Cap 7 – RYOKAN

Cerca de um mês já havia se passado e o relacionamento do samurai com a instrutora espadachim se desenvolvia bem : para a felicidade de Kaoru e para o desespero de Kenshin. À medida que se aproximavam mais um do outro sentimentalmente, o faziam também fisicamente; os beijos eram cada vez mais constantes e longos, os abraços comuns e o aroma que sentia quando em contato com ela já o estava inebriando mais do que o recomendável.

O ex-hittokiri já estava tendo que praticar com Sano diariamente, a fim de gastar sua "energia excedente"; chegava no dojo cansado e sujo, quase exausto, para uma Kaoru preocupada ; simplesmente não explicava ao certo o motivo de tantos treinos sem aparente necessidade.

Portanto a indicação de Hiko-sensei para fontes termais com serviço de hospedagem (chamadas ryokan) foi muito bem aceita; precisava fazer o máximo possível para tentar relaxar e evitar passos mais imprudentes.

Inevitavelmente, o convite se estendeu ao grupo de amigos, que animadamente viajou algumas breves horas até o local.

A hospedaria era organizada e limpa; a entrada era toda composta por caminhos de seixos que ladeavam áreas de grama milimetricamente desenhadas. As acomodações vinham dispostas em corredores após a recepção. Tudo comandado por um casal de senhores simpáticos e solícitos.

Os quartos foram divididos entre moças e rapazes, bem como o local dos banhos quentes já era naturalmente dividido; a atração pelas águas com propriedades medicinais e rejuvenescedoras era o que tornava o local famoso.

- Pois bem, a escolha foi perfeita. – Megumi se reclinava confortavelmente, aproveitando a água quente, relaxando com os olhos fechados.

Kaoru respirou fundo, se esticando no fundo do lago.

- Estava precisando relaxar mesmo. – A Kamiya fechou os olhos, colocando a toalha facial morna dobrada na testa.

- Só achei que você não iria querer dividir o quarto comigo – A kitsune abriu um dos olhos , saboreando cada reação da moça.

- E porque eu não dividiria? – Ela derrubou a toalha, a pegando velozmente. Seu rosto ligeiramente exaltado já começou a dar sinais de que havia entendido a mensagem subliminar da maliciosa médica. - Oras, Megumi você estava achando que eu, que nós….

- Você poderia aproveitar, bobinha. – A médica sorria largamente, cochichando. – Uma chance dessas não se joga fora. – Piscou sedutoramente, agora rindo.

- Megumi, pare de falar besteira agora mesmo. – Kaoru torceu a toalha com todas as forças e tentou equilibrá-la em sua testa novamente.

- Kaoru, estamos entre amigos, ninguém os julgaria aqui; não são conhecidos na região nem nada disso; pense direito. – Megumi brincava levemente com a água, arqueando uma sobrancelha brincalhona.

- Não sei de onde vem tantos conselhos indecentes, sinceramente. - Kaoru tentou dissipar a vermelhidão de sua face, se abanando inutilmente na fonte termal enquanto imaginava mentalmente a situação que a amiga propunha.

- Então voltou a fugir dele ou conseguiu finalmente entender a arte de se relacionar? – A médica ajeitava suas madeixas, risonha.

- Já superei o estágio das fugas há algum tempo atrás. – Kaoru fazia força para não soar imatura e Megumi era toda atenção agora. - E estou me sentindo mais confortável, sim, com nossa proximidade. – A instrutora alisava distraída a superfície da àgua.

- Então já descobriu um mundo novo de sensações físicas chamadas genericamente de "desejo" ? – Ela deu um meio sorriso curioso.

–C-creio que sim . – Ela pareceu dizer isso num só fôlego, engolindo seco. - Não quero e nem consigo mais escapar dos lábios dele. – Ela suspirou, olhar sonhador mirando o horizonte. – Pelo contrário, ando buscando cada vez mais. – Ela quase tapou a boca involuntariamente, devido à confissão indiscreta que havia feito tão rapidamente.

Megumi conseguiu somente abafar um riso satisfeito.

Alguns minutos de silêncio depois, Kaoru se inquietou.

– Megumi...

-Hmmm...? – Era mais um muxoxo preguiçoso do que resposta.

- Por acaso você sabe se tinha algum sapo aqui em volta quando entramos? – A espadachim permanecia imóvel em sua posição semi-deitada.

- Não vi...- Megumi tentou se endireitar um pouco, ainda de olhos fechados. – Mas não acho possível, por conta da água quente.

- Mas...- A moça abriu os olhos e nem precisou abaixar a cabeça para avistar o animal verde de pele úmida já repousando em seu colo.

Megumi avistou a cena e tentou ir até ela.

- Calma Kaoru, não se mexa, eu posso tentar... – A médica tentava se aproximar, mãos firmes preparadas.

- KYYYYYYAAAAAAAAAAAA! – Qualquer vestígio de racionalidade abandonava a Kamiya.

- Pois então não seria melhor ficarem em um quarto só pra vocês? Já que são um casal, não? – No lado masculino das termas Yahiko segurava o queixo, pensativo.

- Bom, há mais coisas envolvidas nessa decisão , meu jovem..- Sano apoiou o cotovelo na cabeça do rapaz. – No caso de nosso Kenshin, uma besteira na minha opinião - O lutador arqueou uma sobrancelha desaprovadora. - Envolve uma resistência desumana e um nível de dificuldade bem alto...

Yahiko permanecia escutando atento, ainda sem compreender totalmente.

- Sano, não precisa continuar. – Kenshin esfregava o pescoço com a toalha de rosto que todos possuíam. – O que importa é que não quero pular etapas, e está tudo bem como está por enquanto. – O ruivo sorria levemente.

- Eu que ando te ajudando, me matando pra treinar com você. – O lutador deu um meio sorriso acusador. – Se eu não estivesse disponível, não sei , acho que você estaria escalando paredes, montanhas e coisas do gênero. - Riu e jogou um esguicho de água no rosto já ligeiramente apreensivo do ex-battoussai; aproveitou e desferiu um leve tapa amigável no ombro do amigo. – Auto-controle é uma coisa, tortura é outra. – E começou a rir alto.

Um raio invisível de compreensão parecia ter atingido o jovem espadachim.

- Vocês estão falando de relações com mulheres, no sentido..- Ele tentou fazer algum tipo de gesto vago, com os olhos arregalados e expressão embasbacada no rosto.

- KYYYYAAAAA! – o grito de Kaoru foi ouvido pelos rapazes.

- Essa não é a ...- Yahiko arregalou ainda mais os olhos.

Kenshin fechou o rosto e não pensou duas vezes...

Megumi arqueou ambas as sobrancelhas, mas mal conseguiu vislumbrar algo. Quando percebeu Kenshin já havia devolvido o sapo à natureza e Kaoru ainda gritava de puro nojo, com os olhos cerrados com todas as suas forças, encolhida num canto.

- Kaoru, abra os olhos, está tudo bem! – Megumi permanecia abaixada nas águas da piscina termal, se cobrindo ao máximo ao mesmo tempo que tentava conter a moça. – Kenshin já tirou o sapo e você ainda está gritando! – Ela apontou com a cabeça para o samurai ainda ali presente.

- K-Kenshin? – Os olhos da Kamiya arregalaram de imediato, o procurando. – Aqui? – Ela segurou seu busto como se o mundo dependesse disso, se agachando e encolhendo ainda mais, próxima a Megumi.

Ele já estava distante, só querendo saber se ela estava bem, se esforçando para que sua toalha cobrisse tudo o que devia, indo cada vez mais para trás.

- Está tudo bem? – Ele falou alto. - O rapaz também se encolhia , já se aproximando da saída.

A moça achou tempo para olhá-lo de relance e gritar um "SIM" apressado, chegando ao auge do constrangimento possível em seu ser, cobrindo lateralmente seus olhos com as palmas das mãos.

Satisfeito ele acenou com a cabeça rapidamente, fez a volta pelo estrado de bambu que separava os dois lados das piscinas naturais e sumiu.

Kaoru respirou fundo, mas não evitou a face ligeiramente a encarou e abriu lentamente um sorriso.

- Você também viu, né? – A doutora se abanava levemente.

- TAMBÉM? – Kaoru se endireitou, a acusando vorazmente com o olhar. – Como assim, TAMBÉM, kitsune? Como você é indecente, sinceramente...- Kaoru se abanava freneticamente, olhando a interlocutora com uma semi-repulsa.

- Bom, pelo menos sua ingenuidade visual foi rompida, um bom começo. – A moça de longos e lisos cabelos os examinou de perto. – Então, viu como ele a socorreu rápido ?

- Eu nem senti ele me tocar...- Kaoru respirava normalmente agora, ânimos se apaziguando. – Digo , ele só pegou o sapo e se afastou?

- Isso mesmo. – Megumi voltou a sua posição inicial. – Ele parecia muito aflito com seu pânico, mas foi só isso... – Ela respirou fundo e fechou um dos olhos. – Você estava querendo sentir direito o toque dele, então? – A piscadela maliciosa e o sorriso debochado pontuou a provocação.

A jovem pareceu ferver dentro da água.

- Megumi! – Foi uma expressão de indignação que a forçou a segurar seus punhos.

Chegou a realização de que a resposta mais honesta de que, cada vez mais, desejava o toque dele. No seu íntimo trouxe a imagem dos contornos do corpo torneado do rapaz, e isso havia feito o coração dela ir a mil por hora.

E se atentava cada vez mais com a normalidade isso.

Foi depois de uma farta noite e um jantar animado que o destino...Ou melhor dizendo, Megumi, Sano e Yahiko, decidiram ajudar o casal a se aproximar ainda mais.

Antes que todos decidissem se retirar e voltar a seus quartos para dormir, sorrateiramente o trio saiu de cena e se enclausurou no quarto masculino.

-E se eles vierem aqui e quiserem entrar? - Yahiko parecia mais feliz do que nunca por fazer parte do plano. - A Kaoru é doida, pode quebrar a porta. - O jovem fazia barricada na porta com alguns itens grandes do quarto.

- Ela quer que eles fiquem a sós, só está insegura e tímida; não vai protestar em nada. - Megumi já ajeitava o grande futon para si no chão. - Essa chance ela não pode deixar passar.

- Bem, o Kenshin que finalmente se resolva com ela, eu não vou durar mais uma semana se tiver que continuar a treinar nesse ritmo. - O arruaceiro tomou seu lugar em uma confortável cadeira almofadada e convidou Yahiko a sentar ao seu lado , na pequena varanda do local.

Após alguns momentos ouviram batidas na porta. Ninguém se moveu ou respondeu; um olhava para o rosto do outro.

Mais uma vez batidas, e a voz de Kenshin.

-Vocês não deviam tentar forçar uma situação, sabiam? - Ele suspirou frustrado. Ficou parado alguns instantes, encolheu os ombros e foi rumo ao outro quarto no final do corredor...

Batidas na porta.

-Megumi? - Kaoru já estava em seu kimono simples de dormir, soltando o cabelo. - Por que bater se você pode…

- Kenshin; posso entrar? - Ele estava ali fora parado aguardando, um tanto ansioso.

Kaoru se desestabilizou um momento. Examinou suas vestes.

"Ah nada demais, ele já me viu assim antes."

A moça abriu a porta com um tímido sorriso.

-Não achei que te veria antes do café da manhã...Entre. - Ela fechou a porta atrás dele.

-Pois eu também não. - Ele coçou a nuca. - Vou precisar dormir aqui com você essa noite, Kaoru. - A fala dele saiu séria, assim como a expressão de seu olhar.

Ela arregalou ligeiramente os o gigantesco e macio futon que dividia com Megumi. Voltou a olhar para ele.

-Porque você diz que vai precisar? - Os pensamentos dela agora aceleravam.

-Porque nossos amigos resolveram que precisamos ficar no mesmo quarto e me trancaram para fora. - Ele levantou os ombros e caminhou serenamente até a varanda, apoiando as costas para o corrimão de madeira e se voltando para ela . Esperava a sua reação .

- Ah esses trapaceiros. - Uma certa raiva na voz de Kaoru fez Kenshin sorrir de leve. - Não que isso seja algo ruim, é que...Na verdade é uma besteira. - Ela respirou fundo e deu de ombros , andando pelo quarto. - Já dormimos no mesmo quarto antes, o que tem isso demais? - Ela tinha os braços cruzados sobre o peito, pensativa.

-Absolutamente nada. - Ele concordou, caminhando de encontro a ela. - Entretanto, na época não nos relacionávamos como agora. - Ele arrumou uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha. - Mas nada realmente precisa acontecer. - Ele afagou o rosto dela, tocando levemente a ponta de seu nariz. - O futon é todo seu, eu me viro bem no chão. - Ele já estava indo para o canto do cômodo.

Ela não conteve um leve gritinho.

-Nada disso, de dormir em chão duro e gelado! - Ela o puxou pela manga da roupa para junto de si. - O futon é grande e eu posso muito bem dividir com você.- Agora estavam bem grudados.

Estavam sozinhos, eram adultos, estavam se relacionando e queriam ter mais contato. Não havia porque se refrear tanto.

Engataram um beijo que se estendia entre suspiros e murmúrios; davam vazão a algo que estavam represando há tempos.

Logo já estavam em cima do futon, os cabelos soltos, as respirações irregulares..

Kenshin continuou a explorar o pescoço da donzela, que respirava mais fundo, sentindo seu coração protestar; Kaoru estava imaginando se isso seria audível para que ele havia feito uma pausa, a observando de leve.

Ele abafou um pequeno riso, suspirou e balançou a cabeça lentamente; parecia ter mudado de ideia. Ou ao menos de rota.

- Vou precisar que você se sinta menos tensa. - Deu um riso baixo ao ver o rosto dela encabulado e confuso. - Vou fazer com que tudo seja o mais agradável possível para você. - A tomou em outro beijo profundo. - Pode se deitar de bruços e me deixar retirar a parte de cima do kimono? - Ele alisou com o indicador a linha do maxilar dela.

- Como assim? - Ela parecia apreensiva despertando de um transe.

- Confie em mim, não verei nada além do que você me deixar...No caso suas costas. - Ele afagou as costas dela nesse ponto.

Ela parecia surpresa mas ainda confusa.

-Tudo bem se não quiser, eu só pensei que talvez você …

Quando olhou de novo viu uma Kaoru deitada, se desvencilhando da manga do kimono, desvelando suas costas e se aquietando. A voz ligeiramente abafada.

-Pode continuar, Kenshin. - A doçura na voz dela o chamou mais para perto.

Esfregou suas mãos uma na outra alguns segundos, a fim de esquenta-las; se ajeitou de joelhos no futon, na diagonal dela e começou a massagear na área próxima aos ombros dela, com cuidado, firmeza e delicadeza.

- E como foi que você aprendeu a fazer massagens ? – Ela tentava soar o mais natural possível, apesar de já estar apreensiva por estar sem roupa na presença dele, sendo tão extensivamente tocada por suas mãos. – Não sabia dessa sua habilidade. - A voz dela soava um pouco embargada por conta da posição de seu corpo.

- Fui aprendiz de um sensei pouco ortodoxo, se lembra? – Ele começou a desfazer alguns pontos de tensão próximos à clavícula dela, devagar. – Uma das minhas obrigações era cuidar dos músculos cansados das costas dele. – Ele torceu os lábios em desagrado com a lembrança. – Pelo menos agora posso te beneficiar...Espero estar agradando.

O toque na pele macia dela era inigualável; precisou se concentrar em sua tarefa ao invés de ceder ao impulso de beijar cada centímetro das costas dela...O que aliás, parecia uma ótima ideia.

- Está sim Kenshin, mas é que em alguns lugares eu sinto...AI! – Kaoru quase pulou em seu lugar – Digo, eu não sabia que podia doer tanto aqui perto dos ombros... – Ela deu um riso sufocado.

- Bem, se você não estivesse tão nervosa não doeria tanto... – Ele riu baixo . - Tente inspirar fundo. – Ele a ouviu. – Agora solte o ar devagar. – Assim que percebeu ela terminar, continuou indo para os ombros dela. – Tente não pensar em mais nada.

"Muito difícil esse seu pedido" – A jovem pensou exasperada, mas só emitiu um muxoxo audível.

Ele delicadamente fazia círculos em cada ponto de pressão dela, sentindo cada vez mais o puro aroma que vinha dela; momentos em silêncio fizeram ela se acostumar e ele se aperfeiçoar no que a estava agradando mais.

- Sua primeira vez recebendo uma massagem? – Ele se aproximou um pouco mais dos ouvidos dela nesse ponto.

- Sim, nunca havia experimentado isso antes. – Ela agora já conseguia aproveitar os efeitos calmantes das mãos de Kenshin. – Estou conseguindo relaxar.

- Fico contente. – Ele agora somente afagava as costas dela de leve, as deixando levemente mais quentes. – É tudo o que importa agora.

E logo ela sentiu que ele havia decidido que os lábios dele poderiam ter o mesmo efeito.

A moça sentia cada mínima pressão que os lábios dele faziam em suas costas; delicado , levemente úmido, propositalmente demorado; ele subia bem devagar com beijos milimetricamente posicionados rumando até seu pescoço. Ela pedia aos deuses para que fornecessem mais fôlego , porém quando ele chegou próximo à área de seus ombros ela não conseguiu controlar o arrepio que sentia nesse momento, seguido de risos. Kenshin também estava rindo baixo levemente contra a pele dela, não a deixando sair tão fácil do domínio de seus lábios.

- Ai , peço clemência! Por favor, para de fazer cócegas! – Ela secou uma lágrima do canto dos olhos.

- Bem, não foi só cócegas o que eu causei. – Ele apontou para os pelinhos arrepiados do braço dela. – Quer um pouco mais? – O olhar dele agora era de mistério. – Menos cócegas e mais arrepios, digamos.- Ele a olhava de cima, estando sentado em cima de suas próprias pernas e ela ainda debruçada no futon no chão.

Ela o encarou, perdendo o ar de riso.

- Somente se quiser confiar em mim. – Ele a olhou de modo confiante, o canto de seus lábios num meio sorriso de quem conhecia um segredo infalível.

- Sempre vou confiar em você. – Ela ainda segurava suas roupas contra si quando viu ele cobrindo o corpo dela com o lençol.

Ele estendeu seu corpo por cima do dela e foi descendo a seu encontro vagarosamente, beijando os lábios que começou a explorar novamente enquanto começava a retirar peças de roupa dela e perder as suas próprias ...