lado. Tudo ficaria bem. Ela se acostumaria com a nova rotina.

Os olhos percorreram o enorme jardim onde a festa era realizada. Por todo lado, luxo e riqueza. Mulheres elegantes e homens ricos do mundo inteiro tinham vindo prestigiar o casamento de Natsu Dragneel.

Será que tinham percebido que, apesar de ser a herdeira de Alexandros Heartfilia, ela nunca circulara nas altas rodas ? O que diriam se soubessem que trabalhava como garçonete para aumentar a renda ? E que não tinha dinheiro algum ?

Bem, agora tinha. Graças ao marido, tornara-se milionária. Pelo menos, no papel. Tinha combinado no banco que o dinheiro seria automaticamente transferido para o fundo de assistência médica da mãe.

- O que você está planejando ? - murmurou ele, observando-a com um brilho nos olhos - Parece que está tramando alguma coisa...

- Não estou tramando nada - retrucou ela, na defensiva.

- Não acredito.

Antes que ela dissesse algo, ele se aproximou e puxou a bonita presilha que prendia-lhe os cabelos.

- O que você está fazendo ?

- Paguei por você e bem caro, agape mou - insinuou ele, olhando-a com forte interesse - Por isso, tenho direito de usá-la como quiser.

- Não sou sua propriedade ! - protestou ela, ultrajada.

- Claro que é. Você é minha propriedade, Lucy. Cada pedacinho seu. Seus cabelos sedosos e seus olhos belos e inocentes. Esse corpo maravilhoso usado milhares de vezes para convencer os homens a gastar dinheiro com você. Tudo é meu, Lucy.

- Você fala como seu eu fosse uma...

- Ordinária ? Prostituta ? São essas as palavras que procura ? Você parece bem satisfeita com a carreira que escolheu. E quem poderia recriminá-la ? Há maneiras bem piores de ganhar dinheiro.

- Seja lá qual for a sua opinião, eu não sou promíscua - defendeu-se, os olhos arregalados pelo ultraje.

- Não deve ser mesmo, pelo preço que cobra. Você sabe como se manter exclusiva. Só os mais ricos podem pagar - continuou ele, irônico.

- Eu o odeio !

- Pode ser. Mas precisa do meu dinheiro, pethi mou, o que demonstra bem o seu caráter, não acha ?

Dominada pelo impulso de contar tudo, Lucy ficou olhando aquele rosto lindo e arrogante e teve vontade de esbofeteá-lo.

Não podia contar. Não agora...

E não precisava se defender perante um homem que não gostava, nem respeitava.

Ela se levantou para sair quando ele a deteve pelo pulso.

- Aonde pensa que vai ? - indagou ele, os olhos brilhando - Você agora é minha esposa e espero que se comporte como tal. Não é hora para acessos de raiva. Todo mundo está nos olhando. Sente-se.

Lucy assentiu e voltou a sentar-se. Como suportaria viver ao lado dele ?

Com ódio, notou uma mulher morena observando-a com expressão de desapontamento.

- Agora entendi por que você disse que as pessoas estão me olhando. Parece que aquela ali está bastante desapontada. Será que gostaria de estar sentada aqui ?

Natsu olhou para o lugar onde estava a moça e sorriu.

- Muitas mulheres gostariam de estar no seu lugar, pethi mou, você tem sorte.

- Você nem se importa, não é ? Insensível. Ela deve estar magoada.

- Magoada ? Engraçado... nunca achei que você fosse romântica. Afinal, se casou por dinheiro. Quer me dizer que acredita no amor ? - provocou ele.

- Ela parece arrasada... - ele sorriu, cínico.

- Você também ficaria, se tivesse que mudar seu estilo de vida. Relaxe. O amor dela será do tamanho da carteira do próximo ingênuo rico que ela conquistar.

- Francamente ! Como pode falar assim das mulheres ?

- De mulheres de seu tipo, talvez...

O tom era suave, mas letal em seu objetivo. Ela não podia contradizê-lo.

- Não vamos fingir que acreditamos em contos de fada e amor eterno. Se fosse assim, você não estaria aqui.

Amor.

Aquela moça daria tudo para estar em seu lugar. Ela, e outras tantas. No entanto, Lucy nunca se sentira tão miserável em toda a sua vida.

De repente, Natsu pegou em sua mão. Surpresa com a atitude, ela olhou para ele e ficou encantada pelo olhar sedutor. Aqueles olhos negros traziam uma promessa de paixão, a mantinham cativa pela sutil sensualidade.

Ele tinha um magnetismo que...

Ele inclinou-se para falar algo e Lucy quase parou de respirar.

- Minha mãe está vindo aí e quer conversar com você - murmurou ele em seu ouvido, os dedos brincando com os cabelos - Não quero que fale nada que a aborreça, entendeu ? Ela acha que estamos apaixonados. Qualquer tolice, o dinheiro acaba.

O tom ameaçador de suas palavras deixou Lucy tensa.

- Ela deve saber que fizemos um acordo de negócios. Nos conhecemos há quinze dias - murmurou ela, tentando respirar.

- Minha mãe é romântica. Acha que o destino nos reuniu e que nós nos apaixonamos. É como se a disputa encerrasse seu ciclo. Seus pais morreram e agora estamos juntos.

Lucy respirou fundo e virou-se para cumprimentá-la. Já haviam se encontrado rapidamente antes da cerimônia, mas ela mal prestara atenção. Sua sogra não passava de uma Dragneel, mais uma para ser odiada. Mas quando Lucy olhou para Sophia Dragneel e viu seus olhos meigos e a expressão orgulhosa do rosto, sentiu que não podia odiá-la. Ela era apenas uma mãe feliz no casamento do filho querido.

- Você está linda, Lucy. Sua mãe sentiria orgulho de você, se pudesse presenciar este momento - comentou ela, carinhosa.

Que ironia... sua mãe estaria horrorizada se soubesse com quem se casara.

Como não podia revelar que a mãe continuava viva, Lucy controlou sua emoção e tentou se concentrar.

- Este é um dia feliz para nossas famílias. Foi muito bom seu avô ter concordado em vir. Todo mundo gosta de ter a família por perto no dia do casamento - disse ela, sentando-se ao seu lado.

Família. É claro que a mãe de Natsu não sabia que ela conhecera o avô há apenas duas semanas e que nunca tinham tido nenhuma aproximação.

Ela quase revelou que não o considerava da família, mas não seria prudente.

Se eles descobrissem a verdadeira história, saberiam que o casamento não era para unir, mas para vingar.

Sentindo-se culpada por enganá-la, mudou de assunto.

- Eu não tinha idéia que Natsu tinha uma família tão grande.

- Agora eles também são sua família - disse a sogra, pegando uma de suas mãos - Você não faz idéia de como eu esperei por este momento. Pensei que Natsu nunca abandonaria a vida de solteiro. Achei que ele jamais encontraria uma boa moça.

Vendo a emoção daquela mãe, Lucy sentiu-se desconfortável. Não podia fingir para ela, não conseguiria.

- Minha mãe acredita em finais felizes - comentou Natsu, cercado pelos primos e tios.

Havia uma clara advertência naquelas palavras. Mas Lucy procurou não dizer nada, lembrando-se que não tinha que se desculpar perante eles.

- Eu gostaria de ter netos - confessou a sogra, olhando nos olhos de Lucy - Acho que seu avô também.

Quanta inocência ! Netos !

E é claro que isso nunca aconteceria. Ela fechou os olhos e disse para si mesma que odiava a família Dragneel. Odiava o avô e aquela briga. Odiava tudo o que era grego, porque a desgraça da sua vida vinha dali.

Por que então sentia a consciência pesada ?


Natsu observava a esposa com olhos velados.

Estava acostumado com a ganância das mulheres, mas se surpreendera com ela.

Lucy não se importava nem em fingir algum interesse, só estava preocupada se o dinheiro havia sido depositado na conta dela...

Seu desespero era evidente. Durante toda a cerimônia, estivera pálida e ansiosa. Qualquer pessoa que a observasse, notava que ela precisava do dinheiro.

Ele deu um sorriso amargo, pensando que "precisar" era um termo relativo para a herdeira de Heartfilia, já que ela parecia possuir uma ambição desmedida.

- Então, no que você vai gastar sua nova fortuna ? Vai comprar mil pares de sapatos ou algo mais significativo ? Talvez um iate ? Cavalos de corrida ? - provocou ele.

- O que disse ?

Pela primeira vez, ele notou as olheiras de Lucy. Com certeza não havia dormido bem ultimamente, temendo que o plano não desse certo.

- Estava perguntando como você pretende gastar o dinheiro - repetiu ele, percebendo que ela não lhe dava atenção - Afinal, sou seu marido. Acho que devia saber.

- Ah... entendi. Acho que... acho que vou fazer umas compras - respondeu ela, hesitante.

Natsu se conteve para não retrucar que ela teria que fazer compras até desmaiar de cansaço, se fosse para gastar apenas uma fração do que ele depositara no banco.

Ele se levantou e estendeu a mão.

- Hora de mostrar serviço. Vamos, os noivos devem começar a dança.

- Dança ? Eu e você... vamos dançar ?

- É a tradição.

Ele a enlaçou e sorriu para o rosto assustado dela.

- Chegou a hora de mostrar a todos o que vieram ver, pethi mou.

Ele a conduziu até a pista de dança, o braço em torno da cintura num gesto carinhoso. Na verdade, ele estava impedindo que ela saísse correndo.

- Sorria para mim como se eu fosse o único homem na face da Terra - ordenou ele com a voz suave, no meio da pista de dança - Nós somos o centro das atenções e não podemos desapontar nossos convidados.

- Isso é ridículo. Achei que seríamos honestos um com o outro.

- Em particular, sim - Natsu chegou bem perto dela para não ser ouvido - Mas, em público, nós temos que manter as aparências. Minha mãe precisa achar que este casamento é verdadeiro e o mercado financeiro também. Por isso, vamos fazer com que pareça real.

Os olhos dele ficaram presos no perfeito desenho de sua boca. Sentiu-se hipnotizado por aqueles lábios ligeiramente afastados. Seu corpo se retesou numa resposta primitiva àquele gesto de vulnerabilidade.

- Você está se iludindo. Qualquer um que nos olhe vai perceber que este casamento não passa de um acordo de negócios.

- Então, chegou a hora de provar-lhes que estão errados !

Ele a puxou num claro gesto de possessão e sentiu que ela ficou arrepiada quando seus corpos se tocaram pela primeira vez.

Natsu prendeu a respiração quando percebeu a química entre seus corpos. Era como se tivessem reconhecido algo em comum que eles mesmos não haviam percebido. O cheiro suave de Lucy envolveu-lhe os sentidos, seduzindo corpo e mente.

Ambos ficaram calados. Ele notou a respiração dela enfraquecer e as pupilas dilatarem.

Lucy tremia em seus braços e, pela primeira vez, ele notou como ela era delicada. Tivera uma impressão equivocada naquele primeiro encontro por causa do decote, mas agora notava como ela era esbelta, quase frágil.

Admirado pela atração que sentia por ela, apertou-a ainda mais contra seu corpo. Sua libido se manifestava independentemente do fato de ela ser gananciosa. Interesseira ou não, era linda também, e poderia ter suas compensações. Como não teriam que perder tempo conversando, a noite prometia...

Ela tentou se afastar, mas ele a segurou com firmeza.

- Engraçado como nossos corpos parecem perceber algo que não conseguimos, não acha ?

- Não sei do que você está falando - respondeu ela, uma das mãos contra seu peito, numa tentativa frustrada de afastá-lo.

Natsu afastou a mão dela e inclinou-se ainda mais, as bocas quase se encontrando.

- Você sabe, sim, do que estou falando.

- O que você está fazendo ? Está todo mundo olhando...

Ele nunca vira olhos iguais aos dela.

- Para alguém tão gananciosa, você é muito sensível - murmurou ele, prendendo-a nos braços - Por que se importar com o que as pessoas pensam ?

- Não gosto de ser observada.

Ele achou graça. Ela era uma herdeira protegida demais.

- Bem, então é melhor se acostumar logo, pethi mou. Passei minha vida sendo observado.

Outros casais começaram a dançar e Natsu percebeu que ela mal se movia em seus braços. Parecia estar agarrada nele como se sentisse medo de deixá-lo partir.

De onde vinha tanta vulnerabilidade ?

Provavelmente era mais uma tática que ela usava para atrair homens ricos.

Lucy não passava de uma mulher cruel e manipuladora que não media esforços para aumentar a conta bancária.

- Não vou soltar você. Quando decidiu se casar por dinheiro, ganhou um pacote completo - disse ele, tentando adivinhar porque ela não gostava de ser observada.

- Não concordei com exibições em público - protestou ela.

- Você concordou em ser minha esposa, com todas as obrigações incluídas. Sabe o que eu acho, pethi mou ? Que você está tão cega pelo dinheiro que não consegue ver mais nada à sua frente.

Ele notou uma delicada veia pulsando em seu pescoço, a tensão emanando do corpo dela em perfeita sintonia com o dele.

Como ele pôde achar que a herdeira de Alexandros Heartfilia era fria ?

Reservada na aparência como todas as inglesas, ele pressentia que o sangue grego dela seria suficiente para assegurar uma vida sexual bastante satisfatória.

Ele baixou ainda mais a cabeça e suas bocas quase se tocaram.

- Você já conseguiu o que queria, o cheque. Agora é a minha vez.

Ela se sentia acuada como um animal preso numa armadilha.

- Você também conseguiu o que queria, a empresa do meu avô.

- A empresa do meu pai - relembrou ele, a mão subindo até o pescoço - E isso é só uma parte do que eu quero. Chegou a hora de me servir do restante.

Num gesto rápido, ele possuiu aquela boca que desejara desde que a vira na ilha. Mostraria a ela no que se metera quando resolveu se vender por dinheiro.

O calor e a doçura que encontrou naquele beijo fizeram seu desejo aflorar.

Uma excitação instantânea e avassaladora se apossou dele, obrigando-o a puxá-la para mais perto.

Ele podia sentir cada arrepio do corpo de Lucy. Sentir suas reações em seus olhos castanhos.

A parte racional do cérebro lhe dizia que a situação estava fugindo ao controle, mas o calor daquela boca o enfeitiçava e ele não conseguia se afastar.

O sangue latejava nas têmporas, cegando a razão. Nunca sentira tanto desejo por uma mulher.

Ele ouviu um leve gemido que quebrou o encanto sensual com que ela o envolvera.

Então soltou-lhe a boca contrariado, pensando no que estava acontecendo.

Ele nunca perdia o controle, independentemente de qualquer provocação. Por que se deixara levar, depois que possuíra aqueles lábios ?

O corpo dele se ressentia pela tensão acumulada, os nervos estavam à flor da pele e sua masculinidade latejava.

Sentia-se irritado por ter sido tão afetado por ela e tentava racionalizar seu próprio comportamento.

Por que tanta surpresa ? Sua esposa era uma linda mulher que sabia manter uma aparência de inocência e vulnerabilidade para tentar um homem grego tradicional como ele. Era impossível resistir.

E a solução era levá-la logo para a cama. As mulheres, mesmo as bonitas, não conseguiam manter seu interesse por muito tempo. Uma noite ou duas seriam suficientes para ele se satisfazer com ela. Depois, pensaria no que fazer.

Decisão tomada, ele agarrou um dos pulsos de Lucy e a arrastou para fora da pista de dança sem dizer uma palavra.

E para que os convidados não tivessem dúvidas de seus sentimentos em relação à noiva, pegou-a no colo e a beijou novamente, deixando-a atônita.

Sorrindo para a mãe, que o observava com lágrimas nos olhos ao lado do pai, ele atravessou o jardim na direção da limusine que os aguardava.

Lucy ficou paralisada. Era como se quisesse realmente ser tirada dali.

Ele estranhou, pois pensava que o que as mulheres mais gostavam, depois de dinheiro, era de festa.

A cabeça dela repousava no ombro dele em total desamparo e ele sentiu um sentimento aflorar. Mas desconsiderou-o.

Ela era boa, admitia. Já estava querendo amarrá-lo. Qualquer tolo pensaria que ela estava feliz por estar em seus braços.

Ainda bem que era esperto...

Uma noite, uma noite seria suficiente para engravidá-la e encerraria o assunto.

Ele retomaria sua vida e ela teria a dela, gastando o dinheiro dele.


P. S.: Nos vemos no Capítulo 4.