NOTAS DO AUTOR:

Yo, yo!

E vamos de mais um capítulo, estreitando a convivência entre o Itachi e a Sakura.

Espero que gostem!

Boa leitura!*~

[…]

CAPÍTULO 5 - EXÓRDIO

[…]

Kurasugite mienai dake sa…

Só que está escuro demais para ver…

[…]

Sakura tensionou o maxilar diante daquelas palavras que inevitavelmente a afetou como uma acusação, quase pôde ouvir "Agora você é como eu. Uma traidora.".

Involuntariamente sua cabeça abaixou, o olhar caiu ao chão conforme assimilava a culpa.

Se ele dissesse aquelas palavras estaria certo. Ela traiu a confiança de sua Mestra ao confundir o ANBU. O que estava acontecendo com seu juízo?

Ouviu passos e percebeu que Itachi se aproximava. Viu os pés dele pararem em sua frente, há uma pequena distância, e automaticamente seu corpo inteiro enrijeceu.

— O ANBU não demorou a perceber que era só um Kage Bunshin, mas não se preocupe, resolvi isso.

A reação veio primeiro que o raciocínio. Sem perceber ergueu a cabeça e o encarou. Olhou profundamente naquelas perigosas íris carmesim com três vírgulas negras ligadas por um círculo destacando-se em torno das pupilas. Mergulhou naquele olhar que carregava sangue e encontrou a morte, contudo, encontrou também solidão. Foi por milésimos de segundos, mas suficientes para que seu coração complacente se entristecesse por ele.

Inexplicavelmente imaginou o quão infeliz Uchiha Itachi era para transbordar tanto sofrimento por aquele olhar duro e temerário.

Quando se deu conta do perigo eminente ao encarar o Sharingan, baixou o olhar e a cabeça novamente, engolindo a seco.

— Você-… — engoliu a seco mais uma vez e limpou a garganta com um pigarro para desobstruí-la, pois o que disse não passou de um sussurro medroso: — …você o matou?

Sentia que Itachi a encarava intensamente, pois, de repente, seu corpo estava pesado, como se toneladas oprimissem-no, mas não ousou olhá-lo nos olhos, principalmente porque ainda tentava ter a certeza de que o descuido de encará-lo não a prendeu num Genjutsu.

— Não. — ele respondeu, a voz soberana tremulou seus tímpanos de maneira que arrepiou-lhe o corpo gradativamente; primeiro a nuca, depois com um choque percorrendo a espinha de cima para baixo, os braços, depois as pernas, até não lhe restar centímetro algum relaxado. Era agonizante temê-lo e ainda ter que ficar em sua presença. — Só reforcei seu plano de fazê-lo seguir aquele Cloneacreditando que é você.

Ela assentiu, desconfortável de estar sob o olhar dele e recuou um passo, necessitando de uma distância considerável para que seus pulmões sentissem que pudessem respirar sem opressão, e quando menos esperava, ouviu a própria voz preencher aquele silêncio incômodo.

— Obrigada.

Observou o corpo dele, que estava em processo de se virar para dar início a viagem deles, paralisar por um momento, talvez por surpresa, por não esperar que ela agradecesse, assim como ela mesma não esperava, afinal, o que pensava que estava fazendo? Uma pessoa como ele não sabia o significado de um agradecimento, na verdade, indo mais a fundo, provavelmente nem diferenciava-o mais de qualquer outra coisa. Um assassino não diferia inocentes de culpados, agradecimentos de pedidos, não sentiam, não conheciam a empatia, menos ainda compaixão. Seu agradecimento não passou de um desperdício e terá que se acostumar a não usá-lo mais e a falar o menos possível também, caso queira continuar viva.

O som de passos se afastando chamou sua atenção e então ergueu a cabeça, o vendo caminhar calmamente. Ele não a chamou, mas como sempre, usou a dedução para reagir; o seguiu mantendo alguns passos de distância.

O trajeto foi terrivelmente silencioso e agonizante. Itachi andava calmamente, por mais que fosse um procurado e se mantinha tão silencioso quanto a brisa fraca noturna, que nem um baixo assovio ousava causar.

As consequências de estar há mais de 96 horas ininterruptas acordada e a base de pílulas de reposição de Chakra já mostravam sinais dos efeitos colaterais. Ela sentia o corpo todo trêmulo, ainda que não se tratasse de um fator psicológico naquele momento, e sua pressão caiu bruscamente, causando náuseas e latentes dores espalhadas por cada parte do seu corpo.

Na última respiração um pouco mais profunda, não conseguiu frear o enjoo repentino, nem o reflexo de cair sobre os joelhos e curvar-se para frente o mais ágil possível, vendo um líquido amarelo, espumante e pegajoso ser expelido violentamente de sua boca, espalhando-se pela terra.

De esguelha observou os pés dele próximos e realmente, irracionalmente mais uma vez, pretendia desculpar-se por atrasar o percurso, mas seu estômago parecia determinado a envergonhá-la ainda mais, forçando a expulsão de mais daquele líquido.

Automaticamente ela levou uma mão no estômago, já acumulando Chakra de Cura para corrigir o que quer que estivesse de errado; obviamente sabendo que era ele estar sem nenhum suprimento alimentar há dias, com exceção de uma maçã e uma xícara de chá. A outra mão levou à cabeça, prendendo os fios róseos que insistiam em cair sobre sua face.

A surpresa veio mesmo quando sentiu uma mão quente sobre a sua, segurando fios róseos que escaparam de seu agarre. Teria engatado a respiração se conseguisse frear o expurgo involuntário de seu estômago.

Na ausência de qualquer palavra por parte dele, dominou a surpresa e concentrou-se em parar aquele vômito, intensificando a aplicação de Chakra de Cura em seu órgão. Longos minutos se passaram quando finalmente conseguiu algum resultado.

Constrangida, tentou se endireitar o máximo possível, soltando seu cabelo e o obrigando a fazer o mesmo. Não tinha coragem suficiente para olhá-lo, não depois de tal momento vergonhoso, mas ao menos conseguiu se conter em agradecê-lo mais uma vez.

De cabeça baixa, limpou a boca com um lenço de pano que tinha em seu coldre traseiro e com a outra mão continuou curando seu órgão afetado pela sua irresponsabilidade de não ingerir alimento por tanto tempo.

Itachi, depois de ter plena certeza de que ela não vomitaria mais, levantou-se, observando-a levantar também.

Sem palavras para preencher o silêncio ambos retomaram a caminhada que não durou mais do que meia hora, pois Itachi parou numa clareira aberta.

— Descanse aqui. Deixarei um Clone para assegurá-la.

— Para onde…? — Sakura prendeu o restante da frase afobada na garganta e a engoliu junto de inúmeros pregos garganta abaixo.

Respirou fundo, controlando o medo de que ele voltasse para a Vila e tentasse algum ataque. Céus, estava tão insegura de estar ao lado de uma pessoa que não conhecia e que não sabia o que queria de si, que qualquer movimentação a fazia pensar o pior envolvendo aqueles que amava, porque ela não temia por si, já que morrer poderia ser considerado um prêmio. Temia somente por eles.

— Não vou voltar para Konoha. Não há mais nada que me interessa lá.

Itachi era bom em lê-la, sempre muito assertivo sobre seus medos como se pudesse ouvir seus pensamentos, mas o que ela não sabia era que ele, de certa forma, realmente podia. Os astutos, experientes e oniscientes olhos carmesim com vírgulas negras liam-na com facilidade. Por incrível que parecia, ao olhar para aquela jovem garota de grandes olhos verdes e exóticos cabelos róseos, via ingenuidade e pureza. Ele podia saber cada pensamento que se passava pela mente dela. E por mais que aqueles olhos tivessem o fardo de ver apenas morte e sangue, ele passou a apreciar o que ela lhe proporcionava.

Surpresa por ele ter lhe respondido, abaixou a cabeça assentindo levemente e se sentou sobre os calcanhares, o aguardando se retirar para se acomodar devidamente e tentar embarcar num descanso inevitável; seu corpo estava exausto demais para abusar mantendo-se acordada por mais uma madrugada.

Como garantiu, ele fez um Clone e usando Chakra para acelerar sua velocidade, sumiu por entre as árvores. O Clone se afastou um pouco e se sentou contra uma árvore, fechando os olhos como se meditasse.

Sem ter outra escolha, Sakura tirou a mochila das costas e retirou o saco de dormir, deitando-se em seguida.

Inicialmente achou que teria dificuldade em dormir, mas assim que fechou os olhos se perdeu em pensamentos aleatórios e abstratos até mergulhar em seu interior num sono pesado o bastante para impedi-la de ter um sonho ou até mesmo pesadelo.

Quando despertou, os primeiros raios solares tocavam e aqueciam sua pele. A sensação era confortável e acolhedora, fazendo-a desejar prolongar aquele estado despertativo. O coração estava incrivelmente preenchido de uma rara calma. Tranquila e inconsciente de sua atual posição de "refém", espreguiçou-se e foi tão bom que em reflexo esboçou um pequeno sorriso. Fazia tantos meses que não acordava tão bem e disposta que nem se lembrava mais como era não estar em prantos e aflita, então aproveitou, aproveitou o máximo que pôde até sua mente voltar a funcionar com força total, fazendo-a se sentar num movimento brusco, desfazendo o sorriso e deixando o corpo inteiro tenso.

O olhar esmeraldino percorreu pelo espaço à sua volta, encontrando ao lado de seu saco de dormir uma pequena fogueira já quase apagada.

Não havia fogueira alguma quando foi dormir e o fato de alguém tê-la feito enquanto dormia, sem despertá-la, a preocupou. Era possível que estivesse tão cansada a ponto de se tornar descuidada daquele jeito?

Atordoada pela própria irresponsabilidade se levantou apressada e com os olhos continuou vasculhando o local, não encontrando Itachi ou o Clone dele. Onde estava?

Por alguns segundos sentiu-se esperançosa em estar sozinha, mas logo caiu em si.

Esperançosa pelo quê?

Um sorriso recheado de escárnio domou os próprios lábios e logo a cabeça balançava negativamente conforme dobrava o saco de dormir para guardá-lo.

Por mais que ele tivesse deixado um clone para vigiá-la, não se sentia como uma refém. Estava mais para… não sabia dizer, mas poderia ser qualquer coisa que não envolvesse sequestro. Ele não era amigável, mas também não a tratava com hostilidade. Oh, é mesmo… ele segurou seu cabelo enquanto vomitava, mas talvez aquilo não fosse um ato amigável e sim de pena. Era lamentável observar alguém se afogar no próprio vômito e se sujar com isso. Contudo, realmente se surpreendeu de ele ter feito aquilo, afinal, aquele homem foi responsável pelo genocídio do Clã Uchiha e também por torturar o irmão quando o viu; Naruto lhe contou sobre Itachi aparecer, dar uma surra no Sasuke e depois prendê-lo num Genjutsu e ela viu como o garoto ficou depois. Mais um trauma para afetá-lo. De qualquer maneira, o responsável por tudo aquilo não parecia inclinado a sentir pena de alguém.

Sentiu uma presença atrás de si e rapidamente empunhou a Kunai defensivamente, virando-se. A respiração só desengatou quando o viu se aproximando calmamente. Quase soltou um "É você.", mas manteve-se em silêncio. Itachi não parecia ser do tipo que gostava de ouvir coisas desnecessárias, tanto quanto o irmão caçula.

Sabendo que uma Kunai não o pararia caso quisesse matá-la, a guardou e voltou a mexer na mochila, retirando itens de higiene pessoal.

Seu "sequestrador" ou o Clone dele, deixou um balde de madeira cheio de água aos seus pés e afastou-se sem dizer nada.

Tentou reprimir a surpresa de domar sua face, mas já era tarde, por sorte ele estava de costas.

Sem cerimônias se aproveitou de que ele não a observava e conferiu a integridade da água. Era perita em venenos, saberia distingui-los em quaisquer circunstâncias.

Rapidamente identificou que era limpa e segura e a bebeu com tanta pressa e necessidade que quase se engasgou, depois a usou para se higienizar, inclusive o corpo, com um pano umedecido sob a roupa. Assim que terminou, ele se aproximou, entregando-lhe frutas, que devido à dor de estômago por fome aceitou depois de também conferir se havia sido alterada, comendo como uma selvagem.

Eles começaram a caminhada enquanto ela ainda saboreava um pêssego. O silêncio já não a incomodava mais tanto, no entanto, naquela circunstância, seu cérebro tinha tempo e chance de pensar no que não deveria, inclusive levantar perguntas para sua situação, deixando-a aflita e ansiosa. Hábitos adormecidos desde que o encontrou retornaram. Viu-se mordendo o interior da bochecha e, quando sentia o gosto de ferro juntar-se à sua saliva, intercalava com o lábio inferior. A compulsão rapidamente espalhava-se para o resto de seu corpo, dominando as mãos, que tamborilavam no ar repetidamente, ou nos pés numa brincadeira de não pisar em pedras ou qualquer relevo do chão.

Ora ou outra faziam uma pausa. Itachi parecia categórico quanto a mantê-la saudável, porque pontualmente nos horários que acreditava ter estipulado a si mesmo, ele a mandava descansar enquanto saía e quando retornava trazia o que caçou para um assado ou ensopado.

O dia passou rápido e lá estava ela ouvindo Itachi dizer novamente que deixaria um Clone para "assegurá-la", de impedi-la fugir, como completava em sua mente.

Ela se arrumava para deitar e dormia assim que fechava os olhos.

Já fazia seis dias que seguiam aquela rotina, sem tirar nem pôr, apesar de ele ter oferecido uma variedade maior de frutas nos últimos dias, pois as frutas locais de onde estavam eram outras, dando a certeza à Sakura de que já haviam saído do país do Fogo.

No sétimo dia, Itachi lhe deu um manto negro com uma toca. Mandou-lhe usar e evitar olhar ao redor. De início não compreendeu o motivo de tal ordem, mas quando adentraram um pequeno vilarejo compreendeu. Era um vilarejo militar clandestino e seus habitantes eram mercenários dos mais altos escalão de periculosidade. Reconheceu um rosto ou outro que ela mesma ajudou a capturar e entregar para a inteligência de Konoha e que pelo visto conseguiram fugir. Seria problemático se fosse reconhecida.

Distraída, trombou nas costas do Itachi, que parou bruscamente.

— Desculpe. — sussurrou, por sorte baixo demais para alguém além dele ouvir, pois a frente dele estava uma pessoa envolta de um poderoso Chakra.

A pressão do ar sofreu uma mudança brusca e mesmo com a cabeça baixa esforçava-se para assistir o duelo visual entre o Uchiha e ele. O Sharingan não parecia intimidá-lo e isso a assustava. Quem diabos não se intimidaria pelo Sharingan?!

— Orochimaru está morto. Dizem que foi ele. — o homem com uma voz assombrosa, como um sussurro da morte, informou, fazendo Sakura ligar os pontos e arregalar os olhos com ambas as informações; Orochimaru estava morto e quando o homem disse "ele" se referia a Sasuke. Quis se intrometer, dar voz a todas as perguntas desesperadas que surgiam uma após a outra, mas o homem emendou o monólogo: — E ele foi visto em um vilarejo próximo a Otogakure. Parece estar a procura de alguns Ninjas específicos para recrutar.

— Com qual propósito? — Itachi finalmente se pronunciou, fazendo o coração de Sakura quase saltar pela boca.

O tom obscuro a fez estremecer dos pés à cabeça, obrigando-a a engolir, ainda que com dificuldade, a saliva. Era nítido que quando se dirigia à ela, ele era bem menos assustador. Fora o Chakra enfurecido que ele emanava, deixando-o ainda mais obscuro do que já era. A calma dele advertia qualquer um de que era poderoso e perigoso o bastante para matar uma pessoa sem que ela notasse.

— Ninguém sabe, mas acho que deve se preparar. Não é segredo ele querer sua cabeça.

O Uchiha entregou um envelope para o homem que o pegou, abriu e conferiu a quantidade de notas presente. Era uma alta quantia de dinheiro. Suborno.

Quando Itachi começou a caminhar, Sakura o seguiu e não demorou para ouvirem a voz daquele homem mais uma vez, que a deixou nervosa com o que perguntou.

— Quem é ela?

Seu "sequestrador" cessou os passos e o olhou por cima dos ombros. A escuridão e o perigo cintilavam pelas orbes carmesim direcionadas a outro alvo, lhe dando a oportunidade de fitá-las, e Sakura abaixou ainda mais a cabeça, desviando o olhar quando a intensidade da fúria de Itachi para com o homem tornou-se insuportável.

— Ninguém que seja da sua conta.

Havia um tom de advertência e uma clara ameaça, mas Itachi se virou e retomou os passos como se não tivesse mais nenhuma pendência para resolver com aquele homem e Sakura, apesar de sentir um frio na barriga, apressou-se em segui-lo, mantendo a cabeça baixa.

Aquele era o homem frio e perigoso que dizimou seu Clã a nada, que torturou seu irmão e que poderia matá-la depois de usá-la para o que quer que fosse e então teve um breve vislumbre do ódio que a euforia de ter um novo propósito oprimiu. Seu interior queimava com aquele sentimento corrosivo. Inexplicavelmente lembranças de todas as vezes que Sasuke sofreu vieram à tona a fazendo julgá-lo um ser desprezível e condená-lo por causar tanto sofrimento.

Ela sentiu as mãos fecharem e pela primeira vez cogitou atacá-lo de surpresa e até mesmo matá-lo; seu corpo estava quase inteiramente recuperado e apesar de sua reserva de Chakra não estar inteiramente completa, tinha uma quantidade formidável disponível, quantidade essa que, junto de seu ótimo controle e inteligência, poderiam causar um grande estrago, mas não o suficiente para matá-lo…

Frustrada, encarou a silhueta masculina envolto do manto negro com nuvens vermelhas. Fechou os olhos com força, sentindo-se como há muito tempo não se sentia: fraca e inútil. Do que adiantou tanto esforço e sofrimento com treinos rígidos se não poderia matar a única pessoa que tinha interesse?

Os olhos reabriram e com isso surgiu um pensamento: por que ela tinha interesse em matá-lo?

Sasuke merecia sua devoção daquela maneira, a ponto de distorcer seus princípios e fazê-la odiar e querer matar alguém?

Mais uma vez o egoísmo elevou seus interesses aos interesses do Uchiha mais novo. Não podia negar a curiosidade de saber o motivo de Itachi buscá-la.

A mente agitada ocupava-se com possibilidades.

Poderia Itachi realmente querer usá-la para atrair Sasuke? Seria tolice! O homem sequer era capaz de olhá-la sem desprezá-la, por Deus!

Diferente das noites anteriores, Itachi entrou em um tipo de pensão e reservou um quarto para duas pessoas. Estranhando, ela apenas o observou receber as instruções e as chaves em silêncio e dirigir-se à escada, sabendo que ela estava logo atrás.

Ele foi o primeiro a entrar no quarto, mandando-a aguardar do lado de fora. Depois de conferir o local, a mandou entrar.

Ela deixava a mochila sobre a cama quando ele anunciou que usaria o banheiro e que poderia fazer o mesmo depois que saísse, muito provável no intuito de deixá-la se preparar reunindo os itens de higiene.

Quando saiu do banheiro, já não usava mais o habitual manto negro com nuvens vermelhas. Trajava a calça Ninja e uma camiseta preta lisa de gola alta frouxa. Também não calçava mais as botas Ninjas, estava descalço. Os longos fios lisos negros estavam soltos e úmidos, gotas pigavam de alguns fios. Ele deixou o manto e seus coldres sobre uma cadeira ao lado da porta do banheiro, despreocupado de estar na presença dela, que deveria ser considerada um inimigo, mas então Sakura se lembrou que o maior poder de um Uchiha estava nos olhos e logo se sentiu desnecessariamente ofendida.

Odiava o modo como sua mente sempre trabalhava para fazê-la se sentir inferior.

Respirou fundo e ignorou tal crise existencial, concentrando-se nos fatos. Ao redor, haviam inúmeros Nukenins que fariam qualquer coisa para ter sua cabeça numa bandeja e só aquele pensamento a fazia paralisar, sentindo o ar ficar denso e o local tenebrosamente sombrio.

— Vamos-… — hesitante, iniciou a frase, até perceber que a voz estava tão trêmula e fraca quanto ela mesma devido ao medo crescente. Umedeceu o lábio inferior e fixou o olhar no móvel ao seu lado a fim de reunir coragem de continuar o que começou a perguntar: — …vamos passar a noite aqui?

Sentiu o olhar dele sobre si e obrigou-se a ficar imóvel ou acabaria se encolhendo por reflexo.

— Sim. — ele respondeu depois de algum tempo e andou em sua direção, passando por si e cessando os passos somente quando chegou à janela, onde abriu e se sentou no parapeito, dobrando um dos joelhos e apoiando um cotovelo sobre ele conforme a cabeça se virou inteiramente para fora, os olhos carmesim fixos na paisagem negra sob o luar.

Inexplicavelmente aliviada por não tê-la atacado ou qualquer coisa hostil do gênero depois de andar em sua direção, fechou os olhos por breves segundos antes de pegar as coisas que havia separado em cima da cama e seguir para o banheiro, no intuito de tomar um longo banho.

Depois de tantos dias sem um banho decente, se deu o luxo de relaxar sob a água quente. Banhou-se com calma, aproveitando cada instante para se aliviar da tensão contínua de estar ao lado de um homem que apesar de não ter feito nada contra si até o momento, não deixava de ser um Nukenin perigoso que lhe causava um medo crescente e tóxico.

Bons minutos depois, se enxugou sem pressa e colocou outro traje de missão para poder lavar a que usou por todos aqueles dias. Na metade inferior do corpo optou por um short simples e justo preto e sua habitual saia curta de avental, mas que era da cor preta também. Na metade superior uma camiseta padrão preta sem mangas e nos cotovelos os protetores negros. A partir do momento que decidiu deixar a Vila, perdeu o direito de usar o símbolo de seu Clã.

Calmamente enrolou, sobre o shorts, uma faixa na coxa direita para prender o coldre lateral, depois o equipou.

Saiu do banheiro descalça também, com os cabelos ainda úmidos e seu olhar caiu sobre Itachi, ainda na mesma posição sentado na janela.

Tantos dias o vendo deixá-la com um Clone a permitiu saber diferenciar quando era o original e quando não era e naquele momento via o original, enchendo-a de dúvidas mais uma vez.

— Não vai deixar um Clone desta vez?

A petulância atravessou seu discernimento e quase praguejou tamanha ousadia de sua parte, desviando o olhar para o chão e a cabeça para o lado oposto em que ele estava quando o viu mover a cabeça em sua direção.

— Não.

Coibida, ela assentiu e caminhou até a mochila, no outro extremo do quarto. Deixou as roupas sujas que lavaria depois e tirou seu saco de dormir, mas antes que o estirasse no chão, paralisou ao ouvir a voz grave e firme dele.

— Durma na cama esta noite.

Até mesmo sua respiração paralisou. Imóvel, não ousou sequer levantar a cabeça.

Ouviu direito?

Uma epifania desesperadora a fez involuntariamente arregalar os olhos e de repente sentiu as bochechas arderem intensamente. Ele não seria capaz de usá-la para fazer aquilo, certo?

— Ficarei de vigia. — ouviu-o explicar em tom menos rígido e a ardência nas bochechas espalhou-se para o rosto inteiro, forçando-a a ficar de costas para ele.

Não acreditava que sua mente suja chegasse a cogitar tal coisa. Era uma afronta consigo mesma!

— Sim, claro. — ela resmungou, odiando-se por passar por tanto constrangimento, contudo ficando plenamente aliviada.

Se Sakura olhasse para trás, veria que um sorriso discreto formou-se nos lábios de Uchiha Itachi e que mesmo sem estar consciente, pela primeira vez em sua vida, ainda que por segundos, ele se divertiu.

[…]

NOTAS FINAIS:

O trecho em negrito e itálico no início do capítulo é da música Dream Scape – Yuki Kajiura.

Kage Bunshin – Refere-se ao Kage Bunshin no Jutsu / Técnica Clone das Sombras.

Nukenin – Ninja Renegado.

Aí aí… que vergonha hein, Dona Sakura?! Pensando besteira kkkkkkkk

Mas, convenhamos, não é, meninas? Não dá para NÃO pensar besteira perto do Itachi *-*

E falando sério… tivemos aqui uma pista sobre qual parte da história estamos na obra original. Sasuke matou o Orochimaru e já está em ação à procura dos integrantes do futuro Time Hebi hihi

Bom, é isso! Comentem para motivar, faz toda a diferença!

PRÓXIMO CAPÍTULO: Acerco.

DATA DA POSTAGEM: 24/05/2021.

Até a próxima!*~