- Já passou da hora de vocês aprenderem a beber.

Eu trazia água e dois comprimidos para os retratos da derrota na sala da casa que dividia com Lily. Alice já havia esvaziado o estômago e Lily tinha uma tremenda ressaca.

- Não tenho culpa se não somos alcóolatras como você. – Disse Alice, aceitando o comprimido. – Pegou o barman?

- Yup. – Disse, checando as correspondências.

- O que?! – Lily despertou. - Você disse que ia aproveitar comigo e na verdade tava dando em cima do barman?

- Eu aproveitei com você. Aliás, eu lembro mais da comemoração do que você, pinguça. Só falei com o barman na hora que estávamos indo embora.

Ela me olhou feio. Mas eu sabia que a curiosidade falaria mais alto, cedo ou tarde.

- E como foi? – Não disse?

- Não chegamos nem na cama.

- Oi?! – Elas perguntaram em uníssono.

- Transamos no chão da sala dele. Só quando terminamos me dei conta que não sabia seu nome.

- Caralho, Lene. Você se supera. – Alice adorava minhas aventuras.

- Não sei o que é pior. – Lily apontava um dedo falsamente indignado na minha direção. - Você ser tão selvagem que não consegue chegar na cama, ou tão piranha que dá pro cara sem saber o nome.

- Você tá com inveja porque inventou de não transar com James.

- Tô mesmo. – Ela suspirou. - Eu vou ligar pra ele.

E essa foi minha deixa pra levantar e fazer o café. Lily e James no telefone era de nausear qualquer um.

- Qual a programação de hoje? – Alice me acompanhou até a cozinha.

- A festa no parque que a Lily queria ir. Dorcas e Maria vão nos encontrar lá.

O dia estava lindo. Estávamos num festival em um parque local. Lily adorava esses passeios alternativos e pra lá fomos, em mais um dia de comemoração. Brindamos com champanhe enquanto aproveitávamos os shows no gramado.

Foi quando me assustei com uma voz inesperadamente familiar.

- Você foi embora antes que eu pudesse pedir seu número.

Me virei sobressaltada para ver o dono da voz, embora já soubesse quem era.

Deveria ser proibido sorrir pra alguém daquele jeito.

- Oi, Sirius. – Retribuí o sorriso, tentando ignorar a sensação gostosa dentro do meu estômago.

- Oi, Marlene. Você está sozinha?

- Você quer saber das minhas amigas que não me deixar conversar ou se estou em um encontro?

- Segunda opção. – Ele disse olhando bem dentro dos meus olhos.

- Não. Só as amigas mandonas mesmo. – Apontei na direção do grupo.

- Continuando as comemorações? Vocês são... animadas. – Ele sorriu. Seguindo seu olhar vi Lily beber champagne direto da garrafa. – Imagino que homens não são bem-vindos?

Vi que ele estava com um grupo de amigos que nos observavam. Não ficavam nem um pouco atrás dele no quesito aparência física.

- Sinto muito... – Eu comecei, mas fui brutalmente interrompida.

- Eu sou Dorcas! – A assanhada pulou por cima do meu ombro, esticando a mão para ele. - Porque você não apresenta seu amigo pra gente, Lene? – Ela acrescentou sugestivamente.

- Oi, Dorcas. Eu sou o Sirius. – Disse, sorrindo e simpático, apertando a mão dela.

Eu senti o peso de Dorcas ceder sobre mim quando as pernas dela fraquejaram. É mana, eu te entendo.

- Esse aqui é o Remo, esse é o Pedro...

Ele chamou e apresentou cada um dos amigos dele e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa todos estavam curtindo o evento juntos. Lily, pra minha surpresa, não se chateou com a invasão dos homens na nossa festa. Ficou conversando um tempão com Sirius, enquanto o amigo dele, Pedro, tentava flertar comigo. Embora fosse um fofo, não tinha muito jeito e nem fazia o meu tipo.

Vamos combinar que não era ele quem eu queria também, né?

Sirius nos observava a distância e nossos olhares se cruzavam o tempo todo. Ele olhava de Pedro pra mim, bem ciente do que o amigo devia estar tentando. E parecia ligeiramente incomodado. Interessante. Não ouvi mais uma palavra do que Pedro dizia porque só conseguia pensar em beijar Sirius de novo. Que raios era isso?

A conversa dele com Lily acabou e eles se encaminharam até nós.

O amigo dele ainda insistia e eu percebi que precisava rapidamente de uma distração pra ele.

- Pedro, você já conheceu a Maria?

Puxei Maria pra nossa roda quando ela caminhava por nós. Acredite se quiser, Maria é mais assanhada do que eu e adora homens mais tímidos. Não ia perder tempo algum pra tomar uma atitude.

- Maria, esse é o Pedro.

Dei uma piscada discreta pra ela e ela entendeu. Os dois engataram uma conversa entre eles. Foi o tempo suficiente para Sirius e Lily chegarem até nós.

- Vocês não querem algo pra beber? – Sirius perguntou.

- Eu estou bem. – Disse Lily, erguendo a garrafa de champanhe.

- Eu aceito uma cerveja.

- Você quer uma também, Maria? – Pedro aproveitou o gancho.

- Sim, claro. – Maria disse, jogando charme.

- É pra já. – Disse Sirius, piscando de leve pra mim. Em seguida os dois saíram em busca das bebidas.

- O verdadeiro significado de tanto faz. – Falou Maria olhando os amigos de Sirius. Não falei que ela era assanhada? – Caralho, de onde surgiram?

- O cabeludo é o último off da Marlene. – Disse Lily tomando mais um gole de champanhe.

- Preciso sair mais contigo, garota.

Eu ri. Nas vezes que eu saía com Maria eu voltava três dias depois com histórias pra contar que apavorariam minhas próximas gerações. Ela saiu pra acender um cigarro e Lily se voltou para mim.

- Muito legal o seu barman. Vai sair com ele de novo?

- Confesso que não pretendia.

Lily parou com a garrafa a meio caminho dos lábios e me olhou com profundamente. Eu odiava aquele olhar. Ela tava me analisando.

- Lene, para de medo, não vai acontecer de novo.

O sorriso morreu na minha cara. Detestava quando ela tocava nesse assunto.

- Lils, só estou num momento off.

- É. OFFerecida.

- Meu Deus, Lils. Você já tá bêbada? Essa foi horrível.

Gargalhamos juntas.

- Mas sério, porque não quer transar com ele de novo? Foi ruim por acaso?

- Não mesmo.

Ela sustentou aquele olhar mais um tempo, e eu tentei a todo custo ignorar. Seja lá o que ela viu no meu rosto, não comentou, pois mudou de assunto em seguida.

- Se não quiser dar pra ele de novo tudo bem, mas vai ter que se contentar em vê-lo novamente. Eu quero fazer minha despedida no bar dele. A banda vai tocar de novo no fim do mês. – Ela disse toda animada.

Fomos interrompidas pelo celular dela.

- É o James!

E nem preciso dizer que uma nova sessão de fofura nauseante se iniciou.

- Não esperava formar tantos casais quando saí de casa hoje.

Sirius tinha voltado com a bebida. Ele não estava exagerando. Todos os amigos solteiros dele estavam conversando com as minhas amigas solteiras.

- Mas você me deixou com um problema sério.

Olhei pra ele intrigada.

- Minha cama agora tá com inveja do chão da minha sala. Você bem que podia me ajudar a resolver esse impasse.

Não segurei o sorriso.

- Não sei se quero chegar perto de uma cama tão temperamental.

- A gente pode usar a sua, eu não me importo. – E não tinha um pingo de constrangimento nos olhos dele.

Ele era direto, gosto disso. Não ficava me chamando por apelidinhos e nem tinha aquele papinho onde homens acham que precisam iludir uma mulher para conseguir leva-las para cama. Nunca funcionou comigo mesmo. Se quer amorzinho, eu não sou a pessoa que você procura. E se está tentando me iludir, aí o ranço é dobrado.

Mas com Sirius não tinha nada disso. Eu via nos olhos dele o que ele queria, claro como água. Ainda assim ele não trazia consigo aquele olhar de eu já vi você nua. Ele estava sendo perfeitamente respeitoso. Mais um ponto para ele. Era só uma questão de saber até onde ele estava disposto a ir.

- O que você quer, Sirius? – Disse devolvendo seu olhar na mesma intensidade.

Ele me observou, por um segundo longo demais.

- Direta. – Disse, abrindo um sorriso de canto.

- Sempre.

- Acho que ambos gostamos muito do que aconteceu ontem. Mas acabou rápido demais. Confesso que fiquei... curioso.

Sim. Eu também tava curiosa pra aproveitar mais que dez minutos com ele. Ele era a porra de um deus grego e excelente de cama. E provavelmente, mais desprendido do que eu pra querer algo sério.

Direto. Sem papinho, sem jogos. Podia ser divertido.

Me aproximei e alcancei o celular dele no bolso da sua calça, enquanto ele me olhava intrigado. Coloquei o polegar dele para destravar a tela e fui até o teclado, discando meu próprio celular, completando a chamada logo em seguida. Em poucos segundos, meu próprio celular vibrou e mostrei pra ele quando o número dele apareceu na minha tela.

- Eu te ligo mais tarde.

E mais uma exibição daquele sorriso indecente.

- Vou aguardar.