NOTAS DO AUTOR:

Yo, Minna!

Bora para ver como será o desfecho da ideia da Sakura?

Boa leitura!*~

[…]

CAPÍTULO 4 - PARTIDA

[…]

Daiji na mono wa doko ni itatte amari kawarani yo ne?

Esteja onde estivermos, as coisas importantes não mudam muito, certo?

[…]

Depois de comprimir todas as coisas importantes que estavam em sua sala em um selo de invocação, pegou a carta que escreveu para o Naruto e colocou tudo em sua mochila.

Ao sair, pousou a mão na maçaneta e olhou uma última vez para a sala que serviu como refúgio de tudo que a conturbava nos últimos meses. O coração apertado sofreu alteração em seu ritmo calmo e as lágrimas acumularam-se em peso, embaçando sua visão. Era a última vez que a veria e sentiria o conforto que lhe proporcionava. Era a última vez que voltaria para lá. A última.

Enxugou as lágrimas fugitivas e respirou fundo engolindo o choro como se engolisse pregos. A mão sobre a maçaneta apertou-a e puxou-a, fechando aquela porta para sempre.

Não sabia o que Uchiha Itachi pretendia fazer consigo, mas tinha uma única certeza: sua vida nunca mais seria a mesma. Era inevitável cogitar a morte e por isso o sentimento de despedida latejava sempre que olhava para rostos conhecidos, ou trocava palavras com aqueles que amava ou até mesmo passava por lugares que guardavam alguma boa lembrança.

— Sakura! Céus! Te encontrei a tempo! — Ino gritou, despertando-a. Sua voz extravagante ecoou pelo corredor do hospital chamando a atenção de algumas pessoas que estavam próximas — Você não vai acreditar!

— O que houve? — perguntou, surpresa pela felicidade palpável da loira que corria em sua direção.

— Eu consegui! Dominei aquela técnica horrenda que meu pai me obrigou a aprender! Vou passar para o próximo nível! — Ino pulou em seu pescoço, abraçando-a com entusiasmo.

Sem se influenciar pela alegria da amiga, ainda que estivesse satisfeita e orgulhosa, mas precisando daquele abraço, Sakura retribuiu, apertando-a entre os braços numa tentativa de tampar o buraco em seu peito que crescia assombrado pelo sentimento de despedida. Mais uma vez lágrimas escorriam por seu rosto sem que pudesse controlar e por isso impediu Ino de desfazer o abraço, afundando o rosto entre o ombro e pescoço da garota.

— Mas o que é isso? Está chorando? — a loira perguntou, afastando-se para olhá-la. Observou Sakura enxugar as lágrimas e desviar de seu olhar: — O que houve? Por que está chorando?!

— Ora… estou feliz porque você finalmente desempacou no seu treino! — Sakura fungou e forçou um sorriso para convencê-la daquela mentira. Novamente a abraçou e tentou domar as lágrimas para impedi-las de se derramarem mais — Estou tão orgulhosa de você, Ino! E… eu te amo tanto, amiga! Obrigada por sempre estar ao meu lado…

A voz embargada impediu que o agradecimento fosse feito com tanto afinco quanto seu coração gostaria de transmitir, mas Ino não se importou, muito pelo contrário. Ficou tão emocionada que só retribuiu o abraço e o carinho, dizendo o quanto também a amava, que sempre estará ao lado dela e que torcia para que ela conseguisse tudo o que desejava também.

Depois de minutos daquela forma, Ino insistiu que Sakura fosse com ela numa cafeteria, colocar o papo em dia, já que a Haruno havia dito que estava de folga. Para proporcionar-lhe uma despedida à altura, ela aceitou e ao monólogo da Yamanaka seguiram para a cafeteria onde permaneceram por um pouco mais de meia hora.

— Fico feliz que tenha conseguido toda essa evolução em tão pouco tempo. Não esperava menos de você. — Sakura sorriu e se levantou depois de deixar sobre a mesa o pagamento pelo que consumiram.

— Já está indo? Mas eu ainda nem te contei sobre meu encontro de ontem! — protestou, levantando-se e a acompanhando até a saída da cafeteria.

Sakura parou de andar e se virou, dando-lhe outro abraço apertado.

— Desculpe, mas preciso ir. Torço para que encontre o homem dos seus sonhos e que consiga se superar a cada dia até ser a Kunoichi formidável que deseja ser.

— Por que está dizendo o que vai fazer ao meu lado? — desconfiada, Ino a afastou — E por que estou sentindo que isso é uma despedida?

Só o que pôde fazer foi sorrir e deixar um beijo na bochecha alva e macia de sua amiga.

— Fique bem. E tenha juízo…

Sakura retomou seus passos em direção à Torre da Hokage, olhando por cima dos ombros Ino, pela primeira vez em toda a sua vida, chocada. Acenou e sorriu, reprimindo os verdadeiros sentimentos de tomarem-lhe a face e os olhos. Ergueu a cabeça e continuou sua caminhada confiante, com um único pensamento em mente: não olhe para trás, apenas siga em frente.

[…]

Já estava há quase uma hora aguardando que a reunião da Goidame Hokage finalizasse para que pudesse vê-la. Shizune havia comentado por alto que um Ninja de Elite de outra Vila a convocou para uma reunião emergencial.

Gostaria de dizer a si mesma que havia ficado preocupada, mas só o que movia seus pensamentos eram as justificativas que daria para o seu pedido de deixar a Vila. Sua Mestra era astuta e o pior, a conhecia como ninguém, a ponto de identificar mentiras, independente do seu esforço.

Talvez se dissesse a verdade…

Um riso preenchido de escárnio escapou de sua garganta e logo os guardas plantados na porta da sala da Hokage lhe olharam. Ela abaixou a cabeça e xingou-se pela tolice de rir sozinha, ainda que fosse de si mesma.

Que verdade contaria? Que Uchiha Itachi virá buscá-la a noite? Céus… já via um pandemônio começar ali mesmo.

— Espero que saiba o que está fazendo!

Sakura ouviu a porta ser aberta bruscamente e o grito, um tanto furioso, de sua Mestra fugir da sala junto do Ninja com quem estava em reunião.

— Shizune! Traga o meu Saquê!

A ordem soou rude e serviu como um claro sinal de que Sakura teria que escolher bem as palavras que usaria, pois o humor da Quinta Hokage estava péssimo.

Rapidamente Shizune passou por si com o que foi solicitado sobre uma bandeja e teve que respirar fundo odiando sua má sorte. Não demorou muito para Tsunade gritar por seu nome e Shizune sair de lá forçando um sorriso constrangido e um olhar preocupado.

— Tsunade-sama não está com o humor muito bom… talvez se reagendarmos essa reunião-…

— Não. Tem que ser agora. — afirmou, cortando-a afobada. Quando se deu conta de sua grosseria e urgência sorriu, sem graça, e desviou do olhar desconfiado de Shizune — Desculpe, é que… realmente gostaria de resolver isso ainda hoje…

— Tudo bem. Bom, boa sorte. — Shizune abriu a porta e, sorrindo, a esperou entrar.

— Seja breve. Tenho uma maldita reunião em alguns minutos. — Tsunade vociferou, na falha tentativa de controlar a raiva, ainda pela reunião anterior. Bebeu mais um gole do seu precioso Saquê, observando sua discípula se aproximar com timidez — Shizune disse que quer pedir folga. Acho justo, aliás, eu já estava para tirá-la a força daquele hospital. Onde estava com a cabeça quando estendeu um plantão por dias?! — a Hokage deixou o copo vazio de Saquê ao lado e pegou um dos muitos pergaminhos sobre sua mesa — Vou escalar Shizune para ficar no seu lugar. Têm duas semanas para descansar, então se recupere naturalmente, sem uso de pílulas para repor seu chakra, e aproveite para se alimentar correta-…

— Não é suficiente. — Sakura a cortou, próxima da mesa de sua Mestra, e ainda em pé, reuniu coragem para continuar aquela conversa.

— Suficiente para o quê exatamente? — os olhos castanhos e firmes fitaram-na com tanta intensidade que engatou a respiração.

Depois de escolher bem as palavras, Sakura a encarou com ainda mais determinação.

— Pediu para que eu fosse breve, então… quero dispensa das minhas obrigações como Ninja de Konoha.

Sakura riria se a situação não fosse tão crítica. Tsunade engasgou com a própria saliva e depois passou por uma crise de tosse que até Shizune, que estava do lado de fora da sala, ficou preocupada e invadiu a sala para ajudá-la.

Ela ainda tossia quando afastou Shizune e a encarou.

— O que disse, garota?!

Shizune também a encarou e Sakura teve que respirar fundo discretamente para manter a coragem.

— Quero dispensa das minhas obrigações como Ninja de Konoha.

— Como pode dizer um absurdo desses tão calma?!

E aquele havia sido só o início de um longo sermão que se arrastou por mais de vinte minutos interruptos. Shizune gaguejava ao tentar interferir cada vez que Senju Tsunade parava para respirar, mas nada era eficaz, porque a Líder retomava a voz ainda mais alta e forte.

Sakura mordeu o lábio inferior num tique nervoso e só parou quando foi longe demais; ao sentir o gosto de sangue misturar-se a sua saliva. Fechou os olhos por breves segundos e quando os abriu só havia determinação em seu olhar e isso fez com que sua Mestra denotasse controle e racionalidade.

— Qual o motivo de me fazer este pedido? — finalmente fez a pergunta que Sakura esperava ouvir desde que deixou claro sua pretensão, mesmo que ainda não soubesse o que responder.

Sua mente pensava rápido. Avaliava os prós e contras de todos os argumentos que reuniu e finalmente, depois de uma minuciosa escolha, respondeu.

— Preciso seguir em frente. Quero me encontrar e me tornar tanto uma pessoa quanto uma Ninja melhor e isso não vai acontecer enquanto eu estiver aqui, imaginando ao ver cada lugar desta Vila coisas que poderiam ser diferentes se minhas escolhas tivessem sido diferentes. Eu não posso mais conviver comigo mesma sentindo este fardo me esmagando a cada dia.

A justificativa foi sucinta, mas preenchida com a intensidade e profundidade que Sakura queria transmitir, por isso Tsunade e Shizune mantiveram-se em silêncio por um bom tempo.

A ex-integrante do Time 7 abaixou a cabeça e aguardou por sua sentença, sem ter mais palavras que pudessem reforçar a urgência daquela liberação.

— É como aquela vez? — A Quinta perguntou, referindo-se ao pedido que fez há algum tempo quando voltou da missão em que, junto de Chiyo, assassinou Akasuna no Sasori e pediu um tempo para aprimorar suas habilidades médicas e desenvolver um Jutsu a partir do Jutsu que Chiyo criou e usou para reviver Gaara.

— Sim. — respondeu, apesar de saber que naquele momento as coisas estavam em outro nível.

Ela sairia da Vila porque Uchiha Itachi a escolheu para um propósito que ainda não estava claro e fez tal pedido para que ninguém fosse atrás deles e não por iniciativa própria.

Tsunade bateu o punho fechado sobre a mesa, fazendo Shizune pular de susto e Sakura engatar a respiração e em seguida pegou um pergaminho e a caneta, iniciando a escrita sobre o papel.

— Você tem cinco meses pa-…

— Não é suficiente. — interrompeu-a mais uma vez e novamente ouviu-se o impacto do punho da Hokage contra a mesa, que finalmente trincou metade de sua superfície.

— Mas o que diabos mais você quer?! São cinco meses!

Sakura manteve o queixo erguido e o olhar indiferente.

Cinco meses não ajudariam em nada se Itachi a matasse depois de usá-la. Por mais que as intenções do Nukenin não fossem claros, ele era membro da organização criminosa mais temida do mundo Shinobi, não poderia esperar piedade ou um simples gesto de compaixão de deixá-la viver e também não poderia se levar pela prepotência de garantir uma futura fuga e ainda sair com vida, por mais habilidosa que tivesse ficado até ali. Havia a chance de Itachi ter ido buscá-la a pedido da organização. Quem poderia garantir que não? Sem prepotência alguma, usando apenas fatos, ela era a segunda melhor Médica-Nin do mundo. A Akatsuki poderia muito bem almejar escravizá-la como médica. Oh, e seria tão repugnante que muito provável encontraria um jeito de tirar a própria vida em vez de salvar a vida de algum criminoso impiedoso como qualquer membro daquela organização mercenária.

Tsunade recomeçou seu monólogo indignado e irritado, alegando que ela era sua discípula, que havia lhe ensinado tudo o que sabia e que em troca esperava lealdade e cumplicidade, mas nada fez Sakura abaixar a cabeça ou reconsiderar seu pedido.

— Ainda não é o suficiente. — respondeu quando Tsunade propôs ter um ano de liberdade incondicional para fazer o que bem entender da vida dela, sem prestar contas sobre onde e com quem estava. Já cansada psicologicamente daquela situação, amoleceu o tom obstinado e se aproximou da mesa, amolecendo também seu olhar — Posso concordar com seus termos e-…

Leves batidas na janela interromperam seu discurso. Hatake Kakashi, seu ex-Sensei, estava do lado de fora; o único olho exposto plissado como se sorrisse.

Tsunade soltou uma baforada alta e sem paciência nenhuma gesticulou para que Shizune abrisse a janela, autorizando sua entrada, enquanto enchia o copo de Saquê e o esvaziava em seguida num único gole.

— Se não veio para dizer que uma Quarta Guerra Ninja está para começar, vá embora. Estou no meio de-…

— Perdoe-me pela intromissão, mas minha localização me permitiu ouvir o que diziam e-…

Tsunade revirou os olhos com a petulância de Kakashi e cruzou os braços sob os seios fartos, aguardando o que ele pretendia dizer.

Sakura permaneceu calada, surpresa pela atitude do Copy-Nin, pois sua integridade e personalidade sempre o mantiveram alheio às situações ao redor, principalmente quando não o envolviam, então ao interferir naquela conversa que avisou previamente que sabia sobre o que se tratava, mostrou que daquela vez agiria de modo atípico, a pergunta era: por quê?

Kakashi, pelo olhar, pediu autorização para se aproximar e quando Tsunade assentiu, o fez, cochichando em seu ouvido algo que Sakura e Shizune, que observavam atentamente, estavam curiosas para ouvir.

A Hokage estava claramente assombrada com o que ouviu e não pensou duas vezes em pedir privacidade, obrigando as duas expectadoras a saírem da sala, deixando-os sozinhos para prosseguir a conversa.

— Tenho um palpite: Sakura está determinada a sair da Vila e há inúmeras evidências de que vai fazer isso. Pode negar a ela a dispensa e perder permanentemente uma potencial futura Médica-Nin mais poderosa e uma das Ninjas mais completas.

— Mas o que está me sugerindo?! — Tsunade vociferou, fuzilando-o.

— Dar-lhe a dispensa e deixar as portas abertas para obter a chance de um dia tê-la de volta sob suas ordens. — ele respondeu, direto.

O clima ficou ainda pior. A tensão era palpável, principalmente entre a troca de olhares dos dois.

— Quais as evidências? — a mulher mordeu a ponta do dedo polegar num ímpeto ansioso e hesitante.

— Naruto me procurou ontem a noite, depois de conversar com Sakura.

— E daí? Esses dois têm uma ligação-…

— Ele disse que Sakura, antes de saírem do hospital, reuniu muitos itens e levou para casa, sendo que jamais havia feito isso antes e além disso, parece que ela lhe disse coisas que o fez entender que era uma despedida.

— Isso não prova nada.

— Estranhando o que ele disse, decidi procurá-la no dia seguinte para conferir a situação pessoalmente. Um pouco antes de encontrá-la a vi sair bem cedo e ir para o distrito Hyūga. Ela conversou com Hinata e pelo que percebi o teor da conversa parecia ser também algum tipo de despedida, por isso continuei a vigiando. Sakura voltou para o hospital, resolveu o que pareciam ser pendências e passou suas responsabilidades para Shizune-San e outros profissionais da área, em seguida voltou para sua sala e escreveu uma carta e depois, ela teve um momento de fraqueza…

Tsunade assentiu, sabendo o significado daquilo. Sua discípula estava deprimida ou realmente arquitetava sua saída da Vila sem pretensão de volta, ou até mesmo as duas opções.

— E ainda não acabou. — Kakashi a despertou dos devaneios e ela voltou a encará-lo — Ela encontrou com Ino e mais uma vez o tom da conversa era de despedida. Não há dúvidas, Tsunade-Sama. Se depois de tudo Sakura veio falar com a senhora e insistiu em querer a dispensa de suas obrigações permanentemente, não aceitando suas condições, ela, com certeza, vai deixar a Vila com ou sem sua autorização. Por isso sugeri tal opção. Pode dar a ela a autorização e ter a chance de tê-la de volta quando ela estiver pronta para voltar… ou pode tentar prendê-la a Konoha e correr o risco de perdê-la para sempre.

Depois de muito resistir e contestar, Tsunade chamou Shizune e Sakura e conforme elas entravam, escrevia a próprio punho um documento oficial que dispensava Haruno Sakura de suas obrigações como Ninja de Konoha, libertando-a e deixando-a livre para viver como bem entendesse. Por sorte o fato de a Kunoichi não fazer parte nenhum Clã lhe dava tal liberdade de tomar aquela decisão sozinha, senão aquela autorização demandaria tempo, pois teria que enviar o pedido ao Conselho e ao Líder do Clã e se tivesse tempo para pensar, jamais a permitiria ir.

O clima tenso estava em seu auge e, talvez, até mesmo fúnebre. Kakashi mantinha-se inexpressivo e calado, Shizune tinha o olhar triste e Tsunade a expressão descontente e categórica.

Quando o documento estava devidamente carimbado e formalizado, Tsunade a entregou sem dizer uma palavra, mal olhando-a nos olhos, mas ainda assim Sakura sorriu, reverenciou-a uma última vez formalmente, curvando-se, e agradeceu sinceramente, com a despedida nas entrelinhas. Também pediu sigilo, quanto menos a notícia se espalhasse, menos dor causaria. Ao passar pela porta, Sakura olhou uma última vez Tsunade, ainda sentada, virada de costas para si, fitando a paisagem fora da janela e antes de deixar a sala, fechando a porta, ouviu o timbre único de sua Mestra proferindo suas últimas palavras:

— Cuide-se e seja feliz.

[…]

Kakashi saiu com ela da sala, deixando Shizune para consolar a Hokage que havia sido contrariada pela primeira vez até o fim. Andavam pelos corredores lado a lado e em silêncio. Sakura tentava acalmar o coração agitado e aquela dor prévia da saudade e Kakashi avaliava se deveria dizer-lhe alguma coisa, pois ele tinha muito apreço pela sua primeira aluna e ex-colega de Time. Eles tinham uma história, afinal.

Acabou que Sakura, um pouco antes de saírem da Torre da Hokage, segurou-o pelo braço e iniciou uma conversa.

— Kakashi-Sensei… — ele sentiu os próprios lábios esboçarem um sorriso ao ouvi-la chamar por aquele sufixo antigo. Sempre a corrigiu, desde que deixou de ser o professor do Time 7, mas estranhamente daquela vez permitiu-se somente apreciar o carinho de ainda tratá-lo como o Ninja que lhe guiou na carreira militar. —Por que me ajudou?

A pergunta o pegou de surpresa e ele se viu olhando para o teto enquanto buscava por uma boa resposta, mas seu cérebro não o ajudava, então depois de muito pensar a encarou.

— Acho que porque foi necessário.

Sakura assentiu, por mais que aquela resposta não lhe respondesse nada e olhou para o horizonte, perdida em pensamentos.

— Obrigada por tudo. — o olhar esmeraldino alcançou o único olho negro exposto e a boca esboçou um sorriso fraco, que Kakashi julgou ser também triste — Não tenho dúvidas de que você foi uma das pessoas que me ensinou os valores mais importantes que aprendi para ser uma boa Ninja e uma boa pessoa.

Kakashi assentiu, sem conseguir encontrar palavras que expressassem o que queria, principalmente ao perceber o quão frágil Sakura parecia estar naquele momento. Gostaria de consolá-la de alguma maneira, mas tinha ciência de que era péssimo em tal atribuição. Observou-a pegar algo na mochila, uma carta. A carta que ele a assistiu escrever.

— Sei que já fez demais por mim, mas gostaria de lhe fazer um último pedido.

— Sinta-se à vontade. — respondeu, pegando a carta que ela lhe ofereceu.

— Pode entregar amanhã à noite para o Naruto? — ele assentiu, sabendo de que era para que Naruto lesse a carta quando ela já não estivesse mais por perto. — Obrigada.

A troca de olhar perdurou por alguns segundos, antes de ela acenar e seguir seu caminho sob o olhar cuidadoso e protetor de seu ex-Sensei que pensava no quanto queria estar errado sobre seu palpite de que ela não pretendia mais voltar para Konoha.

Por mais que estivesse tentando, Sakura não conseguiu se manter forte depois de tantas emoções. Após deixar Kakashi para trás, entrou no primeiro estabelecimento que encontrou e pediu para ir ao banheiro, desfazer-se em lágrimas preenchidas de um estranho sentimento de arrependimento, frustração e saudade.

"Não olhe para trás, apenas siga em frente.", tornou-se seu mantra, que felizmente a reconstruía pouco a pouco, aliviando parte de seu intenso sofrimento. Saber que estava fazendo o certo para proteger aqueles que amava a ajudava a se confortar.

De lá partiu para uma visita aos pais. Depois de sua decisão de morar sozinha, pouco os visitava, devido a correria do dia a dia. Por mais que os amasse, a desarmonia de seus gênios não os mantinha unidos por muito tempo. Discussões sempre apareciam com a mãe, que sempre encontrava um motivo para lhe criticar e a tranquilidade e dispersão do pai não a ajudava a se acalmar, porque não conseguia evitar esperar que um dia ele lhe apoiasse e sempre se decepcionar. E não foi diferente, por mais que naquele dia, em específico, estivesse cansada demais para alimentar a discussão que sua mãe iniciou por vê-la quase em estado anêmico.

Num impulso emotivo Sakura abraçou a mulher, dizendo-lhe o quanto a amava e em seguida fez o mesmo com o pai, sendo prontamente retribuída, embora ambos tivessem estranhado a reação da filha.

Depois daquele momento sentimental, a visita não se estendeu muito mais. Sakura se despediu, deixando um envelope que continha todas as suas economias para ajudá-los nas despesas e mesmo com seus pais insistindo em recusar, deixou o envelope sobre a mesa pedindo que eles usassem aquele presente com sabedoria.

Pela primeira vez no dia, sentiu-se plena, com a sensação de dever cumprido. Não sabia dizer em que sentido havia cumprido um dever, mas deixou-se levar por aquele momento de contemplação. No caminho para sua casa encontrou Sai e aproveitou para despedir-se dele também, dando-lhe conselhos sobre integridade e boa conduta e também sobre o amor, aquele sentimento que a sacaneou tantas vezes. Disse a ele que desejava que ele encontrasse uma pessoa que o respeitasse pelo que ele era e que amasse cada parte dele e da personalidade dele, para que fosse verdadeiramente amado, alegando que tal felicidade era rara.

O ex-colega de Time, observador e petulante como era, pontuou as ações atípicas dela, questionando o motivo de tanto sentimentalismo e tristeza, sugerindo que pudesse ser culpa da ausência do "pinto pequeno", mas que ela não precisava sentir-se desolada porque ele tinha voltado na noite anterior e ela poderia bater nele quantas vezes ela quisesse.

— Não tem nada a ver com o Naruto! — Sakura esbravejou pela terceira vez, bufando. No fim da rua, que estava movimentada, viu o prédio de uma instituição que ajudava as famílias mais carentes da Vila com doações que recebiam e lembrando-se de que tinha feito mercado na semana anterior e que não precisaria mais de todas as roupas e objetos que acumulou até ali se acalmou e voltou a fitar Sai, apressando o fim daquela conversa para voltar para casa e reunir tudo o que não vai usar para doar. — Escute com atenção, Sai. Por mais que eu queria te socar às vezes por sua petulância sem noção, você é meu ex-companheiro de Time e também meu amigo. Quero o melhor para você. Entende isso?

— Sim, mas por que está dizendo isso?

— Porque sim. — desajeitadamente o abraçou e ainda mais desajeitadamente foi retribuída. — Fique bem. — afastou-se e o ignorou resmungar alguma coisa que normalmente a tiraria do sério.

[…]

No caminho para casa passou em alguns estabelecimentos pegando caixas de papelão. Assim que chegou já começou a se desfazer do que não iria mais usar: roupas extravagantes ou informais, a maioria presente de suas amigas; roupas de cama e de banho; tudo o que havia em sua geladeira e dispensa, mantendo apenas o essencial que levaria consigo. Também cobriu os móveis com lençóis para não se danificarem e imaginou que se tivesse mais tempo poderia colocar sua casa para alugar, assim não desperdiçaria o espaço. Pensando nisso, escreveu uma carta para a Hokage com o documento da casa, pedindo para que colocasse a casa para alugar e repassar o valor recebido para seus pais e colocou junto o molho de chaves reservas de sua casa.

O tempo voou. Já havia anoitecido e se Itachi fosse pontual, faltava cerca de uma hora para ele buscá-la. Ela ignorou a onda de emoções que a atingiu e arrumou sua mochila e seus pergaminhos de invocação de itens que precisava levar consigo, como seus materiais médicos, livros e alguns objetos pessoais que não conseguia abrir mão, por mais que soubesse que não poderia olhar para trás, como o porta-retratos com a foto do Time 7. Com tudo pronto saiu e fechou a casa, olhando-a uma última vez antes de seguir para o portão principal da Vila e no caminho deixar a carta em uma das caixas do correio que estavam distribuídas em pontos estratégicos.

Vinte minutos depois chegou em seu destino e em seguida criou um clone, que não era sua especialidade, mas que seria extremamente necessário e o enviou para a floresta conforme se escondia e ocultava sua assinatura de chakra para confundir e distrair o ANBU que a seguia. Sakura sabia que Tsunade mandaria alguém vigiá-la, só para ter certeza de que estaria bem, mas não podia permitir que visse que estava indo embora com um membro da Akatsuki, aquele que traiu seu clã e sua Vila.

Faltavam cinco minutos para o horário que deduzia ser o gatilho do encontro com ele e já sentia as pernas bambas e o corpo inteiro trêmulo. Repetiu para si mesma que se ele quisesse matá-la já o teria feito para tentar se acalmar, mas não estava funcionando, porque ela só conseguia pensar no fato de que ele precisava dela para fazer alguma coisa e isso a perturbava. O que ela poderia fazer por ele?

Por um instante uma nova possibilidade apareceu: a imagem de Sasuke veio a sua mente e arregalou os olhos diante do óbvio que esteve nublado por tanto tempo; Itachi pode querer usá-la para atrair Sasuke.

Não seria muito eficaz, porque ela não tinha valor algum para Sasuke, mas se aquele fosse o caso, ela teria uma remota chance de vê-lo e só isso já lhe embrulhava o estômago e fazia seu coração palpitar.

— Estou surpreso por ter arquitetado sua saída da Vila para que não nos seguissem.

Ouviu aquela voz grave e sentiu o corpo estremecer. Ela se virou para o lado esquerdo e controlou o olhar para não passar da altura da boca da sombra entre as árvores. Uchiha Itachi. Estava ali, em sua frente, exatamente como previu: pontualmente. Os olhos carmesim sobre si dando-lhe calafrios, atraindo seu olhar para eles, hipnotizando-a ainda que não estivessem vinculados.

[…]

NOTAS FINAIS:

O trecho em negrito e itálico no início do capítulo é da música Dream Scape – Yuki Kajiura.

E aí? Gostaram?

Espero que sim!

PRÓXIMO CAPÍTULO: Exórdio.

DATA DA POSTAGEM: 22/05/2021 – Sábado.

Até a próxima!*~