CAPÍTULO 6

Olá!

Uma amiga me chamou a atenção para um fato importante: todos conhecem a Saga Clássica, mas nem todos conhecem a história do Ômega. Por isso, vou trazer sempre no final um resumo do que está acontecendo no anime, para facilitar na compreensão dos fatos de cada capítulo. 😉

Se passa 10 meses depois do capítulo anterior. Ryuho nasceu no início do inverno e eles estavam quase completando o primeiro ciclo em companhia do filhinho.

"Há muros que só a paciência derruba. E há pontes que só o carinho constrói."

Cora Coralina

Música: Come With Me

Artista: Yoo Ah In, Im Soo Jung & Go Kyung Pyo

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- Babááá! – o garotinho gritava ao ser atirado para cima. As mãos dele o amparavam e fingiam deixá-lo cair. Da primeira vez que Shiryu fez isso, o pequeno levara um susto e olhara com medo para o pai. Agora balançava bracinhos e perninhas, exigindo mais. – Babáááá! - sua risada fina era contagiante.

- Você não tem medo de altura? – Shiryu estendia os braços bem alto, depois o abaixava até mergulhar metade do corpinho na água morna de meados do outono. – Quer nadar um pouco? - os dois brincavam despreocupados num dos poços do rio de Rozan. Ele apoiou o filho no peito e desceu devagar, parando antes de submergir a cabecinha. Caminhou um pouco, fazendo-o rir alto com as ondas. – Vamos testar outra coisa? - Jogou água no cabelinho preto e Ryuho assustou, soprando água da boquinha e batendo os bracinhos, fazendo o pai rir e decidir sair um pouco. Vieram em direção a ela.

"Parecem feitos de ouro." Porque as águas e as peles refletiam a luz do sol.

- Não quer entrar com a gente, Shunrei? – eles chegaram espanando água para todo lado. Ela estendera uma toalha grande na grama e jogou outra sobre os ombros dele quando se instalaram ao seu lado. – Está muito boa. – Shiryu puxou um dos cantos para cobrir Ryuho, que observava atento os pais.

- Gosto de ver vocês juntos. – ela disse, retribuindo o olhar curioso do bebê. Ryuho herdara seus grandes olhos azuis e sua pele clara. Shiryu dizia que a única coisa que tinha dele era a teimosia, mas ela discordava. Apesar da saúde frágil, ele era resistente e destemido, já mostrando que era mesmo um pequeno dragão. A determinação que queimava no fundo dos seus olhinhos estava misturada a uma doçura tão grande que a comovia. "E ele só tem dez meses." – Ainda não se cansaram?

Ela viera preparada com um maiô, mas quando chegou acabou encantada pela cena dos dois banhando sob o sol e até se esqueceu de se despir. Ryuho estendeu os bracinhos, chamando-a com as mãozinhas. Ela sacudiu a cabeça, rindo e o recebeu. Ele se encaixou na curva do seu braço e abocanhou o peito que ela oferecia. Imediatamente, os dois se conectaram pelo olhar. Ela beijou uma das mãozinhas brancas e, por aquele momento, era como se só houvesse os dois no mundo. Um vínculo forte e intenso. "Como com o pai." Ao levantar a cabeça, viu o que julgava ser o mesmo olhar encantado dela no rosto de Shiryu.

- Trouxe um lanche para você também, papai. – puxou a cesta e ele descobriu a garrafa térmica com chá de ginseng e o prato com as gyozas.

- Gosto de ver vocês dois juntos. – ele declarou, uma piscadela travessa. "Foram anos para que houvesse um portão e uma ponte no muro que ele construiu em torno de seu coração. Como é gratificante ver o que tem lá dentro." – Ryuho, acredite que essas são as melhores gyozas que você vai comer na vida. – ela riu.

Então, ele fez um movimento com o queixo, indicando que alguém se aproximava. Shunrei arregalou os olhos e aguçou os ouvidos. Quis olhar para trás, mas ele negou com a cabeça lentamente. Ela ficou paralisada, esperando sua reação. Shiryu se ergueu de um salto e correu. Ela deu um grito e apertou Ryuho, fazendo o bebê resmungar do tratamento. Ao invés de sons de socos, ouviu risadas.

Quando olhou para trás, lá estavam Satsuki, o marido Hen e o filhinho Hao, que acabara de completar um ano. Rechonchudo e moreno, era bastante diferente do esguio Ryuho, o que não impedia que já se reconhecessem.

- Olá! – Shunrei cumprimentou, lançando um olhar assassino a Shiryu. Ele fingiu não ver, conversando com Hen.

- Está um dia tão bonito que resolvemos aproveitar também. – Satsuki veio se juntar a ela. Hao espiou dentro do embrulhinho de toalha no colo de Shunrei, sendo recompensado por um largo sorriso de Ryuho. Logo os dois estavam sentados, conversando numa linguagem própria, hora observando os pais barulhentos, hora em seu próprio mundo particular. – Acho que será o último dia com sol bom para banhar aqui no poço.

- Por que diz isso?

- Não sei, é só um pressentimento. Você não notou que está esfriando mais cedo esse ano? – Satsuki olhou para o céu, procurando alguma justificativa, sem nenhuma pista evidente. – Você segura Hao para eu tirar o vestido?

- Nós vamos entrar! – Shunrei gritou para os dois entretidos perto do início da trilha. Shiryu chamou Hen e foram todos para dentro da água. "Morna mesmo."

Passaram a tarde nas mais diversas peripécias aquáticas, rindo e brincando com os bebês. Dois casais mais ou menos da mesma idade e seus filhos.

Só tomaram a trilha para casa quando o sol estava baixo. Ryuho praticamente desmaiara no colo do pai. Quando chegaram, Shiryu o colocou entre as cobertas macias e chegou o berço mais perto do fogareiro, enquanto foi tomar banho. Shunrei estendeu as roupas e colocou água para ferver. "Depois de passar a tarde nos resfriando, agora precisamos aquecer um pouco as coisas."

Ela estava levando as tigelas de porcelana para a mesa da sala e deixou todas caírem quando se deparou com Shiryu carregando nas costas a caixa da armadura de Dragão.

- Não! – a palavra saiu sem que ela conseguisse deter. O gatilho foi imediato. Reviveu, anos depois, as dores de todas as ausências. Seu corpo enrijeceu. – Por favor, não. – ele demorou para olhar para ela.

- Senti os cosmos de Shun, Seiya e Hyoga me chamando. – a voz estava compassada, como naquele dia, quando ela o viu pular atrás do Mestre no sumidouro da cachoeira. – Alguma coisa está acontecendo no Santuário. O cosmo de Atena me alcançou também. - Shunrei se aproximou. Beijou seus dedos e depois seus lábios com força, apertando todo o seu corpo contra o dele. Shiryu abraçou-a forte. Acompanhou-o de mãos dadas até o terreno plano em frente à casa. Seu coração estava em pedaços e até caminhar era difícil.

- Lute como você sempre luta. – sustentou o olhar dele, queimando de determinação. – Nós estaremos aqui. – e se afastou. Shiryu bateu no solo rochoso com a ponta do pé direito e desapareceu no céu ainda colorido do Oeste como uma estrela dourada ascendente.

Shunrei caiu de joelhos, as lágrimas silenciosas molhando o solo rochoso. Não soube quanto tempo ficou observando o céu no ponto onde ele desaparecera. Ryuho precisou berrar para que ela recompusesse a força nas pernas e fosse até o filho. Tentou não chorar enquanto cuidava dele, sem nenhum sucesso. Esfregava as mãos para esquentá-las antes de pegar o bebê. "Pelo menos não estão tremendo." Fora pega completamente despreparada. Há anos não havia necessidade de convocação.

Com Ryuho limpo e alimentado, ela ajoelhou diante do altar aos ancestrais e começou sua vigília. Pelas próximas semanas, alternaria os cuidados com o filhinho e as orações, até que o telefone tocou.

- Sim, sou eu. – a voz do outro lado falou muito rápido e a ligação estava chiando, mas ela entendeu que estavam trazendo ele e Shun. – Qual a situação deles? – seu cérebro cansado trabalhava muito rápido, planejando o que precisaria para recebê-los. A pessoa não conseguiu dar maiores detalhes, dizendo que a senhorita Kido entraria em contato em breve. Revelou apenas que eles estavam medicados e que pouco havia a ser feito no hospital, portanto a senhorita tinha decidido enviá-los para casa. – Entendo. Eles descerão na aldeia?

"Respira. Lembre-se de que você pode pedir auxílio. Precisa organizar tudo para a chegada dos dois... Eles vão estar cansados, precisarão de paz e tranquilidade."

Algumas horas depois, ouviu o som de um helicóptero que, com dificuldade, pousou no promontório em frente à casa. De dentro saíram quatro pessoas e uma maca. "Por isso não podiam pousar na aldeia." Ao longe, vislumbrou os cabelos verdes de Shun. "Então aquele na maca..." Ela correu até eles. Os outros três pareciam ser médicos. Eles carregaram a maca em direção à casa e o helicóptero levantou voo.

- Shunrei. – Shun fez uma pequena reverência de cumprimento. Ela mal olhou para ele, indo imediatamente ver Shiryu. Ele estava inconsciente, sacolejando sobre a superfície instável.

- O que é isso, Shun? – o amigo negou com a cabeça e abaixou os olhos.

- É melhor levá-lo para dentro. – a médica interveio. Shunrei assentiu, guiando-os pelo interior até o seu quarto. Ela tinha preparado a cama para recebê-lo. "Mas não assim."

Os dois médicos o deitaram e arrumaram o soro, abrindo o embolo para o líquido pingar continuamente. Shunrei apontou onde podiam deixar as caixas com medicamentos e pediu que eles saíssem, inclusive Shun.

Tirou o lençol que o cobria e as roupas do hospital. "O corpo está quente." Observou a expressão serena, tocando seu rosto com as pontas dos dedos. "A respiração é como se ele estivesse dormindo." Com método e conhecimento, foi limpando todo o corpo com um sabonete de ervas perfumadas e um pano úmido. Teve medo das manchas escuras em seu braço, peito, abdômen e couro cabeludo. "Está magro." De vez em quando, suas lágrimas caíam na pele machucada, mas ele não reagiu a nenhum dos estímulos. Passou óleo de sândalo e cedro, massageando os músculos. Vestiu uma roupa fresca e cobriu-o, colocando o cobertor que costumava usar para o berço de Ryuho perto de sua cabeça, para que sentisse o cheiro do bebê. Antes de sair, beijou todo o rosto dele.

- Volte para mim. – ela sussurrou, os lábios roçando sua orelha. – Não vá para onde eu não possa ir, por favor. – apertou-lhe a mão. O dia ainda não tinha terminado para ela.

Encontrou os recém-chegados com a senhora Huang na cozinha. Ela fritara as tempurás que fizeram esperando que Shiryu pudesse comê-las. Shun levantou e a recebeu assim que entrou.

- Shunrei, nós viemos para passar alguns dias com vocês. – ela o olhou, mas parecia não vê-lo. Sua mente estava vazia. O amigo percebeu que algo não estava bem e a fez sentar. Fechou os olhos e inspirou fundo várias vezes.

- É melhor eu levar Ryuho para a minha casa. – a voz da senhora Huang soou ao seu lado. Shunrei pedira a ela que viesse ajudar com o bebê, mas a simples menção de tirá-lo de perto a deixou nervosa.

- A senhora pode levá-lo para a sala, por favor? Logo irei até vocês. – sua voz saiu firme. – Shun, por favor me conte o que está acontecendo.

- Nós tratamos dos ferimentos normais. – quem respondeu foi a médica de cabelos grisalhos e óculos redondos. – Mas aquelas manchas não cederam com nenhum tratamento. A substância que está lá não é natural do planeta. – ela mordeu o lábio, sabendo que aquela explicação era insólita. – Todos foram atingidos, mas Shiryu é o único que não acordou ainda. – ela olhou para Shunrei com compaixão. – A senhorita Kido pediu que o acompanhássemos até aqui, pois clinicamente ele está recuperado.

- Como eu disse, - retomou Shun. – nós ficaremos pelo tempo que você quiser, Shunrei. Você sabe que acabei de me formar e a Dra. Aikyo é uma das melhores neurologistas do Japão. Não deixaremos Shiryu até que ele esteja plenamente recuperado. – ela se esforçou em ouvir. – Os senhores Saito e Yoshida são fisioterapeutas. – eles a cumprimentaram com um aceno.

- Você também está ferido, Shun? – ele confirmou, mostrando a mancha escura no braço. Os lábios dela contraíram-se de pesar. – Agradeço muito a vocês por tudo que têm feito, totalmente anônimos. – ela tomou a mão do amigo nas suas. – Vocês arriscam a vida todos os dias para que nós possamos viver. - o som da risada de Ryuho veio até eles. – Você viu como ele é parecido com o pai? – a voz dela suavizou. Shun confirmou, sorrindo. – Não vamos perder essa batalha. Me contem qual o planejamento de vocês.

Eles começaram a debater os melhores horários para os exercícios de fisioterapia, shiatsu, acupuntura e as massagens. Havia os medicamentos e suplementos para ajudar a manter o corpo saudável.

"Só isso não será suficiente." Shunrei não abriu mão que ele fosse levado até a cachoeira sempre que o tempo estivesse bom e que tivesse horários para caminhar pelas trilhas e tomar sol pela manhã. Ela também afirmou que dormiria no quarto com ele e o filho. Queria que o ambiente fosse o mais caseiro possível. Organizaram as atividades diárias e, com as tarefas de cada um definidas, ela foi se acalmando. "Você não precisa ficar sozinha agora. Deixe que eles a ajudem até que esteja forte novamente."

- Vou mostrar a vocês a casa e os lugares onde vão dormir. – com biombos, conseguiram separar a sala em dois pequenos cômodos para os fisioterapeutas. A dra. Aikyo ficaria no quarto de hóspedes e Shun no quarto com a família.

- Não quero tirar a sua privacidade, Shunrei. Posso perfeitamente ficar na sala também. – ela sorriu e ergueu a mão, sinalizando que não haveria discussão sobre isso.

O senhor Huang e Hen trouxeram dois estrados com colchonetes e deslocaram uma das camas de hóspedes para perto do berço. Quando terminaram a organização, começou a primeira rodada de atividades com Shiryu e finalmente Shunrei pôde dar atenção ao filhinho.

Ryuho estivera observando muito quieto toda a movimentação incomum, seus intensos olhos azuis sempre procurando a mãe. Quando ela se aproximou para pegá-lo e se despedir da senhora Huang, Shunrei sentiu o corpinho rígido. "Vamos ter que nos habituar, meu pequenino." Ela o abraçou e ele deitou a cabecinha em seu ombro.

- Mamá. – ela ajeitou uma manta sobre a mesa da cozinha e começou a fazer massagem no corpinho com a pomada da senhora Huang. "Ele fica tão cheiroso." Cantava baixinho enquanto executava os movimentos para tirar a tensão da estranheza de tudo aquilo.

- Papai e eu amamos muito você, viu?... As pessoas que estão aqui vão ajudar o papai, por isso não precisa ter medo... Eu estou aqui com você sempre, meu filho. – as mãos deslizavam pela pele branca macia e fina e ela viu a expressão confusa dele mudar à medida que se sentia protegido.

- É shantala? – Shun perguntou quase sussurrando. Ela confirmou, sinalizando que ele podia se aproximar.

- Me indicaram para ajudar nas crises respiratórias. Achei que ele estava precisando. – Ryuho buscou a origem da nova voz e depois a reação da mãe. – Esse é o tio Shun. Vocês vão se dar muito bem. – Shun acenou por cima do ombro dela. Ryuho piscou e depois abriu um sorriso. – Parece que ele não vai mesmo dormir. Pelo menos desfiz a rigidez do corpo. – ela vestiu um macacão e casaquinho no bebê e o deixou brincar com o dragãozinho de pano vermelho e dourado. Sentia-se à vontade com Shun. "Depois de tantos anos, é um irmão querido." A presença dele a encorajava. – Shun, pode me contar o que são essas manchas? – ele encostou na cadeira, parecendo estar juntando as informações.

- Chamamos de Feridas das Trevas. – começou. – Estávamos defendendo o Santuário da invasão de outro Deus, chamado Marte. É um deus terrível, que traz a guerra e a escuridão por onde passa. Ele usou a energia de um meteoro que caiu na batalha anterior e nos atingiu. Nossas armaduras não conseguiram conter os danos. – ela teve certeza que seus olhos estavam grandes como pires. - Todos nós recebemos essas feridas. Elas nos enfraquecem porque se alimentam do cosmo. Sempre que elevamos nossos cosmos, elas crescem. Por isso, não podemos mais usar nossas armaduras. – ele levantou a manga, mostrando a mancha no braço. Shunrei olhou fixo e, de súbito, alguma coisa se moveu no meio da ferida. – Não conseguimos localizar Seiya ainda... – os olhos dele se encheram de lágrimas. Respirou fundo para a voz parar de tremer. - Shiryu recebeu o ataque nos pontos de sua constelação protetora. – Shun parou um pouco. – Eu acredito que ele tenha perdido os cinco sentidos. – o coração de Shunrei desaparecera do corpo. Ela sentia apenas um enorme vazio crescendo dentro de si. Engoliu várias vezes para destravar a garganta. Vigiava Ryuho engatinhando pela mesa. Ele entregou o dragãozinho para Shun, que agradeceu e acariciou os cabelinhos pretos.

- Quer dizer... – a voz saiu estridente e ela parou para se recompor. – Quer dizer todos os sentidos? Ele não ouve, não sente cheiro, não enxerga, não sente gosto e nem tem nenhuma sensação na pele? – Shun confirmou, os olhos marejados.

- Se ele pudesse usar seu cosmo, ou mesmo Atena, haveria uma chance dele se recuperar... – secou o rosto com as costas da mão. – Mas se qualquer um de nós fizer isso, será consumido pelas Feridas das Trevas e não conseguiremos trazê-lo de volta. – a mente de Shunrei, já cansada, criava imagens e ecoava as frases de Shun sem parar. – Nós suspeitamos que é como se a alma dele estivesse selada dentro do corpo. – ela processou as informações em silêncio, caminhando para a porta do jardim de ervas. O sol estava se pondo e uma névoa espessa começava a se formar.

- Então precisamos manter o corpo dele o mais saudável possível, até conseguirmos nos comunicar e trazê-lo de volta. – Shun concordou, pegando o bebê no colo. Ryuho começou a brincar com seus suspensórios.

- Estive pensando que, talvez, você consiga se comunicar com ele, Shunrei. – as sobrancelhas dela ergueram de surpresa. – Shiryu me contou algumas vezes que vocês conseguiram se comunicar quando ele estava no Yomotsu. Podemos tentar. – os olhos do amigo brilharam de esperança. – Vocês têm uma ligação muito forte e eu vou estar aqui para ajudá-la. – ela não soube o que responder.

Ao invés disso, empenhou-se em preparar uma refeição substanciosa para todos. Movimentava-se mecanicamente. "Parece que estou assistindo outra pessoa se mover." Ela economizou as palavras enquanto jantavam, concentrando-se na papinha do filho. Esperou que todos se acomodassem para voltar ao quarto.

Assim que viu o pai, Ryuho esticou os bracinhos, as mãozinhas chamando-o.

- Babá, babá! – o coração de Shunrei trincou e foi quebrando enquanto ela detinha o filho, que jogara todo o corpinho em direção ao pai. Sentou ao lado de Shiryu e Ryuho tentou subir no peito dele, como fizera incontáveis vezes. – Babá! Babá! – ele não entendia a imobilidade. Engatinhou até alcançar o rosto e tentou beijá-lo, desajeitado.

- Ryuho, o papai está dormindo. – as forças pareciam fugir dela. Ao não conseguir nenhuma reação do pai, Ryuho sentou-se e começou a chorar. – Meu filho, por favor...

Shunrei viu Shun se aproximar e agradeceu aos Deuses por ele estar ali. Com os olhos, ele pediu permissão e pegou o bebê, levando-o para a sua cama.

- Ryuho, vou contar uma história para você. – o bebê tentou manter o pai em seu campo de visão. – Você quer ouvir a história de um garotinho que conseguiu inverter o fluxo de uma grande cachoeira?... Veja o que eu tenho aqui comigo! – Shun parecia ter se preparado, pois tirou do bolso uma caixinha. Sacudiu e o barulho chamou a atenção de Ryuho. – Eu trouxe isso para você. Quer saber o que tem dentro? – olhou para Shunrei, os lábios mexendo silenciosos dizendo que podia confiar nele.

Ela entrou no banheiro, conseguindo segurar os soluços até trancar a porta. Chorou durante muito tempo, sentindo o peito doer, o estômago embrulhar, a cabeça girar. Ondas de tremor e tristeza batiam incessantemente em seus nervos.

"O que eu vou fazer?" A pergunta rodava em sua mente.

Devagar, foi retomando o controle sobre sua respiração. Ligou o chuveiro e deixou a água quente cair em seus ombros. Continuou com os exercícios respiratórios para fazer os soluços pararem. Vestiu sua camisola. Shun tinha conseguido colocar Ryuho no berço.

- Está tudo bem? – ela respondeu com um aceno. Chegou ao lado da cama e ficou parada, olhando Shiryu. "Vamos lá." Deu a volta e deitou ao lado dele. – Pode deixar que eu cuido de Ryuho. – por hábito, seu corpo se virou para se encaixar no dele. Ela hesitou, mas decidiu agir como se ele estivesse apenas dormindo. Sua mão sentia o coração dele batendo, o peito subindo e descendo com a respiração serena.

- Obrigada, Shun. Nem sei como agradecer por você estar aqui. – ele desligou a luz e ela começou a ouvir os gravetos queimando no fogareiro. Lá fora, o frio se insinuava. Ali dentro, eles formaram uma bolha de calor e cumplicidade. – Eu quero tentar. Você pode me guiar?

- Sim. Amanhã começaremos. – ele pareceu indeciso. – Estou aqui para ajudar no que você precisar. Sei que a situação parece intransponível, mas uma coisa que aprendi durante todos esses anos é que, mesmo nos momentos mais escuros, o amor e a amizade nos sustentam. Nós temos que seguir em frente, sempre. – a voz dele estava embargada. – Não existe poder maior que o amor. Só vencemos porque amamos... Boa noite, Shunrei.

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RESUMO: O Deus Marte é o inimigo no início do Ômega. Houve um confronto entre ele e os Cavaleiros no qual caiu um meteoro no campo de batalha que alterou muita coisa (vou contando as alterações quando for necessário para a fic. 😉).

Esse meteoro contaminou Marte com uma substância sombria e misteriosa e deu fim à batalha. Logo depois, Marte, tendo se recuperado e aprendido a usar essa substância, atacou novamente o Santuário. Nessa segunda batalha, ele atingiu todos os Cavaleiros e a própria Atena com essa substância, que eles chamaram de Feridas das Trevas. (Não sei ao certo quanto tempo se passou entre uma batalha e outra. Presumi que foram dias, mas como todos foram atingidos, inclusive Saori, coloquei que foram semanas sem contato com Shunrei.) Foi um golpe duro tanto para os nossos queridos bronze boys quanto para o próprio Marte. Eles demorariam décadas para se recuperar dessa batalha e voltar a guerrear.

Isso aconteceu 13 anos antes do primeiro episódio do Ômega e 12 anos após a Saga de Hades, o que leva a crer que durante esse período não houve convocações para batalhas, embora eu imagine que deveria haver reuniões ocasionais no Santuário para reportes e atualizações.

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Nossa, vocês não imaginam a minha revolta quando descobri que tinham colocado Shiryu nessa situação no Ômega... Embora eu consiga entender o lado dos roteiristas (de colocarem sempre duras batalhas de superação pessoal para cada um e terem que deixar os bronze boys "congelados" no tempo para não interferir tanto no futuro da Saga, pois não é uma história canônica.), achei muita crueldade com a família toda.

O anime não explica como é que ele sobreviveu 13 anos sem os cinco sentidos, deixando que a nossa imaginação preencha essa lacuna. Qual dos sentidos você considera mais importante para a sobrevivência?

O lado bom é que a imaginação voa longe e, ao menos nas fics, conseguimos fazer o desenvolvimento da nossa querida Flor de Rozan. É um ponto de virada na relação de ShiShu, sem nenhuma dúvida. A ideia de Crise é expressa em mandarim com dois ideogramas: perigo e oportunidade.

Agradeço muuuuuito as mensagens e reviews! Vocês não sabem como tem sido bom voltar a escrever e conhecer pessoas novas nesse universo incrível das fanfics!

Até o próximo capítulo!