Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Sarah Morgan, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 7

Estavam voando sobre o mar.

Será que só tinha mar na Grécia ?

Lucy fechou os olhos e tentou visualizar a terra. Procurou controlar o pânico que a assaltava.

- Pode abrir os olhos. Nós vamos aterrissar em cinco minutos e você está perdendo a melhor vista da Grécia - disse Natsu, em tom divertido.

Ela manteve os olhos fechados, não estava interessada no programa. Só pensava em toda aquela água embaixo dela. Naquele oceano imenso, pronto para tragar os incautos...

-Theos mou, você está pálida - reparou ele, preocupado - É por causa de ontem à noite ?

Ela não conseguia falar, tentando controlar o terror que sentia.

Natsu ficou em silêncio e segurou suas mãos frias.

- Lembro que você ficou desse mesmo jeito na primeira vez que nos encontramos. Eu não sabia que você tinha medo de voar. Desculpe. Da próxima vez, usaremos o barco. A viagem é mais longa, mas será mais confortável.

Seus olhos se arregalaram. A preocupação dele a surpreendeu.

Por que ele se importaria ?

Talvez temesse que ela estivesse doente. Os homens não suportavam mulheres passando mal. Ela deveria confessar que o problema era a água, e não o vôo ?

Que de barco seria bem pior ?

- Não precisa me olhar desse jeito. Todos nós temos fraquezas. Ainda bem que a sua não é só a ganância. Relaxe. Nós já aterrissamos. Bem-vinda ao meu esconderijo secreto.

Lembrando de como a pista era perto do mar, Lucy se esforçou para manter os olhos abertos para chegar até a vila.

O mar não se levantaria para agarrá-la, pensou, quando desceu do helicóptero. Ela tinha que superar esse medo irracional.

- Você continua pálida. É melhor descansar um pouco antes do jantar. Ou será que você prefere nadar um pouco ?

Será que ela devia confessar que nunca havia nadado ?

Será que devia contar...

Ela umedeceu os lábios, o coração disparado.

- Talvez mais tarde.

- Normalmente, as pessoas ficam ansiosas para mergulhar no mar depois de alguns dias em Atenas - comentou ele, descontraído - Mas não vai faltar oportunidade. Não tenho planos de voltar rápido para a cidade.

Ela escondeu seu desapontamento. Quanto tempo será que ele planejava ficar ? Seria mais difícil para ela telefonar para a mãe dali e ela poderia ficar preocupada.

- Você está tensa demais e esta viagem é para você se descontrair. Relaxe. Você deve estar cansada por causa de ontem à noite.

Ele parecia preocupado com o estado dela. Lucy estranhou. Por que ele estaria sendo tão atencioso de repente ?

Ela sorriu.

- Você tem razão. Estou cansada.

- Deite-se um pouco antes do jantar...

Eles entraram na vila e Lucy se surpreendeu com o que viu. Da outra vez que estivera ali, não tinha entrado na casa.

A casa era ampla e clara, pintada de azul e branco, com o chão de mármore bege. Plantas exóticas preenchiam o ambiente e cortinas de tecido leve completavam a decoração.

- Que lindo...

- Foi minha prima que fez - disse ele, ao lado dela - Ela tem um escritório de decoração de interiores. Também foi ela que pintou os quadros.

- Ela tem muito talento.

Um piano grande que estava num canto da sala chamou a atenção de Lucy.

- Oh ! Um piano !

- Você sabe tocar ?

- Sei, sim - respondeu ela, acariciando a madeira.

- Então, esteja à vontade.

- Não, obrigada. Eu... não...

- Você não... o quê ? - insistiu ele - Você não quer que eu saiba quem você realmente é ? O que foi que seu avô lhe disse, Lucy ? Para você se esconder ?

Ela olhou para ele consternada.

- Eu...

- Estamos casados, agape mou - disse ele, tranqüilizando-a - O acordo está selado. Nada do que disser vai mudar esta realidade. Está na hora de relaxar e ser o que você é.

- Estou sendo eu mesma.

- Não, não está. Está sendo uma versão contida de você. Acho que ontem à noite consegui conhecer um pouco do seu verdadeiro eu.

- Eu bebi muito...

- O que fez você se sentir menos inibida. Ontem à noite, descobri que minha gatinha tem garras - disse ele, com ar divertido.

Ela ficou ruborizada e mordeu os lábios.

- Eu fiquei chateada...

- Um engano que não vai se repetir - disse ele, puxando-a para perto de si - Descobri que minha esposa tem uma personalidade que ela humildemente escondeu por causa das recomendações do avô.

- Eu...

- De agora em diante, quero que seja quem você realmente é - ordenou ele, passando o braço por sua cintura - Quero saber tudo sobre você. Nada de segredos.

Nada de segredos.

Lucy fechou os olhos. Ele ainda acreditava que a sua mãe tinha morrido, junto com o pai. Mas, se ela contasse a verdade, Natsu saberia que o avô a odiava e que aquele casamento não passava de uma vingança.

Se ele descobrisse a trapaça, sua raiva não teria limites.

Em algum momento, ele descobriria e a simples idéia de sua reação a fazia tremer.

- Preciso descansar.

Natsu murmurou alguma coisa em grego.

- Você nunca mais vai beber - recomendou ele, conduzindo-a pela mão até a suíte.

Como no resto da casa, era simples e elegante, com amplas janelas de vidro que davam para um terraço e revelavam a ampla piscina.

- É de muito bom gosto - comentou ela. "Exceto a piscina, claro", pensou.

Ela se deu conta de que a vila era o verdadeiro lar dele, muito diferente da mansão de Atenas. O lugar era cheio de toques pessoais, além de ser reservado e tranqüilo.

Tranqüilidade.

- Onde estão todos ?

- Todos, quem ?

- Os empregados...

- Aqui é meu esconderijo, meu refúgio. Nada de empregados. Aqui é o lugar onde me esqueço que sou patrão - esclareceu ele, com um sorriso.

Ela ficou surpresa.

- Estamos só nós dois aqui ? Ninguém mais ?

- Só nós dois.

A voz dele era suave e ela sentiu o coração disparar.

De repente, percebeu como ele era atraente. Mas também se lembrou daquela mulher da boate.

- E quem vai cozinhar, Natsu ?

- Você vai me ajudar. Todo dia, um barco traz produtos frescos. Descobrir o que vai ter faz parte do jogo.

Ela ficou boquiaberta.

- Você, cozinhando ? Mas os gregos não cozinham...

O avô dela mal preparava uma xícara de café.

- Geralmente venho para cá sozinho, por isso ou cozinho ou morro de fome.

Ela estava confusa. Talvez não o conhecesse tão bem como supunha. Mas também, quanto tempo passara ao seu lado ? Praticamente nenhum. Depois do dia do casamento, o único tempo que tinham passado juntos até a noite na boate fora na cama. Nem as refeições faziam juntos.

Natsu abriu as janelas envidraçadas.

- Descanse um pouco. Estarei no terraço se precisar de alguma coisa.

Lucy esperou ele sair, tirou a roupa e se enfiou debaixo dos lençóis, aliviada.

A cabeça ainda doía por causa do álcool e da falta de sono. De repente, tudo ficou nebuloso outra vez.

Dizendo para si mesma que mais tarde colocaria as idéias no lugar, adormeceu.


Quando acordou, o Sol já estava baixo e ela deu um pulo da cama. Quanto tempo teria dormido ?

E não havia sinal de Natsu.

Ela procurou a calça jeans, mas não a encontrou.

- A calça desapareceu - disse uma voz na entrada do quarto, assustando-a.

- Ai, que susto... é você.

- Como somos só nós dois nesta ilha, não poderia ser outra pessoa. E não precisa se cobrir, agape mou. Gosto de ver você nua.

Ela ficou ruborizada.

- Bem, mas... eu não gosto. E o que você quis dizer com "a calça desapareceu" ? Você disse para eu não trazer bagagem. A única roupa que eu tenho é aquela que estava usando.

- E você não vai usá-la novamente - disse ele, entrando no quarto. Ele vestia uma calça de linho e uma camisa esporte com as mangas dobradas, deixando à mostra os braços bronzeados e peludos - Já que você não se preocupou em comprar nada apropriado para o clima quente, tomei a liberdade de improvisar um guarda-roupa para você.

- Como assim, um guarda-roupa ?

Ele sabia que ela não comprara nada. Ele sabia.

Fechou os olhos. Natsu tinha estado no closet em Atenas e viu que estava vazio. Só havia o vestido de noiva, a calça jeans e umas camisetas. E ele não era ingênuo.

- Você não costuma fazer compras, não é ? - o tom era descontraído quando ele foi até o closet e pegou uma túnica de seda azul - Uma qualidade intrigante para alguém que exige tanto dinheiro para sustentar seu estilo de vida.

Ela ficou tensa e esperou ele perguntar o motivo pelo qual exigira tanto dinheiro se não parecia gastá-lo.

Sem encontrar uma resposta plausível, sentiu-se aliviada quando ele largou a túnica em seu colo.

- Ponha isto - ordenou ele, dirigindo-se para o terraço - E depois me encontre no terraço. Vamos jantar e conversar.

Conversar ?

Lucy acariciou o tecido fino e delicado. Parecia ter custado uma fortuna. Era melhor quando ele desaparecia, pensou, assim não precisava se preocupar em não fazer revelações.

De uma hora para outra, ele parecia querer conhecê-la e isso representava um problema para Lucy.


Surpreso com a descoberta de que sua esposa tinha uma personalidade forte, Natsu sentou-se no terraço banhado pelo Sol e ficou admirando o belo mar azul.

Ele nunca ficara confuso com uma mulher.

Para ele, elas seguiam um padrão: faziam compras, almoçavam, iam a festas. A mulher mudava, mas o padrão era sempre o mesmo.

Nunca tivera expectativas de que sua esposa seria diferente. Afinal, ela não era a única herdeira de Heartfilia e tinha exigido todo aquele dinheiro para se casar ?

Esperava que ela fizesse compras até não poder mais, e, no entanto, não comprara absolutamente nada desde o casamento.

Talvez nem antes.

Quando viu aquelas roupas exclusivas, tinha se comportado como alguém que nunca vira aquilo antes.

Na verdade, parecia que jamais tinha comprado uma única roupa.

Como um homem acostumado a agradar o sexo oposto, Natsu tinha participado de várias sessões de compras com mulheres que mostravam-se aborrecidas com o programa. Ele nunca vira uma mulher tão entusiasmada com roupas novas. Lucy parecia uma criança alegre pela novidade.

O que o deixava com a intrigante pergunta: como ela gastava o dinheiro ? E ele sabia que sua conta estava zerada, mas ninguém conhecia o destino do dinheiro.

Nada fazia sentido. Muito menos a reação que ela provocava nele.

Natsu praguejou quando sentiu o desejo percorrer seu corpo. Nunca uma mulher o deixara tão descontrolado. Alguns minutos antes, precisara sair do quarto porque a simples visão dela dormindo quase o fizera atacá-la.

Nem as seis horas de sexo na tarde anterior haviam esfriado sua excitação. Ele não tinha nenhuma intenção de ir à inauguração da boate de Jenny, mas precisava de uma desculpa para abrandar o crescente desejo sexual pela esposa.

Para ele, que logo perdia o interesse pelas mulheres, sua reação era estranha e frustrante. E vê-la dançando com outro homem o obrigou a se controlar como nunca. Tinha ficado furioso por ela estar vestida daquele jeito provocativo, e logo lembrou que ele era o único responsável. Queria que ela parecesse vulgar, mas Lucy ficou ainda mais sexy. Com aqueles olhos inocentes e aquelas pernas perfeitas, todos os homens ficaram interessadíssimos por ela. Sem nunca ter sentido ciúmes, Natsu cerrara os dentes e resistira ao impulso de cobri-la com seu corpo, antes de tirá-la dali para entrar no carro blindado.

O mais difícil foi não agredir o rapaz que estava dançando com Lucy.

Ele se rendeu ao fato de que a esposa era muito bonita e prometeu que da próxima vez que estivessem em público, ela estaria vestida com uma roupa bem simples.

Talvez ele se sentisse dessa maneira porque achava que Lucy era sua propriedade, e seu forte não era dividir o que tinha. E descobrir que a esposa tinha o temperamento explosivo como ele dava-lhe vontade de trancá-la numa torre e jogar a chave fora.

O desejo ameaçou tomar conta de seu corpo quando ele lembrou da desibinição dela. Respirou fundo e disse para si mesmo que se considerava evoluído em relação a várias questões. Mas quando se tratava de Lucy, sua atitude era tipicamente grega.


Vestida de seda, Lucy apareceu no terraço e ficou surpresa.

A mesa estava posta, as velas acesas e um aroma inebriante envolvia o ambiente. E ela sabia que Natsu havia feito tudo para ela.

- Que tal uma bebida ?

- Acho que eu não devia...

- Não contém álcool - respondeu ele, entregando-lhe um copo - Eu não sou inconseqüente, agape mou. Mas confesso que você torna-se uma pessoa bem diferente quando bebe.

- Eu gostei de dançar...

- Eu vi. Quero saber por que ontem à noite foi a primeira vez que você foi a uma boate. E por que você não fez compras ?

- Você gasta tudo o que ganha ?

- Dificilmente.

- Exatamente. Não sei de onde você tirou essa idéia que dinheiro só serve para fazer compras.

- Talvez por ser um hábito feminino, mas você está me ensinando que as mulheres são mais complexas do que eu imaginava - respondeu ele, apontando para a mesa - Vamos nos sentar.

Natsu estava sendo tão gentil que Lucy estava estranhando. Até agora o relacionamento deles tinha sido troca de insultos seguida de sexo voraz.

Ela se sentou e observou os pratos.

- Foi você quem fez tudo isso ?

- Não exatamente. Tenho que confessar que a maioria veio semipronto.

- Eles estão com ótima aparência - disse ela, se inclinando para examinar um dos pratos - Gildarts também faz assim. Este é meu favorito...

Natsu se retesou e os olhos negros ganharam um brilho estranho.

- Quem é Gildarts ?

Lucy olhou para ele, intrigada.

- Gildarts é seu chefe de cozinha.

- Ah, sim... claro.

- Ele tem me ensinado a fazer comidas gregas - esclareceu Lucy, sem entender o que estava acontecendo com ele - Eu gosto de aprender.

Ela adorava cozinhar e era maravilhoso não se preocupar com o custo dos ingredientes.

- O que mais você tem feito durante a minha ausência ?

- Explorado Atenas.

- E você gostou ? - ela sorriu.

- É uma cidade muito bonita. Fascinante, mesmo.

Ele respirou fundo.

- Como é que você não conhecia Atenas ? Seu avô mora bem perto de mim. Com certeza você o visitava...

Lucy congelou.

- Eu... não... eu só o visitava em Corfu - uma única vez.

O coração dela acelerou. Ele acharia isso suspeito ? Faria mais perguntas ?

- E você ? Sei que você tem muitas casas - perguntou ela.

Ele sorriu.

- Muitas casas, agape mou, mas só considero esta aqui como meu lar.

Ele ficou quieto por uns instantes.

- O lar deve ser um lugar onde você se sente à vontade. Um lugar reservado, com privacidade, em que você não tenha que se preocupar em dar satisfação a outras pessoas.

- Mas você é rico, não tem que dar satisfações a ninguém - despejou ela, num impulso.

Ele serviu a bebida, com um brilho divertido nos olhos.

- Eu dirijo uma corporação enorme que rende milhões de dólares. É como se tivesse que dar satisfações ao mundo inteiro. Tomo decisões que afetam o emprego de várias pessoas, que afetam suas vidas - e será que ele se importava ?

- Meu avô simplesmente os põe na rua...

- E estas pessoas têm família e responsabilidades. Demitir à toa é reflexo de má administração. Se você prestar atenção no mercado, pode se ajustar. Pode realocar funcionários, oferecer treinamento. Minha empresa nunca precisou de demissões.

- No entanto, sua reputação é igual à do meu avô - emendou ela, provocando-lhe o riso.

- Ora, agape mou. Não sou do tipo bonzinho. Pago bem as pessoas e cobro que trabalhem bem. É uma fórmula simples.

Lucy se lembrou do que lera sobre ele nas páginas de economia dos jornais, naqueles dias que antecederam o casamento: Natsu era considerado um gênio nos negócios.

- Eu li que, quando você se formou, não foi trabalhar com seu pai.

- É difícil você se adaptar a um esquema que já está pronto. Eu era explosivo. Queria provar para mim mesmo que era capaz.

- Então você começou seu próprio negócio ?

- Meu pai está no mesmo ramo há anos. Eu queria testar outras áreas. Então, desenvolvi um software com um amigo e começamos a vendê-lo para várias empresas. No primeiro ano, faturamos cinqüenta milhões de dólares. Ampliamos a empresa e depois a vendemos quando senti que estava pronto para juntar-me ao meu pai. E chega de falar de mim. Quero saber de você. Já ouvi falar dos colégios internos na Inglaterra.

Lucy sorriu e se serviu de novo.

- Na verdade, eu adorava viver lá - era o único lar que ela conhecera.

- E é verdade que você foi para um deles quando tinha sete anos ?

- Isso mesmo.

- Você era muito pequena.

Mas ela não tinha um lar. Seu pai tinha sido morto.

Sua mãe estava gravemente ferida no hospital e o avô a abandonara.

- Eu gostava de lá.

- Você nunca quis viver com seu avô ? - ela quase caiu na risada.

- Não, aproveitei bastante o tempo que passei no colégio.

- E você entrou direto na universidade ? - ela assentiu.

- Sim. Estudei música e francês - ele a serviu pela terceira vez.

- Você tem um apetite e tanto - observou Natsu. E Lucy quase disse que nunca vira tanta comida boa junto. Preferiu sorrir.

- Adoro comida grega.

- Que bom.

Ele se recostou na cadeira e a questionou sobre música e os cursos que fizera e quando ela finalmente parou de comer, ele estendeu-lhe a mão num convite.

- Gostaria que você tocasse piano, pethi mou. Um breve concerto particular - disse Natsu, puxando-a para perto dele e sorrindo.

Os olhares se encontraram e, por um instante, ela não pensava em outra coisa a não ser no desejo que sentia por ele.

- Mais tarde - disse ele, entendendo o que seu olhar pedia - Agora, toque para mim.

Era uma ordem. Ela sentou na banqueta e jogou o cabelo para trás para que não atrapalhasse.

Ficou em silêncio, olhando para o teclado tão familiar e pareceu se abstrair.

E então, começou a tocar: Chopin, Mozart, Beethoven e, por último, Rachmaninoff. Os dedos ligeiros percorriam as teclas, sem hesitação, leves, cada nota tocada com paixão, até que parou.

Houve um silêncio.

De repente, ela se deu conta de que nem havia perguntado o que ele gostaria de ouvir.

Natsu estava sentado no sofá, os olhos fechados, as pernas musculosas estiradas.

Será que ele estava dormindo ?

- Maravilhoso - disse ele finalmente, abrindo os olhos - Eu não sabia que você tocava tão bem. Por que não ganha dinheiro com isso ?

- Não sou famosa...

- Mas poderia ser. Poderia ser mundialmente famosa.

- Acho que não - respondeu ela, embaraçada e feliz por ele ter gostado tanto.

- Você acabou de se formar, não é ? E agora ? Antes de concordar em se casar, quais eram os seus planos ? - perguntou Natsu, objetivo como alguém que tem toda a vida planejada.

Continuar trabalhando como uma escrava para que a mãe tivesse os cuidados necessários...

- Eu ainda não tinha pensado nisso.

- Seu avô não disse que você tinha este talento - comentou ele, e Lucy quase contou que o avô não sabia nada sobre ela. Para ele, ela era só um joguete. O instrumento de sua vingança.

- Acho que meu avô não gosta muito de música.

- Adorei ver você tocando - disse Natsu, com as mãos emoldurando-lhe o rosto - Você toca de forma apaixonada e sensível, exatamente como você é na cama...

Lucy ruborizou.

- Natsu...

- E adoro quando você fica corada desse jeito - murmurou ele, beijando-a apaixonadamente.

Ela gemeu e colou o corpo nele, sentindo a intensidade de seu desejo. Ele disse alguma coisa em grego e a pegou no colo.

Natsu sempre fazia isso, pensou ela, a cabeça ainda girando por causa do beijo, os joelhos tremendo quando ele entrou no quarto e a deitou na cama.

- Não me canso de você - murmurou ele, descendo as alças do vestido e beijando-a nos ombros - E nós não vamos sair desta ilha até que eu possa ficar pelo menos cinco minutos sem você na cabeça.

O pensamento que ela não o deixaria mais se aproximar veio à sua mente, mas ele já a despira e sua boca encontrara os seus mamilos excitados, fazendo-a esquecer tudo, completamente entregue ao desejo.

- Nenhuma mulher me excita como você, Lucy. Eu não consigo resistir - assegurou ele, as mãos percorrendo seu corpo.

- Então, venha...

- Não quero machucá-la...

Ela não agüentava mais, o corpo todo tremia.

- Natsu...

Ele soltou um gemido e cobriu seu corpo com o dele, posicionando-se entre suas pernas, tomando sua boca outra vez.

Natsu a invadiu e ela gritou de prazer.

Ele continuou com seus movimentos fortes, levando os dois ao clímax.

Depois da explosão, Lucy ficou com os olhos fechados, presa nos braços dele, aguardando o comentário que ele faria.

Em vez disso, Natsu saiu de cima dela, trouxe-a para junto dele e afastou os cabelos de seu rosto.

- Foi maravilhoso, Lucy - disse ele com a voz rouca - Você é maravilhosa. Podemos fazer este casamento dar certo.

- Por que nos damos bem na cama ?

- Não só por isso. Mas também porque descubro cada vez mais sobre você. E gosto do resultado.

De repente, ela sentiu-se mal por causa de toda a trapaça e tentou se soltar, mas ele a segurou.

- Desta vez, não vou embora, nem vou dizer nada horroroso. Vamos passar a noite juntos. Acho que filhos merecem pais felizes - disse ele, beijando-lhe o rosto - Acho que nós podemos ser felizes juntos.

A culpa a perturbou.

Eles não podiam ser felizes juntos. Ela não podia dar-lhe filhos, e quando ele descobrisse... o que ela faria ?

-Você acha que eu não passo de uma interesseira...

Ele deu de ombros.

- Pelo menos você não é falsa, não esconde nada. Respeito sua honestidade. E o que sentimos quando estamos na cama, agape mou, não tem nada a ver com dinheiro...

Ele respeitava a honestidade.

Lucy fechou os olhos, apavorada com a idéia de Natsu descobrir a verdade.

"Mas será que ele precisava mesmo saber a verdade ?", perguntava uma voz dentro dela. Ela não era a única mulher no mundo que não podia ter filhos. Talvez ele não descobrisse o que ela sempre soubera...


P. S.: Nos vemos no Capítulo 8.