Já haviam se passado meses desde a visita ao St. Mungus para o nascimento de Harry. Bellatrix estava visitando sua irmã, Andromeda, com quem andava tendo bastante contato desde todo o drama familiar que ela e o primo causaram ao se envolver.

Se ela fosse dada a essas bobagens diria que estava vivendo um conto. Ela e Sirius, juntos, prestes a serem pais de uma criança fruto de um amor proibido, as irmãs e os aurores acobertando-a... era bom demais pra ser verdade.

Uma pontada, um grito... e de repente toda a felicidade que vivera nos últimos meses se desfazia na sua frente. Sangue. Sangue no lençol, em suas mãos, em suas vestes. Em pânico, Bellatrix gritou por sua irmã, por Sirius, enquanto repousava a mão ensangüentada sobre o ventre.

Por que ninguém vem? - Indagou, desesperada, enquanto lágrimas irrompiam-lhe a face branca.

Algum tempo depois, os raios de sol adentraram o cômodo da casa da irmã, onde Bellatrix estava dormindo desde as últimas semanas da gravidez. Fora apenas um sonho, um pesadelo, mas tão real, que a jovem não conseguia parar de chorar, acariciando a barriga protuberante.

Andrômeda acabara de acordar, e, ao que parecia, de mau humor pois ouvia-se os passos arrastados da jovem pela casa e o som muito característico de brinquedos sendo arremessados ao cesto.

Bellatrix ainda não se acostumara com a idéia de que todo seu pavor não fora real. Custou a abrir os olhos, e quando os fez, irrompeu em lágrimas novamente, o que chamou a atenção da irmã que adentrara o quarto esbaforida, precipitando-se para o lado da morena: " - POR MERLIN, BELLA, O QUE HOUVE? Eu tô aqui, calma, tá tudo bem. "

Agarrada a irmã e ainda chorosa, Bellatrix contou-lhe o sonho que havia tido, e então, recuperando-se com os afagos de Andie em seus cabelos, segredou-lhe: " - Eu pensei... pensei que ia morrer. Pensei que ia morrer sem ela. Foi horrível. E eu chamava por você, por Sirius, e ninguém vinha. Foi como se eu tivesse morrendo... - "

Andromeda, sempre emotiva, já encontrava-se aos prantos, abraçando a mais velha carinhosamente enquanto aconchegava-a tal qual uma criança em seus braços firmes: " - Bella, nada vai lhe acontecer. Você está bem, a criança está bem. Podemos fazer uma visita ao hospital se isso te acalmar, até porque logo logo ela virá ao mundo, mas não se preocupe, está tudo bem. É só o pavor de ser responsável por um serzinho tão indefeso e tão forte capaz de ter toda nossa vida no seu dedo mindinho. - "

O sorriso de Bellatrix - embora fraco - fez-se presente, e então ela assentiu com a cabeça, tomando as mãos da irmã nas suas e suplicando-lhe: " - Se algo me acontecer você cuidaria dela por mim? Eu sei que posso pedir à Cissy, mas foi você quem sempre esteve a meu lado quando precisei, apesar das diferenças que temos. E eu sei que você teria como protegê-la até que ela pudesse saber de tudo. Cissy faz parte do mesmo mundo que eu, mais cedo ou mais tarde terá seu filho e ele seguirá o destino esperado então, se ela criasse minha filha eles... eles saberiam dela. Ela se tornaria um alvo fácil para... ELE -" As últimas palavras saíram num fio de voz, sendo engolidas logo em seguida, enquanto Bellatrix voltava a chorar copiosamente.

A essa altura, Andrômeda fez o que toda irmã faria: assentiu, jurando para a irmã que realizaria sua promessa caso esta não pudesse.

Feito isso, limpou o rosto da irmã, e abraçou-lhe forte e ternamente, enquanto sussurrava-lhe entre beijos: " - Bella, minha irmã, foi só um pesadelo. Um terrível pesadelo e nada mais. Olhe, sua barriga de melancia está bem aí. Ela sente sua inquietação, vê? - Disse, apontando para uma protuberância movendo-se sob a roupa da morena, que agora sorria aliviada, e um tanto mais convencida da irrealidade que vivenciara.

Mal as duas terminaram de conversar, ouviu-se um estampido no andar debaixo e então passos barulhentos nas escadas que denunciavam a chegada de visitantes : um Sirius afobado e uma figurinha agitada de cabelos esvoaçantes acomplada a uma de suas pernas, que irromperam pela porta do quarto. Nymphadora pedia que o tio lhe ensinasse a voar para ser uma jogadora de quadribol quando crescesse, enquanto este pedia apenas alguns minutos para se recompor da subida com ela a tira-colo.

As mulheres riram, e então ele olhou da menina a seu lado para elas, dizendo, enquanto sorria e punha-se a beijá-las no rosto: " - Bom dia para as mulheres da minha vida!" Todos riram, e então a calmaria voltava a reinar. Era impossível não rir, não se sentir jovem de novo e não crer num amanhã feliz com um homem como Sirius Black a seu lado.

Internamente, porém, Bellatrix continuava assombrada. Havia algo naquele sonho que a deixara apavorada e que ela nunca cogitara ser possível de atingí-la. Pela primeira vez, ela se deu conta de quem era, do que havia feito.

Da mesma forma que temia agora por sua filha, quantas mães não temeram pelo que ela faria a seus filhos? Quantos filhos não deixaram de ter mães e pais pelo que ela fez? O sangue que vira escorrer de si, o sangue que tinha nas mãos, era por todos aqueles que em sua fúria e cegueira arrebatara a vida.

E agora, prestes a ser mãe, ela sabia o quanto aquilo custava. E o quanto lhe seria cobrado por seus crimes algum dia...