A semana passou-se rapidamente.
Logo após a reunião de sábado — que não contou com a presença de Lupin —, ela decidiu que ia dar um tempo para que sua mãe se acostumasse com a ideia de que ela estava na Ordem da Fênix. Os últimos dias tinham sido insuportáveis, com Andrômeda o tempo inteiro tentando trazer o assunto à tona e convencê-la a desistir daquela ideia, enquanto seu pai tentava não se pronunciar muito para que a discussão não acabasse virando-se contra ele. Não o culpava, ela fazia o mesmo.
— Black — ela pigarreou quase no mesmo instante em que acabou de falar — Sirius.
Considerando que da última vez em que se viram tinham quase discutido, não sabia como iniciar o assunto.
— Sim? — ele levantou uma sobrancelha.
Tonks ignorou os olhares curiosos de alguns integrantes da Ordem, que estavam saindo da cozinha após a reunião.
— Você se importa se eu usar algum dos quartos? — cruzou os braços, evitando olhar para ele.
— Não, mas a sua vigília não é só quarta-feira? — perguntou Sirius, confuso.
— A minha mãe não aceitou muito bem a ideia de eu entrar para a Ordem. Só quero esperar a poeira baixar um pouco.
— Entendo — ele coçou a lateral do nariz — Claro, pode ficar, tem muitos quartos sobrando e é bom ter alguém aqui que não seja um quadro ou um elfo doméstico rabugento.
Esboçou um leve sorriso.
Devia ser difícil para ele ter que ficar preso na casa depois de doze anos encarcerado em Azkaban e os últimos dois anos foragido, sabe-se lá onde ele tinha ficado naquele tempo. E pelo jeito que ele tinha falado na primeira reunião, dava a entender que ele odiava aquele lugar, o que só tornava tudo pior.
— Só tenha em mente que a poeira não vai baixar tão cedo — ele finalizou — Conheço Andrômeda, ela tem o mesmo orgulho e teimosia dos Black.
— Legal, eu também — retrucou.
Ele esboçou o que devia ser um sorriso antes de exclamar:
— Kreacher!
O elfo doméstico aparatou, resmungando xingamentos por baixo da respiração enquanto se curvava para o seu mestre por hereditariedade.
— Prepare um dos quartos para a nossa nova hóspede aqui — ele ordenou, dando a volta na mesa de madeira da cozinha — A casa vai ficar um pouco cheia nas próximas semanas.
Os Weasleys tinham decidido que iam se mudar para a Muy Nobre y Antiga Casa dos Black dali a duas semanas, isso daria tempo o suficiente para que se organizassem e que ninguém desconfiasse que a casa ficaria vazia até o retorno dos filhos a Hogwarts.
Quando saiu da cozinha, viu que nem todos tinham saído.
— Me esperando, Bill? — apoiou o ombro no batente da porta.
— Achei que gostaria de conversar depois de ontem — ele respondeu.
— Não vamos ter tempo para isso na vigília? — ela perguntou.
— Eu não sou seu parceiro de vigília, eu só estava substituindo Lupin — o ruivo a lembrou.
Pensou em dizer que não pensava que o homem compareceria, já que não tinha aparecido nem na reunião, mas resolveu não continuar esse assunto. Podia ser mesmo um assunto da Ordem, como Sirius tinha dito, e ela estava agindo como uma adolescente imatura.
— Como foi com a sua mãe? — Tonks tentou mudar de assunto.
— Bom, você sabe, ela está planejando o nosso casamento — Bill disse sério, mas não conseguiu esconder um sorriso quando ela deu um tapa em seu peito — Não adianta falar com ela. Para convencê-la, eu teria que falar sobre a Fleur e... bom...
— Rápido demais para apresentar para a família, não é?
Ela escutou passos vindos de trás de si e percebeu que estava atrapalhando a passagem da cozinha. Desencostou do batente da porta, olhando para trás e seguindo até o lado direito do corredor para continuar a conversa.
— E como foi com a sua mãe? — ele devolveu a pergunta.
— Ela tem sido impossível. Eu vou ficar aqui em Grimmauld Place até ela parar com isso — respondeu, sentindo Sirius passar por trás deles para ir em direção à sala de estar, parecendo arrastar os pés, desanimado.
— Eu te ofereceria o quarto do Percy, mas acho que isso ia piorar as coisas.
Com certeza pioraria.
— É melhor você ir antes que sua mãe pense que estamos nos agarrando — o empurrou de leve na escápula, perto do ombro.
— Me dê alguns meses e eu juro que conserto isso — Bill juntou as mãos, como se estivesse pedindo "por favor".
— Relaxa.
As insinuações da Srª Weasley não a incomodavam realmente, estava acostumada com aqueles comentários. Era o tipo de coisa que uma garota passava quando estava cercada de amigos homens o tempo todo.
Assim que restaram apenas ela e Sirius na casa, ela jogou-se no sofá da sala e suspirou. Teria que voltar para casa em algum horário, nem que fosse para pegar algumas roupas. Sua mãe não levaria nada bem a ideia de ficar na casa do primo por uns tempos, então não planejava contá-la, pelo menos por enquanto.
O ex-detento passou por trás do sofá em que estava sentada, indo em direção à cristaleira para pegar um copo antes de puxar alguma garrafa de bebida de dentro da adega.
— Então... Você e Bill?
Pensando bem, ela teria uma conversinha com o amigo sobre aquele segredo.
— Não, para — Tonks o cortou.
— Só tentando descontrair — Sirius deu de ombros — Quer?
Ele ofereceu a garrafa em um gesto.
— Eu passo, valeu — respondeu.
Era cedo demais para isso.
Pensou que devia ir para casa, agora que já tinha resolvido onde ficaria por uns tempos, mas a ideia de sua mãe esperando-a no quarto para mais um round de argumentos pelos quais ela devia desistir da Ordem a desanimava.
Suspirou, sabendo que não podia adiar para sempre, e traçando um plano para fazer as suas malas antes que Andrômeda pudesse perceber as suas intenções.
— Bom, então eu já vou indo — pigarreou, levantando-se — A gente se vê quarta. Ou antes, se minha mãe continuar me enlouquecendo.
— As portas estão sempre abertas. Só cuidado com a perna de trasgo.
— Ah sim! Sobre isso... — ela deu meia volta — O que é aquele troço asqueroso?
Sirius esboçou um sorriso, parecendo satisfeito por ter com quem falar mal sobre as coisas daquela casa onde cresceu.
— Era para ser um suporte de guarda-chuvas — informou.
— Para guarda-chuvas? — Tonks estranhou — Mas nós usamos a varinha para...
— Obviamente nunca foi usado para esses fins — a interrompeu e então completou simplesmente — É decorativo.
A Srª Black tinha um gosto muito duvidoso para decorações. Nem mesmo a família Malfoy era tão sádica.
— E aquele quadro que gritou quando eu tropecei? Quem era? — perguntou.
Sirius tomou um longo gole do seu copo.
— Minha mãe — fez um careta que nada tinha a ver com o gosto forte da bebida.
— E tem outros quadros como ela?
— Merlin queira que não. Já nos basta ela.
O primo virou-se para ela.
— Se quiser ajudar a descobrir uma forma de tirá-la de lá... — ele deixou no ar — Tentamos de tudo, mas ela pôs feitiços muito potentes para manter o retrato lá. Quem poderia saber de alguma coisa, que é Kreacher, não vai nos ajudar. Ela obviamente sabia que a casa ficaria no meu nome e queria me torturar até depois de morta.
Ele tinha um humor bem ácido.
Ela até teria procurado na biblioteca do Ministério se não fosse por, além de saber que não encontraria nada parecido naqueles livros, estar tão sobrecarregada. Aproveitaria praticamente todo o seu tempo livre para dormir e repor o sono desregulado de duas noites em claro durante a semana.
Antes mesmo de quarta, ela juntou as suas coisas quando sua mãe estava dormindo, deixou um bilhete para o pai e então foi para Grimmauld Place.
Não tinha visitado os quartos até então, mas já imaginava que eles seriam um ambiente digno de filme de terror como o restante da casa. Queria entender onde os Blacks viam luxo naqueles móveis, o Salão Comunal da Hufflepuff conseguia ser mais luxuoso e de bom gosto sem nem se esforçar.
Sirius passava a maior parte do tempo ou bebendo, ou enfurnado no quarto da mãe, que era o quarto do seu hipogrifo de estimação. Sim, hipogrifo. Levou um susto da primeira vez que o viu.
— Fugi nele quando fui pego em Hogwarts — ele lhe contou — Ele também estava sob sentença de morte, pelo que me contou Dumbledore. Como não tem para onde ir, pelo menos até Hagrid voltar, eu fico com ele.
— Um hipogrifo de estimação. Claro, por que não? — ela pensou que deveria começar a se acostumar com coisas bizarras.
— Ajuda a me distrair — disse Sirius, acariciando a penugem do bichano.
Ela logo descobriu que o seu calendário de vigilância não tinha sofrido nenhum erro de planejamento, vigiaria o corredor do Departamento de Mistérios às quartas e a casa dos Carrow às quintas. Pelo menos não precisava se preocupar em ir para Little Whinging às sextas. Só precisava se adaptar à rotina, eram apenas dois dias na semana, tentou pensar com otimismo.
Apesar das suas expectativas, Remus Lupin apareceu para a vigília na quinta-feira.
Estava mais uma vez conversando com Sirius. Descobriu que gostava da companhia do primo e que teria sido legal ter crescido com a influência dele... Exceto quando ele começava a falar sobre a sua infância.
— E então você disse que ele seria o seu príncipe...
— Eu nunca faria uma coisa dessas! — Tonks o interrompeu, horrorizada.
O seu cabelo estava vermelho vivo desde que Sirius tinha aberto a boca para começar a contar sobre as vezes em que foi visitá-la para brincar quando criança, antes de ser mandado para Azkaban. Nesses momentos, ela pensava que não gostava mais tanto da ideia de ter um primo.
— Isso sem contar as vezes que você fez com que eu dançasse e cantasse aquela música... Como era mesmo? — ele fingiu pensar, claramente se divertindo com a sua desgraça — Quem é que surge de um lugar lá do céééu...
Ela podia morrer naquele exato momento.
— E aqui vemos o porquê Sirius não pode ser o cantor do The Hobgoblins — disse a voz de Lupin da entrada da sala.
Tonks não costumava ler The Quibbler, mas aparentemente a filha do editor da revista era muito amiga da irmã mais nova de Bill, então tinha sido inevitável para ele trazer após a reunião a pauta de que Sirius seria na verdade Stubby Boardman, um vocalista aposentado.
Tinha rendido boas risadas.
— E muito menos das Weird Sisters — ela aproveitou a brecha para se desvencilhar das torturas do primo — Vamos?
— Se movimentando rápido como um vagalume — Sirius continuou.
— Tchau — disse ríspida para ele, antes de caminhar em direção ao corredor de entrada.
— Se algum problema você encontrar...
A voz desapareceu quando fechou a porta atrás de si. Estava andando tão irritada que não soube como não chutou a perna de trasgo apenas para abafar a cantoria desafinada com os gritos de Walburga.
Caminharam em silêncio por algum tempo, procurando uma área em que pudessem aparatar sem serem observados ou rastreados. Na verdade, poderiam apenas ter aparatado no primeiro degrau da casa, onde ainda estavam protegidos sob o Feitiço Fidelius, mas ela ficou tão constrangida que se esqueceu disso e saiu andando, e Lupin foi educado o suficiente para não comentar o fato.
— Você sabe que é mentira, não é? — ele disse depois de um tempo.
— O quê? — Tonks ousou olhar em sua direção, aliviada por ele não estar segurando o riso.
— A maioria das coisas que Sirius deve ter te contado — explicou — Ele só está te perturbando. Foram poucas as vezes em que ele foi visitar a sua mãe, estava ocupado o tempo inteiro com a Ordem.
— Ah.
Sentiu-se um pouco menos envergonhada por isso, mas ainda irritada.
Se Sirius estava realmente enchendo o seu saco por tédio, esperava que ele não fizesse isso na frente de outras pessoas da Ordem. Ela não precisava que a lembrassem que era jovem demais para estar lá e passassem a duvidar de sua capacidade. E se não fosse... Bem, Lupin era gentil por mentir para fazê-la se sentir melhor, mas não acreditava que ele estivesse mentindo.
— Podemos ir caminhando, se quiser.
Ela acordou de seus pensamentos e então percebeu o que estava fazendo.
— Não, claro que não — coçou a lateral do nariz e então indicou uma área residencial com o poste de iluminação defeituoso — Acho que podemos aparatar por aqui.
Hesitou, pensando se deveriam se apoiar um no outro, mas então descartou a ideia. Não era uma criança que precisava de aparatação acompanhada e já conhecia a região. Fechou os olhos, se concentrando em onde devia ir e então sentiu a sensação familiar de ser espremida por um tubo.
Encontrou-se no meio do matagal que rodeava a casa dos Carrow, como da última vez em que passou a noite conversando com Bill. Ainda tentava entender a lógica de escolher uma casa escondida entre arbustos altos. Ao mesmo tempo em que escondia o que acontecia lá dentro, facilitava a entrada de invasores como eles.
— Alguma coisa na rotina deles que eu deva saber? — Lupin perguntou, conforme ajeitavam-se por trás de uma cerca viva.
— Hum? — ela fez, dando uma olhada na casa a alguns metros de distância.
— Já esteve aqui antes. Alguma coisa na rotina deles? Chegam tarde? Saem durante a noite? Alguma movimentação de cortinas?
Sentiu o rosto enrubescer ao lembrar-se que não durou nem duas horas na última vigília por ter caído no sono, então não saberia dizer sobre a rotina dos Carrow.
— Nada, até parece que a casa está vazia — Tonks respondeu mesmo assim — O que realmente não me surpreenderia.
— Se estivesse, a Ordem saberia — disse Lupin, virando-se para a frente.
— Porque Snape contaria — ela completou com um certo tom de deboche.
Não confiava 100% no professor de poções. Afinal, ele devia ter feito muitas coisas para ter uma marca negra no braço.
— E porque temos espiões no Ministério — ele retrucou amavelmente.
Certo, Emmeline saberia alguma coisa sobre isso.
Mesmo com o seu tom afável, sentiu-se levemente repreendida, então direcionou a sua atenção às suas mãos. Cutucou as cutículas, mesmo sabendo que poderia sumir com elas com apenas um pouco de concentração e a sua habilidade de se metamorfosear.
Sentou-se de costas para a casa, apoiando as costas contra as folhas.
Ao contrário da semana passada, não sentia tanto sono, mesmo que tivesse passado dois dias seguidos acordada mais uma vez, embora isso pudesse mudar rapidamente com o passar das horas.
Mergulharam em um silêncio interrompido apenas pelos sons da natureza e da estrada mais afastada.
Esperava que, assim que se encontrassem, ele fosse dar alguma desculpa pela sua ausência anterior, talvez mantê-la a par da situação na Ordem, mas ele não tocou no assunto e, depois daquela cena com Sirius, não sentia-se à vontade para trazer isso à tona.
E, afinal de contas, não era grande coisa. Foi só um dia.
Tinha sido tão legal estar ali com Bill novamente depois da escola, como se estivessem tentando desvendar mais uma das criptas malditas, que estava completamente sem saber o que dizer a Lupin. Ele não parecia incomodar-se com o silêncio da noite, sempre de olhos atentos a qualquer movimento nos arredores, mesmo se fosse o bater de asas de um pássaro, mas ela nunca foi a pessoa mais calma e silenciosa do recinto. O silêncio e a procrastinação tendiam a deixá-la entediada com muita facilidade.
Perguntou a si mesma se levaria uma bronca se levasse um walkman. Talvez Lupin não a repreendesse abertamente, mas com certeza a olharia com as sobrancelhas franzidas, esperando que ela perguntasse para poder falar o que pensava. Ele parecia ser assim, sempre foi boa em ler as pessoas, mesmo que as conhecesse por pouco tempo. Isso ajudava no trabalho de auror.
Observou-o discretamente, percebendo que ele tinha um leve sorriso no rosto.
— O que foi? — não aguentou-se em perguntar.
O sorriso no rosto dele aumentou ligeiramente, antes que ele se contivesse.
— Só estava me perguntando quando você começaria a demonstrar a sua impaciência — respondeu Lupin com serenidade — Se você é como Sirius, ficar sentada aqui enquanto espera alguma coisa acontecer te incomoda muito.
Aparentemente não era a única boa em ler as pessoas.
— Acho que Sirius daria de tudo para estar sentado na grama esperando alguma coisa acontecer — ela retrucou, sem querer dar o braço a torcer.
— Pela primeira meia hora, talvez — ele concedeu — Mas muito provavelmente ele se...
Hesitou, como se fosse falar alguma coisa que não deveria.
— Ele ia aproveitar a liberdade dele e perder o foco? — ela sugeriu.
Lupin curvou os lábios, parecendo um pouco distante.
— Bom, você vai descobrir uma hora ou outra — ele disse e então franziu o cenho — Na verdade, não sei como ainda não te contaram. O que Moody disse sobre a inocência dele?
— Que Sirius era inocente e que era conveniente demais Pettigrew ter deixado um dedo para trás.
Ele pareceu intrigado.
— Então ele não te contou nada! E você acreditou que Sirius era inocente mesmo assim?
— Eu confio em Moody — Tonks defendeu-se — E em Dumbledore também. Além do mais, é realmente estranho ter sobrado somente um dedo, nenhum feitiço das trevas faz uma coisa dessas. E até onde me lembro, nenhum prisioneiro acusado de ser aliado de Voldemort recebeu um julgamento naquela época.
Ele não estremeceu ao escutar o nome, o que não deveria ser surpreendente, mas ela tinha visto alguns colegas da Ordem engasgarem, mesmo que estivessem lutando contra o bruxo das trevas.
— Bom, então vou te contar o que aconteceu — Lupin deu uma olhada ao redor, antes de ajeitar-se ao seu lado — Na escola, nós tínhamos um grupo de amigos, éramos conhecidos por aprontar bastante com os professores.
— Você? — ela repetiu, incrédula — Aprontar?
Não combinava muito com a sua pose de certinho.
— Você não pensou mesmo que era Sirius quem planejava todas as pegadinhas, não é? — ele deu um sorriso irônico — Se não fosse por mim, teriam sido pegos todas as vezes.
— Claro, tenho certeza de que Hogwarts se agitou muito com algumas tachinhas na cadeira do professor — ela respondeu condescendente.
— Você me subestima muito, senhorita Tonks — o homem levantou uma sobrancelha.
— Talvez você possa me provar que estou errada depois, contando algumas dessas "pegadinhas" aí — fez aspas com os dedos propositalmente para provocá-lo — Mas agora me conta o resto da história.
Lupin ficou observando-a por alguns segundos, parecendo um pouco surpreso por onde a conversa acabou indo, mas desistiu e continuou de onde tinha parado.
— Bom, o grupo éramos eu, Sirius, Peter Pettigrew e James Potter — ele olhou para a frente.
— Potter? — Tonks interessou-se pela história mais do que nunca e rapidamente ligou os pontos — O pai do Harry?
— Exato — ele assentiu — Nós éramos muito amigos, quase como irmãos, desde o primeiro ano na escola. Naturalmente, conforme crescíamos, a guerra foi se espalhando e, quando nos formamos, decidimos integrar a Ordem da Fênix original. Cerca de um ano antes de Lily ficar grávida do Harry, algumas informações começaram a vazar para o outro lado. Eu não posso dizer muito sobre o que aconteceu nessa época, estava ocupado lidando com alguns assuntos da Ordem a mando de Dumbledore, o que naturalmente fez com que... alguns de meus colegas se questionassem sobre a minha ausência.
— Mas se foi a mando de Dumbledore...
— Ninguém sabia sobre essa missão — Lupin a interrompeu antes que pudesse concluir o raciocínio — Por esse motivo, eu só soube do que aconteceu há 1 ano, quando reencontrei Sirius já foragido.
Ele deu uma pausa, tentando reorganizar os pensamentos.
— Dumbledore disse na primeira reunião em que compareceu sobre a importância de vigiar uma profecia, uma profecia localizada no Departamento de Mistérios que ditava o destino de Lord Voldemort. Desconheço o seu conteúdo, mas parte dessa profecia caiu no conhecimento de Voldemort, e aparentemente dizia que Harry seria o único capaz de derrotá-lo.
Era difícil de acreditar que um menino de apenas alguns meses de idade, talvez anos, tivesse sido marcado para derrotar o maior bruxo das trevas de todos os tempos desde Grindelwald.
— E então começou uma caçada? — Tonks perguntou.
— Sim. Para evitar que fossem encontrados, Lily e James entraram para a clandestinidade, se esconderam sob o Feitiço Fidelius.
Isso lembrava um pouco a situação em que Sirius se encontrava agora, o que era um pouco irônico. Perguntou-se se Remus também passou por isso em algum momento da sua vida.
— Pelo que Sirius me disse, ofereceram que ele fosse o fiel do segredo, e isso foi algo de conhecimento geral — continuou Lupin — Por isso todos pensaram que ele tivesse sido o causador da morte dos melhores amigos. Mas, na verdade, Sirius pensou que seria muito óbvio que ele fosse o fiel do segredo, então sugeriu a Lily e James que escolhessem outra pessoa de confiança. Assim, os Comensais iriam atrás dele, não conseguiriam a informação, e todos estariam seguros.
Não precisava escutar o resto para saber que não foi o que aconteceu.
— Não você — ela sussurrou, compreendendo a situação.
— Não — ele deu um sorriso fraco, mas era possível notar que isso o machucava mais do que deixava demonstrar — Como disse, desconfiavam de minha fidelidade por causa de minha ausência prolongada, então escolheram a única outra pessoa de confiança.
— Pettigrew — concluiu.
— Naquela noite, quando Lily e James foram mortos, Sirius soube imediatamente quem tinha sido. Então ele foi atrás de Pettigrew, querendo vingança, mas ele enganou a todos. Pettigrew gritou para a rua inteira que Sirius era o culpado, lançou um feitiço explosivo, cortou um de seus dedos e então desapareceu.
Tentou imaginar a situação em sua mente, mas não conseguiu. Algumas coisas não encaixavam no quebra-cabeças, eram muitas coisas acontecendo em um curto período de tempo.
— Mas como? — Tonks perguntou, sem conseguir se conter — Eu entendi que ele matou os trouxas, mas... Como ele conseguiu desaparecer? Ele aparatou? Esse resquício de magia teria sido captado...
— Como você disse antes, não foi investigado — disse Lupin — Crouch estava mandando os Comensais da Morte para Azkaban sem um julgamento, então não havia investigação. Para eles, todas as provas apontavam para Sirius. E quanto a aparatar... Bom, Pettigrew era um animago não registrado no Ministério. Um rato, para ser mais preciso.
— Que loucura — ela negou com a cabeça, sem conseguir acreditar.
Eram muitas informações para uma única conversa.
Moody realmente não tinha lhe contado nada!
Remus esperou que ela perguntasse sobre como Sirius tinha fugido de Azkaban, então teria que se preparar para contar a ela toda a verdade. Bom, talvez não toda. Mesmo que seus colegas da Ordem fossem geralmente bem cordiais consigo, não conseguia evitar aquele sentimento de rejeição constante. As coisas nunca eram as mesmas quando as pessoas sabiam. E por que seria diferente com Tonks, que era tão jovem? Ela certamente se assustaria. Talvez ele pudesse apenas convencê-la de que Sirius e Wormtail eram animagos ilegais e isso era uma mera coincidência, mas a ideia parecia estúpida até mesmo na sua cabeça.
Estranhamente, perguntar sobre isso nem passou pela cabeça dela.
— Agora eu entendo — ela disse — Que história mais insana! Se contassem isso para qualquer outra pessoa, quem acreditaria? É surreal demais, parece muito inventado... Mas, ao mesmo tempo, é tão absurdo que ninguém pensaria numa coisa dessas. Por isso não estão procurando por Pettigrew?
— Seria inútil. Peter fugiu no verão passado quando Sirius descobriu que ele tinha se escondido como rato de estimação da família Weasley.
Tonks sentiu como se tivesse levado um tapa.
Não era possível!
Tinha visto aquele rato tantas vezes nas mãos de Percy, quando ainda estudavam. O garoto praticamente não largava o bichano. E aquele tempo todo...
— Por que se escondeu em uma família bruxa? — pensou em voz alta.
— Provavelmente para conseguir informações. Assim seria mais fácil de saber quando Voldemort retornaria — Remus olhou por cima do ombro, em direção à casa.
Não ouvia fofocas tão boas no Ministério, mesmo que muitas coisas bizarras acontecessem, ainda mais em outros departamentos, como o que Arthur trabalhava.
Um ruído chamou a atenção deles e ficaram imóveis, as varinhas em punhos. Virando-se com cuidado em direção à casa, pôde ver que duas figuras encapuzadas caminhavam em direção ao portão.
Já era passada a meia noite.
Assim que puseram os pés para fora das fronteiras, aparataram e Tonks pôde soltar o ar que nem percebeu estar segurando.
E então ela pensou em uma coisa.
— Que tipo de feitiços têm nesses escudos? — perguntou.
— Não sabemos — respondeu Lupin — Temos poucos aurores e especialistas na Ordem, e ninguém com tempo para analisar. Por quê?
— Talvez se invadíssemos, conseguiríamos algumas informações — disse displicente.
— Não — a resposta foi imediata, fazendo os seus ombros caírem — Não vamos ignorar as ordens de Dumbledore.
— Você sempre faz o que ele manda? — Tonks virou-se para olhá-lo — É por isso que não tomou conta do Harry?
Arrependeu-se do que disse assim que viu a expressão no rosto dele.
— Você não sabe de nada.
Lupin olhou tenso para o relógio de pulso, provavelmente para monitorar quanto tempo os Carrow ficariam fora.
Desfez a sua posição de ataque, sentindo que nada de mais interessante aconteceria pelo resto da noite e orgulhosa demais para pedir desculpas pelo que disse. Afinal, se parasse para pensar, tinha sido uma pergunta razoável.
Apoiou o rosto contra a sebe e fechou os olhos, mas isso só serviu para que fingisse estar dormindo, porque o sono não veio.
Notas do capítulo:
• Rony disse em "Harry Potter e a Ordem da Fênix" que os Weasleys se mudaram para a casa de Sirius poucas semanas antes do Harry chegar lá, que foi em 6 de agosto. Além do mais, a Hermione chegou pouco depois da família, então calculei que a mudança teria acontecido entre a metade e o final de julho.
• A Fleur não apareceu na fanfic ainda, mas como ela é mencionada basicamente todas as vezes que o Bill aparece, sinto-me na obrigação de lembrar alguns fatos. Bill e Fleur se viram pela primeira vez na terceira tarefa do Torneio Tribruxo, em "Harry Potter e o Cálice de Fogo". Em "Harry Potter e a Ordem da Fênix", os gêmeos mencionam que Bill está dando aulas de inglês para ela e que ela está trabalhando no Gringotes com ele. A linha narrativa dos livros dá a entender que ela só se tornou parte da Ordem da Fênix em 1996, depois que noivou com o Bill.
• Em "Animais Fantásticos e Onde Habitam", a Queenie Goldstein usa um feitiço para se proteger da chuva, o que me leva a crer que bruxos sangue puristas não usariam uma invenção trouxa quando podiam simplesmente levantar a varinha. Sendo assim, não faz sentido a perna de trasgo ser um suporte para guarda-chuvas.
• Muitos de vocês já devem ter lido que o Harry depois da guerra voltou para Grimmauld Place e que o retrato da Walburga foi tirado com a ajuda de Kreacher, mas essa informação não é canon, a autora dos livros nunca disse isso.
• Na realidade, a reportagem sobre o Sirius no The Quibbler aparece pela primeira vez quando Kingsley dá a revista para Arthur no Ministério da Magia, quando Harry vai para o seu julgamento pela prática indevida de magia. Não é mencionado quando a reportagem é publicada, apenas se sabe que foi no verão de 1995, e eu decidi simplesmente ignorar esse fato porque achei um momento perfeito para mencionar.
• Vou me abster de comentários quanto à música infantil.
