CAPÍTULO 3
O domingo amanheceu frio, por isso foi difícil tirar Ryuho da cama.
Queria passar o máximo de tempo possível com o filho antes de sair. Fizera uma lista de atividades, que incluíam leitura de livros ilustrados de astronomia, colorir desenhos de constelações e astros, contar histórias sobre a origem do universo, colar figurinhas de estrelas e planetas no suporte do meio dos bancos do carro e fazer um abajur de estrelas.
Shiryu, com seus 31 anos, se divertia tanto quanto o garotinho que acabara de completar seis, pois a paixão dos dois era o espaço sideral. Se lembrava de quando o levara a um dos planetários de Busan, pouco depois da vinda de Tóquio. Os olhinhos fascinados e o longo silêncio de Ryuho, procurando entender a experiência, era uma de suas lembranças favoritas.
Adorava ler para o filho deitado em seu peito, ele repetindo baixinho as palavras que o pai dizia. Sentia seu amor transbordar e envolver o pequeno. Não havia sido uma semana fácil, ainda mais depois da conversa com a senhorita Nishi, e esses momentos com o filho o ajudavam a serenar a mente e o coração.
Depois do almoço, esperaram a srta. Kwan.
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O domingo amanheceu frio, por isso ela acordou bem-disposta, apesar de não ter dormido bem as últimas noites.
Finalmente, foram votados no Conselho de Administração o orçamento e a autorização para a montagem da equipe da Unidade Especial de Pesquisa a Traumas Neurológicos Infanto-Juvenis. Ela estava ansiosa para escolher a equipe multidisciplinar, que incluiria desde neurologistas clínicos até acupunturistas. O objetivo era estudar e tratar eventos no sistema nervoso na fase em que a chance de recuperação é maior.
O problema é que pensar em crianças a fazia se lembrar da conversa com o farmacêutico, que voltava e reprisava em sua mente e ela precisava se esforçar para concentrar nos próximos passos para a concretização de seu antigo sonho.
Além disso, Julian continuava pressionando para ela se decidir sobre o casamento e esse assunto a incomodava de tal forma que passara a evitar se encontrar com ele, mergulhando mais ainda no trabalho.
Por isso, ela desceu empolgada quando Saori chegou para buscá-la.
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Shunrei era muito discreta sobre sua vida pessoal e só uma pessoa conseguia fazê-la se abrir um pouco. Para seu desespero, ou alívio, essa pessoa estava ao seu lado agora, enquanto iam em direção ao ginásio indicado no convite.
- Como vão as coisas com Julian? – Shunrei respirou fundo. A amiga se compadeceu. – Tão ruim assim?
- Sei que Julian é seu amigo, Saori, mas ele me exige coisas que não posso e nem quero dar. – sabia que Shunrei tinha um alto grau de resiliência e se empenhava ao máximo em tudo que fazia. Às vezes, isso poderia ser um problema.
- O relacionamento de vocês nunca foi íntimo de verdade, não é? – Shunrei meneou a cabeça, refletindo. "No início, era físico, depois carência, comodismo e agora já não deveria existir mais." – Me desculpe, Shunrei, mas vocês parecem um casal de velhos que estão juntos há 60 anos.
- E ele agora insiste em se casar. – a expressão de Saori era de preocupação com a amiga. Ela entendia os dois lados, afinal, o mundo de Julian era um dos seus também.
- É natural, não? Afinal, são seis anos de namoro. – Shunrei apenas suspirou. - A família dele deve estar impaciente.
A menção à família Solo fez crescer a raiva dentro dela.
- Eu quero me casar por amor, não por conveniência ou por causa da minha idade. – Saori riu.
- Pelo visto, com você a lógica sempre ganha, menos quando se trata de amor. – Shunrei devolveu o riso.
- Nós estamos indo viver a sua aventura, não se esqueça disso. – pensou antes de prosseguir. - - Com que tipo de homem devo me casar? – Saori sacudiu a cabeça.
- Não se controla o coração. – vendo que a amiga não estava feliz, resolveu falar o que queria há muito tempo. - Shunrei, sinto falta daquela garota que eu conheci nos Cinco Picos de Rozan. Gostaria que ela voltasse e devolvesse sua ingenuidade, sua doçura e sua confiança. Você é uma mulher tão sedutora. As pessoas gostam de estar à sua volta, mas você foi se fechando. Você é uma profissional dedicada e que quer fazer a diferença no mundo. Por que deixa sua vida pessoal desse jeito?
Os olhos de Shunrei se encheram de lágrimas, mas nenhuma desceu.
- Será que ainda é possível essa Shunrei existir nesse mundo? – murmurou.
- Tenho certeza que sim. – Saori pegou a mão dela. - Por mais que alguém tente nos ferir, há sempre alguém disposto a nos ajudar a nos curar. – concluiu no tom que se fala com uma criança travessa. - Eu quero testemunhar esse retorno triunfal.
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Shiryu chegou e encontrou muita gente já se aquecendo.
Cumprimentou os companheiros do grupo que praticava junto todo domingo e descobriu que o aluguel seria em conjunto. Assim, a equipe profissional treinaria durante a semana e os amadores poderiam usar aos finais de semana.
Localizou Seiya num pequeno grupo e reconheceu os cabelos verdes de outro amigo querido.
- Dois anos sem nos vermos, hein? – abraçou forte Shun. Jamais esqueceria o quanto ele o ajudara. - Como estão as coisas? June, as crianças? Teu irmão não veio?
- Estão todos bem. June vai voltar a competir no próximo ano. A caçula, Yorie, você ainda não conhece. – Shiryu só vira fotos da nenê, parecidíssima com Shun. – Ikki você sabe, aparece quando quer.
- Vocês vão visitar Ryuho. Ele vai ficar muito feliz. – viu que Shun segurava o braço de Seiya, enfaixando agora com o tecido normal para as lutas. - Como está o pulso dele?
- Recuperado. – Seiya girou e esticou, sacudiu e forçou. Não sentia mais dor.
- Não fala com as amigas, Shiryu? – uma mão bateu em seu ombro. A ruiva estava animada por vê-lo de volta ao tatami.
- Como vai, Marin? – ele sorriu para ela. – Ainda aguentando esse pangaré?
- Olha como fala do meu Pégaso! – Seiya exclamou, começando a se aquecer.
- Fazer o que se ele ainda precisa da mestra? – Marin treinava Seiya há 22 anos.
- Você vai brincar com a gente também? – ela confirmou, dizendo para ele ir se trocar.
- Até o Shun vai desenferrujar hoje.
No vestiário, Shiryu olhou para seus dois quimonos: o liso, que comprara para praticar aqui, e o seu antigo. Viu que os amigos usavam seus velhos emblemas. A lembrança deles deitados à noite no telhado do apartamento de Seiya observando as estrelas veio muito forte.
Viu que o traje ainda servia perfeitamente. O coração batia forte quando ele voltou para a quadra do ginásio.
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Os três carros pararam na porta do ginásio e os seguranças as acompanharam, suas posições formando um amplo perímetro em torno delas. Logo notaram que era um evento pequeno, o que Saori agradeceu.
- Não tem repórter. – constatou, aliviada.
Havia apenas um discreto cartaz e dois seguranças prestando informações.
As duas entraram. Estavam vibrantes, rindo e conversando enquanto escolhiam o melhor lugar nas arquibancadas quase vazias.
A quadra de basquete estava coberta por três tatamis e elas viam muita gente já se aquecendo. Escolheram ficar de frente para o tatami central, o maior dos três.
- Você já foi a alguma competição de artes marciais? – Shunrei negou.
- Pelo que os seguranças informaram, é estilo livre. – contaram umas trinta pessoas paramentadas, entre homens e mulheres. – Não estou vendo nenhuma equipe médica.
- Eu estou curiosa para ver! – Saori parecia uma adolescente e Shunrei ficou contente ao ver a amiga assim. A Fundação exigira que ela crescesse muito cedo também. "Por isso nos tornamos amigas. Duas adolescentes tendo que lidar com o mundo adulto de forma tão abrupta." – Já estive numa competição profissional e gostei muito.
- Será que as mulheres vão lutar contra os homens? – Shunrei identificara quatro lutadoras.
- Aquele ali não é o Julian? – Saori apontou para um grupo de três pessoas. Shunrei fechou o semblante.
"Definitivamente. Os cabelos azuis e o jeito de ser rei dos sete mares são indefectíveis." Ela murchou na cadeira. Sabia que ele frequentava um dojo, mas não que estava envolvido nesse evento.
- Não o chame, Saori. – a amiga riu.
- Pode ficar tranquila. Não vou quebrar a concentração deles. – apontou discretamente para o homem à esquerda de Julian. – Aquele é o Seiya. O que tem o cavalo alado da mitologia grega... qual o nome?... Pégaso! no quimono.
Shunrei agradeceu por mais pessoas sentarem perto delas.
"Quem sabe assim ele não me vê?"
Então uma quarta pessoa se juntou ao grupo e ela esqueceu como era respirar.
Era o farmacêutico.
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- Shiryu, este é Julian Solo. – Seiya e Marin conversavam com o homem alto de feições ocidentais. – Marin o conheceu quando estudou em Atenas. Ele nos ajudou a encontrar esse lugar.
Os dois se cumprimentaram com a reverência habitual e Shiryu notou a imponência do porte e nos modos dele. Recordava-se de já tê-lo visto em algum lugar.
- Um prazer rever uma amiga. – ele também ia lutar. – Você não faz parte do grupo que pratica todos os domingos no dojo perto do Jardim Botânico? Eu vou geralmente durante a semana, mas acho que já te vi por lá. – Shiryu confirmou. – Eu frequento aquele lugar desde que cheguei aqui. Será uma experiência interessante. – Shiryu sentiu que era analisado com atenção e não gostou da sensação.
- Você já informou seus dados, Shiryu? – Shun avisou, apontando para a mesa onde duas moças separavam as fichas. – Estão fazendo as divisões dos oponentes.
Conseguiram organizar os lutadores em três grupos: nível profissional; nível intermediário e iniciante. Levaram em conta a faixa, o tempo de prática, a participação em algum torneio e, para revolta de Marin, o sexo.
- Marin, nem vem. – Seiya ergueu as mãos para ela. – Nós não conhecemos como esses caras lutam. Vai que tem um doido que gosta de se fazer de bonzão sem dosar a força. Você sabe que esse tipo não é raro e as outras três amazonas ainda estão aprendendo. Com o passar das semanas a gente revê isso.
Ela bufou, mas sabia que ele estava certo.
Um dos rapazes da equipe puxou o microfone e anunciou o início da exibição.
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Shunrei não conseguia tirar os olhos dele.
"Os movimentos são muito elegantes." Seu coração reagiu rápido assim que o viu entrar no tatami, a cascata de cabelos pretos ondulando quando ele desferia os golpes.
- Aquilo nas costas dele é um dragão? – ela não sabia que tinha externado a perplexidade e se surpreendeu quando Saori respondeu.
- Sim. Um dragão verde. – a amiga apontou para outros. – Está vendo que alguns têm símbolos nos quimonos? Seiya o Pégaso, aquele de cabelos verdes um par de correntes quebradas, aquela ruiva uma águia dando o bote... Uau!
A exclamação fora para o cruzado de direita que o farmacêutico acabara de aplicar e que deixara o oponente fora de combate. Shunrei engoliu em seco, sentindo o corpo arrepiar com a precisão e serenidade dos movimentos dele.
"Tenho certeza de que os olhos estão como os dos dragões."
Aconteciam disputas simultâneas nos três tatamis, mas ela só conseguia reconhecer a existência das outras quando ele não estava lutando. Julian também lutava bem, mas não era páreo para aquele pessoal das figurinhas, como ela os apelidou mentalmente. Todos lutando na arena central.
O homem das correntes sempre começava na defensiva, desviando e tentando causar o mínimo de dano possível. Ao invés de ficarem agradecidos, os adversários invariavelmente se enfureciam e era quando ele aproveitava. Derrubava-os com um único golpe.
- Perdeu o controle, o Verdinho é infalível! – Saori comentava.
A mulher da águia já era o oposto. Mal começavam e ela partia para o ataque. Alguns sujeitos grandes tentaram agarrá-la para atirá-la no chão, mas ela sempre se soltava e dava chutes muito rápidos, saindo de cima dos oponentes com uma pose tão confiante que Shunrei ficou com vontade de ficar amiga.
- Quero chamá-la para sair conosco. – as duas disseram juntas.
Quando Seiya entrava, Saori prendia a respiração. Batia palmas quando ele apanhava tanto que ficava estirado no chão e mesmo assim se levantava. Colocava a mão nos olhos ao menor sinal de que ele pudesse perder e suspirava aliviada quando ele ganhava.
- Coitado de quem se dispuser a vencê-lo. Vai ter que comprar uma usina de energia extra. – Shunrei estava pasma com a resistência deles.
- E olha que eles não estão lutando a sério. – comentou um rapaz próximo. "Deve estar rindo às nossas custas, com o tanto de exclamações e barulhos que fazemos." – Só o pessoal do tatami de iniciantes está dando tudo de si. Os profissionais ali no centro estão só brincando. Não precisam se preocupar, senhoritas.
Elas agradeceram e procuraram segurar a efusividade.
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Havia só mais dois combates no tatami central.
Fazia tempo que ele não lutava com tanta intensidade e estava adorando a sensação dos músculos sendo exigidos. Seu diafragma ia pedir um dia de sossego. Alguns golpes o acertaram em cheio, especialmente dos companheiros de equipe de Seiya e Shun, mas nada grave. Ainda sabia se esquivar. Moveu os ombros, sentindo a pele suada roçando o tecido grosso.
"É como se o suor limpasse a minha alma."
Sentou-se um instante e só então permitiu-se sair da concentração e olhar para as arquibancadas.
"Até que tem muita gente." Viu algumas crianças, muitos homens jovens, duas mulheres com vestidos floridos, um grupo de garotas risonh... Voltou para as duas mulheres e levantou.
Shunrei usava um vestido laranja por baixo do casaco xadrez. Parecia brilhar em meio aos demais.
"Estou perdido." Ele sentia os efeitos físicos da presença dela. Sua boca secou, seus poros arrepiaram e pequenas explosões começaram a ocorrer quando o sangue passou a circular à velocidade da luz em suas veias.
Ela olhava para ele sem nem piscar.
- Vamos acabar logo com isso? – Seiya bateu nas costas dele, interrompendo a quase epifania sensorial. – Quem você tanto olha, hein? Aaahh, é a Saori! – ele acenou.
- Saori? – Shiryu não entendeu até que a mulher ao lado de Shunrei acenou de volta. "Realmente Deus não joga dados com o Universo."
- Ficou bobo de repente? – Seiya riu. – A garota que te falei. Pára de dar em cima da minha garota, Shiryu! – deu um peteleco na cabeça do amigo, que começou a rir. – Vamos lá, primeiro Marin e Shun e depois Julian e você.
- Ué, não era você e Shun? – Seiya mostrou o pulso e ele entendeu.
Shiryu gostava de ver os dois lutando, pois tinham estilos totalmente opostos, o que sempre rendia ótimos embates.
"Shun não pode usar a tática do emocional e Marin não pode usar a do ataque desenfreado." Ele relembrou ao sentar de frente para onde estavam as duas mulheres.
Foi a luta mais bonita do dia.
Os dois passaram a maior parte do tempo estudando os golpes do oponente. Moviam-se pouco, apenas quando tinham certeza da falha na defesa ou no ataque do outro. Shiryu conseguia sentir a intensidade da concentração deles no ar. Marin mais cautelosa e Shun mais atrevido.
O ginásio ficou silencioso e cada vez que Marin deslizava pelo tatami para se livrar do chute de Shun, ou cada vez que Shun pulava sobre Marin para escapar do soco, a plateia aplaudia.
"Eles nem estão ouvindo... Não estão realmente aqui." Shiryu sabia o que acontecia nesse nível de comprometimento.
Até que a experiência de Marin lhe deu uma pequena vantagem e ela conseguiu prender Shun no chão, os joelhos em cima dos braços dele, imobilizando-o. Os dois saíram ovacionados e abraçados.
- Agora somos nós, Dragão. – Julian passou por ele e tomou lugar no tatami.
Ao fundo, ele percebeu o movimento quando Shunrei se levantou.
"Está tudo bem." Ele não sabia se deveria acenar para ela.
A luta começou.
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- Calma, Shunrei, o Dragão não vai bater muito forte no Julian. – Saori a puxou para a cadeira. – Parece que ainda existe um sentimento entre vocês, afinal.
- Saori, não fale do que você não sabe! – ela retrucou, nervosa, tirando o sorriso zombeteiro do rosto da amiga.
Shunrei acompanhara a entrada do farmacêutico e imaginara, pelos resultados das outras lutas, que o oponente dele seria Seiya. Quando Julian tomou a posição contrária, de costas para onde elas estavam, seu coração foi se alojar na garganta, pulsando tão forte que ela toda parecia tremer. E ela sabia que não era pelo namorado.
Vira como Julian lutava e ele era um dos poucos que não se importava em machucar de verdade o adversário, se pudesse vencer.
"Na arena como na vida." Ela pensava quando via algum sair com o nariz sangrando ou o olho roxo.
Assistiu, apreensiva, os dois se analisando e experimentando os primeiros golpes. Aos poucos, porém, a velocidade e a quantidade dos golpes foram aumentando. Os dois usaram todo o tatami, atacando e recuando, defendendo e contra-atacando, desviando e enganando.
- Nossa, que luta incrível! – as duas nem piscavam, tentando acompanhar.
Dragão começou a levar vantagem quando utilizou uma brecha para golpear a cintura de Julian. O grego caiu e teve dificuldades para ficar de pé. Tentou passar uma rasteira no farmacêutico, que pulou, rolou até a beira da arena e parou em alerta, com um joelho no chão. A plateia foi ao delírio, o que enfureceu Julian.
Parecia que o Dragão venceria porque Julian aparentava estar mais cansado, mas ele ficou parado um segundo no lugar errado e a canela do oponente acertou a lateral do seu rosto. Shunrei levantou quando percebeu que ele não se movia. O namorado acenou para ela e mandou beijos. Viu as pessoas se juntando ao redor do homem caído.
- Saori, me leva lá! – puxou a amiga pelo braço, descendo as escadas num átimo.
- Como a gente vai entrar? – Saori perguntou, sem entender a comoção de Shunrei.
Julian vinha até elas.
- Vocês viram que luta incrível? – Shunrei não via a aglomeração dispersar. "Mau sinal."
- Tem equipe médica aqui? – ele demorou a entender o que ela dizia. "Com certeza esperava parabéns." – Julian! – aumentou o tom de voz.
- Suponho que sim, afinal a equipe do Seiya está toda aqui. – ele apontou para o pessoal que entrava com uma maca.
- Me deixa entrar! – ela viu a expressão dele fechar. Tinha que pensar rápido. – Não vai querer seu nome envolvido em um acidente assim, vai?
Julian fez sinal para abrirem a porta da tela e ela se controlou o melhor que pôde para não sair correndo. A maca chegou até o farmacêutico.
- Não mexam nele! – ela tentou falar mais alto que o burburinho. Seiya e o Verdinho, ajoelhados perto da cabeça dele, ergueram os olhos. – Eu sou neurologista. Não mexam nele.
- Deixem-na examiná-lo. – ouviu a voz de Saori atrás de si e as suspeitas sumirem do rosto de Seiya. – Ela é neurologista do hospital da Fundação. – Seiya assentiu, sinalizando para ela tomar o seu lugar.
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Seus sentidos foram voltando aos poucos.
Primeiro, a audição. Ouvia o burburinho ao redor e duas vozes se destacando pela proximidade. Uma era de Shun.
- Vi o espasmo, sim. Você está certa.
A outra ele conseguia identificar o timbre, embora o volume estivesse diferente das outras vezes.
- Antes de movê-lo, precisamos imobilizar toda essa área.
Segundo, o tato. Sentiu os dedos dela deslizando por seu pescoço, queixo e ombros. Sabia que estava vivo pela onda de choques que se originou dessa região para o resto do corpo.
- Parece que o ferimento é interno. – Shun observou.
Terceiro, o paladar. O gosto metálico de sangue descia pela garganta.
- A respiração dele está normal, sim. – ela informou.
Quarto, o olfato. O perfume cítrico se insinuou quando ela encostou o ouvido no seu peito.
- Ele está abrindo os olhos! – Shun.
Quinto, a visão. Ele piscou para focar o rosto dela bem próximo. Alguns fios longos faziam cócegas em suas bochechas. As mãos dela seguraram seu rosto.
- Calma, não se mova, por favor. – ela estava séria. – Obrigada, Verd... Shun.
Testou os reflexos das pupilas, o movimento dos globos oculares, depois a sensibilidade da pele e a resposta muscular. Ele não deveria, mas gostou das mãos dela buscando as respostas físicas, apertando seus membros, mãos e pés.
- Aperte meus dedos.
Depois, com a cabeça amparada entre suas mãos, girou-a de um lado para o outro devagar.
Nada de dor.
Assim que ela se deu por satisfeita, deixou Shun cuidar do ferimento na maçã do rosto e examinar o interior da boca e saiu de perto.
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- Obrigado, Shunrei. – ela foi até o grupo onde Saori estava.
- Não por isso, Seiya. – sentia as mãos tremerem levemente agora que tinha terminado.
- Então já sabe quem eu sou? – piscou um olho para Saori, que tentou conter um sorriso, sem sucesso. – Ele está fora de perigo, não é? – ela confirmou, vendo Shun ajudá-lo a sentar.
- Por garantia, gostaria que ele fosse ao hospital da Fundação para fazer uma ressonância.
- Nós vamos levá-lo amanhã mesmo. – a águia ruiva garantiu.
Shunrei pensou em lembrá-los do filho dele, mas Julian estava ali, observando-a atentamente. Embora não fosse nada de mais, queria evitar a fadiga das explicações que ele exigiria. O máximo que conseguiu foi orientar que o levassem o quanto antes para casa e que alguém ficasse lá até a ida ao hospital.
Entregou seu cartão e foi embora com Saori e Julian.
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Olá!
E então, o que estão achando da história? Estão tão quietinhos, mas sei que tem algumas pessoas lendo. Me contem como está sendo esse dorama CdZ para vocês.
Essa exibição de artes marciais trouxe muita gente nova, alguns dos meus personagens favoritos estão aí.
E agora, como fica o relacionamento dos nossos protas? Acham que vai agora eles se aproximam de vez?
No final da semana, novo capítulo.
Beijos!
