Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Falsas Apariencias" postada em 2007 no FanFiction por Sisa Lupin.

Capítulo 5 - Isso vai doer.

Desde que deixou a urbanização de Privet Drive, em Little Whinging, um amplo sorriso se desenhava no rosto em formato de coração da metamorfomaga a caminho de sua casa. Novamente, relembrou os recentes acontecimentos na companhia do lobisomem e, mordendo o lábio inferior, olhou para o relógio para contar as horas que lhe restavam para voltar a vê-lo no Quartel General.

Com passos rápidos, a jovem encurtou a distância que a separavam de seu lar, uma pequena casa de dois andares que tinha herdado de sua avó trouxa, e foi até a porta quando, com grande surpresa, descobriu que estava aberta.

O sorriso se desfez imediatamente do rosto e empurrou com receio a entrada enquanto agarrava-se a ideia de que tinha esquecido de fechá-la antes de sair. Só por acaso, sacou a varinha, fechou a porta e encaminhou-se lentamente até a sala.

Ao acender a luz da sala, um homem comodamente sentado sobre sua poltrona lhe devolveu o olhar.

— Bravo, Nymphadora — Snape a felicitou com sarcasmo. Na realidade, era seu tom habitual, pensou a jovem enquanto abaixava a varinha. Logo, continuou com o mesmo tom — É uma atriz excepcional, embora devo acrescentar que enganar Lupin não tem nenhum mérito, o coitado não pode evitar ser tão patético.

— Esteve nos espionando? — perguntou com uma sobrancelha levantada.

— É claro — admitiu friamente — Temia que soltasse a língua em um de seus impulsos de honra.

— Já não basta destruírem a minha vida e ameaçar machucar a minha família? Também precisam me seguir a todos os lados?

— Cuidado, Nymphadora — retrucou, levantando-se com austeridade — Poderia dizer ao Lorde das Trevas o que vi esta noite — acrescentou, pondo-se à mesma altura a escassos centímetros do seu rosto.

— E diria o quê, posso saber? — perguntou, desafiante.

Snape sorriu debochadamente.

— Oh vamos, sabe muito bem do que estou falando — afirmou ao ver a palidez no rosto da jovem — Acredite, não levo essas coisas a sério, mas sei perfeitamente reconhecer quando vejo.

Tonks ficou paralisada. Tentou negar com algum de seus pensamentos engenhosos, mas por algum motivo que fugia de seu entendimento, e apesar de seus esforços, não conseguiu articular nenhuma palavra para se defender.

Snape sorriu de maneira irônica e triunfante.

— Enfim, não me parece uma tática ruim, mas Lupin não é importante na Ordem. Se quer enlaçar alguém, aconselho que seja Dumbledore. Mas, sinceramente, não acho que seja o seu tipo — acrescentou, revirando os olhos.

— Não é o que estou fazendo! — se defendeu, recuperando a fala.

— Então mostre — disse com um tom mais passivo — Sabe bem que não nos convém ter um pretendente disposto a se perguntar sobre sua identidade.

Tonks não pôde fazer nada além de assentir com a cabeça enquanto tentava esconder a dor que tinha se instalado em seu peito ao saber que Remus acabava de entrar em seu jogo.

— Bem — concluiu, dando-se por satisfeito — Agora, vamos.

— Quê? Aonde? — perguntou, completamente desprevenida.

— Quer vê-la.

Não foi preciso especificar seu nome. Imediatamente, soube a quem se referia e isso lhe produziu um calafrio na espinha.

— Vamos — ele acrescentou, agarrando-lhe fortemente pelo pulso.

No mesmo instante, entraram em uma profunda e vertiginosa espiral de escuridão. Mal teve tempo para se preparar mentalmente quando a jovem encontrou-se de repente no interior de uma pequena e conhecida mansão, ao lado de seu antigo professor de poções.

— Aproxime-se — sibilou uma voz, vinda da única poltrona do local.

Tonks avançou com cautela até localizar-se a poucos metros dali, em atitude servil.

— Me chamou... milorde? — perguntou, reunindo toda a sua coragem e tentando, sem muito êxito, pronunciar firmemente as palavras dirigidas ao seu senhor.

— Estou muito decepcionado, Tonks. Alguém me disse que se recusa a acatar as minhas ordens.

A jovem obrigou-se a não olhar na direção de Snape.

— Isso não é verdade... Eu realmente tentou cumprir, mas... — balbuciou,

— Era tão difícil recusar a companhia do lobisomem e aceitar a de Snape?

O Lorde das Trevas levantou-se de seu lugar com um esvoaçar da túnica negra. Um segundo depois, estava frente a sua insolente serviçal.

Nunca tinha se aproximado tanto antes, seus olhos eram de um vermelho ardente e, no lugar do nariz, tinha dois furos que se abriam e fechavam, denunciando a sua irritação. Tonks estremecia dos pés à cabeça. Agora sabia perfeitamente o motivo de sua bronca e temia profundamente as consequências.

— Não queria ser grosseira e causar uma má impressão — foi sincera — Remus ofereceu-se e não tive outra escolha a não ser aceitar diante de todos.

Uma gargalhada brotou da garganta de um dos Comensais às suas costas.

— Remus? Uau, o quão rápido aprendeu o seu nome, sobrinha — disse Lucius Malfoy, mostrando o seu sorriso frio — Aconselho que não se apegue muito a ele, não só é uma criatura abominável, como também é um mestiço. Por aqui, tem muitos inimigos — acrescentou com malícia.

A jovem notou como seus olhos ardiam de raiva, e mordeu o lábio inferior até sangrar para não responder com algum xingamento.

— O que quer de mim? — pediu com os olhos brilhantes.

Voldemort quase sorriu, e Lucius devolveu infinitamente agradado.

— Saberá no seu devido tempo. É muito valiosa para nós, mas não pense que por isso é intocável. Desobedeça-me mais uma vez e seus entes queridos não voltarão a ver a luz do dia. Obedeça-me e receberá imunidade para todos eles. Entendeu?

Ela assentiu enquanto esfregava as lágrimas com a manga do casaco.

— Mas o que fez merece um castigo. São as regras para todos — salientou.

Tonks levantou o olhar e, então, observou a varinha do Lorde das Trevas a alguns centímetros de seu peito.

— Não vou mentir, isso vai doer — disse com um brilho indescritível em seus olhos de serpente.

Ela abaixou o olhar, resignada. Não serviria de nada implorar por misericórdia, ele desconhecia completamente o significado daquela palavra.

— CRUCIO!

Uma intensa dor penetrou o seu corpo, dobrando-a pela metade sobre o solo. Pouco depois, o feitiço começou a aumentar de intensidade... Já não gritava, não sobrava ar nos pulmões para isso. Um zumbido agudo apossou-se de seus ouvidos.

E então tudo parou.

As violentas convulsões pararam para dar lugar aos leves soluços da garota. Não podia mover nem um só músculo de seu corpo.

— Espero que tenha aprendido a lição — disse, satisfeito pelo efeito causado em sua vítima — Continue, Lucius. Mas, entre uma e outra maldição, permita-lhe um tempo para refletir. Nossa Tonks tem muito o que pensar.

O Comensal sorriu de lado e rapidamente desacoplou a varinha de sua bengala.

— Será um prazer, milorde.

Quando Voldemort retirou-se do cômodo, junto de um impassível Snape, Lucius brandia sua arma contra a sobrinha enquanto esboçava um sorriso de profunda satisfação.

— Crucio!

Enquanto a dor intensa da maldição recobrava força, várias lágrimas escorregaram pelas bochechas, desejando que sua agonia logo terminasse, e com a sua, a de todos os outros.

Fechou os olhos, esperando pela morte, mas já tinham lhe lançado mais de cinco maldições e não chegava.

No dia seguinte, já muito tarde, o primogênito dos Black trabalhava mais uma vez em descolar a maldita árvore genealógica pertencente a sua orgulhosa família.

Acabava de testar todos os feitiços que conhecia, mas nenhum tinha funcionado. Inclusive usou vários métodos trouxas, como por exemplo arrancar da parede batendo nele com o porta guarda-chuva em formato de perna de trasgo, e isso só tinha feito com que Monstro sumisse por algumas horas, e o retrato de sua mãe sofresse um ataque de ansiedade, então, depois de algum tempo, decidiu abandonar o seu esforço.

Completamente exausto, sentou-se sobre o chão.

— Certo, árvore, você ganhou — disse a si mesmo enquanto contemplava ao seu redor com profundo abatimento.

Como se lhe tivesse convocado, Monstro apareceu correndo diante de seu nariz. No entanto, apesar de sua velocidade, Sirius percebeu que segurava algo entre suas mãos pálidas. Algo que, se o conhecia bem — e o conhecia bem — não augurava nada bom.

— Monstro, venha aqui — ordenou, fazendo com que o elfo doméstico se detivesse e virasse até ele com profunda aversão — Me dê isso agora.

Não pôde fazer nada contra uma ordem direta. Com extremo pesar, estendeu, não sem antes demonstrar com o olhar a sua grande contrariedade.

— Não posso acreditar...! — exclamou com alegria ao ter em suas mãos uma pequena caixa de papelão de aspecto empoeirado — Como pude me esquecer disso? — acrescentou enquanto sorria de maneira perversa.

Monstro, ao seu lado, resmungou algo, mas Sirius não lhe deu atenção. Em vez disso, o animago desceu as escadas ainda distraído por sua nova descoberta e sentou-se à mesa da sala.

— Oh Merlin! — disse enquanto tirava um pacote considerável de fotografias e as beijava uma a uma, apesar da poeira acumulada.

Enquanto ia passando as imagens e contemplando-as com um sorriso nada inocente no rosto, Remus que acabava de entrar via a cena temendo seriamente pela saúde mental do seu único melhor amigo.

"Acho que não consegui esconder todas as garrafas de whiskey" pensou.

Remus pigarreou para chamar a sua atenção, o que conseguiu depois de algumas tentativas.

— Aluado! Olhe, tem que ver isso.

— O que houve? Visita do Papai Noel? — perguntou divertido, aproximando uma cadeira.

— Melhor! — acrescentou, estendendo as fotos — As reconhece?

— Eu reconheço o velho tarado que sai com uma garota diferente a cada semana... — disse Remus, revirando os olhos.

— O que eu posso dizer? Sou um garanhão — acrescentou com uma voz presunçosa.

— Ei! — exclamou, detendo-se em uma foto específica — Ela era minha namorada!

— Quem?

— Alyssa! — exclamou e a indicou com o dedo.

— Ah... Alyssa... — disse constrangido diante do olhar acusador de seu amigo — Olha, Remus —acrescentou em um tom sincero — Se te serve de consolo, não fui o único.

— Ah, ótimo. Depois de vinte anos descubro que sou corno. Muito obrigado! Talvez o meu apelido deveria ter sido Pontas. Sim, seria mais apropriado para mim do que para James.

— Mas nem te dava a atenção, e eu não entendo de verdade — disse enquanto erguia uma de suas sobrancelhas e o seu olhar que dizia tudo — Além do mais, se não me falha a memória, estava muito ocupado se arrastando pela... Como se chamava?

Remus deixou as fotos de lado e ficou mais sério do que o normal.

— Isso nunca foi da sua conta — disse com um tom cortante.

— Desculpa, tinha esquecido... A Malévola.

— Não tem graça, Sirius.

— Para mim continua engraçado que a defenda mesmo depois de tudo o que te fez — acrescentou em um gesto ofendido. Depois, pôs-se ocupado guardando o conteúdo de novo na caixa.

Remus suspirou, em parte apelando para o seu sentido comum.

— Tem razão, desculpe — desculpou-se, fazendo com que seu amigo voltasse a olhá-lo.

Mas o animago ainda tinha um ás debaixo da manga,

— Só se me explicar o que faz aqui meia hora antes da reunião — retrucou com suspicácia.

— Porque sentia falta da sua companhia? — balbuciou Remus.

— Conta outra.

O lobisomem bufou. Sem dúvidas, era um péssimo mentiroso.

— Está bem — disse finalmente, inclinando-se sobre a mesa, o que Sirius também fez — É Tonks — sussurrou — Ontem aconteceu uma coisa durante a vigília — acrescentou com um fio de voz.

— O que você fez? — exclamou alarmado.

— Nada, eu juro! — defendeu-se — Mas podia ter me dito que ela sabia.

— Sabia o quê? — perguntou Sirius, e então percebeu — Seu "pequeno problema peludo"?

Remus assentiu e seu amigo deu de ombros.

— Não é como se fosse um segredo, Aluado. O que aconteceu exatamente? — insistiu.

— Nada, isso que é estranho. Não se importou, e isso é dizer muito.

Sirius recostou-se sobre seu assento e o olhou de forma significativa.

— É porque gosta de você — concluiu com determinação.

— É claro que não.

— Por quê? — perguntou como se não fosse nada.

— Para começar, Tonks é muito mais jovem do que eu, linda, divertida, inteligente, auror. Eu só sou um pobre, velho e perigoso lobisomem.

Seu amigo suspirou visivelmente cansado. Conhecia aquela história bem demais, e não estava disposto a escutá-la de novo.

— Sabe qual é a diferença entre nós dois? — perguntou de uma só vez.

O licantropo negou com a cabeça, mas fingindo desinteresse.

— Que eu escapei de Azkaban, mas você está em uma prisão pior ainda.

Remus o olhou completamente desarmado, e Sirius percebeu que devia agir rápido antes que o efeito desaparecesse.

— Tonks é uma boa garota e é claro que está interessada em você. Não a deixe escapar, amigo. Sabe que não é como as outras, na verdade, diria que ela é bem diferente.

O lobisomem suspirou e, quando ia abrir a boca, escutou o som de alguns passos que aproximavam-se dali. Remus olhou até a porta, esperando o momento em que finalmente entrariam e interromperiam aquele interrogatório.

— Saiba que não vai se livrar tão facilmente dessa — Sirius o alertou, apontando um dedo em sua direção — Olho-Tonto! — gritou quando o bruxo apareceu na sala — Que alegria voltar a vê-lo aqui, e a todos vocês também, claro — acrescentou amavelmente, ao ver os demais.

— Mas o que deu em você? — surpreendeu-se — Já sei! — exclamou de repente — É a maldição Imperius... Afastem-se todos!

— Alastor, abaixe essa varinha! — exclamou a Senhora Weasley às suas costas.

— Isso, isso, vamos nos acalmar, está bem? — disse Sirius com a voz quebrada — Além do mais, quem ia me lançar uma maldição imperdoável aqui?

— Viu? Está negando! A primeira atitude de um bruxo enfeitiçado.

— É melhor irmos a cozinha... — acrescentou Kingsley enquanto lhe pegava pelo braço e o levava dali, apesar de seus protestos.

Remus apressou-se em segui-los e, para evitar perguntas inoportunas do amigo, sentou-se o mais longe possível que pôde dele. Mais tarde, apareceu Dumbledore junto com Snape, algo que agradeceu profundamente, pois dessa forma deixaria de ser vigiado por Sirius, que estava lançando uma nova provocação ao professor de poções.

No entanto, seus olhos não estavam sobre algum dos presentes, e sim na porta de entrada da cozinha, caso ela aparecesse. Mas não apareceu, e diante do barulho produzido após o fim da reunião, Remus aproveitou a oportunidade para escapulir.

Quando Sirius quis se dar conta de sua ausência, ele já caminhava até o seu andar com as luzes do dia desaparecendo por trás dos edifícios londrinos, e não pôde deixar de notar que aquele tom rosado do entardecer era igual à cor favorita da metamorfomaga.