Capítulo 3.
Durmo que nem uma pedra e acabo acordando bem tarde. Me arrasto para o banheiro, escovo os dentes, me arrumo e desço para tomar um café e acordar de verdade.
Nossa, tô morta. Meus olhos têm dificuldade em se manterem abertos, enquanto escuto o barulhinho do café sendo feito na máquina. Alfred está em frente a janela bisbilhotando a vida alheia, mas com todos em casa, o coitado perdeu o divertimento dele. Pego minha caneca e me jogo no sofá, nem me atrevo a ligar a TV e ver as mesmas notícias.
Desbloqueio o celular e dou de cara com três chamadas perdidas de Rose, fora as inúmeras mensagens dela. Depois de dois grandes goles de café, minha mente começa a trabalhar e lembrar do site Anônimos, as conversas bizarras de ontem. Os velhinhos, Mike político, o surfista dançante... Balanço a cabeça em descrença, só comigo mesmo.
E não podemos esquecer de Edward... Os cabelos bagunçados, o sorriso contagiante, os olhos verdes. Socorro! Eu passei meu e-mail para um estranho! Esfrego meu rosto sem acreditar.
Faço um coque no cabelo, que está uma bagunça e decido fazer uma chamada de vídeo com Rosalie! Ela deve estar doida com os prints de ontem. Não demora nem um minuto e ela aparece na tela.
— Isabellaaa... — ela berra, enquanto a vejo se jogando em sua cama. Ela joga os cabelos para trás e arregala os olhos azuis para mim. — Como assim? O que foi que você me mandou, mulher? Eu acordo e vejo um negócio desses. E você não me atende! Eu tô morta e enterrada com esse boomerang. — Ela surta mais um pouco e eu começo a rir, a cena de ontem com o surfista de Rose voltando a mente.
— Foi uma cena bizarra, Rose! Quase uma seção com stripper, mas já cheguei no final. — exclamo, arregalando os olhos de brincadeira e ela gargalha até ficar sem ar.
— Eu não... Eu não acredito nisso! — comenta entre risos, seus olhos começam a lacrimejar de tanto rir. — Logo você que nunca entrou num sites desses, encontra o mesmo surfista, só que com uma nova personalidade. Por isso não confio nessa gente de internet, quando ele falou comigo parecia muito sério, um tanto confuso, mas... Aí, eu não deveria ter recomendado esse site pra você. — ela cobre o rosto arrependida, mas ela não consegue segurar o sorriso.
— Não foi tão ruim... — dou um gole no meu café, dando de ombros como se não fosse nada.
— Oi? — ela tira o braço do rosto rapidamente. — Como assim?
— Conheci muita gente esquisita, mas tive alguma sorte. — dou um leve sorriso, lembrando de Edward.
— O quê? Conta tudo. — ela senta empolgada, pronta pra me escutar. — Se rendeu ao site? — ela questiona com a voz maliciosa. — Viu alguém interessante? — Rose ri e eu sorrio.
— Não me rendi a nada, mas o tédio estava grande. Por um segundo, até passou pela minha cabeça mandar mensagem para Jacob. — Rose faz uma careta que me faz rir. — Mas seu site ganhou.
— Rá! Sabia que você ia curtir! E então? — cito todos os anônimos, deixando Edward por último.
— Decidi conhecer pessoas de fora do país pra não arriscar ver seu surfista de novo e conheci Edward.
— Edward? — arqueia a sobrancelha, curiosa. — Cadê o meu print?
— Ah... Não tirei. — dou de ombros. Nem me passou pela cabeça fazer alguma coisa além de olhar e conversar com Edward.
— Como assim não tirou um print pra sua amiga, Isabella? — balança a cabeça indignada.
— Estava entretida, esqueci... — dou um sorriso de desculpas.
— Não é possível. — Rose revira os olhos. — Mas e aí? Uma conversa e nunca mais? — questiona, as sobrancelhas arqueadas, os olhos maliciosos.
— Nós trocamos e-mails. — olho para a minha xícara de café, envergonhada. Em outras circunstâncias isso nunca aconteceria.
— Quêeeee? O que fizeram com a minha amiga desconfiada.
— Eu ainda estou desconfiada, dei um e-mail que não uso mais, talvez a gente nem se fale de novo. — dou de ombros. — Vai ver, nem dê em nada e eu acabe descobrindo que Edward é um velho ou um cara que dança de sunga nas horas vagas... — reviro os olhos, rindo, sendo acompanhada por Rose.
— Se ele for de verdade mesmo, não esquece do meu print.
— Pode deixar. — pisco os olhos pra ela, cobrindo meu sorriso com a caneca de café.
O resto do dia eu passo com Fred, tentando entretê-lo e me entreter pra não pensar no e-mail de Edward. Não posso negar que deixei o e-mail aberto, esperando alguma novidade, mas... Nada. Dormi com o notebook aberto na cama, nenhum e-mail novo e sem coragem de mandar algo.
Hoje é sábado, não que haja diferença entre os dias da semana nesse período, mas decido preparar a torta de maçã para mandar para os Black como prometi, assim consigo distrair minha mente. Escolho as melhores maçãs e começo a cozinhar.
Dou um petisco para meu gato mal-humorado, seus olhos azuis brilham e sou agraciada com seu ronronar, ele até se deita de barriga pra cima pra receber carinho. Dá até vontade de apertar! Amo esse gatinho sem-vergonha!
Ano passado, quando me mudei pra essa casa que herdei dos meus falecidos avós, encontrei Alfred na porta de entrada todo encolhido e molhado, depois de uma noite de tempestade. Um filhotinho magro, tremendo de frio, uma bolinha de pelos pretos, não pensei duas vezes e o levei pra dentro, adotando meu mal-humorado preferido.
E apesar de ser turrão e me ignorar com frequência, ele é muito apegado, me segue que nem cachorro pra todo canto que vou. Seu nome seria Batman, mas não combinava com ele e acabou ficando Alfred. Sorrio, lembrando de seu olhar zangado quando o chamei de Batman, não era pra ser. Bom, acho que sem ele, já teria pirado nessa pandemia.
Assim que tudo fica pronto, chamo Jacob para vir buscar a torta.
— Humm... — Jack inspira o ar e fecha os olhos, apreciando o cheiro das maçãs. Sorrio satisfeita. — O cheiro está muito bom, a vizinhança toda está sentindo.
— Você veio de moto? — questiono, depois de ver que sua moto preta não está por perto.
— Não, Sue me proibiu com medo da torta chegar lá como um purê. — revira os olhos. — Nunca estraguei nenhuma compra, fora que essa lata velha é muito lenta. — resmunga, apontando pra minha antiga picape que usei no ensino médio. Acabei vendendo para os Black, em busca de dinheiro para me mudar para Seattle e começar a faculdade. — Sem ofensas. — ele coça a nuca envergonhado, depois de ter percebido meu olhar saudoso pra picape.
— Sem problemas, Jack. Por experiência própria, sei como são os passos de tartaruga dessa lata velha. — rio, lembrando da humilhação de chegar na escola com o barulho da coitada, as mil vezes que interditei o estacionamento da escola com ela. Mas amava essa picape cor de abóbora, foi presente de papai, no fundo sei que ele me deu essa de propósito pra nem chegar perto do limite de velocidade da cidade.
Como chefe de polícia de Forks, a filha dele tinha que dar o exemplo. Era isso, ou pegar carona na viatura de polícia com os giroflex piscando. Não, obrigada. Estremeço só de lembrar. Ela já era dos Black, quando meu pai comprou de Billy e só ele mesmo pra querer comprar de volta essa sucata para os filhos.
— Aqui... — pego a torta, coberta em papel alumínio e o entrego. — Cuidado, está quente.
— Beleza. — ele acena. — Eu vou indo, antes que aconteça algo com a torta. — ri, segurando a torta como se fosse explodir em sua cara. — Papai vai ficar empolgado. Obrigado, Bella. — ele parece sorrir, pois sua máscara se estica.
— De nada. Aproveitem a torta. — sorrio, acenando quando ele se afasta, mas Jack para e dá meia volta. Com o cenho franzido, ele questiona:
— Você não vai comer?
— Não se preocupe, eu fiz duas. Depois que o cheiro se alastrou pela casa eu não me aguentei. — ele assente, fica alguns segundos parando com o olhar perdido como se fosse falar algo, mas desiste. Espero que não venha com suas indiretas novamente.
— Eu vou indo. Obrigada pela torta.
— Tchau. — murmuro. Fecho a porta confusa com a mudança de humor de Jacob.
De noite faço maratona dos filmes de Batman com Alfred grudado em mim, vendo seu xará, de hora em hora aparecer. Jogo online com Jasper e durmo sem novidades de Edward.
No terceiro dia, já acordo sem esperanças. Decido esquecer toda essa loucura de internet, o tal Edward e curtir o dia de sol inédito de Forks. Vou para o jardim dos fundos tomar um pouco de vitamine D, estendo uma toalha na grama e me sento para ler um livro. Deixo a porta aberta pro Alfred me acompanhar e não demora muito para ele aparecer e se sentar no meu colo. Faz tempo que não tenho um momento relaxante assim, em que o clima está bom e nada mais importa.
Depois de meia hora, nós entramos. Meu pai faz uma chamada de vídeo, sem ajuda da minha mãe, o que é um milagre, mas mamãe estava dormindo e a casa estava muito silenciosa pra ficar sem fazer nada, segundo ele. Conversamos por um tempo, papai conta que os vizinhos da casa ao lado infelizmente morreram por causa do vírus, os filhos estão com covid-19, é assustador, mas ele não demora a reclamar que não aguenta mais ficar preso, tem uma linda praia a sua frente e nem pode pôr os pés na areia.
— Eu sei, pai. Mas vocês precisam ficar aí por mais um tempo. É complicado. O pai de Jacob também vive reclamando.
— Dois velhos... — resmunga, esfregando o rosto cansado. — Mas já não fazemos nada na velhice, imagine com essa merda de pandemia.
— Papai. — sorrio, balançando a cabeça em descrença. — O senhor está mais inteiro do que muitos por aí. — ele sorri e vejo suas bochechas ficando coradas. Já sabemos de onde eu puxei isso. Ele pigarreia e eu decido mudar de assunto.
— Levei uma torta para os Black. Quer dizer, o Jack veio buscar.
— Jacob? — ele nem disfarça o sorriso, os olhos brilhantes. Desde pequena Charlie acha que Jacob é o melhor partido para mim. Toda vez que já terminei um relacionamento, ele mostra esse mesmo olhar, querendo dizer ''Eu te avisei''. — Ele anda na sua casa? — ele arqueia as sobrancelhas e dá um sorriso malicioso.
— Pai! — arregalo os olhos e franzo o cenho em descrença.
— O quê? — dá de ombros como se não tivesse dito nada demais.
— Você sabe que ele só aparece para me entrega as compras.
— Eu sei meu bem, mas... — ele deixa a palavra suspensa no ar.
— Mas nada, estamos de quarentena! Não vou ter um namorado numa época dessas! Ainda mais Jacob!
— Tudo bem, querida! Um velho pode sonhar.
— Só você mesmo pra sonhar com isso. Você tem que entender, papai. Jacob e eu não vai rolar... — balanço enquanto falo pra ver se ele compreende.
— Tudo bem. Tudo bem. Juro não te perturbar mais.
— Obrigada, papai. — esfrego os olhos, cansada dessa mesma história sempre.
— Apesar dele ser um bom garoto, eu conhecer sua família e ele gostar de você...
— Charlie. — resmungo séria e ele levanta a mão livre em rendição, gargalhando.
— Se cuida, querida. — papai pisca os olhos, sorrindo. Não consigo ficar brava com ele por muito tempo.
— Vocês também, pai. Manda um beijo pra mamãe. — ele assente.
— Te amo. — ele murmura com um sorriso sincero.
— Também te amo. — sorrio, louca de saudade dos meus pais.
O dia já anoiteceu e eu já estou na cama com meu moletom surrado. Depois do sol de hoje, Forks voltou a temperatura normal com uma noite fria. Alfred está acomodado ao meu lado na cama, coloco um filme pra assistir e me ajudar a pegar no sono, mas finalmente depois de três dias sem notícias, há uma nova mensagem na caixa de entrada.
''Oi, batgirl.
Ainda lembra de mim? Desculpe ter demorado tanto pra te chamar.
Que tal a gente entrar no Skype e conversar um pouco?
Se não quiser, tudo bem. Sei que tudo isso é estranho, podemos conversar por aqui.
Não é o melhor app pra conversa, mas...
Ou...
Ah, não sei. Só queria te ver de novo, ver sua boca bonita, seu gato preto... Conversar, se distrair.
Edward.''
...
Humm... Porque será que Edward demorou tanto pra dar sinal de vida? Palpites? (¬_¬)
Jacob favorito de Charlie... kkkk Coitada da Bella.
Se tudo der certo, próximo capítulo sai nessa próxima semana! Fica de olho!
Espero ver você nos comentários! Bjs.
T.
