Cap – 03 – Cotidiano de Astro... Apanhador ou Modelo?

Pela manhã Harry acordou esparramado. Se levantou e admirou Draco que ainda dormia, completamente arreganhado confortavelmente na outra extremidade da cama também nu.

Suspirando satisfeito o moreno tirou um longo momento para si, para olhar seu companheiro atentamente. Draco era lindo, perfeito e único. Cansado, praticamente se arrastou até o chuveiro para uma ducha rápida. Mais animado depois de fazer sua higiene ele se vestiu rapidamente, o loiro ainda dormia profundo a sono solto e nem derrubando a casa Grey acordaria.

Harry não ousava acordar Draco, já que o loiro trabalhava em casa fazia seus próprios horários e o moreno sabia que era prejudicial para qualquer pessoa acordá-lo sem que o próprio Draco fizesse o pedido.

Em todos esses anos de casamento nunca houvera uma ocasião a qual Draco fizesse um pedido dessa natureza. Esperar tal demanda era como esperar um milagre, portanto, estava longe de acontecer.

Harry desceu as escadas encontrando Dink e Fany, os dois elfos domésticos de Draco, já preparando o café da manhã para eles. Foi só ai que Harry prestara atenção no relógio. Acordara bem tarde, eram quase onze horas da manhã. Lógico que ele não tivera noção disso, por que se não, dispensaria o sono pós sexo com toda certeza, mesmo que ficasse um bagaço por isso.

- Droga! – Murmurou Harry meio sem saber o que fazer até Draco acordar para ficar com ele em um dos seus esporádicos dias de folga. Mesmo que o loiro fosse trabalhar ele poderia ficar no laboratório fazendo companhia, fuçando nas coisas do marido e lhe beijando sempre que sentisse vontade, mesmo que isso atrapalhasse o andamento dos projetos importantíssimos.

- Senhor Potter, podemos servir o café da manhã? – Inquiriu o elfo e Fany sua esposa ficou esperando a resposta de Harry ansiosa com a jarra de suco nas mãos.

- Oh, pode sim Dink, mas o senhor Malfoy só vem mais tarde, ele ainda está apagado. – Esclareceu Harry sentando-se a mesa, pensando se faria ou não a sobremesa para Draco.

Pela noite de ontem ele bem que mereceu cada pedaço da guloseima, alias até mais, se servisse de comparativo Harry teria que preparar uma penca de bananas com mais de um litro de calda e flambar tudo na lareira, mas Draco quase, quase, mesmo que inconscientemente entregara o jogo à noite passada ao responder dormindo.

Se insistisse um pouco mais...

Por fim, Harry arriscou e não fez. Logo Dink lhe cortou o pão, passou creme de amendoim com bastante alegria nas torradas de Harry e Fany veio alegremente ajudar a servir mais um copo de suco.

Mesmo que o casal de elfos trabalhasse na residência com mais exclusividade os gostos de Draco, as duas serventes criaturas adoravam quando tinham oportunidade de paparicar o moreno.

Geralmente Dobby tinha um ciúmes horrendo dos afazeres ligados a Harry, mas como Dobby estava longe, Fany e Dink aproveitaram para dar toda a atenção que eles dispunham para o moreno sem que Draco ficasse desgostoso com a qualidade dos serviços de ambas as criaturas.

Depois do café da manhã, Harry se exercitou na sala de ginástica e subiu para mais uma ducha. Quando se vestiu por completo, Draco despertou preguiçosamente.

- Bom dia, meu Grey! – Saudou Harry lhe mostrando os dentes branquíssimos alinhados sorridente.

- Hum... Dia. – Falou Draco num sussurro quase inaudível.

O loiro se levantou da cama zonzo, indo em direção a Harry lhe abraçando fraco, ainda nu. Harry correspondeu o carinho desprovido de maldade. O moreno sentiu a pele das costas de Draco bastante quente, depois lhe acariciou as madeixas loiras suadas e quando colocou a mão sobre a testa de Draco percebeu que o outro estava febril.

- Gre... Grey? – Harry chamou o outro pelo apelido apreensivo. Percebendo que Draco estava se apoiando um tanto a mais em seus ombros.

- Hum? – Reagiu fracamente.

- Está tudo bem? – Perguntou o moreno. Draco simplesmente balançara molemente a cabeça em afirmação, mas seus movimentos pareciam tão avariados que não convenceram Harry.

- Você não está bem. O que está havendo? – Insistiu Harry afastando o outro homem do seu corpo para analisa-lo. Draco estava anormalmente pálido mais ainda lhe sorria bem humorado. Havia mesmo algo de errado, Draco nunca era bem humorado ao acordar.

- Fez meu café da manhã? – O loiro perguntou virando-se caminhando até o banheiro, ziguezagueando como se estivesse levemente embriagado.

- Não. – Admitiu Harry lhe seguindo de perto, vendo Draco entrar na banheira, regulando as torneiras, mas para o verão do que para o inverno, entrando e se recostando na peça de louça, antes mesmo da água atingir o nível para a imersão do seu corpo.

- Estou com fome, Harry e...

Uma batida educada na porta do banheiro interrompeu o que Draco ia falando. Harry olhou bravo na direção da folha de madeira, desencostando da pia onde se apoiava olhando seu companheiro com mais atenção. O loiro somente fechou os olhos como se seu sono ainda o importunasse em quanto à água caia sobre ele se espalhando ao seu redor em todas as direções.

A porta estava Fany vermelha e encabulada encarando os próprios pés gorduchos.

- Oh senhor... Desculpe, Fany não quer atrapalhar, Fany não quer mesmo, mas Fany tem um recado do chefe do senhor Potter.

Harry ficou intrigado e temeu, por que toda vez que Robert entrava em contato com ele para alguma coisa em seu dia de folga significava encrenca.

- O que ele quer, Fany? – Exigiu Harry curioso.

- Perguntou pelo senhor na lareira da sala amo. Fany disse que o senhor estava no quarto e o se senhor chefe disse para o senhor Potter entrar em contato agora mesmo! – A elfo encarava os próprios pés descalços com tanto interesse que sua cabeça estava curvada na direção do chão, dando a impressão que ela beijaria o piso a qualquer momento.

- Céus! Não posso ter um dia de paz na minha casa que Robert tem um colapso! – Praguejou o moreno em direção a lareira. Assim que chegou a porta do quarto Harry escutou Draco chamar por Fany e sua voz era suave, o que não tranquilizou Harry em nada.

Ele desceu as escadas mal humorado, pegou uma quantidade de Flu no jarro ao lado do recorte de tijolos, pronunciando "Sede dos Arpies!" esperando as chamas esverdearem, em seguida intrometeu apenas o rosto entre as labaredas.

- Robert? – Chamou eHarry um tanto ríspido.

O treinador roliço andava de um lado para o outro na sala bem arejada da sede do time e não se sobressaltou com o rosto de Harry nas chamas, afinal o aguardava impacientemente.

- Oh Harry, bom dia! – Disse Robert vindo de encontro.

- Bom dia Robert! Por que tanta urgência em me chamar? Os treinos não começam só amanhã?

- Sim. Os treinos. – Replicou o treinador sorrindo. - Porém chamei por outro motivo. Preciso de você para tirar as fotos promocionais!

- Mas que fotos? Da onde você tirou isso? – Quis saber Harry franzindo o cenho irritadíssimo.

- Temos um novo patrocinador para o time, Harry! Uma das cláusulas do contrato é que você seja meio que o garoto propaganda da marca! – Robert, esfregava as mãos animadamente, como se as cifras que arrecadaria para o time lhe trouxesse comichões.

- Com todo respeito treinador... ANDOU BEBENDO? – Perguntou Harry tão desaforado quanto pode e o sorriso de Robert não diminuiu, triplicou de tamanho.

- Hei... Hei... Hei... Estamos nervosinhos por que hoje? – Harry odiava quando Robert agia assim, se referindo a todos mesmo que falasse com uma só pessoa. Era no mínimo debilmente infantil.

- Nervosinhos? Estamos? Não vou ficar fotografando como modelo para patrocinador nenhum treinador! Esquece!

Robert suspirou longamente, mas seu bom humor quase nunca lhe abandonava, excerto nos jogos que perdia, o que era raro.

- Harry, Harry, tsk, tsk! Sei que você já tem dinheiro suficiente para suas cinco futuras gerações, mas com esse novo patrocínio para os Arpies e a grana que eles investiram, poderemos finalmente contratar Arley Jamps, o goleiro mais bem cotado de toda a Ásia. Você mesmo elogiou o trabalho dele para mim diversas vezes, agora que temos oportunidade de aumentar o capital para trazê-lo a nossa equipe você não quer colaborar? Que mal vai lhe fazer um pouco mais de publicidade? Além disso, você recebera um cachê a parte, não será como trabalhar de graça. Não que você tenha muita escolha, se reparar bem, o seu contrato leva uma cláusula que nessas ocasiões o capitão do time fica a disposição de propagadas benéficas a critério da diretoria.

Robert deu o cheque mate já sabendo que o moreno não teria como escapar.

Harry não teria mesmo como contestar, se odiava por ser preguiçoso ao extremo para ler todas as linhas as quais emprestava seu nome ao final. Por essa ele não contava.

A maldita fama! Pensou o moreno se lembrando primeiramente das manchetes da entrevista para o Profeta Diário que Draco assumira seu amor por ele anos atrás, em seguida no dinheiro e sequencialmente em como detestava toda e qualquer espécie de contrato ao qual colocava a sua assinatura, mesmo que tivesse uma equipe de advogados e de pessoas para cuidar de sua vida publica.

O moreno suspirou verdadeiramente contrariado. Não que o ar lhe faltasse, mas a paciência sempre vinha em soquinhos desinteressados para ele e com mais oxigenação no cérebro ele poderia conter a série perfeita de palavrões que se formou em sua mente.

- Então eu deixo de ser capitão do time e pronto!

Há! Simples! Pensou Harry e nem tão simples pensou Robert.

- Não pode, eles querem você, Harry Potter. – Replicou o treinador perdendo um décimo da paciência já diminuta no momento. – Se eu lhe destituir do cargo de capitão o patrocinador cancela o contrato e a diretoria do time me mataria, ai estaríamos na rua! Você não quer que um velho como eu mendigue um emprego em outro clube por conta do capitão demitido dos Arpies que se recusou a tirar umas meras fotos promocionais, não é?

Harry amarrou a cara e bem cansado de discutir, por que sabia que dessa vez não teria como fugir dessas chatices que envolvia jogo de interesse e dinheiro, somente concordou com a cabeça.

Seus joelhos já doíam da posição que se encontrava entre sua lareira e a da sede do clube, o que significava que em vários minutos sem sua equipe de publicidade ou os seus agentes e advogados presentes ele não conseguiria nada.

Se nenhum dos seus assessores lhe falara nada sobre o maldito adendo de ser o rostinho popular e fotogênico do time, é por que os miseráveis também não viam nenhum problema nessas balelas de Harry ganhar dinheiro para ele e para os outros com a sua imagem. Parecia que somente ele odiava ganhar dinheiro com o seu sorriso mortificado.

- Okay, okay... Não precisa fazer chantagem, - Falou o moreno desgostoso. – mas quero saber antes de mais nada qual é o produto!

Robert inflou o peito orgulhoso por ter dobrado Harry sem a presente comitiva legal do moreno e disse.

- Creme perfumado para as axilas!

- Desodorante, você quis dizer? – Corrigiu impaciente Harry.

- Somente trouxas usam esses termos para esse tipo de produto. – Respondeu o treinador sentando-se em sua poltrona fofa, acendendo um charuto. – Esteja pronto em vinte minutos e volte até a minha sala, o pessoal da empresa de propaganda já está te aguardando!

Como Harry adorava bufar de raiva, não desperdiçou a oportunidade.

- Me diz primeiro qual é a marca? – exigiu Harry.

- Cool Armpits! – disse o treinador. - Até mais apanhador. – Ele dispensou Harry antes que o moreno lhe atirasse alguma coisa na cabeça por conta da insatisfação que sentia.

- Vai se ferrar Robert! – Harry saiu das chamas com as bochechas afogueadas de contrariedade.


~oOo~


Draco não estava bem. Ficaria bem melhor se Harry tivesse lhe preparado o café e ficasse ao seu lado lhe paparicando com carinhos melosos e uma gostosa sobremesa em mãos. Sentindo a água cair em seu abdome ele chamou Fany para lhe dar algumas ordens.

- Fany? – Gritou o melhor que pode e sua voz saiu sem força.

A elfo veio rapidamente ao seu encontro e se postou a porta do banheiro sem olhar para a nudez do amo em seu banho.

- Senhor Malfoy chamou por Fany?

- Sim. – Afirmou Draco. - Onde está o senhor Potter?

- O chefe do senhor Potter esteve na lareira agora pouco senhor Malfoy, - Esganiçou a elfo. – queria falar com o senhor Potter com urgência, Fany veio dar o recado.

Somente pela voz macia do seu senhor a elfo sabia que Draco não estava nada bem e ficou preocupada.

- Fany acha que o senhor Malfoy não se sente bem...

- Não muito Fany, acho que estou gripando. Prepare o chá e traga o café na cama. Quando Harry não estiver por perto quero que você e Dink venham até o quarto, quero falar com os dois.

Prontamente Fany saiu do banheiro praticamente de olhos fechados e com agilidade passou as ordens de Draco para seu elfo-esposo. Os dois viram Harry sair da lareira como se tivesse cheirado algo muito desagradável.


~oOo~


Harry subiu as escadas diretamente a seu quarto, Draco estava no banho, ele abriu a porta já escolhendo meticulosamente as palavras que explicaria ao loiro por que teria que fazer a tal propaganda e assim cancelar o dia deles juntos.

O moreno abriu a porta do banheiro e Draco estava muito pálido, seu rosto ainda suado para fora da água e seu corpo imerso coberto pela espuma dos sais de banho.

- Meu Grey? - Chamou Harry sereno se sentando na borda louça, passando a mão de leve sobre a espuma.

- Hum? – perguntou o loiro sem abrir os olhos.

- Robert me chamou... E bem, quer que eu tire umas fotos, é para o novo patrocinador do time, Eu... Eu, ah... Você sabe que eu odeio essas coisas... E queria ficar com você por que hoje é minha folga... Herrrrr...

- Irão te pagar bem por isso? – Perguntou Draco calmo sem abrir os olhos.

- Hum, sim, mas sabe que eu odeio essas coisas e Frankilin e Melany não me disseram nada sobre a cláusula do meu contrato com o time que me obriga como capitão a ficar a disposição da diretoria para esse tipo de trabalho eventual e...

- Bem feito! Isso que dá não ler direito as coisas. Agora é tarde para discordar e concordo com nossas equipes, não vejo nenhum problema em você ganhar mais dinheiro sorrindo para uma câmera fotográfica quando você é muito fotogênico. Qual é o produto? – Perguntou o loiro sem demonstrar muito interesse.

- Creme perfumado para as axilas. – Disse Harry revirando os olhos.

- E a marca? – Quis saber Draco.

- Cool Armpits! – Harry comentou desanimado.

- Menos mal. - Considerou o loiro. – Olha só, tem o lado bom pelo menos: poderia ser uma propaganda de cuecas. Ai você estaria encrencado comigo! – Reforçou Draco.

O loiro não se movia e sua fala ainda era preguiçosa demais, o que deixava Harry um pouco perturbado. O moreno lhe sorriu, mesmo que os olhos acinzentados do outro estivessem fechados.

- Você não fica nem um pouco bravo, Grey? É que me parece uma coisa tão estúpida. Servir de modelo, ficar lá com todo mundo me olhando, falando e sorrindo, detesto essas coisas!

- É por que você é um trasgo tímido e não sabe aproveitar, se fosse comigo... Mas não gosto de aparecer por causa do meu rosto perfeito, sou mais esfregar na cara de todos o quanto a minha inteligência é superior. Sou muito exclusivo e reservado, as pessoas não conseguem e nem merecem a chance de ver minha beleza estonteante, em partidas de quadribol regulares, como é o seu caso, por isso prefiro esfregar-lhes o meu "QI" bem acima da maior parte da população nas fuças deles com o meu trabalho e funciona perfeitamente ao me manter recluso o máximo de tempo possível durante esses anos, você sabe!

- Hei... Está me chamando de burro? – Perguntou Harry brincando com a água, espalhando-a por todos os lados.

- Não, você não é, mas as menininhas e alguns garotinhos fãs dos Arpies querem ver a barriguinha malhada do famoso apanhador Harry James Potter, ou nesse caso, o seu sovaco. Eles não estão interessados em saber o quanto você é inteligente. Se você aparecer sorrindo ao lado de um produto, vão comprar só por que tudo que você faz parece perfeito. O fato de você ser lindo nesse caso é o que conta. Pobres fãs, olhar e não poder tocar deve ser horrível! – Draco debochou morosamente.

- Você é o idiota mais doce e ciumento que eu já conheci em toda a minha vida, Grey! – disse Hary brincalhão.

- Também te odeio Harry. – respondeu Draco com um sorriso chocho.

- Grey? O que está acontecendo? Você não parece legal... Olha para mim! – Pediu Harry.

Com esforço as pálpebras pesadas de Draco se abriram lacrimosas e com o melhor do seu sorriso ele tentou disfarçar que não estava bem. Harry lhe conhecia muito para acreditar na fisionomia inocente do loiro e aflito mordeu os lábios.

Pronto, lá se foi momentaneamente o seu ar arrogante ralo a baixo com o olhar penetrante de Harry. Droga, demorara anos para torná-lo impecável, para vir uma pessoa e destruir sua alto defesa assim, apenas com uma leve mirada de filhote necessitado.

- Estou legal Harry, é sério, pode ir fotografar, mas para o seu próprio bem, quero deixar muito claro que não vou ficar satisfeito se essas imagens envolveram mulheres exuberantes e homens mais exuberantes ainda, em outras palavras: não quero ver você enroscado em alguém ou alguém enroscado em você, sendo feio ou feia, bonito ou bonita.

- Certo, – brincou Harry ainda considerando se deveria ir ou não. – talvez eu convença o pessoal da empresa de propaganda me deixar pousar com vestes de inverno ao lado de uma lhama ofensiva cuspidora!

- Perfeito. – Comentou Draco ante de tremer involuntariamente por causa de inúmeros calafrios que estava sentindo. Mesmo que a água estivesse morna, o frio que estava sentindo por causa da febre que aumentava já ultrapassava o limite do normal.

Harry levou a mão a testa de Draco novamente e se assustou, sentindo que a temperatura ainda era alta.

- Grey, você está ardendo! Não vou a lugar algum com você desse jeito! Vou falar agora mesmo com Robert e cancelar essa merda toda até você melhorar! – Harry se levantou para sair do banheiro, colocar a cara na lareira de novo e cancelar o compromisso, mas Draco segurou seu pulso e Harry parou para ouvi-lo imediatamente.

- Não seja criança, Harry! Já disse que não é nada. Não fique inventando desculpas para fugir dos seus enroscos com o ogro do seu chefe. Provavelmente é só um resfriado. Vou continuar meu banho, você vai para a sessão de fotos, tomarei uma poção revigorante e em meia hora estou novo em folha. – Disse Draco ainda segurando seu pulso. Harry ficou confuso, ele tinha o dever de ir, ao mesmo tempo que a necessidade de ficar cuidando de Draco fazia com que seus pés não quisessem se mover.

Contudo, teria que cumprir com sua palavra mesmo contrariado. O problema era que a partir do dia seguinte ele voltaria a ficar concentrado a semana inteira, junto ao aos seus colegas de time, se preparando para a final do torneio mundial.

A mente do moreno já estava acelerando, pensando em mil maneiras de se esquivar de Robert para voltar para a casa, checar Draco, sem arranjar grandes problemas.

- Está bem Grey, EU VOU, mas volto para te ver antes de ir para a concentração. Olha lá, se eu descobrir que você está mentindo para mim, cancelo tudo e volto para ficar. – Sentenciou Harry.

- Assim está melhor, um minuto de paz para o seu loiro exclusivo e eu fico perfeito para você. – Brincou Draco sem ter certeza de falar a verdade.

- Espero você na final Grey, é importante. – Harry disse com serenidade.

- Certo, vou pensar no seu caso. – O loiro respondeu com falsa arrogância.

Harry beijou os lábios de Draco e notou que não estavam macios como de costume, a pele estava áspera, ressecada, como se estivesse rachada pelo frio, mesmo assim não disse nada, mas continuou preocupado.

- Até mais, Grey. – Se despediu Harry.

- Vai logo Harry, antes que eu corra atrás de você pelado e ai você nunca mais vai conseguir sair dessa casa. – Falou Draco ouvindo a porta se fechar. Ele soltou o tampão da banheira com lentidão, se ergueu como pode nas próprias pernas e notou que sua cabeça estava doendo como se estivesse de ressaca.

Harry entrou apressado na própria lareira, voltou a cede dos Arpies e lá se deparou com uma equipe toda montada para lhe maquiar, lhe vestir e o produzir. Tudo para que ele deslizasse a merda de um desodorante pelas axilas e dissesse algumas palavras tolas para câmeras, tanto as de vídeos mágicos como as de fotografia, que em muito lhe aborreciam.

Depois de uma tarde exaustiva de pessoas a sua volta lhe esvaziando sua paciência já tão diminuta, dirigindo seus movimentos Harry pode suspirar, a campanha estava pronta.

Finalmente Robert voltara a sala e o arrastara para longe de todo aquele universo artificial das propagandas.

- Robert, sei que estaremos concentrados logo mais e não podemos ter contato com as pessoas, familiares e tudo mais, mas Draco não estava bem quando sai de casa, preciso vê-lo.

- Harry, você conhece as regras, não pode! – Enfatizou o treinador.

- Eu sei, mas o caso é sério treinador, só quero ver se ele está melhor, ele estava ardendo em febre quando sai, não posso ficar confinado sem ter certeza de que ele está recuperado. Eu teria um colapso, não ia me dedicar direito aos treinos e é uma semana! Não posso ficar assim, sem ter certeza, isso me enlouqueceria!

- Hum... Bem, - O bruxo roliço ficou um tempo considerando o pedido e sem pensar no que ia dizendo deixou que as palavras saíssem sem ao menos ver coerência nelas. - Se ao menos fosse a sua esposa... Eu, bem... Desculpe, não foi de propósito que eu falei isso, é por que eu... Ah... Me esqueço que ele é seu... Você sabe!

- Sei Robert, já estou acostumado, não que eu goste, por que é bem ofensivo se você pensar com clareza, mas estou disposto a ignorar como venho fazendo, por enquanto, até você cair na real e parar de soltar essas merdas.

- Olha, você pode vê-lo Harry, desde que seja rapidamente. Use a lareira da minha sala, mas quero você aqui em menos de cinco minutos. Os rapazes estão no vestiário e se um deles souber que eu abri essa concessão a você, vou ter problemas. Precisamos pegar a chave de portal para o alojamento, então... Ande logo! Tenho certeza que Draco estará tinindo!

Se o treinador não parecesse tão encabulado toda vez que era lembrado da sexualidade de Harry o moreno teria lhe dado um beijo na bochecha de alegria.

Harry entrou na lareira e logo estava em sua casa. Subiu as escadas de dois em dois degraus se amaldiçoando por ser tão tarde. Ele queria ter tido mais tempo para falar com Draco e ver como o loiro estava. A culpa por não ter feito a sobremesa do loiro de propósito começara a pesar em sua consciência quase sempre tranquila.


~oOo~


Draco estava com o corpo inteiramente mole, arrepiado de frio enquanto tremia intensamente. Pousou a própria mão na testa e constatou que estava mais quente ainda, voltou a ligar o chuveiro e mesmo com todo o mal estar que sentia tomou o banho mais gelado que conseguiu para baixar a alta temperatura.

Depois do banho já devidamente vestido para o inverno no circulo polar ártico, Draco se recostou na cama. Dink e Fany entraram no quarto e Draco voltou a dar ordens, as que conseguia se lembrar, por que sua dor de cabeça o castigava severamente.

Mesmo antes de acordar começou a sentir suas forças abandonando seu corpo sem aviso.

A única coisa com que se preocupava no momento, por incrível que parecesse era a forte resistência do seu cérebro em lembrar-lhe as sensações de provar a banana caramelizada de Harry.

Draco passou bastante tempo com esses pensamentos, alias, o tempo todo. Só conseguia rememorar os sonhos que teve com o maldito doce, embora estivesse de olhos abertos, seu corpo conservava a mesma sensação de sonolência de quando acordou. Ele não conseguia fazer outra coisa se não pensar, em como poderia ter a "maldita banana caramelizada" para devorar.

Quando começava a se lembrar do que teria de fazer no laboratório, ou nos seus outros afazeres diários seus pensamentos logo se desviavam para a imagem de Dobby comendo a sobremesa, a pergunta que vinha relacionada com a cena era sempre a mesma:

Por que Harry não fez a sobremesa para ele e fez para o idiota do elfo doméstico?

Quanto mais Draco tentava não recordar, não pensar, não desejar, mais acontecia e sua boca se enchia de saliva de tanta vontade e seus olhos reluziam estranhamente.

A febre o estava afetando sensivelmente, só podia ser, para ficar tão obcecado dessa forma. Contudo, não era um simples doce, era a banana de Harry Potter que fazia com que seus miolos fervessem de vontade aquele ponto e nada da febre do loiro ceder.

La pelas tantas que Harry já havia partido ele pediu uma segunda dose de poção revigorante. A primeira não fizera efeito algum.

Dink lhe serviu a poção com uma dúzia de guloseimas. Nada que agradasse ao paladar como a droga do doce ao qual estava se perdendo de vontade de comer.

Mesmo assim engoliu o que conseguiu para não ficar de estômago vazio.

Eram sete horas e Draco se metera debaixo do chuveiro novamente. A febre cedeu um pouco por insistência da baixa temperatura da água.

Entretanto, seu corpo ainda estava um caco. A porta do banheiro se abriu e Draco não esperava. Tomou um susto e por pouco não desequilibrara com a fraqueza da suas pernas. Logo mexeu nas torneiras e a água se tornou mais quente, Harry o olhava aflito e bastante atento para detectar algo de errado.

- Como foi lá, tudo normal? Ou tem o nome de algum ser em especial para eu me divertir torturando, para depois matar, por ter se aproximado de você mais do que eu permito? – Disfarçou o loiro.

- Como você é ciumento, meu Grey! – Harry se aproximou de mansinho, passando os dedos cheios de vontade na pele do tórax de Draco molhado pelos jatos d'água. - Fiquei lá parado fingindo que sorria e foi só. Não quiseram nem o time na propaganda. Ficaram satisfeitos de serem a primeira agencia a me fotografar com o meu consentimento!

- Legal. Você deveria ter cobrado mais caro pela honra. – Draco comentou de frente para Harry, parecendo um gato de rua derrotado.

Como o loiro desejava que Harry ficasse. Se tivesse mais um pouquinho de forças imploraria por sua companhia. Foda-se o time, o quadribol e todo o resto! Eles eram podres de ricos, não precisavam disso para nada!

Até sentiu vontade de desfazer a decoração do quarto em pedido de desculpas pela premeditação da mudança, se achando um tolo por ter fingido esquecer de buscar Harry depois do jogo da semifinal para lhe fazer uma surpresa a qual deveria ter consultado o moreno antes.

Era uma avalanche de coisas que Draco sentia nesse momento invadir seu peito na presença de Harry o olhando com tanto zelo, com tanta atenção, tanto amor.

O hortelã cintilante dos olhos do moreno eram tão profundamente verdadeiros, cheios de vida pulsante, únicos por cada traço distinto que formava o desenho das íris.

Toda vez que olhava diretamente para os olhos de Harry dessa forma, ficava a mercê de todas essas sensações, considerações, desejos e angustias.

Ele estava em um desses raros instantes em que ficava a deriva das vontades do seu coração trancafiando, totalmente alheio ao raciocínio tão evidente na maioria das suas ações.

Era tanto empenho em refrear a quantidade de amor que sentia por Harry e tudo o mais que fosse ou não pateticamente digno de protecionismo, ligado ao seu tão reprimido e frágil romantismo quase atrofiado por inibição, que preferiu calar-se para não sair dizendo bobagens.

Talvez seu excesso de preservação o tornasse uma pessoa menos merecedora da adoração de Harry e isso lhe causou uma náusea verdadeira e uma vertigem que não poderia ser tão somente ligado ao seu mal estar.

- Por que está tomando banho novamente, Draco? – Harry lhe chamou apreensivo pelo nome.

- E por que você não voltou ao trabalho ainda? Aposto que pediu ao seu treinador para vir me ver e ele só deixou por que você deve ter choramingado, o fazendo entender que eu estava convalescendo a beira da morte e por que ele fica sem jeito de falar "não" para você por que Harry Potter é o astro rei do time, o apanhador brilhante infelizmente gay, o que entristece a opinião geral publica, inclusive a dele e você se aproveitou disso! Estou certo, Harry?

O moreno não respondeu, apenas mordeu o lábio inferior, como uma criança pega em uma travessura. Draco acertara em cheio.

- Grey, você não me respondeu ainda. – Cortou Harry.

Draco passou xampu pela terceira vez nos cabelos. Propositadamente fez o máximo de espuma que pode e fechou os olhos, assim teria a oportunidade de fugir do olhar de devoção fervorosa do moreno lhe perguntando somente a verdade.

- Ué? Sou asseado e você sabe disso, Harry!

- Draco, é sério. – Forçou Harry com o máximo de sua paciência, como se estivesse tratando com uma criança terrivelmente levada. – Você está melhor? Se não estiver fico aqui, cuidando de você. Não posso voltar para lá e deixa-lo sozinho se não estiver legal.

As palavras mágicas. Bastava que Draco confessasse que não se aguentava nas pernas e que seus ossos tremiam por dentro, que suas condições eram totalmente contrarias da aparência que estava transmitindo fracamente a um Harry completamente desconfiado e o moreno ficaria e lhe daria colinho como sempre.

Oh... Já podia sentir as palavras afoitas em sua garganta prestes a sair em um pedido de "Por favor, fique então!" e com certeza tudo melhoraria para ele, talvez em mais ou menos meia hora ao seu lado, Harry já teria torrado o açúcar e já escolhera a banana para a sua sobremesa...

Mas espere? O moreno ficaria mais uma vez, abrindo mão das coisas dele mais uma vez, deixando tudo sem piscar mais uma vez, só por causa de um pedido seu.

E ele? Desistira quantas vezes das coisas por Harry? Bem menos do que o moreno, com certeza. Por que toda vez que Draco batia o pé, Harry cedia, sempre.

Não podia fazer isso dessa vez, teria que dar um jeito de melhorar sozinho até a volta de Harry e não lhe contaria nada para não dar trabalho ao seu amor tão dedicado a ele.

- Sim Harry, estou ótimo, não se preocupe. Você sabe, sou um cisne praticamente, tenho vicio por banhos. Então me exercitei um pouco depois do trabalho e aproveite o momento para uma ducha antes de jantar. – A mentira era um ato terrível que às vezes se fazia muito necessário.

Mesmo não acreditando, Harry por confiar demais em Draco, coisa que não devia, mais fazia cegamente, aceitou as explicações. O moreno passou a mão sobre os ombros de Draco para transmitir um pouco de segurança e afeto, molhando seus dedos na água que salpicava-se por sua roupa seca a pouca distância, ele percebeu que Draco ainda estava quente.

- Grey, se você tomou poção de pimenta e está melhor, por que parece tão fervente ainda?

- Deixa de ser paranoico Harry, me exercitei agorinha e você está confuso com a temperatura da água. – Draco terminou de enxaguar os cabelos, passando uma quantidade impressionante de creme nos fios para deixá-los impecáveis como de costume. Com um sorriso largo ele viu a roupa de Harry cheia de sardas feitas pela água.

Harry estreitou os olhos. Acreditava em Draco, mas sabia que ele escondia alguma coisa e sabia que o loiro não estava recuperado de todo.

- Meu Anjo, não vou dançar sensualmente para você debaixo do chuveiro, pelo menos não agora, se é isso que você está esperando para voltar contente ao trabalho. Brinque com seu arsenal de memórias anteriores para a punheta solitária dessa noite, antes de você dormir, naquele caixão que você chama de quarto.

Harry finalmente saiu do estado cataléptico ao qual encarava Draco ainda incerto, se dando conta que sua roupa estava mais do que úmida. Se não tirasse os olhos rapidamente de cima do outro homem se ensaboando daquele jeito quase criminoso de tão delicioso mais uma vez com aquelas "mãos divinamente fortes e perfeitas" não iria mesmo a lugar algum, a não ser, para cima do loiro.

- Okay Grey, estou indo. – Ele selou seus lábios rapidamente nos de Draco e notou novamente a mesma aspereza da parte da manhã. Para não se molhar mais ainda, Harry saiu do alcance dos respingos, acenando com a varinha para a própria roupa que voltou a ficar intacta. – Amanhã os treinos começam cedo, Robert já deve estar puto com a minha demora e bem... Espero você lá, na final. Voltamos assim que o jogo terminar, só espero que não demore mais de uma semana como a outra final.

- Vou sentir saudades, - Disse Draco sincero. – mas não quero você comemorando o titulo abraçado aqueles trogloditas todo suados com os hormônios em erupção! Não espere que eu assista a isso com satisfação!

Harry deu risada e Draco lhe retribuiu com outro olhar cativante. A advertência verbal do loiro não era descontração somente, como seu tom de voz indicava.

- Okay, pode deixar Grey, quando eles vierem me abraçar largo a taça no meu pé e finjo que quebrei mais um dos meus moídos ossos, assim volto logo para casa são e salvo com você.

- Se você não se machucar sem querer antes, como sempre acontece, para me matar de susto. – Draco deu de ombros, como se não se importasse, mas ele realmente se importava muito. - O primordial é que você sempre volte para mim e isso não é um pedido. – Sentenciou o loiro.

- Eu volto, juro! Agarradinho com você, assim está melhor? E se precisar, de qualquer coisa, não importa, de qualquer coisa mesmo, até mesmo se sentir saudades de "alguma coisa que eu sempre faço por você" me chama tá? Largo tudo e venho! – Falou Harry maledicente, se referindo à sobremesa que Draco tanto gostava que ele fizesse.

Draco ponderou as palavras de Harry guardando cada recomendação com cuidado dentro do seu coração. Desligou o chuveiro e quando se virou para pegar a tolha se dobrando um pouco mais em direção a onde o tecido felpudo estava pendurado, sentiu a mão de Harry tocar pesadamente sobre o seu traseiro fazendo um estalo com a intensidade do tapa.

- Até Grey! – Se despediu o moreno saindo rapidamente do quarto para não levar uma bronca. Quando fechou a porta atrás de si escutou Draco gritando.

- Você me paga Harry! A minha vingança contra a sua bunda de campeonato será muito mais severa!

Harry voltou pela lareira todo sorriso. Obviamente ele não estava assim muito tranquilo, mas Draco parecia se recuperar e isso que importava. A sua vontade de cozinhar para o loiro lhe cutucou e por pouco Harry não prometeu a si que assim que pisasse em casa novamente faria a banana caramelizada.

Porém algo na sua intuição lhe dizia que Draco estava quase vulnerável ao toque da própria consciência tão relapsa. O pedido de desculpas para o moreno viria antes mesmo que ele conseguisse torrar o açúcar.

- Harry! Por Merlin rapaz! Lhe dei cinco minutos! Não a eternidade! – Declarou Robert apreensivo com o atraso de seu apanhador.

- Não faz drama treinador, estava só checando se Draco estava bem.

- E está, Harry?

- Sim, se ele não mentiu para mim, acho que sim.

- Ótimo, ótimo. Vamos, os rapazes estão esperando. Tive de inventar que você estava trancado no banheiro com uma baita dor de barriga, não vá me desmentir, Harry. Esse seu pulinho em casa é um segredo, entendeu? Se não estou perdido com todo mundo querendo ir checar como a família está.

- Certo treinador, relaxa, se quiser até faço cara de dor de barriga!

- Não precisa Harry, só treine como sempre e mostre todo o seu talento na final, que você terá quase sempre tudo o que quiser de mim!

- Okay, sou todo seu... Ou quase!

Harry saiu rindo porta a fora, até onde o resto do time os aguardava para pegar enfim a chave de portal, na companhia de Robert que começava falar antecipadamente o que queria dele na pratica do dia seguinte. Seria uma longa semana.