CAPÍTULO 5

Hermione dormiu um pouco melhor, mas acordou mais indisposta ainda. A cólica menstrual que começou mansinha durante a noite, agora veio com tudo. Era sempre assim, um dia antes, mas raramente precisava tomar analgésico para poder suportar. Agora estava ali, jogada naquela cama desconfortável que rangia cada vez que se mexia. Não tinha vontade nenhuma de se levantar e quanto mais colocar o uniforme. Como iria conseguir um analgésico e pior, absorventes? Sabia que tinha um pacote cheio no seu armário, no quarto da Grifinória. O castelo era protegido contra feitiços de furtos e portanto, não conseguiria acionar suas próprias coisas até aquele quarto isolado. Tinha vergonha de pedir ao Dobby, afinal era uma criatura do sexo masculino, mas lembrou da Winky que vinha fazer a limpeza do quarto.

Perfeito, quando ela for limpar o banheiro eu entro e falo com ela no privativo. Sem maiores problemas!

Severo estava de pijama e roupão por cima, sentado na cadeira junto à mesa tomando seu café da manhã. Ele ouviu os rangidos da cama, olhou para o lado e viu que ela havia acordado.

- Bom dia, senhorita! Dormiu bem?

- Bom dia! Dormi mais ou menos. Estou com um pouco de dor de cabeça.

Ela respondeu com a voz baixa e rouca. Na verdade, mentiu, pois sentia cólica.

- Venha tomar café! Ainda está quentinho.

- Não, obrigado! Estou sem fome...

- Então pegue um suco!

- Eu preferia um chá, mas não tem, né?

- Podemos providenciar. Eu peço para o Dobby...

- Posso esperar ele vir recolher as louças.

- Eu não sei que horas ele deve passar aqui para recolher. Ontem eram dez horas quando ele veio. Agora recém o relógio do castelo tocou oito badaladas. Qual chá a senhorita prefere?

- Pode ser de camomila.

- Você quer mais alguma coisa?

- Sim, uma aspirina, por favor.

Hermione levanta, coloca os chinelos e o roupão. Vai ao banheiro e demora um pouco, mais do que o normal. Severo começa a reparar. Quando ela sai do banheiro, com uma carinha um pouco melhor, Dobby já estava no quarto com a bandeja do chá, o comprimido e alguns biscoitos. Também trouxe o profeta diário para o professor.

- Bom dia, senhorita! Dobby trouxe o seu chá! Ah, Dobby trouxe o comprimido também!

- Bom dia, Dobby! Muito obrigado!

Ela senta na cama e o elfo deposita a bandeja no criado mudo. Ele troca as águas das duas garrafas e depois vai até a mesa retirar o café da manhã. Severo volta para sua cama, se senta com as pernas esticadas, coloca seu cobertor por cima, abre o jornal e começa a ler as notícias.

Dobby pergunta a eles se querem mais alguma coisa e eles agradecem. Com estalo nos dedos ele desaparece, surgindo em seguida a elfa Winky.

- Bom dia, senhorita Granger! Como vai?

- Bom dia, Winky! Tudo bem e você?

- Winky agradece! A senhorita é muito gentil, com os elfos!

- Winky você vai limpar aonde primeiro?

- Aonde a senhorita determinar... Winky sempre inicia arrumando as camas...

- É que, como deu para notar, hoje não vou precisar que arrume a minha. Está muito frio e pretendo passar o dia aqui.

Ela olha para o professor lendo o jornal:

- Acho que ele também não vai querer.

- Winky vai limpar o banheiro primeiro. Com licença!

Hermione faz um sinal para Winky se aproximar e fala baixo para ela:

- Winky, você poderia começar pelo quarto hoje? E por último o banheiro?

- Sem problemas, senhorita! Winky começa por onde a aluna determinar.

- Obrigada!

Ela então começa a tomar o chá e engole o comprimido. Sabe que leva quase uma hora para a aspirina fazer efeito. Sabe também que vai precisar de no mínimo mais dois, pois precisa de um a cada seis horas. Os comprimidos sem problema pedir ao Dobby, poderia usar a dor de cabeça como desculpas, mas os absorventes ela não queria pedir na frente do seu professor, tinha vergonha. O jeito era mesmo pedir para a elfa Winky! Não queria chamar muito a atenção do seu professor. Pegou sua agenda e começou a escrever. A cada linha escrita, ela parava e olhava a elfa, que limpava o chão do quarto. Olhava também o professor, que seguia lendo o jornal. Quando a elfa terminou o quarto e entrou no banheiro, Hermione coloca os chinelos e entra também. Severo abaixa o jornal e dá uma olhada de canto de olho.

Ela fecha a porta, se abaixa e diz no ouvido da elfa:

- Winky, vou precisar de um favor muito importante. Coisa de mulher para mulher, entende?

- Sim, Winky entende, pode pedir, senhorita! Winky obedece prontamente!

- Hoje à tarde, eu preciso que você vá até o armário do meu quarto, na torre da Grifinória. Você abre e me traga o pacote de absorventes, está bem fácil de achar. Depois coloque o pacote dentro de um saco qualquer, antes de me trazer aqui. Winky pode fazer isso para mim?

- Winky trará o pacote de absorventes dentro de um saco, hoje à tarde.

- Isso, Winky! Muito obrigada!

- Não precisa agradecer, senhorita! Winky está aqui para servi-la!

Hermione abre a porta do banheiro e sai tranquila lá de dentro. Winky permanece limpando. Depois Winky se despede e com estalo nos dedinhos, segue para o castelo. Assim que sente alívio na sua dor, Hermione pega o livro de poções e começa a ler o sexto capítulo. A leitura é interrompida para a hora do almoço.

Eles almoçam. Severo puxa conversa:

- Passou a dor de cabeça?

- Sim, aliviou bem! Mas vou precisar tomar outra aspirina mais tarde e à noite. É melhor eu tomar hoje a cada seis horas, porque acho que estou pegando resfriado.

- Aspirina é ácido acetilsalicílico, presente nas folhas de salgueiro Salix. Eu tenho alguns frascos fracionados, e purificados na minha pasta. Se quiser... Mas aconselho a tomar com chá!

- Quero sim, obrigado! Pedirei ao Dobby para me trazer chá.

- Vamos pedir mais cobertores também, porque um só para cada um é pouco. O termostato está no máximo. O jornal continua anunciando a frente fria chegando.

Depois que ela escova os dentes, vai para baixo da coberta e começa suas anotações na agenda. Ele vai ao banheiro escovar os dentes e depois volta para a cama. Pega seu bloco de anotações e escreve uma mensagem para Alvo Dumbledore. Amassa e joga na lata de lixo. Pega outra folha e começa tudo de novo.

Hermione adormece com a agenda no colo. Severo se levanta e vai tirar a agenda com cuidado para ela não acordar. Sua curiosidade é saciada naquele momento; com a agenda nas mãos, ele começa a ler a primeira página.

Dia 04/01 Domingo - Hoje retornei para Hogwarts, minha segunda casa. Estava muito feliz e até resolvi adiantar o trabalho de poções avançadas. Todos dizem que é a matéria mais difícil do sétimo ano, mas eu tenho uma teoria: não que seja difícil, mas porque o professor é insuportável! Por isso se torna mais difícil do que é na realidade. Ele é tão insuportável que me deixou em detenção logo no domingo. Sem cabimento! Só porque entrei um pouco naquela maldita floresta proibida... Como iria achar os espécimes raros? Se é só na floresta que eles crescem? Não dá para entender a lógica dele. Enfim... mas meu azar estava só começando... Dobby, o elfo, surge e me leva para um quarto isolado, dizendo que todos deveriam cumprir a quarentena. Por ordens do diretor, o castelo foi fechado e eu fiquei na rua... aliás não só eu... adivinha? O carrasco do professor Snape também! E Dobby o deixa também neste maldito quarto, para ficar aqui quarenta dias COMIGO. Vou surtar! Não tenho como aguentar tanto sarcasmo vindo de uma pessoa só...

Severo ergue sua sobrancelha, olha para a aluna, que parecia dormir profundamente. Volta para sua cama com a agenda na mão e continua lendo. Estava bastante curioso para prosseguir com a leitura, tipo diário. Poderia muito bem ler a mente dela, mas já imaginando que não encontraria nada agradável, nunca levou adiante tal ideia. A cada linha que ela descreve os sentimentos negativos que sente pelo professor, ele sente uma dor no peito sem saber explicar.

Ele vira a página. Dia 05/01 – Segunda-feira – Se ontem meu dia não poderia ser pior, hoje em compensação, aconteceram alguns fatos inacreditáveis. Tenho que relatar para guardar para a prosperidade. O professor me emprestou gentilmente seu livro didático do semestre, sem eu pedir. Depois enquanto preparava minhas exsicatas, ele elogiou meu trabalho. A primeira vez em sete anos que ele elogia algo que eu fiz! Não é para menos que uma tempestade de neve se aproxima!

Ele prossegue com a leitura. Se prende na passagem que ela descreveu quando ele saiu do banho: O perfume inebriante que ele usa me deixa totalmente excitada e começo a imaginar aquele corpo todo nu se aproximando do meu. Este homem na cama deve ser um vulcão!

Severo não consegue evitar uma ereção. Por Merlim, esta aluna se imagina transando comigo! Grande coisa Severo, até parece que você também não se imagina com ela? Aquele corpo delicado, tão feminino, nu!

Ele ignora seus pensamentos e prossegue rápido com a leitura. Ainda tem muita coisa escrita.

Que diferença de ontem para hoje... Se ele continuar assim, até que vai ser útil ficar aqui. Vou tentar descolar aula particular e poderei conhecê-lo melhor. Finalmente eu vou conseguir entender o motivo do diretor gostar tanto dele. Por que, sinceridade? Até ontem eu nunca havia entendido o motivo de Dumbledore lhe dar o emprego... Até ontem eu o odiava!

Ele sente um calor gostoso subindo pelo seu peito. Olha com ternura para a aluna que se mexe na cama. Ele vira a página Dia 06/01 – Terça-feira. Não consegue ler mais, o rangido da cama avisa que ela está acordando.

Quando Hermione se senta na cama, sente falta da agenda. Ele rapidamente escondeu embaixo do cobertor dele.

- Professor, viu minha agenda que estava aqui em cima da cama?

- Não vi, senhorita. Acho que você levou para o banheiro.

Era uma saída, enquanto ela entrasse no banheiro, ele por magia devolveria na gaveta do criado mudo.

- Tenho certeza que não levei para o banheiro...

Naquele instante a elfa Winky aparata no quarto e desvia a atenção de Hermione. O foco agora, era todo para a elfa. Ela se posiciona no meio das duas camas e diz virando-se para a garota:

- Senhorita Granger, Winky trouxe os absorventes que me pediu! Estão aqui no saquinho!

Ela ruboriza, fica toda sem graça, tem vontade de xingar a elfa. Olha para o professor e ele desvia rapidamente o olhar, com um sorrisinho no canto dos lábios.

- Obrigada Winky! Pode se retirar, por favor!

A elfa percebe que deu uma mancada pelo rosto vermelho da aluna e some imediatamente.

Ela não consegue evitar o constrangimento e xinga:

- Que merda! Que ódio! Não se pode nem menstruar neste castelo que todo mundo precisa saber!

Ela levanta, joga o pacote em cima da cama, e vai para o banheiro batendo a porta.

Severo solta o riso e aproveita para guardar a agenda na gaveta dela. Uns quinze minutos depois ela volta, com o rosto lavado, ainda com cara de choro. Abre a gaveta e encontra sua agenda. Começa a escrever.

Ele sem cerimônia invade a mente da aluna, pela primeira vez está conseguindo entender o que é realmente a tensão pré-menstrual de uma mulher.

Hermione olha para o professor, ele a fita com aqueles olhos ônix, cheios de ternura. Ela abaixa a cabeça fazendo de conta que escreve e pensa, já que seria um desrespeito dizer aquilo;

- Ora essa, vai se fuder, professor enxerido do caralho!

Severo para provocá-la resolve responder ao insulto:

- Bem que eu gostaria, senhorita! Acredito que com você seja bem prazeroso, mas vou dispensar por estes dias...

Ela olhou incrédula para ele, sem saber ao certo se ouviu direito, se ela pensou alto ou se ele invadiu sua mente. Mas o riso sarcástico o denunciara.

Continua...