EPOV

Quando acordamos pela manhã, o navio já estava atracado no porto da ilha. Havíamos arrumado nossas coisas nas malas, para levar ao hotel, na noite anterior. Fomos informados que nossas cabines seriam mantidas trancadas, para caso esquecêssemos algum pertence lá dentro, e só seriam abertas para limpeza e manutenção – portanto, se algo desaparecesse, seria responsabilidade do cruzeiro, já que apenas funcionários seriam permitidos.

Haviam lanchas de pequeno porte nos esperando para nos levar até a praia que ficava no litoral sul da ilha, onde se encontrava o resort. Ao chegar na praia, vários jeeps de trilha com o slogan do Isla D'ouro Eco Resort nos aguardavam.

A ida até o hotel foi bem rápida, cerca de quinze minutos. Durante o pequeno percurso, Alice parecia ainda mais animada do que o normal, totalmente encantada pela ilha. Ela apontava para a paisagem e puxava o braço de Jazz para que ele visse o que quer que ela estivesse lhe mostrando. Isabella estava tão animada quanto minha irmã e parecia incapaz de deixar de sorrir. Era um lugar realmente incrível, eu não poderia julgar.

Assim que chegamos ao hotel fizemos o nosso check-in junto aos demais casais do cruzeiro que haviam decidido desembarcar na ilha também. Haviam duas fileiras enormes de funcionários prontos para levar nossas malas para os quartos, nos mostrar as instalações do hotel e distribuir incontáveis panfletos sobre as atividades e serviços oferecidos pelo resort.

A hospedagem no hotel era inteiramente por conta do cruzeiro, mas fomos lembrados – mais de uma vez– que todos os demais gastos seriam cobrados, o que não era um problema uma vez que a maioria das atividades do resort já estavam inclusas na hospedagem, basicamente só teríamos que pagar por nossa alimentação, bebidas e serviços extras.

Combinamos de nos encontrar para almoçar, estávamos famintos já que não havíamos tido tempo de tomar o café da manhã, e fomos para nossas suítes.

O quarto era enorme, fazia o quarto do cruzeiro parecer uma caixa de fósforo, todo branco com destaques de azul e madeira. Além da cama encostada na única parede pintada de azul-marinho, também havia um closet modulado, um sofá com um tronco de madeira que servia como mesa de centro à sua frente, uma tevê e muitas almofadas espalhadas por todo o cômodo.

Duas portas de correr de vidro, com a mesma altura da parede e bem largas, chamaram minha atenção.

A primeira dava para uma pequena varanda na qual se encontravam duas poltronas, uma mesa de madeira com duas cadeiras – que deduzi servir para caso escolhêssemos comer no quarto – e nos proporcionava uma vista incrível do resort. A segunda porta me preocupou, era tão alta, larga e transparente quanto a primeira, e atrás dela estava o banheiro.

Centralizadas com a porta estavam duas cubas de mármore em uma enorme bancada de madeira e dois espelhos redondos emoldurados com luz LED. De onde a cama estava, dava para ver perfeitamente a banheira de mármore e a porta de vidro que dava para o box. Caminhei para mais perto e vi que do outro lado, onde se encontrava a privada, havia uma parede de madeira vazada que permitia que quem estivesse lá dentro visse quem estava fora, mas não o contrário.

Isabella se aproximou de mim e enfiou a cabeça dentro do banheiro, ouvi a lufada de ar que deixou seus lábios segundos depois.

– Mas que porra – murmurou irritada – Qual era a dificuldade em colocar uma porta opaca aqui?

– Bem... – comecei já sabendo que estava cutucando cobra com vara curta, mas o que eu poderia fazer? Simplesmente não conseguia controlar a vontade de irrita-la – Faz tempo desde que estive em um relacionamento amoroso, mas pelo que me lembre, casais geralmente não se importam muito quando são vistos nus.

Ela se virou para mim com os braços cruzados e soltou uma risada exageradamente sarcástica.

– Ah, é? Você só está esquecendo de uma coisinha, bonitão, nós não somos um casal – ela falou a última parte da frase um pouco mais baixa, como se alguém pudesse nos ouvir – E eu ficarei sim muito incomodada de tomar banho com você olhando, ok?

– Eu não me importo que você me veja nu – dei de ombros, me arrependendo imediatamente. Quase conseguia ver a fumaça saindo dos ouvidos de Isabella – Caramba, relaxa, foi só uma brincadeira. Eu posso muito bem sair do quarto quando você for usar o banheiro e você pode fazer o mesmo. Ou podemos simplesmente fechar os olhos, sabe? É meio que para isso que existem as pálpebras.

– Há! Há! Engraçadinho – ela revirou os olhos, mas acabou concordando.

Depois de alguns minutos ouvimos o barulho de batidas na porta e ela atendeu, eram os funcionários com nossas malas. As deixamos onde elas foram colocadas e saímos do quarto, nos dirigindo para o restaurante do hotel. Como fomos os primeiros a chegar, escolhemos nossa mesa – com lugares suficientes para quatro pessoas – e pedimos uma entrada. Isabella parecia que iria desmaiar de fome a qualquer momento.

Não demorou muito para que Alice e Jasper chegassem e finalmente pudéssemos pedir o prato principal. Minha irmã ficou chateada quando contamos sobre a varanda, reclamando que não tinha uma no quarto dela. Jasper resolveu que seria uma ótima ideia perguntar o que achamos do banheiro.

– Ah, essa vai ser boa! – minha irmã disse enquanto caía na gargalhada.

– Alice Mary Cullen, eu nunca mais vou aceitar suas ideias malucas, ouviu? Nunquinha.

– Ai Bella, que exagero – a voz de Alice estava afetada por sua risada – Meu irmão é um gato e tem um corpo bem legal, não sei do que você está reclamando aí.

– Isso é verdade, até eu tenho que admitir que o Edward é um pedaço de mal caminho – Jasper concordou.

– Caralho – eles me olharam – Calem essas bocas, porra.

– Edward, meu irmão, apenas aceite que você é um grande gostoso – Alice disse com uma expressão serena, como se estivesse explicando algo óbvio para uma criança

– Eu de odeio... – sussurrei, ela apenas sorriu.

– E você, Bella, aproveite. Aposto que muitas mulheres adorariam estar no seu lugar.

O almoço se seguiu assim, com Alice fazendo comentário atrás de comentário sobre minha suposta beleza acima da média. A conversa chegou a um ponto no qual eu comecei a ficar realmente preocupado com o fato de que Isabella parecia que iria explodir de tão vermelha que estava. Jasper só sabia rir dos comentários da namorada e se desculpar toda vez que eu olhava em sua direção.

Passava um pouco de 14:00 quando terminamos o almoço e decidimos dar uma volta pelo hotel. Assim que chegamos no saguão de entrada, um dos funcionários nos parou e se apresentou como Seth Clear-alguma coisa, water? É, pode ser. Ele falava tão rápido que era difícil acompanhar.

O garoto era claramente muito mais novo do que qualquer um de nós, não passava de seus vinte anos, e estava muito sorridente. Notei que aquilo não parecia forçado nele, algo estipulado aos funcionários, ele realmente parecia muito animado em trabalhar ali.

Jasper perguntou o que poderíamos fazer e ele explicou que a maioria das atividades do resort precisava de agendamento prévio, o que deixou Alice chateada. Minha irmã via o mundo de um jeito totalmente distorcido – para mim, por exemplo, nós tínhamos doze dias para aproveitar o resort, era tempo mais do que o suficiente; para Alice, por outro lado, nós tínhamos doze dias para aproveitar o resort, não poderíamos perder um segundo sequer.

Seth logo se apressou em dizer que havia, sim, algo que poderíamos fazer.

– Não precisa de agendamento para visitar a reserva! – ele disse tentando animá-la – É um lugar bem legal, no litoral da ilha... Bem, sou suspeito para falar já que moro lá, mas enfim... – ele continuou por um bom tempo e nos deixou saber que era lá que ele, e muitos outros funcionários do resort, moravam. A ilha tinha pouquíssimos moradores e a maioria trabalhava ali, já que não haviam muitas outras fontes de renda disponíveis. Aquilo me pareceu meio... errado? Mas Seth garantiu que o resort havia sido a melhor coisa que acontecera para os moradores.

Os poucos moradores que não trabalhavam no resort ganhavam a vida trabalhando informalmente dentro da reserva. Os idosos se reuniam algumas noites em volta de fogueiras para contar as histórias do folclore local para os visitantes que pagavam para assistir.

Havia um pequeno restaurante no centro da reserva que Seth nos deu sua palavra que não comeríamos comida melhor, "...e nem estou falando isso porquê a dona do restaurante é minha prima", acrescentou. Sua irmã e seu melhor amigo faziam uma apresentação que pela explicação do garoto não me ficou muito claro se era de uma dança ou uma luta, mas parecia algo legal de se ver. Além disso, haviam três trilhas que poderiam ser feitas – ele poderia ter começado por essa parte, era tudo o que Alice queria.

A partir do momento em que minha irmã havia decidido ir à reserva, não tinha mais para onde eu, Isabella e Jasper pudéssemos correr. Seth nos levou até onde ficavam os jeeps que iriam para a reserva, algumas outras pessoas estavam lá também, a maioria eu não reconhecia do cruzeiro – não que eu tivesse prestado muita atenção.

Demos nossos nomes e número do quarto para o rapaz que estava com a lista de passeio e entramos nos jeeps. A viagem foi maior do que eu esperava, mas ainda assim não demorou muito, o maior problema foi o caminho – embrenhado na mata, seguindo uma estrada estreita e irregular, não estranharia se estivéssemos sendo levados para um abatedouro ou coisa do tipo.

Ao chegarmos, Seth nos lembrou do restaurante, mas dissemos que já havíamos almoçado e ele nos fez prometer que voltaríamos um dia e então nos levou para uma cabana para ver se Sam, o guia, poderia nos levar para conhecer a trilha junto com mais umas cinco pessoas, enquanto os demais que haviam vindo conosco se espalhavam procurando por outras atividades.

– Cara, cadê o Sam?

– Um cano estourou na cozinha da Emily e ele está tentando consertar – um outro rapaz respondeu sem se virar.

– Ah... Certo. É o seguinte, esses turistas querem fazer trilha, tem como você levar? Eu preciso voltar para o hotel, sabe como é né... – ele parecia meio apressado, tive a impressão de que Seth talvez não tivesse permissão de sair roubando os hospedes do hotel para a reserva assim.

– De boa!

O garoto se despediu de nós e nos desejou uma boa trilha antes de sair praticamente correndo porta à fora.

– Meu nome é Jacob Black – o outro rapaz de virou, ele parecia mais velho que Seth, mas ainda assim mais novo do que eu – Ou apenas Jake, se preferirem e serei seu guia hoje. A trilha que faremos é bem tranquila, cerca de quarenta e cinco à cinquenta minutos de caminhada e a maior parte do percurso é caminho reto, sem subidas ou descidas. Alguns animais podem tentar se aproximas para pedir comida, mas isso é bem raro, eles geralmente têm medo de nós – ele riu – Se acontecer deles se aproximarem, não se assustem, apenas ignorem e ficara tudo bem.

Jacob foi até uma estante e pegou um kit de primeiros socorros, colocando-o em uma mochila logo em seguida.

– Para caso de emergência, é melhor prevenir do que remediar – explicou – Tem outras duas trilhas dentro da reserva, mas elas são mais perigosas e, como estou sozinho hoje, não vai rolar – algumas pessoas reclamaram – Sinto muito, mas é melhor assim. Da última vez uma garota acabou se perdendo e foi uma dor de cabeça enorme. Mas se alguns de vocês quiserem voltar outro dia para conhecer as outras trilhas, por favor, venham. Vale a pena.

Com isso, voltamos para o exterior da cabana e nos dirigimos para a parte mais densa da mata. Havia uma placa de madeira com os dizeres Trilha I – Caminho do Fogo pregada em uma árvore na entrada da trilha. Jacob explicou que o nome era devido a algumas formigas com picadas que causavam sensação de queimação e muito doloridas que vivem naquela região, mas que nunca havia ocorrido nenhum acidente, pois o caminho da trilha não chegava perto de nenhum formigueiro.

– Ainda assim – ele continuou – Sempre existe uma primeira vez para tudo, então se verem muitas formigas reunidas em algum ponto da trilha, não pisem em cima, não encostem!

Não haviam bifurcações na trilha e por isso o guia deixou que fôssemos na frente, já que era praticamente impossível alguém acabar se desviando do resto do grupo. Ele nos fez parar algumas vezes, apontando para algumas árvores que se destacavam, falando seus nomes e idades. Uma delas tinha 540 anos e seu tronto era quatro vezes minha largura. Ele também nos mostrou alguns macaquinhos que se aproximavam, falando seus nomes. Eu sinceramente nunca vou entender como ele conseguia diferenciar cada um deles.

– A Chloe é a mais simpática – ele explicou – Quando está de bom humor, pelo menos. Ela até deixa que alguns visitantes tirem fotos com ela.

A trilha terminava novamente dentro da reserva. Jacob perguntou se tínhamos interesse em ver mais alguma coisa ou se iriamos voltar para o hotel e eu acabei percebendo algo que não queria ter percebido – ele não estava falando conosco, estava falando com Isabella, olhando-a se cima a baixo como um cachorro esfomeado. Ela, por outro lado, parecia totalmente alheia a esse fato. Isso não foi o bastante para me impedir de querer socá-lo.

Alice disse que queria ver o que mais tinha por aí e Jacob nos apresentou a Billy, seu pai, que parecia uma versão mais velha sua e era um dos guias da reserva. Ele nos perguntou se gostaríamos de conhecer o mercado à céu aberto da reserva e Alice adorou a ideia. Qualquer coisa que nos tirasse de perto de Jacob estava bom o suficiente para mim.

Tinha de tudo lá, desde comida até acessórios feitos com sementes de frutas e roupas feitas à mão. Minha irmã comprou um colar feito de várias sementinhas coloridas e não poupou elogios ao trabalho da artesã.

Isabella estava admirando os detalhes do trabalho manual de uma manta.

– Vai levar? – perguntei.

– Ah, não, estou sem dinheiro. Só levei o cartão para o restaurante.

– Não tem problema, eu pago – falei já enfiando uma das mãos no bolso da calça para pegar a carteira.

– Não, valeu – ela agradeceu e se virou, a puxei de volta. Isabella fez uma careta.

– Não seja absurda, eu pago. Não é nada demais.

– Na verdade, é sim. Eu detesto que gastem dinheiro comigo.

– Então você escolheu o homem errado para ser seu namorado – pisquei um olho para ela e me virei para perguntar o valor da manta.

– Eu não escolhi nada, tecnicamente foi a Allie... – sussurrou.

Paguei a peça e peguei a enorme sacola que a vendedora me entregou, virando-me novamente para Isabella.

– Você é impossível – apesar do tom de reclamação, ela sorriu e se ergueu nas pontas dos pés para me dar um beijo, eu não estava esperando por aquilo e virei meu rosto reflexivamente.

Seus lábios tocaram os meus por apenas um segundo, mas foi o suficiente para que o sangue de Isabella fluísse para seu rosto, deixando-o no mais lindo tom de vermelho. Sua reação me fez rir, ela era tão estupidamente encantadora.

Ela pigarreou.

– Mas terei que retribuir de alguma forma, realmente não gosto de presentes.

– Não precisa... – comecei a falar, tentando ordenar meus pensamentos. Isabella bufou – Tudo bem, se você insiste...

– Sim, eu insisto.

Ela sorriu, um pouco ao longe avistei Alice pendurada no pescoço de Jasper enquanto nos olhava com um sorriso enorme no rosto.

– Vocês são tão lindinhos – ela gritou.

Isabella mostrou o dedo do meio para minha irmã e cruzou seu braço ao meu, me arrastando para olhar o que mais tinha por ali.