Aviso legal: Nada disso me pertence.
CAPÍTULO 6 - Despertar de um pesadelo
"A postura é combativa. Ainda tô aqui viva
Um pouco mais triste, mas muito mais forte
E agora que eu voltei, quero ver me aguentar
Só nos últimos cinco meses, eu já morri umas quatro vezes
Ainda me restam três vidas pra gastar"
(Pitty: Sete vidas – Sete vidas, 2014)
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Levaram alguns segundos pra Bruce se recuperar do choque. E com quase nenhuma dificuldade, ele pegou o braço de Selina, virou-a e o prendeu em suas costas, empurrando-a de frente a parede.
- Não faça barulho, Helena está dormindo. – Sussurrou lentamente no ouvido de Selina. – Não vamos acordá-la. Você vem comigo.
Bruce desceu as escadas mantendo Selina presa pelos braços.
- Onde você está me levando? – ela indagou entredentes, mas falou baixo como ele mandou. Não ofereceu resistência.
- Vamos a biblioteca.
Deram alguns passos até a biblioteca, chegando lá Bruce soltou Selina, e então pôde vê-la melhor.
Ela ainda vestia a camisola branca do hospital, estava descalça e os cabelos estavam soltos e rebeldes. Podia se passar muito bem por uma fugitiva do Arkham.
- Como você chegou aqui? Como você acordou, Selina? Você estava em coma há dois meses...
- Eu não sei. – Selina falou em um tom irritado e desafiador. – Eu apenas acordei..., mas acho que senti o perfume dela... Ivy.
- Ela te curou de novo? – Bruce indagou surpreso. – Ela está sumida há anos. Agora é uma assassina procurada. E a última vez que a vimos, ela queria te matar. Não faz sentido...
- Eu não ligo pra isso, Bruce. O importante é que estou aqui. E quero a minha filha! – falou enfurecida.
- Pra que? – Bruce indagou calmo. - Pra onde você vai levar Helena?
- Isso não é da sua conta.
- É sim. Ela é minha filha também. Embora você tenha me privado disso por dez anos...
- Não teria te privado se você não tivesse ido embora. – falou com rancor. - Se não tivesse me abandonado. Você era tudo que eu tinha, Bruce... – ela falou a última sentença baixinho.
- Eu fui porque era o certo a fazer, Selina. – Bruce explicou sentindo-se culpado. - Era o certo para proteger a todos. Minha presença aqui colocava todos vocês em perigo.
- Devia ter ficado por lá então. – Selina ironizou e em seguida andou até Bruce que estava bloqueando a porta da biblioteca. - Agora me deixa passar que eu vou pegar Helena e dar o fora daqui.
- Selina, olha pra você. Você não está bem... e você não vai sair daqui, muito menos com Helena.
- Eu vou. – Selina sibilou e partiu para cima de Bruce que se preparou para se defender, mas não foi preciso. Antes de atacá-lo, Selina cambaleou e caiu desmaiada, ainda a tempo de Bruce segurá-la.
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Bruce levou Selina de volta ao hospital de Gotham.
- É um milagre. – Lee disse abismada para Bruce uma hora depois, após ver os exames de Selina. – Ela está totalmente curada. A tomografia está perfeita.
- E por que ela desmaiou? – Bruce indagou preocupado.
- Hipoglicemia. – A médica explicou. - Ela gastou muito energia indo daqui até a mansão, e como faz meses que ela só se alimenta por sonda... Bem, agora ela está dormindo. Apliquei um calmante. Podemos dar alta pra ela pela manhã. Vá pra casa, Bruce.
- Não vou, Lee. Quero estar aqui quando ela acordar.
- Pra ela lhe ver...
- Não, pra evitar que ela fuja.
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Selina acordou por volta de nove da manhã e os olhos azuis de Bruce foram a primeira visão que teve.
- Onde estou? – indagou desorientada.
- Eu trouxe você de volta ao hospital.
- Eu não vou ficar aqui. – disse irritada.
- Eu sei... sei que não vai. – Bruce apaziguou. – Vamos fazer o seguinte: você come alguma coisa pra não desmaiar como na noite passada, e depois tratamos da sua alta. Também precisamos conversar...
Selina não se opôs, estava cansada demais pra isso.
Então, Bruce colocou uma bandeja sobre o leito dela e ajudou-a a sentar-se. Desconfiada e parecendo contrariada, ela começou a comer o café da manhã. Primeiro devagar, depois com uma voracidade de quem não comia há meses.
- Deixe pelo menos a bandeja... – Bruce não pôde se conter.
Selina lançou um olhar perigoso e continuou a comer. Bruce se sentiu estranhamente feliz naquele momento.
Quando a bandeja de café da manhã estava limpa, Bruce retirou-a e voltou a sentar-se ao lado da cama de Selina.
- Agora. Conversar.
- Eu preciso sair daqui.
- Não sem antes conversarmos.
- Não temos nada pra conversar, Bruce. – Selina alterou-se. - Vou pegar minha filha e dar o fora.
- Infelizmente isso não será possível, Selina.
- Por quê?
- Porque eu não vou deixar.
- Bruce, desde quando eu deixei de fazer alguma coisa por que você não permitia?
- Desde quando você e Helena estão em perigo. – disse sério. – Eu sei que Lex Luthor está perseguindo vocês. E eu quero saber o motivo.
- V-você... você o encontrou? – Selina indagou apreensiva. - Ele não pegou, Helena? Pegou?
Selina parecia assustada. Bruce ficou surpreso, ele sabia que "a gata" não era de se assustar fácil.
- Helena está bem. – Ele acalmou-a. - Ela procurou Alfred como você a ensinou. Mas Luthor continua atrás dela e de você também. E eu preciso saber por quê.
- Porque ele é louco, Bruce! Ele é completamente pirado. E ele – Ela hesitou por um momento. - Ele tem essa... essa fixação estranha por mim.
- Como assim? – Bruce indagou curioso.
- Olha, é uma longa história...
- Selina, me conte, por favor. Só assim posso ajudar vocês... Você sabe que sempre pôde me contar qualquer coisa...
Selina ponderou por um momento.
- Tá. - Concordou após um suspirou e seu semblante ficou sombrio. – Foi depois que você foi embora, eu descobri que estava grávida e resolvi dar o fora pra Metrópoles, pois eu tinha muitos inimigos em Gotham. Depois que Helena nasceu, eu estava quebrada. Então, depois de um roubo que não deu certo na Luthor Corp., ele me descobriu. Mas ao invés de chamar a polícia, ele me ofereceu um emprego. Eu comecei trabalhando para ele como ladra. Ele precisava de algo, eu roubava. Documentos... Armas..., mas com o tempo ele começou a querer mais do que isso... ele queria... – ela pareceu procurar palavras. – Ele queria outro tipo de serviço. Eu resisti por muito tempo, durante anos me esquivei das investidas dele, mas aí, Helena ficou doente... – Selina suspirou. Estava se alterando à medida que contava. – Ela precisou operar o apêndice... a cirurgia era cara, e se demorasse muito ela poderia morrer... então eu...
- Tudo bem, Selina. – Bruce disse entendendo. - Você não precisa...
- Eu fiz tudo que precisava ser feito pra Helena ficar bem. – Selina disse com os olhos cheios de lágrimas. – Depois disso... ele passou a me procurar de forma insistente, mas eu não queria mais prestar nenhum serviço para ele. De nenhum tipo. Então ele começou a me perseguir. Eu ia fugir de Metrópolis, estava juntando uma grana, mas ele me pegou antes... – Selina pareceu lembrar-se de algo e teve um sobressalto. Com os olhos cheios de terror, ela agarrou o braço de Bruce e falou com um desespero que não era típico dela. - Ele é muito perigoso!
- Eu sei que ele é. – Bruce disse olhando-a nos olhos.
- Você não entende. – Selina falou agora às lágrimas ainda agarrada ao braço de Bruce. – Luthor é perverso! Ele não tem limites. Bruce, antes de atirar em mim ele...
Selina parou por um momento, seus olhos pareciam rememorar coisas horríveis.
- Ele o que, Selina?
- Ele falou... – ela soluçou com o choro que não continha mais. – Ele falou que ia levar Helena! Disse que se eu não o queria... Ele levaria Helena pra se vingar de mim.
Bruce ficou horrorizado. Não conseguia sequer imaginar Luthor colocando as mãos em sua filha.
Selina soluçava agora e Bruce a abraçou.
- Selina, ele não vai encostar nem um dedo em vocês, eu não vou deixar. – Prometeu enquanto a abraçava.
Ela afastou-se de Bruce.
- Não preciso de você pra me proteger. – Sorriu amarga, com os olhos ainda cheios de lágrimas.
- É incrível sua arrogância e prepotência, Selina. – Bruce disse exasperado, afastando-se dela. – Será mesmo que você não precisa de mim? Será que não precisa mesmo? Olha onde você está! O que teria acontecido a Helena se Alfred não tivesse pego ela no orfanato? Você sabia que Luthor tentou adotá-la? E que só não conseguiu por que eu reclamei a paternidade dela? Você não pode ser inconsequente ao ponto de levar Helena para as ruas novamente. Eu não vou deixar.
- Aprendeu a falar grosso, heim, Bruce? – Selina disse mudando bruscamente sua feição, agora num misto de admiração e ironia.
Então ela sorriu para ele, desarmando-o completamente. E se levantou da cama com um gesto gracioso.
- Tudo bem então. – disse sorrindo dócil.
- Tudo bem, o que? – ele indagou aturdido.
- Eu vou com você. – Selina o encarou. – Sabe, aceitar a sua "proteção". – Sussurrou a última palavra, fazendo aspas com os dedos.
Assim, diante de um Bruce perplexo e sem nenhum pudor, ela despiu a camisola do hospital, ficando completamente nua. Foi até um móvel de metal que tinha no quarto, inclinou-se pra abrir a última gaveta e olhando para Bruce perguntou despreocupada:
- Onde colocaram minhas roupas?
