ATENÇÃO|: Esse capítulo pode conter gatilho para pessoas que enfrentam a ansiedade.
Um ponto de vista diferente por aqui hoje.
Lembrete: texto todo em itálico = lembranças
Boa leitura
PDV Edward
Sair de casa era sempre uma sensação estranha, principalmente depois que me tornei pai. Se me perguntassem há alguns anos, eu diria que o hospital era meu lugar favorito no mundo. Não é que eu seja algum tipo de psicopata que gosta de observar sofrimento alheio, muito pelo contrário, mas qualquer hospital da Cullen Foundation sempre foi um lugar seguro, eu cresci conhecendo cada um daqueles corredores como se fossem a minha casa - provavelmente porque eu não era a criança mais tranquila do mundo e devo ter passado mais horas na emergência do que em casa, mas ainda sim, era muito confortável estar ali.
Naquele dia, ao chegar para iniciar mais um plantão, eu desejei que fosse tão tranquilo quanto uma escala de doze horas na emergência poderia ser, mas desde a hora que acordei algo parecia estranho. Sair de casa e deixar Bella e Elizabeth, por si só, não era meu momento preferido, mas além daquele sentimento já conhecido eu pensava que talvez meu dia não fosse tão calmo quanto eu queria. De alguma forma, a segurança que sempre tive não estava presente quando estacionei o carro e entrei no hospital.
- Perdeu seu pente, Cullen? - me virei para encontrar Alice atrás de mim, com um copo de café na mão - Bom dia.
Provavelmente, eu devia ter uns dezesseis anos quando isso aconteceu - baguncei o cabelo dela, que me devolveu uma cara feia - Bom dia, Ali. Terminando o plantão?
- São o que? Quase seis? - perguntou, assenti - Ainda tenho duas horas. Seu pai me chamou para uma reunião agora, de última hora. Sabe do que se trata?
- Provavelmente algo relacionado a nossa rotatividade, ou talvez ele finalmente tenha contratado um novo chefe para a pediatria.
Alice era obstetra, então não seria estranho ela participar de uma reunião com a pediatria, mas a baixinha era meio sensível e também estava percebendo algo errado.
- O que foi? - perguntei, quando chegamos no elevador e ficamos sozinhos - Você está quieta demais.
- Você também está sentindo que tem alguma coisa nessa história?
- Achei que fosse coisa da minha cabeça. Tenho ficado ansioso demais nos últimos dias.
- Tem falado com o Jasper?
- Eu não posso ficar me consultando com seu namorado, Ali. É anti ético.
- Como se alguém ligasse pra ética médica nessa família - riu - Não esqueça que eu quase fiz o parto da sua filha.
Parte da fala dela era verdade. Elizabeth decidiu nascer antes da data prevista e Alice era a médica de plantão naquele dia, foi ela que cuidou de tudo até que a obstetra de Bella, Victoria, chegasse. Em relação à ética médica, ela também tinha um pouco de razão. Todos nós já tínhamos consultado com alguém da família, era tão mais fácil fazer isso e ser encaminhado a outro especialista caso fosse necessário.
Caminhamos juntos até a sala de Carlisle, encontrando outros médicos na porta, ainda esperando que ele liberasse a entrada. Eu conhecia todos, obviamente, mas nem todos eram da minha equipe. Da pediatria, apenas eu, James e Tanya estávamos ali, junto com mais três pessoas da obstetrícia.
Não muito tempo depois, minha mãe chegou. Achei estranho, já que ela não era de nenhuma das duas especialidades. Ela desejou um bom dia a todos e entrou na sala, fazendo com que eu e Alice nos olhássemos. Definitivamente, algo estava errado.
Aproveitei o tempo de espera para enviar uma mensagem para Bella, avisando que já tinha chego. Ela respondeu rapidamente, dizendo que estava amamentando e por isso já estava acordada. Trocamos mais algumas mensagens, inclusive uma foto linda que ela mandou com Liz olhando para a mãe enquanto mamava - ela era definitivamente a melhor coisa que eu tinha, até que a secretária avisou que poderíamos entrar na sala.
Carlisle estava em sua mesa, atrás do computador, quando entramos. Notei que minha mãe estava do outro lado da sala, mas não olhava diretamente para ele. Ao invés disso, ela fixou o olhar em mim. Tentei decifrar o que se passava ali, mas não tive tempo, meu pai logo começou a falar.
- Bom dia a todos. Pedi que todos viessem mais cedo porque essa reunião será dividida em duas etapas. Primeiro, vou informar sobre a decisão que a presidência tomou sobre o novo chefe da pediatria. Em sequência, peço que agendem com a secretária um horário para conversarmos individualmente, quero falar com um a um.
- A decisão que você tomou - Esme soltou, no fundo da sala. Meu pai olhou para ela, mas desistiu de falar o que quer que fosse responder.
- Continuando. Sei o quanto estão sobrecarregados desde a saída de Laurent, com todo o trabalho, mais os plantões e o treinamento dos residentes, por isso optei por adicionar mais uma pessoa ao time, mantendo a rotatividade entre vocês. Ela não será a chefe, mas uma atendente que dividirá a carga horária.
Ele continuou falando sobre como era importante nos dividirmos para ninguém trabalhar mais do que deveria, e a cada frase sobre a nova médica, minha mãe revirava os olhos.
- Por fim, conheçam a nova companheira de vocês - virou a tela do computador para que todos vissem o nome e a foto ali - Irina Stanley.
Só podia ser brincadeira.
- Você não pode estar falando sério - Alice foi a primeira a se manifestar.
- Alice… - minha mãe pediu - Mais tarde.
Eu ainda estava surpreso demais para dizer qualquer coisa. Não era possível que meu pai estivesse me traindo daquela maneira. Com tantos médicos no mundo, ele queria logo alguém daquela família.
- Irina é uma ótima cirurgiã e pediatra, tenho certeza que será uma ótima adição ao time. Vocês receberão em breve o currículo completo e algumas informações sobre ela em seus e-mails, e poderemos conversar mais a fundo nos horários marcados. Tudo bem até aqui? Alguma dúvida? - meu pai perguntou, finalizando.
Não sei por quanto tempo ele falou, nem exatamente as palavras usadas, porque eu estava concentrado demais em controlar minha respiração e a única coisa que senti foi a mão de Alice apertando a minha. Provavelmente os outros médicos ali presentes - os que não eram da família - sentiram a tensão no ar, mas se limitaram a concordar e começaram a deixar a sala, indo fazer qualquer coisa que tinham para fazer àquela hora. Tanya apertou meu braço quando se virou para sair, ela era a única entre eles que sabiao que tinha acontecido, porque estava lá.
Quando a sala esvaziou, restando só eu, Alice, Esme e Carlisle, percebi o quanto estava difícil respirar. Puxei minha camisa com a mão livre, numa tentativa de aliviar o que estivesse me sufocando, mas não adiantou, e eu sabia exatamente o que viria em seguida. Irina não era o problema, ela estava fora do país nos últimos anos, mas sim a irmã dela. Naquele momento, todas as piores lembranças de Jessica Stanley passavam na minha mente como um filme. Todas as discussões sem fundamento, as traições, as tentativas de afastá-la, as ameaças, todas as vezes que ela quis interferir na minha vida e, posteriormente, em qualquer relacionamento que eu tentasse ter, até o ápice, quando pedimos uma ordem de restrição depois de receber ameaças a nossa filha, quando a gravidez de Bella virou notícia em sites de fofoca. Tentei puxar o ar mais uma vez.
- Edward? Filho, olha pra mim. Respira - a voz de Esme tentou me trazer de volta, ao mesmo tempo que senti que ela me empurrou para o sofá - Você causou uma crise no seu filho, era o que queria, Carlisle? Que ideia estúpida foi essa?
Uma pequena parte do meu cérebro, a que ainda estava tentando prestar atenção ao que acontecia na vida real, percebeu quando um copo de água foi colocado na minha mão, que tremia. Bebi de uma vez, tentando me livrar daquela sensação horrível. Eu precisava colocar as ideias no lugar.
Depois de anos lidando com a ansiedade, uma técnica que funcionava quase sempre era tentar pensar em coisas boas. Não demorou muito para que as imagens ruins em minha mente fossem, aos poucos, substituídas por memórias felizes. O primeiro beijo com Bella. Nosso casamento. Bella grávida. A primeira vez que ouvi o coração de Elizabeth bater. Seu nascimento. A primeira vez que a peguei no colo. As duas eram o meu maior sinônimo de segurança.
Aos poucos, respirar ficou mais fácil e percebi que os três me olhavam. Minha mãe, com seu olhar cheio de amor e preocupação, estava segurando uma das minhas mãos, Alice estava ao meu lado segurando a outra e meu pai estava parado no meio da sala.
- Vou ficar bem, só preciso de um tempo - anunciei.
Eu não sabia exatamente o quão bem ficaria naquele momento, ainda estava tentando absorver o que tinha acabado de acontecer. Meu pai, que testemunhou tudo que aconteceu envolvendo Jessica e sua família, estava mesmo trazendo tudo aquilo à tona. Era inacreditável.
- Acho que precisamos conversar, Edward - Carlisle foi o primeiro a falar.
- Não é a melhor hora...
- Sua conversa vai ser comigo - minha mãe respondeu, me interrompendo com voz já não tão calma quanto antes - Eu quero saber desde quando você vem armando pelas minhas costas. Isso é algum tipo de retaliação porque ele não seguiu seus planos e não aceitou ser chefe? Saiba que eu não vou aceitar que você use dos seus poderes como presidente da fundação para punir nosso filho.
Olhei surpreso para Alice, que ainda estava muda ao meu lado. Foram poucas as vezes que ouvi Esme falar daquela forma, mas em todas, ela estava defendendo os filhos. Muito do cuidado que eu tinha, seja com as pessoas à minha volta ou com meus pacientes, vinha dela. Minha mãe era a pessoa mais doce e gentil que eu conhecia, mas também sabia ser firme e se impor quando necessário.
- Isso não é uma punição, de forma alguma. Eu não contei porque sabia que vocês reagiriam mal, mas ela é uma boa adição para nosso corpo clínico - meu pai tentou argumentar - Nós precisamos de mais um médico ou a pediatria ficará ainda mais sobrecarregada, o inverno já foi horrível com os surtos de gripe, estamos nos aproximando do spring break e das férias de verão, como você imagina que essa emergência vai ficar?
- Com tantos médicos no país, tinha que escolher logo essa? E quer que eu acredite que não é uma retaliação porque Edward não fez o que você queria?
- Nem tudo é sobre os nossos filhos, Esme.
A frase atingiu minha mãe como um choque e, quase automaticamente, ela se aproximou mais de mim.
- Tudo é sobre os meus filhos, Carlisle. Se qualquer coisa que eu fizer tiver potencial de atingir um dos dois, eu não farei. Você deveria pensar o mesmo ou vai terminar sozinho como seu pai.
É claro que ela também sabia exatamente onde atacar. Falar do meu avô poderia ser um golpe baixo, mas provavelmente significava menos para ela do que ouvir meu pai dizer aquelas palavras.
- Essa decisão não foi tomada pensando em Edward como meu filho, mas como um pediatra que está sobrecarregado. Vocês não podem negar isso.
Antes que qualquer um de nós pudesse continuar, o auto falante do hospital chamou o meu nome e o de Alice.
- Consegue atender ou prefere que eu chame outra pessoa? - ela me perguntou - Não esqueça que temos internos novos.
Não pensei muito e confirmei que ia atender aquele chamado, pedindo para Alice ir na frente enquanto eu ia trocar de roupa, já que ainda estava com a mesma que sai de casa. Antes de sair da sala, respondi umas dez vezes que estava bem para assumir um plantão e prometi para minha mãe que avisaria ao menor sinal de problema. Carlisle ainda queria conversar, mas tudo que eu menos queria naquele momento era falar com ele.
Enquanto eu andava rapidamente pelo corredor para chegar até a sala de descanso dos médicos e me trocar, meu celular vibrou no bolso da calça.
De: Rosalie Cullen
Já estou sabendo do que aconteceu.
Você está bem? Me avise se precisar de algo.
Vou visitar minha sobrinha e preparar o terreno para contar as novidades para Bella
De: Edward Cullen
Sob controle
Mamãe é uma fofoqueira mesmo, não tem nem cinco minutos
Me ligue se der tudo errado, vou atender um chamado
No caminho até a emergência, um grupo de internos me seguiu. Era só o que me faltava.
- Bom dia doutor Cullen, estamos com você hoje - um deles, o mais animado, disse.
- Quem colocou vocês comigo?
- A doutora Cullen - outro respondeu - Ela é a chefe desse plantão.
Fechei os olhos por dois segundos antes de responder. Com a bomba que caiu sobre nossas cabeças, eu tinha até esquecido que minha mãe também estaria naquele plantão.
- Certo, parece que não tenho opção. Você - apontei para um que estava escondido atrás dos outros - Pegue um tablet e descubra qual é o caso que vamos atender. Vocês tem o tempo de chegarmos lá para saber todos os detalhes - continuei andando, sem olhar para confirmar se eles ainda me seguiam.
- Nenhuma dica? - uma garota perguntou.
- O tablet é a dica, o resto vocês podem descobrir - a cara de assustados deles fez meu dia melhorar em 1% - Têm menos de um minuto.
Eu não estava irritado de verdade com eles, mas era muito engraçado ver o terror estampado no rosto dos internos. Esse era o segundo grupo que passava pela pediatria e eu torcia para que eles gostassem mais da área que o anterior, isso já facilitaria meu trabalho.
A energia caótica da emergência parecia pior naquele dia, ainda mais porque estávamos no horário da troca de plantão. Procurei rapidamente algum sinal de Alice por ali, mas uma enfermeira foi mais rápida e me avisou que a paciente estava sendo atendida em uma sala.
- O que temos, doutora Volturi? - chamei Alice pelo sobrenome do pai, ganhando um olhar atravessado.
- Essa é a Gianna, 34 anos. Acidente de carro, ela era a motorista e foi atingida por outro carro que passou no farol vermelho. 36 semanas completas de uma menina, lesão no braço direito que vai precisar de cirurgia. Foi estabilizada a caminho daqui e agora estou avaliando se é seguro operar. Preciso que olhe esses exames - me estendeu outro tablet, com imagens de ultrassom - E é doutora Hale agora - completou, só para mim.
Se eu bem lembrava o casamento ainda nem tinha sido marcado, mas tudo bem.
- Olá Gianna, sou o doutor Edward Cullen e vou analisar o que precisamos fazer para manter você e sua filha em segurança. Pelas imagens ela está bem desenvolvida e não estaria em risco caso você entrasse em trabalho de parto agora, mas vamos examinar mais a fundo para garantir, ok?
A mulher estava incrivelmente calma enquanto acompanhava nossas falas. Pedi um novo exame com urgência, avisando que um pediatra retornaria em algumas horas com os resultados e saí da sala, acompanhado de Alice e de todos os internos que não haviam aberto a boca naquele tempo. Era normal quando eles eram novos mas eu só tinha pedido uma informação básica, eles deveriam ter feito isso em outra especialidade.
- Você vai sair agora? - perguntei para Alice, que assentiu enquanto mexia no celular - Quem fica no seu lugar?
- Victoria, ela já deve estar na ronda, inclusive. Provavelmente quando os exames chegarem eu estarei no décimo sono, mas pode me acordar se tiver algum problema.
- Vá descansar, Ali. Victoria dá conta do recado, você sabe disso.
Minha prima olhou para os internos atrás de nós antes de responder.
- Não questiono a capacidade dela, mas não sei se você está bem para aguentar um plantão de doze horas. Há quanto tempo não tinha uma crise assim? - falou, com a voz baixa.
- A última provavelmente foi antes da Elizabeth nascer - confessei - Se eu achar que não estou bem vou pedir para sair.
- Nada de bancar o super herói - pediu.
Nos despedimos e passei na mente o que precisava fazer naquele dia. Os internos ainda estavam atrás de mim, como uma sombra.
- Escutem. Eu pedi uma coisa simples e ninguém conseguiu fazer. Com quem vocês passaram antes de mim? - um deles respondeu que havia sido pela ortopedia, com certeza não foi com Alec, meu primo sabia ensinar. Eu não fazia ideia de como eles tinham se virado - Vamos ao básico, preciso saber os nomes de vocês.
Esperei que todos se apresentassem e ensinei rapidamente como mexer no sistema do hospital, ou passaria o dia inteiro me atrasando por causa disso. Com todas as dúvidas devidamente esclarecidas, fiz minhas rondas pelos pacientes internados, checando se nada havia mudado desde o dia anterior.
O grande problema de trabalhar com crianças era controlar minhas reações quando as mudanças eram para pior. Nunca era fácil dar a notícia para os pais, e menos ainda para eles, que sempre carregavam uma esperança inabalável. Naquele dia, só tivemos boas atualizações, o que me deu um pouco mais de ânimo, mas minha mente continuava voltando na conversa de mais cedo.
Já passava do meio dia quando finalmente consegui parar para comer alguma coisa e checar o celular. Desci pelas várias mensagens que estavam ali esperando para ser respondidas até encontrar a conversa com Rosalie.
De: Rosalie Cullen
Sua filha continua fazendo meu útero coçar, não aguento mais isso.
Será que faço um igual a ela logo?
Bella já sabe
E não está feliz
Quando puder, ligue pra ela.
Edward, já se passaram três horas
Você viu o que foi incluído na sua agenda?
EDWARD ATENDE O TELEFONE
Eu não sei pra que você tem celular
A última mensagem tinha menos de uma hora, mas antes de ligar olhei a agenda, apenas para encontrar uma reunião marcada com o tema "alinhamento time pediatria", enviada pela secretária do meu pai. Não fosse o suficiente ele continuar insistindo nesse assunto, ainda tinha incluído minha mãe, Rosalie e… Bella? Não podia ser sério.
Liguei para minha irmã enquanto tentava processar o que nosso pai estava querendo fazer.
- Diga que já falou com ela antes de qualquer coisa.
- Não, Rose. Eu acabei de parar para almoçar, é a primeira vez que pego no celular em horas. Quer me atualizar sobre o que está acontecendo?
Rosalie contou sobre o café da manhã com Bella, como deu a notícia a ela e qual tinha sido sua reação. A cada palavra dela, eu tinha mais raiva. Raiva do meu pai, da situação que ele criou e de mim mesmo por não ter aceitado ser chefe. É claro que eu também tinha culpa. Se eu tivesse aceitado ser chefe, nada disso estaria acontecendo.
- Não se culpe, Edward. Seu único erro é não ter falado com sua esposa ainda. Bella está aterrorizada com a possibilidade de ter qualquer proximidade com a família de Jessica, mas você consegue julgá-la por isso? Eu não.
- Eu vou falar com ela. Mas tenho culpa sim, se não fosse por mim, ela não teria que passar por nada disso.
- Irmãozinho, não se dê tanta importância - ela riu, mas não havia nenhum humor real ali - Conversem como dois adultos, convença Bella que ela precisa participar dessa reunião e em duas horas estaremos aí.
Aproveitei que estava sozinho na sala para ligar para Bella, notando que não havia nenhuma mensagem dela durante a manhã toda. O telefone chamou quatro vezes até ela atender.
- Oi, amor - a voz trêmula me deu uma pontada de desespero - Você está melhor?
- Bella, você estava chorando?
- Não, não, eu só… - fez uma pausa - Ah, quem eu quero enganar? Sim, eu estava chorando, Edward.
Bella não estava muito melhor do que eu, mas ela não tinha raiva. Ela sentia medo. Por ela, por Elizabeth, por mim. Ela tinha medo das escolhas de Carlisle e como isso poderia nos afetar. Mas, assim como Rosalie, eu não conseguia julgá-la. E justamente por isso, eu também não conseguia entender como meu pai poderia tratar tudo como se não fosse uma situação grave.
Depois de conseguir convencer Bella a participar da reuniãol e me despedir garantindo que estaria ao lado dela, coloquei o telefone sobre a mesa e voltei para o almoço, agradecendo pela hora que decidi por uma salada, senão estaria comendo comida fria agora.
Olhei o relógio na parede, já fazia quase uma hora que eu estava ali, parecia até um milagre ficar tanto tempo sozinho durante um plantão. Estava pronto para voltar ao trabalho quando Tanya puxou uma cadeira, se sentou na minha frente e falou de uma vez:
- É o seguinte, Cullen, quantos funcionários eu preciso mobilizar para convencer seu pai que isso é uma péssima ideia? Eu sei que ele é meu chefe e eu provavelmente seria demitida caso não funcione, mas estou disposta a correr o risco.
- Ficou doida? - não que eu precisasse perguntar, é óbvio que ela estava completamente louca de sugerir uma coisa dessas.
- Tantos anos e você ainda me pergunta isso. Estou tentando sugerir uma forma de te ajudar, cabeçudo. Pensa comigo: se um número grande de funcionários pressionar o conselho…
Uma luz acendeu na minha cabeça. O conselho administrativo. Eu, minha mãe, Rosalie, Alice, Jane e Alec fazíamos parte do conselho. Tio Aro também, mas ele era sempre uma incógnita. Se eu levasse a questão para uma reunião, teria uma chance de barrar a contratação de Irina.
- Você é genial, Tanya! - exclamei.
- Mas isso você já sabia desde a faculdade - ela jogou o cabelo loiro, se vangloriando - Agora, de quantos precisamos?
- Nenhum - a expressão dela ficou confusa - Tenho a maioria no conselho ao meu lado e, além disso, meu voto e o de Rosalie têm peso dois desde que herdamos a parte da vovó. Eu só preciso reunir todo mundo.
Na teoria parecia fácil, mas antes de chegar lá eu tinha que enfrentar meu pai e alguns fantasmas do passado.
Era o dia da minha cerimônia de formatura e também o dia em que eu completava um mês de namoro com Bella. Após a entrega dos diplomas - apenas uma formalidade, já que o ano letivo havia encerrado cerca de dois meses antes e a maioria dos alunos até já ia começar as residências - Esme nos fez tirar milhares de fotos em família. Bella ainda não se sentia cem por cento confortável em participar de momentos como aquele, ela achava que deveria ser algo só da família, como se não fosse parte dela, mas fiz questão que ela estivesse presente.
- Agora uma última com a família toda - o fotógrafo pediu - Sorriam!
Quando as fotos terminaram, fomos caminhando juntos até onde os carros estavam estacionados e de lá seguiríamos para um jantar organizado pela minha mãe. Estávamos conversando e não percebemos quando alguém se aproximou.
- Então essa é a sua escolhida da semana, Edward?
Dei um passo para trás ao ouvir aquela frase, me colocando na frente de Bella.
- O que quer aqui, Jessica? Vá embora! - praticamente gritei com a garota, que não se abalou.
- Jura que vai me tratar assim depois de tudo? - ela rebateu e nos analisou da cabeça aos pés - Estou surpresa que você baixou o nível dessa forma. Já teve mais critério.
Eu estava surpreso com a audácia dela de aparecer assim.
- Já te pedi para ir embora. Quer que eu chame a polícia, como da última vez?
- Pode chamar, eu sei que no final você virá atrás de mim de novo - ela respondeu, com acidez na voz.
- Espere sentada.
Da mesma forma que apareceu, ela virou as costas e saiu. Quando olhei para trás, toda família estava nos observando, mas logo voltaram a andar e conversar outros assuntos entre si. Eu e Bella ficamos em silêncio até entrarmos no meu carro.
- Me desculpe por isso, Bella - comecei.
- Você pode me explicar o que acabou de acontecer?
Respirei fundo e encostei a cabeça no banco antes de falar.
- Jessica é uma ex, eu acho. Nós não chegamos a namorar porque ela tinha ciúmes até da Rose, então talvez nem ex seja. Ela acha que eu devo alguma coisa porque não quis um relacionamento, mas isso já faz tanto tempo… Eu não fazia ideia que ela estaria aqui.
Eu me sentia horrível por ter exposto Bella a aquela parte da minha vida. Ela deveria ser poupada desse tipo de drama.
- Que história é essa de polícia? - perguntou.
- Ela quis invadir uma festa da fundação dando um escândalo, eu não queria mais lidar com aquilo e chamei a polícia. Ela ficou menos de duas horas na delegacia, mas pelo menos parou de vir atrás de mim. Bom, até hoje - abri os olhos e virei para ela - Eu realmente sinto muito, vou dar um jeito de manter essa garota longe de nós.
Bella apenas se aproximou mais de mim dentro do carro e encostou o rosto no meu, só então percebi como minha respiração estava irregular.
- Respire, Edward. Vai ficar tudo bem.
Eu realmente esperava que ficasse. Mas aquela não foi a única vez que Jessica Stanley tentou interferir nas nossas vidas.
As próximas horas de plantão passaram como um borrão entre alguns atendimentos na emergência e consultas, até que Esme me avisou que Rosalie e Bella chegariam em breve.
- Vá lá fora tomar um ar - ela ordenou - Isso não é um pedido.
Andei pelos corredores até a saída para o jardim, sentindo a ansiedade crescer no meu sangue a cada segundo. É claro que, fisiologicamente falando, isso não era possível, mas minha cabeça não conseguia desligar e a cada vez que eu piscava, minha mente trazia de volta todas as preocupações que tentei deixar de lado nos últimos anos. Sentei em um dos bancos, fechando os olhos e tentando esvaziar meus pensamentos. Não sei por quanto tempo fiquei ali, apenas sentindo o vento no rosto, mas foi bom. Quando abri os olhos, estava mais confiante para encarar meu pai, Irina, Jéssica, o que fosse.
Como um sinal do universo, enxerguei, de longe, Bella saindo do carro. Não sabia se ela já tinha me visto, mas olhando para ela, sempre impecável e com a confiança que só ela tinha e sabia como demonstrar, eu tive minha confirmação: juntos, nós passaríamos por qualquer coisa.
Oie, gostaram? Espero que sim, me deixem saber!
Prometo voltar logo!
Estou no twitter: carolxcullenx
