Segunda Parte - Fraqueza
As pernas trêmulas de Snape o levaram para dentro do templo. Aquela, entretanto, não era sua tão amada igreja simples em Mitcham. Não poderia fazer o que deveria no seu lar, não poderia confiar algo daquela magnitude ao Padre Flitwick, que já estava habituado a ouvir suas confissões.
Realizou, então, uma viagem rápida até Hackbridge, Wallington, para se encontrar com aquele que esteve ao seu lado por muitas vezes e que sempre tinha as coisas certas a dizer. Fez o sinal da cruz quando atravessou a porta. Viu um fiel se retirar do confessionário, e não perdeu tempo até cruzar todos os metros que o levariam até a cabine.
Fechou a cortina rubra às suas costas e se sentou com pesar. A voz do Monsenhor Dumbledore preencheu seus ouvidos. Assim que falasse, o velho saberia que a pessoa do seu outro lado era Severo, a quem tinha como filho. Porém, permaneceria neutro.
— Boa tarde — Dumbledore o cumprimentou, ainda sem saber de quem se tratava.
— Tarde, padre. — Snape não poderia saber, mas a postura do monsenhor enrijeceu. O que o trazia até Wallington para se confessar? — Padre... Perdoe-me, pois eu pequei.
— Quanto tempo faz desde sua última confissão?
— Uma semana, mas-
— Diga, filho — a voz de Monsenhor Dumbledore era suave. — O que fez? Inveja? Vaidade? A vaidade tem tentado muitos dos nossos... — Decidiu abandonar o anonimato.
— Esses pecados eu já confessei com outro padre. Mas este, senhor, eu não poderia confiar a mais ninguém. — Snape engoliu em seco. — Padre, eu cometi o pecado da luxúria.
. . .
Três dias antes.
Dentro do carro de Neville, sua postura era calada e inquieta. Não era a mesma desde dois dias atrás, quando Padre Snape a flagrara dançando. A perda daquele poema também tirou seu sono, preocupada demais com a possibilidade de tê-lo perdido justamente dentro da igreja. A perturbação de todos aqueles últimos acontecimentos não a abandonaram em momento nenhum, e agora parecia mais latente enquanto estavam a caminho da casa dele. Quase se esquecera do encontro combinado pelo trio para conversarem sobre o andamento das aulas de música e do ainda recente grupo de leitura.
— Tá tudo bem? — O rapaz ao volante perguntou com os olhos ainda na estrada. — Você parece um pouco distante.
— Sim — murmurou. — Só estou pensando em algumas coisas sobre a universidade.
— Ah sim... Você saiu tão rápido naquele dia, nem tive tempo de agradecer. As crianças adoraram sua presença na aula.
— Eu lembrei que tinha um compromisso — mentiu. Descobriu, assim, que mais ninguém tinha visto o padre naquele dia além de você. Sentiu-se aliviada por isso.
Neville estacionou seu carro logo atrás de um Ford Fiesta – o carro do padre, que estava parado na frente de sua respectiva casa. Era simples, elegante e preto. Combinava com ele. A casa, por sua vez, era muito clara e havia alguns pequenos arbustos na entrada, que você não soube identificar quais eram as flores.
Snape não demorou muito a atendê-los assim que Neville apertou a campainha. Os dois homens se cumprimentaram com um abraço rápido. Você estendeu sua mão para que o padre pudesse apertá-la, mas ele a encontrou também num abraço muito rápido e lhe depositou um beijo na têmpora.
Você tremeu.
Snape os recebeu com sucos e algumas guloseimas, que foram atacadas por Neville. Os três se sentaram confortavelmente pela sala e passaram a discutir alguns pontos. O professor de música comentava que observara uma grande melhora em seus alunos desde o início do grupo de leitura administrado por você. Segundo ele, as crianças – suas crianças, como gostava de dizer – estavam apresentando não só melhores interpretações, mas também surgiam com mais sugestões de músicas, geralmente algumas citadas nos próprios livros, outras que achavam que tinham a ver.
Por diversas vezes – na verdade, incontáveis vezes – você agradeceu por Neville ser uma pessoa totalmente desatenta, porque qualquer outro ser humano teria percebido a tensão entre você e o Padre Snape. Os olhos negros daquele homem – maldito, você pensou – frequentemente encontravam os seus para logo depois fugirem. Ele também sempre a citava para trazê-la à conversa, dirigia a maioria das perguntas a você, e até mesmo quando falava com Neville, parecia estar dialogando com você.
Até que aconteceu a eventualidade fatídica.
O celular de Neville os interrompeu. O nome de Luna na tela o deixou alerta e ele pediu licença antes de se dirigir até a cozinha para atendê-la. Sozinhos na sala, você e Snape se mexeram desconfortavelmente em seus assentos.
— Será que aconteceu algo sério? — Você se questionou.
— Pelo nome do Senhor, eu espero que não.
Você tomou o momento para tentar se desligar daquela situação. Pegou o seu celular de dentro da bolsa e acessou uma de suas redes sociais, procurando se distrair do homem sentado no sofá ao lado. Mas nem sua atenção parcialmente focada nas postagens de conhecidos e famosos que seguia impediu que notasse que os olhos do padre estavam em você mais uma vez.
Mas como não olhá-la?
Você era linda. Snape concordaria que estaria mentindo ao dizer que era a mulher mais linda que já vira, porém, a questão era que havia algo em você que a diferenciava de todas as outras; afinal, não era à toa que você era a primeira e única a perturbá-lo daquela forma. Poderia ser seus traços brasileiros, a mente afiada, os gostos cultos, o talento (ele não pudera esquecer daqueles versos escritos por você), a maneira como se mexia, como dançava... A maneira como o olhava.
A verdade era que desde que o conhecera você estivera interpretando um papel que não lhe servia. Você não era do tipo tímida, comedida, pudica. Pelo contrário, possuía uma postura muito mais forte, segura e até dominadora. Contudo, o absurdo daquela situação, a imoralidade que infringia até mesmo seus poucos pudores, a fazia fingir com uma personagem recatada que não se parecia em nada com você mesma.
Estava tentando proteger a si mesma e à castidade de Padre Snape. Mas até onde poderia reprimir seus desejos e negar os dele?
— Bem — Neville, felizmente, retornou —, preciso ir.
— O que houve? — Você questionou com o coração apertado.
— Lysander sofreu um pequeno acidente. Nada demais — ressaltou perante o assombro dos outros dois —, ele estava brincando num parquinho e caiu do alto do escorrega. Parece que quebrou um braço. Luna está assustada e pediu que eu fosse até lá.
— Claro que sim — Snape disse. — Diga a ela que desejamos melhoras. Estarei rezando por ele.
A porta se fechou levando a presença de Neville embora, e você e seu objeto de desejo se encararam em silêncio. Lentamente, ele voltou a se sentar no mesmo lugar de antes.
— Como vai seu mestrado?
— Um pouquinho puxado — riu. — Comecei a escrever minha dissertação e... tem sido interessante.
— Eu adoraria ler quando terminar.
— Enviarei uma cópia para o senhor.
— Não me chame de senhor, por favor — ele pediu, encabulado. — O Senhor está no Céu.
Você sentiu uma súbita vontade de revirar os olhos, mas conseguiu ignorá-la. Era uma pena. Chamá-lo de senhor não era de todo mal.
— Aceita mais alguma coisa? — Você negou enquanto ele levava os copos até a cozinha.
Então, você se levantou e caminhou até a estante alta que ficava entre a lareira e o cabideiro. Seus olhos escanearam superficialmente a lombada dos livros, que indicavam, muitos pelos títulos, obras sobre religião, espiritualidade; havia alguns romances também. Mas foi um título em particular que chamou sua atenção e fez com que inclinasse a cabeça para o lado em pura surpresa e curiosidade. O livro estava mais para frente do que os outros, revelando que era manuseado com frequência ou, pelo menos, tinha sido recentemente.
Ouviu os passos dele atrás de si, retornando da cozinha. Virou-se para ele com O Crime do Padre Amaro em mãos e apenas o mostrou para ele, uma sobrancelha arqueada. Se Snape fosse o tipo de pessoa que corasse, ele com certeza estaria tão vermelho quanto um tomate. Contudo, apenas ergueu sua sobrancelha de volta para você.
— Não é meu — ele mentiu.
— Entendo... — Você sorriu com travessura e devolveu-o para seu lugar na estante.
Aquilo era o mísero indício que você precisava para saber que Snape não era tão inocente quanto pensava.
. . .
— Eu tentei, eu juro que tentei — ele tentou garantir a Dumbledore, que ainda o ouvia com assombro. — Mas, mas-
— Mas o quê, Severo?
— Eu não pude... Eu não pude lutar contra isso.
— Você é, ou deveria ser, um homem de Deus, Severo. Fazemos juramentos sagrados e milenares. Foi tudo uma farsa? Já não respeita mais o Senhor? — Ralhou aos sussurros, os dois ainda no confessionário. — Eu jamais esperaria isso de você.
— Não coloque minha fé em questão, Alvo! Eu escolhi o sacerdócio porque servir a Deus é minha maior alegria. Mas ainda sou um humano, um pecador. E não é culpa minha se Deus fez o homem muito mais fraco do que o Mal.
. . .
A existência daquele livro na casa de Snape não só lhe confirmara certa transgressão do padre como também a encorajou a abandonar aquela personagem doce e cândida. Descobriu que provocá-lo era um passatempo muito divertido.
Voltou a se sentar quando ele se dirigiu ao aparelho de som, conectando-o ao celular. A voz grave de Nick Cave ressoou por toda a casa e Snape voltou a se sentar no sofá. Você pegou sua bolsa novamente, desta vez apenas para fingir procurar algo inexistente. Quando colocou a bolsa sobre seu colo, garantiu que, num movimento falsamente espontâneo, ela tivesse puxado sua saia alguns centímetros para cima. Seus olhos permaneceram na bolsa, mas sua visão periférica o pegara observando suas pernas.
Ele estava perdido.
Subitamente, você pediu licença e decidiu aproveitar seu rompante de coragem – e de falta de vergonha na cara. Caminhou até o aparelho que continuava a tocar algumas músicas e escolheu uma canção totalmente distinta daquelas que pertenciam à playlist dele.
O ritmo inconfundível do samba se iniciou. Quando virou-se para Snape, ele a olhava com incompreensão e nervosismo. O som dos instrumentos, do pandeiro, o transportaram para a lembrança de alguns dias atrás. Você dançando, o sorriso estonteante no rosto, os quadris se movendo e, mais tarde, o poema esquecido no chão, o que o levou a muitos pensamentos, muitas condenações, dez "Pai Nosso" e quinze "Ave Maria" antes de ceder para a tentação de pôr a mão por dentro da calça.
Você estendeu a mão direita para ele. Snape encarou sua palma virada para cima e depois prendeu os olhos negros nos seus.
— Você dança? — Perguntou quando ele finalmente pôs a mão sobre a sua. Um calor estranho para ele e conhecido por você se espalhou pelo seus corpos.
— É claro que não — ele respondeu com a voz grossa.
— Então deixa comigo. Eu te ensino — piscou para ele.
Por iniciativa própria, o padre colocou uma das mãos em suas costas, num espaço seguro, enquanto sua mão esquerda parou sobre a base da nuca dele. Você se moveu com passos muito simples, fora do ritmo da música, apenas para situá-lo sobre alguns passos básicos. Ele levava jeito, você se surpreendeu. Havia certa facilidade e ginga no corpo esguio dele, e essa conclusão a fez respirar mais fundo.
Uma vez que ele aprendera os poucos passos e o ritmo, involuntariamente a mão dele escorregou para a sua lombar, e os seus dedos que estavam apoiados nas costas dele começaram a se mover numa carícia contra a pele da nuca. Durante um dos passos, uma das pernas dele ficou entre as suas; Snape questionou-se, então, se era comum que estivesse tão quente. Segundos depois, o passo se repetiu e você moveu o quadril um pouco mais para baixo, friccionando sua intimidade contra a coxa dele.
Tinha sido tão rápido que poderiam fingir que nunca havia acontecido. Porém, a sensação estava lá. Você precisou morder os próprios lábios e Snape sentiu a sua umidade ultrapassar o tecido fino da calça dele; foi o que despertou a razão no homem.
— Nós — ele se afastou — não deveríamos estar fazendo isso.
— Não, não deveríamos — concordou sem nenhum tom de arrependimento em sua voz.
— Não quero expulsá-la. Por favor, não me compreenda mal, mas-
— Mas quer que eu vá embora — você o interrompeu, embora não tivesse movido nenhum músculo.
— É o certo a se fazer.
— Nem sempre é sobre o que é certo, mas sobre o que queremos. — Você deu um passo na direção dele. Ele não se mexeu. — E o que você quer, Severo?
Era a primeira vez que você o chamava pelo primeiro nome. O padre desejou que não o tivesse feito, pois, na sua boca, aquelas letras pareciam mel, e por um ínfimo momento ele quase pôde imaginar que não era o Padre Snape.
— O que quero não convém — encontrou sua voz.
— Não? — Franziu seu cenho. — Não pode viver à função dos outros, Severo.
— Dos outros? — Ele ergueu a voz, tão estressado quanto perturbado. — Vivo em função do Senhor.
— E o Senhor quer que seja feliz — quase se sentiu culpada por usar aquilo contra ele. — Não é isso que Ele quer para todos os Seus filhos?
— Mas não que vivamos em pecado!
— Já nascemos pecadores — deu mais um passo — e morreremos pecadores também. — Suas mãos descansaram sobre o abdômen dele. A respiração de Snape se prendeu, você se aproximou, roçando a ponta do nariz pela mandíbula dele. — Um pecado a mais, um pecado a menos, que diferença faz? Divida esse pecado comigo, não carregue a cruz sozinho. — Sussurrou.
Snape abaixou o rosto para poder olhá-la, foi quando seus lábios não puderam fugir do que era clamado há tanto tempo. Não era o primeiro beijo dele. Tinha beijado pelo menos duas ou três vezes antes de decidir ingressar no seminário, mas aquilo tinha sido muitos anos atrás. Era quase como se beijasse pela primeira vez, sentia o mesmo frio na barriga, embora, desta vez, também estivesse ciente que sentia aquela sensação estranha mais abaixo.
Você permitiu que o primeiro contato fosse delicado, iniciando em um roçar de lábios para depois definitivamente acabar com os milímetros que ainda os separavam. Em seus braços, Padre Snape estava rígido e inseguro, talvez até desconfortável. Quando notou que ele a segurou pelos braços para afastá-la, você forçou sua língua para dentro da boca dele, e o aperto que uma vez tivera o objetivo de te afastar, desta vez te puxou para mais perto.
Ele tinha gosto do suco de laranja que havia tomado há poucos minutos, e soube que você também não deveria estar muito diferente. Mas havia mais algo ali; um leve toque de gengibre – lembrou-se dos biscoitos que ele oferecera – misturado com fogo, inocência e pecado. Era delicioso.
Subitamente, Snape conseguira forças o suficiente para afastá-la. A separação brusca das bocas coladas causara um som molhado e uma fina linha de saliva os manteve unidos por poucos segundos. Nos seus olhos, por mais que não pudesse se ver, sabia que transbordava desejo, enquanto as íris nanquins de Snape não estavam muito diferentes, embora também gritassem por clemência.
Talvez Deus se compadecesse do pobre padre. Você, contudo, não iria.
— É melhor que vá — ele murmurou sobre a respiração descompassada. Os olhos dele se fecharam quando seus lábios inchados e ainda úmidos, desta vez, marcaram a pele do pescoço que a gola deixava à mostra. — Por favor...
— Eu vou — sussurrou de volta, empurrando o corpo já sem resistência para que caísse sentado sobre uma das poltronas brancas. — Vou satisfazê-lo.
Snape não teve muito tempo para pensar – nem argumentar – quando o beijou mais uma vez e conseguiu se encaixar sobre o colo dele, certificando-se de que sua boceta estivesse sobre a ereção cada vez maior trancafiada dentro das calças dele. Você rebolou para causar maior atrito e gemeu quando ele apertou suas coxas. Era divertido, precisou confessar, como as mãos dele brigavam entre a razão de empurrá-la para longe e a vontade de mantê-la o mais próximo possível. Ele tinha mãos muito boas, grandes e elegantes. Sentiu-se fraca quando elas a seguraram com firmeza pelas pernas para a carregar até o quarto.
A próxima coisa que sentiu foi o colchão não muito macio contra suas costas. Snape abandonou seus lábios para trilhar um trajeto blasfemo do seu queixo até o início do ombro direito. Seus olhos abriram com um estalo, surpresa com a gradual perda de vergonha do padre. Vislumbrou a Bíblia sobre a mesinha de canto, o crucifixo pregado à parede pintada de azul claro, o terço pendurado na cabeceira de madeira e a imagem de Nossa Senhora sobre a cômoda. Voltou a fechar os olhos.
Suas sandálias foram removidas e descartadas pelos dedos trêmulos do homem. Você o agarrou pela camisa – era a primeira vez que o via sem a batina ou aquele colarinho branco ridículo – e o puxou para si para beijá-lo de novo. Os botões pretos da camisa igualmente preta foram quase arrancados, e a peça de roupa também foi esquecida em algum lugar. As duas únicas coisas que quebravam a palidez do abdômen de Snape eram os pelos ralos do peito e o cordão de prata em volta do pescoço, que descansava um pingente delicado de cruz no centro de seu corpo. Não teve tempo de se sentir culpada ou incomodada com mais uma prova da devoção dele. Estava mais ocupada com outra coisa.
Você inverteu a posição, voltando a sentar sobre ele. Sua língua perversa umedeceu o pescoço, o centro do peito, os mamilos, passeou até mesmo por cima do cordão. Mordeu a barriga, um pouco acima do osso da bacia, antes de desafivelar o cinto (também preto) e remover as calças junto da cueca (todas pretas, também. Ele estava se tornando repetitivo). As últimas roupas dele jaziam no chão, assim como os sapatos e meias, quando você se permitiu devorá-lo com o olhar.
Por mais idiota e genérico que aquilo soasse, você não pôde deixar de pensar que Snape era um pedaço de mal caminho.
Ele era magro, mas ainda assim seu corpo era largo, o que dava uma breve ilusão de que era mais forte do que realmente era. Os pelos ralos do peitoral tornavam-se mais escuros conforme desciam até seu pau, e sua boca salivou. Snape quase se encolheu sob o seu escrutínio e o pescoço dele foi tingido de rosa quando se sentiu envergonhado. Não era para menos; você ainda estava muito vestida, isso era injusto. Então sua blusa e saia foram jogadas no chão. Seu corpo só era tampado pela lingerie verde que usava.
Suas mãos tocaram as coxas de Snape, que inspirou mais forte, muito perto da ereção que apontava para cima. Quase pensou que era um desperdício aquilo estar intocado – pelo menos por outra pessoa – por todos esses anos, mas mudou de ideia quando regozijou ao concluir que era a primeira. Sentiu-se vitoriosa. Uma gota de suor começava a escorrer pela têmpora de Snape, seus dedos estavam agarrados no lençol que cobria a cama e você se compadeceu. Foi por isso que finalmente fechou os lábios sobre a cabeça avermelhada.
. . .
— Eu ouvi bem? — Dumbledore teria gritado se pudesse. — Está colocando sua culpa na conta de Deus?
— Não! — Snape já não segurava mais as lágrimas que vieram aos seus olhos. — Eu quis dizer que as coisas mundanas são muito poderosas, muito mais do que julgamos. Todos nós, homens, humanos, pecadores, estamos sujeitos a isso. Mas não me sinto menos culpado pelo que aconteceu.
— Jamais achei que seria tão fraco, Severo. Sempre foi o mais centrado dos meninos mais jovens, sempre manteve-se íntegro... Ou foi tudo mentira? Ou sempre vestiu uma máscara?
— Minha devoção é mais do que verdadeira, monsenhor. — Soluçou. — Eu juro, pelo amor de Deus, eu juro que tentei resistir. Eu juro...
. . .
A cabeça de Snape caiu com brusquidão sobre o colchão e pôde jurar que seu gemido estremeceu os móveis. Você parecia ser onipresente, estava em todo lugar. Estava no pau, nas pernas que tocavam as suas, no abdômen que era açoitado pelas suas unhas, na mente que só sabia pensar em você. A glande alcançou sua garganta quando o forçou pela boca, os lençóis quase foram arrancados do colchão. Os lábios de Snape se moviam rapidamente em murmúrios. Você não sabia dizer se ele gemia, revelava suas sensações e desejos ou se rezava. De qualquer forma, as palavras incompreensíveis se transformaram em gemidos entrecortados e ele gozou com louvor. Achou ter escutado "tenha misericórdia" quando mostrou o sêmen dele em sua língua antes de engolir, mas não tinha certeza.
Ele tinha as pálpebras cerradas, o queixo para o teto e tentava regularizar a respiração. Você aproveitou para terminar de se despir antes que o torpor do prazer passasse e o padre resolvesse voltar atrás. Snape finalmente conseguiu levar ar aos pulmões e olhou para você, que agora estava deitada completamente nua ao lado dele.
— Minha vez, certo? — Você disse sem espaço para questionamentos ou negações. Ele apenas pôde assentir.
Snape se mexeu, talvez pensando em voltar para posição anterior, mas sua mão sobre o peito dele o manteve deitado. De joelhos sobre a cama, você se sentou sobre o rosto dele e logo sentiu a língua tímida, mas ávida para aprender, tocá-la. Com toda a paciência de uma professora, você o guiou até o nervo específico e deu singelas instruções sobre como gostaria de ser chupada. Snape era um ótimo aprendiz.
Seus dedos descansaram sobre a cabeça dele, e de lá não saíram por um longo tempo. Os fios negros eram acariciados por você enquanto o elogiava e eram puxados quando ele acertava em cheio o movimento e fazia com que perdesse o foco. Como era habitual, foram precisos alguns bons minutos de dedicação para que chegasse ao orgasmo, que aconteceu com suas pernas inevitavelmente se fechando contra o rosto lambuzado dele.
. . .
Monsenhor Dumbledore respirou muito fundo e contou até cinco. Pediu paciência e sabedoria ao Senhor para que pudesse guiar Severo pelo melhor caminho.
— Você tem um ponto — acalmou a voz. — Todos nós somos pecadores. Sentir desejo é esperado de nós, desde a vontade por uma comida, um objeto caro ou... por uma pessoa. Mas não podemos cair em tentação. Você não está totalmente perdido, filho. Ainda bem que veio até aqui-
— Senhor — Snape o interrompeu —, acho que não entendeu. Quando eu disse que cometi o pecado da luxúria, não falava apenas do sentimento, entende? Eu o cometi, carnalmente.
— Oh, Severo... — O senhor do outro lado do confessionário sussurrou. — Você está perdido, criança.
. . .
Desta vez, você deixou que ele ficasse por cima. Tê-lo daquela forma, sobre seu corpo, apenas a deixou ainda mais quente. Snape era um homem grande – como já dito, era alto e largo, apesar de magro -, e a sensação de que ele poderia destruí-la se quisesse a deixava ainda mais molhada.
Ele hesitou, mais uma vez. Você não parou seus olhos de se revirarem de irritação. Sua mão o agarrou pela mandíbula, sem delicadeza, e nem mesmo você reconheceu sua voz quando disse:
— Não tem volta agora, Severo, você sabe disso. Agora me foda, por favor! — A expressão não era um pedido, entretanto. Era quase uma ordem, que foi acatada pelo padre.
No momento que os primeiros centímetros do homem adentraram a cavidade morna, apertada e molhada da sua boceta, Snape entendeu – finalmente compreendeu – por que aquilo, por que o sexo era considerado um ato sujo e inadequado pela Igreja, e era negado aos padres e demais homens que serviam ao sacerdócio. Porque era esplêndido! Era surreal, era poderoso, divino e demoníaco. Ele se sentia no Paraíso, nunca havia se sentido tão bem em toda sua vida. Sentia-se ao lado de Deus ao mesmo tempo que tinha certeza que andava de mãos dadas com o Diabo. Como aquela dualidade era humanamente possível? Talvez não fosse, na verdade. Talvez aquilo fosse pura magia, uma benção... um feitiço.
Foi preciso que esperasse alguns segundos para que lidasse com aquela enxurrada de sensações e sentimentos. Snape a fitou, sob si, suspirando quando começou a se mexer. Os quadris dele estabeleceram um ritmo calmo e devagar, quase como se temesse machucá-la. Ele também a tocava com delicadeza, com uma mão depositada sobre sua bochecha e a boca beijando seu colo. Mas você não fazia aquele tipo, tampouco estava com paciência para aquilo. Já havia esperado tempo demais. Por isso, segurou o punho da mão que tocava seu rosto e levou dois dedos dele para sua boca. Os olhos do homem se arregalaram, fascinado com aquela visão, porém, o movimento da penetração não se alterou.
— Severo — você disse entre um suspiro —, você é um romântico, então? — Ele a olhou sem entender o que queria dizer com aquilo. Você sorriu.
Reunindo grande força em suas pernas, conseguiu virá-lo sobre a cama, mais uma vez ficando sobre ele. A nova posição fez com que o pau enterrado dentro de si chegasse ainda mais fundo e você se permitiu fechar os olhos por breves segundos. Quando se ajeitou, garantiu que seu olhar estivesse no dele. As palmas de suas mãos se apoiaram no colchão, aos lados da cabeça dele, e seus quadris iniciaram um movimento bruto, suas nádegas batendo contra a pelve de Snape e preenchendo o quarto com a sinfonia das peles estalando uma contra a outra.
Ele se assustou, a princípio. Tanto pela intensificação do prazer quanto pelo assombro devido à sua agressividade. Você o cavalgava como uma amazona, os seios se moviam com sensualidade, seus cabelos caíam sobre suas costas e algumas mechas escapavam para o seu rosto. Snape ergueu a mão para manter seus fios longe dos olhos e os segurou atrás de sua cabeça, com força. Isso a incentivou a ir mais rápido; os gemidos dos dois ficavam cada vez mais altos.
Em certo momento, suas pernas se cansaram e você não conseguiu mais manter o mesmo ritmo. Sendo assim, ele a segurou firme para, novamente, voltarem à posição de antes, sem precisar se retirar do seu calor. Desta vez, Snape pôs uma de suas pernas sobre o ombro dele e se inclinou para frente. Ele continuou com o compasso parecido com o seu, rápido e bruto, e você sentiu aquela leve dor do choque entre a glande e o colo do seu útero. Os sons emitidos já não eram mais gemidos ou murmúrios, mas quase gritos. Vocês dois já pressentiam o que estava por vir.
— Eu... — ele procurou sua voz. — Eu devo... tirar?
— Não! — Gritou.
E assim, tão logo você respondeu, aquela sensação de carga elétrica viajou pelo seu corpo, fazendo suas pernas tremerem e seu corpo convulsionar. Seu torpor quase impossibilitou que sentisse ele jorrar dentro de si. O corpo de Snape caiu, pesado, ao seu lado. Conforme suas respirações lutavam para se acalmar, você quase sentia que estava sendo observada e julgada por todos os objetos religiosos que haviam no quarto. Manteve, então, os olhos no teto.
Ao seu lado direito, Padre Snape estava tão cansado e suado quanto você, embora sua consciência logo, logo estaria muito mais pesada. O êxtase do orgasmo foi se dissipando aos poucos, clareando todos os sentidos. Ouvia a sua respiração pesada junto a dele, inspirava o cheiro de sexo que impregnava o cômodo, ainda sentia o seu gosto na boca e enxergava a imagem decepcionada da santa sobre a cômoda. Escondeu o rosto entre as mãos e suspirou muito fundo. Tinha ido do Céu ao Inferno, e agora poderia jurar que sangrava de desolação.
— Antes de começar a rezar cem "Pai Nosso" e trezentos "Ave Maria" — você disse enquanto se levantava —, me deixe ir embora. Acredito que você precisa de um tempo.
. . .
— O que eu faço, Alvo? — Na sua voz grave não havia o homem, havia apenas o jovem rapaz que um dia foi. — Deus pode me perdoar?
— Deus é bom, meu filho. — Dumbledore sempre tivera uma visão muito mais benevolente do que a do Deus punidor que outros acreditavam. — Mas cabe a você decidir se, depois disso, pode continuar no seu sacerdócio. Se poderá resistir caso seja tentado outra vez. Só você pode decidir isso.
O monsenhor aconselhou, como de praxe, que rezasse uma determinada ordem e quantidade de orações e liberou o fiel do confessionário. Do lado de fora, próximo ao altar, Snape permaneceu até que Dumbledore se recompusesse para sair. Cara a cara, mestre e aprendiz se encararam: culpa e vergonha nos olhos negros do Padre Snape, decepção e pena nas íris azuis de Monsenhor Dumbledore.
O mais velho se aproximou para tomá-lo nos braços, abraçando-o para que ele se sentisse acolhido. Ainda assim, Dumbledore lhe sussurrou:
— Que Deus tenha misericórdia de sua alma, Severo.
