Cap – 05 – Os Arpies.

Na manhã do dia seguinte...

Harry Potter pregou os olhos para um cochilo perturbado meia hora antes de sua porta se escancarar e ele ser chacoalhado em sua cama por Philip Sterton, um homem gigante tão chocantemente loiro que um pouco mais seria albino, com porte de caminhoneiro bronco, arrancando as cobertas do moreno em uma brincadeira comum entre colegas.

Muito cansado, o moreno demorou para dar por certo de que não estava tendo um pesadelo. Philip se aproveitou para segurar sua varinha com uma imitação demente de sorriso, levitando Harry de cabeça para baixo a um metro de suspensão da cama.

O bom humor do jovem atleta ariano era de dar inveja a qualquer ser que se aventurasse a acordar aquela hora da manhã com o frio cortante e o nevoeiro que decorava o mundo fora das paredes do alojamento.

- Hei! Me põe no chão! – Disse Harry sem pensar realmente no que estava pedindo dominado pelo sono lastimoso.

- Okay! Apanhador descendo! – Brincou Sterton, mudando o feitiço, jogando Harry a uma pequena distância da cama.

O moreno só percebeu o que dissera um momento antes de se chocar com a parede e só então aterrissar com um som estrépito no chão frio.

- Tá maluco Sterton! Se não tem o que fazer vai coçar a bunda e me deixa em paz! – Ralhou Harry.

- Olha a boquinha suja, Potter! Deixa o seu querido Robert ouvir você falando desse jeito que ele não vai te alimentar durante uma semana! – Zombou o loiro desajeitado.

Vendo que Harry ficou realmente alterado com o trote, Sterton o provocou mais ainda. Infelizmente o tipo de humor sem noção do rapaz era característico na sua personalidade.

- Deixa de ser viado Harry! Foi só uma brincadeirinha! Não vai me dizer que está gravemente ferido com isso?

Os olhos de Harry faiscaram de vontade de agarrar Sterton pelo pescoço e brincar de quanto tempo ele aguentaria sem ar antes de ficar "roxinho".

O moreno não gostava nem um pouco que seu nome, brincadeirinha e a palavra viado ocupasse a mesma sentença. Era ofensivo ao cubo, completamente deplorável.

Harry olhou tão sanguinário para Sterton, que o outro recuou se dando conta da observação infeliz de suas palavras anteriores.

- Ops, me desculpe, não quis ofender. Foi mal, Harry.

- Certo, não deveria, mas já me acostumei com essas coisas. Ninguém reage bem em relação a isso. – Falou Harry ainda rancoroso.

Era uma merda que tivesse escolhido e era excelente no esporte bruxo mais popular e homofóbico do planeta.

O primeiro fator de muitos outros aos quais o colega de Harry se safara muitas e muitas vezes de ser azarado, estuporado e por que não dizer? Amaldiçoado pelo moreno, é que de uma certa forma Sterton lembrava Ronald Weasley em seus áureos tempos de adolescência.

Principalmente pelo rápido e surpreendente vermelho grená que as feições do loiro ganhavam quando estava encabulado por alguma falha que cometera, deixando Harry nostálgico de jogar com Ron pela Grifinória contra o restante da escola, na sua época de Hogwarts.

Também existia a questão de Philip Sterton ser imensamente desprovido de capacidade mental.

Se o batedor dos Arpies por ventura entrasse em uma disputa de "QI" com um trasgo levaria a pior com certeza.

Harry jamais agrediria Sterton, até pelo respeito e pela amizade que tinha com o seu companheiro de equipe, pois ninguém era perfeito e ele podia ver que Philip em seus modos toscos ainda sim era de bom coração e caráter.

Além disso teria que desenhar antes o motivo da briga e mostrar passo a passo até que Philip entendesse depois de muito tempo e paciência o por que de merecer uma surra. O mais óbvio dele e também dos outros não se meterem a brigar com o colega era sua estatura meio-gigante e seu porte atlético semelhante a uma parede de concreto.

Infelizmente para o mundo, uma das poucas coisas admiravelmente gritantes em Philip era o seu talento nato para o quadribol, mas precisamente na posição de batedor. Quando estava em uma partida, seu bastão fazia estrago suficiente para deixar o time adversário muito preocupado com a integridade física de seus jogadores. Era como ter um trator teleguiado no ar, pronto para arruinar o alvo.

Harry massageou o flanco dolorido pela queda, fitando o colega com bastante raiva, mas deixou a questão de lado, não valia a pena discutir o modo bizarro que Sterton conhecia como brincadeira sadia.

- Hum... Por que você me acordou antes da hora, Philip? Algum problema?

O batedor olhou confuso para Harry passando a mão pelo queixo quadrado, ficando alguns instantes sem entender. Finalmente a luz acendera na sua tão reduzida massa cefálica. Sterton abriu um largo sorriso de compreensão, enquanto Harry esperava com o olhar fixo o outro, sem encarar o relógio para compreender mais rapidamente.

- Que horas a bela adormecida acha que são? Se liga cara! Já passa das sete e meia! – Respondeu o loiro.

- MERDA! Robert vai me matar! – Resfolegou o moreno.

- Com vontade ele já está. Os caras estão no campo se aquecendo e ele não para de gritar com todo mundo. Me disse para vir aqui te buscar a tapa se fosse preciso. Robert só não veio por que jurou que te mataria em campo por causa do seu atraso e não queria deixar o pessoal sem supervisão adequada.

- Puta merda! Ele não vai me deixar em paz! – Respondeu Harry, pegando seu uniforme, retirando a camiseta do pijama, mas parou na metade encarando Sterton em sinal de incomodo.

Por incrível que parecesse Sterton entendeu o olhar desconfiado do moreno e não tardou a rir do comportamento infantil do apanhador.

- Ah que isso Harry! Sei como é um cara pelado, tenho espelho sabia? Anda! Se veste logo e vamos, antes que Robert estenda o castigo a mim por ter demorado a te levar para o campo. Ou você acha que estou de olho nessa mixaria que você chama de pau?

Harry interrompeu o que Sterton falava. Porém era tão fiel a Draco que certas coisas já haviam se tornado automáticas para ele, por exemplo: não se trocar na frente de ninguém do time pelo ciúmes sufocante do loiro para com ele.

Com um pouquinho do bom humor que despertou em seu cérebro, Harry respondeu a brincadeira do batedor dos Arpies, mesmo que seus pensamentos ainda estivessem dedicados a fisionomia um tanto abatida de Draco no dia anterior.

- Tá com inveja Sterton? Curioso para fazer um comparativo? Vai por mim, não precisa, ganho de olhos fechados no escuro! Aposto todos os meus fundos em Gringotes sem me preocupar!

- Ah tá! Só nos seus sonhos, Harry! Olha o meu tamanho e olha o seu? Sou grande desse jeito, tenho tudo em dobro em relação a você. Mesmo que tivéssemos as mesmas preferências e não temos, não babaria no graveto mini-mini-Potter.

- Ah... Phil! Quem desdenha quer comprar! Se você é gamado em mim eu não tenho culpa! Mais não vai me ver nu. Sou fiel e muito bem casado com um lunático que além de ser possessivo é dez vezes mais inteligente do que nós dois juntos. Então não posso te dar essa provinha. Se você visse mais que os meus ombros, nós dois teríamos uma morte horrível provocada por alguma espécie de maldição que Draco provavelmente lançou em mim nas nossas falsas núpcias!

- Como? Eu babar em você? Nem alucinando! – Respondeu Sterton em defensiva.

Harry se virou arrancando a camisa do pijama a jogando sem cerimônias em cima da cama, vestindo a primeira parte do uniforme que era cumprida o suficiente para lhe esconder até os joelhos e só em seguida retirou a parte de baixo do pijama, sentando em sua cama.

Rapidamente colocou o restante do uniforme. O que Draco não via, Draco não sentia e o batedor fez questão de se virar de costas, então Harry tecnicamente não estava se trocando na frente de ninguém, certo?

Sterton olhava para qualquer coisa no quarto enquanto falava, menos para o moreno se trocando sentado, em respeito a privacidade do mesmo e do marido do apanhador, por que, longe dele colocar um cara tão bacana como Harry em problemas conjugais por causa de uma bobagem.

O moreno colocou os acessórios e o calçado em uma velocidade impressionante, fez um feitiço para limpar o hálito e os dentes, além do rosto. Já de pé colocou as luvas e foi em direção ao colega, lhe dando um tapinha amistoso nas costas para despertar o rapaz do seu estado transitoriamente pensativo.

Philip que olhava meio aparvalhado para as cortinas, tentava conceber uma ideia em sua cabeça e a tarefa tão corriqueira para uns parecia a ele algo extremamente difícil, diante do seu tão restrito intelecto.

- Vamos Philip? – Chamou Harry.

Se movendo divagar em direção a porta Sterton encarou o moreno com o cenho intrigado.

- Núpcias? Vocês tiveram núpcias? – Philip não atingira o bom senso de pensar para si e somente depois de uma rápida conclusão discernir se valeria à pena colocar seus rascunhos cerebrais em palavras.

- Sim, geralmente quando as pessoas se casam elas tem lua de mel, núpcias. Embora eu e Draco ainda não sejamos casados no papel. Quer saber os detalhes da minha com ele? – Perguntou Harry divertido sabendo que Sterton com certeza negaria.

- Longe de mim. Acabei de tomar o café da manhã. – Disse Sterton, deixando o espírito falar novamente.

- Idiota. – Respondeu Harry batendo a porta dando risada do rosto aturdido do outro.


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Draco esteve deitado, debilmente delirante e febril a noite inteira, enquanto Fany e Dink se postaram ao lado da cama do casal, fazendo compressas em sua testa e pulsos o tempo todo, dizendo encantamento élficos juntamente, para baixar a febre do amo loiro.

Quando ele finalmente despertou sentia-se um décimo melhor e sua febre realmente cedera bem, mas não totalmente. Seu corpo ainda estava lastimável e sua disposição não lhe dirigiu a menor atenção.

- Hum... Fany? Dink? O que estão fazendo aqui? – Perguntou Draco um tanto lento.

- Febre senhor, cuidando da febre. – Respondeu a elfo, checando a temperatura de Draco mais uma vez com as mãos pequenas e finas. Enquanto Dink torcia os panos que retirara da testa e dos pulsos para emergi-los novamente na bacia e recoloca-los no loiro.

- Estou melhor Fany, obrigado. Preciso ir ao banheiro e... – Seus pensamentos sempre tão claros ainda não faziam o menor sentido quando tentou se levantar rapidamente e seu corpo não acompanhou.

- Senhor, devagar. – Pediu Dink o advertindo com a voz esganiçada de preocupação.

- Certo. – Draco foi moroso, mas não por que estava aceitando a ordem de um elfo. Na verdade nem pensara nisso. Porém, até que voltasse a ficar realmente em forma, ele teria que ir com calma para não acabar desmaiado em algum canto da casa.

Draco seguiu para o banheiro, sofrendo de uma vontade alarmante de urinar. Quando finalmente o fez sentiu um prazer enorme por isso. Liberto do aperto na bexiga ele retirou as vestes aproveitando para tomar um bom banho.

Suas roupas descolaram de seu corpo tamanha era a umidade nelas.

Draco tão obcecado com sua higiene e sua ilibada aparência, se olhou no espelho um momento antes de entrar debaixo d'água com os devidos apetrechos.

Sua pele do rosto tão lisa, nunca precisou de lamina de barbear e por consequência só conhecia cremes caros para mantê-la macia, com o colágeno em dia, mas atualmente parecia sem viço, o que era alarmante.

Assim que a banheira encheu o loiro tratou de usar todos os sais que podia, já escolhendo mentalmente os cremes e as poções que passaria em seu destruído corpo.

Por fim afundou na água morna, perfumada e espumada, relaxando momentaneamente seus sentidos de uma forma agradável. A imersão fez os olhos de Draco se fecharam abençoadamente e o rosto de Harry veio em um flash tão imediato estampar seus pensamentos que quase o surpreendeu.

Para sua completa infelicidade, a visão de Harry que voltara com força total, trouxera a tona juntamente a vontade insistente de devorar a "maldita banana caramelizada", especialidade do moreno.

Suspirando melancolicamente, prosseguiu seu banho com lentidão, até deixar a banheira, não divino como sempre, mas limpo, cheiroso e arrumado de maneira a parecer um traste menos puído. Seu estômago roncou feroz assim que se vestiu por completo e quando desceu as escadas o cheiro vindo da cozinha motivou-o a chegar mais rápido que pode na mesa para ser servido.

Fany e Dink arrumavam a mesa abarrotada de alimentos. Panquecas, torradas, geleias, sucos, leite, waffer, mingau de aveia, ovos e bacon para alimentar o exercito da salvação depois de um bom tempo no deserto.

Draco jamais reclamaria do exagero, estava mais que acostumado com a fartura e por isso achou normal a mesa tão recheada. Contudo, assim que sentou-se sozinho pensou em como Harry acharia absurdo um café da manhã daquele porte para uma pessoa só. E lá estava sua irritante obsessão pelo moreno lhe trazendo a vontade insuportável de comer a drogada banana caramelizada.

Fany e Dink o serviram, serviram e serviram muitas e muitas vezes, com Draco enchendo seu copo e seu prato sem parar. O loiro consumia o equivalente a um urso recém desperto de sua hibernação. Não era para menos, ele estava tentando recuperar as forças ao mesmo tempo que seu estômago fazia as pazes e matava a grande saudade que sentia de alimento.

Depois de varias rodadas de panquecas e de tudo mais que aguentou ingerir, ele se levantou da mesa. Uma leve passada rápida ao banheiro e estava pronto para trabalhar. Sua recuperação estava efetivamente acontecendo, isso o tranquilizou um pouco.

O loiro sorriu, sem dar-se conta de que o fazia à medida que se dirigia ao sótão, mas precisamente seu laboratório, muito bem equipado e requintado para ser um local de trabalho presente na residência.

Draco se paramentou devidamente para o trabalho e logo as horas se passaram com ele se dedicando a isso, ou se forçando. Suas mãos bem que tentavam executar as tarefas, mas seus pensamentos muito além daquelas paredes, longe o suficiente para deixar seus movimentos atrapalhados, seus devaneios tão intensos fixos em Harry o dia inteiro, o que era enervante.

Oh como se amaldiçoava por ser carente e muito mimado às vezes, ou quase sempre!

Mil vezes ele repetira os passos do experimento, segundo suas próprias pesquisas minuciosas feitas tão recentemente, a semana passada e mais mil e umas vezes as coisas fracassaram pela ausência de concentração. Sua frustração só crescia enquanto presenciava sua capacidade de refletir com clareza em seu oficio se desviar cada vez mais do foco central, o trabalho.

Por fim Draco desistira de trabalhar, pelo menos o resto da tarde.

Meditando sobre um milhão de coisas para fazer, seu corpo não estava completamente apito e nem animado para qualquer tarefa que não envolvesse o seu Harry e banana caramelizada que ele fazia divinamente bem, portanto nada valia a pena.

Draco teve uma súbita ideia, já que não teria Harry tão cedo, por que não providenciar para ele a banana caramelizada de outra forma?

Então desceu as escadas já chamando por Dink, que esperava na sala ansioso por cumprir mais uma ordem de seu mestre.

- Dink, pegue quantos galeões forem necessários, vá as melhores docerias da cidade e me traga banana caramelizada, todas que você encontrar.

O elfo sorriu condescendente e prontamente acatou a ordem, sumindo de sua vista com um estalido de aparatação.

Draco passou as mãos pelo rosto meio úmido e suspirou ansioso.

- Merda! Estou suando de novo? – Amaldiçoando suas glândulas que quase nunca trabalhavam ele foi até o banheiro lavar o rosto e depois descansar até que Dink voltasse com sua encomenda tão maravilhosa.

Duas horas de pura impaciência se passaram até que o elfo voltasse carregado de sacolas.

O loiro sentou-se a mesa, já com a digestão feita do farto desjejum. Sua boca cheia d'água, os olhos acinzentados cintilando estranhamente dementes de vontade.

Dink arrumou a mesa explicando para o amo de onde vieram os doces conforme os dispunha ao alcance de Draco e o loiro engolia o excesso de saliva a todo momento, pouco se importando com as informações que o elfo dava tão dedicadamente.

Assim que os pacotes terminaram de serem expostos e abertos Draco avançou com o garfo de sobremesa no prato mais glamouroso, com uma imensa banana cheia de calda com uma decoração impressionante, mas quando levou um pedaço a boca, sentindo o sabor, seu cenho ansioso tão apreciador mudou completamente, o fazendo engolir desgostoso a parte que ainda estava em sua boca, por educação, pois não se parecia em nada com a sobremesa a qual Harry sempre fazia para ele.

Esperançoso Draco nem trocou de talher, retirando um naco da outra banana do prato ao lado que lhe parecia apetitosa ao extremo, mas quando provou sentiu a mesma sensação, o doce era razoável, mas não era "aquele sabor que esperava", definitivamente ele estava começando a se irritar.

Merda, ou seu paladar estava muito alterado ou Harry quando preparava a sobremesa enfeitiçava a banana para que ela ficasse com traços distintamente únicos para ele!

Foi assim que o loiro devorou muitos pedaços de todas as sobremesas na mesa. Já estava enfastiado de calda, enjoado de banana, mas a vontade ainda era muito forte de acabar com sua obsessão.

Diabos! Por que Harry não fizera a sobremesa para ele? Por que fizera para o maldito Dobby e para ele, o seu AMOR, ele não fez?

Assim que se levantou da mesa uma única, mas imensa pergunta rondava sua mente.

Por que?

Por que Harry não fez a sobremesa dele? Castigo? Seria isso? Por não ter ido ao jogo? Por não ter buscado Harry no estádio e por ter feito uma surpresa, mudando a decoração do quarto?

Draco teve o restante da tarde para se entregar ao estresse e a estafa que estava lhe acometendo diante da fragilidade que a febre lhe trazia à medida que aumentava novamente, lhe roubando aos poucos a clareza de pensamentos e antes que se rendesse a sandices mais banais de sua torpe genialidade o loiro compreendeu em um estalo o que se passava.

Um lampejo elucidara seus pensamentos e suas questões com uma simplicidade tardia através de um insight. Algumas cenas passaram mais atentas por sua psique brilhante.

A manhã que brigaram, o sorriso calmo e desafiador nos lábios de seu companheiro quando ele devia estar chateado, fingindo ter superado o impasse entre eles, o brilho diferente que existia nos olhos hortelãs de Harry enquanto Dobby simplesmente se fartava em calda e banana.

Os dias de folga que dera ao elfo, para que Draco não pudesse injustiçar a pobre criatura, pelo comportamento bondoso excessivo do moreno, a compota cozinhando lentamente quando chegou à cozinha, mais a noite o jeito sutil e bem subliminar como Harry se referiu à panela no fogão e por fim, o modo como o moreno percebera como Draco se preparou para mudar a situação a seu favor e seu marido tão sagaz o fez primeiro, o enfeitiçando tão despudoradamente, saindo do banho tão sensual e provocador.

Mesmo com a fraqueza tomando conta dos seus movimentos novamente, Draco nunca esteve tão a par e ao mesmo tempo tão surpreso com o lado infantil, mas perverso de Harry.

Então era isso? Vingança por causa do quarto? Vingança por causa de sua ausência na partida da semifinal do campeonato?

Sabia que quando Harry respondia para ele: "Não é nada" ele estava encrencado!

De primeiro o loiro ficou possesso, completamente lívido.

Se estivesse frente a frente com Harry já teria acertado os quatro olhos do moreno, dispensando a varinha para ter o gostinho de usar os punhos, depois o faria engolir todas as tigelas da cozinha e por cima passaria uns dias se recuperando do trauma na conservada, mas esquecida mansão Malfoy, só para ter o prazer de ver Harry rastejando para que ele voltasse para casa.

Claro, depois que Draco impingisse muitas condições ao moreno ele voltaria para o lado de Harry e por cima da situação como sempre.

Entretanto, outra questão chamou sua atenção.

Por que Harry simplesmente quis puni-lo assim? Desse modo?

O moreno poderia ter feito muitas coisas, poderia ter brigado, xingado, lhe ignorado. Poderia ter lhe castigado da pior maneira, abstinência sexual, por exemplo! Ele morreria com isso, mas fez exatamente ao contrario, por quê?

Por que foi sutil? O que era tão importante a ponto de fazê-lo refletir tanto?

O que ele teria feito no lugar de Harry se quisesse se vingar? Qual seria o motivo que o levara agir assim, sem falar nada...

Oh... A segunda verdade lhe veio com um assomo inquietante de remorso que quase nunca resvalava em sua mente.

Harry o conhecia muito bem, isso era um inferno! Uma maldição disfarçada de bênção!

Pensou com desgosto e um pouco de vergonha, pois somente sentindo falta dos caprichos que estava acostumado, refletiria para achar falha nos últimos dias e só ai que perceberia o motivo de Harry, se levasse em consideração a máxima: Só se dá valor a algo quando se perde!

Não era exatamente vingança, Harry era o cretino mais doce e despretensioso que conhecia, não tinha a malícia necessária para se vingar por mesquinharia! Ao menos o loiro pensava assim, querendo se agarrar a sua lealdade, embora não fosse completamente correto.

Se Harry tivesse feito algo que lhe deixasse de uma certa forma muito bravo, ou desgostoso, ele teria todo esse trabalho e mais um pouco para mostrar que se fosse ele tramando tudo isso, seria somente para ter Harry mansinho e obediente ao seus pés lhe implorando, implorando por... "DESCULPAS!".

Harry queria desculpas, era somente isso, queria que ele se retratasse!

Draco fungou dolorido ambivalente, entre a saudades, a raiva e o desgaste.

Porra de grifinório híbrido dos infernos! Harry tinha mesmo que ser um dos caras mais peculiares do planeta?

Seu estômago afundou e o excesso de doce nele trouxe o enjoo juntamente com a sensação de compreensão misturada a sua fúria e a saudades ao cubo.

- Filho de uma puta!Resmungou exasperado, se referindo a sua falecida pseudo-sogra, sem realmente pensar isso da respeitada Lilian Potter.

Por que sempre que o assunto envolvia Harry tinha que contar com uma lição de moral irritante, mesmo as avessas? Por que seu Harry não podia agir como todo estúpido que simplesmente gritaria, amaldiçoando e pronto? As coisas estariam resolvidas! Mas não! Ele estava pensando em Potter! O cretino mais correto e torto da face da Terra! Entre tantas pessoas no mundo tinha que amar e se juntar ao senhor fibra moral, meio sonserino, meio grifinório, um quase arruinado Lufa-Lufa malicioso?

Draco bufou, bufou mais e mais, dividido na bagunça de suas considerações. A vontade de comer a banana caramelizada que estava lhe fazendo subir pelas paredes, tão mista com a saudades desmedida que sentia de Harry quando ele estava fora e a febre que aumentava com o cair da noite não ajudavam nem um pouquinho, pelo contrário, aumentavam a sua carência que já exalava pelos seus poros e atos.

Vencido pelo cansaço de "não fazer" nada, por falta de energia e de concentração ele basicamente era o retrato da derrota.

Diabos! Quem ele estava se tornando? Estava em casa pateticamente só se lamentando e pra que? Pra porra nenhuma! Por que nada do que pensara o dia todo fazia com que as horas corressem mais rápido para poder buscar Harry logo no jogo e resolver essa merda entre eles o quanto antes!

Pedir desculpas? Quem sabe? Contudo, a sua maneira, é claro! Nem tudo poderia ser do jeito que Harry estava esperando, afinal, a decoração do quarto ficara perfeita! Seda javanesa era tudo de bom e indispensável para os padrões Malfoy! Já tinha aturado anos e anos a fio do mal gosto de seus sogros e ele praticamente era a senhora... NÃO! O senhor daquela casa também e merecia redecorar, antes que aquele tom de azul bebê pavoroso anterior fizessem seus olhos correrem do rosto para dentro de seu crânio, tentando implodir no processo!

Se pensava em se redimir teria que começar a pensar em uma maneira que não fosse com palavras. O singelo "me desculpe" era tão provinciano... Teria que ser algo mais ao estilo dele, mas que agradasse Harry imensamente!

SEXO? Não, definitivamente...

HARRY... HARRY... SEXO, SEXO, SEXO... BANANA CARAMELIZADA! NNNNNÃO... Droga de hormônios malditos!

Draco finalmente se deitou. Mais um dia ao qual não se dedicara a nada, não fizera nada, a não ser pensar, respirar, suspirar, sussurrar "HARRY, HARRY, HARRY..."

Com o pouco de forças e orgulho idiota que ainda lhe restavam ele se manteve a beira das lágrimas, de tão perdido que estava, mas não cedeu a elas, infimamente esperançoso por ter alguns dias para dar uma guinada em sua situação.

As horas se foram, a noite veio e o sono levara Draco rumo a um novo dia, sem que o moreno ou a banana caramelizada que ele preparava com tanta perfeição estivessem presentes para dar alegria a ele de alguma maneira.