Ímpares
Capítulo 2
Segunda feira era muito mais cedo do que seu cérebro esperava para as aulas começarem.
Teria aulas com uma Weasley, e tentava parar de pensar em todos os cenários que acabavam com algo dando muito errado. Mas antes das oito e meia da manhã já havia conseguido completar mais de 20 possíveis maneiras de tal coisa deixarem sua noite pior.
Depois de entender que sua vida não acabaria na última noite de sexta, decidiu ao receber um chocolate que fedia a sonífero que o melhor a ser feito seria apagar. Seu cérebro agradeceu, e acordou até mesmo descansado na manhã seguinte - por mais que tenha aberto os olhos num chão frio e duro demais para ser chamado de confortável.
Então, seu padrinho anunciava que, em três dias, começaria a dividir três noites por semana com a bruxa que deveria ter matado. E ali estava outra vez o número que o perseguia.
"Weasley." Continuou encarando a noite ao ouvi-la entrar na sala, os olhos muito mais felizes observando a escuridão do que o monte de vermelho que em mais alguns segundos não conseguiria mais adiar ver.
"Malfoy-"
"O que você sabe sobre oclumência?" Observar o que não podia ser visto deixava seu cérebro muito mais descansado. Dependia tanto dos números para viver, mas era muito mais fácil respirar ao esquece-los por alguns minutos.
A bruxa vestia um moletom vermelho com três quase imperceptíveis remendos - e a vida só poderia estar de brincadeira com ele.
"Legilimência?" Respirou fundo, o olhar perdido contando que ambos tópicos eram completamente desconhecidos por ela. Injusto como a vida conseguia ser tão fácil para algumas pessoas: ele já sabia toda a teoria antes de seu primeiro ano letivo, e hoje conseguia ler mentes com perfeição - ainda mais após as aulas tidas no último verão. "Vamos começar."
Ignorou a bruxa perdendo momentaneamente o ar ao invadi-la, sentindo repulsa ao descobrir a ausência de qualquer barreira. Ela praticamente o convidava para dentro, e aquilo conseguia ser tão apavorante para si quanto os três pontos na barra do casaco.
A bruxa era um livro aberto, mas decidiu ficar na beirada, optando por descobrir todo o feito por ela na última hora. Em segundos, soube que ir mais fundo talvez tivesse sido uma escolha muito melhor do que a descrição do gosto que Dean Thomas tinha. Nojento.
Saiu, indo sentar-se em uma das duas cadeiras que haviam na sala de pedra, ignorando a jovem caída de joelhos no chão. Olhos castanho-claros o encaravam semicerrados quando sua atenção parou pela segunda vez nos furos ímpares.
"Você nem mesmo-"
"Está pronta?" Perguntou o que sabia que seria a reclamação, tivesse dado a chance dela sair da boca sardenta. "Legilimens."
Mas mesmo sendo avisada, qualquer tentativa de bloqueio vinda da grifinória lhe causava dó. Poderia ver tudo, cada pedaço e pensamento da traidora de sangue suja que ainda permanecia de joelhos. Patética, ridícula. Qualquer um com um rosto tão expressivo quanto o dela teria uma morte certa na guerra que estava por vir.
Provavelmente era por tal que estava ali tentando ensinar alguma coisa justo para essa Weasley. Mante-la viva era uma das condições para ele tentar fazer o mesmo.
Via-se num treino de quadribol, Potter chegando muito mais perto do que o necessário diversas vezes enquanto do chão, um grifinório que lhe era familiar observava tudo. O treino acabara e era Dean, outra vez, com quem a bruxa interagia. Os gritos eram tão ensurdecedores agora quanto deviam ter sido pessoalmente.
Revirou os olhos, cortando pela segunda vez a ligação e vendo-a finalmente sair do chão. Dizer que a grifinória parecia brava era um eufemismo.
"Outra vez. "Legilim-" Avisou com descaso, começando a movimentar a varinha antes de sentir o choque na mão direita.
"Expeliarmus!"
Viu a varinha ir de encontro a parede e tomou seu descaso como lição, resolvendo ignorar o olhar vitorioso que brotava no rosto irritantemente expressivo. Poderia não ensinar muito sobre o domínio da mente naquela noite, mas a bruxa aprenderia o quanto considerar uma batalha vencida antes do tempo poderia machucar.
"Legilimens."
Lembrou-se de sexta, e dela querendo deixar claro que, ao invés de estar o seguindo, apenas queria ter encontrado um canto para ficar sozinha. Foi mais fundo, tentando passar o azar do número três para quem se contorcia na sua frente, e não demorou para entender o que o impediu de completar sua tarefa naquela noite. Fuçar na mente de um Weasley lhe causava mais repulsa do que poderia imaginar, e a olhou com nojo ao vê-la observar de longe o grifinório que ele tanto odiava.
Potter beijava uma morena que em segundos Draco aprendeu ser uma grifinória que a bruxa considerava uma amiga. E Dean, patético Dean Thomas, parecia alimentar-se com as migalhas de um afeto que a Weasley se forçava a dar.
Os olhos, agora vermelhos, continuavam a encara-lo com puro ódio.
"Limpe sua mente." Começou, a olhando com o mesmo nojo que sentiu ao ver a cena patética. "Defenda-se como puder. E transforme suas memórias." Passou reto pela bruxa, resolvendo acabar a aula por mais que o relógio estivesse longe de marcar nove horas. "Continuamos na quarta."
Não esperava a azaração que o acertou nas costas, o arremessando de cara na porta, outra vez tendo a varinha jogada longe.
"Que merda foi essa?"
"Defenda-se como puder." A bruxa, agora de pé, parecia muito mais forte - e muito mais brava - do que a menina de segundos atrás.
"Nós não estamos aqui para treinar essa parte!" Estralou os dedos com mais força do que o habitual, fazendo cada um deles doer enquanto se fazia lembrar o quanto estaria morto caso aquilo fosse uma batalha real.
Havia falhado mais outra vez, e as sardas que preenchiam aquele rosto pareciam zombar de seu fracasso.
"Você é um merda como professor."
Não se contentou em ficar na beirada. Com um movimento quase imperceptível da mão direita reuniu a força que precisava para fazê-la voltar para o chão, penetrando nas memórias que a bruxa mais tentava reprimir. Roupas de segunda mão, nunca ter dinheiro o suficiente para comprar o que gostaria. O Cicatriz beijando uma aluna da Corvinal, todas as vezes que a bruxa era excluída pelo irmão mais novo. E frio, um frio que era tão igual as masmorras debaixo da mansão que chamava de casa.
Somente quando saiu viu que a bruxa segurava a respiração, agora livre puxando o ar com um desespero quase tangível. Havia mexido em algo há muito escondido, conseguia saber pelo vazio que preencheu os olhos nunca antes livres de qualquer emoção.
"Você nem mesmo falou alguma coisa!" E pela segunda vez via lágrimas escorrendo pelas sardas que odiava, e pela segunda vez, a tratou como uma aluna indefesa, abaixando a guarda enquanto respondia no mesmo tom.
"Não vão te falar nada, Weasley! Você nem mesmo vai saber que tem alguém vendo, e vão ver de novo, e de novo, e de novo!" gritou, chegando ao lado da bruxa em três passos largos. "É demais para você e sua vidinha feliz e patética? Você só vai aprender a se defender sentindo dor, Weasley." Os olhos mais uma vez acharam os tres remendos no tecido vermelho. "Sinto muito que nunca tenha precisado passar por isso."
Segurou com força a mão que tentou chegar em seu rosto, mas não previu que a bruxa não pararia naquela tentativa ridícula de soco. A força com que a coxa parou no meio de suas pernas era digna de uma jogadora de quadribol, e Draco perdeu a voz enquanto ia para o chão do mesmo jeito que a bruxa fora antes.
"Prefiro ser obliviada do que passar outra noite com você, Malfoy."
Amaldiçoou sua sorte ainda debruçado no chão, já prevendo como passaria o resto de sua noite tão logo conseguisse levantar.
Não precisou esperar muito tempo para seu padrinho achá-lo, dedurando que a Weasley havia ido da sala para o diretor. A pobretona realmente não mentia ao falar sobre suas preferências, e ela pedindo para ser obliviada havia sido a gota que Severo precisava para gritar como na última sexta.
"Qual o problema em ser obliviada? Não é como se um trasgo fosse usar o feitiço nela!" rebatia, ainda sentindo a força da Weasley mais nova entre as pernas. Acabaria com ela na próxima aula, entraria nas memórias que a ruiva mais escondia dentro de sua mente estupidamente fraca.
"Você sabe porque Dumbledore quer que justo essa bruxa aprenda a se defender." A resposta veio ríspida.
"Seu primeiro aluno não tem tempo para ensinar a namoradinha, Severo?" Largou-se na cadeira, os braços cruzados.
"Não seja um moleque, Draco." O professor o olhava com reprovação - e quando não, ultimamente? "Não combina mais com você."
"E ensinar uma traidora de sangue combina?" Foi empurrado com cadeira e tudo com um movimento de varinha, tentando não ligar e não reagir ao sentir uma dor aguda -pela terceira vez na noite - ao bater a cabeça na parede.
"Dumbledore convenceu a Weasley a te dar mais uma chance. Ensine a menina, Malfoy." O bruxou bufou, o olhar denunciando que o anunciado não estava aberto para discussões. "Esse é o acordo para tirarmos você e sua mãe dessa guerra." Snape já abria a porta ao terminar a frase.
Quarta-feira chegou muito mais rápido do que gostaria, e as três marcas de unha que Parkinson havia feito próximo de sua virilha o incomodavam mesmo cobertas.
Mas por mais que a bruxa sangue-puro o tirasse do sério quando contradizia a única coisa que o sonserino pedia, o corpo que ela oferecia era distração suficiente para mantê-lo são. Ela lhe dava controle, controle que desde setembro lhe havia sido tirado em quase todas as áreas de sua vida.
Estar em controle era necessário para sua sanidade - talvez por isso gostasse tanto de números. Sempre conseguia controlar quantas vezes beijava Pansy, entre outras coisas que fazia com a garota entre as cortinas de sua cama. E quase sempre era possível prever as reações da bruxa, tão focada no próprio prazer que nem mesmo percebia que eram necessários exatos cento e sessenta movimentos para ela colocar o feitiço silenciador em prova.
Os três arranhões marcavam sua maré de azar, a primeira vez que não conseguia chegar até o fim com a sonserina que lhe dava estabilidade. Suspirou ao entrar na sala, alinhando perfeitamente as cadeiras, colocando a da grifinória quase colada na porta.
"Essa distância está boa, pobretona." avisou quando a Weasley entrou na sala, resolvendo permanecer atrás de sua cadeira.
"Um Malfoy com medo de uma pobretona patética: isso é novidade." ela respondeu, dando três malditos passos para frente - o propósito da vida daquela ruiva só poderia ser enlouquecê-lo.
"Se houver um futuro para mim, gostaria de escolher ter descendentes." deu um para trás, tentando compensar o número - e a bruxa voltou a dar três passos até sua cadeira. Não haviam passado nem mesmo três minutos, e já passara mais tempo do que sua sanidade considerava necessário com a sardenta.
"Com a sua mão?"
Resolveu por ficar de pé, alcançando a varinha com a mão direita.
"Está pronta?"
"Voce não vai tentar descobrir por conta?" E ali estava a sardenta, varinha em punho, provavelmente pronta para azara-lo - ou seja lá o que ela pensava em fazer para tentar defender a mente fraca que tinha.
Revirou os olhos, abaixando a mão e sacudindo a cabeça. Nunca conseguiria ensinar para alguém não disposta a aprender.
"Você não vai aprender nada me impedindo desse jeito. Oclumência não é para espionar: é defesa."
"Então você revirando minhas memórias não é espionagem?" Tão irritante.
"Se você não sabe nem o básico, vão entrar na sua cabeça e você nem vai saber." Olhou fundo nos olhos castanhos, tentando não ligar para as três sardas brancas que pareciam zombar dele e focando em procurar qualquer coisa que pudesse usar a seu favor. Não demorou nem três segundos. "E então, vão descobrir que você nem mesmo lava morangos antes de comê-los quando invade a cozinha e perturba os elfos domésticos, e amanhã você estará morta antes mesmo do café."
Sentiu-se vitorioso pela primeira vez no dia ao ver a surpresa que a Weasley não conseguia esconder, ponderando se ela finalmente levaria a sério o que precisava aprender.
"Nós vamos fazer isso até você me dar algum resultado - qualquer resultado."
A surpresa durou menos do que ele gostaria, transformando-se em raiva, os lábios sendo moldados num bico.
"Eu não quero aprender assim!"
Por Salazar, o que havia feito para merecer justo essa grifinória atormentando suas noites?
"Se comportar como uma criança não te cai bem, Weasley. Eu não tenho interesse nenhum em fuçar nas suas memórias ridículas e baratas-"
"Elas não tem preço perto das suas." Sempre uma resposta afiada, a varinha nunca abaixando.
Draco pinçou o nariz, mania que havia adquirido após passar mais tempo do que deveria com o padrinho, e tentou não provar outra vez o quanto a jovem era fraca para controlar qualquer invasão.
"Senta."
Ele se manteria na beirada. Apenas o suficiente para saber que Dean Thomas não gostava dos olhares que Potter lançava vez ou outra para a sardenta, e o quanto a bruxa estava atrasada nas lições de Transfiguração. Sentiu o prazer da jovem ao mastigar um pedaço de bolo de chocolate, uma, duas três vezes, e a maldita mastigava exatas três vezes antes de engolir todas as vezes-
"Pára!" O grito foi inesperado, o fazendo quebrar a ligação e voltar a enxergar vermelho. Vermelho nos cabelos, no rosto, nos olhos. "Você nem mesmo me avisou-"
"Você acha que alguém vai te avisar, pobretona?"
Foram mais três segundos para o monte de vermelho levantar e alcançar a porta, e outra vez a Weasley fugia dele. Severo deveria ensina-la ao invés de dar-lhe uma tarefa impossível e desnecessária, e estava para descobrir o porquê dessa condição ridícula para ser ajudado. Não era como se algum dos bruxos naquela sala estivesse se beneficiando da situação.
Um movimento de varinha e a porta foi fechada e trancada, o barulho ecoando pelo corredor.
"Seu babaca! Abre a merda dessa porta!"
"Senta nessa cadeira ou eu te amarro nela!" respondeu no mesmo tom, observando com certo prazer a Weasley olha-lo com medo pela segunda vez na vida. "Eu não tenho opção. Então nós vamos relembrar tudo que eu te falei, passo a passo." respirou fundo, tentando não se importar com os três pontos a serem relembrados. "Primeiro, você vai limpar a sua mente. Segundo, se puder ouvir alguma coisa, você vai levantar a varinha e tentar contra-atacar. Terceiro, se eu conseguir entrar, você vai pensar em memórias não relevantes."
"Se eu conseguir te ouvir?"
"Como você deve ter percebido, eu não preciso de palavras para entrar." Decidiu deixar a parte do quão ridiculamente fácil era lê-la em silêncio.
Observou-a por vinte segundos, ponderando se a ruiva sentiria ou não qualquer coisa ao ter a mente invadida. Provavelmente não - aquele era o ponto levantado por Snape afinal. Ela não sentia nada, não bloqueava nada.
"O que você está esperando?"
Teria tanto trabalho nas próximas semanas.
"Você crescer. Ou acha que eu estou me divertindo?" E com um olhar de desprezo que faria seu padrinho orgulhoso, deu-se o trabalho de mais uma vez alcançar sua varinha. "Pronta?" Não esperou resposta antes de continuar. "Legilimens."
E ele entrou com uma facilidade que o fazia precisar estralar os dedos. Um, dois, três, quatro segundos e via outra vez morangos. A bruxa corria por corredores de pedra, e soube que ela odiava andar por eles quando sozinha.
Resolvendo que descobriria o porquê, não foi impedido de afundar-se naquela mente, e podia sentir o gélido das paredes de pedra. Olhou para mãos sardentas que afundavam numa poça d'água, pernas fracas demais para manterem-se de pé. A bruxa fungava, os soluços altos demais.
"Tão inútil quanto da última vez." E os olhos estavam outra vez vermelhos e raivosos.
"Idiota."
Não avisou, e em dois segundos voltava para onde havia parado. Frio, úmido, e tão amplo que os soluços ecoavam, tornando tudo muito mais desconfortável do que se a bruxa se mantivesse quieta. O mesmo frio daquela primeira noite, um frio que vinha mais de dentro do que era causado pelos arredores.
Conhecia aquele frio bem demais, e dividir algo com a Weasley o incomodava mais do que poderia imaginar.
"Quanto mais você expõe seus sentimentos, mais você facilita o meu trabalho." Deu os ombros, pensando em quantas vezes teria que ver aquilo em uma noite. Com certeza entraria sem qualquer dificuldade outra vez. "Ou dificulta, dependendo do ponto de vista."
"Não vejo vantagem em ser uma estátua sem emoções, Malfoy."
"Que pena." zombou, tentando não se incomodar ao pensar que a língua afiada era digna de uma bruxa sonserina. "Legilimens."
Duvidava que os métodos usados por sua tia seriam eficazes para a grifinória que, mais uma vez, o recebia sem qualquer bloqueio. Frio, soluços, e escamas que passavam perto demais - e assim fácil, descobria o pavor que a bruxa tinha de cobras.
"O que mais eu vou conseguir arrancar de você hoje, Weasley?"
Tentou ignorar a mão trêmula que segurava a varinha como se a vida dependesse disso, assim como o quanto vê-la assim o fez hesitar antes de voltar a entrar. Havia masterizado legilimência após Bellatrix rasga-lo por semanas, mas repetir os ensinamentos com outra pessoa era muito menos agradável do que imaginava.
Era a última vez, jurou para si mesmo, e voltou para a caverna onde uma cobra gigantesca abria a boca, pronta para abocanhar seja lá o que estivesse em sua frente. Sentiu o coração acelerar e estava prestes a deixar a memória, quando um bruxo desconhecido - provavelmente um Weasley, visto o cabelo e sardas - decapita o monstro.
E todo o frio foi embora. Sentia-se bem, e por exatos doze segundos, deixou-se se perder no calor que tomava conta de tudo. Não sabia se era pelo sol que iluminava o jardim, ou pelo conforto que o irmão da Weasley lhe passava com um abraço, mas sentia, pela talvez primeira vez na vida, que poderia relaxar e descansar.
Saiu da memória mais devagar do que deveria.
"Isso é verdade?" Precisou concentrar-se para a voz sair tão neutra quanto antes, e amaldiçoou mais uma vez o sobrenome que crescera aprendendo a detestar.
"As duas são." A resposta veio numa voz que transbordava calor, a bruxa ainda parecendo perdida na última cena vista. Sentiu-se menos culpado e muito mais incomodado ao concluir que como ele, ela também aprendia com a dor.
"Mas são duas memórias diferentes - dá para saber." disse, decidindo que a última coisa que deveria fazer era dar qualquer tipo de elogio justo para essa bruxa. Aprender com a dor, afinal. "Melhore isso até a próxima aula. Não é como se eu tivesse muito tempo para te ensinar alguma coisa, já estamos em Março."
Os olhos endureceram, e toda a quentura se perdeu ao se encontrarem com os dele.
"Nunca detestei tanto um professor."
E sem mais palavras, a jovem levantou-se, destrancou a porta e a bateu ao sair.
Irritante, e ainda mais irritante era o orgulho que tomou seu peito ao pensar que a havia feito aprender algo em apenas uma aula. Sim, a menina estivesse se comportando como uma pirralha mimada, e não, e Draco precisava admitir que não se esforçava muito para ser o melhor dos professores. Ainda assim, em poucas horas a bruxa conseguira bloqueá-lo e confundi-lo sem ele nem mesmo ensina-la a teoria básica de como contra-atacar.
Ela era boa, irritantemente boa. Muito melhor do que algum dia lhe deram crédito - não que fosse admitir em voz alta tal.
Depois de alinhar as cadeiras, trancou desnecessariamente a porta ao sair e contou exatos seiscentos passos até sua cama. E do mesmo jeito que se negava em admitir o quão boa aluna era a grifinória, resolveu ser culpa de sua exaustão o sono ter vindo tão rápido ao invés de qualquer calor estúpido em seu peito.
E durante toda a terça, evitou pensar na sensação de paz que tinha no peito ao acordar, tão desconhecida pelo bruxo, e tão irritantemente boa de se sentir.
Nota da Autora: E aqui está o último capítulo que vai sair em abril, provavelmente. Posso falar que to adorando escrever essa? O que estão achando? Adoro saber de opiniões para pensar nas direções que tomo :)
Fiquem todos bem,
Ania.
