Aviso legal: Nada disso me pertence.

CAPÍTULO 4 - Um retrato do passado

Depois de dispensar Bárbara e garantir com Fox que a segurança no hospital estaria reforçada, Bruce encontrou Gordon e teve muito trabalho aquela noite com Charada e Pinguim que haviam planejado roubar a caixa forte do banco central de Gotham.

A noite acabou com os reféns libertados e os dois famosos criminosos de Gotham fugindo após um truque de charada.

O morcego conseguiu voltar a mansão Wayne na alta madrugada e desabou em sua cama, dominado pela exaustão, ainda não completamente acostumado aquela jornada de noites patrulhando Gotham.

Bruce acordou em algum momento ao ouvir gritos de desespero. Seu instinto era muito afiado para aquele tipo de sinal, ele se sentou na cama em alerta, completamente desperto.

Sim, eram gritos. E vinham da mansão.

A passos rápidos e seguindo seus instintos, correu a socorrer os gritos desesperados, chegando a um dos quartos da mansão onde entrou o mais rápido que pôde.

Encontrou Helena aos berros, a menina gritava e chorava na cama.

- NÃAAAAO... NÃOOOO... MAMÃEEEEEEEE!

Por instinto, Bruce correu até a cama e pegou a menina nos braços, acolhendo-a em um abraço.

- Calma, shi..., calma, foi só um pesadelo... – falava enquanto passava as mãos pelos cabelos negros da menina, que agora tinha a face escondida em seu peito, molhando-o com suas lágrimas... – shiiii... foi só um pesadelo, está tudo bem...

- Minha mãe... – a menina falava. – Mataram minha mãe...

- Calma, calma... - Bruce falou agora olhando a menina nos olhos, Helena tinha os olhos vermelhos e molhados de sofrimento e estava banhada em suor – sua mãe está viva... foi só um pesadelo...

- Mas o tiro...

- Já passou... foi só um pesadelo. – Bruce repetiu enquanto seu coração acelerava. Quantas vezes aquilo já não tinha acontecido com ele? Quantas vezes não tivera aquele pesadelo? – Vai ficar tudo bem. – Disse abraçando Helena e falando a mesma coisa que Alfred falou-lhe tantas vezes antes.

E que ele sabia que não era verdade.

/

Quando Bruce acordou suas costas doíam e Alfred lhe olhava enquanto segurava uma bandeja de café da manhã.

Ele estava sentado na cama pequena demais para seu tamanho e Helena dormia sobre seu peito, abraçando-lhe.

- Ela teve pesadelos. – Ele falou para o mordomo, a propósito de explicação.

- Entendo, patrão Bruce. Eu sei exatamente como é... Eu escutei os gritos da menina, mas quando me aproximei, vi que ela já estava amparada. – Alfred falou olhando os dois.

Bruce tentou desvencilhar-se de Helena para sair da cama, mas, ao seu primeiro movimento, a menina abriu os olhos.

- Ah, bom dia... – Bruce falou sem jeito.

- Bom dia... – Helena disse abrindo-lhe um grande sorriso, sem deixar de abraçar Bruce.

- Preciso levantar, menina. – Falou desconcertado, vendo que a menina não lhe soltava.

- Preciso que o senhor me leve a Metrópolis. - A menina disse do nada ainda sem soltar Bruce.

- Metrópolis? Por quê?

- Preciso ir à minha casa. Preciso pegar uma coisa.

- Você pode ter tudo que precisar aqui. É só pedir ao Alfred.

- Eu preciso ir lá. – A menina falou firme, mas tinha um pouco de desespero na voz. – Preciso pegar os tesouros da mamãe. Preciso pegar antes que ele pegue...

- Ele? Quem é ele? – Bruce indagou afastando-se da menina e encarando-a.

- O careca, . – Helena disse com medo.

- Foi ele quem fez mal a sua mãe? – Bruce perguntou, mas a menina não respondeu nada. – Me diga! Você e sua mãe estão seguras, eu vou cuidar de vocês. Me diga, foi esse homem que fez mal a sua mãe?

Helena assentiu com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.

Bruce olhou para Alfred, depois para Helena.

- Vou a Metrópolis pegar as coisas de sua mãe.

- Eu também vou.

- Não vai.

- Se eu não for, não dou o endereço. – Helena falou personalizando Selina. A menina tinha o mesmo brio da mãe para negociações.

- Não brinque comigo, garotinha.

- Não sou garotinha. Eu vou também. O senhor não disse que me protegeria? Então pode me proteger até minha casa.

Bruce olhava para menina sem acreditar.

- Senhor... – Alfred chamou, - acho que contra fatos, não há argumentos...

/

Eles chegaram em Metrópolis ainda naquela tarde.

Bruce não iria arriscar uma viagem de carro que poderia ser facilmente abordado na estrada, então levou Helena de Helicóptero. Pousaram em um prédio da Wayne Enterprises e, para não chamar atenção, pegaram uma moto. Ele levou Helena em sua garupa até o prédio antigo e semidestruído na periferia de Metrópoles.

Chegaram em um apartamento velho de menos de quarenta metros quadrados.

O apartamento estava intocado, e segundo a velha síndica que tinha bobes na cabeça, o apartamento não havia sido tocado porque o aluguel estava em dia. Bruce deu-lhe o equivalente a mais um ano de aluguel e a mulher os deixou em paz.

Quando entraram no apartamento, um filhote de gato preto miou alto e correu até Helena.

- Bat... aí está você... – a menina falou acariciando-o

- Bat? – Bruce indagou.

- Mamãe colocou esse nome. – Helena explicou. – Por causa do cara da televisão. O morcego que pega bandidos... Queria que ele pegasse o senhor Luthor...

- Talvez pegue... – Bruce falou pensativo.

- Acho que não. – Helena falou enquanto olhava em volta. – Aqui em metrópoles quem manda é o Superman.

- O cara que usa cueca por cima da roupa? – Bruce zombou.

- O morcego também usa...

- Aquilo não é uma cueca... faz parte da armadura...

- Minha mãe acha que parece uma cueca... – Helena riu enquanto ia até a velha lareira e começou a tirar alguns tijolos que a cobriam. – Está por aqui.

Bruce ajudou a menina a tirar os tijolos que fechavam a lareira. Havia uma caixa de madeira lá dentro e ele a tirou com cuidado.

- O que tem aqui?

- Os tesouros da minha mãe. – A menina falou aproximando-se e abrindo a caixa.

Quando a Helena abriu a caixa, Bruce viu dinheiro, muitas notas de cem, podia haver uns cem mil dólares ali..., mas... em cima das notas havia algo.

Helena pegou antes dele. Eram dois itens. Ela olhou o primeiro e o entregou.

Era uma corrente dourada com um pingente de coração. Bruce o abriu, havia a foto de Selina criança e de uma mulher que Bruce conhecia.

- Essa é minha avó- Helena explicou.

Bruce olhava o pingente quando Helena estendeu-lhe o segundo item que havia na maleta, além do dinheiro.

Era uma foto.

Ele não lembrava que essa foto existia, mas lembrava quando foi tirada.

Era uma polaroid dele e Selina no baile beneficente da Wayne Enterprises no ano em que se conheceram. Bruce lembrou que o fotógrafo do baile pediu para tirar a foto, mas não havia lembrando quem pegara a foto, agora ele sabia que tinha sido Selina.

- É o senhor, não é? – Helena indagou em tom de certeza apontando o menino na foto.

Bruce apenas assentiu sem tirar os olhos da imagem.

- Minha mãe olhava muito essa foto. – Helena falou. – Ela achava que eu estava dormindo..., mas eu a via olhando essa foto a noite muitas vezes... e ela sempre chorava. O engraçado, é que minha mãe não chorava por mais nada...

A garganta de Bruce doeu.

- Acho que devemos ir – falou pondo a foto e o pingente dentro da maleta e fechando-a.

- Mas...

- Vamos logo. Aqui não é seguro.

- Preciso pegar minhas coisas...

- Não se preocupe, vou mandar empacotar tudo e levar até a mansão.

- Mas eu quero...

- Chega, Helena! – Bruce falou bruscamente, abalado com as revelações da menina sobre Selina. – Vamos embora.

A menina fez uma cara emburrada, mas não respondeu. Calou-se e apenas o seguiu com a expressão carrancuda.

/

Chegaram à mansão uma hora mais tarde.

Helena subiu as escadas rapidamente quando entraram, Alfred os observava.

- O que o senhor fez com a menina?

- Nada, Alfred. – Bruce falou jogando-se numa poltrona. – Crianças são difíceis...

- E o Senhor vem dizer isso para mim? – o mordomo alfinetou, mas Bruce pareceu não ouvir. – Bem, tenho notícias que são de seu interesse...

Alfred entregou a Bruce dois envelopes.

O conteúdo do primeiro fez seu coração disparar, apesar de trazer uma notícia que ele já esperava.

O segundo, no entanto, o encheu de raiva.

- Mas que absurdo é esse?

Bruce lia uma comunicação do juizado de menores de Metrópolis que avisava ao senhor Pennyworth que a guarda de Helena Kyle fora solicitada por uma pessoa que estava interessada em adoção. E era inacreditável quem fizera o pedido.

Bruce apenas respirou fundo após amassar a correspondência.

- Alfred, chame nossos advogados.

- Já fiz isso, senhor. – O mordomo respondeu prontamente.

/

Mais tarde naquele mesmo dia em Metrópolis, Lex Luthor entrava aos gritos no escritório do juiz Line.

Ele trazia nas mãos a sentença judicial sobre a guarda de Helena Kyle.

- Por que você não me deu a guarda da menina, velhote? Quando eu pago, eu quero um serviço bem-feito.

- Senhor Luthor... – o velho juiz encolheu-se em sua cadeira. – Não há nada o que ser feito... não posso lhe dar a guarda dessa menina...

- O que poderia lhe impedir de me dar a guardar de uma órfã delinquente de rua?

- O problema é exatamente esse, senhor Luthor... a garota não é órfã...

- Está falando isso por causa da mãe vagabunda que está à beira da morte... me poupe... Eu quero aquela menina! – Luthor bateu o punho contra a mesa do juiz. - Então faça alguma coisa, Line e faça agora!

- Eu não posso, Sr. Luthor! Realmente não posso fazer nada quanto a isso. É impossível!

- Ah e por quê? Por que o mordomo de Bruce Wayne a reclamou? Isso não é motivo não nenhum.

- Não senhor. Não foi o mordomo quem a reclamou... - O juiz pegou um documento que estava sobre a mesa e o entregou a Lex.

- Está vendo? – o juiz perguntou quando Lex lia o documento em silêncio. – Como posso lhe dar essa menina em adoção?

No documento dizia que Bruce Wayne reclamara a paternidade de Helena. E ele tinha um exame de DNA para comprovar isso.

- Como posso lhe dar a guarda dessa menina, sr. Luthor? – o juiz continuou. – O pai a reclamou. E o senhor viu quem é o pai dela... Não sei o que o senhor quer com isso, mas isso se tornou grande demais. O sr. Wayne não iria simplesmente deixar nós entregarmos a filha dele em adoção.

Lex pareceu transtornado por um instante quando olhou para o juiz que se encolheu em sua cadeira, mas em seguida, ficou calmo. E sorriu ao colocar o documento sobre a mesa do juiz, dando-lhe as costas em seguida.

- Você tinha que ter uma rota de fuga no final, Selina Kyle. – Resmungou baixinho. - Você sempre tem.

Lex saiu da sala do juiz Line sentindo a frustração correr em suas veias. Mas tratou dessa situação, como tratava de tudo na vida: Naturalmente, ele não ia deixar isso barato.

E pensou consigo próprio que aquilo complicava as coisas, mas não as tornava impossíveis.

Talvez até as tornassem mais interessantes.

/

Enquanto isso em Gotham, Bruce permanecia pensativo na biblioteca.

- Por que Lex Luthor queria Selina? Por que atirou nela, e foi procurá-la no hospital? E por que diabos queria a guarda de Helena?

Ele lembrou da maleta. Será que Selina o roubou? Com certeza. Mas aquilo não era um motivo. O que eram poucos milhares de dólares para um bilionário como Luthor?

Não, devia haver mais.

Naquele momento ele tinha em mãos a sentença do juiz Line lhe dando a guarda de Helena e tinha Selina muito bem protegida no Gotham Hospital. Isso já lhe deixava mais aliviado.

Perdido em seus devaneios, Bruce não notou quando alguém entrou na biblioteca, e levou um susto quando tocaram no seu braço.

- Helena? O que faz aqui?

A menina estava ao lado dele. Vestia pijamas cor de rosa com estampa de unicórnios, provavelmente comprados por Alfred e que não combinavam em nada com ela. O olhava com um olhar que não lembrava em nada unicórnios.

- Não achou que eu ia descobrir? – falou soturna demais para uma criança.

- O que, Seli... Helena?

A menina apenas subiu na cadeira e sentou-se no colo de Bruce, aninhando-se em seu peito.

- Eu sei que você é meu pai... – falou baixinho e o abraçou.

Bruce, atônito, a abraçou de volta, meio desajeitado.

- Como você sabia? Sua mãe contou?

- Não, mas tá na cara, não está? – ela se afastou um pouco para o olhar para Bruce e começou a enumerar fatos em seus dedos pequeninos. – Mamãe pediu para eu procurar Alfred... que mora com o senhor... e era o senhor na foto da mamãe... Além do que, o senhor fica todo idiota quando está perto de mim. E nós somos a cara um do outro! E ah, eu também li isso...

Helena tirou um papel de dentro do pijama. Era o laudo do exame de DNA.

- Você é muito esperta para uma garotinha...

- Não sou uma garotinha. – Ela respondeu carrancuda.

- Tudo bem. – Bruce concordou, aquela era uma batalha que ele não venceria. Helena definitivamente não era uma criança comum. Bem, levando em consideração que nem ele e nem Selina foram crianças comuns, isso era até esperado.

Helena permaneceu no seu colo, como se esperasse que ele dissesse algo. Bruce procurou as palavras, mas resolveu ser sincero. Afinal, ela não era só uma garotinha...

- Helena, eu não sabia que sua mãe tinha tido você até o dia que em que a encontrei no hospital. Eu estava procurando por ela. Eu passei muito tempo longe... Viajando... e quando voltei, fui procurá-la... Eu não sabia de você, se eu soubesse... nunca teria ido embora...

- Mamãe nunca falou do senhor, ela sempre disse que era só nós duas, contra o mundo...

- Mas não é mais assim, Helena. Vocês têm a mim. E eu vou proteger vocês de qualquer coisa.

- Até do sr. Luthor? – Helena indagou assustada e Bruce sobressaltou-se. Então, a pequena menina, parecendo apavorada, recostou-se em seu peito e puxou-lhe a camisa. - Por favor, papai, não deixe o sr. Luthor nos pegar. – pediu enquanto o abraçava com força.

Bruce sentiu-se diferente. Talvez por ter sido chamado de pai pela primeira vez na vida, e pelo pedido desesperado que Helena lhe fazia.

Ele também se sentia determinado. Treinara tantos anos e fizera tantos sacrifícios para ser capaz de proteger Gotham e todos aqueles a quem amava. E ele sentia que já amava Helena, assim como nunca deixou de amar Selina.

Pensando nisso, ele abraçou Helena, acariciou seus cabelos e disse:

- Para chegar perto de vocês de novo, ele vai ter que passar por mim.