Capítulo III


De alguma forma, meu coração palpitou ao ver o ruivo parado na sala, ao lado de Cyborg, conversando com a Ravena, mas parando de falar assim que nos viu.

Entrei na sala e acenei um "Olá" para o arqueiro que acabara de chegar.

- Bom ver vocês novamente - ele falou e então olhou para o lado, no qual chamou minha atenção para olhar também, eram duas malas, como se ele estivesse de mudança.

- Está tudo bem? Por que está com essas malas? - Robin perguntou antes de chegar perto o suficiente para que suas mãos tocassem.

- Eu tive um problema com os Titãs da costa leste - resposta rápida, mas contrastada - Na verdade tenho tido muitos problemas com eles, alguns problemas nós conseguimos lidar ou ignorar, mas chega uma hora em que se todos não ajudarem na situação, ela fica irreversível e não tem mais como aguentar - ele terminou, deixando um tom triste no ar.

- Você quer passar um tempo aqui, até que tudo esteja bem? - Robin perguntou, e nossa atenção voltou ao Arqueiro.

- Na verdade, se todos concordarem, eu gostaria de ficar uns dias aqui até decidir o que farei com minha vida de herói, já não sei se quero continuar com isso - o arqueiro respondeu olhando para todos nós, um por um.

- Pra mim, não tem problema nenhum - Ravena responde rapidamente.

- Por nós também não - Mutano e Cyborg respondem uníssono se entre olhando.

- Pode ficar, é claro, mas caso tenhamos algum problema, você vai nos ajudar nisso - Robin respondeu antes que eu pudesse dar minha opinião.

- Sim, eu farei - Speedy pegou suas duas malas em mãos - Onde posso dormir?

- Eu te mostro o quarto que você vai ficar - digo a ele fazendo um sinal para que ele me siga até o quarto indicado.

- Uau, é um quarto grande - ele olhou ao redor antes de colocar as malas no chão.

- Sim, esse quarto não foi usado até hoje - falei enquanto abria as cortinas para que a luz do dia entrasse - Recebemos a Terra aqui, uma ex-companheira de equipe, mas ela preferia dormir no sofá da sala - terminei me virando de volta para ele.

- Então irei inaugurar ele, que ótimo - Speedy sorriu para mim antes de sentar na cama.

Um barulho e uma vibração invadiram o quarto, Speedy tirou seu comunicador do bolso olhou, mas desligou a tela, o guardando de novo.

- O que houve com os titãs da costa leste? - perguntei me sentindo preocupada com a situação.

- Sabe, discutíamos muito, tudo era motivo para brigas, o que eu comia não agradava o Aqualad, o que eu falava não agradava Mas y Menos, e tudo o que eu fazia, minhas escolhas em geral, como acordar um pouco mais tarde nos finais de semana, eram motivos para a Abelha ser dura comigo - ele suspirou e olhou para mim - eu não concordo com muitas coisas que acontecem lá, mas eu não falava, porque sempre acreditei que todos têm o direito de fazer o que querem... Mas as últimas escolhas que a Abelha fez, não me agradaram, e eu não consegui engolir tudo isso mais uma vez - ele me fitou por alguns segundos antes de olhar para a parede à frente - Como você consegue, Estelar? Como consegue engolir tudo isso e fingir que está tudo bem? - sua pergunta pareceu vaga por alguns instantes até eu me dar conta de que o Robin poderia ter dito a ele sobre nosso relacionamento conturbado.

- Eu tento levar tudo isso da forma mais leve que eu consigo - sento ao lado dele na cama - eu sou uma alienígena, às vezes não sei se os costumes daqui são esses, ou se apenas está acontecendo realmente algo errado... Mas eu aprendo com o que posso, pois amo meus amigos e a terra, não pretendo deixá-los - conclui olhando para ele.

- Então você abstrai os erros deles por amor? - ele perguntou sem ânimo.

- Sim, tem coisas que não posso perdoar, mas estar aqui na terra é como se eu tivesse finalmente liberdade de viver, não quero perder isso, mesmo que algo me magoe.

- Você é forte, Estelar, isso eu não posso negar - Speedy falou e se levantou logo em seguida - Vou tomar um banho, arrumar minhas coisas e depois desço para a sala, tudo bem?

- Claro, eu te espero lá - sai de seu quarto e fui para o meu.

Antes do anoitecer, fui para a sala encontrar meus amigos.

Fiquei ao lado de Ravena até que ela tivesse deixado a atenção de seu livro cair sobre mim.

- Como você está? - Ravena me perguntou fechando seu livro se virando para mim.

- Estou bem, parece que as coisas entre eu e o Robin melhoraram, ele me pediu desculpas hoje, e acho que dessa vez vai ficar tudo bem - apertei um sorriso para Ravena.

- Bom... Ainda bem que ele notou que estava sendo errado com você, mas sinceramente, Estelar - ela ficou com o rosto sério e sombrio antes de continuar - não sei se esse relacionamento vai ir pra frente, digo, ele não te dá o devido valor e tem coisas que não dá para esquecer - ela completou.

- Eu sei - encolho meus ombros - Eu só continuo com isso, pois nossos sentimentos, nossas promessas de ficarmos juntos, acho que tudo isso significa algo.

- Bom, eu espero que sim. Detesto ver ele te magoando, você não merece isso - ela olhou para a tela da TV que mostrava os jogos que os meninos estavam jogando.

- Eu estou bem - garanti antes que a porta se abrisse novamente.

- O que exatamente vocês costumam fazer quando a cidade está calma? - Speedy entra na sala indo até o sofá - Vocês vêem filmes?

- Toda semana assistimos algum filme inédito ou filmes de terror com pipoca e refrigerante - Mutano responde, com o controle ainda vibrando em sua mão - Ei, cara! Isso não vale! Você vai ficar fazendo essa jogada em um looping infinito!

- Você caiu na minha emboscada, eu já te disse, sou melhor que você nesse jogo! - Cyborg riu enquanto via seu personagem matando o outro toda vez que o adversário revivia.

- Tenho notícias sobre Destroyer - Robin falou entrando na sala - Parece que seu esconderijo é uma usina que fechou as portas há dois anos atrás, vamos para lá antes que ele mude de lugar - Robin desligou a tela da TV com o controle em suas mãos - Vamos! Vocês fiquem nas posições em que planejamos na semana passada - ele andou em direção a porta.

- Cara que injusto desligar a TV durante o momento mais inédito do jogo - Cyborg falou, rindo de Mutano.

- Não temos tempo para isso-

- Eu não estava aqui na semana passada, o que eu faço para ajudar? - Speedy pergunta antes de colocar suas flechas em suas costas.

- Você fica na parte de cima da usina com a Estelar, para caso haja alguma coisa que não estejamos vendo lá de dentro - Robin saiu e nós o seguimos até a usina.

Fizemos o que tinha sido planejado na semana anterior, dessa vez chegamos de forma diferente, sem levantar suspeitas que estivemos aqui, ficamos em silêncio, apenas indicações com a cabeça e com as mãos uns para os outros.

Robin e Cyborg entraram pela lateral da usina, por uma escada de emergência, Mutano entrou por trás, uma porta que havia sido bloqueada por grandes pedaços de ferro, Ravena estava posicionada na parte da frente, caso alguém saísse por ali, eu e Speedy estávamos na parte de cima, no telhado.

Nossa visão era boa nesse ponto, uma parte do telhado era feito de vidro, o que nos ajudava a observar como estavam as coisas lá dentro.

Me mantive flutuando, sem que meus pés tocassem nos ferros que haviam abaixo de mim, pois não queria fazer algum barulho e acabar chamando a atenção.

Speedy estava em meu lado oposto ao vidro que tinha aqui, observando o que acontecia dentro da usina abandonada. Desde que chegamos, não notamos nada estranho, tudo estava parado, não havia movimentos, não parecia ter ninguém lá.

- Cara, não tem nada aqui, acho que sua pista é falsa - Mutano falou em nossos comunicadores.

- Deve ter algo aqui, não foi por acaso que viemos - Robin respondeu - Ravena, alguma movimentação por aí?

- Não, ninguém saiu ou entrou, também não sinto nenhuma presença além da nossa - Ravena respondeu seca.

- Será que estamos mesmo no lugar certo? Destroyer sempre esteve um passo à nossa frente - Cyborg comentou.

- Talvez seja isso que ele quer, nos distrair enquanto faz algo bem debaixo dos nossos narizes - dei minha sugestão, já que normalmente era aquilo que acontecia.

- Não pode ser, não dessa vez, continuem procurando qualquer sinal de que ele esteve aqui - Robin ordenou e continuou a procurar.

Speedy suspirou antes de se sentar no telhado - Acho que vocês estão certos, não tem nada aqui - ele falou para mim, aproveitando que nossos comunicadores estavam desligados.

- Talvez o Robin esteja certo, talvez tenha algo escondido aqui - eu respondi ainda olhando para baixo pelo vidro.

- Não é novidade esse comportamento dele, você sabe, ele fica tão obcecado às vezes, que começa a alucinar coisas.

- Eu sei, mas ele apresentou uma melhora depois que Slade sumiu, eu espero que ele não esteja caindo de novo, no mesmo erro - olhei para Speedy sentado, olhando a rua que passava por ali perto.

- Talvez - ele olhou em minha direção - na verdade nada disso é novo para mim, Robin foi treinado pelo Batman, a influência que ele tem pelo tutor é explicável.

- Não tive muito contato com o Batman, sei o suficiente sobre ele para me manter afastada- Ouvi um barulho atrás de mim, olhei para trás procurando de onde vinha o barulho.

- Nossa - Speedy disse já de pé ao meu lado olhando a explosão que se formava no céu de Jump City.

- O que foi isso?! - Robin perguntou quase gritando no comunicador.

- Uma explosão - respondi imediatamente - no centro da cidade.

- Vão para lá! - Robin gritou no comunicador.

Voei o mais rápido que consegui, cheguei perto o suficiente para ficar meio tonta com a fumaça tóxica que subia pelas chamas que abraçavam todo o quarteirão.

Tentei observar mais de perto se havia alguém entre os escombros, mesmo que eu aguentasse fortes ondas de calor e radiação, aquilo era demais para mim, tive que me afastar ao sentir minha pele queimando.

Os outros titãs chegaram logo em seguida, havia muitos carros de bombeiros tentando acabar com o fogo, Ravena ajudou trazendo água do rio que havia em Jump, jogando ela por cima do que restava de um prédio.

- O que aconteceu aqui? - Cyborg perguntou.

- Os policiais informaram que Destroyer mandou uma mensagem nas rádios da cidade, avisando que os titãs não chegariam à tempo de salvar quem estava nesse prédio - Speedy respondeu - Vamos procurar as pessoas que estavam aqui, talvez nem todos estejam mortos.

- Estou procurando algum sinal de pulsação por telepatia - Ravena procurou por alguém - Não sinto nenhum sinal de vida.

- Não tem como entrarmos ainda, está muito quente e tóxico - eu avisei.

- Onde está o Robin? - Ravena perguntou nervosa.

Olhei ao meu redor, procurei por algum sinal de Robin, mas não encontrei.

- Robin? Você está me ouvindo? - perguntei ao comunicador.

- Ele foi embora, pessoal - vamos ajudar a parar o fogo e procurar as vítimas - Cyborg suspirou.

- É, ele fugiu de novo - Mutano falou com desdém antes de se transformar em um grande macaco e começar a tirar pedaços grandes de concreto do lugar.

Fizemos tudo o que pudemos para parar o fogo e procurar por sobreviventes, mas infelizmente não achamos ninguém com vida. Muitas pessoas choravam do outro lado da rua, muitos repórteres nos perguntavam onde nós estávamos antes do incêndio começar.

Fiquei em silêncio o tempo inteiro, após achar o corpo de uma criança por debaixo de um pesado pedaço de concreto, senti um vazio e culpa por não ter salvado aquela criança e sua mãe que estava a poucos metros de seu corpo, também sem vida.

Voltamos para a torre quando não havia mais nada que pudéssemos fazer, eu estava suja de sangue em minha roupa, minha pele estava suja de fuligem, meu cheiro era insuportável de fumaça, sangue e morte. Segui em silêncio até o banheiro para me lavar.

Ouvi meus amigos gritando antes de sair do meu quarto, cheguei e encontrei eles em um silêncio pesado na sala.

- Eu sei que eu errei, eu deveria ter ouvido vocês - Robin falou de cabeça baixa.

- Seu erro custou vidas, Robin! - Ravena gritou - Você tem sido um péssimo líder e amigo, nem mesmo toda minha paciência e afeto que sinto por você são suficientes para aguentar isso.

- Me perdoe-

- Não! Você é como um irmão para mim, mas assim não dá, você está perdendo o controle e não está vendo o que é certo ou errado aqui - Ravena terminou, baixando o tom de voz.

- Talvez eu devesse deixar vocês tomarem conta das coisas, talvez eu devesse ir para algum lugar longe daqui - Robin falou olhando para mim.

- O quê? Depois de tudo isso você vai simplesmente fugir e deixar a bagunça em nossas mãos? Não! Você vai continuar aqui, e vai nos ajudar a resolver isso - Cyborg levantou do sofá - Vou me limpar.

- Talvez devêssemos nos acalmar - Speedy falou - Sei que tudo isso foi horrível, um choque… Quer dizer, pessoas morreram, e nós estamos levando a culpa, tudo isso não é fácil, vamos nos acalmar e tentar achar uma forma inteligente de lidar com isso, achar o culpado e fazê-lo pagar por isso.

- É uma boa idéia, mas eu preciso de um tempo - Mutano deu um beijo na mão de Ravena e saiu da sala.

- Eu também preciso - Cyborg saiu logo depois.

- Vou meditar, preciso me acalmar - Ravena desapareceu em uma mancha negra.

- Eu não sei o que dizer e o que fazer, preciso ficar sozinho - Robin se sentou na frente de um monitor de computador.

- Tudo bem, vamos te deixar sozinho - eu falei e olhei para Speedy antes que ele me acompanhasse até o terraço.

- Você acha que tudo vai ficar bem? - ele me perguntou sentando na beirada da torre.

- Acho que sim - respondi me sentando também - Na verdade estou me sentindo culpada por não ter ido atrás da minha intuição.

- Não é culpa sua, as coisas só não foram como nós queríamos.

- Eu sei, e agora pessoas morreram, e isso é culpa do Dick, por ser tão orgulhoso e cabeça dura, nos fez perder tempo procurando por nada - cuspi tudo o que eu estava sentindo - Nada disso faz sentido.

- Eu sinto muito - Speedy pegou uma caixinha de seu bolso - Eu não sei exatamente o que dizer ou o que fazer para ajudar, mas se você quiser, podemos fumar um cigarro, pelo menos isso acalma - ele me ofereceu antes de eu negar com a cabeça.

- Não quero, obrigada, na verdade eu não sei fazer isso, mas prefiro não tentar.

- Boa escolha, eu só faço isso porque me acostumei.

Senti uma lágrima molhar minha bochecha ao olhar a cidade em minha frente, lembrando das chamas que tocaram o céu quando o prédio explodiu.

- Ei, não fica assim - Speedy tocou minha mão.

- Aquela criança morreu, ela não merecia a morte que teve, Speedy - suspirei secando as lágrimas.

- Pode me chamar de Roy, e eu sei, ninguém ali merecia aquilo - ele soltou a fumaça do cigarro pela boca - Pode parecer frio, mas não podemos nos condenar por isso, tudo o que podemos fazer agora é salvar outras vidas e nunca esquecemos desses que perderam a vida naquela explosão - ele me puxou para um pequeno abraço - tudo vai ficar bem, eles estão em um lugar melhor agora.

- Obrigada, Roy - abracei-o de volta, deixando minhas lágrimas caírem.

Acordamos no dia seguinte, ninguém brincou ou sorriu naquela manhã, só comemos e ficamos em silêncio antes de irmos treinar. Fomos ambiciosos e atingimos o melhor tempo de todos os treinamentos.

Meus poderes não estavam muito bons, por isso apostei em minha força, pois meu vôo falhou, meus starbolts estavam fracos e eu não conseguia atirar com os olhos naquela manhã. Tudo isso era compreensível, meus poderes eram movidos a emoções, e minhas emoções não estavam controladas, por mais que eu tentasse.

Fui para a sala vazia que eu sempre ia quando queria escrever e esvaziar minha mente. Fiquei sentada no chão, com as costas encostadas na parede enquanto escrevia, era um bom passatempo, assim eu não incomodaria ninguém com meus sentimentos.

- Olá - Roy entrou na sala e se sentou na minha frente - Está escrevendo o quê?

- Estou escrevendo como me sinto - eu disse a ele antes de repousar o caderno em minhas pernas que estavam cruzadas.

- Posso ler? - em resposta entreguei o caderno em suas mãos, após uma leitura rápida ele voltou a olhar para mim - Uau, você escreve bem, eu consegui sentir o que você está sentindo lendo isso - ele forçou um sorriso - Você também escreve quando está feliz?

- Sim - peguei o caderno dele e folheei até encontrar uma página escrita - Eu já escrevi coisas parecidas com poesias - devolvi para que ele pudesse ler.

- Parece até uma música - ele continuou a ler - será que eu posso escrever um desses para você? Talvez você se anime um pouco.

- Claro! - entreguei a ele minha caneta, ele virou a página e começou a escrever.

Tentei ler o que estava escrito, mas era difícil de cabeça para baixo, então aguardei até ele terminar.

- Aqui - ele me entregou a caneta e o caderno - Espero que você goste - ele levantou e andou em direção a porta.

- Onde você vai? - perguntei antes de ler o que estava escrito.

- Não posso ficar aqui enquanto você lê meu segredo - ele sorri e sai.

Olhei de volta para a página, sua letra era bonita. Meu coração estremeceu ao ler até o final. Sorri e abracei o caderno contra meu peito.

Então esse era o segredo dele?


Terceiro capítulo!

Esse foi longo, espero que não tenha sido cansativo.

Não quero fazer a caveira do Robin, pois amo ele, mas às vezes ele erra e às vezes ele merece um sermão.

Talvez tenha erros ortográficos, sinto muito.

O que será que o arqueiro escreveu para Estelar? Se vocês quiserem saber, comentem, aí mostrarei para vocês o que tinha lá.

Espero que tenham gostado!

Revisem e comentem o que estão achando, é sempre bom uma motivação.

Giulia.