Capítulo 8 – Escherichia Coli
"Ok, deixa eu ver se entendi", House começou segurando uma risada. "Você chama seu pênis de passarinho?"
"O que tem de errado nisso? Chamo assim desde que era criança".
"Se eu chamasse meu pênis de passarinho com certeza ele não sairia nunca com vergonha", House falou rindo.
John ficou mais corado do que já estava. "Isso é sério cara, não consigo resolver de nenhuma maneira".
"Você já tentou... uh... Homens?"
House esperava uma retaliação de seu cunhado, John. Mas o que veio a seguir o surpreendeu completamente.
"Você... você seria capaz de me dar um beijo para eu testar?" John sussurou para House.
"Boa!" House riu.
"Falo sério. Eu... tenho pensado sobre isso desde... a faculdade". John respondeu corando.
"O quê?" House questionou supreso.
"A coisa gay... homens..."
"John, ok, veja bem..."
"Gregory, eu... eu sempre senti 'coisas' por outros homens mas me casei, tive filhos e estava teoricamente bem, mas nos últimos meses tenho tido sonhos vividos com... homens... e... você é um deles". John disse embaraçado.
"Wow... Eu sei que sou irresistível mas..."
John não deixou House falar e se aproximou dele, "por favor, só um beijo para que eu possa ver como me sinto. Você é familia!"
House se afastou mais rápido do que um sujeito com as duas pernas boas poderia fazer. "John, se isso for uma brincadeira eu meio que mereço".
"Não é brincadeira, é a minha vida!" John respondeu aumentando o tom de voz.
"Se isso for verdade eu quero deixar claro que não somos familia, e eu não sou gay. Tenho um amigo que raspa as bolas, talvez ele possa te ajuda".
House partiu para dentro da casa deixando um John confuso e envergonhado para trás.
Obviamente House compartilhou com Cuddy o problema de John, Cuddy não acreditou em House, pensou que era mais uma de suas desculpa para desviar o foco de sua conduta no jantar. Julia voltou para casa com a certeza de que John tinha outra mulher. Arlene ficou frustrada, pois não conseguiu ser a personagem central do jantar e tão pouco conseguiu qualquer resposta sobre o casamento de Cuddy ou sobre o suposto affair de John.
Dias depois House estava acordado às sete da manhã contrariando o hábito de dormir até mais tarde aos finais de semana quando não tinha um paciente. O telefone tocou e ele atendeu.
"Casa de carnes Arlene", House disse ao atender o celular.
"Muito engraçado. O que você faz acordado a essa hora?" Wilson perguntou.
"Se você tinha certeza de que eu estaria dormindo, por que me ligou afinal? Não me diga que sonhou comigo também?"
"Passei no hospital para deixar um documento e encontrei Cuddy lá, pensei que você gostaria de sair pra almoçar. E não, eu não acredito nessa coisa de que seu cunhado tem um crush em você".
"Pois é, em pleno sábado Cuddy foi para o hospital resolver uma crise ao invés de resolver a crise de identidade do meu pênis. E sim, meu cunhado tem sonhos molhados comigo".
Wilson virou os olhos e mudou de assunto, "e ai? Vamos combinar algo para o almoço?".
"Wilson, não posso. A mulher dragão voltará em breve para devorar minha alma".
"Cuddy é a mulher dragão?", Wilson perguntou sem entender a referencia.
"sim, a grande e fogosa mulher dragão".
"House, já faz algum tempo que não saímos juntos, eu acho maravilhoso que você esteja se dando tão bem com Cuddy e Rachel, mas às vezes é bom fazer coisas de homens com outros homens".
"Entendo. Imagino que você esteja me convidando para ir ao salão de depilação com você lustrar minhas bolas". House provocou.
"House... cala a boca. Já me arrependi de ter te ligado".
"Wilson, por mais tentadora que seja sua proposta máscula, eu já tenho planos para hoje. Vamos para Island Beach State Park em algumas horas. Quer dizer, quando Cuddy deixar o hospital e voltar para casa, isso pode ser daqui a 5 minutos, daqui a 5 horas ou nunca".
"Uh... Bom pra você".
"Na verdade bom para quem terá o prazer de me ver em trajes de banho, pena que John não estará lá para apreciar".
Rachel acordou esfregando os olhos de sono.
"Wilson, preciso ir, pequena draga acordou". House falou e desligou sem nem dar tempo para Wilson se despedir.
"Pequena Cuddle, bom dia! Pronta para a praia?"
"Simmmmmmmmmm". Rachel gritou.
"Ok, ok, vou fazer seu cereal, pois alimentar as meninas Cuddies é minha especialidade".
Rachel riu, "House, você é meu papai?".
House engasgou com a saliva, olhou para Rachel assustado mas Rachel continuou, "Ana disse que o pai dela faz cereal pra ela, brinca com ela, assiste desenho com ela, ri com ela, coloca ela na cama, lê pra ela, dorme no quarto junto com a mãe dela, você faz tudo isso, então você é meu papai". Rachel concluiu.
Enquanto isso no hospital...
"Oi Fran, você por aqui hoje?" Cuddy cumprimentou sua amiga e colega.
"Lisa, você fugiu de mim a semana toda, já estou com o resultado dos seus exames. E estou aqui hoje só de passagem, foi uma sorte te encontrar. Porque não aproveitamos e verificamos seus exames?"
"Fran, me desculpe mas a semana foi corrida demais, e preciso voltar para casa, vou para a praia ainda hoje. House e Rachel estão muito empolgados, você entende não é? Duas crianças em casa..." Cuddy e Fran riram.
"Não vai demorar mais do que quinze minutinhos". Fran insistiu.
Cuddy ficou pensativa mas acabou aceitando, afinal ela não podia deixar a infecção aumentar sem o devido tratamento.
Ambas entraram no consultório e Fran estava com a pasta dos exames de Cuddy.
"Seus exames de urina não apontam infecção, seus exames de sangue estão bons apenas uma anemia leve mas seu Beta HCG foi positivo". Disse Fran.
Cuddy riu levando na brincadeira. "Ok Fran, muito engraçado. Podemos partir para a versão real resumida senão House vai me matar com a demora".
"Não estou brincando, essa é a versão real resumida. Se fosse dizer a versão completa diria que seu nível de Beta HCG é de 558 mIU/ml, indicando que a gestação está entre 04 a 05 semanas".
"Muito engraçado Fran, mas eu não solicitei o exame de Beta HCG porque não há nenhuma razão para isso".
"Pois eu solicitei porque há algumas razões para isso: Enjoo, enxaqueca, fraqueza, tontura somado a relação sexual sem proteção". Respondeu Fran.
"Eu tomo pílula anticoncepcional, Fran".
"Também há outro motivo que me levou a ter pedido o exame, você fez uso de antibiótico há um tempo atrás, você sabe que isso pode interferir com a efetividade do seu método anticoncepcional, certo?".
"Você já conseguiu me assustar Fran, ponto para você. Agora vamos falar sério".
Fran mostrou o exame para Cuddy. "Aqui". Apontou Fran.
"Você pode muito bem ter adulterado esse documento...".
"Ótimo, vamos fazer um ultrassom transvaginal agora então".
Cuddy não podia acreditar nisso, tudo bem que o argumento da interação medicamentosa era válido, mas... não podia ser. Ela aceitou a oferta de Fran e foram para uma sala de ginecologia com a finalidade de realizarem o exame para esclarecerem de uma vez por todas a situação. Cuddy se despiu, vestiu o avental e subiu na maca preparada para o exame. Poucos minutos depois Fran apontou a tela e falou, "Veja aqui, Lisa. Eu não poderia adulterar essa imagem no seu útero, certo?"
"Papai estava muito gostoso o cereal". Rachel disse com o 'bigode de leite'.
House parou chocado, ele sentia um misto de coisas: surpresa, pavor, felicidade, satisfação, incompreensão, enquanto Rachel agia naturalmente, como se chamar House de pai fosse a coisa certa e mais natural do mundo. Nesse momento Cuddy entrou na casa e foi direto para seu quarto, ela ainda não havia parado para pensar sobre o que aquela gestação não planejada significava, sobre o que mudaria em seu relacionamento, em sua vida.
House entrou no quarto, "você sabe que temos uma hora e meia de percurso até lá, você quer pegar um sol ou só quer mesmo banho de lua?", ele disse em tom brincalhão.
Mas Cuddy não respondeu, ela estava muito alheia a realidade. De repente Rachel entra no quarto gritando, "mamãe, mamãe, vamos a praia! Papai já me deu cereal e biscoitos, eu estou forte pra aguentar todas as ondas".
Cuddy olhou para House em choque.
"Ela começo a me chamar assim essa manhã". House esclareceu.
Cuddy não podia acreditar na coincidência e começou a chorar. House se assustou.
"O que foi mulher? É tão ruim assim ela querer me chamar... disso?"
"Não, não é isso..." Cuddy respondeu e não deu tempo para House argumentar. "Você está certo, preciso me aprontar para sairmos logo, por favor, leve Rachel para escovar os dentes e pegar a mochila que deixei pronta no quarto dela". Cuddy disse ainda chorando.
House saiu sem questionar, mas isso não ficaria assim, ele haveria de descobrir o que se passava.
House estava dirigindo o carro de Cuddy com o som alto, ele optou por um setlist dos anos 80 e começou a cantar tão logo eles pegaram a estrada.
Once upon a time I was falling in love
But now I'm only falling apart
There's nothing I can do
A total eclipse of the heart
Ele imitava vozes e Rachel ria descontroladamente. Até Cuddy começou a desanuviar um pouco e passou a rir de seu namorado.
"Lembra dessa? Michigan?" House cantou imitando a voz de Cyndi Lauper.
But I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful
Like a rainbow
Cuddy olhou para ele com muito amor e, enquanto House cantava, ela pensou que não queria nenhum outro pai para seus filhos, ele era o amor de sua vida, sempre foi. Desde Michigan nunca mais conseguiu esquecê-lo, o lugar que ele ocupou em seu coração continuo intocável. Ele era o homem mais incrível que ela já conhecera.
"Papai é bobo", Rachel falou desviando os pensamentos de Cuddy.
Ela riu, mas algo não a deixava sentir-se plenamente feliz. Seria o medo da reação de House, ou o medo de um aborto, ou ainda o medo de que suas vidas mudassem? Ela ainda não sabia responder.
Chegando a Island Beach State Park passaram no hotel para deixar as malas e colocarem seus trajes de banho. House colocou uma bermuda azul marinho, chinelo de dedo, camiseta branca, boné e óculos de sol. Cuddy estava com biquínis coloridos e um vestido leve por cima, também com óculos de sol, Rachel de biquínis e vestidinho, uma cópia de sua mãe.
Escolheram um local mais vazio na praia para ficarem. Cuddy passou protetor solar infantil em Rachel e ela foi brincar na areia, encantada com a possibilidade de fazer um enorme castelo.
"Você vai passar protetor solar em mim?" Cuddy perguntou para House que estava tirando a camiseta.
"Claro senhora. É meu prazer".
Cuddy tirou seu vestido ficando apenas de biquíni e House quase caiu para trás, ela estava linda.
"Engoliu um boi, é?" Ela perguntou divertida.
House encheu as mãos de protetor solar e começou a lambuzar no corpo de Cuddy. Começou pelo pescoço, fazendo movimentos rítmicos e lentos, desceu pelas costas, chegou a bunda dela.
"House, ai não". Cuddy alertou e desviou o corpo para frente.
"Eu estou protegendo seu lindo corpinho, não quero que sua bunda linda fique tostada como um waffer". Respondeu sorrindo.
"Comporte-se, não estamos sozinhos, estamos em um local publico".
"Ok, senhorita". House continuou passando protetor, agora na parte posterior das coxas de Cuddy. Ele era muito cuidadoso e carinhoso e isso a estava excitando.
"Ok, House, está ótimo".
"Mas eu não terminei...". Chorou House.
Quando Cuddy olhou para a bermuda de House notou uma protuberância bastante óbvia.
"House sente-se!" Cuddy sussurrou jogando uma toalha para ele.
"Por quê?"
"Por que eu não quero fazer propaganda dos seus dotes".
O dia passou preguiçoso. House levou Rachel até a praia para brincar na água, mas não se atreveu a ir muito fundo por conta de sua perna, ele também ajudou Rachel com seu castelo de areia. O tempo todo Rachel se dirigia a House como 'papai' e até ele estava começando a se acostumar com isso.
A tarde ele se aproximou de Cuddy que tomava um suco de frutas. Cuddy esteve pensativa e distante durante todo o dia e isso estava incomodando House.
"Amor, me dá um abraço bem forte?" Cuddy disse para ele.
House ficou mais suspeito ainda com o fato dela chamá-lo de 'amor' em sã consciência e de pedir por um abraço. Cuddy era carinhosa mas não era carente. House nada falou, se aproximou de Cuddy e a envolveu em seus braços com muita força. Ficaram assim por minutos, sem falar nada, apenas envolvidos um no outro e apreciando Rachel brincando enquanto o sol se punha no mar.
Cuddy estava no banho e Rachel dormia exausta, House então resolver agir e pegou o telefone.
"Wilson, preciso de um favor urgente".
"House, você não está na praia?"
"Sim, sim, escuta rápido. Preciso que você descubra o que aconteceu hoje no hospital com Cuddy, ela não voltou normal de lá".
"O que você quer dizer?" Questionou Wilson confuso. "Como vou descobrir isso?".
"Wilson, você dormiu com metade das enfermeiras daquele lugar, não custa ligar para uma delas e se informar. Se isso quiser dizer sexo novamente com uma delas, boa coisa é que você já está com as bolas raspadas".
Cuddy saiu do banho bastante bronzeada.
"Uau... Que mulher linda eu tenho". House disse se aproximando dela e colocando ambas as mãos em sua bunda. Cuddy gritou e se afastou.
"O que foi, mulher?" House questionou assustado.
"Eu juro que passei protetor solar ai", Cuddy disse apontando para suas nádegas que estavam vermelhas como o fogo.
House não pode deixar de rir.
"Eu te falei que era melhor deixar o papai aqui cuidar delas".
Cuddy chocada novamente pelo uso da palavra 'papai', saiu chorando para a sacada sem nem pensar em colocar nenhuma calça. House foi atrás.
"Cuddy, você vai ficar pelada na sacada?" Ele a abraçou para esconder a sua bunda protuberante. "O que está acontecendo com você? Diga-me, por favor?"
"Nada!", Cuddy respondeu voltando pra dentro do quarto.
Horas depois o telefone de House tocou e ele foi atender no banheiro.
"House, pode falar?" Wilson perguntou.
"Desembucha! Porque eu tenho um bumbum ardente pra cuidar".
Wilson ignorou o comentário. "A única coisa que descobri é que ela esteve em uma consulta com Fran hoje".
"Fran?" House questionou.
"Fran Jones, a clinica geral".
"A morena peituda com uma tatuagem de flor na lombar?"
"Como você sabe sobre a tatuagem dela?" Wilson questionou suspeito.
"Não importa. Sobre o que foi a consulta?"
"Como eu vou saber? Se você não sabe onde sua mulher anda, como você quer que eu saiba?" Wilson provocou.
House desligou sem se despedir de Wilson. Ele pensou que só podia ser sobre a infecção de urina, e que o mau humor dela estava relacionado ao antibiótico que teria que tomar e ao sexo que não iriam ter.
Cuddy não conseguia encostar sequer os lençóis nas suas nádegas, precisou deitar de bruços e colocou a calcinha só porque Rachel estava no quarto.
"Ok, Cuddy. Desembucha! Quanto tempo de antibiótico e quanto tempo sem sexo?" Perguntou House apagando a luz e preparando-se para dormir.
"O que?" Perguntou Cuddy.
"A E. Coli".
"Não vamos falar disso hoje, por favor". Disse Cuddy irritada tentando encerrar o assunto.
"Por que não? Basta responder a uma simples pergunta. Na verdade, duas perguntas".
"House, pare!"
"Cuddy, não estou entendendo. Não é como se nossa vida fosse mudar por uns dias com antibióticos e sem sexo..."
"Mas mudaria se tivéssemos que alimentar, educar e amar a Escherichia Coli". Respondeu Cuddy.
(continua...)
*Músicas citadas no capítulo: A total eclipse of the heart - Bonnie Tyler. / True Colors - Cyndi Lauper.
