Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Sarah Morgan, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 8

A semana seguinte foi a mais feliz da vida de Lucy.

Eles faziam amor durante a maior parte das noites e boa parte do dia, e depois de dormir, exaustos, conversavam e comiam no terraço que se debruçava sobre a areia. E, para sua surpresa, Lucy descobriu que amava a Grécia. Nem a visão constante do mar estragava seu prazer de acordar com o brilhante Sol da manhã. Gostava de explorar a ilha, colher laranjas no pé e sentir o Sol na sua pele.

Descobriu também que adorava conversar com Natsu.

Sua conversa era muito agradável e, pela primeira vez na vida, ela se sentia bem por estar ao lado de outra pessoa.

Um dia, passaram o tempo todo fazendo amor, dormindo e conversando, enrascados um no outro.

Natsu era espirituoso, inteligente, bem-humorado e antenado com tudo o que acontecia no mundo. Era também tão charmoso e bonito que Lucy não se cansava de ficar olhando para ele, sem acreditar que aquele homem lindo estava na cama com ela.

Sozinhos na ilha, tiveram tempo de usufruir de seu ninho de amor, sem a interferência do mundo exterior.

Estavam protegidos dos problemas da realidade.

Embalada nesta atmosfera de felicidade, ela vivia cada dia em total êxtase, sem querer se lembrar que o que estavam vivendo não era real - que aquela vida de sonho não duraria para sempre.

Uma manhã, ela estava fazendo hora na cama quando Natsu entrou no quarto, cheio de energia, como sempre.

Lucy tentou acordar de vez, invejando a vitalidade dele.

- Desculpe - disse ela, se espreguiçando e esfregando os olhos - Não consegui acordar cedo hoje.

- Foi por causa de ontem à noite - provocou ele, com um olhar sensual.

Lucy sentiu um nó no estômago só de fitá-lo. Será que ela nunca deixaria de sentir aquele desejo por ele ? Bastava ele entrar no quarto e ela ficava excitada. Ainda mais agora que ele vestia só uma sunga...

Ele era disciplinado com os exercícios e os resultados eram evidentes: ombros largos e fortes, abdômen torneado e pernas musculosas. Impossível resistir. Não importava que ele não a amasse, nem que a achasse interesseira. Ela estava apaixonada por ele.

Lucy não tinha jeito, era um caso perdido.

- Vou levantar - declarou, torcendo para ele dizer que passariam de novo o dia na cama.

Natsu pareceu divertido.

- Estou me sentindo culpado por termos passado tanto tempo no quarto que nem deu para você nadar - provocou ele, pegando-a no colo e carregando-a para o terraço - Não deixei você sair da cama e isso não é justo.

Olhando embevecida para aquele rosto lindo, Lucy levou alguns instantes para perceber o que ele pretendia fazer.

E, quando percebeu, era tarde demais.

Ela sentiu o coração parar quando Natsu a jogou na piscina e a escuridão a engoliu.


Preocupado e sentindo-se muito culpado, Natsu andava de um lado para outro no chão de mármore enquanto esperava o médico que ele mandara buscar para examinar Lucy.

Acalmou-se quando ela recobrou a consciência e começou a tremer sem parar. Nenhum cobertor parecia aquecê-la. Era como se o frio viesse de dentro dela.

- Ela está em estado de choque - diagnosticou o médico, fechando a maleta - Fisicamente, ela está bem. Engoliu um pouco d'água quando caiu e isso pode deixá-la enjoada, mas sem mais conseqüências. Emocionalmente, é outra história. Eu diria que ela tem fobia de água. Acho que não foi uma boa idéia jogá-la na piscina.

Natsu cerrou os dentes ao ouvir a repreensão velada do médico.

Nunca sentira tanto remorso, e estava disposto a aceitar qualquer crítica.

Só estava preocupado com a palidez de Lucy e com o pavor em seus olhos. E queria realmente que ela parasse de tremer.

Relutante em deixá-la sozinha, mesmo que por um instante, ele levou o médico até o helicóptero.

- Tem certeza de que não é melhor voltar com ela para Atenas hoje à noite ?

- Ela precisa de descanso. Passe esta noite aqui, dê-lhe tempo para se recuperar do susto. Amanhã ela estará melhor, e vocês poderão voltar - aconselhou o médico.

Parando na entrada da sala, Natsu notou que ela estava pálida e decidiu que se empenharia em sua recuperação.

Foi até uma bandeja cheia de garrafas e pegou uma delas.

Depois passou o braço sob os ombros de Lucy e a levantou, pensando que recomendaria ao cozinheiro em Atenas que ela tivesse sua alimentação reforçada. Ela era muito frágil.

Ele levou o copo até seus lábios ressecados.

- Beba - ela tomou um gole, se engasgou e fez uma careta.

- É horrível.

- Ao contrário. É um conhaque caríssimo - informou Natsu, a voz preocupada - Você está em estado de choque. Beba.

Ela tomou mais alguns goles e deitou-se de novo, completamente sem forças.

- Desculpe... - oprimido pela culpa de ela estar se desculpando, e não ele, Natsu passou as mãos pelos cabelos dela ainda molhados.

- Sou eu quem deve pedir desculpas - disse ele, desconfortável com a situação - Mas por que você não me contou que não sabia nadar...

Ela fechou os olhos.

- Eu nem cheguei perto da água...

Ele apertou os dentes. Certo, ele devia ter notado...

- Não me ocorreu que você tivesse medo...

- Não tem importância agora - para ele, tinha.

Natsu a abraçou.

- Queria que você parasse de tremer - sussurrou, mas os tremores continuaram.

- Desculpe...

- Não se desculpe mais. Sou eu quem deve se desculpar. Mas você devia ter me dito. Naquele dia que chegamos, você parecia tão assustada. Achei que fosse por causa do vôo, mas não era, certo ? Era o mar...

Com os dentes batendo, ela fez que sim com a cabeça.

- Estou sendo uma tola...

- Não está sendo boba. Você está reagindo por causa de algum trauma do passado. Quero saber o que aconteceu.

Ela ficou calada por uns momentos.

- Eu estava no barco...

Natsu ficou tenso, sem saber se ouvira direito.

- Que barco ?

- O barco de seu pai. No dia que explodiu. Eu estava lá. Quase me afoguei.

Natsu não sabia o que dizer.

- Não é verdade. Nenhuma criança foi convidada para sair no barco naquele dia...

- Eu não fui convidada.

Ainda tremendo, ela se aconchegou nos cobertores, os olhos castanhos sem expressão.

- Eu entrei no barco minutos antes da explosão. Deveria ter ficado no hotel em Atenas com a babá, mas queria muito mostrar uma boneca nova que alguém me dera para minha mãe.

As lembranças voltaram à mente dele. Uma criança gravemente ferida...

- Você estava no barco quando ele explodiu ? - sua voz mal saía da garganta e ela assentiu. Estava tão pálida que ele quase mandou o piloto trazer o médico de volta.

- Mal tinha posto os pés no barco e meus pais não sabiam que eu estava lá - continuou ela. Respirou fundo - Não me lembro de muita coisa, para dizer a verdade. Só me lembro que estava na passarela para entrar no barco e, de repente, fui jogada na água. Eu me debatia, tentava respirar, mas não conseguia. Senti uma dor terrível e desmaiei.

Ele empalideceu.

- Alguém te salvou. Você sabe quem foi ?

- Não. Era só um marinheiro.

- Você era a única criança no barco ? - ela estranhou a pergunta.

- Acho que sim.

- Theos mou... eu não sabia...

A voz dele era rouca e a mão parecia tremer quando ele a passou pela cabeça dela.

- Não sabia do quê ? Que diferença faz ?

- Você se feriu. E perdeu seus pais ?

- Estou bem agora - disse ela, desviando o olhar dele.

Natsu estranhou sua atitude, certo de que ela não estava dizendo a verdade. Mas por que mentiria ?

- Natsu ?

- O que foi ?

- Podemos ir para a cama ?

Satisfeito com a sugestão, ele imediatamente a pegou no colo.

- Acho que posso andar - sussurrou ela em seu ouvido.

- Penso que não é uma boa idéia - respondeu ele, colocando-a na cama com todo cuidado e cobrindo-a com o lençol.

- Você não vai ficar comigo ?

- Você quer ? Mesmo depois de eu tê-la jogado na água...

Ela sorriu cansada.

- Ah, você não sabia...

- Mas agora eu sei. De hoje em diante, nada vai machucá-la, agape mou - prometeu ele, tirando a roupa e deitando-se na cama.

Ele a enlaçou e fez com que seu corpo ficasse completamente colado ao dele.

- Humm, que gostoso - murmurou ela, se aninhando em seu pescoço.

Sentindo-se protetor, Natsu ficou parado, com medo de se mexer e os tremores dela recomeçarem.

Não era à toa que ela detestava a família dele, pensou, sentindo seu cheiro e tentando ignorá-lo.

E estava claro por que Alexandros Heartfilia culpava os Dragneel por toda a tragédia. Além de perder o filho único e a nora, a netinha ficara gravemente ferida.

Será que tinha sido por causa disso que ela fora educada na Inglaterra ?

Heartfilia a afastara da Grécia para sua própria segurança ?

Com certeza ele se enganara em julgar Alexandros Heartfilia tão mal, pensou Natsu, afastando uma mecha de cabelo de Lucy e percebendo que a cor aos poucos voltava ao seu rosto. Ao decidir unir as duas famílias, ele estava realmente querendo apagar um passado doloroso para os dois lados.

E, depois que ela ficasse curada da fobia pela água, o casamento deles poderia seguir em frente.

A partir do dia seguinte, eles seriam uma família, Natsu prometeu para si mesmo.


Lucy segurava firme a mão de Natsu, grata pela conversa que a distraía. Ele já se desculpara inúmeras vezes por terem de retornar a Atenas a bordo do helicóptero. Mas voltar de barco teria sido muito pior.

Tocada por sua preocupação e sentindo-se mais segura do que imaginava, Lucy não largou a mão dele e tentou se concentrar em outras coisas que não fossem o imenso mar azul lá embaixo.

Apesar do incidente traumático, ela ficou feliz por ter contado a ele. Não deixava de ser uma revelação importante sobre si. Estavam mais próximos do que nunca e agora ela sabia que amava Natsu Dragneel profundamente.

Nunca pensou em se sentir desse jeito em relação a um homem. E quando aquela voz lá de dentro lhe dizia que não estava sendo totalmente honesta com ele, Lucy a ignorava.

Pela primeira vez na vida, se sentia verdadeiramente feliz e não iria deixar nada estragar essa realidade.

O celular de Natsu tocou assim que aterrissaram e ele lamentou.

- Acabou a paz e o sossego – disse ele, pedindo licença para atender a chamada.

Ela sorriu. Não se importava que ele atendesse o telefone. Compreendia sua dedicação aos negócios, a preocupação com os funcionários, sua responsabilidade. Essas eram algumas de suas qualidades que ela aprendera a gostar.

Natsu desligou e olhou para ela, o ar de preocupação no rosto bonito.

- Algum problema ? - perguntou ela, relaxa da depois de se sentir em terra firme.

- Ligaram do escritório - informou ele, com um sorriso sem graça - Crise à vista.

- Então é melhor você ir até lá.

- Não queria deixá-la sozinha. Você passou tão mal ontem, e por minha causa.

Lucy deu um largo sorriso, feliz por ter alguém como ele preocupado com seu bem-estar.

- Tolice, eu me sinto bem. Vou descansar e esperar você chegar em casa - assegurou ela, pensando que, na ausência dele, poderia telefonar para a mãe e se divertir com todos aqueles cosméticos. Talvez até aquele cabide com aquelas roupas sensacionais estivesse lá, e ela poderia surpreendê-lo com um novo visual.

- Não vou me demorar - prometeu ele, beijando-a de leve nos lábios - , e se você se sentir mal, ligue para o meu celular.

- Não sei o número.

Ele se espantou com as palavras dela, como se só agora percebesse que ela não tinha como contatá-lo.

- Vou arranjar um aparelho para você com meu número programado. Qualquer problema, é só apertar o botão.

Essa era uma das vantagens de ser o patrão, pensou Lucy quando ele embarcou de volta no helicóptero. Você podia se vestir como quisesse. Não que ele precisasse de um terno para impor respeito. Ele poderia estar de short e camiseta que todo mundo saberia quem mandava.

Lembrando como tinha demorado para se maquiar daquela vez, Lucy correu para o quarto e olhou dentro do closet. Mas, infelizmente, as roupas não estavam mais lá. Só a saia curta e o top que usara na boate tinham ficado.

Ela observou as peças. Gostava delas e tinha certeza que Natsu também. Por que não vesti-las de novo ? Jantariam, e depois, quem sabe, ele a levaria a uma outra boate, dançariam e mais tarde...

Adorando a idéia, desceu as escadas correndo para planejar o menu com Gildarts. Em seguida, voltou para o quarto para se arrumar.

Tomou um longo banho perfumado, ficou pensando em Natsu e sorriu ao imaginar como seria a noite. Desta vez, se maquiara em menos tempo e ficara satisfeita com o resultado. Sentindo-se extremamente feminina, calçou os mesmos sapatos daquela noite e desejou tirá-los para dançar descalça.

Uma vez pronta, sentou-se para esperar Natsu, e como esperou. Por duas vezes, pegou o aparelho que ele providenciara para ligar para ele, mas desistiu, frustrada. Não podia telefonar só para perguntar a que horas ele vinha para casa. Ele disse que não demoraria. Não queria que ele achasse que era controladora.

O tempo passava e Lucy andava de um lado para outro no quarto. Ele era um homem importante e tinha estado fora uma semana inteira. Era normal passar tanto tempo no escritório. Várias pessoas deviam precisar falar com ele.

Quando escureceu, a vontade de ligar aumentou. Por que ele não telefonava ? Será que ela entendera errado quando ele disse que chegaria logo ?

Lucy escutou passos na escada e a porta se abriu. Natsu ficou lá, parado, um brilho estranho no olhar.

Ele parecia distante, bravo e intimidante. Um homem completamente diferente daquele com quem passara a semana.

- Parece que... que seu dia não foi muito bom - disse ela, temerosa, e como resposta, ele entrou no quarto, batendo a porta - Se está com fome, então...

- Não estou com fome. Você não vai me perguntar como foi meu dia no escritório, agape mou ?

A voz era perigosamente suave e ele foi em direção a ela, sem desviar os olhos.

Ela tremeu instintivamente e deu um passo para trás.

- Você demorou e eu achei que estava ocupado...

- Estava mesmo, extremamente ocupado. Ocupado descobrindo fatos interessantes sobre minha esposa. Fatos que ela não me revelou, apesar de termos passado uma semana juntos para nos conhecermos melhor.

Lucy ficou lívida de medo. O que ele tinha descoberto ?

- Natsu...

Ela mal podia acreditar em como ele mudara. Nenhum sinal do carinho que demonstrara. Em vez disso, havia o mais puro desdém.

Mas estaria ela realmente surpresa ?

Como pudera acreditar que aquele conto de fadas duraria para sempre ? Bons relacionamentos eram construídos com confiança e honestidade. Ela só tinha contado mentiras e falsidades. Nada entre eles teria futuro.

- Talvez fosse mais interessante você me dizer do que está falando - disfarçou ela, com um sorriso cínico.

- Dizer para quê ? Para você adivinhar o que já sei e não precise revelar mais nada ? Não se preocupe, agape mou. Já sei como você é boa em guardar segredos. Fiquei sabendo hoje de coisas muito interessantes sobre sua vida. Como, por exemplo, o fato de você nunca ter tido contato com seu avô. Você não o vê desde que tinha sete anos de idade. Quem pagou as mensalidades caras da escola que você freqüentou ? - sentindo-se mal, Lucy fez um esforço para falar.

- Ganhei uma bolsa de estudos.

- De acordo com minhas fontes, quando você estava na universidade tinha três empregos: trabalhava como garçonete em dois lugares, e ainda tocava piano num bar. Como foi que conseguiu se formar ? A que horas você estudava ?

- Eu vivia cansada - confessou ela, esboçando um sorriso que desapareceu assim que encontrou seu olhar. Ele estava furioso - Não tenho medo de trabalhar.

- Pelo menos isso você tem a seu favor - disse ele, áspero - A maioria dos estudantes tem um emprego e entendo que você precisava de dinheiro para se sustentar, já que seu avô não ligava para você. Mas três ? O que você fazia com o dinheiro ? - seus olhos a mediam dos pés à cabeça - As roupas que você tem, fui eu que comprei. Você não faz compras e é óbvio que não é de comer muito...

- Sabe como é, o custo de vida...

- Custo de vida ?

Ele repetiu as palavras dela sílaba por sílaba como se tivesse dificuldade em falar inglês, só para mostrar quão ridícula era a sua desculpa.

- Deve ser por isso que levou adiante esta farsa e concordou em se casar. Por que se esforçar se uma outra opção mais simples estava disponível ?

Ela titubeou. Mais uma vez, ele a fazia sentir-se baixa, como se seu único interesse fosse o dinheiro. Queria falar sobre a mãe, mas não podia. Não era um segredo seu, não podia revelá-lo.

Natsu andava para lá e para cá, a tensão que tomava conta de seu corpo atlético não o deixava quieto.

- Mas a única resposta que realmente quero é por que seu avô queria este casamento. Como eu suspeitava desde o início, ele não queria ser o bonzinho, promovendo nosso encontro. Ela não liga para você. Você não passa de um peão no jogo dele, aliás um peão bem dedicado. E agora quero saber qual é o jogo, Lucy. Quero toda a verdade.

Ela não sabia o que fazer. Sua vida estava indo por água abaixo. Contar-lhe a verdade arruinaria tudo o que ela construíra até agora. Ela sabia que Natsu não era como seu avô. Era justo, responsável e tinha um grande senso de família. E, sobretudo, respeitava a honestidade. Como ela poderia confessar que o enganara da maneira mais vil possível ?

Como confessar uma barbaridade para um homem como ele ?

A ironia do destino encheu-lhe os olhos de lágrimas.

Ela o amava.

Amava-o e tinha que lhe contar a pior coisa que uma esposa pode contar a um marido grego. Ele nunca compreenderia o desespero que a levara a fazer o que tinha feito. O breve relacionamento deles terminaria antes de começar.

Tremendo, não conseguia se manter em pé.

- Natsu...

- Só de olhar para seu rosto pálido, já sei que não vou gostar do que vou ouvir - disse ele, se servindo de uísque - Eu sabia que havia algo por trás deste "acordo", mas meu pai está velho e queria que esta rixa chegasse ao fim. E eu, estupidamente, ignorei meu julgamento e resolvi confiar nele.

Lucy fechou os olhos e desejou estar longe dali. Bem longe.

- Como Heartfilia não se importa se você come ou ainda está viva, provavelmente seu querido avô também nunca se importou em ter netos. E como foi esta a desculpa que ele deu para querer este casamento, presumo que tudo isto tem ligação com a sua vingança, estou certo ?

Ela sentiu náuseas. Tinha que contar tudo...

- Lucy ?

O tom dele era uma ordem e ela abriu os olhos e o encarou.

Este tinha sido seu crime. Indefensável, é verdade. Tinha que arcar com as conseqüências de seu ato.

- A explosão me deixou muito ferida. Os médicos disseram que eu não seria capaz de ter filhos.

Natsu ficou imóvel, cada músculo tenso com o que ouvira.

- O que foi que você disse ? - ele sentia um nó na garganta.

- Não posso lhe dar filhos, Natsu. Nunca poderei. É impossível.

Ele respirou fundo.

- E seu avô sabe disso ?

- Meu avô sabe de tudo...

Natsu soltou um riso amargo e passou a mão pelo pescoço para aliviar a tensão.

- Então, esta foi a sua última vingança. Privar meus pais de ter os netos que tanto desejam e eu de ter um filho.

Ele não conseguia acreditar.

- E você, concordou com tudo isso ? Seu avô é conhecido por ser um homem mau, um manipulador sem escrúpulos. Mas, e você ? Pelo dinheiro, você se preparou para esta trapaça ?

Lucy queria que o chão se abrisse para ela desaparecer dentro dele.

O que ela poderia dizer ? A resposta era sim, e ela não podia contar por que precisava do dinheiro.

- Seja lá o que minha família fez para a sua, não há desculpa para tanta desonestidade.

A voz dele estava cheia de ódio e ele arfava. Parecia que ia explodir.

- Como pude pensar que nosso relacionamento daria certo ? Você, além de interesseira, é mentirosa e trapaceira.

- Você pode se divorciar de mim - disse ela, numa voz fraca.

- Não posso me divorciar de você ! - replicou ele, com veemência - O esperto do seu avô tramou isso também. O contrato que assinamos nos liga até termos um filho.

- Eu sei que eu errei, mas você tem que entender...

- Entender o quê ? Que me casei com uma mulher que não tem decência ? Devia ter ficado atento à sua linhagem. O sangue dos Heartfilia corre nas suas veias e você com certeza herdou a falta de caráter deles.

Desgostoso, Natsu saiu a passos largos do quarto e bateu a porta, deixando Lucy entorpecida de horror.


P. S.: Nos vemos no Capítulo 9.