O chute foi devastador. O impacto fez Diana A rolar em alta velocidade pela faixa de areia. Equilíbrio e senso de direção eram conceitos de um passado distante.

A tempestade de sensações provocadas pela súbita aceleração à fez gritar. Apesar disso, ela não era nenhuma novata. Suas mãos permaneceram firmes no volante. Havia aprendido a não solta-lo em hipótese alguma. Seus sentidos voltaram ao normal aos poucos. Ela conseguiu ouvir o som abafado de um objeto pesado colidindo contra o chão da praia. Great Mazinger estava se aproximando.

- Levante-se!

Diana A estava de costas para o chão. Sayaka pressionou um dos pedais enquanto todo seu peso era usado como uma alavanca para mover o volante o mais rápido possível. Não foi uma boa decisão. Em sua pressa para colocar-se de pé, quase fez o robô cair para trás logo após levanta-lo . Sayaka precisou ajustar a posição para evitar a queda, como resultado disso...

O punho gigante a atingiu como um aríete. Diana estremeceu violentamente. Ela foi arremessada para longe.

Aqueles três dias não haviam sido fáceis.

- Espera! Espera! Espera! – Seu estomago acompanhou o interior de sua cabeça. Ambos davam longas e intermináveis voltas. Ela levou a mão aos lábios. Estava estressada o suficiente sem ser banhada pelos próprios sucos estomacais.

- Um minuto.

Solicitar treinamento a fez se sentir mal. Não queria dar trabalho para seu colega piloto. Tetsuya estava passando por um momento difícil. Além disso, ele parecia nunca ter tempo para nada. Em sua estadia na Fortaleza Cientifica, sempre o via treinando ou saindo em patrulha. Embora não soubesse quanto disso era em resposta a morte de Kenzo, do seu ponto de vista, Tetsuya não gostava de perder tempo.

O sentimento de culpa desapareceu após o início da primeira sessão.

- Estou fazendo meu melhor. – Diana A se levantou.

- Ainda está longe de ser bom o bastante. – Fosse seu tom de voz cruel, Sayaka não resistiria ao impulso de responder a altura. Não importava quantas vezes ela repetisse seus erros, ele não parecia ficar com raiva. No máximo, um pouco aborrecido. Suas palavras não tinham intenção de desanima-la, ela sabia disso. Tetsuya estava realmente tentando ajuda-lo. Sendo intencional ou não, ele estava conseguindo deixa-la zangada. – As Bestas Guerreiras estão em outro nível. Se quiser, vence-las precisa melhorar seu tempo de reação.

Sayaka não esperava derrotar Besta Guerreira alguma tão cedo. Interceptar ataques destinado a seus aliados, acertar um bom golpe ou simplesmente ganhar tempo até para os outros resolverem a situação. Conseguir realizar qualquer uma dessas tarefas consistentemente a deixaria satisfeita. Tetsuya possuía ambições maiores para ela.

- Não podemos tentar outra coisa hoje? – Se dois pilotos igualmente habilidosos se enfrentassem, Diana nunca seria capaz de ser uma ameaça à Great em um combate de curta distância. Continuar insistindo em faze-la enfrenta-lo daquela forma não fazia sentido.

- Não. – Respondeu sem um momento de hesitação.

- Sério?! – Percebendo o próprio grito, Sayaka se conteve. – Com esta blindagem de Superliga Nova Z, qualquer ataque do Great consegue me derrubar, porém nenhum dos meus ataques surtem efeito.

Em comparação com a Superliga Z tradicional, a variante era muito mais resistente e leve. A segunda característica tornava contribuía para garantir aos robôs uma maior mobilidade, embora os deixasse mais suscetíveis a serem jogados para longe. A Superliga Nova Z também foi desenvolvida a partir do japanium por Kenzo Kabuto. Ela era uma das principais razões para Great Mazinger e Vênus A serem superiores aos seus antecessores feitos de Superliga Z.

Depois de Diana A e Mazinger Z sofrerem graves avarias, eles foram concertados usando a nova superliga variante no lugar da antiga.

- Como sabe disso se ainda não me acertou nenhuma vez?

Seu pé doeu. Sayaka havia pisado no pedal com força. Diana A alcançou sua velocidade máxima em instantes. O chute voador a colocou em rota de colisão direta com Great. O robô saiu da trajetória do ataque movendo-se levemente para a direita.

Sayaka puxou o volante. A inércia fez seu robô deslizar em alta velocidade contra o chão até seu avanço cessar. Ela conseguiu manter o equilíbrio e vira-lo rapidamente de frente para o seu oponente.

- Foi quase. – Tetsuya havia começado a provoca-la deliberadamente.

Ela retomou a ofensiva. Seus socos e chutes eram quase desviados sempre nas mais finas das margens. Great movia-se o mínimo possível. Apesar do seu tamanho ele não tinha dificuldades em escapar de seus ataques. Era como se o gigante dançasse em meio a sua sequencia de golpes. Era enfurecedor.

- Opa! – Great agarrou a perna de Diana. Ela estava preste a atingi-lo com um chute lateral em seu torso. Mazinger girou o corpo e a arremessou para longe dele. O robô de Sayaka girou várias vezes no chão depois da aterrisagem. – Sempre demora muito para se levantar. Precisa trabalhar nisso.

O treinamento se prolongou. Para frustração de Sayaka, ela terminou mais um dia sem conseguir acerta-lo em cheio.

O sol estava se pondo. A sessão havia se estendido demais.

Assim como os dois robôs, Sayaka e Tetsuya estavam sentados sobre a areia.

- Comparada aos nossos inimigos, Diana sempre será menor e mais leve. Isso não precisa ser uma fraqueza. – Tetsuya deu um longo gole em sua garrafa d' água. – Se fizer tudo certo, a Diana não será atingida facilmente.

- Entendi, "sensei". – Apesar do título nunca ser usado sem um tom cheio de escárnio, Tetsuya ficava lisonjeado em ouvi-lo. – Mais alguma coisa?

- Peça para o atualizarem o sistema da Diana para o usado na Vênus. Isso deve diminuir um pouco o delay nos controles.

- Gosta mesmo de pilotar, não é?

- Claro. – Seu semblante se iluminou. - Quando o diretor me ofereceu a chance de ser o piloto do Great Mazinger, eu não pensei duas vezes. Usar uma máquina tão incrível para proteger o mundo de monstros gigantes seria o sonho de qualquer garoto. Para um órfão sem perspectivas para o futuro, essa oportunidade era como um milagre se tornando realidade.

Lembrar-se daqueles tempos lhe trazia nostalgia. Sua infância podia não havia ter sido fácil, mas ele nutria sentimentos saudosistas pelos bons momentos.

- E você? Por que se tornou piloto?

- Para ficar mais perto do papai. As coisas não foram fáceis depois da morte da mamãe. Mesmo comigo estudando em casa, ele... Tem o jeito dele. – De fato, Tetsuya havia percebido como ele contrastava com a filha. Dr. Yumi era reservado, enquanto Sayaka... – Quando começou a construção do primeiro robô com motor de energia fóton atômico, ele me perguntou se eu não gostaria de pilotar. Ele deveria estar querendo desenvolver algum interesse em comum entre nos.

- Esse robô foi a Aphrodite A?

- Sim. Quando Dr. Hell atacou, ela era só uma máquina para pesquisa, nos duas ajudávamos como podíamos. O Koji ainda não sabia pilotar, e o Z não podia enfrentar duas Bestas Robóticas em lugares diferentes ao mesmo tempo. – O vento forte bagunçou o seu cabelo. - Com o tempo, ela foi modificada para poder disparar mísseis. Nos duas ficamos juntas até... – Sayaka envolveu os joelhos com os braços. – Ela ser morta durante uma das lutas.

Ela engoliu seco, e continuou.

- Depois disso, a Diana foi construída. Ela é uma ótima máquina. Só não da para compara-la com os robôs do Dr. Juzo e do Dr. Kenzo.

Sayaka sabia como a equipe do Laboratório de Pesquisas Fóton Atômica temia o dia no qual Mazinger Z não pudesse ser mais concertado. Mesmo com as anotações e projetos do robô, a máquina parecia tão à frente de seu tempo ao ponto deles não terem certeza se seriam capazes de recria-lo sem a ajuda do próprio Juzo. Diana A tinha sido uma tentativa real de fazer um super robô com capacidades similares. Mesmo com um investimento considerável, ela estava longe de ser equiparável a Z quem dirá Great. Esse temor tinha desaparecido com o retorno de Kenzo Kabuto. A criação Vênus A e Great Mazinger demonstravam sua capacidade de igualar o talento do pai. No entanto, assim como Juzo, Kenzo acabou morrendo.

- Não precisa fazer essa cara. Se o Borot e o Junior conseguem ajudar, a Diana também pode. – Ele foi em direção ao seu robô. Estava na hora de voltarem. - Contanto que fique fora do meu caminho, vai dar tudo certo. – Provocou Tetsuya.

Tetsuya lhe estendeu a mão. Sayaka aceitou o gesto e se levantou.

Só de imaginar o dia no qual ele precisaria de sua ajuda a enchia de satisfação. Assim como ele, Sayaka não era uma boa vencedora. Por hora, ela aceitaria as palavras do pretensioso piloto de Great Mazinger em silêncio.


Começou o treinamento sabendo da impossibilidade de uma melhora súbita do dia para a noite. Mesmo assim, sua determinação não duraria para sempre se não conseguisse ao menos um pequeno sucesso. Great quase foi atingido mais de uma vez, quase... Isso não era o suficiente. Queria uma vitória contra ele, mesmo que pequena. Tetsuya não parecia ser o tipo de professor o qual facilitaria para lhe dar mais confiança.

A cúpula se abriu.

- Aurora Beam. – Das costas da cabeça de Diana A foi disparado um arco-íris. O show de luzes formava uma conexão entre o robô e o chão do hangar. Aquele não era um simples ataque de energia, e sim um constructo. Sayaka dirigiu a Scarlet Mobile para fora do robô por meio da rampa colorida. Dois técnicos vieram recolher a moto.

Os cientistas eram simpáticos, no entanto, poucos ali eram pessoal do laboratório. Ela não sabia o nome da maioria deles, tampouco tinha proximidade. Por essa razão, aqueles olhares de pena a incomodavam muito mais. Não ficaria se os dois homens conversando com Tetsuya estivessem pedindo para ele ser menos rigoroso com ela.

- O treino foi tão divertido quanto aparentou?

Ela não havia percebido sua posição atual: estava passando em frente à porta do quarto dos irmãos Kabuto.

- Estava vendo? – Perguntou desconcertada.

- Só um pouquinho. – Desconfiada da demonstração de simpatia, Sayaka o fitou. – Eu não teria coragem de mostrar minha cara depois de passar por aquilo. Fiquei morto de vergonha só de assisti.

Não era compaixão o sentimento estampada em sua face. Por essa razão, ela nem mesmo cogitava desistir do treino. Sair já seria o humilhante o bastante por si só. Ela quem havia insistido por aquela oportunidade. As provocações de Koji somadas à aquilo tornaria seu tormento impossível de ser suportado. Ele nunca a deixaria esquecer.

- Pois é... – Ela se aproximou a passos lentos. – Fui bem mal, não fui?

Koji arqueou uma das sobrancelhas. A linguagem corporal dela acionou todo tipo de alarme em seu subconsciente.

Ele estava sentado em uma cadeira próxima à janela. Pouco antes dela entrar, estava se esforçando para dar continuidade aos seus estudos. Quebrar os hábitos estabelecidos em seu tempo na América havia tornado suas primeiras semanas no Japão muito pouco produtivas. Estando ferido, não podia usar o treino como desculpa para fugir desta responsabilidade.

- Diga... E essa sua perna, em? Como está?

- Não, Sayaka. Sai! – Reconhecendo a ameaça implícita, ele ficou de pé. Quase caiu durante o movimento. A cadeira na qual estava sentado foi movida para servir de barreira entre ele e sua potencial agressora.

Diferente de Tetsuya, Koji não estava fazendo nenhum favor para ela. Não havia razão para deixar passar.

- Poxa, você mal consegue se levantar. – Ela segurou as pernas da cadeira. Suas tentativas de tira-la do caminho eram combatidas pelos esforços dele. – Ainda não deve ter melhorado muito. Dói muito?

- Se encontar na minha perna, vou te atirar do terraço! Eu juro!

- Eu só quero dar uma olhadinha. Não seja desse jeito.

- Não, sai! Sai!

O som de batidas na porta os roubou a atenção.

- Papai, precisa de alguma coisa? – Ao perceber a expressão facial casual, retornou seu olhar para Koji. Fez três tentativas de atingir o membro ferido, porém seus chutes não tinham alcance para atingir o alvo. Ele havia posicionado a perna vulnerável atrás de seu corpo.

- Sim. Pode guardar as minhas coisas no escritório? Estou com pressa. – Gennosuke estava usando um terno azul.

- Só um momento. Estou quase... – O seu ataque atingiu a canela da perna saudável. Ele se quer soltou um grunhido. – Terminando... Aqui... – Ela tentou puxar a cadeira mais uma vez.

- Se for passar no laboratório... Mande... Meus cumprimentos para... O pessoal. – Dr. Yumi não podia ter escolhido um momento melhor para aparecer? Ele estava obstruindo sua rota de fuga!

- Pode deixar. Se acontecer alguma coisa, Keisuke vai ficar no comando da fortaleza. Não deem trabalho para ele.

- Entendido. – Disseram os dois ao mesmo tempo.

Após Gennosuke deixa-los a sós, Sayaka cessou suas tentativas de agressão. Seu semblante ficou sério.

- Koji... Não está achando ele meio esquisito ultimamente?

- Agora que você falou... – Ele refletiu. De fato, o comportamento recente dele havia mudado. Koji cogitou estar imaginando coisas ou talvez estivesse o estranhando por ter passado muito tempo sem vê-lo. Suas mãos relaxaram. Não parecia ser o estresse habitual. Dr. Yumi não podia ter sido substituído por um ciborgue de novo, podia? Não parecia ser o caso. Era alguma outra...

A cadeira foi jogada com violência para fora do caminho. Seus olhos se arregalaram. Abriu a boca para protestar. Tarde demais. O pontapé foi certeiro. Usando toda sua força de vontade, ele se manteve de pé apesar da dor. Sayaka estava virando as costas. Estava prestes a correr para a segurança do corredor quando sentiu um solavanco. Seu cabelo havia sido agarrado.

- Agora você vai ver só! – Com o rosto contorcido pela dor, ele a atirou contra o criado-mudo. A queda pareceu dolorosa.

Apesar do impacto, Sayaka não esboçou reação. Tendo alcançado seu objetivo, só restava se retirar antes de sofrer mais retaliação. Ela tentou se colocar de pé, apenas para ser interrompida por pancadas. Koji começou a usar um livro velho como arma. As folhas foram se desprendendo com o desenrolar da luta.

- Esse não é o livro do Sr. Blackwell? – Estava usando seus braços para aparar os golpes.

A cor abandonou seu rosto. As anotações do professor haviam sido confiadas a ele pelo seu status único como neto de Juzo Kabuto e piloto de Mazinger Z. Koji parou os ataques para conferir a capa. Quando constatou estar segurando um livro de menor importância, Sayaka já tinha aproveitado a oportunidade para sair dali rindo como a criança mais feliz do mundo.

Com a saída dela, sua atenção se voltou para a dor na perna. Um tapa e um pontapé. Koji precisaria adotar medidas para igualar aquele placar em uma ocasião futura.


Durante as noites, Jun gostava de subir até o terraço para praticar com seu violão. O relativo de silêncio, contestado apenas pelo som das ondas se quebrando contra a praia, proporcionavam o ambiente perfeito para aperfeiçoar a sua arte.

Aquela havia sido uma semana conturbada.

Além da situação com o diretor, ela precisou de muito tempo no simulador para ajustar a nova arma de Vênus. Antes disso, o robô contava com três: Koshiryoku Missile, Finger Missile e Koshiryoku Beam. Eram, respectivamente: mísseis disparados do peito, mísseis disparos dos dedos e raios de energia fóton atômica lançados de seus olhos. A quarta seria de médio alcance, mais poderosa e versátil, e mais difícil de usar.

O cheiro de comida tomou conta do ar.

- Trouxe para você.

O terraço não era uniforme. Jun estava sentada em uma superfície plana. Ela era mais alta que a área em sua volta. Tetsuya se posicionou ao seu lado. Colocando a bandeja entre os dois.

- Estou de dieta. – A jovem desviou o olhar.

- Oh, é mesmo? Mais para mim.

Fosse apenas pela sua última discussão, os dois já teriam feito às pazes. Em vez disso, estavam se falando o mínimo possível. Ela não havia ficado com raiva por conta da última briga, presumiu Tetsuya, se o comportamento recente fosse indicativo de alguma coisa, Jun queria um pedido de desculpas.

- Sinto muito por ter gritado com você.

- Tudo bem. Eu também não devia ter provocado. – A melodia estava lhe fugindo à mente. Jun deixou o violão repousar.

Tetsuya parou para mastigar o takoyaki.

Seus pés estavam inquietos. Não queria ter de fazer aquilo. - Não foi culpa sua. – Mesmo sem vê-la, Jun conseguia imaginar perfeitamente a expressão de Tetsuya naquele momento.

- Eu não acredito nisso. – Tetsuya ficou de pé. Não queria ouvir aquelas palavras saindo da boca de ninguém. – Não foi? Não fui eu quem não quis sair para lutar? Não fui eu quem foi atacado logo após o lançamento? Não fui eu quem ficou rastejando no chão enquanto vocês derrotavam os micênicos? Não foi por mim que o diretor precisou sacrificar a própria vida? Como isso não é culpa minha?

- Que droga, Tetsuya! Isso não é justo! Você foi mal uma vez! Acontece!

Ele abriu a boca para retrucar. Nada. Ao invés disse, virou-se e se apoio na mureta do terraço.

- Você não pode ficar sofrendo para sempre por conta disso. – Disse Jun. Ela colocou a mão em seu ombro. – Mesmo ferido, você ainda conseguiu derrotar aquela Besta Guerreira sozinho.

A explosão posterior ao fim dela quase inutilizou Great Mazinger pelo restante da batalha. Ele lembrava perfeitamente. Estava ferido após o ataque sofrido imediatamente após seu lançamento ter conseguido penetrar o cockpit e ferir seu braço. Tetsuya não deveria ter se colocado em uma posição onde aquele cenário seria possível. Se tivesse saído um pouco mais cedo, ela não teria chance de pega-lo de surpresa.

- Não é isso.

Podia não ser só isso, mas ele jamais a convenceria que aquilo não era parte do problema. Ela o conhecia bem demais para isso. Tetsuya detestava perder. Naquele dia, ele não só se saiu mal, como fez outra pessoa sofrer as consequências de seus erros. Isso deveria estar corroendo-o de dentro para fora.

- Então diga qual é o problema. Não posso ajudar se não me contar nada.

Tetsuya colocou a mão sobre o rosto. Precisava se esforçar para não terminar aquela conversa indo embora. - Não posso agir como se tudo estivesse bem. Como se eu não tivesse matado o pai deles.

- Se o diretor estivesse aqui, ele não iria querer vê-lo.

- Eu sei. Mas ele não está aqui. – Tetsuya soltou o ar de seus pulmões. – Não sei como concertar as coisas.

- Comece reatando com o Shiro e o Koji.

Ele não respondeu. Agora ele quem estava evitando encara-la.

- Jogar a cabeça do Imperador das Trevas nos pés do Shiro não vai resolver. – O treinamento dele havia se tornado mais intenso. Estava tentando se redimir pelo o que aconteceu se dedicando mais, Jun havia concluído. – Não precisa virar melhor amigo deles, mas ao menos converse direito quando vierem falar com você em vez de tentar afasta-los.

Jun aguardou pela resposta. Estava ansiosa. Foi o maior progresso que tiveram desde o dia do incidente.

- Vou tentar. - Tetsuya não soou muito convencido. Não tinha importância. Tendo aceito a sugestão, ele acabaria fazendo como ela havia pedido, mesmo que o próprio ainda não soubesse disso.

- O takoyaki vai esfriar. - Jun puxou seu braço em direção a bandeja.

- Não estava de dieta? - Sua parceira havia começado a devorar um deles.

- De onde tirou essa ideia absurda?


O Laboratório de Pesquisa Fóton Atômico lhe trazia muitas lembranças. Gennosuke havia dedicado sua vida a ajudar Juzo Kabuto a viabilizar os motores de energia fóton atômica. A fonte de energia limpa e renovável foi desenvolvida, assim como as superligas, a partir do estudo de japanium. Ela era a promessa de um futuro brilhante para a humanidade. Quanto progresso teriam feito se Hell e os micênicos nunca tivessem aparecidos?

Olhando para aquele edifício, seus pensamentos foram tomados pelas memórias de incontáveis ataques de Bestas Robóticas. Quantas vezes aquelas paredes brancas não haviam colapsado? Quantas vezes ele não olhou a morte nos olhos? As batalhas ainda não haviam terminado. Ele já comandou tantas delas, mas nunca se sentia pronto para o confronto seguinte. Teria Kenzo também passado por aquilo?

Gennosuke desceu do carro. Dois homens estavam a sua espera.

- Dr. Yumi, é bom vê-lo de novo.

- Igualmente, Dr. Sewashi. Como andam as coisas? – Gennosuke apertou a mão de ambos.

Sewashi tinha uma barba escura cheia e longa. Era um homem já de meia-idade, mas muito baixo. Assim como seus dois colegas, usava óculos.

- A pesquisa vai bem. – Respondeu o outro cientistas. Era esguio, não tinha mais cabelo e possuía um bigode alvo. As rugas entregavam sua idade. Embora ainda estivesse cheio de disposição, ele era o mais velho entre os três. - O laboratório não era mais a mesma coisa sem as crianças. O senhor também faz falta.

- Não precisa nem dizer. – Dr. Yumi lembrava muito bem. Depois das saídas de Sayaka, Shiro e Koji as coisas haviam ficado calmas. Isso não o trouxe paz alguma. Havia aprendido a preferir o caos causado pela presença do trio. Ao menos havia um lado positivo em assumir a Fortaleza Científica. – Falemos sobre eles mais tarde, Dr. Nossouri. Adianto que o tempo fora não os mudou nenhum pouco.

O percurso os levou até o andar subterrâneo. Armazenados ali, estavam contêineres contendo o milagroso metal do monte Fuji.

- Vai ser uma operação bem arriscada. – Falou o mais baixo.

Apesar de contar com um campo de força, assim como a Fortaleza Científica, o laboratório era um alvo mais vulnerável. Pesava em sua consciência colocar o local confiado a ele por Juzo em risco. Ele costumava comandar as batalhas de Z de dentro dele. O edifício já precisou ser reconstruído meia dúzia de vezes. O fato não tornava sua decisão mais fácil.

- Se tudo der certo, eles saíram com muito pouco e descobriremos sua localização. - Quanto a isso não havia dúvidas. Eles não teriam tempo para montar a estrutura necessária para extrair o minério eles mesmos. Precisariam rouba-lo. O ataque era quase garantido. Ainda assim, Gennosuke tomou o cuidado de solicitar a transferência do metal existente em outros lugares para o laboratório. Não poderia existir risco algum dos micênicos atacarem outra instalação.

- Não é só os micênicos quem estão com os olhos voltados para nos. – O cientista coçou a barba. – Os militares estão nos visitando com frequência.

Aquilo era dentro do esperado. Com a mudança na liderança do laboratório, eles aumentariam a pressão na esperança de Sewashi ser mais cooperativo. Demoraria algum tempo até perceberem o quanto isso não era verdade.

- Tenha um pouco mais de tato quando for dizer algo assim. – O mais velho lançou um olhar reprovador. - Não se preocupe, Dr. Yumi. Eles ainda não sabem sobre a outra entrega.

- Menos mal... – Se suas fontes ainda não o haviam alertado sobre nada fora do comum, seu pedido havia sido cumprido com sucesso. Boss Borot tinha provado seu valor mais uma vez. – Eles querem participar desse próximo ataque.

- Uma oportunidade perfeita pare testarem os mísseis fóton atómicos. – Disse o Dr. Sewashi.

Adverti os militares com antecedência os proporcionou o tempo necessário para preparar-se. Caso a Fortaleza Cientifíca fraquejasse, eles estariam prontos. Gennosuke gostaria de ter impedido esse cenário. Sem o aviso o governo não seria capaz de realizar os preparativos necessários. Os civis seriam pegos no fogo cruzado entre os robôs e as Bestas Guerreiras. Restava apenas rezar para que fossem hábeis o bastante para proteger a população sem deixar os micênicos perceberem a existência de um traidor.

- Dr. Tachibana não está mais trabalhando aqui, não é verdade?

- Não precisamos nos preocupar com ele. É um bom garoto. – Ele colocou as mãos enrugadas sobre o painel. Apesar da idade, Sewachi não pensava em se aposentar tão cedo.

Fosse Tachibana confiável ou não, ainda eram muitos os funcionários do Laboratório Fóton Atômico. Quantos não haviam os deixado quando a batalha com Hell se intensificou? As pontas soltas só cresciam com o tempo. Se não houvesse ocorrido nenhum vazamento até agora, ocorreria em um futuro próximo.

Com as impressões digitais lidas, a última porta se abriu.