Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Falsas Apariencias" postada em 2007 no FanFiction por Sisa Lupin.

Capítulo 4 - Em vigília.

Como cada tarde há um ano, Remus dirigia-se a passos apressados em direção ao Quartel General, uma decrépita e empoeirada mansão que tinha se transformado com o passar dos dias em seu novo lar, pois o quarto onde dormia, cheio de goteiras e umidade, nem sequer era de sua propriedade e duvidava seriamente que algum dia podia se permitir ao luxo de comprar aquele muquifo.

Mas esse não era o único motivo pelo qual preferia a Nobre e Antiga Casa dos Black. O principal era que ali habitava o seu melhor amigo, encarcerado com a única companhia de seu ranzinza elfo doméstico, o quadro de sua histérica mãe e o hipogrifo na cama de dita cuja. Por isso, algumas noites, preferia ficar até tarde em sua companhia e falar de tempos passados e melhores.

Depois de um tempo, e depois de pronunciar o nome da casa, a porta abriu-se com um rangido e o lobisomem entrou, pondo grande cuidado ao fechá-la. Então, com passos sigilosos, avançou pelo escuro corredor, cujas paredes erguiam o retrato da senhora Black — naquele momento, e para sua grande sorte, com as cortinas fechadas —, até chegar à sala onde Sirius enfiava-se em um dos sofás enquanto Monstro guardava um grande candelabro de prata debaixo do maltrapilho uniforme de elfo doméstico.

— Monstro — o advertiu. O velho elfo sobressaltou-se de susto — Não creio que Sirius goste do que está fazendo.

Ao ver de quem se tratava, relaxou visivelmente seu semblante e voltou a saquear todos os objetos valiosos do lar de sua querida ama, ao mesmo tempo em que murmurava sem nenhum tipo de pudor alguma impertinência sobre o recém-chegado.

— Hum, o lobisomem fala com Monstro, maldito mestiço. Se minha pobre ama lhe visse passeando por sua nobre casa, voltaria a morrer de vergonha...

— Monstro! — exclamou Sirius, revelando-se por completo — Peça desculpas agora mesmo!

— Deixa, Sirius. Não precisa.

— Nada disso. Vamos, Monstro, desculpe-se.

O elfo olhou para seu amo com ressentimento e depois dirigiu-se a Remus.

— Desculpe a este pobre elfo doméstico, senhor... Lupin — disse como se cada palavra que saísse de sua boca lhe produzisse uma terrível e pulsante dor na boca do estômago.

— Já vejo que não posso esperar nada melhor de ti — alegou o animago — Agora vá limpar agora. E não aproxime-se novamente do quadro de minha mãe!

— Sim, senhor... amigo de sangues ruins e traidores — murmurou entredentes enquanto saía da sala.

— Ei! O que está levando aí?

Monstro saiu correndo o mais rápido que suas curtas pernas permitiam com o candelabro e várias taças de prata entre as dobras de suas roupas, que tilintavam a cada passo que dava.

— Mas que ladrão! Sempre faz a mesma coisa. Assim que me distraio, leva alguma coisa, e não sei onde esconde.

— Só tenta proteger as relíquias familiares de suas faxinas. Certamente sua mãe tem um dedo nisso.

— Pois poderia ir ao inferno e deixar todos nós em paz.

Remus sorriu de lado. Já estava mais do que acostumado às suas queixas, era parte de seu "encanto". Um segundo depois, olhou o relógio de pé que estava em um dos cantos.

— Não se preocupe. Tenho certeza de que Tonks já deve estar chegando — disse, adivinhando seus pensamentos.

— E o que te faz pensar que olho as horas por isso?

— Porque te conheço desde que éramos pirralhos, cujo único objetivo de vida era pôr bombas de bosta da Zonko 's na cadeira dos professores, e sei perfeitamente diferenciar quando está nervoso.

— Primeiramente, era você quem tinha uma obsessão doentia em ser odiado por todos os nossos professores. Segundo, está deturpando a situação. Foi você quem me pediu para acompanhar Tonks, lembra?

— Para defender sua honra! — retrucou.

O lobisomem moveu a cabeça de um lado para o outro com evidente frustração.

— Vamos, Sirius. Pense no que está dizendo. Se Snape nunca se fixou em uma mulher antes, não vai fazer isso a essa altura do campeonato.

— Mas você viu! Não tirava o olho de cima dela. Pelo menos você disfarçava, mas ele...

— Sirius, por favor — avisou.

— Desculpe, mas cada vez que me lembro, o sangue ferve — exclamou o animago sem prestar a atenção. Depois, sem aviso prévio, seu rosto vermelho pela frustração mudou de forma radical para o branco mais espectral — Oh Merlin!

— Quê? O que foi? — perguntou seu amigo preocupado.

— Quando Tonks saiu ontem de noite depois da reunião... Snape desapareceu imediatamente atrás dela... — disse aterrorizado — Remus, e se...

— Almofadinhas, pelo amor de Merlin, cala a boca antes que eu imagine!

Sirius reproduziu uma arcada e, realmente, lhe saiu bastante convincente.

— Talvez a tenha sequestrada em seu armazém de poções, dentro de um frasco nojento. Temos que ir salvá-la — acrescentou, pegando sua varinha com pressa.

— Quem vão salvar? — perguntou a voz de Tonks, da entrada da sala.

— Ninguém — responderam os dois ao mesmo tempo.

A jovem sorriu, vendo como Sirius fingia um bocejo e guardava discretamente a varinha no bolso, enquanto seu amigo soltava a sua como se nada tivesse acontecido.

Ainda estranhando não tê-la escutado chegar, Remus exibiu um de seus melhores sorrisos, secretamente desejando que ela não tivesse escutado as loucuras de seu parente, e ainda mais ele escutando suas histórias absurdas.

— Está pronta...? — perguntou, quebrando o silêncio incômodo.

— Claro. Você?

O lobisomem assentiu sem poder evitar pensar em quão bonita estava naquela noite com seu cabelo rosa. Engoliu em seco.

— Deveríamos ir antes que fique tarde — disse, evitando o seu olhar — Adeus, Sirius.

— Até amanhã, Sirius — despediu-se Tonks enquanto acenava em despedida e ia até a saída.

— Façam uma boa vigília! — o animago deu uma piscadela cúmplice ao seu amigo, um gesto que decidiu ignorar e ir atrás de sua companheira.

Pouco tempo depois, o lobisomem voltou.

— Esqueci minha varinha — desculpou-se enquanto a pegava.

— Sim, tem algo aqui também — acrescentou seu amigo, indicando o seu queixo. O lobisomem o olhou confuso enquanto passava a mão, e o olhava interrogativo — Está caindo a baba.

— Engraçadinho — disse ironicamente enquanto afastava-se definitivamente dali e o deixava acabando-se de rir sobre o sofá.

— O que deu nele? — ela perguntou, quando ele a alcançou no corredor.

— Nada. Sabe como ele é — acrescentou, apontando a própria têmpora.

Tonks tentou não rir enquanto passavam diante do quadro coberto da senhora Black, que parecia continuar dormindo plácida por trás das cortinas. Remus suspirou aliviado enquanto o contemplava com um vislumbre de pavor em seus olhos. Por sua vez, a jovem o olhou sem entender e decidiu observar por cima do ombro as estranhas cortinas que pareciam causar tanta preocupação em seu parceiro de vigília...

O lobisomem virou-se até sua companheira para comentar algo quando, com súbita surpresa, percebeu que ela olhava para trás enquanto caminhava na direção do porta guarda-chuva de perna de trasgo.

— Cuidado!

A jovem notou que Remus a segurou pela cintura para impedir a sua queda quase no mesmo instante em que tropeçou no suporte. Ela estremeceu pelo contato de suas mãos e, interpretando como um sinal de que não lhe agradava, Remus a soltou imediatamente, temendo tê-la incomodado.

— Obrigada — sussurrou com timidez, sabendo com certeza que seu cabelo tinha mudado de cor.

— Não tem de quê, mas não fale muito alto, certo?

— Por quê?

— Espero que nunca descubra. Vamos.

Quando saíram, a temperatura tinha caído. Era uma noite fria, sem nuvens, e as estrelas, assim como a lua minguante, se viam claramente sobre o céu escuro. Tonks olhou para aquele astro redondo e depois para seu companheiro, parecia um pouco mais pálido sob seus raios prateados, mas era normal para um licantropo.

Decidiu desviar o olhar de seu rosto. Afinal de contas, ele não tinha a menor ideia de que sabia sobre o seu segredo e queria manter assim por enquanto.

— Aonde vamos? — perguntou enquanto desciam as escadas.

— Rua dos Alfeneiros. Dumbledore quer que vigiemos aos redores caso alguns Comensais decidam atacar Harry enquanto está ali com os tios.

A resposta a pôs em alerta. Sentiu seus músculos tensionarem ao perceber repentinamente essa confissão. Sua mente começou a pensar na utilidade das palavras do confiável lobisomem, mas em seu coração sabia perfeitamente que era incapaz de pôr em prática... Além do mais, Snape já estaria a par. Mas e se não estivesse?

— Que horas muda a guarda? — perguntou, testando o terreno.

— Cada dia uma hora diferente. Dumbledore nos faz saber pela tarde. Hoje, por exemplo, estaremos até às três, quando Arthur e Kingsley vão nos cobrir.

— Durante o dia não vigiamos?

— Não. Durante o dia, a senhora Figg o vigia. Vive perto da sua casa — explicou — E falando na Figg, é melhor irmos logo, se não quisermos irritá-la.

Remus se colocou em frente a ela e estendeu a mão. Tonks o olhou sem entender. Tinham que vigiar de mãos dadas?

— Não quer ir andando até Surrey, não é? É mais rápido se aparatarmos.

— Tem razão — respondeu, ainda mais corada ao perceber que só queria que aparatassem na frente da casa dos tios de Harry Potter.

Logo depois, pegou a sua mão e a segurou com firmeza.

Ignorava a razão, mas cada vez que Remus roçava a sua pele, sentia-se bem, mais ainda quando a olhava com seus penetrantes olhos verdes e seu sorriso caloroso.

— Pronta?

Ela assentiu e nesse mesmo instante, notou que a mão dele se afastava e a segurou com mais força. Logo tudo ficou escuro, mas depois de alguns segundos, dissipou-se, deixando à vista a rua de uma urbanização trouxa.

— Aqui estamos nós — indicou Remus, olhando sua companheira — A propósito... Já pode soltar a minha mão.

— Desculpe. Te machuquei?

— Não muito. Acho que daqui a alguns minutos voltarei a sentir meu pulso — disse com um sorriso enquanto começava a caminhar.

— Exagerado! Só te segurei um pouco mais forte para que não se esquecesse que eu estava junto e me deixasse solta por aí.

— Sim, claro... E não seria porque tinha um pouquinho de medo?

— Você também teria um pouquinho de medo se em seu exame de aparatação, metade de você tivesse se espalhado pela metade de Londres.

— Certo, entendi agora — retrucou sem poder evitar uma risada.

Tonks abandonou seu cenho franzido e uniu-se a ele.

— Pensei em uma coisa — disse Remus quando voltaram ao normal — Da próxima vez poderíamos vir andando. Só teríamos que sair mais cedo... O que acha?

No mesmo instante, se arrependeu de ter proposto isso. Por um momento, tinha se esquecido que estava ali com ela só porque seu primo tinha o empurrado como seu acompanhante. Ou seria mais correto dizer tio? Tudo isso sem contar que a jovem nem sequer sabia que ele era um lobisomem. Se soubesse, preferiria mil vezes Snape.

— Esquece, foi besteira. Deve ter coisas melhores para fazer — acrescentou, voltando a caminhar e evitando contato visual.

Mas Tonks o segurou pelo braço e o obrigou a parar e olhá-la.

— Que pena porque era uma ideia maravilhosa.

Remus a observou com cuidado. Sem saber o motivo exato, soube que estava sendo sincera com ele e que podia confiar em suas palavras. Não tinha muitas pessoas que o fizessem sentir assim e por isso estranhou, ainda mais vindo de alguém que mal conhecia.

Sem nenhum motivo aparente, pigarreou para poder evitar o profundo contato entre ambos. Temeroso da avalanche de sentimentos que estava experimentando ao contemplar esse rosto bondoso em formato de coração.

— Olha, é o número 4 da Rua dos Alfeneiros — disse, indicando umas casas mais afastadas — Aquela casa da frente é da Figg. Vamos dar o sinal para que ela saiba que estamos aqui.

A jovem viu como tirava sua varinha do bolso e fazia piscar três vezes uma luz verde em direção à casa que acabava de lhe indicar. Nesse momento, as cortinas de um dos quartos se moveu no mesmo número de vezes.

— Já sabe que estamos aqui. É assim que funciona. Depois, pomos um feitiço ao redor da casa e espero que não soe.

— Como um alarme?

— Exato.

— E de que serviria? — perguntou com o cenho franzido — Não importa quantos alarmes ponhamos, se vierem muitos Comensais ao mesmo tempo, não teremos muitas chances de sair daqui vivos, e muito menos de proteger Harry.

Remus sorriu da mesma forma que fazia quando um de seus alunos acertava uma de suas perguntas mais difíceis.

— O alarme faz todos os membros da Ordem se apresentarem aqui, independente do lugar em que estiverem. Exceto Sirius, claro.

— E se alguém estiver tomando banho? — perguntou de forma preocupado, como se isso pudesse acontecer com ela.

O lobisomem ficou sem resposta diante uma pergunta tão diferente.

— É... Eu não sei — admitiu, envergonhado — Nunca tinha pensado assim.

De repente, Tonks começou a gargalhar e ele a olhou sem entender.

— Imagina Olho-Tonto ou Snape passeando de toalha pela Rua dos Alfeneiros? — conseguiu dizer entre risadas.

— Prefiro não imaginar — respondeu, rindo também.

Quando conseguiram afastar essa imagem de suas cabeças e parar de rir, o casal foi caminhando em direção ao número quatro. De vez em quando, Tonks deixava escapar uma ou outra risada, e Remus, diante dessa situação, não podia deixar de pensar no quão encantadora era quando sorria. Quanto tempo fazia que não ria assim com alguém? Não conseguia nem mesmo se lembrar.

Finalmente, chegaram na casa dos Dursleys. Remus, ainda com a varinha em mãos, apontou para a casa e sussurrou o encantamento.

Intentis oculis.

— Só isso? — perguntou Tonks, um pouco decepcionada — E agora o que fazemos?

— Ficamos aqui por perto, caso aconteça algo.

— Mas disse que se acontecesse alguma coisa, o alarme chamará todos da Ordem. Por que ficamos vigiando? O alarme nos avisaria a tempo.

— Tem razão. Mas se esquecesse de um detalhe: apesar de ser um feitiço eficaz, não é tanto assim — acrescentou enquanto ela escutava atentamente — Temos que voltar a conjurá-lo depois de algumas horas aproximadamente. Senão, a proteção se perde. Expliquei bem?

Ela assentiu e, com o tempo, observou as sombras ao redor um pouco incômoda pelo silêncio que tinha se produzido entre eles, sem saber muito bem como rompê-lo. Remus se deu conta do que se passava por sua cabeça e decidiu tomar de novo a palavra.

— Tem um parque por perto. Podemos sentar ali e vir depois de um tempo...

— Vamos — ela disse, começando a caminhar.

Remus a alcançou, caminhando em silêncio ao seu lado.

— Lupin...

— Pode me chamar pelo nome, se quiser.

Tonks corou ligeiramente, e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Nunca tinha ouvido chamarem-no pelo nome, com exceção de Sirius, mas eles eram amigos há anos.

— Está bem, Remus — disse, sem poder acreditar ainda — Eu gosto do seu nome. Sem dúvida é muito melhor que o meu... — acrescentou com uma pontada de ressentimento.

— Bom, o seu é... pouco comum.

— Pouco comum significa horrível no seu vocabulário?

— Não é horrível, é só diferente. Quem te deu?

— Minha mãe. Foi um parto trouxa e suponho que a anestesia subiu a sua cabeça...

Remus soltou uma gargalhada.

— Quê? É verdade! — ela exclamou — Quem em seu juízo perfeito chamaria sua filha de Nymphadora? — deu ênfase na última palavra — Mas deveria agradecer, podia ter sido pior... Meu pai queria que eu tivesse seu nome também. Imagina só? Nymphadora Andrômeda Tonks.

— Apavorante — acrescentou com humor.

Um segundo depois, a jovem lhe deu um tapa amistoso no ombro.

— Estou falando sério, Remus. Sabe a quantidade de psicobruxos que eu teria que ter ido? — perguntou, fazendo-se de irritada, mas nesse instante viu o parque no final da rua, e iluminou-se o rosto — Olha, tem balanços. Vamos sentar ali — disse, puxando-o pelo braço.

Remus sorriu de lado. Jamais teria imaginado que um velho lobisomem, que tinha sido professor em uma das escolas de magia mais importantes da Europa, pudesse conceder esse tipo de capricho, mas amava ver as covinhas que surgiam em sua bochecha quando ela sorria, e acabou concordando.

A viu afastar-se rapidamente enquanto permanecia onde estava e tentava se convencer de que sua fixação pela metamorfomaga não tinha nada de especial. Finalmente, decidiu caminhar quando ela já tinha se sentado em um dos balanços que ali estava, e se balançava um pouco.

Por sua vez, a jovem o observava chegar com as mãos nos bolsos e um olhar indecifrável no rosto. Era como se não soubesse o quão atraente era.

Quando sentou-se ao seu lado, ela corou, mas se obrigou a olhar sobre sua cabeça antes que ele pudesse perceber isso. O céu estava pregado de estrelas e luminosos astros naquela noite. Tonks sentia-se minúscula diante daquela imensidade camuflada de brilhantes constelações, mas o que mais chamava a sua atenção era aquele escuro abismo que tinha entre umas e outras, aquela escuridão que as envolvia e da que não podia escapar.

Desde que estavam ali, Remus percebia algo diferente nela. Talvez estivesse pensando em outra pessoa, alguém que imaginava ser da sua idade, talvez auror como ela, com ambições e algum dinheiro no banco, e sem nenhuma maldição mágica que o obrigava a se transformar em um monstro. Por alguma estranha razão, pensar nisso lhe produzia uma sensação estranha dentro do peito, e preferia não perguntar nada a respeito.

— É bom estar aqui — ela comentou, e fechou os olhos para prolongar essa calorosa sensação noturna. Quando os abriu, encontrou-se com o olhar do lobisomem e sorriu com timidez — Fico feliz de ter se oferecido para ser meu parceiro, Remus... mesmo que tenha sido Sirius que te obrigou — acrescentou um pouco distante — Parecia relutante no começo.

— Não, imagina — apressou-se em contradizer — Me desculpe por ter dado essa impressão, mas não costumo fazer vigílias em grupo. Por isso não me ofereci antes.

— Pensei que todas as guardas fossem em pares — ela comentou.

— E são, mas no meu caso é diferente.

Por alguma estranha razão, abaixou o rosto e começou a balançar-se com a ponta de um de seus sapatos.

— Por quê? — ela insistiu, visivelmente desconcertada.

Tinha algo vulnerável em seu interior que a intrigava, algo pouco comum em uma pessoa que podia se transformar em uma das criaturas mais perigosas do planeta. A jovem não tinha conhecido um lobisomem antes, mas supôs que essa falta de segurança era influenciada pela mudança da lua.

A ideia que tinha sobre os lobisomens, uns seres implacáveis e sanguinários que habitavam em contos infantis e em alguns filmes em preto e branco, estava se transformando à medida que passava mais tempo com Remus.

Só tinham tido algumas conversas, e não era capaz de vê-lo como monstro em que certamente se transformava cada lua cheia.

"Não se engane, Tonks. Aqui o único monstro é você", disse uma voz em sua cabeça.

— Eu não entendo — disse, ao não receber uma resposta — Faz pouco tempo que nos conhecemos, mas apesar disso, sinto que é uma boa pessoa.

Remus esboçou um sorriso irônico.

— Se me conhecesse de verdade, se soubesse o que realmente sou, não diria isso, Tonks.

— O que quer dizer? — perguntou sem poder se conter — Ser um lobisomem não muda absolutamente nada do que eu disse.

Diante do olhar surpreso do seu companheiro, fechou a boca e olhou para outro lado. Tonks duvidou entre fingir um desmaio ou fugir dali, mas depois de uma pausa, Remus se recuperou da impressão e lhe devolveu um sorriso triste.

— Então você sabia — afirmou.

— Li no jornal faz um tempo — mentiu.

Ele assentiu de forma ausente, mas com o passar do tempo, sentiu sua mão sobre um de seus joelhos e seu corpo ficou tenso.

— Eu não me importo, Remus.

Nenhuma palavra veio em seu auxílio, nenhum gesto ou som que pudesse suprir. Estava realmente consternado enquanto ela sorria como sempre, como se não tivesse virado o seu mundo de cabeça pra baixo com aquela frase.

Depois de alguns segundos, a jovem levantou-se com a desculpa de renovar o alarme na casa dos Dursleys. Sentindo-se profundamente triste por ver como se afastava, o licantropo começou a ir atrás dela. Um minuto depois, a metamorfomaga percebeu que ele a alcançava.

— Obrigado, Tonks, sério.

Ela moveu a cabeça e voltou a aparecer aquela covinha em sua bochecha. O lobisomem considerou oportuno mudar de assunto rapidamente, mas não conseguia pensar em nada que não mencionasse o que tinha acabado de acontecer, então decidiu puxar o primeiro assunto que lhe passou pela cabeça...

— Eu agradeceria se, da próxima vez que ver Sirius, esclareça a ele que Snape não tem nenhum tipo de fixação por você. Ele está me enlouquecendo com essa história...

Tonks empalideceu notavelmente.

— Porque imagino que... — acrescentou cautelosamente — ele não tem nada estranho contigo, certo? — acrescentou Remus visivelmente pálido.

— Como podem pensar isso? Já viram a cara dele? É uma mutação horrível entre sapo e grindylow! E aquele cabelo, arg...

O lobisomem soltou uma gargalhada.

— Eu sei, eu sei. É só que Snape nunca prestou tanta atenção em uma mulher e, bom... Estamos preocupados por você.

— Estão mal da cabeça — resmungou enquanto voltava a andar — Além do mais, eu não costumo interessar os homens.

— Isso eu não acredito.

Tonks suspirou.

— Para sua informação, Remus — salientou — A única coisa que interessa aos homens de mim é saber se posso me transformar em uma das mulheres que saem nas capas de revista — confessou e deu de ombros — Que se danem todos eles.

— Obrigado pela parte que me toca.

Para sua surpresa, ela se pôs na ponta dos pés e lhe deu um beijo na bochecha.

— Sorte a sua ser um lobisomem — ela disse, enquanto piscava e escondia um sorriso — É só metade estúpido.

Depois da evidente corada do licantropo, Tonks e Remus passaram o resto da guarda conversando e brincando igualmente. Parecia incrível a capacidade que ele tinha para fazer que se esquecesse de seus problemas, e as horas passaram tão rápido que quase nem se deram conta quando Kingsley e o senhor Weasley vieram para cobri-los no horário combinado. Ambos não disseram, mas de boa vontade teriam ficado toda a noite um com o outro.

— Amanhã não temos vigília, mas espero te ver na reunião de tarde...

— Conta com isso — respondeu Tonks sorridente.

— Enfim — pigarreou — Boa noite, Tonks. Cuidado onde aparata.

— Muito engraçado — disse em tom irônico — Até amanhã, Remus.

E, com um último sorriso, o lobisomem desaparatou ao mesmo tempo que ela.