EPOV
Já havia anoitecido quando voltamos para o hotel. Não tinha sequer uma única nuvem atrapalhando a visão da Lua e estrelas que pontilhavam o céu negro. Minha irmã e cunhado foram para suas suítes enquanto eu e Isabella fomos para a nossa, precisávamos tomar banho e descansar antes do jantar.
Como já havia se tornado costume naqueles poucos dias de viagem, Isabella foi primeiro, enquanto eu fiquei sentado na varanda apreciando a brisa agradável que soprava e observando as constelações. O céu naquela região parecia mais próximo, era quase ridículo o quão fácil era identificar as estrelas ali presentes. Eu estava completamente relaxado, estar em um lugar como aquele transmitia uma sensação de paz que a muito tempo eu não sentia.
– Ei, já terminei – ouvi a voz de Isabella e me virei para trás. Ela estava secando o cabelo com uma toalha, usava um short jeans escuro e uma camiseta larga com os dizeres "University of Washington".
Aquilo me fez lembrar de quando a conheci, ela tinha o cabelo preso em um coque desajeitado e segurava uma caneca exageradamente grande e cheia de café quando abriu a porta do apartamento que dividia com Alice. Percebi que a estava encarando por tempo demais quando suas bochechas se tornaram rosadas, me apresentei e ela logo me reconheceu como irmão de Alice, me convidando para entrar.
Alice não estava em casa, havia saído com Jasper, mesmo sabendo que eu estava indo para Seattle vê-la. Na época isso me passou despercebido, mas lembrando agora, talvez ela já estivesse colocando seu plano em prática. Alice nunca gostou de Jessica, hoje vejo que ela sempre teve razão. Passei horas conversando com Isabella aquele dia e, apesar de não termos tantas coisas em comum na nossa lista de interesses, nos demos imediatamente bem.
– Edward? – Isabella estalou os dedos na frente do meu rosto, eu ainda estava encarando a estampa de sua camiseta. Levantei o rosto e encontrei seus olhos, ela sorriu – Você está bem?
– Sim – sorri em resposta e me levantei. O cheiro de morangos de Isabella me atingiu, me deixando um pouco atordoado. Novamente senti o impulso de tocá-la, passar a ponta dos meus dedos por sua pele, sentir seus lábios novamente nos meus, mas dessa vez de forma que eu pudesse apreciar seu sabor.
"O que caralhos você está pensando, Edward?", me repreendi.
Comecei a andar para dentro do quarto, talvez estivesse colocando força demais em meus passos, considerando o barulho que meus pés estavam fazendo ao tocar o chão, mas sentia que se deixasse de fazer isso, meu corpo me desobedeceria e me levaria na direção errada, para ela.
Peguei as roupas que já havia separado e estavam dobradas sobre a cama e me virei, Isabella estava encostada no batente da porta da varanda me olhando com o cenho franzido, provavelmente tentando entender meu comportamento. Bem, se ela entendesse e quisesse me explicar, eu agradeceria. Ou talvez não.
– Tente não demorar, Allie e Jazz já devem estar vindo para cá. Provavelmente tomaram banho juntos – revirou os olhos.
– Se eles resolveram tomar banho juntos, aí mesmo que eu posso demorar à vontade – me arrependi do meu comentário quase que imediatamente, não queria imaginar minha irmãzinha fazendo certas coisas. Balancei a cabeça e fui para o banheiro.
Como previsto, eu estava certo. Tomei meu banho, me vesti, voltei para o quarto e fiquei cerca de meia hora deitado na cama assistindo um filme que passava na tevê antes de finalmente ouvirmos o barulho de batidas soando na porta.
Ligamos para o restaurante para pedir nossa comida e continuamos assistindo o filme, Alice reclamou algumas vezes que não estava entendendo a história já que havia pego o filme pela metade.
– Se não tivesse ficado transando, teria assistido do começo – Isabella rebateu.
– Ah, eu não me arrependo – minha irmã olhou para Jasper com um sorriso malicioso no rosto, bufei – Edward, nem vem, se você não transa não é culpa minha.
– Eu transo – ela, Isabella e Jasper me olharam ao mesmo tempo – O que foi?
– Você transa? – meu cunhado riu – Edward, não precisa mentir pra gente, ninguém aqui vai te julgar.
– Eu vou, um pouco – disse Alice enquanto tentava nada discretamente pegar o controle da tevê.
– Me devolve isso – o peguei de volta – Você não vai voltar o filme, já está quase acabando e eu não vou ver tudo de novo. Assista sozinha depois – ela resmungou algo, mas desistiu.
– Então, com quem você tem transado, uh? – perguntou.
– Não é da sua conta.
– Você está mentindo.
– Caralho, Alice, para de ser chata. Eu só não gosto de ficar falando, ok?
– E porque não?
– Por que seria escroto pra caralho? – Isabella respondeu por mim – Edward está certo, ele não tem que ficar contando quem ele come por aí.
– Ei, também não é assim – interrompi – Não estou comendo ninguém por aí – fiz questão de dar ênfase nas últimas duas palavras, onde Isabella achava que eu estava arranjando minhas fodas?
– Foi modo de falar – ela riu – De qualquer forma, é legal que você não fique falando essas coisas.
Alice revirou os olhos e balançou a cabeça.
– Vocês dois são totalmente xaropes, deveriam namorar de verdade, a chatice de vocês se completa.
Vi uma almofada voando em direção ao rosto de Alice e percebi que Isabella a havia atirado. Minha irmã gargalhou e então – finalmente – calou a boca. Faltava cinco minutos para o filme acabar quando bateram na porta, nossa janta havia chegado.
Tiramos as bandejas de cima do carrinho e servimos a comida sobre a mesa de centro do quarto, então nos sentamos em volta da mesma. Comemos enquanto assistíamos a mais um filme, em meio a risadas que se tornavam cada vez mais exageradas conforme a garrafa de vinho ia esvaziando. Quando terminamos, ainda não estava tarde e decidimos prolongar nossa noite – infelizmente, o restaurante já havia atingido seu horário limite, então eu e Jasper fomos até o bar do hotel, que funcionava até bem mais tarde, para comprarmos algumas bebidas.
Pedimos as bebidas e aguardamos enquanto o bartender ia buscar as garrafas.
– Então... – Jasper começou – Eu nunca tinha percebido que você era do tipo ciumento, nem mesmo com Jessica você era assim.
Eu o olhei intrigado, do que caralhos ele estava falando? Jasper continuou me encarando como se estivesse esperando que eu entendesse sobre o que era aquele assunto.
– Qual foi, Edward. Eu sou seu melhor amigo.
– Jasper, sinceramente, eu não faço ideia do que você está falando – ele revirou os olhos e se apoiou na bancada.
– Eu também percebi o jeito que aquele cara da reserva estava olhando para Bells. Mais do que isso, vi o jeito que você olhou para ele.
– De que jeito olhei para ele? – me virei quando vi o bartender se aproximando com uma sacola com as bebidas. Ele me passou o preço e eu lhe dei o número do quarto e nome completo, pedindo para que colocasse na minha conta, havia acabado de perceber que esqueci de pegar meu cartão.
– Como se você quisesse arrancar a cabeça do cara com um chute? – ele disse quando começamos a andar para fora do bar.
– Eu tenho certeza de que isso é humanamente impossível.
Ele colocou a mão no meu peito me fazendo parar de andar.
– Você ficou com ciúmes da Bella.
– Não fiquei não.
– Caralho Edward, como você conseguiu se formar em medicina e se tornar um dos melhores cardiologistas de Seattle sendo tão burro?
– Obrigado pela ofensa gratuita – ironizei – Eu não sei de onde você tirou isso.
– Parceiro, você viu tua namorada de anos na cama com outro e simplesmente saiu do apartamento e mandou a Allie buscar suas coisas no dia seguinte, mas aí vê alguém olhando para Isabella e fica todo irritadinho? Qual foi.
Continuei encarando Jasper, torcendo para que ele dissesse mais alguma coisa, só para que eu não precisasse falar nada. Em um ponto ele tinha razão – minha reação inicial quando cheguei ao meu apartamento e encontrei minha namorada me traindo não foi a esperada. Acredito que qualquer pessoa em uma situação como essa, no mínimo, arrumaria uma briga, ou algo assim. Mas eu apenas dei meia volta e saí por onde entrei. Em primeira instância, se eu for ser bem sincero, fiquei mais incomodado com o fato de ter que procurar outro lugar para morar do que com o fato de que Jessica estava dando de quatro para outro em nossa cama.
É claro que depois eu entrei em uma fossa fodida, mas, segundo Jasper, minha reação estava mais ligada com a quebra de confiança do que com a situação em si.
– Você está vendo coisa onde não tem.
– Não fui o único.
Ah, claro que tinha dedo da Alice nisso.
– Eu não fiquei com ciúmes.
– Beleza, continua dizendo isso, quem sabe você comece a acreditar.
Controlei minha vontade de revirar os olhos e nós voltamos a andar, nosso curto período de tempo no elevador foi passado completamente em silêncio, mas quando entramos no quarto foi como se nossa conversa anterior não tivesse acontecido.
Para minha sorte, ao contrário de Alice, Jasper era uma pessoa muito discreta.
– Vocês demoraram – Isabella falou, me sentei ao seu lado no chão e coloquei as bebidas na mesa.
– Foi mal, o bar está lotado – menti.
Passamos as duas horas seguintes bebendo e rindo – ou melhor dizendo, gargalhando. Vez ou outra Isabella apoiava a mão que não segurava sua taça de vinho em minha perna ou inclinava seu corpo demais em direção ao meu para falar algo, e eu me lembrava da conversa que tive com Jasper.
Cada vez que eu voltava a pensar nas palavras de meu cunhado, mais caía minha ficha de que sim, ele estava certo. Não era normal sentir aquele tipo de irritação porque alguém olhou para sua amiga, que por acaso está fingindo ser sua namorada, com segundas intenções. Aquilo havia me deixado enciumado. Era tão idiota, eu não tinha nenhum direito de me sentir assim, mas me sentia de qualquer jeito, era mais forte do que eu.
Alice deu um grito e eu fui sugado para fora da minha bolha de pensamentos.
– Vai ser incrível! – exclamou animadamente. Isabella havia cedido aos pedidos de minha irmã e aceitado passar o dia no spa do hotel em sua companhia.
Em algum ponto acabei aceitando ir para a academia com Jasper pela manhã, o arrependimento foi imediato.
– Bom, acho melhor irmos, já está tarde – ele disse, Alice automaticamente fez um beicinho.
Eles foram embora depois de quase meia-hora de despedidas. Porque pessoas embriagadas são assim? Isabella foi ao banheiro jogar uma água no rosto e escovar os dentes, fiz o mesmo assim que ela saiu.
Saí do banheiro e encontrei Isabella estirada transversalmente na cama, com seus membros superiores e inferiores abertos e ocupando cada centímetro da superfície macia. Parei ao lado da cama e a encarei por muito tempo enquanto ela me encarava de volta sem mexer um músculo sequer.
– Mas que porra...? – comecei, Isabella riu alto – Não vai me deixar me deitar? – ela negou com um breve movimento de cabeça.
Continuei olhando para a mulher na cama, tentando entender o que se passava em sua mente. Eu já a tinha visto bêbada incontáveis vezes e era sempre um show à parte.
– Isabella, eu vou me deitar em cima de você – ameacei – Estou com sono.
– Gostaria de vê-lo tentar – provocou, um sorriso sacana se formando em seus lábios. Se ela achou que eu estava blefando, achou muito errado.
Deitei-me sobre ela com cuidado para não depositar todo o meu peso e acabar machucando-a. Isabella riu e se contorceu embaixo de mim.
– Tudo bem, desculpa! Desculpa!
Seu rosto estava vermelho e ela tinha lágrimas nos olhos devido a risada, ela se moveu para deitar-se em seu lugar como uma pessoa normal e então se virou para me olhar, deitando de lado.
– Isso foi divertido – falou.
– O que? – perguntei me virando para ela – Eu ter deitado em você? – ela concordou – Se me queria em cima de você, Isabella, era só pedir – me arrependi do que estava falando assim que ouvi as palavras saindo da minha boca.
Isabella apenas sorriu, ela parecia estar em outro mundo.
– Você sempre fica assim quando bebe vinho – não era uma pergunta, mas ela concordou.
– Foi um bom dia – sua voz estava um pouco arrastada, um pouco rouca, sexy pra caralho. Me repreendi mais uma vez por esse pensamento.
– Sim, foi um bom dia.
Seus olhos estavam pequenos devido ao seu sorriso, eu amava isso em Isabella. Comecei a sorrir involuntariamente. "Maldito álcool", pensei. Isabella demorou a falar novamente e eu achei que ela estivesse dormindo.
– Você tem um sorriso bonito – falou, seus olhos minimamente abertos.
Fiquei em silêncio, tive medo do que sairia da minha boca se eu ousasse abri-la. Continuei olhando para Isabella enquanto seu sorriso se desmanchava em seus lábios rosados. De novo aquela necessidade infernal de toca-la me atingiu, eu queria senti-la de todas as formas possíveis. Me perguntei o que ela faria se eu tentasse... Provavelmente ela ficaria chocada, depois com raiva, por fim nossa amizade nunca mais seria a mesma – isso se ainda houvesse amizade.
– Uma moeda pelos seus pensamentos – ela disse, seus olhos se fechando lentamente.
Demorou um pouco para que eu respondesse.
– Eu quero você, Isabella – falei por fim. Que se foda, só se vive uma vez, certo? Mas agora ela havia realmente adormecido.
