– Você acha que ele estava me paquerando? – Rose prende os lábios entre os dentes para impedir a risada que está prestes a surgir e eu estreito os olhos.
– Querida eu acho isso meio improvável – torço o nariz e cruzo os braços me apoiando ao lado da sua mesa. Sei que é loucura pensar isso, porque sejamos sinceras, meu chefe é o homem, ele é do tipo que já usou o alfabeto inteiro e não apenas o H. Como um homem desses sequer olharia para mim? Loucura, eu sei. Mas como no posto segundamelhoramiga, Rose tem a obrigação de me apoiar.
– E o que você acha que é? Não venha me dizer que eu pareço com a gata dele que morreu ou algo assim, porque eu vou realmente me irritar – ameaço e ela arqueia uma sobrancelha, mas logo deixa escapar um riso.
– Bom... Edward não me parece o tipo de homem que paqueraria uma mulher com "gatinha".
Eu jogo a cabeça para trás e suspiro. O pior é que é verdade.
Meu chefe não era um velho sem cabelo que imaginei. Ele parecia uma versão quente e ruiva Brad Pitt. Eu sabia que a genética Cullen era boa quando conheci Emmett, mas conhecer Edward Cullen em pessoa era... Whoa. Sem palavras.
Emmett era como uma versão quente de um caubói – apesar do desastroso encontro que tivemos e da sua total falta de demonstração de masculinidade ao desmaiar quando soube que eu não era a SuperGirl – mas seu irmão era outra coisa. Edward sem sombra de duvidas o superava no quesito sexualidade, tudo nele parecia gritar sexo.
– Então por que ele me chamou assim? – olho-a e ela escolhe os ombros.
– Eu não sei.
Solto o ar pesadamente e fecho os olhos, lembrando-me do modo como ele me olhou até Rose quebrar nossa troca de olhares e se desculpar dizendo que tínhamos algo a resolver e me puxar para longe enquanto ele nos observava ir.
Ainda posso lembrar do seu olhar. Ele parecia tão... Chocado e parecia não acreditar no que via. Será que eu pareço mesmo com a gata dele?
Sacudo a cabeça e suspiro. Não posso acreditar nisso, meu orgulho está sendo levado por uma correnteza.
O mais estranho era que eu conhecia aqueles olhos, eu já vi aquele olhar.
Por que não consigo me lembrar?
– Muito bem querida... – Rose fala e ergue as sobrancelhas me encarando.
Franzo o cenho e arqueio uma sobrancelha.
Ficamos olhando uma para outra como duas estranhas até eu quebra o silêncio.
– O que é? – pergunto por fim.
– O que você está fazendo aqui?
– Você está me expulsando? – faço minha cara de estouprofundamenteofendida e um sorriso debochado surge em seu rosto. – Você oficialmente não é mais minha amiga.
Ela solta um riso e eu balanço a cabeça cruzando os braços.
– Nosso chefinho está quase chegando... – comenta e olha para as unhas como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Eu sinto, não, eu sei que ela vai me dizer algo para me irritar. – E eu acho que ele não vai querer a gatinha dele aqui fazendo absolutamente nada.
E está ai. Ela conseguiu.
– Olha aqui Srta. Souanúmeroum – estreito meus olhos e aponto o indicador para ela. – Eu...
– Bom dia Srta. Halle.
Ai.
Minha.
Bunda.
Meu corpo congela literalmente onde estou ao ouvir essa voz.
Olhando para o lado posso ver meu chefe – incrivelmente gostoso naquele terno, me atrevo a dizer – entrando pela porta que eu havia passado há menos de 10 minutos.
Ele está puxando a gravata com uma careta e tem o rosto cansado, como se não dormisse a dias. E eu ainda estou parada na mesma posição - com o dedo apontado para cara de Rose, a boca aberta e o corpo quase debruçado em cima da mesa da minha amiga – quando ele levanta os olhos para nós.
Posso perceber a surpresa no seu semblante e eu fecho os olhos por um segundo.
Por que senhor? Por quê?
– Isabella? – por que meu nome saindo dos seus lábios fazem coisas totalmente improprias para o meu corpo?
Sinto o salto de Rose pisar em cima de um dos meus dedos e fico titubeando com a boca abrindo e fechando sem dizer uma única palavra.
Filha da mãe!
– Isabella... – ela murmura com a voz dura e eu acordo do meu estupor.
Rose falando meu nome é assustador.
– Sr. Cullen – me endireito e forço um sorriso como se nada tivesse acontecido. – Bom dia!
– Bom dia? – pergunta com a voz incrédula. – É apenas isso que tem a me dizer?
Olho rapidamente para Rose e ela balança a cabeça discretamente, parecendo tão confusa como eu.
– Sr. Cullen eu não entendo... – digo e ele solta um riso sem humor.
– Você está me fazendo de idiota? – pergunta uma oitava acima e dou um passo para trás.
– Sr. Cullen... – Rose tenta e ele levanta a mão interrompendo-a antes que pudesse começar.
– Não! – ele sorve o ar profundamente e passa a mão pelo rosto antes de me encarar. – Venha a minha sala.
Ele passa por nós duas a passos duros e entra na sua sala, batendo a porta com força.
Estou profundamente chocada, e um pouco assustada, com as repentinas mudanças de humor do meu chefe quando me viro para Rose com o coração martelando.
– Por que ele está irritado? – woah essa é realmente minha voz tremendo de medo? – Eu fiz algo errado?
– Calma querida – Rose parece não saber o que dizer. Bom isso não ajuda muito. – Tenho certeza que não é nada demais. Talvez seja um mal entendido. Converse com ele, certo?
Eu assinto e respiro fundo antes de me dirigir em passos vacilantes à sala do meu chefe.
Hesito por um segundo antes de abrir a porta e o encontro parado em um canto da sala quando entro, passando a mão pelo cabelo ruivo rebelde.
Sua outra mão está fechada em punho e percebo-a tremer levemente.
Mas, antes que eu anuncie minha presença, ele se vira para mim e deixa ambas as mãos caírem ao lado do corpo.
– Por que você voltou agora? – pergunta, sua voz está mais controlada que antes e me atrevo a me aproximar alguns passos.
– Não estou entendendo... – digo mexendo em minhas mãos nervosamente. – Eu moro em Chicago há 5 anos.
Ele para um segundo e abre a boca sem saber o que dizer.
– 5 anos? – murmura baixando o olhar rapidamente. – E não pensou em me procurar durante todo esse tempo?
– Por que eu o procuraria? – ele iria me oferecer um emprego quando nem me formei? Tudo que ele falava ou perguntava não fazia o menor sentido.
– Claro... – solta um riso seco e sem humor, mas seus olhos estão tristes. – Por que você me procuraria? – ele suspira e levanta os olhos para mim como se esse pequeno ato fosse a coisa mais difícil no mundo. Seu olhar é vulnerável quando dirigido a mim, como se ele quisesse saber a resposta, mas ao mesmo tempo tivesse medo de perguntar. – Afinal o que você sentiu por mim?
O que?
Estou me sentindo em uma daquelas pegadinhas horríveis esperando alguém surgir por trás de mim com uma câmera na mão e dizendo "Pegamos você!"
– Eu não entendo... – ele solta um suspiro impaciente e revira os olhos.
– Vai continuar com isso? – sua voz está irritada novamente. – Não minta para mim. Você já fez muito isso no passado – por um milésimo segundo seu rosto cai e toda fúria desaparece. Mas havia sido tão rápido que eu quase não percebi. Quase. – Achou mesmo que eu não iria te reconhecer? Que eu... – para com o braço erguido e a respiração acelerada. Seus olhos me encaram por um segundo e ele balança a cabeça desviando o olhar. – Que eu iria te esquecer?
Deixo minhas mãos caírem ao meu lado ao sentir uma pontiaguda no meu peito.
O que foi isso?
– Eu não entendo Sr. Cullen – respiro fundo e levanto o olhar. – O que eu sentiria por você se nunca nos conhecemos antes?
– Não posso acredito nisso – diz com o maxilar travado. – Você por acaso gosta de brincar com a vida dos outros? Que espécie de mulher você é?
Aperto a mão em punho ao ouvir suas palavras. Ele está mesmo querendo me irritar? Porque está conseguindo.
– Eu. Não. Sei. Do que. Você. Está. Falando. – pontuo cada palavra. – Você não entende? Eu não te conheço!
Estou respirando pesadamente quando termino de falar e viro-me para sair sem esperar uma resposta, mas quando estou prestes a abrir a porta escuto sua voz.
– Vai continuar mesmo com isso? – fecho os olhos com força e quando volto a abri-los não o respondo, abro a porta e saio sem lhe dar uma resposta.
Suspiro e me encosto na porta fechada empurrando o cabelo para trás. Posso ouvir algo chocando com a parede do outro lado.
– Bella? – Rose pergunta e olha para frente. – O que houve?
Eu tento sorrir, mas não obtenho muito sucesso na minha missão. Tudo que quero no momento é ser abraçada por alguém e ouvir que tudo vai ficar... Bem.
– Acho que vou ser demitida.
...
O meu dia tinha sido um inferno.
Bom, eu não fui demitida e também não vi mais Edward Cullen, Rose aparentemente é a causa disso, mas ela tem me dado todos os tipos de tarefas.
Todos os tipos mesmo. Inclusive pegar café e lanche para todas as pessoas no nosso departamento.
Eu estava grata por ela, tipo, muito grata – ainda mais quando ela de algum modo também estava me mantendo afastada de Emmett Cullen, que por algum motivo me queria fora dessa empresa. Qual era o problema dessa família afinal? – Mas ela tinha que me fazer andar quase um quilometro? Sério, eu estou usando salto, a porcaria do salto que está me matando nesse momento enquanto a espero descer para irmos para casa depois que ela me fez andar como um corredor.
E eu ainda tive minha foto publicada novamente no Culleanos (quem diabos criou esse nome?), aquele maldito site que me persegue, com a legenda: Seja feliz, não seja Isabella Swan.
Juro que quando encontrar essa pessoa ela estará muito morta.
Era por isso, e por outros diversos motivos, que eu faria Rose me pagar hoje à noite, com juros.
Então, quando as portas do elevador abriram, e o seu rosto foi a primeira coisa que vi, um sorriso lento e mortal surgiu em meus lábios.
Entretanto, eu não havia percebido a figura alta que vinha logo atrás dela e meu sorriso imediatamente morreu ao perceber quem era.
Rose me vê assim que sai e seus olhos aumentam em surpresa.
Penso seriamente em me esconder como uma ninja em um dos carros antes que ele me veja, mas eu não iria dar esse gostinho a Edward Cullen. Não importa o quanto ver seu rosto incrivelmente belo de morrer me desagradasse.
Não mesmo.
Então, quando seus olhos encontram o meus e ele me encara por longos segundo, sustento o olhar e não o desvio até ele franzir o cenho e se virar irritado para Rose, falando algo rapidamente antes de sair andando a frente a passos duros.
Eu o observo entrar no seu carro mais a frente sem me dirigir o olhar e pouco tempo depois sair com os pneus raspando no chão, provocando um som estridente.
Maluco.
Mal consegui pensar quando senti uma mão em meu ombro e me viro assustada para trás, alivio me domina quando percebo que é Rose.
– Você viu aquilo? – pergunto sem acreditar no que acabou de acontecer. – Que filho da...
– Bella – ela me interrompe antes que eu termine e percebo seu olhar sério. – Você deve ficar longe do Sr. Cullen.
Meu queixo cai e agora eu não acredito no que ela diz.
– O que? – ela suspira e coloca uma mão no meu ombro.
– Foi uma ordem dele. Ele... – fecha os olhos por um segundo e balança a cabeça como se ela mesma não acreditasse nisso. Bom, eu não conseguia acreditar nesse absurdo. – Ele não quer que você apareça mais na frente dele ou... Ou você será demitida.
Filho de uma...
19h23min eu estava ligando para Alice.
No momento eu só conseguia pensar em duas coisas:
Morte.
Álcool.
Então, qual combinação melhor do que filmes de terror e três garrafas de Tequila?
Hoje é sexta, então não tenho que me preocupar com o dia de amanhã e muito menos em lidar com chefes malucos e seus irmãos obsessivos por Kara Danvers com problemas mentais.
A noite seria perfeita.
– Acho melhor você ter um bom motivo para me tirar da minha noite de sexo – Alice falou assim que abri a porta e fiz uma careta.
– Ew... Alice, informações demais – ela ergue uma sobrancelha e rouba a garrafa de tequila que tenho nas mãos enquanto passa por mim e se joga no sofá.
– Noite de sexta querida – diz antes de tomar um gole e engolir com uma careta.
Reviro os olhos e vou me sentar no outro sofá.
– Onde está Jake?
– Eu o deixei na minha vizinha. Ela adora cachorros. Sabia que ela usa uma camisa com fotos de cachorros nela? – Alice torce o nariz com nojo. Ela provavelmente preferia a morte do que usar algo assim.
– Que mau gosto – balança a cabeça em reprovação e reviro os olhos. – Então, o que planejou para hoje?
Dou de ombros me inclinando para alcançar a próxima garrafa de tequila e tomo um gole.
– O de sempre – digo apenas.
O de sempre envolvia levar-nos a um estado preocupante de embriagues enquanto incorporávamos nossa critica interior e passávamos horas reclamando dos filmes ou dos seus personagens. E isso sempre acabava, na maioria das vezes,transformando Rose em uma poça de lagrimas enquanto eu e Alice virávamos lutadores de UFC.
Isso na melhor das hipóteses. A coisa sempre piorava quando Alice trazia suas apostas para a mesa.
– Que original – Alice bufou deixando sua garrafa de lado e um sorriso formou-se em seus lábios.
Péssimo sinal. Nada de bom vinha com esse sorriso.
– Que acha de...
– Alice? Já chegou? – Rose entrou na sala com uma toalha em volta dos cabelos e suspiro de alivio.
– Nada disso Einstein, ainda estou no caminho. Apenas sou uma amostra do que está para chegar – Alice provocou-a com um sorriso fazendo Rose revirar os olhos.
– Claro Mis Baixinha – disse fazendo Alice tirar o sorriso do rosto e fazer uma careta.
Balancei a cabeça tentando prender o riso.
– Chega garotas. Não quero brigas na minha noite – disse entregando a outra garrafa a Rose que revirou os olhos e sentou ao meu lado.
– Você ainda não me contou o motivo para essa convocação – resmungou Alice.
– Ao meu emprego. Então vamos propor um brinde – disse levantando a garrafa enquanto Alice me olhava como se fosse uma louca. – Um brinde a todos os chefes malucos e insuportáveis que sofrem de problemas mentais.
Rose me olhava com pena e compreensão enquanto que Alice parecia ainda me achar louca, até eu lhe lançar um olhar afiado e ela revirar os olhos levantando sua garrafa.
– Um brinde ao sexo pessoal, pois sem ele não somos nada – disse levando a garrafa a boca e tomando um grande gole. – E a todas as amigas que insistem em ser empatas fodas – resmungou baixinho.
Ignorei seu comentário e olhei insistentemente para Rose que suspirou antes de levantar sua própria bebida.
– Um brinde a todas as desilusões amorosas que sofremos ou que ainda vamos sofrer – disse me fazendo franzir o cenho confusa. Do que ela estava falando? – E também brindamos a todas as secretarias de Chicago. Paciência não é um dom. É uma merda.
Eu e Alice olhávamos surpresas para Rose que engolia grandes goles da sua bebida como se fosse água.
– Então... – diz abrindo um sorriso assim que termina. Seus níveis de embriagues subindo cada vez mais. – O que vamos fazer hoje?
De uma coisa eu tinha certeza.
Desliguem seus despertadores crianças. Essa irá ser uma longa noite.
