Olá pessoal, como estão? O capítulo de hoje é propositadamente longo. Trata o ponto de vista dos pais de Jane e Angela diante a fuga deles do Parque de Diversões/Circo. O bom da série não ter explorado este aspecto é que nós, escritores fãs de The Mentalist, podemos nos divertir escrevendo sobre isso, apesar de que o capítulo é de pura angústia e reflexão. Espero que gostem e que comentem! Aproveitem!

OS: The Mentalist é obra pertencente a Bruno Heller.

CAPÍTULO VII

Era uma sexta-feira fria e enevoada. Alex acordou com o sol lutando para ganhar das grossas nuvens de um outono frio. Ele espreguiçou-se largamente, bocejando alto. Piscando muito, ele percebeu que o trailer estava silencioso; estranhamente silencioso. Não havia barulhos típicos de uma manhã, como Patrick no banheiro ou na cozinha preparando o café da manhã deles. Ainda atordoado pela dor de cabeça causada pela ressaca da última noite de jogos e bebedeira com os amigos, Alex levantou-se da sua cama e foi ao banheiro lavar o rosto. Talvez Patrick tenha decidido tomar café com Sam e Pete; era do costume dele ultimamente sair e largar o pai à própria sorte, especialmente depois de uma noite de jogatina.

Alongando-se com uma enorme preguiça, Alex saiu do trailer, encarando com má vontade o tempo ameno do outono. Depois de bocejar muito, ele fez seu caminho até o trailer de Sam e Pete, no intuito de encontrar Patrick; afinal, sexta-feira era um dia de movimento à noite no parque de diversões, então, Patrick deveria preparar-se para suas apresentações. E quem sabe, mais tarde, Alex não levaria Patrick para sua noite de jogos? O garoto – aqui ele balançou a cabeça sorrindo, pois de garoto Patrick não tinha nada faz tempo: ele era um homem formado, muito parecido com a mãe fisicamente – bem, o rapaz estava se tornando um mestre no pôquer e com o talento dele, quem sabe não garantiriam o necessário para reabastecer o trailer com mantimentos para o final de semana?

Arrastando os pés demoradamente, ele chegou ao trailer de Sam e Pete. Suspirando profundamente, pois sabia que Pete não gostava muito dele, especialmente pelo jeito que tratava Patrick, ele bateu na porta e plantou um sorriso falsamente largo no rosto quando ouviu movimento dentro, indicando que alguém logo abriria a porta. Pete surgiu com um sorriso enorme, contando, quem sabe, que seria Patrick a bater na porta dele tão cedo; ao ver que era Alex, seu sorriso logo transformou-se em carranca:

'' – Humpf, o que você quer Alex?'' – rugiu o grande homem à giza de um bom dia.

'' – Bom dia pra você também Pete.'' Alex tentou apaziguar. '' Por acaso Patrick está aqui?''

'' – Não.'' – foi a resposta simples e direta de Pete, ainda carrancudo.

'' – E por acaso não sabe onde ele está?'' – Alex tentou, com todas suas forças, manter seu rosto ameno.

'' – Não tenho ideia. '' – Pete resmungou e demonstrando que a conversa havia acabado, deu as costas para Alex e fechou a porta na cara dele, sem dizer mais nada.

Alex expirou o ar que ele não havia percebido que estava segurando. Balançando um pouco a cabeça e sentindo imediatamente que não deveria ter feito isto, já que a dor aumentou consideravelmente, ele refletiu onde diabos Patrick havia se metido. Sem nenhum palpite sobre o paradeiro do filho, ele decidiu arrastar-se até o trailer de café. Vasculhando os bolsos até lá, notou que tinha somente o suficiente para um café puro. Sem chance de bolinho ou mesmo um simples creme no café. Abatido com seu estado de pobreza, ele chegou ao trailer, pedindo, com o melhor rosto feliz que pode arranjar, um café puro médio. Agradeceu à balconista e saiu à deriva pelo parque, tomando goles do seu café, desejando prolongar o máximo possível sua parca refeição da manhã.

Ele teria que encontrar Patrick o quanto antes; o rapaz teria que estar pronto para suas apresentações à tarde. Com certeza, ele deveria estar chafurdando em algum canto com uma garota qualquer. Alex teria uma conversa muito séria com Patrick. Já era hora dele começar a planejar os shows sozinho, e isso significaria arrumar-se cedo, barbear-se e ficar de olho em possíveis alvos ao longo do dia. Ficar de namorico não era bom para os negócios.

Alex nem percebeu quando chegou ao seu trailer, preso a seus pensamentos. Lentamente subiu as escadas e abriu a porta desejando ouvir algum sinal da presença de Patrick, porém, tudo que encontrou foi um silêncio agourento. Fingindo ignorar os arrepios de sua nuca, ele foi tirando a roupa ao caminho do pequeno banheiro. Tomou um banho, barbeou-se, penteou seus cabelos loiros, vestiu uma roupa limpa (não recolhendo a roupa que havia largado no chão) e saiu com o firme propósito de encontrar Patrick. Isso já estava se tornando ridículo: era quase meio-dia e nada do rapaz. Se ele ainda fosse um garoto, este sumiço com certeza renderia uma boa surra. Mas Alex não se sentia seguro em ameaçar o homem feito Patrick. Então, a estratégia do pai preocupado e carente teria que funcionar. Pegando seus óculos escuros para encarar o sol que brilhava após ter vencido a luta com as nuvens, Alex saiu do trailer em busca de Patrick.

Enquanto isso, do outro lado do estacionamento de trailers, Martin estava muito mal-humorado: ele havia sido acordado por uma ansiosa Marilen, sua esposa, confusa porque Angela não estava em sua cama. Aborrecido, Martin esfregou o rosto cansado, dizendo à esposa que provavelmente a menina havia saído mais cedo para cuidar de alguma coisa. Marilen não havia se convencido e enchia os ouvidos do seu marido com argumentações quanto ao fato de que não era do feitio de Angela sair sem falar nada. Danny, por outro lado, fazia isso o tempo todo, para o desgosto da mãe; porém Angela, não era tinha este costume.

Estalando os lábios em sinal de desgosto, Martin arrastou-se da cama, indo até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Ele achou que a preocupação de sua mulher era muito barulho para nada. Angela era uma jovem responsável; provavelmente, ela foi visitar uma amiga ou simplesmente estaria por aí com aquele garoto Jane inútil.

Marilen estava na cozinha preparando o café, quando um Danny muito desgrenhado surgiu, aspirando o cheiro do café que a mãe preparava.

'' – Danny, você viu sua irmã?'' – Marilen perguntou angustiada.

'' – Não.'' Danny respondeu displicente, interessado nas torradas que sua mãe virava na frigideira.

'' – Acho que ela não dormiu em casa ou então saiu muito cedo. Não é do jeito dela sair sem me falar nada.''

'' – Bah, não se preocupe. Ela deve ter saído para resolver alguma coisa cedo e esqueceu de avisar.'' – Danny respondeu distraído enquanto enchia seu prato com torradas, uma boa colherada de ovos mexidos e apanhava sua xícara com café, recém-saído da cafeteira.

Fazendo uma careta de desgosto, Marilen voltou-se para sua tarefa, profundamente preocupada onde estaria Angela. Logo mais, Martin chegou à cozinha, pegou sua xícara de café, algumas torradas e sentou-se à mesa com Danny. Os homens conversavam tranquilamente enquanto Marilen remoía-se angustiada com Angela. Resolvendo que aqueles dois não ajudariam, ela saiu do trailer sem dizer nada.

Do lado de fora, Marilen deu-se conta que não tinha a menor ideia de onde procurar sua filha. Assustada, descobriu que não conhecia os hábitos de sua filha. Atordoada, ela andou a esmo por algum tempo pelo estacionamento de trailers. Ela tinha ouvido a filha comentar que estava namorando com um tal de Patrick Jane, contudo, Marilen, como nos outros namoricos da filha, não deu muita importância. De repente, algo abateu sobre ela: e se o tal Patrick havia levado sua filha? Ou pior, a havia matado? Ela sequer pediu para conhecer o rapaz, deixando sua filha solta em questão a relacionamentos, acreditando que as pessoas do parque cuidariam para vigiar os jovens e crianças.

Desesperada com seus pensamentos terríveis, Marilen bateu de trailer em trailer até chegar ao trailer de Sam e Pete:

'' – Bom dia, desculpa incomodar, mas vocês sabem em qual trailer posso encontrar Patrick Jane?" – ela disse muito rapidamente e aflita a uma Sam que a encarou com surpresa. Marilen Ruskin raramente era vista perambulado pelo estacionamento ou até mesmo pelo parque e vê-la ali, cedo, em busca de Patrick era no mínimo estranho.

'' – Por que a pergunta?'' – Sam disse a ela, franzindo muito a testa.

Torcendo as mãos nervosamente, Marilen despejou todas suas inquietações a respeito dele e de Angela. Sam abriu um largo sorriso diante das preocupações exageradas da outra mulher:

''- Posso garantir que Patrick é inofensivo e nunca faria mal a sua filha ou a qualquer um.''

Marilen soltou um suspiro de alívio. Pelo menos era uma boa notícia, porém não explicava o misterioso sumiço de Angela. Aproveitando que Sam parecia muito solícita e empática, Marilen perguntou se ela havia visto sua Angela hoje. Como consequência a esta pergunta, Sam fez uma expressão de surpresa e suspeita. Naquela manhã, já era o segundo parente procurando ou Patrick ou Angela. O que será que os dois haviam aprontado?

Ao perceber o rosto preocupado de Sam, Marilen foi tomada novamente por medo e ansiedade, retomando o ato de remexer as mãos nervosamente. Sam, ao notar o nervosismo dela, convidou-a gentilmente para entrar e tomar um chá.

'' – Não posso, tenho que encontrar Angela..''

'' – Tenho certeza de que ela está bem. Vamos, um chá irá ajudar a acalmar e depois você pode procura-la mais relaxada.''

Sam permaneceu muito calada enquanto preparava o chá. Há semanas, Patrick havia procurado a ela e Pete, pedindo para que guardassem com segurança um dinheiro que ele estava economizando. Patrick não disse muito o porquê estava guardando o dinheiro e nem eles perguntaram a respeito. Acreditaram que se tratava de uma economia dele para manter longe das mãos do seu pai. Agora, com esta novidade de que tanto ele quanto Angela estavam sumidos, Sam estava aos poucos somando os pontos e chegou a única conclusão possível: eles haviam fugido. Patrick havia aparecido na noite anterior e pedido o dinheiro, alegando que iria gastá-lo com compras de mantimentos e roupas para ele e seu pai. Sam e Pete nem desconfiaram e nem questionaram sobre isso.

Sam abriu um pequeno sorriso imaginando os jovens amantes fugindo de madrugada para um destino diferente a que estavam sendo preparados. No fundo, ela tinha um grande respeito pela coragem deles, caso tivessem realmente feito o que ela estava imaginando. Plantando o mais simpático sorriso que pode no rosto, serviu para ela e para Marilen, que ainda torcia as mãos, olhando aflita pela janela.

'' – Aqui, seu chá.''

'' – Obrigada.'' Marilen respondeu, agradecida por Sam está sendo tão agradável com ela.

Depois de alguns goles, Sam pousou sua mão suavemente nas mãos de Marilen.

'' – Fique calma. Tenho certeza de que Angela está bem.''

'' – Como você pode ter certeza disto?" – Marilen estava lutando para não deixar as lágrimas caírem. '' Ela nunca fez isto antes. E se ela estiver sofrido algum acidente e está por aí, ferida ou pior...'' Marilen fechou os olhos com força, obrigando-se a não pensar sobre isso.

'' – É só um pressentimento.''

Marilen encarou Sam com os olhos marejados; a tranquilidade na atitude de Sama de alguma forma trouxe um pouco de paz para Marilen.

'' – Não conheço minha filha.'' Ela disse envergonhada. '' Não conheço seus hábitos, seus gostos, o que ela faz quando não está ajudando o pai. Nem conheço esse tal de Patrick, o namoradinho dela...'' Marilen finalizou com um sorriso triste.

'' – Eu conheço Patrick há anos e posso dizer com certeza que ele é um bom rapaz e ama muito sua filha.''

'' – Sério?''

'' – Sério.''

As mulheres trocaram sorrisos leves de entendimento. Marilen sentiu-se aliviada depois de um período de angústia e preocupação. Pegando sua xícara, ela tomou seu chá com um pouco mais de prazer, saboreando a bebida quente e reconfortante. Sam, por outro lado, sentia pena da mulher à sua frente. Ela tinha dinheiro, tinha o status do nome, mas claramente não tinha a felicidade de ter uma família. Provavelmente a pobre mulher vivia à sombra do homem e do nome Ruskin. Talvez fosse por isso que Marilen era vista raramente pelas pessoas do parque.

Em silêncio, as duas mulheres terminaram seus chás; Marilen, agradecida, deu um forte abraço em Sam e foi para casa. De alguma forma, depois da conversa que tivera com Sam, a sensação de tranquilidade tomou conta dela. Sam deu a entender que conhecia e confiava profundamente em Patrick, então, sua menina provavelmente estava bem, caso estivesse na companhia dele. Como é comum aos jovens, Angela deve ter combinado algum encontro com Patrick e esqueceu de avisá-la. Ela balançou a cabeça; quem ela queria enganar. Angela nunca havia compartilhado qualquer coisa de Patrick ou de um outro namoradinho antes. Subitamente, ela percebeu o quanto era distante da filha. Com um renovado sentimento de tristeza, Marilen sentou-se em um banco próximo ao estacionamento de trailers e observava com amargura as famílias que caminhavam em direção ao parque.

Marilen havia se casado muito cedo; na verdade, ela foi obrigada a casar-se com Martin Ruskin por conveniência das famílias. Eles mal se conheciam, mal tinham começado a namorar, quando foi avisada por seu pai que o casamento seria dali a poucos meses. Surpresa, ela viu-se rodeada por preparativos e movimentações, sequer tomando conhecimento de como isso aconteceu. Com um toque de aborrecimento, ela lembrou da manhã do seu casamento: o dia estava muito ensolarado, mas ela estranhamente sentia-se sombria e melancólica em seu vestido de noiva. Parentes e amigos davam-lhe os parabéns e ela retribuía com polidez e doçura, mas por dentro, ela estava remoendo amargura e decepção. O casamento não era o que ela sonhava para si.

Ela sonhava em terminar os estudos, fazer uma faculdade, ter uma profissão de verdade que não fosse algo relacionado a circo ou parque de diversões. Viajar, conhecer lugares, conhecer alguém e quem sabe até ter uma família? Ter uma casa de verdade e não um trailer em que mal cabia seus livros. A leitura sempre foi para ela um prazer, mas seus pais desprezavam esse hábito, achando um desperdício de tempo alguém ler tanto. Quando ela se viu com um marido e dois filhos, deu-se conta de que sua vida passou em brancas nuvens, sem que ela tivesse realizado boa parte dos seus sonhos. E impossibilitada de dar uma opinião, via que Angela estava fadada ao mesmo destino triste e solitário dela. Mas então, vieram para esse parque; daí, sua Angela mudou. Ela passou a ficar mais sorridente, mais feliz e de certa forma, brilhava. Marilen observou estes sinais em sua filha e atribuiu ao simples fato dela ter conhecido um novo rapaz e estar curtindo uma paixão juvenil. Foi neste momento que a verdade caiu sobre Marilen: Angela e Patrick haviam fugido de casa! De alguma forma, eles haviam conseguido meios e dinheiro para isso. Diante desta descoberta, Marilen encheu-se de alegria e orgulho da filha. Angela teve coragem de fazer algo que Marilen nunca fez: virou as costas para uma tradição estúpida e correu atrás dos seus sonhos, com o homem que amava. Sim, provavelmente Angela e Patrick amavam-se profundamente, pois isso justificaria a fuga deles. Ela pouco sabia sobre este tal de Patrick, mas pelo que Sam havia dito, parecia ser um bom rapaz. Sim, sua filha deveria estar em boas mãos. E sim, sua filha seria muito, muito mais feliz do que ela fora em sua vida.

Tomada de uma repentina felicidade, Marilen levantou-se e foi em direção a seu trailer; chegando, ela encontrou um Martin muito nervoso, gritando muito com Danny ou qualquer um que lhe dirigisse a palavra. Finalmente, ele havia se dado conta que Angela havia sumido de verdade. Sua Angela, sua única filha havia desaparecido.

'' – Marilen, onde é que você estava? Angela sumiu!'' – ele rugiu para ela, como se ela não soubesse disto e não se importasse.

'' – Eu disse isso a você logo de manhã.'' – Ela deu de ombros e entrou no trailer sem dizer mais nada.

Irado, Martin socou a lateral do trailer. Como ela poderia estar assim tão calma quando a filha deles simplesmente desapareceu no ar sem deixar pistas?! Era mesmo uma imprestável! Ele pensou amargamente. Tentando colocar seus pensamentos em ordem, Martin revisou os últimos dias em que viu Angela para tentar descobrir o que estava acontecendo. A imagem da sua filha trocando um beijo com o garoto Jane surgiu em sua mente como um veneno. Com um profundo ódio, ele bruscamente tomou caminho em direção ao trailer dos Jane; ele havia seguido Angela uma vez e por isso sabia onde ficava estacionado. Se ele soubesse à época que aquele rapaz idiota exerceria alguma influência negativa sobre sua filha, teria acabado com o namorico deles há mais tempo. Todavia, não era tarde demais. Se Angela estivesse enfurnada no trailer daquele fracassado, iria tirá-la de lá nem que fosse a pancadas!

Extremamente nervoso, ele socou a porta do trailer dos Jane, gritando alto:

'' – Angela, saia daí! Eu sei que você está aí dentro! Saia antes que eu entre aí e te arraste pelos cabelos para fora!''

Seus gritos e seus socos enfurecidos chamaram a atenção das pessoas próximas; Sam e Pete aproximaram-se cautelosamente, olhando com curiosidade e preocupação à confusão que se alinhava.

'' – Abra essa porta Angela." Martin berrou, esmurrando com mais força o metal do veículo.

Um descabelado e aturdido Alex surgiu:

'' – O que está acontecendo aqui? Quem é você?''

Martin não disse nada; ao invés disso, deu um soco em Alex, que tombou escada abaixo com o nariz sangrando. Martin passou em cima dele, gritando por Angela enquanto entrava no trailer. Alex mal tinha se recuperado do choque quando Martin estava em cima dele de novo, pegando-o pelo colarinho, sacudindo-o muito, berrando onde estava sua filha e o que seu filho bastardo havia feito com ela.

Sem entender nada, Alex grunhia respostas desarticuladas, sendo que recebeu com alívio a intervenção de Pete, que separou os dois homens antes que Martin matasse Alex de pancada.

'' – Calma, calma!'' – Pete bradou, mantendo Martin e Alex separados com seus grandes braços abertos.

'' – O filho deste aí está com minha Angela! Minha Angela! Quero sabe onde estão, porque vou esfolar o sujeitinho.'' – Martin gesticulava com os punhos cerrados, espumando de raiva.

'' – Eu não sei do que este louco está falando. Não vejo Patrick desde manhã.'' Alex retrucou, tentando recompor-se.

'' – Seus idiotas egoístas! Patrick e Angela fugiram de casa, juntos!'' – Pete gritou com uma voz forte para impor-se aos gritos e xingamentos que Martin e Alex trocavam.

Diante desta declaração, os dois homens pararam e olharam bobamente para Pete. O peso destas palavras os alcançou de uma maneira ensurdecedora. Boquiabertos, encararam Pete tomados de uma imensa confusão e surpresa. Eles pararam de lutar contra Pete e ficaram bobamente seguros pelas mãos fortes dele, como que fossem apêndices de suas mãos.

'' – Eles fugiram para longe de vocês.'' – Pete completou, abaixando os braços quando viu que era seguro.

Martin e Alex encararam-se. Eles pouco se encontraram nestes meses em que os Ruskin estavam no parque. Mal se conheciam. Porém, de alguma forma, agora ambos foram atingidos por aquela verdade com assombro: seus filhos haviam-nos abandonado. Eles, na calada da madrugada, fizeram suas malas e foram embora. Sem remorsos, sem notas de despedida. Simplesmente decidiram que ali, com os pais, não era o lugar deles. Resolveram, como se pudessem e entendessem, seguir um caminho no qual eles não estavam.

Sem muito a dizer, Martin voltou para seu trailer, magoado e com os ombros caídos em derrota, recusando-se a deixar as lágrimas que tomavam conta de seus olhos caírem. Já Alex permaneceu no mesmo lugar; as pessoas dispersaram quando viram que a briga havia acabado. Pete havia sacudido levemente Alex, perguntando se ele estava bem. Quando Alex soltou um gemido a título de resposta, Pete bateu em seu ombro com simpatia:

'' – Força homem, força. Ele ficará bem. Ele é esperto, vai saber se virar.''

Alex encarou-o perplexo, como se Pete tivesse falando o absurdo dos absurdos. Como assim Patrick ficaria bem? Quem se importa com isso, quando ele, Alex, foi abandonado?! Sem dinheiro, sem perspectiva, sem esperança? O que ele iria fazer sem Patrick agora?

'' – Vamos Alex; vou te levar para tomar um chá.'' Sam aproximou-se e com o marido, pegaram em cada braço de Alex e praticamente arrastaram-no para seu trailer. Alex permaneceu calado por todo o caminho, pensando no que faria a seguir com sua vida sem Patrick e seu talento incrível. Uma sombra de arrependimento passou por ele quando percebeu que ele não foi um pai para Patrick e que agora o havia perdido para sempre.