Este capítulo vai ser enooorme e com muita coisa acontecendo!

Espero que se divirta lendo :3

Boa leitura!


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Capítulo 3

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Quando quase um mês se passou desde que Sakura assumira as funções de monarca, ela já se sentia bem mais confiante em seus deveres reais: ela atendia as reuniões do conselho pela manhã, discutiam, e assim que a discussão se encerrava ela se dirigia à grande biblioteca real para estudar. Com seu caderno de anotações ao lado, Sakura lia textos escritos por monarcas, conselheiros, generais, filósofos e muitas figuras importantes de períodos anteriores ao dela, aprendendo com eles e analisando o que dera certo e o que não. Estudava história de reinados anteriores e reinos diferentes para entender melhor sua forma de governar e aprender com seus erros e acertos, e diariamente estudava a geografia do reino e de todas as províncias que possuíam qualquer relação com o reino. Ino e Naruto gostavam de ler ou jogar xadrez na biblioteca ao seu lado enquanto ela estudava para fazer-lhe companhia, incentivando-a a ensinar a eles o que aprendia para que memorizasse melhor.

Logo no início da tarde, Sakura resolvia com o auxílio de Minato qualquer pendência que restara após a reunião com o conselho pela manhã e, assim que elas fossem resolvidas, reunia-se com Sarutobi - a quem solicitara gentilmente que lhe ensinasse sobre aspectos políticos e econômicos do próprio reino. Juntos, eles liam documentos de anos anteriores para esclarecer para Sakura quais foram e qual era atualmente a situação do reino. Havia muita coisa que Sakura nunca tivera conhecimento, e as informações que aprendera nessas reuniões explicaram muitas coisas que ocorreram no passado e que até então eram incógnitas para ela. Com o passar dos dias juntos, Sarutobi passou a se afeiçoar da garota, cada vez mais motivado a ensiná-la ao ver quão interessada e motivada estava em aprender e se tornar uma líder melhor. De seu lado, Sakura adorava as tardes que passavam juntos discutindo - mesmo que no começo elas parecessem intermináveis - e se sentiu satisfeita por ter conseguido trazer um clima mais distraído e informal para essas reuniões dos dois, de modo que o aprendizado se tornava mais agradável e não parecia uma obrigação.

Tão logo sua reunião com Sarutobi terminava, Sakura dava a si mesma folga para o resto do dia, resolvendo apenas uma ou outra situação que precisava de sua atenção. A seu pedido, Kushina e Naruto começaram a ficar mais tempo no palácio, sua presença com certeza trazia muito mais tranquilidade e familiaridade para Sakura, e agora ela não se sentia mais sozinha. Sua mãe enviara duas cartas naquele período, mas Sakura não as abrira; guardou-as em sua gaveta e não olhou mais para elas. Estava se virando muito bem e não gostaria de ter seu dia estragado por o que quer que sua mãe quisesse lhe dizer. Se fosse importante, ela que viesse falar pessoalmente.

Com sua nova rotina organizada e se sentindo apoiada pelas pessoas mais importantes para ela, Sakura se viu crescendo cada vez mais em suas capacidades, e apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer, ela tinha certeza de uma coisa: estava no caminho certo.

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Quando ao entrar na sala de reuniões naquela manhã chuvosa de terça-feira Sakura se deparou com os conselheiros esboçando expressões desconfortáveis e um deles murmurando para o que se sentava ao seu lado 'ela não vai gostar disso', ela soube que teria um dia difícil pela frente.

''Bom dia, senhores'' ela cumprimentou, tomando seu lugar na cadeira provisória que havia solicitado que colocassem no lado oposto ao trono da mesa para que se sentasse.

''Bom dia, Vossa Majestade'' disse Mitokado, sua expressão sugerindo que estava escolhendo as palavras com cuidado ''por favor, vamos começar''

A reunião prosseguiu como de costume, retomando as discussões e pendências do dia anterior e cada um atualizando a mesa de conselheiros com o que havia trabalhado desde a última discussão e trazendo à mesa novos assuntos que demandavam atenção do conselho. Sakura não pode deixar de perceber, no entanto, que houve uma mudança de comportamento dos conselheiros na transição de um tópico a outro para ser discutido: eles ficavam ansiosos e pareciam tentar trazer outros temas, como se deixassem algo importante para o final. Por mais curiosa que estivesse - e ao mesmo tempo ansiosa e até mesmo temerosa -, Sakura se esforçou para concentrar-se em cada tema trazido para discussão individualmente, esperaria até o final da reunião para perguntar para Sarutobi o que estava havendo.

Quando o assunto dos preparativos para o jantar com o Duque de Iwagakure - que ocorreria já no final daquela mesma semana - finalmente foi concluído, entretanto, o tema veio à tona sem que Sakura precisasse pedir. Para sua surpresa, foi Sarutobi quem introduziu o tema:

''Majestade, há um último assunto que precisamos discutir antes de dar esta reunião por encerrada'' ele começou, os olhos na mesa e nos papéis à sua frente ''Reconhecemos todo seu esforço e dedicação para resolver todas as questões que surgiram até então, sem os quais certamente o reino sofreria grande instabilidade''

O coração de Sakura parecia querer sair para fora do peito, tamanha a ansiedade que tomava conta de seu peito. Inconscientemente, ela começou a bater uma perna na outra silenciosamente embaixo da mesa e a agarrar uma mão na outra em seu colo. Os membros do conselho raramente a elogiavam por qualquer coisa - até mesmo Sarutobi reservava-se a tecer elogios apenas em suas reuniões à tarde, quando estavam apenas os dois presentes. O que motivava essa bajulação? Parecia até que estava tentando preparar terreno para algo ruim, e Sakura não conseguia parar de imaginar os piores cenários possíveis.

''Apesar de nossos grandes esforços, resta ainda muita inquietação entre os súditos, que se mantêm temerosos com o futuro próximo do reino. Não apenas isso, um comandante de nossa guarda que cumpria uma ordem fora de nossas fronteiras relatou ter ouvido em uma taverna comentários de soldados estrangeiros que nosso reino estava enfraquecido sob o domínio de uma, perdoe-me repetir suas palavras, Majestade, 'jovem inexperiente', e que saques em aldeias próximas seriam muito mais fáceis. Chegaram a comentar até, Majestade, que se seu senhor permitisse, poderiam tomar parte de nosso território próximo às fronteiras, pois o reino de Konoha estaria incapacitado para revidar''

A ansiedade de Sakura deu lugar à raiva e ela bateu o punho fechado na mesa à sua frente

''Absurdo! Mandem a guarda neste instante a esse lugar, quero esses homens presos nas masmorras e seu líder desculpando-se pela atitude irresponsável de seus soldados!''

Ao contrário do apoio que esperou receber, Sakura se viu encarando rostos desapontados de seus conselheiros. Mitokado, após um suspiro longo e cansado, dirigiu-se a ela:

''Infelizmente, majestade, não é dessa forma que situações como essa são bem resolvidas. Peço que não deixe sua ira turvar seu julgamento''

Sakura instintivamente quis retrucar, mas um olhar preocupado de Sarutobi a fez recostar-se na cadeira e ouvir o que eles tinham a dizer.

''Mobilizar as tropas em um movimento como este, ainda mais for a de nossas fronteiras, seria um ato de guerra.'' continuou Mitokado ''No mais, não sabemos de quem esse líder que aqueles soldados mencionaram, não podemos acender um fogo sem a certeza de poder controlar um possível incêndio. A melhor forma de proteger e assegurar ao nosso povo a segurança do reino é fortalecendo nosso cerne; buscar cegamente provar que o reino não está enfraquecido dispersa nosso foco em relação a assuntos internos e comprova que estamos agindo sem direção''

Sakura apertou os dentes e concordou a contragosto com a cabeça.

''Como propõe que 'fortaleçamos nosso cerne', então? Imagino que tenha algo em mente?'' perguntou finalmente, esperando que, após todo aquele discurso e toda a raiva que suas palavras geraram nela, pelo menos ele tivesse alguma solução para o assunto.

''De fato'' ele concordou, desviando seu olhar do dela e concentrando-se em um ponto qualquer na mesa de madeira à sua frente ''o conselho e eu discutimos um pouco antes de sua chegada e chegamos a uma conclusão''

Desta vez, os dedos de Sakura batiam impacientes sobre a mesa e ela nem ao mesmo se esforçou para esconder seu descontentamento com toda aquela situação.

''Para assegurar ao povo que o reino está se reerguendo e que a monarquia está se fortalecendo outra vez, com uma família forte no trono, seria de bom tom que a senhora tivesse alguém forte ao seu lado''

Sakura franziu o cenho e crispou os lábios

''Meus conselheiros não são fortes o bastante?'' sibilou

O rosto de Mitokado se fechou em uma expressão séria e Danzo falou em seu lugar:

''Falamos de alguém mais próximo, minha senhora. De alguém que fosse membro da família real junto à senhora. Falamos de um casamento''

Sakura levantou-se abruptamente de sua cadeira, arrastando-a para trás com o movimento, e espalmou as duas mãos na mesa inclinando o corpo para frente, os dentes trincados:

''Fora de questão!'' esbravejou ''Tenho lidado com todas as situações até agora sozinha! Nunca pedi por isto e mesmo assim aqui estou, esforçando-me por um povo que não confia em mim, dedicando-me por uma realeza que me tirou tudo! Não permitirei que isso também seja imposto sobre mim! Não preciso de um companheiro!''

Antes que os membros do conselho pudessem dizer qualquer coisa, Sakura se virou e saiu a passos duros da sala de reuniões, caminhando irritada até a entrada do palácio e assustando a todos por quem passava com sua expressão zangada. Ela foi até os estábulos e virou-se para os guardas que a seguiam de perto:

''Deixem-me sozinha!'' ordenou, montando em seu cavalo e saindo em disparada para longe.

Não era justo.

Ela estava fazendo tudo o que podia, esforçava-se e dedicava a maior parte do seu tempo para cumprir seus deveres reais, mas não era o bastante. Para o povo, ela não transmitia segurança; para os estrangeiros, ela era nada mais que uma jovem inexperiente, incapaz de governar, uma presa fácil. O reino todo estava um caos e ela precisava carregar isso tudo sozinha - nem mesmo com Ino e Naruto podia contar para esses assuntos, eles não estavam a par de tudo o que acontecia e do que era esperado dela.

Ela estava sozinha.

Ela não suportava o peso da coroa. Ela não era seu irmão. Ela não era seu pai.

Ela não era forte o bastante.

Antes ela tivesse morrido no lugar deles, o reino com certeza iria preferir isso. Manteriam seu rei e seu príncipe herdeiro e perderiam apenas uma jovem e estúpida princesa incapaz de fazer qualquer coisa, dependente de todos. Nem mesmo seus próprios conselheiros a consideravam uma rainha - disso ela tinha plena certeza - quem dirá seus súditos. Todos pareciam apenas esperar para que ela cometesse um erro, e ela certamente oferecia uma colher cheia deles.

Seu mundo inteiro estava de cabeça para baixo e ela não sabia lidar com o peso que era colocado sobre seus ombros. Quando finalmente acreditou que as coisas estavam se alinhando, que estava progredindo e se tornando uma boa monarca, o conselho jogou-lhe um grande balde de água fria.

Ela entendeu o que eles queriam: um homem. Ela, uma simples garota, não poderia liderar um país.

Mas um homem, é claro, poderia.

Não a surpreenderia se logo mais as reuniões fossem ser realizadas apenas entre o conselho e o seu adorável marido. Ela se tornaria apenas um enfeite, um símbolo. Uma imagem para ser vista, mas não ouvida; admirada, mas impedida de agir. Eles não queriam ser liderados por ela, não a julgavam capaz; eles queriam um homem para tomar as rédeas do governo novamente, como se o reino sob o comando de um homem magicamente se tornasse próspero.

Para falar a verdade, provavelmente se tornaria. Não por capacidade do líder, isso não, mas pela ignorância de todos. Com um homem no poder, o povo sentiria uma falsa nova segurança; os inimigos um falso medo de atacar, afinal, um homem pode revidar, uma mulher, não. E todos atribuiriam a prosperidade às habilidades inatas de liderança desse tal homem.

Sakura segurou as rédeas para parar o cavalo apenas quando estava longe o bastante do palácio. Desmontando e amarrando frouxamente a corda de seu cavalo para que ele pudesse ficar confortável sem, no entanto, ir muito longe, ela se sentou na grama, molhada pela chuva de mais cedo.

De onde estava, era possível ver um grande vale com um lindo rio correndo lá embaixo, desaparecendo no horizonte. A área verde ao seu redor era de tirar o fôlego. Agora que a chuva passara, os pássaros voltavam a voar e cantar, o céu clareando novamente, as nuvens indo embora e o Sol timidamente aparecendo atrás de uma nuvem clara.

Seus devaneios foram interrompidos quando atrás de si seu cavalo levantou a cabeça e soltou um leve relincho.

''Que foi, Shun? Assustado com algum esquilo?'' ela soltou uma risadinha. Ao longe, vindos da direção do palácio, ela percebeu alguns cavaleiros se aproximarem vindo em sua direção, o homem à frente deles parecia ser Sarutobi ''Eles não sabem o que significa se deixada em paz?'' resmungou.

Inesperadamente, Shun ergueu-se sobre duas patas e relinchou alto. Tomada pelo susto, Sakura desequilibrou-se, caindo para o lado um segundo antes de uma flecha passar rente ao seu lado. Se ela não tivesse caído no chão, ela com certeza a teria acertado.

Virando a cabeça rapidamente na direção em que o projétil veio, Sakura viu um grupo de homens mascarados sair de trás de um arbusto e vir correndo em sua direção urrando. Desesperada, ela começou a se arrastar para longe no chão, incapaz de se colocar em pé, o cavalo empinando repetidamente e relinchando alto. Um dos homens ergueu o arco mirando no peito do cavalo e se preparou para atirar.

''NÃO!'' Sakura gritou em desespero, esticando uma mão em direção ao cavalo

Antes que o arqueiro pudesse atirar, entretanto, uma flecha atravessou-lhe a cabeça, matando-o instantaneamente. Quatro cavalos passaram correndo por Sakura em direção aos homens, seus cavaleiros vestindo uma armadura com o símbolo de sua casa real. Um por um eliminaram todos os atacantes antes que eles pudessem se aproximar de Sakura. Ainda atordoada com o que estava acontecendo, Sakura não reparou que alguem tomara as rédeas de Shun e o trouxera para perto dela, montado em seu próximo cavalo, até que estavam logo à sua frente.

''Suba, majestade!'' ordenou Sarutobi. Mas as pernas de Sakura estavam cambaleantes e a mente incapaz de processar qualquer coisa, ela não podia se mover.

Um cavaleiro apareceu ao seu lado e, pedindo sua licença, mas sem aguardar uma resposta, segurou-a e a ergueu até que ela estivesse sobre as costas de Shun, em seguida gritando 'BASE' e dando um tapa na anca do cavalo. Familiarizado com o comando, o cavalo prontamente voltou-se para a direção do palácio e começou a correr, Sarutobi e mais um cavaleiro o seguindo de perto.

Sakura só percebeu que haviam chegado quando o cavalo parou na frente do palácio, um guarda rapidamente o segurando pelas rédeas enquanto Minato corria em sua direção e a tirava de cima do cavalo - pois dado seu estado, ela sentia que se tentasse se mexer ela desmaiaria.

''O que houve?!'' indagou Minato para Sarutobi enquanto trazia Sakura para uma sala e a ajudava a se sentar em uma cadeira ''Hitori, traga água e o médico real, imediatamente!'' ordenou para uma criada

''Não será necessário, capitão, seu estado atual deve-se unicamente ao susto'' interviu Sarutobi ''Sua Majestade saiu do palácio na ausência de seus guardas após a reunião do conselho. Por sorte, na intenção de ir atrás dela para conversarmos, minha guarda e eu a alcançamos antes que um grupo de homens a emboscasse. Os cavaleiros que me acompanharam já devem estar de volta, sugiro que o senhor vá ter uma conversa com eles para obter mais informações''

''Mas…'' Minato olhou para Sakura, em um estado de tremendo choque e pensou se seria prudente deixar seu lado.

''Eu assumirei daqui, capitão'' o tom de voz de Sarutobi deixou claro que o assunto estava encerrado e que Minato deveria se retira. A contragosto, ele o fez.

Sozinhos na sala, à exceção dos guardas nas portas e de duas camareiras no outro canto da sala, Sarutobi sentou-se à frente de Sakura em uma poltrona e se inclinou em sua direção. Quando Sakura não disse nada, olhando vagamente para o nada, ele fez sinal para que uma camareira os servisse uma xícara de chá com uma boa dose de açúcar.

Após um momento, Sakura disse:

''Como sabia que eu estava em apuros para levar os guardas ao ir me procurar?''

''Não sabia. Nunca, em hipótese alguma, deve um membro importante do palácio deixar o castelo sem soldados da guarda real. Isso serve para mim, e serve ainda mais para a senhora. Os soldados que a deixaram ir sozinha serão punidos por sua irresponsabilidade''

''Por favor, não'' ela respondeu, virando apenas um pouco os olhos em sua direção, o rosto ainda pálido e o rosto sem expressão ''eu os disse para não me seguir''

''E por conta disso, a senhora quase foi morta. Ou capturada. É dever da guarda proteger a família real, em especial o monarca''

''Eles não podem ser punidos por um erro meu''

Sarutobi suspirou

''Majestade, a senhora é a rainha. Os seus erros, as suas ações e as suas omissões não afetam apenas a senhora. A senhora representa o reino todo, a sua vida não é mais apenas sua. Ações pensadas suas geram consequências para todos, e assim também as impensadas. Os guardas serão punidos, mesmo a senhora assumindo culpa, e espero profundamente que isto sirva como uma lição. A senhora ainda age pela emoção, falta-lhe a sobriedade de um líder. Suas ações repercutem além da senhora''

Sakura abaixou a cabeça e seus olhos se encheram de lágrimas, seu rosto ficando vermelho enquanto ela se esforçava para engolir o choro.

''Sabe que não desejo o seu mal, minha rainha'' Sarutobi continuou, o rosto mais suave e a voz serena ''Eu, mais do que qualquer um neste palácio, conheço seus esforços pelo reino e pela monarquia. Sei que está fazendo o melhor que pode. Infelizmente, o nosso melhor nem sempre é suficiente. Eu não concordaria com a proposta de arranjarmos um casamento para a senhora se não acreditasse que fosse realmente necessário, sabe disso''

Sakura enxugou uma lágrima que teimou em cair e apertou as mãos no colo, fungando. Sentia-se assustada, magoada, perdida.

''Não tenho dúvidas de que, com o tempo, a senhora adquiriria plenas capacidades de governar sozinha e de trazer grande prosperidade para o povo. Mas há mais em ser um monarca do que isso. O povo precisa de segurança, um casamento firma sua posição na casa real, e abre a possibilidade para herdeiros para o trono. Se algo acontecesse com a senhora agora, sem ninguém de sua linhagem para herdar a coroa, um verdadeiro caos se estabeleceria, um estado de anarquia até que outro membro da família pudesse assumir seu cargo. Não apenas isso, como um casamento mostraria para nossos vizinhos, aliados ou não, que o reino está se reerguendo. A senhora trabalha muito, mas pouco é refletido para todos, logo a imagem de fora do reino é que temos um reino totalmente desorganizado, tentando segurar as pontas''.

Sakura não respondeu, o conselheiro abaixando a cabeça e respirando fundo antes de continuar:

''E há mais uma coisa. Não posso afirmar com certeza, mas acredito saber o motivo por trás do ataque de hoje''

Finalmente, a rainha levantou os olhos em sua direção, ele atraíra sua atenção.

''Há boatos correndo pelas bocas da população de que seu tio, o duque, irmão de seu pai, está fortalecendo seu exército e vem mantendo contato com homens da alta burguesia de Konoha. Isso teve início após o falecimento de seu pai e irmão. Não há explicação coerente para isso a não ser uma: ele planeja tentar usurpar o trono, tomando proveito de sua inexperiência para conseguir apoio dos súditos mais influentes para apoiar o golpe. Sendo irmão de seu pai e na ausência de herdeiros seus, com sua queda ele seria o próximo na linha de sucessão, e ele possui um herdeiro, seu primo, tornando-o uma opção favorável. Há aqueles que apoiem sua ascensão ao trono, alguns não tão pacientes para esperar o movimento do duque, prontos para eliminá-la rapidamente para permitir a coração de seu tio''

Sakura não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Tudo aquilo parecia surreal. Estavam tentando matá-la? E seu tio e seu primo Sasori estavam envolvidos?

Mas por mais que Sakura tentasse se convencer de que aquilo era absurdo e que com certeza Sarutobi havia se enganado, ela havia passado tempo o suficiente na biblioteca lendo relatos de líderes anteriores para saber que aquilo era, sim, bastante plausível.

''Por isso também acatei a sugestão de organizarmos um casamento, Majestade. Fortalecendo sua posição poderemos garantir a sua segurança e desencorajar qualquer movimento com o propósito de destroná-la''

Sakura assentiu com a cabeça, derrotada.

''Posso ao menos escolher com quem me casar?'' pediu com a voz baixa

Sarutobi concordou

''É claro, mas obviamente a decisão precisa ser aprovada pelo conselho'' ele informou, recebendo um olhar de pesar da garota ''O casamento deve ser marcado o mais breve possível, sugiro até o final o próximo mês. Avise-me se pensar em alguém, certo?''

Com uma profunda reverência, ele deixou sua presença, alegando ir se encontrar com o capitão da guarda.

Sakura permitiu-se afundar ainda mais na cadeira e fechar os olhos. Ela só queria adormecer ali mesmo e fingir que aquele dia não tinha acontecido.

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Sakura desistiu de todos os seus deveres reais daquela tarde, recolhendo-se em seu quarto decidida a ficar só, longe de qualquer responsabilidade, até que o dia seguinte surgisse com ares melhores. Era meio da tarde quando Ino bateu na porta e se juntou a ela.

''Soube do incidente, você está bem?'' perguntou com a voz calma e o olhar repleto de compaixão ao avistar a amiga deitada na cama encolhida, um travesseiro sobre o rosto.

Após um momento em silêncio, Sakura contou a Ino tudo o que havia acontecido naquele dia, desde a reunião pela manhã com o conselho até a conversa com Sarutobi quando retornaram ao palácio, incluindo a necessidade de arrumar um marido. Quando Sakura terminou de contar tudo e expressar todos os seus sentimentos turbilhonados para a amiga, Ino respirou fundo e disse:

''Fico feliz que pelo menos poderá escolher alguém, ainda que essa escolha precise passar pela aprovação do conselho'' admitiu ''acho que já sabemos quem é a melhor escolha, não é?'' ela completou com um pequeno sorriso no rosto.

Sakura ergueu os olhos com curiosidade para a amiga, uma sobrancelha erguida.

''Naruto!'' Ino exclamou, como se fosse a resposta mais óbvia do mundo.

Sakura piscou algumas vezes. Naruto?

Realmente, ele era o rapaz mais próximo dela, eles se conheciam desde quando eram pequenos e seus laços eram muito fortes. Mas… ela sempre o considerara um irmão, seria possível casar-se com ele?

''Bem, um casamento deve acontecer. Não seria melhor se fosse com alguém que a conhece, apoia e sempre esteve presente para cuidar de você? E precisamos concordar: Naruto é um homem forte e muito bonito, bondoso, altruísta, gosta de você e ainda possui título real, é um Visconde! Se ele não é a escolha perfeita, eu não sei quem é!''

Sakura não disse nada, mas considerou as palavras de Ino o dia todo, até antes da hora de dormir.

Seria essa a resposta? Se pensasse racionalmente, Ino estava certa, Naruto era realmente a melhor opção que ela tinha. Mas ela teria coragem de fazer uma proposta como essa para ele?

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Era sexta-feira. Sakura andava de um lado para o outro no salão, sozinha a não ser pelos guardas nas portas, o único som a ser ouvido era de seu salto enquanto caminhava para lá e para cá. Vestia um belo vestido azul claro e o longo cabelo róseo estava amarrado em uma trança volumosa, em seu pescoço um lindo colar prateado - sugestão de Ino. Ela mordia a lateral do polegar direito enquanto caminhava, nervosa, a mão esquerda junto ao peito fechada, como se tentando segurar as batidas do coração.

Serviu mais uma xícara de chá de camomila a si mesma e o tomou de uma só vez. Já era seu quarto em menos de quinze minutos.

Quando a porta se abriu e um guarda entrou ela quase derrubou a xícara, tão ansiosa que o simples abrir da porta a alarmou. O guarda então anunciou que Naruto aguardava do lado de fora.

''Deixe-o entrar por favor'' ela disse alto, tentando esconder a voz trêmula.

Quando o loiro finalmente entrou, trajando finas vestes escuras, contrastando com seu cabelo cor de ouro, e sorriu para Sakura, ela prendeu a respiração.

''Está linda, minha rainha!'' ele elogiou, aproximando-se e beijando o dorso de sua mão ''Fiquei surpreso quando fui informado que você me aguardava nesta sala para uma reunião, desde quando somos tão formais assim?'' disse com um sorriso

Sakura estava tão ansiosa que levou uma fração de segundo para conseguir esboçar um sorriso nervoso, os olhos levemente arregalados pela adrenalina. Isso não passou despercebido por Naruto:

''Que cara de assustada, Sakura!'' ele riu, apontando para o rosto da jovem ''Diga-me, o que aprontou desta vez?''

Sakura finalmente emitiu uma leve e sincera risada, afastando a mão de Naruto com um leve tapa e balançando a cabeça. Ela se virou de costas para ele e encheu as duas xícaras de porcelana sobre a delicada mesa de centro com chá e entregou uma para ele.

''Há algo que realmente preciso discutir com você, e é algo um tanto sério… Muito sério na verdade'' começou

Instantaneamente, o sorriso de Naruto murchou e ele tomou uma postura séria, analisando Sakura de cima a baixo em busca de sinais que poderiam dar dicas do que aquilo se tratava.

''Está tudo bem?'' ele perguntou, a voz carregada de preocupação

Ela tomou um gole de seu chá e não levantou os olhos para ele quando prosseguiu:

''Tive uma reunião com o conselho há alguns dias, naquele dia em que houve o incidente, sabe…'' ele assentiu com a cabeça e ela continuou ''Bem… O conselho acha que devo me casar''

Os olhos de Naruto se arregalaram

''Como assim?! Isso é bastante repentino, e em meio a período de luto ainda?!'' exclamou, o cenho franzido

''Sim… No início não concordei, não vi necessidade de um casamento agora, acreditava estar indo bem em meus deveres. Mas fui convencida de que é o melhor a ser feito, é assim que deve ser. Por isso vim falar com você hoje''

Naruto abaixou a cabeça, visivelmente triste. Ele entendia. Certamente, Sakura já deveria saber de seus sentimentos por ela desde muito tempo e estava ali para se desculpar por não poder retribuí-los, pois se casaria com outro homem, um homem mais digno. Ela sempre for a muito gentil e cuidadosa com os sentimentos dos outros. Naruto sentiu um aperto no coração. Em sua cabeça, ele e Sakura estariam juntos para sempre, e mesmo que ele nunca pudesse ser nada mais do que seu amigo, aquilo seria suficiente, ele só queria estar perto dela, na posição que fosse, mesmo se fosse como seu mero servente. Um casamento, no entanto, mudaria tudo. Que homem permitiria tal amizade? A amizade de sua mulher com um homem que a ama? Naruto tinha a esperança de que nunca se separariam, mas agora, à sua frente, via essa esperança ruir.

De seu lado, Sakura nem ao mesmo se atentou à mudança de expressão de Naruto, nem notou como ele estava perdido em pensamentos, pois ela mesma estava perdida nos seus. Buscava palavras para pedir o maior favor de sua vida para seu melhor amigo. Naruto já havia feito tanto por ela, foi como um irmão sua vida toda, mas ela tinha convicção de que esses sentimentos não passavam de um genuíno laço de irmandade. Ele não a amava, e mesmo assim ela pediria a ele que renunciasse a possibilidade de encontrar o amor e se casar com alguém que ele realmente amasse e construísse uma família com ela simplesmente porque ela precisava se casar e não conhecia pretendente melhor e em quem mais confiasse do que ele. Sentia-se uma pessoa horrível, uma amiga horrível. Esperava do fundo do coração que Naruto não a odiasse por isso.

''Então, Naruto… O que eu gostaria de dizer… o que eu gostaria de perguntar…'' ela começou, a voz trêmula, o coração a mil. Como ele reagiria? Riria dela? Zangar-se-ia? Assim que ela falasse, não haveria mais volta.

Naruto fechou os olhos e esperou as palavras que selariam seu destino e o de Sakura para sempre. Ela não era dele, e nunca seria. Ele se esforçou para se manter firme e prometeu a si mesmo que tornaria aquele momento o mais fácil possível para ela. Odiaria que ela se preocupasse com ele e com os seus sentimentos, ele só queria o bem dela. Custe o que custasse. Ela era tudo para ele.

Sakura engoliu em seco e partiu os lábios, o ar custando a sair de dentro dos seus pulmões para pronunciar as próximas palavras:

''… Quer casar comigo?''

Dois pares de olhos se encontraram: os dele, arregalados e em choque; os dela, suplicantes e temerosos. Ambos ficaram em silêncio por um instante.

''O que…? O que você disse…?'' Naruto perguntou, atordoado

Abaixando a cabeça e fechando os olhos com força, envergonhada de si mesma e da sua audácia, ela repetiu baixinho:

''Gostaria de se casar comigo, Naruto?''

Espiando sua reação com apenas um olho, Sakura viu o rosto completamente perplexo de Naruto lentamente se transformar à medida que ele processava o que ela acabara de dizer e de repente sua expressão se iluminar e o maior sorriso que já esboçara em toda a sua vida crescer em seu rosto.

Sakura teve que se controlar para não soltar uma exclamação assustada quando de repente ele a pegou no colo e a rodopiou no ar várias vezes, antes de finalmente a colocar de volta no chão e abraçá-la com força. Ela estava paralisada, com certeza não era a reação que ela havia previsto.

''Isso é um sim?'' ela perguntou com hesitação

Os olhos levemente marejados de Naruto olhavam fundo nos olhos dela quando ele soltou uma leve e gostosa gargalhada:

''Se é um sim?! É um 'Claro que sim'! É claro que sim, Sakura!'' ele exclamou alto, rindo alto em alívio. Todo o sentimento negativo que esmagava seu ser há pouco simplesmente desaparecera como um passe de mágica e foi substituído por uma leveza que ele nunca sentira antes. Ele se sentia como se seus pés estivessem saindo do chão, seu coração estava leve e a felicidade que sentia era quase delirante. Ele a abraçou forte mais uma vez e então soltou uma exclamação alta de alegria, que ecoou por toda a sala.

''Não tão alto!'' repreendeu Sakura com um sorriso largo no rosto ''Além de nós dois e Ino, apenas o conselho sabe, devemos esperar a proclamação oficial, não é bom que todos saibam por fofocas''

Naruto concordou repetidamente com a cabeça

''Mas para meu pai posso contar, não é?''

Sakura sorriu e negou com a cabeça

''Para mamãe então?''

Revirando os olhos sem conseguir conter uma leve risada, ela cedeu:

''Certo, só para sua mãe! E garanta que ela não comentará com ninguém, nem mesmo seu pai por enquanto!''

''Com certeza todos vão estranhar a minha súbita felicidade, mas vou me controlar!'' ele disse ''Sakura… há tanto tempo tenho tentado lhe dizer…''

As portas do salão se abrindo, entretanto, interromperam o casal.

''Vossa Majestade, Senhor Uzumaki'' disse o guarda com uma reverência ''Vossa Majestade, perdoe-me a interrupção. Como solicitado, a chefe da cozinha a aguarda''

''Ah, sim! A chamei para discutirmos sobre o jantar de amanhã!'' Sakura respondeu, virando-se em seguida para Naruto ''Conversaremos mais depois, está bem?''

Naruto sorriu

''Teremos o resto da vida para isso, não é?''

Sakura soltou uma leve gargalhada e lhe ofereceu a mão para que ele beijasse o dorso, em seguida retirando-se para ir ao encontro da chefe de cozinha.

Quando a porta do salão se fechou atrás dela, Naruto permitiu-se dar um último pulo no ar e uma exclamação baixa de alegria.

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''Sabia que o conselho não iria se opor, Naruto é um pretendente excelente. E estava confiante de que ele aceitaria'' disse Ino com satisfação enquanto penteava os longos cabelos de Sakura.

Sakura sorriu, tranquila. Uma coisa estava resolvida. Ela não podia negar, quando propusera ontem para Naruto que se casassem, a reação que esperava era completamente diferente. Sentiu-se aliviada que tudo se resolvera bem, com certeza com Naruto ao seu lado tudo se tornaria mais fácil.

Não o vira desde ontem no salão, manteve-se ocupada organizando os detalhes para a estada dos convidados de Iwagakure e para que o jantar fosse o mais prazeroso possível. Afinal, quando se quer pedir algo, é vital que se trate bem aquele a quem fará o pedido. Se tivessem sorte, a relação entre o Duque e o reino se manteria firme e um novo acordo poderia ser firmado.

Era tarde de sábado, os convidados já se encontravam no palácio, acomodando-se em seus aposentos. Sakura iria encontrá-los em breve para pessoalmente dar as boas-vindas, o conselho aconselhou que se encontrassem para uma breve conversa antes do jantar visto que Sakura não os conhecia.

Quando Ino terminou de trançar seu cabelo, ela desejou-lhe boa sorte e acompanhou a rainha até a porta do salão onde encontraria seus convidados, despedindo-se pouco antes de Sakura entrar. Sakura concentrou-se em não esquecer as frases polidas prontas que havia memorizado para parecer mais respeitosa no encontro.

''Vossa Majestade'' cumprimentou o duque assim que ela entrou pelas majestosas portas do salão, curvando-se respeitosamente. Ao seu lado, sua filha e antiga noiva de Gaara, se curvou também, era uma garota de traços finos, pele pálida, rosto demasiadamente magro, cabelos curtos negros e olhos escuros.

''Senhor Oonoki, é um enorme prazer finalmente conhecê-lo, lamento que seja nestas circunstâncias'' Sakura disse com polidez, tentando parecer o mais natural possível, em seguida dirigindo-se para a jovem garota, que deveria ser apenas alguns anos mais velha do que ela própria ''Acredito que seja a Senhorita Kurotsuchi, é um prazer conhecê-la''

''O prazer é meu, Vossa Majestade'' respondeu a garota timidamente ''Vossa reputação a precede, já havia muito ouvido de sua beleza''

Sakura se pegou sem palavras frente àquele elogio, totalmente inesperado, e simplesmente sorriu e agradeceu, oferecendo que se sentassem.

''Meus sinceros pêsames por sua perda, Vossa Majestade'' começou o duque após um pigarro ''Conheci seu pai e o jovem príncipe. Homens honrados, sim, isso com certeza eram. Muito me entristeceu a notícia de seus falecimentos, seu pai e eu nos encontramos duas ou três vezes para jogar cartas. Homem justo aquele'' disse, olhando para a parede do outro lado da sala, como se perdido em memórias.

''Agradeço seus sentimentos, meu senhor. Ansiava muito pelo nosso encontro e para conhecer a Senhorita Kurotsuchi, a quem teria como minha própria irmã após o casamento. Lamento muito que os planos tiveram que ser cancelados'' respondeu Sakura com pesar

O duque concordou levemente com a cabeça, pensativo, e então olhou ao seu redor.

''Apesar do infortúnio, Vossa Majestade parece estar conseguindo manter tudo sob controle por aqui, Konoha me pareceu bastante próspera à primeira vista. Claro, apenas a pude observar superficialmente no trajeto da carruagem, mas estes olhos cansados gostaram do que viram. Mesmo com a brusca mudança dentro da família real, a senhora conseguiu garantir que o reino não ruísse'' ele deu mais uma olhada ao seu redor e assentiu algumas vezes com a cabeça, como se aprovasse o que via ''Tem meu profundo respeito, Vossa Majestade, bem sei eu como é assumir um cargo importante quando se ainda é jovem e mal preparado'' ele olhou para a neta e balançou a cabeça ''Meus filhos todos estão mortos, a guerra os tirou de mim. Tudo o que me resta é meu neto, quem estou educando para assumir minha posição quando eu me for, e minha amada neta, Kurotsuchi. Mas nem ao menos um bom casamento consigo arrumar para ela. Uma desgraça de avô, é isso mesmo que sou!'' finalizou, balançando a cabeça

Kurotsuchi abaixou a cabeça envergonhada e apertou as mãos contra o vestido em seu colo.

De sua parte, Sakura não sabia o que responder. Essa parte certamente não estava prevista quando ela formulou suas frases pré-prontas. Esperava que falassem sobre o clima ou sobre a época de festividades que estava para começar, havia estudado várias para ter conteúdo para conversar. Entretanto, achou que seria demasiadamente rude mudar de assunto agora.

''Lamento ouvir sobre sua perda… Não posso sequer imaginar como deve ter sido para o senhor'' fez uma pausa quando o duque assentiu levemente, agradecendo baixinho ''E agradeço profundamente os elogios, meu senhor. Com certeza, sua generosidade em nos conceder de antemão os minérios, tão necessários para o meu povo, contribuiu e muito para a nossa prosperidade, e serei eternamente grata por isso. Posso garantir que uma boa parcela do que viu e lhe agradou em seu caminho para cá foi garantido por sua enorme contribuição'' continuou ''Quanto à sua neta, tenho plena convicção de que arrumará um excelente partido, por favor não se preocupe tanto com isso! Inclusive posso fazer algumas indicações'' ofereceu.

Os olhos do duque brilharam quando ouviu aquelas palavras

''Se a senhora recomendasse minha neta para famílias nobres, eu seria muito grato. Será impossível encontrar um pretendente bom como seu irmão, aquele era um bom homem. Sim, isso ele era. Mas basta desse assunto!'' bateu a mão na perna direita e se virou para Sakura ''Vossa Majestade, a época de festividades está chegando, o que espera para este ano?''

Sakura sorriu.

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O jantar aquela noite se deu em um clima bastante agradável: Sakura descobriu que o duque não era tão assustador quanto imaginara e inclusive já haviam engatado conversas sobre os mais diversos assuntos; Oonoki já se sentia à vontade na presença de Sakura e abria-se para ela contando várias histórias de Iwagakure e das vezes em que encontrara seu pai no passado; Kurotsuchi descobriu várias coisas em comum com Ino, com quem conversou boa parte do jantar, e não pôde deixar de expressar sua mais profunda admiração pela rainha, a quem dirigia olhares curiosos frequentemente, imaginando como seria ser como ela.

''Sua Majestade é muito graciosa'' comentou com Ino ''Fala com uma eloquência tão encantadora, cativa em sua conversa, vejo como meu avô conversa como se fossem amigos há anos! Percebo como ela se movimenta com graça e leveza, e é muito bonita. Conhecendo-a pessoalmente, eu admiro muito Sua Majestade''

Ino sorriu e concordou com a cabeça, olhando para Sakura com orgulho. Sim, ela pensava exatamente o mesmo, mesmo que Sakura com certeza fosse negar com veemência se dissesse isso a ela. Ela estava fazendo um ótimo trabalho, e ninguém podia negar que ela levava jeito para a coisa. Algumas coisas apenas quem enxerga por fora vê.

Sakura cautelosamente deu voz à sua proposta durante o jantar, prometendo que suas dívidas com o duque seriam pagas com juros - com delicadeza sugeriu que eles fossem de um valor baixo - assim que o reino voltasse à estabilidade e propondo um novo acordo em que o duque manteria seu suprimento de minério de ferro para Konoha em troca de um lugar na casa real para sua neta - onde ela teria toda a educação que uma princesa receberia e teria aumentadas suas chances de conseguir um bom casamento - e a garantia de apoio à sua casa para as futuras gerações. Não foi até terminar sua sobremesa que o duque se pronunciou sobre o assunto:

''Vejo em Vossa Majestade grande capacidade de liderança e uma maestria única no manejo de questões diplomáticas. Devo admitir que me preocupei de início com a nova instabilidade que o reino de Konoha sofreria com uma mudança tão significativa na arquitetura da monarquia, mas a senhora está definitivamente realizando um excelente trabalho por aqui'' elogiou com um olhar terno para Sakura ''Vossa Majestade, tinha muito respeito por seu pai e grandes expectativas para seu irmão em vida. É fácil notar traços deles na senhora, tem bondade de seu pai e a determinação de seu irmão, que Kami os tenha. Em respeito a eles, e também à senhora, perdoarei as dívidas de Konoha quanto ao suprimento de minérios fornecido até a presente data, não há necessidade de pagamento algum''

Uma onda de alívio tomou conta de Sakura e ela agradeceu profundamente a Oonoki, mas algo em seu olhar lhe dizia que isso não era tudo o que ele tinha a dizer.

''Entretanto'' continuou ''Temo ser esse o máximo que posso fazer pela senhora. Apesar da forte confiança que tenho em suas capacidades, não posso deixar de considerar que - com todo o respeito, minha rainha - seu reinado se eleva em uma fundação fraca, com poucas garantias de que o reino volte a prosperar nos anos que virão e que seu reinado perdurará, especialmente quando muitos ainda duvidam de sua liderança e com outros na linha de sucessão ávidos para tomar sua posição no trono de Konoha'' ele dirigiu um olhar significativo para Sakura e um frio correu em sua espinha. Então os rumores de que seu tio planejava um golpe para tomar seu trono não estavam tão apenas no papel quanto Sakura imaginava, e aparentemente essa intenção já chegara a muitas pessoas. Estaria Oonoki esperando que seu tio fosse bem-sucedido em sua tentativa de usurpar o trono? ''Agradeço sua proposta, majestade, mas neste momento de grande insegurança dentro da casa real, tomarei a decisão de não fechar acordo com a senhora, espero profundamente que entenda. Assim como a senhora, tenho quem dependa de mim''.

Sakura hesitou por um instante e então assentiu com a cabeça, abaixando a cabeça e levando o copo de vinho à boca, como se isso a ajudasse a engolir junto as palavras que acabara de ouvir. Nessa pequena fala do duque, Sakura entendeu algumas coisas: a primeira era que a falta de confiança com a casa real perdurava apesar de seus esforços - o que já lhe havia dito o conselho quando propuseram o casamento -; a segunda, que mais pessoas já tinham conhecimento das intenções do seu tio, o que provavelmente significava que a possibilidade de um ataque com a intenção de usurpar o trono era mais real do que ela imaginava; e terceiro, que apesar de suas dívidas estarem perdoadas, seu reino ficaria sem o suprimento de minérios e certamente a mudança na economia que isso causaria desagradaria e muito os súditos, e ela poderia ter sérios problemas internos com que lidar no futuro próximo.

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Oonoki e Kurotsuchi partiram de volta para seu lar logo na manhã seguinte, não havia mais motivo para ficarem. Sakura, sentindo suas esperanças de que o reino prosperaria esvaindo do seu corpo agora que o suprimento de minérios estava por fim encerrado, solicitou uma reunião com o conselho, a fim de discutirem a situação e aventarem novas possibilidades de mover a economia de Konoha. Para a sua surpresa, o conselho enviou um mensageiro informar-lhe respeitosamente que precisariam que Sakura aguardasse até de noite para a reunião, pois resolviam algumas pendências.

''Que será que estão resolvendo sem mim?'' murmurou baixinho para si mesma, franzindo o cenho. Pensando que talvez o melhor a se fazer fosse iniciar uma pesquisa própria sobre o assunto antes da reunião mais tarde para ter mais ideias para trazer à mesa, Sakura decidiu ir à biblioteca estudar. Após a reunião, daria a si mesma um merecido momento de descanso após uma semana atarefada e repleta de mudanças.

Mas sua noite não sairia exatamente como planejado. Na verdade, o que aconteceria a seguir mudaria para sempre todo o rumo de sua vida.

Era quase meio da tarde quando um rebuliço vindo do pátio do palácio, lá fora, tirou Sakura de sua concentração. Ela levantou-se de sua cadeira na biblioteca e rapidamente se dirigiu à janela para ver o que ocorria lá fora. Seu queixo caiu e a pena em sua mão escorregou de sua mão, caindo em um baque suave no chão, e então Sakura correu para fora da biblioteca em direção ao pátio do palácio.

''Isso é um absurdo!'' berrou Naruto, o rosto vermelho pelas fortes emoções, dois soldados segurando-o para que não avançasse ''Que provas têm para esse tipo de acusação?! Eu exijo falar com a rai- Sakura!'' um vislumbre de alívio apareceu em seu rosto desesperado quando ela se aproximou, olhando ao redor para a cena ''Fale com eles!''

Sakura olhou para os dois membros do conselho que se colocavam em pé sobre o primeiro degrau da escadaria que levava do pátio à entrada do palácio - um deles era Mitokado -, em seguida para os guardas que seguravam Naruto e por último para a dezena de guardas que se colocavam ao redor de Minato, cujas mãos estavam algemadas.

''O que raios está acontecendo aqui?!'' exigiu, olhando acusadoramente para os membros do conselho. Então era isso que aprontavam pelas suas costas esta tarde?

''Vossa Majestade'' começou Mitokado ''Perdão por importuná-la com este assunto, planejávamos resolver o problema sem incomodar a senhora''

''Meu chefe da guarda está sendo preso e acharam que eu não deveria saber?!'' esbravejou, a voz desafinando levemente quando ela elevou seu tom.

O outro conselheiro abaixou a cabeça em uma leve reverência e se dirigiu a ela:

''Sabemos o quanto preza pelo bem-estar do senhor Namikaze, majestade, por isso optamos por resolver este assunto em particular. Esta prisão é meramente profilática, enquanto aguardamos o término das investigações''

O cenho de Sakura se franziu e ela virou o corpo totalmente para ele

''Que acusações?''

''Conspiração, atentado à soberania, traição, violação do território, atentado à integridade nacional, espionagem, entre outros'' os olhos de Sakura pareceram que saltariam para fora, tamanho o seu choque perante aquelas palavras ''Novamente, ainda são apenas acusações; entretanto, devido a sua gravidade, o conselho optou por preventivamente proceder com a prisão do senhor Namikaze, pelo menos até as investigações elucidarem algumas questões''

O rosto de Sakura mudou de choque para ceticismo em um segundo:

''Isso não pode ser sério! Minato trabalhou para meu pai por muitos anos e sempre foi de sua extrema confiança! Quem é o acusador? E que provas foram levantadas?''

Mitokado a olhou com desprazer e repreendeu sutilmente:

''Este assunto seria melhor discutido na sala de reuniões, Majestade, não no pátio. Se puder me acompanhar'' estendeu uma mão em direção à porta da frente do castelo, indicando que ela deveria ir na frente.

Sakura bufou em insatisfação e se virou para Naruto e para Minato

''Eu cuidarei disso, não se preocupem!'' os assegurou, em seguida virando-se com raiva e entrando no castelo a passos duros, mas não antes de dirigir uma cara feia para Mitokado quando passou por ele.

Os outros membros do conselho já estavam na sala quando Sakura e os outros dois entraram. Pelo olhar irritado de Sakura, eles já sabiam do que se tratava.

''Vossa Majestade'' cumprimentaram, levantando-se de suas cadeiras e curvando-se respeitosamente.

Sakura se aproximou da mesa e bateu com as duas mãos duramente na madeira, o corpo inclinado para frente e o olhar mostrando extremo descontentamento.

''Falem!'' ordenou, e ninguém precisou perguntar a que ela se referia.

''Majestade, peço que por favor se acalme. Entendemos a delicadeza deste assunto e o cunho pessoal que ele carrega, por isso optamos por não a incluir na reunião; temíamos que emoções influenciassem no seu julgamento, bem como gostaríamos de poupá-la de uma decisão difícil como essa'' começou Sarutobi

''Uma decisão estúpida!'' ela rosnou, ignorando os olhares desaprovadores dos membros menores do conselho quando ela se pronunciou ''O senhor Namikaze sempre foi leal à coroa e ao meu pai!''

Sarutobi abaixou a cabeça e com uma mão apontou para o assento de Sakura, indicando que ela deveria se sentar. A contragosto, ela acatou seu pedido.

''Não foi uma decisão fácil, majestade, mas o conselho já se mostrava desfavorável à imagem do senhor Namikaze desde a morte do rei e do príncipe herdeiro'' começou

''O conselho deveria colocar opiniões pessoais de fora. Mostrar desfavor e fazer acusações graves como traição a um homem que serviu a este reino por anos são coisas muito diferentes'' Sakura interrompeu, os dentes trincados.

Mitokado virou seu corpo para ela e suspirou

''Entendo que a senhora está aborrecida, falarei então sem delongas: o senhor Namikaze foi o responsável pelo acordo com o falecido líder dos rebeldes ter sido realizado, ele mediou todas as negociações e todas as visitas diplomáticas, esteve em contato com território rebelde diversas vezes. Mesmo assim, no dia em que o dado acordo seria oficialmente firmado, com os dois líderes se encontrando para a confraternização, o capitão não estava presente. Nisso, levantam-se duas questões: o capitão da guarda real não estava presente durante uma negociação com membros do - até firmação oficial do contrato - território inimigo, permitindo vulnerabilidade a sua majestade. Isso é uma negligência grave de sua parte, o rei e o príncipe herdeiro em um local com soldados inimigos e o chefe da guarda real não estar presente para garantir sua segurança? Impensável, inaudito. Segundo, soa muito conveniente que, a despeito de ter sido peça chave em todos os âmbitos da negociação com o líder rebelde, no dia em que o ataque ocorreria ele não estava presente, mesmo sendo esta sua obrigação. Não podemos deixar de pensar que talvez uma conspiração tenha sido feita para que o ataque ocorresse. Agora, seu filho está prestes a se tornar o príncipe consorte, logo sua família será elevada aos títulos de Duque e Duquesa e, diferente do que esperávamos, o senhor Namikaze não se opôs quando foi informado da intenção de vossa majestade com seu filho, mesmo sabendo que sua omissão pode ter contribuído na morte do rei e do príncipe herdeiro. Qualquer homem de honra levaria isso em consideração e relutaria em aceitar tamanha honra após tais eventos''

Sakura recostou-se na cadeira e entrelaçou as mãos no colo

''O senhor Namikaze estava afastado por instrução de meu pai na semana da confraternização com os rebeldes'' ela explicou, na tentativa de justificar o capitão. Mesmo assim, a forma como Mitokado pôs na mesa todas as incertezas que tinham em relação ao capitão, por mais que Sakura relutasse em aceitar, de alguma forma pareciam razoáveis aos seus ouvidos. Algo, entretanto, a incomodara no discurso do conselheiro ''Há quanto tempo possuem essas suspeitas?''

''Desde o incidente nossas opiniões sobre ele já não eram as melhores, majestade. E já mantínhamos um olho em suas ações desde então''

O rosto de Sakura ficou vermelho quando raiva subiu pelo seu corpo:

''Digam-me que não me permitiram propor para Naruto como um teste para Minato? Para ver como ele reagiria à proposta de forma a corroborar ou não com suas suspeitas?''

Mitokado desviou o olhar e se virou para os outros membros do conselho em busca de ajuda, mas todos miravam algum ponto qualquer mais interessante na sala. Sakura trincou os dentes em raiva e se virou para Sarutobi:

''Como pôde?'' sua voz carregava um misto de mágoa, decepção e traição com aquele que passara a considerar um amigo.

O conselheiro abaixou a cabeça, envergonhado, mas não disse nada.

''O que vocês dizem pode não passar de um triste infortúnio. O senhor Namikaze havia recebido uma semana bem merecida de folga após o recebimento da confirmação do líder dos rebeldes de que aceitavam o acordo. Eu estava lá quando meu pai o concedeu alguns dias livres. Além disso, que pai não ficaria feliz em saber do casamento de seu filho? Ainda mais quando a noiva é uma conhecida de muito tempo da família. Não enxergo nada digno de suspeita em toda essa história e sugiro que ordenem o quanto antes que soltem o pobre homem e que pessoalmente se desculpem pela desonra que lhe causaram publicamente''

''Majestade'' a voz de Danzou desviou o olhar de Sakura para o outro lado da mesa, no canto mais escuro ''Em nenhum momento a sentença foi dada para o senhor Namikaze. Entretanto, questões como as apresentadas agora mesmo não podem ser facilmente ignoradas. Se há qualquer suspeita de que um homem, quem quer que ele seja, tenha cometido crime de traição, medidas devem ser tomadas. Tais medidas, é claro, dependem da posição de tal homem. No caso do senhor Namikaze, uma prisão preventiva enquanto a investigação é iniciada não pode ser considerada uma pena desproporcional. Quanto à exposição pública, devo pedir que a senhora considere atribuir isso ao seu noivo, Naruto Uzumaki, o causador de todo o alvoroço que, inclusive, atraiu a senhora para a situação''

A cara de Sakura se fechou e ela deixou o corpo se recostar na cadeira novamente, evidentemente insatisfeita. Para ela, apesar de haver alguma lógica nos argumentos de Mitokado, era óbvio que suas intenções eram majoritariamente de prejudicar Minato; seu discurso cheio de confiança com certeza induzindo os outros membros a concordarem com a possibilidade que ele aventou de que Minato, com certeza, poderia ter alguma participação em toda a desgraça que assolou a família real e, consequentemente, o reino. Sakura não confiava nele. Nem mesmo um pouco. Ela sabia que suas intenções não eram nada boas e que, se preciso fosse, ele inclusive levantaria suspeitas contra ela mesma.

As palavras de Danzou, no entanto, dificultaram qualquer tentativa dela de inocentar Minato ali mesmo e encerrar a discussão. Realmente, um afastamento e prisão preventiva enquanto a questão se resolvia não eram penas absurdas, eram na verdade bastante razoáveis. Apesar da certeza de que Minato não tinha nenhuma relação com o ocorrido, talvez permitir que essa investigação seguisse fosse a melhor escolha; afinal, desta forma as dúvidas de todos quanto a sua participação nos fatos seriam sanadas e a questão se encerraria definitivamente. Por outro lado, se ela batesse o pé e exigisse que o assunto se encerrasse naquele mesmo momento, talvez mais dúvidas cresceriam e todas as palavras e ações de Minato dali em diante seriam motivo de suspeita, além de minar todas as possibilidades de ele ser futuramente incumbido de tarefas importantes ou mesmo de ser promovido de cargo.

A situação era realmente irritante, mas Sakura acabou por concordar com a escolha do conselho, desde que a prisão preventiva de Minato fosse domiciliar, com sua família.

Encerrada a conversa, Sakura foi encontrar-se com Minato e Naruto. Decidiu pessoalmente conversar com eles sobre a discussão que tivera na sala de reuniões e avisar os guardas que deveriam escoltar o senhor Namikaze para sua casa, onde cumpriria sua prisão preventiva.

A prisão do palácio de Konoha possuía apenas um andar, já que seu objetivo era de apenas temporariamente manter cativos os prisioneiros. Assim que os preparativos em Kurotsuki - conhecida popularmente como Lua Negra, a prisão de segurança máxima de Konoha - estavam finalizados, o prisioneiro era transportado para lá, então o castelo não abrigava prisioneiros por muito tempo.

Mas esse não era o caso de Minato: o plano, antes de Sakura intervir para que sua prisão fosse domiciliar, era mantê-lo em uma das celas do palácio, mas uma das localizadas em uma das torres, bem iluminada e com mobília, como um quarto de classe média. Foi nesse cômodo que ela encontrou pai e filho discutindo, Naruto visivelmente alterado e Minato pacientemente tentando acalmá-lo.

''Eu lamento muito que tudo isso esteja acontecendo, mas posso garantir que olharei de perto todas as etapas da investigação para garantir que tudo está sendo conduzido corretamente'' ela disse assim que os dois homens notaram sua presença. Naruto bombardeou-a de perguntas, mesmo Minato o repreendendo e dizendo que não deveriam importunar a rainha nem questionar as decisões do conselho. Quando o próprio pai pediu para que Naruto fosse retirado por conta do tumulto que estava causando, Sakura finalmente pode explicar tudo o que ocorrera na reunião para o capitão da guarda real.

''Entendo'' ele assentiu com a cabeça algumas vezes ''Não culpo o conselho pelas suas suspeitas, é seu dever cuidar da monarquia e do reino e admito que as circunstâncias em nada favoreceram sua opinião sobre mim. Agradeço, Majestade, por ter intervindo para que meu afastamento possa ser feito em minha própria casa sob vigilância de guardas. Por melhor que seja esta torre, uma cela é uma cela. Aguardarei pacientemente até que tudo se resolva''

Sakura queria poder dizer mais para Minato. Sua mente trabalhou em palavras para tranquilizá-lo, mas ela se viu incapaz de dizer qualquer coisa, não sabia o que falar. Ela só esperava que toda essa situação se encerrasse em breve.

Com um breve aceno de cabeça, ela se despediu, virando-se para voltar para suas obrigações.

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Quatro dias após o afastamento de Minato, que agora se encontrava em sua casa com sua família, sob vigilância constante de guardas, ninguém menos do que Danzou veio ao encontro de Sakura.

Ela estava saindo da biblioteca real quando eles se encontraram, ele vindo a seu encontro enquanto ela descia as grandes escadarias para o térreo da biblioteca de dois largos andares. Desde o jantar com o duque de Iwagakure, ela vinha se aprofundando sobre a geografia de todo o reino em busca de possíveis fontes de renda ainda não exploradas. Era difícil pensar que ela, uma jovem garota, encontraria alguma oportunidade que homens muito mais experientes antes dela já não houvessem encontrado ou tentado explorar, mas ela precisava tentar.

''Vossa Majestade'' ele cumprimentou, aguardando no pé da escada até que ela chegasse até ele.

''Senhor Shimura. Em que posso ajudá-lo?'' ela respondeu educadamente. Não pode deixar de se sentir incomodada por ele ter vindo conversar com ela for a das reuniões matinais. Sentia que o que quer que ele vinha lhe dizer não deveria ser nada bom. Um frio correu em sua espinha, mas ela fez seu melhor para esconder a ansiedade, fingindo analisar uma página do livro que tinha em mãos para evitar ter que olhá-lo nos olhos.

''Recebi uma visita de um velho conhecido esta manhã. Um membro da alta burguesia, líder de uma família bastante respeitada entre a nobreza e o povo e um homem de bastante influência. Antes de eu me despedir para voltar aos meus afazeres, solicitou-me se poderia conseguir uma audiência com Vossa Majestade, diz possuir uma humilde proposta que gostaria que a senhora ouvisse''

A voz de Danzou era grave e clara, sua postura - apesar da idade - era imponente e até mesmo assustadora. A cicatriz em seu queixo, as marcas da idade em seu rosto, a faixa que cobria a testa e metade da face e o braço direito sempre escondido dentro de suas vestes conferiam-lhe um ar misterioso e sombrio, fazendo com que a maior parte das pessoas evitasse ficar em sua presença mais tempo do que o estritamente necessário. Realmente, Danzou era um homem raramente visto acompanhado, ele caminhava sozinho e muitas vezes ninguém sabia dizer aonde fora, era como se sumisse nas sombras. Diferente dos outros conselheiros, ele andava desacompanhado da guarda, e Sakura já havia ouvido dizer que mesmo assim nunca nada lhe acometeu, mesmo tendo havido diversos motivos no passado para que ataques fossem feitos contra ele, o membro mais silencioso, porém o mais influente do conselho.

Sakura franziu o cenho, levantando um pouco os olhos e encarando um ponto atrás de Danzou, ainda evitando seu olhar.

''Lamento, senhor Shimura, como o senhor mesmo viu na reunião hoje mais cedo, há muitos problemas dos quais precisamos tratar agora e eu gostaria de me dedicar neste momento somente aos assuntos que já temos em mãos. Peço que expresse minhas desculpas ao seu amigo, mas agora realmente não é o melhor momento''

Dito isso, Sakura virou-se e começou a caminhar em direção à porta da biblioteca, ávida por sair da presença daquele homem e ao mesmo tempo tentando controlar o ritmo da caminhada para não deixar transparecer como estava nervosa. Deu apenas 3 passos antes de ouvir a voz do conselheiro atrás de si:

''Entendo, Vossa Majestade. Entretanto, creio que o assunto que este homem deseja tratar com a senhora seja de grande interesse para resolver um dos maiores problemas que estamos tendo que lidar no momento: o referente à economia da nossa nação''

Sakura retesou por um momento e parou de caminhar, mas não se virou para ele. O que era isso? Então esse homem sabia da reunião com Oonoki e das dificuldades que provavelmente passariam com a falta de suprimentos de minérios? Parecia conveniente demais ele buscar fazer uma proposta referente à economia de Konoha se ele não soubesse. O quanto Danzou havia contado a ele? E que tipo de velho amigo esse seria?

Crispando os lábios, Sakura virou levemente a cabeça para o lado e suspirou.

''Pois bem, marque a reunião para esta noite''

Sakura não estava olhando para o conselheiro, mas pode sentir que ele ficara satisfeito com sua resposta.

''É claro, Majestade. Providenciarei essa reunião para logo antes do jantar''

Ela ouviu passos vindo em sua direção até que Danzou passasse por ela e se dirigisse à porta.

Sakura suspirou em alívio quando ele se foi e correu os dedos pelos cabelos. O que deveria esperar pelo encontro desta noite?

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Sakura se sentiu totalmente exposta enquanto aguardava no salão a chegada do homem que solicitara uma audiência. Minato não estava ali para apoiá-la - não o via e nem a Naruto desde o primeiro dia de afastamento de Minato, quando ele foi para sua casa e Kushina pediu para que Naruto ficasse com sua família para apoiar o pai nos primeiros dias de afastamento de seu serviço. Ino não podia acompanhar Sakura na maioria de suas reuniões e encontros pois segundo o conselho, os assuntos não cabiam a ela. Falando em conselho, a única pessoa de quem gostava, Sarutobi, a magoara, e Sakura o afastou e dispensou seus encontros vespertinos desde a reunião em que soubera que ele conspirara com os outros conselheiros para testar Minato por suas costas.

No salão, encontravam-se apenas os conselheiros e Sakura, além dos guardas e dois empregados.

Ela se sentia sozinha e desprotegida.

Quando as grandes portas foram abertas, todos se levantaram para receber o convidado. Três homens entraram, os passos firmes e decididos em direção aos anfitriões. Os três com características em comuns: cabelos e olhos bastante escuros, vestes finas indicando sua alta classe social, expressões sérias e traços muito bonitos no rosto - Sakura tentou não corar e desviou levemente o olhar. Apenas o homem que vinha à frente tinha cabelos longos, na altura da cintura, que espetavam para os lados com bastante volume.

''Vossa Majestade'' ele se curvou profundamente ''É um enorme prazer finalmente conhecê-la, acredito que não tenhamos sido apresentados antes. Eu sou Uchiha Madara''

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Após um breve momento de cortesia, Madara começou:

''Vossa Majestade, sempre fui um grande admirador da família real e um grande contribuinte para a prosperidade do reino, realizando negócios que movimentavam a economia e que garantiram a mim e ao meu grande clã uma alta posição na burguesia de Konoha, como um dos mais prósperos comerciantes. Em minha última viagem a negócios, fui agraciado com uma oportunidade única de adquirir vastas terras de um homem que, desesperado por dinheiro para tratar de sua esposa doente, vendeu-me os lotes a um preço muito abaixo de seu real valor. Essas terras, que para ele de pouco serviam, visto faltar-lhe a mentalidade de um comerciante e investidor, em minhas mãos enxerguei oportunidade para aumentar minha fortuna. Veja, Majestade, essas vastas terras, mas pouco exploradas, descobri conversando com agricultores de minha confiança serem bastante propícias para o cultivo de trigo, milho e algodão. Buscando oportunidade de iniciar um novo empreendimento, busquei informações sobre possíveis compradores para futuras colheitas e descobri, para meu deleite, que há um grande mercado favorável para venda desses produtos em Amegakure, Kirigakure e Kumogakure. Enxerguei que um bom negócio podia ser construído com o uso dessas terras e é por isso que solicitei esta audiência''

Todos escutavam com bastante atenção as palavras do homem de longos cabelos negros, que parecia conseguir encantar a todos com suas palavras e com a experiência que mostrava apresentar no ramo de negócios.

''Apesar de ser um abastado comerciante, Vossa Majestade, tomar-me-ia muito tempo e recursos para recrutar empregados e começar o trabalho em toda a terra que tenho a meu dispor, retardando os lucros que podem advir desse negócio. Veio a meu conhecimento, Majestade, que há a possibilidade de redução do aporte de minérios provenientes de Iwagakure para nossa nação, por isso pensei em recorrer à senhora. Minha proposta, Vossa Majestade, é que a casa real se alie a mim para explorar essas terras, fornecendo os homens e dois terços dos recursos necessários para começar a desbravar a área que adquiri. Prevejo que no final de um ano, o valor dispendido em recursos e homens terá se pagado para ambas as partes e a partir de então teremos uma fonte recorrente de lucro advinda de nosso empreendimento conjunto. Considerando, é claro, que a maior parte dos gastos para tal negócio provirá da casa real, proponho uma divisão de lucros sendo a quinta parte para mim - dono das terras e idealizador da iniciativa - e as outras quatro partes para a casa real, que poderá ser gasta da forma como for de melhor conveniência para a nação. Além disso, tenho mais um único pedido''

Sakura ouvia tudo o que ele falava com olhos brilhando: este homem que aparecera de repente surgira com uma proposta ótima que resolveria uma de suas maiores preocupações no momento e com uma divisão de lucros bastante favorável. Sakura teve que refrear o impulso de gritar ''sim, aceitamos!'' e abraçar e chorar no colo do homem que parecera surgir como um salvador em uma época repleta de tormentos.

''Pois diga, meu senhor, qual seria esse pedido?'' incentivou Sakura com um sorriso admirado para o homem

O homem abaixou a cabeça parecendo subitamente cansado e inclinou o corpo para frente.

''Apesar de possuir uma grande família, com até membros distantes morando em conjunto'' apontou para os dois rapazes que o acompanhavam ''tenho apenas um membro da minha família direta que ainda vive, todos os outros encontraram seus destinos nas mais variadas formas. Esse sobrinho, por quem possuo grande afeição, é com ele com quem me importo. Entretanto, apesar de ser um militar de grande respeito e valor, nada entende da vida de um comerciante e empreendedor, e temo que quando eu partir ele logo perderá minha herança e, como a vida de um soldado pode ser bastante injusta, pesa-me o coração prever que ele não terá a vida que gostaria para ele. Por isso, Vossa Majestade e admiráveis membros do conselho, peço como parte de nosso acordo a atribuição de um título nobiliárquico para meu sobrinho, de modo que ele tenha uma garantia de um futuro mais digno do que aquele ao qual é destinado o pobre soldado''

Sakura sentiu a alegria subir em seu peito e ela se levantou com um grande sorriso no rosto.

''Meu bom senhor, alegro-me com suas palavras e agradeço por ter expressado suas intenções de forma tão clara e direta. Vejo agora que foi uma dádiva termos tido este encontro esta noite, sua proposta de muito me agrada'' começou, mas antes que pudesse continuar sua fala, dizendo que ficaria muito feliz em aceitar sua proposta e que mal via a hora de começarem os negócios, Sarutobi se levantou e interviu delicadamente:

''Realmente, senhor Uchiha, sua proposta é deveras razoável e bastante convidativa. Peço, por gentileza, que permita que o conselho e Sua Majestade debatamos o assunto em particular. Terá sua resposta no prazo de três dias, assim lhe garanto''

Sakura virou-se aborrecida para ele, mas Sarutobi não encontrou seu olhar. Por que esperar? A proposta era ótima, deveriam aceitá-la agora! E se ele a propusesse a outra pessoa antes de darmos nossa resposta final e perdêssemos a oportunidade?

''Sim, assim deve ser feito'' concordou Mitokado ''Por hora, chega de negócios, o jantar já deve estar pronto para ser servido. O senhor e seus dois acompanhantes serão mais que bem-vindos para acompanhar Sua Majestade no banquete. Por ora, o conselho deve se retirar''

Sakura não pôde acreditar quando os homens se curvaram levemente e se retiraram. Isso parecia um absurdo.

Tentando não desagradar o convidado a quem tanto passara a admirar, Sakura gentilmente convidou os três senhores para acompanharem-na até a sala de jantar, onde tiveram uma refeição bastante silenciosa - o silêncio que pairava tornando-se quase insuportável para Sakura, mas ela teve receio de se dirigir a qualquer um dos três homens, eles a intimidavam de alguma forma. Quando todos estavam satisfeitos, Madara educadamente pediu sua licença e os três homens se retiraram do palácio, dizendo que retornariam em três dias para ouvir a resposta do palácio.

Cansada demais para ir atrás do conselho naquele mesmo instante, Sakura optou por aguardar até a reunião na manhã seguinte. Esta noite, ela apenas descansaria e aproveitaria a sensação de um grande problema estar prestes a ser resolvido.

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''É tão bom podermos passar um tempo assim novamente'' comentou Ino, pegando mais uma uva da cesta e levando à boca ''faz tempo que não tem tempo para passar assim!''

Sakura abaixou o chapéu para cobrir um pouco mais o rosto e ajeitou sua posição deitada na grama, aproveitando aquele momento relaxante para sentir apenas a brisa tocando seu rosto e os raios de sol acariciando sua pele.

Um pouco mais cedo, na reunião com o conselho, ela havia expressado sua total aprovação para a proposta de Madara e os conselheiros concordaram que a proposta era realmente muito boa, mas antes de fecharem um acordo gostariam de enviar seus próprios homens de confiança para avaliar se realmente as áreas que Madara alegou ter conseguido eram tão boas quanto ele falava e se o mercado realmente estava vantajoso para o comércio que ele pretendia abrir, de modo a não investir indevidamente o dinheiro dos cofres do palácio em um empreendimento fadado ao fracasso. Sakura concordou com eles, realmente teria sido muito impulsivo aceitar uma proposta que envolveria tantos recursos por parte do palácio sem informações concretas, apenas palavras ditas da boca de um negociante. Deixando isso ao encargo dos conselheiros, que garantiram que teriam as informações que buscavam quanto à veracidade das palavras do Uchiha e quais os possíveis ônus que esse acordo acarretaria até o final da tarde do dia seguinte, Sakura deu-se a liberdade de tirar um dia de folga.

Aproveitando um delicioso piquenique sob sua árvore favorita com Ino, ela por um momento se permitiu esquecer de todas as obrigações e preocupações que carregava, sendo os únicos lembretes de que ainda era a rainha os cinco guardas que se mantinham a uma distância próxima das garotas para garantir sua segurança.

''Este lugar ficará muito triste quando você partir'' comentou Sakura com a voz baixa

Ino virou-se para ela e enfiou-lhe um morango na boca, recebendo uma reclamação abafada de Sakura

''Ainda vai demorar, Sakura! Apesar do pedido de Sai, vai levar um tempo para podermos finalmente nos casar, eu quero ter uma casa própria antes disso, para termos aonde ir quando sairmos da igreja''

''Já disse que podem ficar no castelo, há mais quartos do que podemos ocupar, e seria muito bom ter a companhia de vocês'' Sakura respondeu, levemente chateada por a amiga ter negado essa sua oferta tão logo ela oferecera na primeira vez.

Como da outra vez, Ino balançou a cabeça

''A vida no palácio não é fácil, Sakura'' ela admitiu ''Regras, obrigações, etiquetas, falta de liberdade. Não é isso que quero para o meu futuro, quero uma casa no campo para viver com meu futuro marido e futuros filhos, quero ter vizinhos com quem fofocar, uma horta para cuidar, uma mesa de refeição para montar e até meias das crianças para lavar. Pode parecer um sonho estranho, mas eu acredito muito que minha vida seria muito melhor no campo do que nos muros do palácio''

Sakura mudou de posição, desconfortável, e cobriu ainda mais o rosto com o chapéu sob o pretexto de se proteger do sol. A verdade era que ela queria a mesma coisa - com exceção de lavar meias encardidas, com certeza! - mas ela jamais teria isso. Sua vida no palácio, mesmo quando criança, era muito triste antes de Ino chegar, e mesmo após a loira se mudar para o palácio, as coisas continuaram difíceis, mas muito, muito mais suportáveis e até mais alegres. Sakura se lembrava muito bem do dia em que conhecera Ino, tinha 5 anos: seu pai, um general do exército e amigo próximo de seu pai, certa vez chegou ao palácio com uma menina uns dois mais velha que ela com cabelos loiros e olhos azuis curiosos, Sakura observando tudo por trás de um pilar do castelo enquanto se escondia de Temari. Lembrava-se do general pedindo encarecidamente que uma das funcionárias do palácio ficasse de olho na garota enquanto ele terminava seus deveres, pois sua esposa estava doente e não possuía com quem deixá-la. Disse para que Ino se comportasse e que não falasse com ninguém para que não causasse problemas. Tão logo ele se afastou, entretanto, Sakura correu para se apresentar para a menina, que de início, muito obediente, ignorou-a e tentou ao máximo se esconder dela. Quando Sakura, mimada como era, sentiu-se magoada pela rejeição e começou a chorar, rapidamente a menina loira correu em sua direção para acalmá-la, prometendo que se ficasse quieta elas brincariam juntas. O dia seguiu-se repletos de brincadeiras e risadas, e quando era hora de ir embora, Sakura correu para seu pai para contar da nova amiga que havia feito naquele dia. Ao contrário do que o general temia, o rei não ficara nem um pouco aborrecido que ele trouxera uma criança para o palácio; pelo contrário, incentivara-o a trazer Ino mais vezes para brincar com Sakura, que era uma menina muito solitária e carente de atenção. Três anos se passaram e várias vezes na semana Ino ia com o pai para o castelo para passarem o dia brincando, até que em um fatídico dia, durante um ataque rebelde no qual o pai de Ino comandava a linha de defesa, o general sofreu um golpe gravíssimo, não resistindo e morrendo sob os cuidados do médico da corte. A mãe de Ino, desamparada, afundou-se em uma profunda depressão que muito afetou a garota de então 10 anos, que precisou tomar para si responsabilidades que nenhuma criança de sua idade deveria tomar. Poucos meses depois da morte do pai, a mãe adoeceu e, fraca por recusa alimentar, também encontrou seu destino, falecendo dormindo na cama da garota. O pai de Sakura, então, mandou trazerem-na para o palácio e a tomou como sua protegida em honra ao seu pai, e ela começou a viver no palácio como dama de companha de Sakura, com um lugar assegurado pelo próprio rei à mesa e ao núcleo da família real.

Sakura sabia que o palácio ficaria triste e sombrio quando ela partisse.

''Pare com essa cara melancólica!'' ralhou Ino, deitando na grama ao lado de Sakura e tirando-lhe o chapéu para colocar sobre a própria cabeça, sorrindo vitoriosamente quando Sakura sentou na grama e a olhou com falso aborrecimento.

Sim, ela sentiria muito a sua falta.

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No final da tarde do dia seguinte, Sakura foi chamada pelo conselho para uma reunião extraordinária a fim de discutirem a decisão final em conjunto sobre a proposta de Madara, com o objetivo de dar-lhe uma resposta logo pela manhã seguinte. Mitokado foi quem tomou a frente na conversa:

''Nossos informantes de confiança foram atrás de averiguar a veracidade das informações passadas há duas noites por Madara, Majestade, e realmente elas se confirmam. O empreendimento realmente parece bastante vantajoso e com perspectiva de crescer ainda mais à medida que mais súditos se mudem para áreas próximas a essas terras e acrescentem valor agregado às mercadorias para sua venda. Realmente, é possível esperar um impulso na economia firmando esse acordo. Solicitamos que os contadores reais estimassem a quantia necessária a ser investida em um projeto como estes e, apesar de ser um gasto bastante considerável, tanto com recursos quanto com a empregabilidade de trabalhadores acreditamos que seja um excelente investimento a longo prazo, visto que realmente em apenas um ano a projeção é que o investimento se pague e que a partir de então apenas lucros crescentes surjam. A decisão final é da senhora e, levando em conta a situação exposta, Vossa Majestade tem nosso total apoio e incentivo para firmar esse acordo com o senhor Uchiha'' ele disse, um leve sorriso no rosto, algo que Sakura nunca antes havia visto. Ele parecia realmente satisfeito com o rumo que tudo tomou.

''Perfeito! Minha decisão é a mesma que a de vocês, mandarei que chamem o senhor Uchiha logo pela manhã para firmarmos o acordo!'' ela respondeu com um sorriso de orelha a orelha, sentindo-se extasiada com a ideia de que o reino em fim iria prosperar e a economia seria salva. Aos poucos, tudo ia se encaixando.

Os membros do conselho assentiram com suas cabeças juntos e Sarutobi acrescentou:

''Sobre a segunda parte da proposta do senhor Uchiha, Majestade…''

''Ah sim! Um título nobiliárquico para seu sobrinho'' ela interrompeu ''O que temos disponível para oferecer? Seria bom algo bastante bom para agradecer ao senhor Uchiha por seus esforços'' ela sorriu com orgulho

''Realmente'' Sarutobi continuou ''Por isso mesmo o conselho discutiu e após investigar o histórico do rapaz temos uma proposta para a senhora''

Por algum motivo, Sakura soube que não iria gostar do que viria a seguir. Estava tudo indo bem demais para ser verdade.

''O rapaz a quem o senhor Uchiha se referia é um capitão do exército, não o incumbido à proteção da família real e sim à do povo. Trata-se de um rapaz condecorado por valentes ações em combates, um excelente comandante, exímio estrategista e um homem bastante respeitado dentro do exército. Após habilmente exterminar um grupo de ladrões viajantes que há alguns meses havia se infiltrado em Konoha e atormentava os aldeões com saques, violência e assassinatos, esse capitão se tornou uma figura heroica para o povo, um símbolo de força e proteção''

''Hm'' Sakura não estava gostando nada do rumo que aquela conversa estava tomando

''Vossa Majestade'' interviu Danzou ''Nossa forte sugestão é que a senhora tome esse rapaz para governar ao seu lado, aceitando-o como seu consorte real''

Sakura virou-se imediatamente para Sarutobi e o fuzilou com os olhos, mas ele manteve firme seu contato visual sem estremecer, visivelmente convicto da decisão. Ela bufou.

''E quanto ao casamento com Naruto?'' indagou, erguendo uma sobrancelha

''Acreditamos que, tendo em vista a investigação de seu pai, o senhor Namikaze, ainda em processo, o senhor Uzumaki deixa de ser um pretendente favorável à mão da rainha de Konoha'' respondeu Mitokado ''Ademais, o casamento com o sobrinho de Uchiha Madara mostra-se como uma oportunidade muito mais vantajosa de um excelente casamento real, que nos permitirá tanto cumprir com louvores nossa parte do acordo, como incluir uma figura forte e altamente respeitada dentro da família real, tornando o terreno mais hostil para possíveis conspirações e ataques''

Sakura mastigou o lábio inferior por alguns segundos e então afirmou:

''Ele não possui nenhum título, nenhum ainda, como posso tomá-lo como consorte?''

''De que vale um título real pré-concebido se aquele que o carrega não passa de um tolo?'' respondeu-lhe Danzou ''Não, antes uma coroa na cabeça de um plebeu do que uma na cabeça de um nobre insensato. Há alguns anos a rigidez na norma sobre casamentos reais tem sido perdida e há maior maleabilidade na escolha de consorte. O Uchiha é, com toda a certeza, a melhor opção que podemos esperar ter no futuro próximo''

Sakura soltou todo o ar de seus pulmões pela boca e fechou os olhos.

''Preciso de um momento para pensar sobre o assunto. Até amanhã, antes mesmo de Uchiha Madara chegar, vocês terão minha resposta''

Com isso dito, ela se levantou e saiu da sala, indo para o jardim interno se sentar e pensar. Como gostaria que Ino estivesse lá para ajudá-la! Mas a loira havia saído para comprar tecidos no mercado em uma das aldeias próximas e tardaria a retornar.

Ela já havia passado algumas horas apenas sentada olhando para as flores ao seu redor quando sentiu a presença de alguém se aproximar. Era Sarutobi.

''O que está fazendo aqui?'' ela perguntou com rispidez, virando o rosto para não encará-lo.

''Vim oferecer um conselho de quem a quer bem''

Sakura virou-se bruscamente para ele e lhe dirigiu uma cara feia

''Você não quer meu bem! Finge ser meu amigo e conspira com os conselheiros pelas minhas costas, tomando decisões que sabe que eu não aprovaria!''

Suspirando, Sarutobi tomou um lugar no banco ao lado de Sakura, olhando para algum ponto interessante o horizonte.

''Lamento que pense assim, Majestade. Sim, participei de discussões em que optamos por decisões que eu sabia que não agradariam a senhora. Mas, um monarca, especialmente um jovem, em um país instável e com tantos perigos o rondando, não precisa ser agradado pelo seu conselho, precisa ser instruído. De que adiantaria um conselho que acatasse a todas as suas opiniões e desejos? A função dos conselheiros é, com sua experiência, guiar o monarca para as decisões que melhor beneficiem a nação, é isso o que fazemos. Haverá vezes em que essas decisões irão ao encontro de suas vontades, mas na maioria das vezes não, e a senhora precisa saber que mesmo nesses momentos a intenção do conselho permanece a mesma: de ajudá-la a crescer como monarca e a fazer o reino prosperar. A senhora pode pensar que não quero o seu bem, mas isso não é verdade. É por querer seu bem que nego seus pedidos e a oriento a tomar decisões que a senhora preferiria não tomar. Não se engane com bajuladores que apenas farão sua vontade, minha senhora, a mão que afaga é a mesma que apedreja. Peço que confie no que digo desta vez e acate a sugestão do conselho, com essa saída estaremos a caminho da resolução da maioria dos nossos problemas, tanto internos quanto externos''

Os lábios de Sakura involuntariamente se juntaram em um beiço quando ela tentou impedir a si mesma de chorar, abaixando a cabeça. Desde a morte de seu pai, Sarutobi havia sido a pessoa quem mais a instruíra, quem fizera a função que um monarca faz com um príncipe herdeiro, orientando-o e instruindo-o. Ele sempre a alertara de que não seria nada fácil ser uma monarca e que muitos sacrifícios precisariam ser feitos. Seria esse um dos sacrifícios que teria que fazer pela coroa? Casar-se com um completo estranho, trazendo-o para seu lar, para seu quarto e para sua vida? E se eles não se dessem bem? Sua vida já estava virada de cabeça para baixo desde a morte de seu pai e de Gaara, será que ela seria mesmo capaz de enfrentar mais uma mudança grande dessas em seu âmbito pessoal?

''Sei que sabe que já fez muito, e que já abriu mão de muito. E ainda abrirá mão de muito mais coisas, Majestade. Pesada é a coroa que descansa na cabeça do monarca''

Sakura abaixou a cabeça e ficou em sil6encio. Sabia muito bem quão verdadeira era aquela frase.

''Não posso obrigá-la a tomar nenhuma decisão, mas como conselheiro e professor - aliás, sinto falta de nossos estudos vespertinos -, aconselho-lhe que aceite a proposta de Uchiha Madara e que tome seu sobrinho como cônjuge. Esse é o melhor que a senhora pode fazer pelo povo e, acredite ou não, por si mesma. Isso irá descarregar bastante peso e preocupações de seus ombros''

Ditas essas palavras, ele se levantou, curvando-se suavemente e beijando o dorso da mão de Sakura antes de se retirar. Sakura ficou mais alguns instantes no jardim, observando enquanto o sol se punha no horizonte.

Se as coisas realmente eram predestinadas, como seu pai costumava lhe dizer, será que esse casamento arranjado também seria? Ela não conhecia o rapaz com quem se casaria, seria ele um homem bom?

Suspirando, Sakura decidiu que Sarutobi tinha razão. Essa era uma situação em que ela deveria dizer não à emoção e sim à razão. Esse casamento beneficiaria muito o reino e asseguraria maior segurança para todos. Ela não podia dizer não.

Levantando-se, ela se dirigiu para dentro do palácio novamente, andando a passos decididos até a sala de reuniões, onde sabia que encontraria Mitokado, que sempre ficava até tarde analisando documentos.

''Tomei minha decisão'' disse ao entrar pelas portas, fazendo com que Mitokado rapidamente se levantasse e se curvasse desajeitadamente.

''Pois bem'' ele se recompôs e limpou a garganta ''O que a senhora decidiu?''

Antes que o medo e a indecisão pudessem dominar seu cérebro, ela disse:

''Amanhã, na reunião com Madara, firmaremos o acordo e proporei o casamento com seu sobrinho''

Mitokado a analisou por um momento, visivelmente surpreso com a forma decidida com a qual ela veio apresentar sua resolução.

''Isso é uma excelente notícia, Majestade, tenha certeza de que tomou a decisão correta'' ele assentiu algumas vezes com a cabeça em aprovação ''Providenciarei que tudo esteja organizado para amanhã, com certeza o senhor Uchiha ficará muito feliz com essa notícia''

Sakura concordou levemente com a cabeça. Era isso, era o seu dever. E ela o cumpriria até o final.

''Posso ao menos saber seu nome? O nome desse tal sobrinho do senhor Uchiha?'' ela indagou quando juntos os dois saíam da sala de reuniões, Sakura indo para seu quarto e Mitokado indo certificar-se de que tudo estaria pronto para receber o senhor Uchiha pela manhã.

''É Sasuke, Vossa Majestade. Uchiha Sasuke''

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Tanananaaaaaaam! O que será que teremos a seguir?

Este capítulo foi demorado para escrever, viu (e não só pelo tamanho), espero que goste!

Agradeço aos meus nenês Caio e Mike pelo seu apoio incondicional sempre! 君たちはとても大好き!

Um grande beijo!

Com carinho,

Blackfan Diamond