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O presente de Artêmis
I
Marin & Shaina
- Os antigos contavam que Artêmis ajudou Apolo a nascer.
O comentário da ruiva foi praticamente um sopro e Shaina ficou em dúvida se a frase foi um início de conversa. Percebeu que Marin não se virou, continuava pensativa e observando a movimentação do pátio. A menina decidiu se manter em silêncio, concentrada em sua tarefa, não queria ouvir uma bronca mais tarde, em plena caça. De novo. Hoje nenhuma flecha escaparia de sua bolsa, sua costura estava perfeita. Nada de ser recriminada pela garota perfeccionista:
- O que você acha sobre essa história?
Agora sim, aquilo era uma pergunta. Shaina a fitou, seus olhos ferinos não disfarçavam seu deboche:
- Artêmis ajudar Apolo a nascer? - Uma tolice, quis responder, mas não ousaria falar isso para a pupila favorita de sua mestra. – Bem, ela e Apolo são gêmeos, nunca fez muito sentido...
A ruiva assentiu com expressão misteriosa:
- Artêmis veio primeiro. Leto estava sozinha e com medo do que Hera poderia fazer. Então recebeu ajuda da filha no parto. Por isso ela...
- É a protetora dos recém-nascidos. – Shaina completou, impaciente. Ela acreditava nos deuses, lógico, era uma pupila jurada a Artêmis, mas, ao contrário de Marin, não fazia questão alguma de interpretar seus feitos. Bastava saber qual deus se ofenderia com o quê e pronto:
- Dizem também que ver as dores do parto fizeram-na temer ter um filho e por isso precis...
- Precisamos pedir autorização dela quando quisermos nos deitar com um homem? –
Marin arqueou a sobrancelha, estudando a expressão maliciosa da garota. Pegou a bolsa de flechas de sua mão e sorriu, serena:
- Vai demorar alguns anos para você participar dos rituais de estação, criança.
- Não sou mais criança eu j... -
- Seus olhos denunciam sua inexperiência, Shaina.
A mais jovem inclinou o nariz e calou as falas irracionais que seu orgulho queria gritar. A voz branda de Marin deixava claro que aquilo era um conselho e não uma ofensa, entretanto algo em seu jeito, sempre tão indiferente, irritava-a. Se não tivessem a mesma mestra, jamais iria caçar, treinar ou comer em sua presença. Ela era apenas três anos mais velha, mas seu discernimento era o de uma alma anciã. Como Artêmis, parecia ter nascido pronta para superar qualquer crise sem reclamar:
- Independente do seu ciclo lunar, das suas falas... você não faz ideia de como vai reagir quando te enviarem para seduzir alguém. Quando precisar tocar um homem... Vai demorar para sentir essa confiança. Disfarçar sua vulnerabilidade aqui, na nossa morada, é mais tolice do que os mitos que você despreza:
- Eu não desprezo, só não acho que é tão literal e... – Parou e crispou os lábios, calculando suas próximas palavras venenosas. - Posso não ser experiente, mas, se tivesse a sua idade, eu já teria participado de um dos rituais. Eu não hesitaria como você.
A ruiva não disfarçou sua surpresa com aquela declaração. Uma amazona poderia escolher o momento que quisesse participar dos rituais cíclicos que louvavam os deuses. Contudo, sentia a pressão nas falas de sua mestra, ela a aconselhou mais de uma vez a participar no último ano. O conselho da líder das amazonas não deveria ser ignorado. Era nítido que precisaria passar por isso o quanto antes. Marin não imaginou, até aquele momento, que toda a Vila das Amazonas questionava sua demora. Confusa, perguntou:
- Te contaram ou você ouviu nossas conversas?
A menina apreciou a inquietude de sua superior. Era raro atingi-la dessa forma, tinha que aproveitar. Fingindo que não responderia, observou o pátio. Próxima a entrada do Templo de Artêmis, uma das amazonas contemplava o céu nublado e acariciava o próprio ventre murmurando alguma canção. Lara estava no estágio final da gravidez e parecia iluminada tamanha semelhança de sua forma redonda com a Lua Cheia:
- Por isso toda essa conversa sobre Artêmis? Você está pensando sobre as dores do parto? Lara não parece se importar...
Marin respirou fundo e se afastou a passos largos. Não deixaria Shaina distrai-la de sua função. Estava ali para ensiná-la a ser mais silenciosa na floresta. Se não queria refletir sobre os mitos, ótimo. Se não queria aceitar que ficaria apavorada na presença de um homem, tudo bem.
Elas não eram irmãs, não eram amigas, não tinha para quê convencê-la de algo. Sabia que apenas se aturavam, deveria ignorá-la. E então lembrou-se que precisava dar o exemplo. Como exigir humildade de Shaina, se ela própria não assumia sua vulnerabilidade?
- Não imagino o que você ouviu e não sei se você hesitar na minha idade – Ela desacelerou os passos para Shaina alcançá-la - Mas eu refleti muito e confessei para Mayura que não estou pronta ainda. Não quero que deixem de me enviar para as cidades. As anciãs têm um controle rígido sobre os participantes do ritual, se nos deitarmos com um guerreiro especial ou um governante, não podemos mais ir até a cidade deles. Você sabe disso. Quero deixar minha função sem esse tipo de interferência.
Shaina a fitou de soslaio alinhando o caminhar com o da parceira. Juntas se aproximaram das árvores que delimitavam a floresta e fizeram a mesura necessária para caçarem com a benção de Artêmis. A densidade da terra quente as envolveu e a jovem seguiu por um tempo em silêncio. Processava as palavras de Marin a cada novo passo e percebeu que, pela primeira vez, sentiu empatia genuína pela sua situação. Murmurou:
- Você já deveria ter recebido seu Presente de Artêmis. – A ruiva nada disse, fingiu não se importar continuando a explorar a mata selvagem – Você não acha que Mayura está atrasando seu teste por causa disso? Até seu irmão já ganhou uma armadura, e ele tem quase a minha idade.
Marin respirou fundo, o cheiro de orvalho acalmou a ansiedade súbita que a invadiu. Relembrou como tornava-se cada vez mais insuportável passar pelo salão do templo sagrado. Ouvia um estranho zumbido e todo seu corpo parecia fervilhar com a proximidade da Armadura de Águia. Queria tocar aquela caixa tanto quanto queria respirar. Tinham dezenas de Armaduras Prateadas no salão, os Presentes de Artêmis, mas aquilo acontecia somente com a peça de Águia. Seu cosmo já atingira a evolução necessária para ser escolhido por uma das armaduras do salão. O desejo de se entregar para seu propósito era maior do o que o de ter intimidades com um homem:
- Você não está errada em pensar assim. Eu imagino que seja pela minha recusa. – Deu de ombros e apontou para os rastros no chão, era uma indicação para um novo caminho. – Ainda assim, prefiro não arriscar.
Você diz ... engravidar? Shaina quis perguntar e concluiu que já sabia a resposta. Fez uma careta lembrando da forma arredondada de Lara e conteve seu comentário. Ela compreendia o medo de se apaixonar por um guerreiro ou, o que mais a assustava, o medo de interromper seu treinamento por meses. Independente de todos os cuidados tomados, os deuses poderiam ignorar a vontade de uma amazona. Apesar do ritual honrar a Artêmis, os guerreiros que as visitavam eram prometidos a outros deuses. Tinha a impressão de que eram eles quem realmente decidiam quando uma criança especial seria concebida. Os deuses, claro, não seus heróis em busca de uma noite de prazer.
A noite começava a tomar conta da floresta e já estava difícil de enxergar as nuances dos movimentos de ambas, em breve poderiam caçar e o silêncio absoluto seria estabelecido. Normalmente, seria agora que a ruiva continuaria a falar sobre algum mito, até a escuridão repleta dominar o ambiente. E então, subitamente, se silenciariam à espera da presa. Respeitando a concentração necessária e a responsabilidade do ato que tiraria uma vida para alimentar o grande grupo que faziam parte. Porém, dessa vez, Marin adiantou o silêncio e a guerreira mais nova se surpreendeu ao perceber que sentia falta daquelas citações, inúteis, mitológicas. Mentira, não era bem isso, estava preocupada com o quanto seu comentário sobre a armadura de prata a abalou. Foi um alívio quando ouviu a voz de Marin:
- Você já reparou que toda vez que Lara fica daquele jeito no entardecer não demora para O Cavaleiro de Libra vir visitá-la?
- Cavaleiro de Libra? – Shaina não disfarçou seu espanto. - Um herdeiro de ouro é o pai dessa criança?
- Oito meses e você nunca reparou que Dohko sempre a procura? - Marin tocou o pulso de Shaina, orientando-a até a pedra que serviria de apoio à espera da caça.
- Oito meses... Acho que ela vai explodir a qualquer momento.
A mais velha revirou os olhos e se ajoelhou na mata úmida. Shaina fez o mesmo e, finalmente, Marin deu voz ao que refletiu quando avistou Lara cantarolando no pátio:
- Curioso ligarem essa história de Artêmis, da virgindade, ao medo do parto. A sensibilidade das amazonas aumenta muito nesse período, já reparou como algumas são procuradas pelos oráculos? Não acho que Artêmis tinha medo. Digo, tem medo. Acho que essa ideia é coisa dos patriarcas das cidades, eles querem ocultar o real simbolismo dessa história. Artêmis veio antes de Apolo. A deusa selvagem e indomável ajudou o Deus iluminado-masculino-e-perfeito, a nascer.
- Você sabe que pode ofendê-lo falando assim... – A voz de Shaina soou tão séria que a ruiva precisou procurar seus olhos na escuridão. Falou com a voz mais branda que conseguiu:
- Exaltar Artêmis não é ofendê-lo, só estou constatando o que o próprio mito fal[...]
Marin interrompeu a última palavra para escutar melhor um barulho que vinha da copa das árvores. Era chuva. As gotas rapidamente viraram uma tempestade dolorida e as duas correram na escuridão em busca de um abrigo melhor. Ambas já caçaram anteriormente com outras amazonas ou cavaleiros prateados e sabiam que juntas tinham uma eficiência acima do normal. Talvez fosse a convivência ou a mentora em comum, mas com poucos gestos e palavras conseguiam saber como a outra agiria para cercar o animal que caçavam. Ou como correrem juntas sem se perder em uma situação assim. Pararam embaixo de um enorme carvalho e se ajoelharam. Apesar da chuva ser forte, nenhum raio a acompanhava, até que ouviram um enorme estrondo e toda a floresta se iluminou. As amazonas se entreolharam no clarão e puderam ver perfeitamente a expressão uma da outra: Shaina irritada, mas com olhos temerosos, Marin, desconfiada, buscava ferozmente aquela fonte de luz. Tinha certeza de que o súbito raio não atingiu o chão.
A amazona ruiva se levantou estudando seus arredores e seguindo o instinto que lhe dizia que aquilo não era uma simples tempestade. Um novo clarão iluminou a floresta e dessa vez o estrondo fez Shaina esboçar um palavrão. Com o susto derrubou todas as flechas no chão. Marin apertou os olhos ainda buscando o que seu cosmo sentia e murmurou: "O que você quer?"...
A chuva reduziu rapidamente, como se a respondesse, e foi então que finalmente avistou o que fizera seu cosmo reagir em alerta. A poucos passos dali um cervo se alimentava calmamente, poderia ser confundido com um animal qualquer não fosse o brilho peculiar em sua penugem. Cinza? Prata? Era impossível descrever sua cor com exatidão:
- Isso não é um cervo, é? – Shaina sussurrou colocando-se ao seu lado.
Marin nada respondeu, apenas deu alguns passos em direção ao animal abandonando a menina para trás, paralisada. Não a julgou mal, sabia que não era medo o que a impedia de acompanhá-la, era assombro. O cosmo das duas vibrava perto do animal como nos rituais de Equinócio e de Solstício. Conforme ela se aproximava mais era certeza: a própria deusa Artêmis estava ali. Contemplou seus olhos e leu astúcia na expressão do animal:
- Os sem fé fizeram o impensável. – Marin e Shaina ouviram uma voz doce reverberando em seus ouvidos, mas nada saía efetivamente da boca do animal. Parecia que a floresta inteira falava. – Chegou a hora. As amazonas não devem hesitar. É para isso que vocês ganharam o meu presente, para ajudar a Justiça no mundo.
Um novo clarão percorreu as árvores e o brilho do animal sumiu. O cervo roçou a cabeça nos dedos de Marin e ela sentiu uma estranha saudade daquela energia que a invadiu por pouco tempo. Era nítido que a Deusa as abandonara e havia somente aquele animal ali. As guerreiras sentiam o corpo trêmulo, queriam ajoelhar tamanha exaustão. Elas não eram oráculos, naturalmente se sentiram perdidas com a responsabilidade, e mistério, daquelas sentenças. Eram apenas para elas? Para todas as amazonas? A qual presente ela se referia? Seriam as Armaduras de Prata?
Marin aprumou o corpo e se distanciou do animal passivo:
- Precisamos falar agora com a Mayura. - Disse, a voz ainda rouca pelo susto.
Shaina, que ainda buscava suas flechas perdidas em algum ponto no caminho, demorou para processar aquele chamado. Somente quando a parceria correu, saiu do torpor e desistiu de achar sua bolsa na escuridão. Concentrou-se em segui-la na mesma velocidade, mas sabia que seria impossível. Suas pernas não a obedeciam muito bem e fez o que pôde para não ficar muito para trás.
Marin já era tão rápida quanto sua mestra e nem mesmo aquele evento a abalou. A volta foi praticamente um voo, não sentia os pés tocando o solo e nem se lembrou do risco de atrair algum predador. Somente quando chegou ao Pátio principal que se permitiu recuperar o fôlego e esperar Shaina. Estudou as lamparinas vermelhas que levaria até o Templo de Artêmis. Estava tão estarrecida que por um momento duvidou que estavam acesas. Limpou a umidade da chuva de seu rosto e constatou que realmente acenderam as velas:
- Temos visita – ouviu Shaina confirmar o sinal de que teriam que esconder seu rosto – E agora?
- Mayura precisa saber logo. - Sussurrou apontando para a lateral do Templo e seguindo o caminho mal iluminado.
- Não vão nos deixar entrar no Templo assim.
O comentário da menina foi ignorado, com ou sem ela, Marin falaria com a líder das amazonas. Shaina resolveu segui-la, atenta às colunas que escondiam aquela entrada furtiva. Não entendia como funcionava a vigília na lateral do Templo, aquilo era tarefa das mulheres mais velhas. Não se surpreendeu quando uma senhora puxou o braço de Marin. Observou-a de cima a baixo, claramente uma repreensão por seu estado deplorável:
- Caíram no rio?
Shaina olhou para trás, não havia qualquer sinal no céu da tempestade que assolou a floresta:
- Não choveu aqui? – Sua pergunta se perdeu ao pedido insistente de Marin:
- Precisamos falar com a Amazona de Pavão.
- Encharcadas assim? Se enxuguem e aguardem a reunião acabar, levo Mayura até vocês.
A ruiva respirou fundo, a baixa temperatura começava a afetar seu corpo, sabia que precisavam se enxugar e era mesmo uma péssima ideia interromper sua mestra. As falas de Artêmis ressoaram em seu íntimo novamente. O que seria mais importante do que um pedido da deusa?
- Não podemos esperar – delicada, puxou seu braço do aperto da velha, ela soltou ao ouvir em seu tom de voz a mesma seriedade da líder das amazonas - Temos uma mensagem e não sei quanto tempo podemos perder.
Outra senhora quis protestar, mas parou quando Lara passou pela porta do Templo:
- Deixem-nas entrar. – ela estava mais pálida que o normal e Marin não duvidou que os dons intuitivos da amiga captavam o prelúdio do que se seguiria. - Se for um capricho, Mayura as punirá.
As pupilas olharam para as vestimentas que Lara segurava, entendendo que ela garantiria sua entrada. Sem ouvir nenhum protesto das anciãs ou trocarem qualquer outra fala, colocaram as máscaras avulsas e as mantas escuras. Virando, assim, mais uma sombra entre tantas outras que amazonas dentro do Templo de Artêmis. As que estavam presentes ali participavam da alta elite das amazonas, responsáveis pela espionagem impecável contra os inimigos dos deuses. Nem ao menos a forma de seu corpo ou a cor de seu cabelo poderiam ser vistos por quem não fosse jurado a Artêmis. Qualquer um poderia virar um inimigo nos tempos que viviam, precisavam garantir que nenhuma espiã fosse reconhecida quando visitassem uma cidade. Um dia, Shaina tinha certeza, ainda conseguiriam criar uma máscara que até os olhos seriam cobertos:
- Você estava certa... – a menina sussurrou enquanto Marin secava um pouco de sua trança para não encharcar mais o chão. Antes de colocar a máscara, apontou para o centro iluminadíssimo do cômodo que adentravam. – Lara sabe quando ele vem.
Marin observou a figura enorme que fazia todo o salão brilhar com o ouro de suas vestes. Reconheceu a armadura do Cavaleiro de Libra, o amante de Lara. Ao contrário das outras vezes, não parecia alegre pela oportunidade de rever a mãe de seu filho. Encarava Mayura com uma expressão transtornada:
- Confirmamos que três templos ao Sul foram saqueados também – sua voz grave ecoou no lugar – Achamos que é uma ação conjunta.
- Nenhum templo de Artêmis, certo? – Mayura perguntou. A líder das amazonas não estava sentada em seu trono como habitualmente, mas sim em pé e com uma expressão corporal mais altiva que o normal. – Você sabe que não podemos suprir a falta de guerreiros de outros deuses, já e muito difícil proteger o que somos jurados, Dohko. Enquanto não envolverem Artêmis, nós...
- Mayura, Delos amanheceu em chamas. Kardia avistou o incêndio do mar e por pouco seu barco não foi atacado. Ele recuou para nos avisar e entender o que está acontecendo. Mas ele tem certeza de que era o Templo de Apolo que queimava.
A Amazona de Pavão permaneceu em silêncio. A ilha sagrada de Delos era o local em que Artêmis e Apolo nasceram, um porto seguro que acolheu a amante de Zeus prestes a dar à luz aos gêmeos. Hoje a ilha era administrada por guerreiros que cultuavam o deus solar, contudo era impossível separar sua relação com a deusa que protegia as amazonas.
Mayura balançou a cabeça em negação e perguntou em um sussurro:
- Então Ilías... O Cavaleiro de Leão está morto? Como? Mataram a criança também?
- Não temos certeza de nada ainda. Kardia resolveu visitar Delos e Creta por causa de um sonho que se repetiu desde a Lua Nova. Quando perguntou para seus oráculos, veio uma resposta confusa, algo sobre Justiça Ameaçada. Ele pressentiu que era sobre a reencarnação de Atena.
- Eles querem matar as meninas que achamos. Faz sentido... se o recado é sobre Justiça.
Então os rumores eram verdade. Há pouco mais de um ano os oráculos sussurravam que era o momento de a fé ser restaurada pela volta de uma deusa. Delfos, Esparta, Olympia, Elêusis, Delos, Creta... O mesmo recado sobre fé e justiça foi repetido no Equinócio pelas mulheres que canalizavam a voz dos deuses. Mayura nunca declarou nada oficialmente, mas Marin e Shaina sabiam que algumas espiãs ficaram responsáveis em achar algumas meninas com certas características. Nenhuma delas retornou a Vila das Amazonas.
As duas garotas se entreolharam constatando que ambas decifraram parte da mensagem que receberam. Então foi Atena que retornou em corpo humano? Como um bebê?
- E a criança que Manigold protege em Elêusis?
- Ela está a salvo por enquanto. Não há indícios que ela é Atena. Manigold acredita que ela apenas tem alguns dons especiais.
Mayura assentiu:
- Vocês precisam de mais prateados para recuperar as ilhas? Quem vai ajudar Kardia?
- Shion já viajou para avaliar a situação e logo mais me juntarei a eles. Acreditamos que o ataque massivo se concentrou lá, porém enviamos mensageiros a todos os herdeiros de Ouro. É importante que fiquem em alerta e vigiar suas regiões com atenção.
- Ilías era o Cavaleiro de Ouro mais forte...- Mayura sussurrou. Marin conhecia aquele tom de voz, a amazona investigava em sua mente todas as possibilidades para a situação. – Ele não seria derrotado por guerreiros mundanos ou um simples incêndio.
- Isso é o início de uma guerra, Amazona de Pavão, você sente também... e nenhum oráculo ou espião conseguiu prever isso. - Dohko respirou fundo - Por isso precisamos da sua ajuda.
- Você não quer mais prateados. Você já tem volume suficiente para as batalhas. São minhas espiãs? – A pergunta de Mayura na verdade era uma constatação e ela não esperou que o libriano respondesse – Bem, quantas vocês precisam?
- Desconfiamos que cinco cidades estão envolvidas nessa traição, então..,
- Então cederei cinco garotas para você.
- Cinco? Não é o suficiente. - Ele contestou, diplomático – Acredito que precisamos de cinco amazonas em Atenas.
Ela riu:
- Cinco garotas, Dohko. As demais eu vou encaminhar para ajudar, mas de uma outra forma.
- Está bem, eu preci...
A loira não o deixou terminar, na mesma hora voltou-se para as amazonas enfileiradas, como estátuas, nas paredes do templo e perguntou:
- Voluntárias?
Marin sentiu a frase de Artêmis queimar em seu peito e se viu dando um passo para frente. A ruiva sabia que Mayura reconhecia seu cosmo. Imaginou seu sorriso sarcástico quando viu o sinal para que se aproximasse:
- O que você precisa em Atenas, Dohko?
- O sucessor de Leão está lá, precisamos ...
- Garantir que ele não morra?
- Sim. – Dohko assentiu, ainda com a mesma expressão transtornada. Era nítido que não dormiu ou descansou nos últimos dias. Ou talvez o que via fosse luto pela morte do Cavaleiro de Leão:
Mayura voltou-se para sua pupila e a fitou:
- Você consegue lidar com essa tarefa, Marin?
* para quem não leu outras sagas:
- Mayura é a Amazona de Pavão em Saint Seyia Santia Shô [ maravilhosa]
- Dohko é o Cavaleiro de Libra novinho que vemos mais em Lost Canvas/ Saga de Hades etc.
- Kardia é o Cavaleiro de Escorpião em Lost Canvas,
- Shion é o Cavaleiro de Áries em Lost Canvas e mestre de Mu.
- Manigold é o Cavaleiro de Câncer em Lost Canvas.
- Ilías é o Cavaleiro de Leão em Lost Canvas.
