CAPÍTULO 8 - Diamantes, olhares e carteiras roubadas

"É tarde da noite

Ela pensa em que roupa vestir

Coloca sua maquiagem

E penteia seu longo cabelo loiro

E então me pergunta: "estou bem? "

E eu digo sim, você está maravilhosa esta noite."

(Eric Clapton : Wonderful Tonight - Slowhand, 1977)

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Selina olhava seu reflexo no espelho enquanto vestia as luvas longas e brancas. Estava vestindo um vestido de festa longo, preto e brilhante que tinha um belo decote em "V", cintura bem marcada e uma fenda lateral que a deixava muito elegante. A ladra riu ao se olhar no espelho e constatar que qualquer um poderia confundi-la com uma dama dsa alta sociedade. Ainda rindo da ideia ela abriu a caixa quadrada de veludo negro que fora deixada junto ao vestido.

Quando abriu a caixa, fiquei embasbacada com o lindo colar de diamantes que tinha ali, O colar era acompanhado por brincos também de diamantes que formavam um conjunto.

Selina adorava diamantes.

E por adorá-los, ela os conhecia bem e sabia que aqueles eram de valor inestimável.

Por um segundo, imaginou que se fugisse com aquelas joias, poderia viver bem com Helena pelo resto da vida. Mas esse pensamento durou apenas segundos. Algo ali não lhe permitia fugir. E essa era a primeira vez que ela ia pegar diamantes para usar e não para roubar.

Selina então colocou as joias e ficou admirando-as por longos instantes.

- Ficaram perfeitos em você.

Bruce estava parado à porta do quarto, vestia um smoking que devia custar mais que o antigo apartamento de Selina e estava impecável como sempre.

- É algum tipo de piada que você queria fazer? – Selina perguntou. – Diamantes para uma ladra de diamantes...

- Eu não sabia que você roubava diamantes... – Bruce disse aproximando-se até ver o reflexo dela no espelho. – Até onde eu sabia, você roubava para sobreviver.

- Touché. – Selina replicou. – Eles são seus?

- Fazem parte das joias da minha mãe. – Bruce respondeu olhando-a de cima abaixo. – Ficam mais bonitas em você do que em um cofre frio. Aliás, você está linda.

Selina estremeceu pela forma como Bruce lhe olhava. Fazia anos que ela não sabia como era ser olhada daquela maneira. Não havia malícia, como os outros homens a olhavam, havia apenas autêntica admiração.

- Acho que devemos ir. – Falou querendo sair dali o mais rápido que podia.

- Sim, Selina. – Bruce concordou antes dela sair. - Só vim te pedir para tomar cuidado quando estiver entre os poderosos de Gotham, essa gente pode ser cruel.

- Bruce, não se preocupe. – ela disse voltando-se para ele após pegar a bolsa sobre a cama. - Até parece que você não me conhece mais. Eles é que precisam ter cuidado comigo.

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Houve muita surpresa quando Bruce apareceu na festa beneficente do hospital infantil de Gotham acompanhado de Selina e sua pequena herdeira.

As pessoas não esperavam que o playboy bilionário fosse tão ousado ao ponto de aparecer com a mulher apontada pelos tabloides como garota de programa e muito menos com sua suposta herdeira, confirmando o que os tabloides anunciaram. O que eles não podiam prever era o quanto a suposta garota de programa era bonita e elegante, e o quanto a pequena pré-adolescente que Bruce segurava pela mão tinha uma semelhança impressionante com ele.

Bruce havia solicitado que ele e suas convidadas tivessem sua própria mesa, então logo que entraram, ele levou Selina e Helena para a mesa de honra onde os três ficariam.

- Está tudo bem? – perguntou preocupado logo que chegaram à mesa.

- Ah, Bruce, para. Estamos bem. Olha a cara de preocupada da Helena. – Selina disse olhando pra Helena que mal chegara na mesa, abordara um garçom e agora atacava os canapés da bandeja que o homem servia.

- Ótimo. Eu vou precisar ir lá em cima. – Bruce falou quando ouviu seu nome ser chamado pelo prefeito James que apresentava a cerimônia.

- Eu posso ir com você, papai? – Helena disse ficando de pé e engolindo rapidamente os últimos canapés que pegara.

- Por que não? – Bruce sorriu gostando da ideia. – Quer vir com a gente? – Perguntou a Selina.

- Melhor não. – Selina disse quando lhe foi oferecida uma taça de champanhe por outro garçom. – Seria demais pra cabeça desse pessoal...

- Voltamos logo. - Bruce afastou-se parecendo um pouco contrariado e levando Helena que lhe segurava a mão.

Mas Selina quase não teve tempo de ficar sozinha na mesa.

- Ah, aí está você.

A voz conhecida fez Selina virar-se e levantar-se em seguida.

Bárbara Keane estava ali. Belíssima em um vestido prateado, embora não tão sexy quanto os que usava no passado.

- Minha velha amiga. – Selina sorriu e abraçou Bárbara com uma sinceridade incomum. – Como você está?

- Estou bem. Continuo má, só que muito mais rica do que antigamente. – Bárbara riu.

- Pelo que vejo nos jornais, nem tão má. – Selina brincou. - Você agora faz parte da alta sociedade, não pertence mais ao submundo.

- Nunca tiramos um pezinho do submundo, Selina. Mas agora tento manter a linha, tenho uma filha para dar exemplo.

- Essa menina mudou mesmo você, heim.

- Veja quem fala, - Bárbara debochou. – Olha você aqui sentada com os grã finos que sempre detestou e se comportando como uma dama.

- Isso é temporário. Não pertenço a esse mundo. – Selina desdenhou.

- Não pertence porque não quer. Bruce sempre esteve bem debaixo do seu salto.

- Se você acha isso, é porque não conhece o Bruce. Ele é pirado...

- Isso eu não sei, mas o que eu sei é que você não precisava ter passado todos esses anos quase como indigente. Se tivesse seguido meus conselhos... Você deu o seu maior golpe, Selina. – Bárbara falou enquanto olhava Helena no palco ao lado de Bruce. – Bem que dizem que a cara da criança sempre tira a culpa da puta... Ela é idêntica ao Bruce. Assim como a Bárbara Lee é a cara do Gordon...

- Você sabe muito bem que eu não engravidei de propósito...

- Nem eu. – Bárbara rebateu. – Mas sempre é melhor engravidar de um bilionário do que de um policial quebrado...

- Bárbara, você veio aqui só pra tirar com a minha cara?

- Não, Selina. Eu vim, como sempre, pra tentar ajudar você. Eu sei sobre Luthor estar atrás de você. Fui eu que alertei Bruce quando você estava no hospital. Vim dizer que tome cuidado, e que se precisarem de mim, podem me procurar.

- Nossa, obrigada... – Selina disse surpresa.

- Eu preciso ir, mas espero que Helena e Babis possam se encontrar qualquer dia desses. Acho que seriam boas amigas.

Dizendo isso, Bárbara abraçou novamente Selina e a deixou sozinha na mesa. Ela ainda pensava em como Bárbara estava diferente quando outra pessoa chegou à mesa, sentando-se ao seu lado.

Era um homem bem vestido na casa dos trinta anos, tinha um rosto vagamente familiar, segurava um copo de bebida e olhou Selina de cima abaixo com um olhar predatório, um olhar muito diferente do que ela recebera de Bruce ainda naquele dia.

- Ora, ora... é justo que o homem mais rico da festa esteja acompanhado pela mulher mais bonita... – disse levemente embriagado.

- Quem é você? – Selina indagou de mal humor.

- Jeferson Fawcett, - o homem respondeu cheio de si. – Fui amigo de Bruce na juventude.

- Foi é? – perguntou incrédula.

- Sim, nos divertimos muito antes dele voltar a ser careta. – O homem disse esvaziando seu copo. - Olha eu lembro de você... você trabalhava no Sirens...

- Nossa, você tem boa memória mesmo. – Selina revirou os olhos, impaciente.

- Eu não esqueceria um rostinho como o seu. – O homem disse encarando o decote de Selina. – E outras coisas também.

- Olha, cara, se você quer falar com o Bruce, vem aqui quando ele terminar o blá, blá, blá lá de cima...

- Não vim aqui pelo Bruce... – o homem insinuou. – Vim por você...

- Ah, por mim? – Selina indagou irônica. Estava sinceramente irritada com o riquinho bêbado.

- Sim... pra dizer que eu noto você desde o Sirens. E eu posso não ser tão rico quanto Bruce, mas sou muito generoso... basta me dizer o seu preço. – falou pegando a mão de Selina.

Selina pegou a mão do homem de volta, e discretamente, começou a torcer o braço dele quase ao limite de quebrá-lo.

- Dá o fora daqui, babaca. – falou ao torcer o braço dele com mais força.

O homem que estava quase às lagrimas, levantou-se bruscamente quando Selina soltou-lhe o braço.

- Vadia louca... – resmungou assustado ao se afastar.

Logo que o suposto ex-amigo de Bruce se afastou da mesa, Helena e Bruce chegaram. Helena vinha carregando a placa de homenagem que Bruce recebera.

- Olha, mamãe, a placa que o papai ganhou! – Helena mostrou ao sentar-se a mesa. – Não é bonita?

- É linda, gatinha. – Selina falou quando Bruce sentou-se ao seu lado.

- Eu vi você quase quebrando o braço do Fawcett... – Bruce sussurrou no ouvido de Selina.

- Aquele babaca misógino merecia que eu tivesse quebrado. – ela sussurrou de volta.

- Selina, eu imagino que ele tenha merecido. Mas lembre-se de manter as boas maneiras...

- Você nunca fez questão que eu tivesse boas maneiras, querido. – Selina disse aproximando seu rosto perto demais do rosto de Bruce. Eles se encararam por um instante.

- Mamãe, olha só isso... – Helena interrompeu os dois, mostrando um objeto preto que colocara sobre a mesa.

Era uma carteira masculina muito cara.

- Helena, onde você achou isso? – Bruce indagou preocupado.

- Peguei do cara que estava lá no palco com você, papai. O homem que lhe entregou a placa. – A menina disse sorrindo sapeca.

- Você roubou a carteira do prefeito James? – Bruce indagou incrédulo e Helena apagou o sorriso.

- Helena, o que te falei sobre roubar somente por necessidade? – Selina advertiu a filha, mas parecia se divertir com a situação.

- Eu não sabia que ele era o prefeito... – a menina se defendeu.

- Independente disso, Helena. Roubar é errado. – Bruce disse severo pegando a mão da menina. - Me prometa que não fará isso novamente.

- E se for por necessidade?

- Você não vai mais precisar roubar por necessidade. Pode prometer?

Helena baixou a cabeça.

- Sim, papai.

- Muito bem, vou procurar o prefeito James e dizer que achei a carteira no chão. Com licença.

Bruce deixou Selina e Helena sozinhas na mesa e Selina passou a falar para a filha as coisas que ela não devia fazer na presença do pai. Enquanto isso, Bruce estava do outro lado do salão devolvendo a carteira do prefeito James.

Foi por isso que nenhum deles percebeu quando os homens armados entraram no salão. Um homem encapuzado e usando uma metralhadora subiu numa mesa e gritou:

- ATENÇÃO, PRIVILEGIADOS DE GOTHAM... FIQUEM TODOS QUIETINHOS E NINGUÉM SE MACHUCA. VIEMOS PEGAR UMA ENCOMENDA ESPECIAL.

Dizendo isso, o homem encapuzado andou pelo salão como se procurasse algo. Bruce estava detido ao lado do prefeito James por dois homens encapuzados que também portavam metralhadoras. E de lá, ele teve um sobressalto quando viu para onde o chefe dos encapuzados seguiu.

O homem parou bem em frente a Selina Kyle.

- Você vem com a gente. – O encapuzado falou levando o cano da arma no queixo de Selina. – Ah, e ela também. – disse referindo-se a menina que estava protegida às costas de Selina.

- Pode me levar, mas deixe ela. – Selina murmurou para o homem.

- Nada feito, lindinha. – O encapuzado falou. – Me pediram um combo. Tudo ou nada. As duas vem comigo.

Dois outros homens empurraram Selina e Helena pelo salão.

- NÃO PODEM FAZER ISSO... – Bruce gritou, mas levou uma coronhada na nuca que o desacordou.

Quando Bruce acordou segundos depois, os homens encapuzados haviam desaparecido. E levado Selina e Helena com eles.

Bruce não esperou a polícia chegar, e saiu do local do evento, sabendo exatamente onde ir.

NOTAS FINAIS

Em Gotham, uma festa não é uma festa, se criminosos não invadirem o local portando metralhadoras... Bem, Selina e Helena estão em perigo. Quem estará por trás desse sequestro? Será que Lex conseguirá tê-las em suas mãos?

Obrigada por seu tempo. ^^