CAPÍTULO 6 – Terceira noite

Hermione furiosa desvia seu olhar e prefere se manter calada, ignorando-o. Ele invadiu sua mente, tinha certeza. Daqui para frente deveria ser mais cautelosa com seus pensamentos. Queria continuar suas anotações, mas o efeito da aspirina passou e a cólica volta a incomodar. Levanta-se, vai até a mesa, pega o sininho e chama o elfo.

Ele prontamente atende ao chamado.

- Boa tarde, senhorita! Em que Dobby pode ser útil?

- Por favor, me traga mais um chá de camomila e outra aspirina!

Severo aproveita faz sinal para o elfo se aproximar, e também faz um pedido.

- Dobby, precisamos de mais cobertores, um para cada um. Aqui nesse quarto é muito frio de noite! O aquecimento já está no máximo! Ah... por favor, leve este bilhete para o diretor Alvo Dumbledore, sim?

- Dobby voltará com os cobertores, assim que deixar o bilhete com o diretor! Mais alguma coisa que Dobby possa fazer?

Hermione se levanta, coloca o roupão por cima do pijama, pega outra caneta na gaveta do criado mudo, retorna a sua cama e também faz mais um pedido.

- Por favor, Dobby... aguarde só uns minutinhos. Preciso escrever um bilhete para a professora Minerva e o senhor aproveita e entrega para mim também, por favor!

- Sim, senhorita! Dobby aguarda e agradece ser chamado de senhor!

Ela olha rapidamente para Severo, pois sabia que ele prestava atenção na sua conversa com o elfo, e pensou:

Se ele pode mandar recado para Dumbledore, eu também posso mandar para a professora Minerva! Vou dizer para ela o quanto é constrangido ficar aqui presa com um professor homem... ao menos se fosse professora não passaria vergonha!

Arranca a última página da agenda, que são páginas em branco para anotações, e rapidamente escreve uma mensagem para a diretora da sua casa. Depois dobra e entrega ao elfo.

- Agora pode ir Dobby! Muito obrigado por esperar!

Passava das quatro horas da tarde, a temperatura já caía nas terras de Hogwarts. Enquanto Severo lia ou relia todas as manchetes daquela terça-feira, Hermione se contorcia de cólica. Queria pedir o analgésico do professor, mas estava brava com ele. Ela iria suportar a dor, afinal Dobby nunca demorava. Levou quase meia hora para o elfo voltar. Ele retorna com o elfo Yuri, uma vez que a Winky estava indisposta e não quis ajudá-lo. Dobby carrega a bandeja e Yuri os cobertores. Os cobertores de qualidade inferior, bem mais finos, são deixados em cima de cada cama. O professor decepcionado desdobra o seu para se certificar se teria alguma serventia.

Dobby coloca a bandeja no criado mudo da aluna com o chá e a aspirina:

- Dobby demorou... Dobby pede desculpas! Madame Pomfrey não queria emprestar os cobertores.

- Ela vai se ver comigo! Olhem para isso! Chama isso de cobertor?

Severo Snape resmunga com sua voz mais letal possível!

- Dobby sente muito, senhor! Foi o que a madame Pomfrey entregou a Dobby!

- Ela não queria emprestar isso aqui? Não tinha coisa melhor no castelo para nos oferecer?

- Dobby só obedece a ordens, senhor!

Hermione muda o rumo daquela conversa.

- Dobby, o senhor entregou meu bilhete para a professora Minerva?

- Dobby não entregou, senhorita!

- Não?

Hermione pergunta espantada.

- E o meu?

O professor também quis saber.

- Dobby não pode levar nada daqui para o castelo, somente louças para a cozinha e roupas para a lavanderia. Dobby deixou os bilhetes na cozinha e foi falar com o diretor para saber se ele poderia receber.

- E ele disse alguma coisa? Mandou algum recado para mim?

- Ele disse à Dobby que nada pode entrar no castelo, nem papel! Ele não mandou recado nenhum, senhor! Dobby sente muito!

Severo Snape estava furioso. Começou a duvidar até da amizade do diretor. Que maneira de tratar um professor com mais de quinze anos de casa? Se já não bastasse aquele cobertor ralo, que não se deve dar a um cachorro...

- Se não precisam de mais nada, Dobby e Yuri agradecemos e vamos nos retirar, senhor e senhorita!

- Obrigado!

Hermione responde e Severo se levanta nervoso. Coloca seus chinelos e começa a andar em círculos pelo quarto. Os elfos desaparecem após o estalo dos dedos. Ela toma o comprimido e a metade do chá. Não aguenta mais a cólica, se deita, e começa a gemer baixinho até que as lágrimas vêm ao rosto. Severo para de andar em círculos ao ouvir o choro dela. A olha preocupado e até se esquece do motivo de ter ficado nervoso. Se sensibiliza ao ver a aluna com tanta dor e se aproxima da cama dela.

- Senhorita, como posso lhe ajudar? Você esperou muito para tomar outro comprimido. Poderia ter me pedido, eu disse que tinha na pasta...

Em resposta ela vira seu rosto para parede. Estava magoada, não queria falar com ele. Mas algo havia mudado dentro dele. Depois que leu a agenda dela, quase um diário, ele sabia muito mais sobre ela do que ela imaginaria. Ele se senta na beira da cama dela e a cama range. Sua voz era suave quando disse:

- Peço-lhe desculpas por ter invadido sua mente, senhorita! Eu posso lhe fazer massagens até o comprimido fazer efeito. Me permite?

Ela não responde e continua gemendo. Ele sabe que a dor está estampada no rosto dela, precisava fazer algo para ajudar. Retira parte do cobertor de cima dela, abre o roupão e o afasta do abdômen. Ela permanece imóvel pela dor ou seria pela iniciativa dele, que a pega de surpresa? Ele deposita sua mão grande em cima da calça do pijama dela, na região ventral e vai massageando bem lentamente, apertando gentilmente com as pontas dos seus dedos, em movimentos circulares. Ela no início sente um calor lhe subir pela garganta pela proximidade daquela mão máscula tão perto da sua intimidade, mas depois sente alívio gradativo a cada toque dos dedos, quando deixam de pressionar o local dolorido. A mão dele parece mágica e o semblante dela vai voltando aos poucos ao normal. Ela então vira-se para ele e encara os olhos ônix, não mais com fúria, mas com gratidão.

- Está melhorando?

Ele pergunta, agora com as duas mãos mantendo os dedos pressionados e soltando.

- Muito...

Ela para de chorar, respira fundo mais aliviada, sentindo sua musculatura relaxar com a massagem.

- Fico feliz em poder ajudá-la. Posso lhe perguntar uma coisa?

- Eu posso imaginar o que o senhor vai me perguntar... só não garanto a resposta.

- O que a senhorita acha que vou lhe perguntar? Vamos fazer o seguinte... Se acertar, devolvo os dez pontos que lhe tirei no domingo!

- Sério?

Ela pergunta com um meio sorriso.

- Sim! Eu ando observando a senhorita e não é de agora... Agora ainda mais, afinal não temos muito o que fazer aqui confinados!

- Eu não sou legilimente como o senhor... então não creio que eu vá acertar...

- Tente ao menos!

- Sei que tem a ver com a minha tpm. Sim, senti vergonha do senhor! Provavelmente vai me perguntar isso!

- Eu iria lhe perguntar exatamente isso: porque sentiu vergonha de mim?...

- Me desculpe por ter gritado com o senhor! Sorte sua ser homem, e jamais ter que passar por estes períodos infernais de tensão pré-menstrual!

- A senhorita não me respondeu... sente vergonha de mim? Você deveria ter me dito de manhã que estava com cólica...

Ela ruboriza novamente. A presença daquele Homem cuja imagem demonstrava força, coragem e virilidade, a fazia sentir-se tão mais frágil, e ao mesmo tempo tão mais feminina. Sabia que fez o papel de tola, culpando a tensão pré menstrual por se chatear com a elfa.

- Eu não tenho vergonha de menstruar, afinal eu sou mulher! Eu só não queria que o senhor soubesse, talvez por ser considerado um tabu... Talvez o senhor fosse achar nojento ou sujo.

- Tudo o que eu sei é que se trata de um fenômeno tão significativo e que dele depende a sobrevivência e a propagação da nossa espécie! São vocês mulheres que geram os bebês, para que tanto homens ou mulheres possam vir ao mundo! Deveríamos ser mais gratos a vocês, mulheres!

Ela se senta na cama, se sentindo bem melhor. O medicamento também começa a fazer efeito. As palavras dele lhe trazem um conforto tão grande, que ela fica na dúvida se o homem sentado ali ao seu lado era mesmo o professor Snape de domingo.

- Nossa, eu amei o que o senhor disse!

Ele sorriu de forma sensual, pois esta era a sua real intenção.

- Sabe de uma coisa, senhorita?

- O quê?

- Desde domingo, quando passei a observá-la melhor, eu realmente consegui entender o significado da tpm nas mulheres! Não é somente a mudança de humor, como a maioria comenta. É todo um processo hormonal bastante complexo, que leva a renovação do tecido uterino para que um novo ciclo aconteça, uma nova chance de trazer outro ser ao mundo.

- Falando assim, parece ser bem mais poético do que fisiológico!

E eles riram. Logo Dobby surge e traz o jantar deles.

Eles jantam e a conversa entre eles flui mais naturalmente. Eles voltam a falar das plantas raras que podem ser encontradas na floresta. Estavam tão empolgados com a ideia de voltar a floresta no domingo para colher mais plantas, que acabam acreditando em tal possibilidade.

- Temos só que convencer Dobby a nos deixar voltar a floresta!

Hermione pondera.

- Não será difícil, pois li nos jornais que o próprio ministro determina livre circulação dos profissionais da saúde. As plantas coletadas servirão para medicamentos. Estaremos a trabalho!

- Vai ser ótimo poder sair um pouco daqui!

Depois do jantar, Severo separa o jornal e faz um círculo em volta desta manchete. Mostrará ao elfo caso ele não concorde. Hermione vai ao banheiro, escova os dentes, e depois ao retornar na cama, faz algumas anotações na sua agenda. Fechou a agenda e colocou na gaveta, em cima do livro dele, no criado mudo. Ela quase não leu o livro, mas teria muitos dias ainda para continuar a leitura. Vira-se para ele e diz:

- Boa noite, professor!

- Boa noite, senhorita! Durma bem! Vou apagar a luz para você! Se precisar de massagem ou de medicamento, me chame, sim?

- Obrigado!

Ele separa alguns itens da sua mala e vai para o banheiro tomar banho. Enquanto a água quente caía em seu corpo, volta a pensar nela e nas anotações que leu na agenda. Não queria admitir, mas já sentia um carinho enorme pela sua aluna da Grifinória! Ela ouve o barulho do chuveiro e não consegue dormir imaginando a água caindo sobre aquele corpo nú. Maldita menstruação e parede que nos separa!

Continua...